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Apostila 4-A - regimes de bens

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Efeitos Jurídicos do Matrimônio: regime de bens
			Newton Teixeira Carvalho.
SUMÁRIO
1. Introdução. 2. Dos princípios no regime de bens no casamento. 3. Do pacto antenupcial. 4. Regimes de bens no Código Civil. 4.1. Regime da comunhão parcial, 4.2. Regime da comunhão universal. 4.3. Regime de participação final nos aquestos. 4.4. Regime de separação de bens. 4.4.1. Regime de separação obrigatória de bens. 4.4.2. Regime de separação convencional de bens. 4.5. Separação convencional de bens e alimentos. 5. Doações antenupciais. 6. Administração da sociedade conjugal. 7. Preservação do patrimônio familiar, mediante restrições à liberdade de ação dos cônjuges. 8. Mancomunhão. 9. Administração da sociedade conjugal. 9.1. Administração da sociedade conjugal por apenas um cônjuge. 9.2. Restrições à liberdade de agir dos cônjuges. 9.3. Doações que podem ser elas concretizadas, sem autorização do outro cônjuge. 9.4. Atos que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização. 10. O reconhecimento da família isoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal. 11. Regimes de bens na união estável (convivência hetero e isoafetiva). 12. Indicações bibliográficas.
1. INTRODUÇÃO
	O casamento, união estável e a união isoafetiva produzem inúmeras consequências que se projetam no meio social, nas relações pessoais e econômicas dos cônjuges e conviventes e nas relações pessoais e patrimoniais entre pais e filhos, dando origem a direitos e deveres, disciplinados por normas jurídicas. Tais consequências fazem parte dos chamados efeitos jurídicos do casamento, da união e da união isoafetiva, que são divididos entre três classes: social, pessoal e patrimonial. 
	Examinemos, neste artigo, os efeitos jurídicos patrimoniais destas entidades familiares, que são dependentes do regime matrimonial de bens, isto é, do conjunto de normas que regem as relações patrimoniais entre os cônjuges e conviventes, durante o matrimônio ou união estável, hetero ou isoafetiva, começando pela mais tradicional das entidades familiares, que é o casamento. Entretanto, ressaltamos, desde já, que a escolha de uma destas entidades familiares é da alçada exclusiva dos interessados, não comportando, hodiernamente, nenhum juízo de valor a respeito da opção levada a cabo pelos diretamente interessados. 
2. DOS PRINCÍPIOS NO REGIME DE BENS NO CASAMENTO
	Com relação aos regimes de bens das pessoas casadas, de prevalecer os seguintes princípios, ressaltando que, neste caso, sobrepõe, em parte, outro princípio, o da autonomia privada, a valorizar a liberdade e a dignidade da pessoa humana.
	a) A variedade de regime de bens: O Código Civil prevê quatro tipos de regime matrimonial: comunhão universal, comunhão parcial, separação e participação final dos aquestos. 
	b) A liberdade dos pactos antenupciais: derivado do primeiro princípio. Permite-se aos nubentes a livre escolha do regime que lhes convier para regulamentar os interesses econômicos decorrentes do ato nupcial. Pode-se, inclusive, formar um regime misto, especial ou híbrido. É também possível a estipulação de cláusulas diversas, desde que em obediência à ordem pública, os fins e a natureza do matrimônio, conforme disposto nos artigos 1.639 e 1.640 do Código Civil. É no pacto antenupcial que deve ser estipulado o regime de preferência do casal.
	3) A mutabilidade do regime adotado: admite-se, em contraposição ao Código Civil anterior, de 1916, a alteração do regime matrimonial adotado, mediante autorização judicial, atendendo a um requerimento motivado de ambos os cônjuges (art. 1.639, § 2o). 
	Sobre a mutabilidade do regime de bens, o requerimento, de ambos os cônjuges, observará o procedimento de jurisdição voluntária e será distribuindo, havendo Varas especializadas, a uma das Varas de Família. Neste caso, não há que se falar, existindo recusa de um dos cônjuges, quanto à modificação do regime, em suprimento de vontade. O pacto antenupcial é um ato jurídico perfeito e, por conseguinte, sua modificação somente poderá ocorrer por vontade das partes. 
	Evidentemente que, para modificação do regime de bens, não há necessidade de feitura de pacto antenupcial, nem de publicações de editais, para ter validade contra terceiro. Aliás, a sentença não atinge, evidentemente, terceiro prejudicado que, a qualquer momento, poderá se insurgir contra a modificação.
	 Assim, as exigências constantes da parte final do artigo 1.639, § 2º, do Código Civil, a exigir que, para se proceder à modificação do regime de bens, deve-se verificar a procedência das razões pelos cônjuges invocadas e da certeza que tal modificação não será gravosa a terceiros, não podem ser consideradas com rigor, sob pena de instalar-se litígio onde não existe. As vontades das partes, neste caso, devem prevalecer e, como dito antes, mesmo havendo terceiro prejudicado, com relação a ele tal modificação, evidentemente, não terá validade. 
	Distribuída a petição, ouve-se o Promotor de Justiça e o Juiz decidirá, regra geral, sem marcação de audiência, eis que se trata de requerimento formulado consensualmente e em razão da necessidade, atualmente, de se dar maior credibilidade aos advogados, como fundamentais à administração da Justiça, mormente os que militam nas Varas de Famílias. 
	Ademais, de ressaltar-se que, por se tratar de mero procedimento, ou seja, sem litígio, de aplicar-se o disposto no art. 1.109, do Código de Processo Civil, a permitir a inobservância do critério de legalidade estrita. Portanto, neste caso o Juiz está autorizado a julgar por equidade. 
	Burburinho existe no que tange ao disposto no artigo 2.039 do Código Civil que, a toda evidência, apenas impede é a aplicação dos novos dispositivos do atual Código Civil, com relação aos casamentos celebrados sob os ditames do Código Civil anterior. Assim, quem se casou, por exemplo, sob o regime de comunhão parcial, sob a proteção do Código Civil anterior, são os dispositivos referentes àquele regime, naquele Código, que prevalecerão. 
	Por conseguinte, com relação aos regimes de bens, celebrados sob a vigência do Código Civil de 1916, de ver-se que deverá ser consultado aquele Código, quanto às regras a serem aplicadas, eis que, algumas exigências deixaram de existir, no mesmo regime de bens, no Código Civil atual. 
	Portanto, entendemos perfeitamente possível a modificação do mesmo regime de bens, porém celebrado na vigência do Código Civil anterior, para que as normas do atual Código o atinjam. Por exemplo, possível é a modificação do regime de comunhão parcial, com relação ao casamento celebrado sob o manto do Código Civil anterior, para o mesmo regime de bens, com aplicação das regras, a partir do deferimento da modificação, agora ditadas pelo atual Código Civil. 
	O Superior Tribunal de Justiça encampou entendimento de que é possível a mudança do regime de bens, mesmo para casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior, que não previa a mutabilidade, ao ementar: 
“Civil. Casamento. Código Civil de 1916. Comunhão parcial de bens. Alteração de regime. Comunhão universal. Possibilidade jurídica. I. Ambas as turmas de Direito Privado desta Corte assentaram que o art. 2039 do Código Civil não impede o pleito de autorização judicial para mudança de regime de bens no casamento celebrado na vigência do Código de 1916, conforme a previsão do art. 1.639, § 2º, do Código de 2002, respeitados os direitos de terceiros. II. Recurso especial não conhecido”.[footnoteRef:1]. [1: REsp 812.012/RS, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. 2-12-2008, DJe 2—2-2009, 4ª Turma.] 
	Ainda com relação à possibilidade de modificação de regime de bens, em se tratando de casamento celebrado sob o regime de separação total obrigatória, nota-se que, em uma interpretação literal, não seria possível admitir-se tal alteração. 
	Porém, é perfeitamente possível modificar o regime de separação obrigatória de bens, para outro, uma vez superadas as preocupações que levaram o legislador a coibir a liberdade de escolha. 
	Assim, por exemplo, se o que levou ao regimede separação total obrigatório foi a inobservância de uma causa suspensiva, uma vez inexistindo mais esta, nada impede que haja modificação do regime de bens, o mesmo acontecendo quando houver autorização judicial para se casar, seja em razão do suprimento de idade ou do suprimento de vontade ou, ainda, de casamento celebrado entre pessoas maiores de 70 (setenta) anos se, passados vários anos, não persistirem os obstáculos ao deferimento da modificação, eis que demonstrado restou a seriedade do ato.
	Nesse sentido, a Ministra Nancy Andrighi[footnoteRef:2], como Relatora, assim decidiu: [2: BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 821807/PR – Órgão Julgador – T3 – TERCEIRA TURMA – Data do julgamento 19/10/2006 - Data da publicação/Fonte DJ 13/11/2006, p. 261).] 
“Direito civil. Família. Casamento celebrado sob a égide do CC/16. Alteração do regime de bens. Possibilidade. A interpretação conjugada dos arts. 1.639, § 2º, 2.035 e 2.039, do CC/02, admite a alteração do regime de bens adotado por ocasião do matrimônio, desde que ressalvados os direitos de terceiros e apuradas as razões invocadas pelos cônjuges para tal pedido. Assim, se o Tribunal Estadual analisou os requisitos autorizadores da alteração do regime de bens e concluiu pela sua viabilidade, tendo os cônjuges invocados como razões da mudança a cessação da incapacidade civil interligada à causa suspensiva da celebração do casamento a exigir a adoção do regime de separação obrigatória, além da necessária ressalva quanto a direitos de terceiros, a alteração para o regime de comunhão parcial é permitida. Por elementar questão de razoabilidade e justiça, o desaparecimento da causa suspensiva durante o casamento e a ausência de qualquer prejuízo ao cônjuge ou a terceiro, permite a alteração do regime de bens, antes obrigatório, para o eleito pelo casal, notadamente porque cessada a causa que exigia regime específico. Os fatos anteriores e os efeitos pretéritos do regime anterior permanecem sob a regência da lei antiga. Os fatos posteriores, todavia, serão regulados pelo CC/02, isto é, a partir da alteração do regime de bens, passa o CC/02 a reger a nova relação do casal. Por isso, não há se falar em retroatividade da lei, vedada pelo art. 5º, inc. XXXVI, da CF/88, e sim em aplicação de norma geral com efeitos imediatos. Recurso especial não conhecido”. 
	
