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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 1. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS ARTRITES A anamnese e o exame físico são importantes componentes para o diagnóstico de manifestações caracterizadas por edema, dor, e aumento da temperatura das articulações (artrite). Com esses dados tenta-se responder se a artrite representa um processo articular ou faz parte de uma manifestação de doença de origem não reumática. Artrite então é um processo inflamatório numa articulação, mas precisamos fazer o diagnóstico e não só falar que tem artrite. Algumas artropatias apresentam, além das manifestações articulares, manifestações sistêmicas importantes, como febre, mialgia, pleurite, pericardite e etc., devendo-se portanto fazer uma avaliação completa da história e um exame físico adequado, para se reconhecer os diferentes diagnósticos das artrites. Elas podem apresentar um início agudo com o pico da intensidade da dor sendo atingido em algumas horas ou semanas. A artrite reumatóide (AR) pode se apresentar como uma poliartrite aguda embora na maioria das vezes o início seja insidioso. Quando a duração da artrite for < 4-6 semanas é considerada aguda. Se acima desse período será chamada artrite crônica. O envolvimento acima de quatro articulações é denominado poliartrite, de dois a quatro, oligoartrite e monoartrite apenas uma articulação. Uma boa história clínica e exame físico complementar auxiliado por algumas provas laboratoriais e exames radiológicos, se constituem nos elementos essenciais para o diagnóstico. Pode-se, através desses métodos, classificar a artrite em algumas categorias: artrite por distúrbios degenerativos, inflamatórios, funcionais, infecciosos, neoplásicos, reacionais, imunológicos, trumática, metabólica e de origem desconhecida (idiopática). Vamos focar no diagnóstico diferencial das artrites inflamatórias e infecciosas. Para facilitar o diagnóstico diferencial das artrites, divide-se o envolvimento articular em monoartrite e poliartrite. 1.1. MONOARTRITES O processo inflamatório monoarticular deve ser, na maioria das vezes, investigado, principalmente em relação ao processo articular infeccioso, diagnóstico que se for QUADRO 1 - CARACTERÍSTICAS DA ARTRITE MODO DE INÍCIO Agudo Insidioso DURAÇÃO DOS SINTOMAS Agudo Crônico NÚMERO DE ARTICULAÇÕES Monoartrite (1) Oligoartrite (2-4) Poliartrite (5 ou +) DISTRIBUIÇÃO Simétrica Assimétrica LOCALIZAÇÃO Axial Periférica Ambos Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp adiado pode levar a conseqüências danosas para a articulação em poucas semanas, com disfunção e incapacidade funcional pra sempre. A história do paciente deve ser suficientemente adequada para descobrir fatos que leve ao diagnóstico. Identificar fatores que acompanham a artrite, como febre, lesões cutâneas, dor muscular, emagrecimento e outras alterações podem também ajudar no diagnóstico. Determinar, o que precedeu o quadro, como trauma, promiscuidade sexual, doenças na família e hábitos de vida do paciente devem ser exaustivamente investigados para tentar esclarecer a doença. Podem ser causadas por infecções, inflamação, trauma, neoplasias. As mais importantes são as infecciosas e as inflamações não infecciosas. As infecções agudas mais comuns são por gonococcos, estafilococcos e estreptococcos. Sempre puncionar o líquido sinovial! Já as crônicas são tuberculose e blastomicose. A artrite infecciosa (séptica), se for de instalação aguda, apresentará um processo inflamatório exuberante. O paciente pode ter uma história de trauma precedendo o quadro, com ou sem porta de entrada ou ter um foco séptico primário (rins, pulmões, pele, etc.). O líquido sinovial se apresentará de aspecto purulento com predomínio de neutrófilos e o agente etiológico vai ser definido através da cultura do líquido sinovial. A monoartrite infecciosa crônica (tuberculose e blastomicose) apresenta um período mais longo de doença, sendo definido como monoartrite crônica. O diagnóstico geralmente é feito através da história do paciente (contatos contaminantes), do exame físico (envolvimento de outros órgãos como o pulmão), do exame do líquido sinovial (cultura) e da biópsia sinovial (presença de granulomas específicos). Artrite viral antecedendo ou concomitante a infecção viral sistêmica, pode ocorrer