3. PACTO ANTENUPCIAL
		O pacto antenupcial é negócio jurídico solene, lavrado por escritura pública, realizado antes do casamento, conforme determinação do artigo 1.653 do Código Civil, através do qual as partes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre elas, desde a data do matrimônio (art. 1.639, § 1o, do CC).
			Para ter validade em face de terceiros, o pacto deverá ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, em livro próprio, do domicílio dos cônjuges, conforme determina o art. 1.657, do Código Civil. E, se realizado por menor, necessária é a aprovação de seu representante legal, salvo se o casamento por celebrado no regime obrigatório de separação de bens. 
			Do pacto antenupcial poderá conter estipulações relativas às relações econômicas dos cônjuges. Dessa forma, o pacto só pode ter conteúdo patrimonial, sendo vedadas estipulações no tocante a relações pessoais dos cônjuges, não podendo, inclusive, conter cláusula que contrariam preceitos legais. 
			
			É imprescindível que seja feita a escritura pública dos pactos antenupciais (art. 108 do CC), cuja inobservância acarreta a nulidade do próprio pacto. Para valerem contra terceiros, deverão ser assentados, depois do casamento, em livro especial no Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. Também serão inválidas as convenções antenupciais, quando não seguidas pelo casamento (condição suspensiva do pacto, que têm seus efeitos iniciados com o casamento).
4. REGIMES DE BENS NO CÓDIGO CIVIL
	
	Ressaltamos, antes de adentrarmos nos regimes de bens existentes em nosso ordenamento jurídico, que hoje é pacífico, na jurisprudência e na doutrina, que a separação fática do casal põe fim à comunicabilidade dos bens, evitando-se, desta maneira, que o cônjuge abandonador do lar seja posteriormente beneficiado, com bens adquiridos após tal fato. 
	A dificuldade, na prática, é quando há necessidade de venda de tais bens, eis que carece da anuência do outro cônjuge ou de não levá-los à partilha, em razão do divórcio. No caso, parece-me que bastaria a propositura de ação declaratória de incomunicabilidade de bens que poderá se for o caso, ser cumulada com o divórcio, bastando, para tanto, após a citação editalícia do cônjuge desparecido, comprovar a aquisição do bem, após a separação fática do casal. 
	4.1. Regime da comunhão parcial
	Doutrinam Renata Barbosa de Almeida e Walsir Edson Rodrigues Junior[footnoteRef:3] que, “no regime da comunhão parcial, os bens que cada cônjuge possuía antes de se casar não se comunicam e, via de regra, os bens adquiridos na constância da sociedade conjugal a título oneroso comunicam-se.”. [3: ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012, p. 184] 
	Portanto, o regime da comunhão parcial de bens é aquele que, essencialmente, afasta da comunhão os bens que os consortes possuem ao se casar ou que venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento, incluindo, por conseguinte, na comunhão, os bens adquiridos posteriormente.
	
	Tal regime prescreve a comunhão de aquestos e, assim, estabelece uma solidariedade entre os cônjuges, já que possuirão interesses comuns, ao mesmo tempo em que lhes são permitidos cuidar daquilo que lhes pertencia antes do casamento.
		Vale destacar-se a presença dos bens incomunicáveis, ou seja, que constituem patrimônio pessoal da mulher ou do marido, os quais são retratados no art. 1.659 do Código Civil. No art. 1.661, tem-se, ainda, a incomunicabilidade de bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento. Os bens comunicáveis (que integram o patrimônio comum), por sua vez, são colocados pelo art. 1.660 do Código Civil. 
	Dessa forma, observa-se a possibilidade da coexistência de três patrimônios nesse regime: comum, pessoal do marido e pessoal da esposa.
	Quanto ao passivo, cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento e, nas dívidas posteriores, contraídas no exercício da administração do patrimônio comum, obrigam os bens comuns e aos particulares do cônjuge que o administra, e aos do outro na proporção do proveito que houver auferido (art. 1.663, § 1o, do CC).
	 A dissolução do regime dá-se através da morte de um dos cônjuges (cujos bens são entregues aos herdeiros), divórcio[footnoteRef:4], nulidade, anulação de casamento ou por acordo entre as partes. No caso de divórcio, nulidade e anulação de casamento, salvo acordo em contrário, os bens do patrimônio comum serão partilhados e cada qual fica com os seus bens incomunicáveis. [4: De nossa parte, entendemos que, desde a emenda constitucional 66/10, que modificou o “caput” do artigo 226, § 6º, da Constituição Federal, não há mais que se falar em separação judicial neste país. ] 
	A dificuldade, em juízo, é no que tange à partilha das empresas. Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:5] esclarece que as “empresas constituídas antes do casamento ou da união estável são incomunicáveis, privativas, entretanto, pela regra da acessão empresarial, os acréscimos ingressam no patrimônio comum”, concluindo, aludido doutrinador, que “Todo o crescimento da empresa ou alterações que agregam valor, incluindo aumento de capital, de cotas, mudança de endereço ou de ramo, abertura de filiais, comunica-se. Os ganhos obtidos na atividade comercial de um dos cônjuges integram o patrimônio comum.”. [5: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Lavras: Editora UNILAVRAS, 2014, p. 216.
] 
	Sobre a partilha da empresa e coadunando com as colocações acima, destacamos a seguinte ementa[footnoteRef:6]: [6: TJRS, 8ª CC. AC. nº 70021219589. Rel. Des. Claudir FidelisFaccenda. J. 25.10.2007.] 
“AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXISTÊNCIA E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. FILIAL DE EMPRESA CONSTITUÍDA DURANTE A UNIÃO ESTÁVEL. DIVISÃO DAS QUOTAS SOCIAIS OU DO CRESCIMENTO PATRIMONIAL. Mesmo que as cotas sociais da empresa constituída, antes da união estável, sob o regime patrimonial da comunhão parcial de bens, não se submetam à partilha, o mesmo inocorre com a filial criada durante a relação, devendo ser dividido o valor equivalente às quotas sociais e o respectivo crescimento patrimonial. Recurso da autora provido. Apelação do requerido improvida.” 
	Com relação aos bens móveis, há presunção de aquisição na constância do casamento, porventura inexistente comprovação, por documento, que foram adquiridos antes da celebração, conforme dispõe o artigo 1662, do Código Civil. 
	Pelo atual Código Civil não se comunicam os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge. Ressalte-se que aludida incomunicabilidade é apenas com relação ao direito de percepção dos proventos que, após o recebimento, integram o patrimônio do casal. Assim, esta incomunicabilidade há que ser entendida em consonância com o disposto no art. 1.660, II, que prevê a comunicabilidade dos frutos civis do trabalho. 
	Com relação ao FGTS, se percebido na constância do matrimônio, integra o patrimônio comum. Ocorrendo o divórcio, o ex-cônjuge não teria nenhum direito sobre o saldo, nem mesmo proporcional ao tempo em que estavam casados. Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça vem reconhecendo o direito de meação das parcelas depositadas durante a constância do matrimônio ou da união estável, independente da data do resgate. 
	Conforme destaca Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:7], no tocante aos proventos ou suas diferenças recebidos pelo labor prestado na constância do matrimônio ou da união estável, “estes valores se comunicam, ainda que o recebimento ocorra após a dissolução do casamento.”, eis que “É a solução que melhor atende ao regime da comunhão parcial, que prevê uma solidariedade material quanto aos bens auferidos onerosamente na constância da união. Assim, tanto em diferenças salariais quanto em depósitos do FGTS as verbas devidas ou depositadas na vigência do casamento ou da união estável se comunicam e devem ser partilhadas.”. [7: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Lavras: Editora UNILAVRAS, 2014, p. 214.] 
 
	
	4.2. Regime da comunhão universal
	Por tal regime, todos os bens, presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do casamento, e as dívidas passivas tornam-se comuns, constituindo uma única massa. Tem-se o estado de indivisão, de modo que cada cônjuge tem direito à metade ideal do patrimônio comum (ideal porque, antes da dissolução e partilha, não há meação – art. 1.667 do CC).
		Apesar de se estabelecer a comunicabilidade de todos os bens, esse regime admite, excepcionalmente, a exclusão de alguns, dado o seu caráter personalíssimo ou devido à própria natureza. Assim, o art. 1.668, do Código Civil, lista os bens excluídos da comunhão universal. Há de se destacar que, caso não haja estipulação em contrário, a incomunicabilidade dos bens não se estendem aos frutos, quando são percebidos ou vencidos durante o casamento (art. 1.669).
	Qualquer dos cônjuges poderá administrar o patrimônio comum, sendo que as dívidas contraídas, durante a gestão, serão respondidas pelos bens comuns e os particulares do cônjuge administrador. Os do outro só responderão se ficar provado que este obteve lucro.
	Dá-se a extinção deste regime com a morte de um dos cônjuges, divórcio, nulidade ou anulação de casamento. Ressalta-se que os bens não são divididos com o advento desses atos, mas apenas com a partilha.
	Declarado nulo o casamento, não se tem a comunhão de bens, devendo cada consorte retirar apenas o que trouxe para a massa. O mesmo se dá com o casamento anulado, salvo se, na sentença, for reconhecida a boa-fé de um ou ambos os cônjuges.
	
	Com a extinção da comunhão e feita a partilha do ativo e do passivo, cessa a responsabilidade de cada cônjuge para com os credores do outro por dívidas que este houver contraído, conforme esclarece o artigo 1.671 do Código Civil. 
	Paulo Lobo[footnoteRef:8] esclarece que o Superior Tribunal de Justiça decidiu que os valores relativos à adesão a plano de demissão voluntaria e ao FGTS devem ser partilhados no divórcio, se o regime era o de comunhão universal (REsp 781.384-RS, 2009). O TJRS tinha afastado esses valores do monte divisível, considerando que eram incomunicáveis os frutos civis do trabalho de cada cônjuge. O STJ seguiu sua jurisprudência no sentido de que integra a comunhão a indenização trabalhista adquirida durante o casamento celebrado no regime de comunhão universal [8: LOBÔ, Paulo. Direito Civil Famílias, 3ª edição, Ed. Saraiva, 2010 p. 338-339] 
	4.3. Regime de participação final nos aquestos 
Trataremos, agora, do regime da participação final nos aquestos, que veio substituir o regime dotal, que era conhecido como o regime dos coronéis. Para Eduardo de Oliveira Leite[footnoteRef:9], esse regime iniciou-se na Suécia, passando depois para a Alemanha (1957) e, ainda, para a França (1965). [9: LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil aplicado. Direito de Família. São Paulo: RT, 2005. V. 5, p. 349] 
No Brasil, este regime é criticado por majoritária doutrina. Eduardo de Oliveira Leite[footnoteRef:10] (2007, p. 349) acerca do tema, acrescenta que “Tudo indica, pois, como já demonstrado pela doutrina e jurisprudência francesas (onde o regime se revelou um enorme fracasso) que, além dos aspectos negativos do regime, “que lhe são inerentes”, o regime tem sido empregado de maneira muito limitada, só “satisfazendo futuros cônjuges aos quais pode-se prever a manutenção da igualdade de fortuna, em capitais e rendas, durante toda a união”. [10: LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil aplicado. Direito de Família. São Paulo: RT, 2005. V. 5, p. 349.] 
Por ser um regime de rara utilização, ligou-se a ideia de que a participação final nos aquestos não trouxe grandes avanços para o sistema de regimes de bens neste país e que somente possibilitaria a sua oportuna utilização para fraudes de credores. 
Não há dúvida de que, em razão de sua complexidade, a opção por este regime será mais frequente em casos em que os cônjuges exerçam atividades empresarias diferentes, possibilitando, por conseguinte, uma maior liberdade no uso dos bens da cada um, com continuidade dos negócios profissionais. 
Significa dizer que, no decorrer da sociedade conjugal, conforme dispõe o artigo 1.672 do Código Civil, cada cônjuge terá seu patrimônio próprio e somente à época da dissolução dessa sociedade é que haverá o direito à metade dos bens adquiridos pelos cônjuges, a título oneroso, durante o casamento. Isto é, em regra, na constância do casamento haverá uma separação convencional de bens e, se finda a união, cada cônjuge terá direito a participar dos bens para os quais colaborou para a aquisição, devendo provar o esforço patrimonial.
Complementa, mais, Maria Berenice Dias[footnoteRef:11], que esta convenção nada mais é que um regime misto ou híbrido, que necessita de pacto antenupcial. “O regramento é exaustivo (CC 1.672 a 1.686) e tem normas de difícil entendimento, gerando insegurança e muitas incertezas”. [11: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: RT, 2011, p. 243.
] 
Assim, mantêm-se a regra, neste regime, da incomunicabilidade dos bens dos cônjuges até o termino do casamento. Prevalece, durante o casamento, a separação de bens. Com o final do casamento “o cálculo dos aquestos será realizado através da determinação do patrimônio originário e do patrimônio final, levando-se à partilha o saldo dos bens adquiridos onerosamente durante a convivência”[footnoteRef:12]. [12: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias, 2ª edição. Ed. Lúmen Juris, Rio de Janeiro. 2010, p. 273.. ] 
Portanto, no caso da participação final dos aquestos, a meaçãonão poderá ser renunciada, não podendo ser penhorada ou haver cessão, na vigência do casamento, consoante o disposto no artigo 1682 do Código Civil. Extinto o matrimônio torna-se possível negociar esse direito e também ser objeto de execução.
Logo, entende-se que os aquestos são os bens adquiridos pelos cônjuges na constância do casamento, o que possibilita sua partilha quando há extinção da sociedade conjugal. Assim sendo, decidiu o TJMG[footnoteRef:13], em sede de apelação cível: [13: TJMG, Apelação Cível 1.0024.05.683939-2/001] 
“No regime pretendido, qual seja, participação final nos aquestos, cada cônjuge tem patrimônio próprio, quer suas aquisições sejam a título gratuito, quer sejam a título oneroso. Entretanto, na hipótese de dissolução da sociedade conjugal, cada um deles terá direito à metade dos bens adquiridos pelo casal a título oneroso, ou seja, apenas os aquestos comporão o monte partilhável (artigos 1.672 e 1.673 do Código Civil).”. 
Neste mesmo diapasão, afirma o TJMG, que “o regime de participação final nos aquestos admite a possibilidade de transferência de recursos adquiridos com o próprio labor, de um cônjuge para outro, já que os patrimônios são independentes durante a constância do matrimônio.” [footnoteRef:14]. [14: TJMG, Apelação Cível 1.0024.05.683939-2/001] 
Já em relação à administração do patrimônio dos cônjuges, Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:15] afirma que, “cada cônjuge administra exclusivamente os bens próprios, podendo alienar livremente os móveis (art. 1.673, parágrafo único, CC), bem como os imóveis, se autorizado na convenção nupcial (art. 1.656, CC); entretanto, se não ocorrer autorização expressa, os imóveis só podem ser alienados mediante autorização do outro, aplicando a regra geral que só exclui a outorga na separação absoluta (art. 1.647, I, CC). As dívidas são respondidas exclusivamente pelo cônjuge que as contraiu após o casamento, salvo se provar que foi revertida em proveito do outro (art. 1.677, CC) e, se um deles solveu dívida do parceiro com bens de seu patrimônio, poderá imputá-la atualizada na meação do beneficiado na apuração do aquesto (art. 1678, CC). O parceiro não responde, nem seus herdeiros, pelas dívidas do outro cônjuge quando superiores à sua meação (art. 1.686, CC), desde que não foi também em seu benefício, se o parceiro for beneficiado, responderá até o que obteve. Nas doações feitas por um cônjuge sem autorização do outro, poderá ser reivindicado o valor pelo cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros ao se determinar o montante dos aquestos (art. 1.675, CC).”. [15: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 2ª Edição. Editora Del Rey, 2009, p. 133-134.] 
Satisfeita a partilha de bens, observam-se as normas relativas ao direito sucessório de cada cônjuge, previstas nos art.1829 a 1831 do diploma cível atual. O direito sucessório neste regime de bens é bastante atuante, para que não tenha a possibilidade de fraude ou de que haja, por parte de um dos cônjuges, apropriação indevida daquilo que o outro cônjuge tenha direito. 
Há, ainda, conforme disposto no art. 1686, do CPC, de ressaltar-se que: “as dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à sua meação, não obrigam ao outro, ou a seus herdeiros”. Sendo assim, o cônjuge devedor deverá provar que o valor da dívida supera o valor da meação.
Importante ressaltar-se que a meação é diferente dos bens de participação, posto que independe da prova de esforço comum para a comunicação. Os bens comunicáveis são os aquestos, que deverão ser apurados em caso de dissolução da sociedade conjugal.
Quanto à administração dos bens iniciais, cabe a cada cônjuge administrar a parte que possuía ao casar e, ainda, os advindos de doação e herança, bem como os obtidos onerosamente, durante o casamento, podendo aliená-los (bens móveis) livremente. No entanto, em se tratando de bens imóveis, deverá constar, no pacto antenupcial, convenção quanto à desnecessidade da anuência do outro cônjuge, em casos de alienação. Não constando no pacto tal dispensa, não poderá, sem a anuência do outro cônjuge, fazer doação ou alienar imóveis e bens que possam integrar futura meação.
Cumpre observar também que, em se tratando de dívidas contraídas na constância do casamento, por um só cônjuge, será, em regra, de sua própria responsabilidade, salvo que restar devidamente demonstrado que houve reversão em proveito do outro, constituindo então um encargo comum (art. 1677, do CC). 
 No entanto, consoante art. 1678 do Código Civil, verificado pagamento da dívida por um só cônjuge, com os seus próprios bens, na data da dissolução do matrimônio o valor do pagamento entrará na meação do outro cônjuge, devidamente atualizado.
Nota-se que este regime de participação final nos aquestos e, na verdade, um regime misto, considerando que, durante a vigência do casamento, aplicarão as regras da separação de bens e, com o fim do casamento, ocorrerá a partilha conferindo-se a cada consorte a metade dos bens amealhados pelo casal, a titulo oneroso, semelhante ao regime de comunhão parcial.
	Em suma, os cônjuges que adotam o regime abordado, vivem como se utilizassem o regime de separação de bens e se divorciam, como se fossem o regime de comunhão parcial de bens.
	De concluir-se, também, que este regime de participação final nos aquestos dificilmente será utilizado no Direito Brasileiro, pois podem ocorrer facilmente fraudes e dificuldades na apuração final de bens dos cônjuges. 
	Portanto, o Código Civil, nos artigos 1.672 a 1.686, ensartou um novo regime de bens: o da participação final dos aquestos, com o intuito de diferenciá-lo do regime da comunhão parcial. Nele, há a formação de massas de bens particulares incomunicáveis durante o casamento, que se tornam comuns no momento da dissolução da sociedade conjugal, já que cada cônjuge é credor da metade do que o outro adquiriu onerosamente na constância do casamento (artigos 1.672 e 1.682). Assim, há dois patrimônios: o inicial (compostos pelos bens possuídos por cada cônjuge antes do casamento e os que foram adquiridos durante a vigência deste) e o final.
	Quanto à administração dos bens, cada cônjuge administra os bens que lhes pertencia antes de casar e os adquiridos, gratuita ou onerosamente, durante o casamento (arts. 1.673, 1.656 e 1.647, I).
	No que tange a responsabilidade pelo passivo, cada um responde por seus débitos, salvo quando fica provado que o débito foi revertido, total ou parcialmente, em proveito do outro cônjuge (arts. 1.677, 1.678 e 1.686). Destaca-se que as dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à meação, não obriga o outro ou a seus herdeiros.
	A dissolução da sociedade conjugal (provocada por morte de um dos cônjuges ou divórcio) acarreta a apuração do montante dos aquestos, conforme disciplina os artigos 1.674 a 1.676 e 1.683 a 1.685 do Código Civil. 
	