como monoartrite aguda com líquido sinovial apresentando ou não característica inflamatória, com predomínio de células mononucleares ou neutrófilos. Já as monoartrites inflamatórias não infecciosas mais comuns são gota, pseudogota, artrite psoriásica e AR/ARJ. Gota, é uma doença predominante nos homens, decorrente da hiperuricemia crônica, com depósito de urato de sódio nas articulações e outros tecidos (subcutâneo, rins, etc.). O quadro clínico se caracteriza por crise monoarticular aguda geralmente em extremidades inferiores, com duração de sete a quinze dias, desaparecendo completamente os sinais e sintomas, ficando o paciente totalmente assintomático e sem seqüelas. A crise de monoartrite pode retornar após longo período assintomático. Esse quadro vai se repetindo, e o período assintomático vai diminuindo gradativamente até converter-se QUADRO 2 - CAUSAS MAIS FREQUENTES DE MONOARTRITE MONOARTRITE INFECCIOSA Aguda: Gonococcos, Stafilococcos, Streptococcos. Crônica: Tuberculose e Blastomicose MONOARTRITE INFLAMATÓRIA Gota Pseudogota Artrite Reumatóide Juvenil (ARJ) Espondiloartropatias Soronegativas Artrite Reumatóide (AR) Artrite Psoriásica Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp em forma poliarticular. O líquido sinovial apresenta características inflamatórias, além da presença de cristais de urato de sódio (luz polarizada, não birrefringente e em agulha), o que faz o diagnóstico diferencial com pseudo gota ou condrocalcinose, esta última com depósito de cristais de pirofosfato de cálcio. Outra característica que a diferencia da gota, é o exame radiológico, onde se observam calcificações da interlinha articular. Em crianças, um dos subtipos da artrite reumatóide juvenil (ARJ), pode envolver uma ou duas articulações, com processo inflamatório leve, com líquido sinovial apresentando poucos neutrófilos, sem envolvimento sistêmico e a evolução é mais benigna. Deve-se observar nas do sexo feminino o envolvimento ocular da doença e as do sexo masculino com presença do antígeno leucocitário humano (HLA) B27 com possível evolução para espondilite anquilosante (EA). Outras doenças inflamatórias que podem cursar com monartrite são a AR, artrite psoriásica e EA (espondiloartropatias). O quadro articular ocorre de maneira crônica e o diagnóstico é firmado, através da história clínica, do exame físico e de alterações laboratoriais que demonstrarão particularidades para cada doença. 1.2. POLIARTRITES O envolvimento de mais de quatro articulações é definido como poliartrite. Pode ter causa infecciosa, inflamatória não infecciosa ou hematológica. As causas infecciosas são mais raras, ocorrem mais em imunossuprimidos (gonococos). As poliartrites agudas inflamatórias são artrite reativa, AR/ARJ, febre reumática, LES, gota, EA. Geralmente não punciona. Nas poliartrites crônicas geralmente são inflamatórias também. Como, por exemplo, AR e LES. Dentre as doenças inflamatórias poliarticulares, a que mais chama a atenção é a artrite reumatóide (AR), que se caracteriza por poliartrite de pequenas articulações das mãos (interfalangeanas proximais, metacarpo falangeanas), punhos, pés (interfalangeanas e matatarso-falangeanas), tornozelos, joelho e outras. O processo é na maioria das vezes crônico, bilateral, simétrico e fixo, evoluindo para deformidades articulares, como desvio ulnar, subluxação, luxação, dedo em colo de cisne e em botoeira. É uma doença autoimune com aumento de IgGque é atacada por um IgM (fator reumatóide) específico e formam-se imunocomplexos que inflamam a articulação. O diagnóstico é feito através de alguns critérios, sendo que os clínicos como rigidez matinal duradoura, artrite de três ou mais articulações, fixa e bilateral são os quatro dados clínicos mais importantes para definição da doença. QUADRO 3 - CAUSAS MAIS FREQUENTES DE POLIARTRITE ARTRITE INFLAMATÓRIA LES Febre Reumática Artrite Psoriásica Gota Pseudogota Espondilite Anquilosante Artrite Reumatóide (AR) Artrite Psoriásica Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp A artrite para ser reumatóide deve ter duração de pelo menos seis semanas e vista por médico. Os outros critérios são o nódulo subcutâneo, que ocorre em aproximadamente 20% dos casos, geralmente associado ao fator reumatóide (FR), podendo indicar um pior prognóstico da doença; o FR que é o critério laboratorial mais específico