	4.4. Regime de separação de bens
	O regime de separação de bens é aquele em que cada consorte conserva, com exclusividade, o domínio, posse e administração de seus bens presentes e futuros e a responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao matrimônio. Verifica-se a presença de dois patrimônios perfeitamente individuados e distintos: o da esposa e o do marido.
	Tal regime pode ser dividido em duas espécies, de acordo com a sua origem: legal e convencional. Na legal, têm-se determinados casos em que a lei impõe tal regime, por razões de ordem pública ou como sanção, conforme disciplina o art. 1.641 do Código Civil. A convencional, por sua vez, advém da livre vontade das partes e pode ser dividida em absoluta ou pura e relativa ou limitada. Na primeira, tem-se a incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do casamento, incluindo frutos e rendimentos. Já a segunda, no caso de a separação se restringir apenas aos bens presentes, comunicando-se, então, os frutos e os rendimentos futuros (art. 1.687 do CC).
	O art. 1.688 do Código Civil coloca a ambos os cônjuges o dever de prover a mantença da família, com os rendimentos de seus bens, na proporçãode seu valor, excedo quando fora estipulado em contrário no contrato antenupcial. 
	Quanto à administração, tem-se que cada consorte deva conservar a integral e exclusiva administração e fruição daquilo que possui, não dependendo da anuência do outro cônjuge para alienar bens imóveis (artigo 1.687 e artigo 1.647, I). 
	Com a dissolução do regime por separação judicial, cada consorte retira seu patrimônio e, por morte de um deles, o sobrevivente entrega aos herdeiros do falecido a parte deste e, caso haja bens comuns, os administrará até a partilha.
1.4.1. Regime de separação obrigatória de bens
Neste regime, pelo enunciado da Súmula 377, do Supremo Tribunal Federal, há comunhão dos aquestos, ou seja, dos bens havidos durante o casamento, a titulo oneroso, como consequência natural da comunhão de vida e de esforços. Com efeito, consta deste aludido precedente que, “no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento” 
Na prática, existindo aquestos, ou seja, bens adquiridos onerosamente na vigência do casamento pelo esforço comum, o regime de separação total obrigatória converte-se em regime de comunhão parcial. 
 
Conclui-se, portanto, que o regime de separação obrigatória de bens não é absoluto, comunicando-se os bens adquiridos onerosamente pelo esforço comum em nome de apensas um, já que, se adquirido em nome de ambos, trata-se de condomínio. 
Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:16] esclarece que o Superior Tribunal de Justiça, “reiteradamente vem decidindo pela comunicação dos aquestos no regime de separação legal, independente da comprovação do esforço comum, que se presume.”. [16: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Editora UNILAVRAS, 2014, p. 234.] 
E, independentemente de pacto antenupcial, o artigo 1641 do Código Civil determina que o regime de separação de bens, por razões de ordem pública ou por sansão, prevalece quando uma das partes for maior de setenta anos, quando inobservadas as causas suspensivas da celebração do casamento e quando há necessidade de suprimento judicial para celebração das núpcias. 
Reafirme-se a manutenção desse regime, com o advento da Lei nº 12.344/10, que alterou o Código Civil e, ao invés de excluir o regime de separação obrigatória, cerceador da liberdade de escolha, pugnou pela manutenção dele, tão somente modificando a idade limite do nubente de 60 para 70 anos.
	4.4.2. Regime de separação convencional de bens
No regime da separação convencional, absoluta ou total, os bens presentes e futuros de cada um dos cônjuges não se comunicam, ou seja, os bens não serão “divididos”.
Estipulada a separação do patrimônio por meio de pacto antenupcial os bens presentes e os posteriores ao casamento ficarão sob a administração do cônjuge proprietário, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real. Nenhum bem, em face do regime da separação convencional irá se comunicar, nem mesmo os frutos e os rendimentos dos bens se comunicarão.
A respeito do tema, lecionam Renata Barbosa de Almeida e Walsir Edson Rodrigues Júnior[footnoteRef:17] que, “no entanto, apesar da divisão total dos bens, ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial (art. 1688 do CC). Aliás, tal regra aplica-se a todos os regimes de bens, pois representa a materialização do princípio constitucional da isonomia (arts. 5°, I, e 226, § 5°, da CF/88).” [17: ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012, p. 204.] 
O regime de separação convencional de bens se encontra expresso em apenas dois artigos do Código Civil Brasileiro, quais sejam, no artigo 1.687, a determinar que, “estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real” e no artigo 1.688, soante: “Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial.”
A decisão[footnoteRef:18] a seguir, no tocante à separação convencional de bens, é esclarecedora: [18: SÃO PAULO, TJSP – 6ª Câmara de Direito Privado – AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1131521220128260000 – Rel. Des. Alexandre Lazzarini – DJ: 08 de novembro de 2012] 
PROPRIEDADE. IMÓVEL. TUTELA ANTECIPADA. CASAMENTO. REGIME DA SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS. DIREITO SOBRE O IMÓVEL. AVERBAÇÃO DE DEMANDA. REGISTRO PÚBLICO. A decisão agravada, em "ação declaratória de reconhecimento de direito de propriedade", deferiu tutela antecipada para determinar a averbação do ajuizamento desta demanda na matrícula do imóvel cuja propriedade é discutida. O regime de bens do casamento é o da separação total, convencional, e a mulher reivindica a sua condição de condômina (direito real) em relação a imóvel que tem somente o marido como proprietário. Possibilidade da averbação. Lei n. 6.015/73, arts. 167, II, item 12, e 172. A medida deferida e a razão da possibilidade da averbação têm como finalidade não só de proteger o direito dos litigantes, mas, em especial aquelas pessoas que nada tenham com suas desavenças, mas, por conta delas possam ser prejudicadas. A existência ou não do direito de propriedade é o mérito da demanda e que deve ser resolvida no final do processo e não em agravo de instrumento. Agravo de instrumento não provido. 
Segundo decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir-se a divisão do acervo adquirido durante o casamento, em nome de um dos cônjuges. A presunção de comunicabilidade instituída pela Súmula 377[footnoteRef:19] daquela Corte, quanto aos matrimônios celebrados sob o regime de separação legal, tem por escopo evitar o enriquecimento imotivado de um dos cônjuges. [19: STF Súmula nº 377: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.”.] 
Sendo assim, Maria Berenice Dias[footnoteRef:20], afirma a aplicação da Súmula 377 também no regime de separação total convencional, eis que, “A característica mais importante deste regime é a incomunicabilidade dos bens. Porém, vem algumas doutrinas questionar à limitação à autonomia da vontade dos cônjuges imposta pela lei. No pacto antenupcial tudo pode ser convencionado, contanto que não contravenha disposição absoluta de lei. Mas o casamento estabelece comunhão plena de vida, os cônjuges tornam-se responsáveis pelo encargo da família e existem obrigações recíprocas.”. [20: DIAS, Maria Berenice.Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: RT, 2011] 
Dessa forma, segundo aludida doutrinadora não há como reconhecer autonomia privada da vontade em termos absolutos, eis que descabido é o enriquecimento de um dos cônjuges à custa de outro, por ser contrária a essência do casamento. Em contrapartida, Renata Barbosa de Almeida e Walsir Edson Rodrigues Júnior[footnoteRef:21] afirmam que “no regime de separação de bens convencional não há que se falar na aplicação da Súmula 377 do STF, pois seria uma afronta à autonomia privada dos cônjuges que, por livre e espontânea vontade, por meio de pacto antenupcial escolheram o regime de separação de bens.”. [21: ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012, p. 204.] 
Portanto, aderimos, mais uma vez, aos doutrinadores Renata e Walsir, posto que, no regime de separação total de bens, por convenção, não há que se presumir o esforço comum na aquisição de patrimônio durante o casamento, já que deliberadamente afastado pelos cônjuges tal entendimento. Nesse regime são apenas duas massas de bens, uma do marido e uma da mulher, não existindo um patrimônio comum. Portanto e por força das regras da separação convencional, a dissociação dos bens é absoluta.
Sobre o assunto e da divergência a respeito da aplicabilidade ou não da Súmula 377, do SupremoTribunal de Justiça, de ressaltar-se a seguinte ementa: 
REGIME DA SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS. PROVA DE ESFORÇO COMUM NA AQUISIÇÃO DO PATRIMÔNIO. NECESSIDADE DE RECONHECIMENTO DE DIREITOS. VEDAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. Em que pese as partes tenham adotado o regime de separação total de bens, revela-se impositivo reconhecer à virago direito a montante correspondente a 50% do patrimônio amealhado na vigência do casamento, porquanto manifestamente comprovada sua efetiva contribuição para a aquisição dos bens, sob pena de enriquecimento ilícito de um cônjuge em detrimento do outro [...].[footnoteRef:22] [22: RIO GRANDE DO SUL. TJRS – 7ª Câmara Cível – APELAÇÃO CÍVEL Nº 70016610651 – Rel. Dês. Maria Berenice Dias – DJ: 11 de abril de 2007.] 
Sendo assim, se um dos cônjuges provar que, efetivamente, contribuiu para a aquisição de determinado bem registrado apenas em nome do outro cônjuge, necessária será a divisão do referido patrimônio entre os cônjuges, de acordo com a parcela de contribuição de cada um, como forma de se evitar o enriquecimento ilícito.
Sobre o assunto em debate, colhe-se, ainda, o entendimento que se segue:
AÇÃO DECLARATORIA. BENS INCOMUNICÁVEIS. SEPARAÇÃO DE BENS. PACTO ANTENUPCIAL. AQUISIÇÃO. CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. ESFORÇO COMUM, COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. A regra, na separação convencional de bens, é da incomunicabilidade de bens entre o casal, só se justificando a sua relativização nos casos em que as situações fáticas implicarem em enriquecimento de um dos cônjuges à custa do outro, sendo a comprovação do esforço comum do casal, na aquisição do bem, fator preponderante para que a relativização do pacto antenupcial. Ausente a prova de contribuição, por um dos cônjuges, na aquisição do bem, deve prevalecer o pacto antenupcial e a incomunicabilidade dos bens.[footnoteRef:23] [23: MINAS GERAIS. TJMG – 6ª Câmara Cível – APELAÇÃO CÍVEL N°  1.0145.07.406695-5/001 – Rel. Des. Antônio Sérvulo – DT: 21 de junho de 2011.] 
	4.5. Separação convencional de bens e alimentos
Ainda que o regime de bens do casamento seja o da separação total convencional, o direito a alimentos entre os cônjuges não sofre nenhum abalo. Portanto, independentemente do regime de bens adotado, podem os cônjuges reclamar alimentos entre si, devendo o montante da prestação alimentícia ser estipulada de acordo com a necessidade do cônjuge alimentário e a capacidade do cônjuge alimentante.
A justificativa dessa ocorrência é o princípio da solidariedade familiar, além do nítido caráter indenizatório e se destina esta verba alimentar exatamente a compensar o desequilíbrio econômico que a separação pode ensejar em comparação com o padrão de vida que desfrutava a família.
Em decorrência do dever de mútua assistência, previsto no artigo 1566, inciso III, do Código Civil, os cônjuges adquirem a condição de consorte, companheiros e responsáveis pelos encargos da família, surgindo então, um verdadeiro vinculo de solidariedade, devendo o cônjuge que tem condição financeira favorável garantir ao outro cônjuge alimentos compensatórios, visando ajustar o desequilíbrio econômico e reequilibrar suas condições sociais. 
Em que pese o disposto no artigo 1.688, do Código Civil, nem mesmo esta permissão aos cônjuges de acordarem no pacto antenupcial como cada um irá contribuir para as despesas e gastos decorrentes da vida conjugal, poderá interferir no direito a alimentos que é recíproco entre os cônjuges.
5. Doações antenupciais
	Doações antenupciais, previstas nos artigos 546, 548 e 549 do Código Civil, são doações recíprocas ou de um ao outro nubente ou mesmo por terceiros, feitas por pacto antenupcial, através de escritura pública, sob a condição de não exceder a metade dos bens do doador, com exceção dos casos de separação obrigatória de bens, em que não se admite nem mesmo doação causa mortis.
	Tem como pressupostos: a realização de evento futuro e incerto (casamento), funcionando, portanto, como condição suspensiva; não requer aceitação expressa do donatário (a própria realização do matrimonio implica aceitação); não são revogadas por ingratidão; não pode ser subordinada à condição de valerem após a morte do doador.
	Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:24] esclarece que, “tratando-se de regime de comunhão de bens, para o bem doado não comunicar, deverá constar a cláusula de incomunicabilidade (art. 1.688, IV, CC), porém os frutos se comunicam (art. 1.699, CC).”. [24: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Editora UNILAVRAS, 2014, p. 236.] 
6. Administração da sociedade conjugal
	
	Cabe aos cônjuges, durante o casamento, gerir os bens comuns e determinados bens particulares (art. 1.642, II, do CC), em virtude do regime matrimonial adotado, ou de pacto antenupcial (art. 1.567), podendo qualquer deles anular os atos praticados abusivamente pelo outro na administração dos bens.
	Há casos em que um dos cônjuges assume a direção da sociedade conjugal, passando a ter a administração do casal, conforme estabelecido no art. 1.570 do CC, só podendo alienar os imóveis comuns e os móveis e imóveis do outro mediante autorização especial do juiz, exercendo, ainda, sozinho o poder familiar.
7. Preservação do patrimônio familiar, mediante restrições à liberdade de ação dos cônjuges
	O Código Civil estabelece limitações ao poder de administração dos cônjuges, em determinados atos de conteúdo patrimonial. Para praticá-los, mesmo com a direção da sociedade conjugal, é necessária a outorga do outro. Tais limitações têm como intuito assegurar a harmonia e a segurança da vida conjugal, bem como preservar o patrimônio familiar da má administração do outro.
	Assim, independentemente do regime de bens, o marido e a mulher não podem, sem a autorização do outro: alienar ou gravar de ônus reais imóveis (art. 1.647, I, do CC); pleitear como autor ou réu acerca de bens e direitos imobiliários (art. 1.647, II); prestar fiança ou aval (art. 1.647, III); alugar prédio urbano residencial por prazo igual ou superior a 10 anos; fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens comuns ou que possam integrar futura meação (art. 1.647, IV).
	Quando um dos consortes negar injustamente a autorização ou não puder dar seu consentimento, o outro poderá requerer suprimento judicial da autorização (arts. 1.647 e 1.648 do CC; art. 11 do CPC).
	Vale destacar a presença de atos patrimoniais, como os constantes nos artigos 1.642 e 1.643 do Código Civil, em que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização marital ou uxória. 
	