encontra-se positivo ao redor de 70% dos pacientes. O último critério se relaciona às alterações radiológicas como aumento de partes moles, diminuição do espaço articular de maneira simétrica, erosões justa-articulares, osteoporose subcondral e outras alterações que dependerão da agressividade da doença (subluxação, luxação, anquilose, etc.). Quatro desses critérios firmam o diagnóstico de AR, porém não se pode esquecer de alguns casos com envolvimento monoarticular e oligoarticular, que podem não somarem critérios suficientes para detectar o diagnóstico. As doenças por depósito de cristais como gota e pseudogota também podem ter envolvimento poliarticular, como citado anteriormente. Deve-se lembrar que existe um padrão de crises agudas monoarticulares no início da doença, com períodos de acalmia completa, o que ajuda em muito na hipótese diagnóstica dessas duas entidades. Em relação à poliartrite crônica gotosa, tem-se a formação de tofos que podem ser gigantes além de envolvimento renal, litíase na maioria das vezes. Outras doenças do colágeno, como lúpus eritematoso sistêmico (LES), esclerose sistêmica, dermatopolimiosite e doença mista do tecido conjuntivo podem ter envolvimento poliarticular, sendo o diagnóstico feito, por outras características clínicas próprias de cada entidade. Deve-se ressaltar, contudo, que o LES pode em algumas ocasiões ter um padrão de envolvimento articular semelhante à AR, porém sem erosões ósseas ao exame radiográfico, tão característico daquela. Febre reumática é caracterizada por poliartrite migratória, com antecedentes de infecção de orofaringe por estreptococos beta hemolíticos grupo A, acometendo gravemente o coração principalmente em crianças. Já a ARJ, apresenta poliartrite crônica fixa, bilateral e simétrica, semelhante à do adulto com ou sem FR positivo. A ARJ, na forma oligoarticular nas meninas, com positividade para o FAN pode desenvolver uveíte, enquanto que aqueles do sexo masculino com HLA B27 positivo apresentam uma forte tendência para evoluir para espondilite anquilosante. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp As lesões cutâneas da psoríase podem ser acompanhadas de envolvimento articular, geralmente pós lesão cutânea. Algumas vezes a artropatia pode ocorrer antes dalesão cutânea, o que dificulta o diagnóstico. É uma artrite auto imune também. A artropatia da Psoríase é dividida em cinco tipos: Poliarticular: é semelhante à artrite reumatóide. Padrão reumatóide. Oligoarticular: é a forma mais frequente, e se apresenta de forma assimétrica. Clássica: apresenta artrite das interfalangeanas distais. Mutilante: as erosões são intensas com graves deformidades. Espondiloartropática: existe envolvimento axial, com sacroileíte assimétrica, formação de sindesmófitos (projeções ponturas nos lados das vértebras) e com HLA B27 geralmente presente. Artrite, uretrite e conjuntivite caracteriza a síndrome de Reiter. Envolve predominantemente o sexo masculino, com uretrite inespecífica e artrite assimétrica de membros inferiores. Balanite circinada e ceratodermia blenorrágica (lesões na planta dos pés) podem estar presentes no Reiter, facilitando o diagnóstico. A síndrome de Reiter é uma artrite reativa causada por bactérias gram negativas transmitidas sexualmente ou via oral (gastrointestinais). A espondilite anquilosante (EA) é outra doença auto imune que envolve predominantemente os homens, acometendo a coluna vertebral com sindesmófitos e sacroileíte simétricos, levando a uma diminuição da mobilidade da coluna. As grandes articulações podem estar afetadas, com artrite assimétrica, sacroileíte e formação de sindesmófitos, também assimétricos na síndrome de Reiter, o que ocorre em pessoas sexualmente promíscuas ou homossexuais do sexo masculino com uretrite. Na espondilite da psoríase a sacroileíte também é assimétrica. As possibilidades diagnósticas nos processos articulares inflamatórios variam de acordo com o padrão do envolvimento articular. A história e o exame físico devem levar em conta fatores importantes, como o número de articulações envolvidas para definir monoartrite ou poliartrite. Se tem acometimento axial, ou não, se agudo ou não e ainda se existe algum envolvimento sistêmico isto será de fundamental importância para o esclarecimento e diagnóstico da artrite.
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