8. Mancomunhão
	A mancomunhão se caracteriza como a situação jurídica da propriedade dos bens em relação ao casal ou aos conviventes. Aqueles os pertencem de forma igual, sem qualquer distinção ou divisão ou preferência.
	Em um casamento celebrado sob o regime da comunhão parcial, os bens adquiridos na constância do matrimônio pertencem igualmente a ambos os cônjuges, nos termos do artigo 1658 do Código Civil. Assim, o estado dos bens do casal, enquanto perdurar o casamento, é substantivado como mancomunhão, isto é, aqueles pertencem ao casal, de forma igual, sem qualquer distinção ou divisão ou preferência.
	Isso implica dizer que não há direito individual, não havendo qualquer distinção ou hierarquia ou primazia quanto à possibilidade de exercer direitos entre ambos. Ou seja, o direito pode ser exercido de forma idêntica.
	Há, ainda, especial atenção em relação aos bens imóveis, dando fundamento a outros institutos jurídicos, como o da necessidade da outorga uxória para alienação ou mesmo para onerar tais bens.
	Assim, a mancomunhão existente sobre os bens decorrente do casamento somente se extingue com a dissolução deste, o que atualmente se da através de sentença de divórcio ou mesmo através da escritura pública lavrada em cartório, nos casos permitidos em lei, desde que a ação seja cumulada com a partilha de bens. 
	Pode ocorrer de apenas o divórcio ser decretado, em razão de acordo, por exemplo, e a ação prosseguir no tocante à partilha. Neste caso,há entendimento jurisprudencial, de que, enquanto não partilhado o bem, não se pode falar em indemnização do outro cônjuge pelo uso exclusivo do imóvel, justamente em razão do ausência de dissolução do condomínio. 
	Porém, pensamos diferente, principalmente quando, embora ainda em comum, o bem esteja na posse exclusiva de um dos cônjuges, que deverá, independentemente da divisão, ressarcir o outro pela utilização única desse bem comum. Entender que, em razão da ausência de divisão, o cônjuge que não esteja utilizando o imóvel não poderá cobrar indenização, no que tange à cota parte dele, é desprezar o princípio que abomina o locupletamento ilícito e também ensejar a procrastinação, por parte do cônjuge beneficiado, da ação de partilha, ao máximo possível, eis que, quanto mais tempo permanecer a indivisão, mais lucro terá ocupando do prédio, em razão de não ter que ressarcir o outro, pela ocupação exclusiva do bem. 
	Ressalta-se, ainda, em reforço à possibilidade de indenização pela ocupação ou administração exclusiva do bem por um dos cônjuges, que, mesmo com a partilha, o bem poderá ficar em condomínio, posto que é o único ou em razão da ausência de acordo, quando mais de um, no tocante o valor de cada, o que ensejará a partilha dos bens, porém, sem desfazer o condomínio, que já existia desde a aquisição deles. Tanto é que, posteriormente, ainda não havendo acordo entre os ex-cônjuges, no tocante à venda do bem, necessário será o ajuizamento, agora na Vara Cível, da ação de extinção de condomínio, eis que o Juiz da Família, com a partilha do bem, mesmo restando o condomínio, não é mais o competente para dirimir a questão, de dissolução de condomínio. 
	Portanto, a mancomunhão ocorre quando os cônjuges detêm a posse conjunta dos bens do casal, presentes nos regimes de comunhão parcial de bens e comunhão universal de bens. 
	Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald[footnoteRef:25] explicam a mancomunhão ou posse solidária dos bens, da seguinte maneira: [25: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias, 2ª edição. Ed. Lúmen Juris, 2010 p. 291-295.] 
“Muito se tem discutido a respeito da comunhão de verbas decorrentes do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS e de indenizações trabalhistas. A orientação do Superior Tribunal de Justiça nessa matéria é no sentido de reconhecer a comunhão de tais verbas (FGTS e indenizações trabalhistas) por considerar que a causa aquisitiva perdurou pela constância do matrimônio. Veja-se: “integra a comunhão a indenização trabalhista correspondente a direitos adquiridos durante o tempo de casamento sob o regime de comunhão” (STJ, AC 2ª Seção, EREsp.421.801/RS, rel. MIN. César Ásfor Rocha, j. 22.9.04, DJU 17.14.04, p.410). Aliás, convém destacar que esta comunhão pode ocorrer mesmo após a ruptura do casamento, se os valores dizem respeito à causa relacionada à vida em comum. De qualquer modo, os bens adquiridos com tais valores serão reputados comuns, integrando a comunhão.
(...)
Através da comunhão universal, forma-se uma massa matrimonial única para o casal, estabelecendo uma unicidade de bens, atingindo créditos e débitos e comunicando os bens pretéritos e futuros.
Em linhas gerais, através do regime de comunhão universal, cessa a individualidade dos patrimônios de cada um, formando-se uma universalidade patrimonial entre os consortes, agregando todos os bens, os crédit2os e as dividas de cada um. É uma verdadeira fusão de acervos patrimoniais, constituindo uma única massa que pertence a ambos, igualmente, condomínio e em razão da qual cada participante terá direito à meação sobre todos os bens componentes desta universalidade formada, independentemente de terem sido adquiridos antes ou depois das núpcias, a título oneroso ou gratuito.
(...) 
Na comunhão universal, instaura-se, como preconiza MARIA BERENICE DIAS, um estado de “mancomunhão, ou seja, propriedade em mão comum”, pois cada um dos esposos “é titular da propriedade e posse da metade ideal de todo o patrimônio, constituindo-se um condomínio sobre cada um dos bens, dividas e encargos.”. 
	Seguindo a direção da doutrina, o egrégio Superior Tribunal de Justiça entende que: 
SEPARAÇÃO CONSENSUAL. Acordo sobre a partilha. Imóvel que permaneceu em comum. Uso pelo marido. Direito à indenização. Embargos de divergência. Aplicação do direito à espécie. Convencionado na separação do casal que o imóvel residencial seria partilhado, tocando metade para cada cônjuge, e permanecendo em comum até a alienação, o fato de o marido deter a posse exclusiva dá à mulher o direito à indenização correspondente ao uso da propriedade comum, devida a partir da citação. Trata-se de condomínio, regulado pelas regras que lhe são próprias, desfazendo-se desde a partilha a mancomunhão que decorria do direito de família. Nos embargos de divergência, uma vez comprovado o dissídio, cabe à Seção aplicar o direito à espécie, podendo chegar a uma solução diversa da encontrada nos acórdãos em confronto. Embargos admitidos e parcialmente providos.
CIVIL. SEPARAÇÃO CONSENSUAL. IMÓVEL COMUM NÃO PARTILHADO. USO EXCLUSIVO. UM CÔNJUGE. INDENIZAÇÃO. PAGAMENTO. POSSIBILIDADE. HIPÓTESE DIVERSA. DECISÃO AMPARADA EM AVENÇA FIRMADA NA SEPARAÇÃO CONSENSUAL.
1 - Segundo decidido pela Segunda Seção, o imóvel comum do casal, que não foi objeto da partilha, quando da separação consensual, na hipótese de uso exclusivo por um dos cônjuges, dá ao outro o direito de receber indenização, porquanto, neste caso, não subsiste mais a mancomunhão, mas, simplesmente, um condomínio, regido pelas normas que lhe são pertinentes e não pelo direito de família.
2 - No caso, entretanto, a controvérsia foi decidida com apoio na avença firmada entre as partes, no processo de separação consensual, não havendo - rigorosamente - identidade fática com as hipóteses colacionadas, até porque o óbito do autor da demanda trouxe para o pólo ativo da causa as filhas do casal, descortinando outro e diferente debate.
3 - Recurso especial não conhecido
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS. PEDIDO DE EXONERAÇÃO. PENDÊNCIA DE PARTILHA OBSTADA PELO RECORRIDO. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PATRIMÔNIO COMUM DO CASAL SOB A EXCLUSIVA POSSE E ADMINISTRAÇÃO DO ALIMENTANTE. PECULIARIDADE APTA A ENSEJAR O RESTABELECIMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ENQUANTO A SITUAÇÃO PERDURAR. PERICULUM IN MORA INVERSO.
1.A obrigação alimentícia deve ser mantida enquanto pendente a partilha do patrimônio comum do ex-casal manifestamente procrastinada pelo ex-cônjuge recalcitrante, que se encontra na exclusiva posse e administração dos bens e não coopera para que a controvérsia seja dirimida judicialmente.
2.A prestação alimentícia deve ser proporcional às necessidades da beneficiária e aos recursos do alimentante (art. 1.694, § 1º, do Código Civil), configurando direito fundamental de grau máximo para o alimentário, por lhe garantir a existência digna, de modo que a presença de periculum in mora inverso justifica a medida que afasta a tutela antecipada.
3.O perigo da demora deve ser avaliado de forma igualitária para ambas as partes.
4.O casamento estabelece uma plena comunhão, cujo consectário não é apenas o entrelaçamento de vidas, mas também de patrimônios, que deve ser entendido com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (art. 1.511 do Código Civil), com o fim da vida em comumpela ausência do ânimo socioafetivo, real motivação da comunicação patrimonial, há a cessação do regime de bens.
5.A administração do patrimônio comum da família compete a ambos os cônjuges (arts. 1.663 e 1.720 do CC), presumindo a lei ter sido adquirido pelo esforço comum do casal, sendo certo que o administrador dos bens em estado de mancomunhão tem a obrigação de prestar contas ao outro cônjuge alijado do direito de propriedade.
6. Atenta contra a igualdade constitucional conferir indistintamente, na constância do casamento, a qualquer dos consortes a administração exclusiva dos bens comuns, motivo pelo qual, após a rupturado estado condominial pelo fim da convivência, impõe-se a realização imediata da partilha, que, uma vez obstada, justifica o restabelecimento da obrigação alimentar transitória enquanto perdurar a situação excepcional.
7. Recurso especial conhecido e provido.
9. Administração da sociedade conjugal. Fundamentação legal: artigos 1.567, 1.642, II, 1.565, 1.570, 1.647, 1.649 e 1.650, 1.651, I, II e III, 1.652 e 1.775.
	Pelos artigos antes citados, verifica-se que cabe ao cônjuge administrar, na constância do casamento, os bens comuns e certos bens particulares (incomunicáveis), dependendo do regime matrimonial adotado e também do que ficou acordado no pacto antenupcial. Entretanto, se um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens que, segundo regime de bens, lhe incumbir, o outro poderá gerir os bens comuns e os do consorte e alienar os bens móveis comuns. Entretanto, com relação aos bens particulares do consorte, seja móveis e imóveis, e os imóveis comuns, somente com autorização judicial a alienação poderá ocorrer. 
	Assim, se o regime não for o da separação de bens o cônjuge pode praticar todos os atos de mera administração, com exceção de alienação e disposição de bens imóveis. No de separação total ou de participação final nos aquestos, neste último se constar do pacto antenupcial, até mesmo os atos alienação e de disposição podem ser praticados sem a anuência do outro cônjuge.
	No caso de má administração, qualquer dos cônjuges pode livremente promover as ações necessárias para a manutenção do patrimônio do casal. O prazo para propor ação anulatória por falta de autorização marital ou uxória é de até 02 (dois) anos, depois da dissolução do vínculo matrimonial. Porém, o ato poderá ser validado, se ratificado pelo cônjuge prejudicado. Tem legitimação para propositura da ação anulatória, por falta de outorga, sem consentimento ou sem suprimento judicial, apenas o cônjuge cuja autorização não foi observada ou, na falta, seus herdeiros. 
	9.1. Administração da sociedade conjugal por apenas um cônjuge. 
	A administração da sociedade conjugal apenas por um dos cônjuges ocorrerá nas seguintes hipóteses: a) na ausência do outro, que se encontrar em lugar remoto ou não sabido, independentemente de instauração do processo de ausência previsto no art. 22 do Código Civil; b) recolhimento à prisão por mais de 180 dias, em razão de sentença condenatória. Cumprida a pena, volta o cônjuge condenado à administração conjunta da sociedade conjugal; c) interdição por doença mental ou privação episodicamente da consciência, hipótese em que o outro passa a ser curador do cônjuge interditado.
	De ressaltar-se que é comum, no caso de desaparecimento de um dos cônjuges e existindo bens comuns, necessitando da outorga desse cônjuge para a venda de bens, o cônjuge administrador remanescente da sociedade conjugal requerer, em juízo, autorização para vendê-lo, mediante o depósito da meação. Na verdade, discordamos de tal orientação. O cônjuge poderia pleitear a venda, alegando necessidade financeira para administração da sociedade conjugal e utilizar-se do valor total da venda. 
	O que acontece, quando há pedido, desnecessário, de depósito judicial da meação, é que o outro cônjuge nunca mais aparece e o dinheiro fica depositado indeterminadamente em benefício único da instituição financeira, enquanto a família poderá está carecendo de tal valor. 
	9.2. Restrições à liberdade de agir dos cônjuges: fundamentação legal: artigos 978, 1.647, I a IV, 1.648 a 1.652 do CC e art. 3º da Lei nº 8.245/91. 
	O Código Civil estabelece limitações ao poder de administração dos cônjuges, em determinados atos de conteúdo patrimonial. Para praticá-los, mesmo com a direção da sociedade conjugal, é necessária a outorga do outro. Tais limitações têm como intuito assegurar a harmonia e a segurança da vida conjugal, bem como preservar o patrimônio familiar da má administração do outro.
	Assim, independentemente do regime de bens, o marido e a mulher não podem, sem a autorização do outro: alienar ou gravar de ônus real imóveis (art. 1.647, I, do CC); pleitear como autor ou réu acerca de bens e direitos imobiliários (art. 1.647, II); prestar fiança ou aval (art. 1.647, III); alugar prédio urbano residencial por prazo igual ou superior a 10 anos; fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens comuns ou que possam integrar futura meação (art. 1.647, IV).
	Quando um dos consortes negar injustamente a autorização ou não puder dar seu consentimento, o outro poderá requerer suprimento judicial da autorização (arts. 1.647 e 1.648 do CC; art. 11 do CPC).
	Vale destacar a presença de atos patrimoniais, como os constantes nos arts. 1.642 e 1.643 do CC, em que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização marital ou uxória. 
	Anulável será a alienação de imóvel, durante a vigência do casamento, sem o devido assentimento, seja ele pertencente ao casal ou a um dos consortes, salvo no regime de participação final nos aqüestos, se acordada a dispensa no pacto antenupcial, ou no regime de separação total de bens. Assim, nos demais regimes, nula será qualquer cláusula constante do pacto antenupcial que dispense a intervenção de um dos cônjuges nos atos de alienação de imóvel. 
	O artigo 978 do Código Civil dispensa o empresário casado de colher a outorga conjugal, independentemente do regime de bens, para alienar ou gravar de ônus real os imóveis que compõem o patrimônio da empresa. Portanto, há neste dispositivo legal a possibilidade de, na partilha, um cônjuge ficar sabendo que nada tem a receber, eis que o patrimônio, que se encontrava todo em nome da empresa (os bens eram adquiridos em nome apenas da empresa), não mais existe. 
	Para propor ação acerca de bens ou direitos imobiliários o consorte deverá ter a anuência do outro. Entretanto, há litisconsórcio passivo necessário entre o casal, quando se trata de ação a ser proposta e que poderá importar em perda de domínio (art. 10, caput, e respectivo parágrafo 1º do CPC). Porém, de observar-se que o novo Código Civil modificou o CPC, ou seja, se o regime for se separação total de bens ou se dispensada a anuência no pacto antenupcial, em se tratando do regime de participação final nos aqüestos, não há que se falar em anuência para propositura de ação ou litisconsórcio em se tratando de ser um dos cônjuges réu. 
	 Anulável será a fiança ou aval prestado sem o consentimento do cônjuge, salvo no regime de separação absoluta de bens. A legitimação para propor ação anulatória é do cônjuge que faltou a autorização ou seus herdeiros. 
	9.3. Doações que podem ser elas concretizadas, sem autorização do outro cônjuge.
	As doações que um cônjuge pode realizar sem a anuência do outros são: a) se remuneratórias de bens móveis, posto que tem por escopo pagar um serviço recebido e, por conseguinte, não é propriamente uma liberalidade; b) doações módicas ou de pequeno valor; c) doações propter nuptias de bens móveis, feitas às filhas e filhos por ocasião de seu casamento ou para que possam estabelecer-se com economia separada. Assim, não sendo remuneratória, não pode o cônjuge fazer doação de bens comuns ou dos que possam integrar a remuneração. 
	 Pela lei de locação (Lei n. 8245/91) se o prazo do contrato de locação for igual ou superior a dez anos exige a anuência da mulher.
	A pratica dos atos mencionados no artigo 1647 do Código Civil, sob autorização de um dos cônjuges, deve ser escrita e expressa. Quando se tratar de bens imóveis deverá constar de instrumento público (CC, art. 108). Caso negada a autorização, o outro cônjuge poderá supri-la, mediante autorização judicial. A ausência de autorização ou de suprimento judicial torna o ato anulável. Entretanto, somente o cônjuge que negou ou seus herdeiros têm legitimação para demandar anulação do ato. Anulada a venda, o bem alienado é reintegrado ao patrimônio do casal e o terceiro prejudicado terá direito de regresso contra o cônjuge prejudicado, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros. 
	9.4.Atos que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização (art. 1.642 do Código Civil)
1) Atos imprescindíveis a sua profissão, com as restrições do art. 1647, I do CC (alienação ou gravação de ônus real os bens imóveis); 
2) Administrar bens próprios (CC, art. 1.642, II);
3) Reivindicar os imóveis que o marido tenha alienado sem autorização do cônjuge ou suprimento judicial (CC, art. 1642,III, e 1645);
4) Anulação dos atos praticados com infração do disposto no artigo 1.647, inciso III (prestação de fiança ou aval sem anuência do outro cônjuge) e IV (doação não remuneratória de bens comuns, ou dos que possam integrar a futura meação); 
5) Reivindicar os móveis ou imóveis doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, cumpridas as exigências do artigo 1.642, inciso V, do Código Civil. O prazo para propositura desta ação é de até dois anos, depois de dissolvida a sociedade conjugal. Legitimados passivos: cônjuge prejudicado ou herdeiros; 
6) Dispor de bens, móveis ou imóveis, se casados sob o regime de separação absoluta ou, se o regime for de participação final nos aquestos, desde que conste a desnecessidade da autorização no pacto antenupcial; 
7) Praticar todos os atos não vedados por lei. Ex.: ação de alimentos, divórcio etc.
10. O reconhecimento da família isoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal, em consonância com os princípios constitucionais e suas consequências no ordenamento jurídico. 
	
	Para uma melhor compreensão do tema, ressalta-se que o art. 1.723 do Código Civil exigia, para constituição de família, a diversidade de sexo, vindicação esta superada em razão do julgamento da ADIn n. 4277 e o ADPF nº 132, eis que o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, declarou, por analogia, a aplicabilidade do regime da união estável às uniões também entre as pessoas do mesmo sexo. 
	Porém, é certo que o art. 1.723 do Código Civil praticamente reproduz o art. 226, § 3º [footnoteRef:26] da Constituição Federal, ambos exigindo a diversidade de sexo, para constituição da união estável e posterior conversão desta união em casamento. [26: Art. 226, § 3º, da CF: Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilita sua conversão em casamento.] 
	Entretanto, essa dualidade básica homem/mulher não teve o escopo de interditar a formação de família por pessoas do mesmo sexo, aplicando-se, ao caso, o disposto no § 2º [footnoteRef:27] do art. 5º, da Constituição Federal, a destacar que outros direitos e garantias, não expressamente indicados na Constituição, emergem “do regime e dos princípios por ela adotados.”. [27: Art. 5º, § da CF: Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. ] 
	Portanto, “é tão proibido discriminar as pessoas em razão da sua espécie masculina ou feminina quanto em função da respectiva preferência sexual”.[footnoteRef:28]. A Constituição exige o tratamento isonômico da mulher no tocante ao homem, assim como o direito dos isoafetivos a tratamento idêntico aos heteroafetivos. [28: ADI 4.277/DF, 04/05/2011, voto do Ministro Ayres Brito, como Relator, p. 641] 
	A família, instituição privada, é hoje constituída livremente e independe de qualquer burocracia cartorária, de celebração civil ou religiosa. É o principal lócus de concretização de direitos fundamentais (intimidade e vida privada), independentemente de ser formada por sujeitos heteroafetivos ou por pessoas homoafetivas. É a adoção, pela Constituição, da forma não reducionista do conceito de família, como entendeu o Supremo Tribunal Federal, ao declarar equiparada a família isoafetiva à família heteroafetiva, desprezando discursos preconceituosos (homofóbicos). 
	Conforme deixou expresso o Ministro Lewandowski: “Não há, ademais, penso eu, como escapar da evidência de que a união homossexual, em nossos dias, é uma realidade de elementar constatação empírica, a qual está a exigir o devido enquadramento jurídico, visto que dela resultam direitos e obrigações que não podem colocar-se à margem da proteção do Estado, ainda que não haja norma específica a assegura-los.”.Com efeito, a ninguém é dado ignorar – ouso dizer – que estão surgindo, entre nós e em diversos países do mundo, ao lado da tradicional família patriarcal, de base patrimonial e constituída, predominantemente, para os fins de procriação, outras formas de convivência familiar, fundadas no afeto, e nas quais se valoriza, de forma particular, a busca da felicidade, o bem estar, o respeito e o desenvolvimento pessoal de seus integrantes.”.[footnoteRef:29] [29: ADI 4.277/DF, p. 717] 
	
	Ressalte-se que a critica de que o Supremo comportou-se como legislador positivo ou coisa equivalente, não procede. Os Ministros apenas interpretaram a Constituição em consonância com vários fatos concretos, que estavam à margem do direito, numa odiosa discriminação e confrontando com a própria Constituição, como norma inclusiva que o é. 
	Portanto, a solução buscada no Supremo Tribunal Federal não dependia de legislação, eis que advinda dos direitos fundamentais, com destaque ao direito à dignidade da pessoa humana, a permitir, com lastro no artigo 226 e parágrafos da Constituição de 1988, uma reformulação do conceito de família, separando questões eminentemente morais das jurídicas. 
	 No Direito das Famílias a prevalência de aspectos exclusivamente morais emperra-o. Assim e considerando que uma minoria não achava a homoafetividade imoral, necessitava do pronunciamento do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, enquanto os projetos sobre tais questões eram reprovados no Congresso ou então engavetados, em manifesto prejuízo aos interessados na solução deste assunto. 
	 Assim foi que o Ministro Marco Aurélio também extraiu “do núcleo do princípio da dignidade da pessoa humana a obrigação de reconhecimento das uniões homoafetivas. Inexiste vedação constitucional à aplicação do regime da união estável a essas uniões (...)”.[footnoteRef:30], principalmente considerando que cabe ao Estado auxiliar as pessoas na realização dos respectivos projetos de vida, no desenvolvimento livre e pleno de suas personalidades. [30: ADI 4.277/DF, p. 821] 
	Acrescentou ainda o Min. Marco Aurélio[footnoteRef:31] que ao “Estado é vedado obstar que os indivíduos busquem a própria felicidade, a não ser em caso de violação ao direito de outrem, o que não ocorre na espécie.”. [31: ADI 4.277/DF, p. 819] 
	O Min. Celso de Melo[footnoteRef:32] ressalta a perseguição dos homossexuais na legislação reinol que Portugal impôs ao Brasil, no período colonial, ressaltando as punições previstas no Livro V, das Ordenações do Reino, conhecidas como “líber terribilis”, diante da maneira cruel impostas pelas autoridades da Coroa, quando em perseguição e dominação aos homossexuais. [32: ADI 4.277/DF, p. 826] 
	 A partir da decisão do Supremo Tribunal Federal, “ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de direitos nem sofrer quaisquer restrições de ordem jurídica por motivo de sua orientação sexual.”[footnoteRef:33] [33: ADI 4.277/DF, p. 833] 
	Assim, entendeu o STF que à união isoafetivas, de aplicar-se as regras da união estável existentes e, por conseguinte, como mencionamos, doravante, união estável, estamos falando tanto da união hetero como a isoafetiva. 
11. REGIMES DE BENS NA UNIÃO ESTÁVEL (convivência hetero e isoafetiva). 
	
	Entendemos que as leis de união estável (Lei nº 8.971/94 e 9.278/96), estendidas também às uniões isoafetiva, por força da decisão do STF, acima aludida, não foram revogadas. Assim, de aplicar-se, no caso, primeiramente a Constituição Federal, depois o Código Civil e, finalmente, desde que não conflitantes com tais legislação, as duas leis de união estável. 
	Não há que se falar, neste caso, que as duas leis de união estável primeiramente prevalecem, eis que especiais. Tal entendimento,de que a lei especial prevalece sobre a lei ordinária (Código Civil) não aproveita, quando a lei ordinária for posterior à lei especial. 
	O Código Civil, Art. 1.725, estabeleceu presunção de comunhão de aquestos na constância da união estável, ao determinar que “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.”. Este contrato, informal, é denominado de “contrato de convivência”
	Evidentemente que discordamos do ilustre jurista Dimas Messias de Carvalho[footnoteRef:34] , quando afirma que a lei não especifica se o contrato de convivência deverá ser lavrado por escritura pública ou por documento particular, advertindo, “entretanto, tratando-se de contrato que objetiva regular bens móveis e imóveis, deve ser firmado por escritura pública, aplica-se, por analogia, os princípio do pacto antenupcial (art. 1.653, CC).” . [34: CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Editora UNILAVRAS, 2014, p. 392.] 
	Pensamos que o contrato de convivência pode ser assinado tanto por escrito particular como através de escritura pública, eis que não há forma prescrita em lei, exigindo a lavratura por intermédio de escritura pública, a exemplo do pacto antenupcial. 
	Portanto, o regime de bens na união hetero ou isoafetiva será o da comunhão parcial. Entretanto, outros regimes poderão ser estipulados, por simples contrato escrito. Não há exigência de escritura pública, eis que ausente esse formalismo, existente no pacto antenupcial. 
		Assim, se previamente à aquisição de qualquer bem, os conviventes, através de documento, dispensam a comunicabilidade, na prática estarão optando pelo regime de separação total e, por conseguinte, de aplicarem-se as regras e os entendimentos jurisprudenciais desse regime, acima aludido, quanto tratamos do casamento. 
	Entretanto, porventura não existindo aludido documento, antes da aquisição de bens pelos conviventes, dispensando a comunicabilidade, nada impede que tal documento seja concretizado quando da aquisição de cada bem e, se afinal, todos os bens foram dispensados da comunicabilidade, voltamos ao dito anteriormente, ou seja, na prática prevalece o regime de separação total. E, se apenas alguns foram dispensados, outros não, estamos diante de um regime misto, ou seja, no tocante aos bens que se comunicam, aplicam-se as normas do regime de comunhão parcial e quanto aos que não se comunicam, regime de separação total. 
	Ressalta-se que, como um dos meios de prova, a dispensa da comunicabilidade poderá ser realizada na própria escritura de compra e venda de bem, comparecendo o outro cônjuge e anuindo com a dispensabilidade da meação. É um excelente meio de prova, eis que ficará o registro no cartório respectivo. 
	Sobre a liberdade dos conviventes em escolher as normas a reger os efeitos patrimoniais dessa relação familiar, Renata Barbosa de Almeida e Walsir Edson Rodrigues Júnior[footnoteRef:35] (p. 311), doutrinam: “Tal quais os cônjuges, os companheiros têm o direito de escolher o conjunto de normas a reger os efeitos patrimoniais de sua relação familiar; o regime de bens da união estável é de livre eleição. Pode o casal, nesse sentido, optar por qualquer dos quatro regimes de bens tipificados ou, ainda, criar um regime próprio, nos limites legais”. [35: ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012, p. 311.] 
	Porém e como ressaltam Renata e Walsir[footnoteRef:36], não se aplica, na união estável, “a imposição da separação de bens, nos casos do art. 1.641 do Código Civil”, por se tratar de norma restritiva, não obstante entendimento contrário, no Superior Tribunal de Justiça (Resp 646.259/RS e 1090722/SP). [36: ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012, p. 311.] 
	Com efeito, Maria Berenice Dias[footnoteRef:37], também discordando do entendimento o Superior Tribunal de Justiça, antes aludido, acrescenta: “Diverso do casamento, na união estável não é imposto o regime de separação obrigatória de bens, possibilitando ser firmado contrato mesmo se os conviventes possuírem mais de setenta anos ou presentes causas de suspensão do casamento, mas são nulas as convenções que contravenham disposição absoluta da lei. Admite-se, estipulação de indenização pelo fim do relacionamento. O contrato de convivência não cria a união estável, pois sua constituição decorre do atendimento dos requisitos legais, assim sua eficácia está condicionada à caracterização da união. O contrato pode ser firmado a qualquer tempo, antes, durante e depois da dissolução da união estável, agregando efeito retroativo. Pode, ainda, ser modificado ou revogado, desde que por vontade expressa de ambos os companheiros.”. [37: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4ª ed. p. 166-170-171. ] 
	Portanto, na união estável não há que se falar em separação obrigatória de bens, eis que tal imposição legal, principalmente diante do princípio da intervenção mínima, deste ser analisada restritivamente e, por conseguinte, aplicando as normas deste regime apenas quando se tratar de matrimônio. 
12. Indicações bibliográficas	
ALMEIDA, Renata Barbosa e JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil : famílias, 2. Ed, São Paulo: Atlas, 2012
CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 3. ed. ver.atual. e ampl. Lavras: Editora UNILAVRAS, 2014..
CARVALHO, Dimas Messias. Direito de Família. 2ª Edição. Editora Del Rey, 2009
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. São Paulo: RT, 2011.
FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias, 2ª edição. Ed. Lúmen Juris, Rio de Janeiro. 2010,
FRASER, Nancy (Redistribuição, Reconhecimento e Participação: Por uma concepção Integrada de Justiça. In: SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela; PIOVESAN, Flávia. Igualdade, Diferença e Direitos Humanos. 2. Tiragem. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 167.
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito Pressuposto. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
HESSE, konrad. Direito Constitucional. Coimbra: Almedina, 1989
HESSE, Konrad. Escritos de Derecho Constitucional. Selección, traducción e introducción de Pedro Cruz Villalon, 2 ed. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1992. 
LOBO, Paulo Luiz Neto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. http://jus.uol.com.br/revista/texto/2552/entidades-familiares-consitucionalizadas, acesso em 11/12/2013.
LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil aplicado. Direito de Família. São Paulo: RT, 2005. 
LOBÔ, Paulo. Direito Civil Famílias, 3ª edição, Ed. Saraiva, 2010.

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