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DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL - aula 3

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Ordem dos processos nos tribunais
Prof. Juliano Vieira Alves
DA ORDEM DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL
Professor Juliano Vieira Alves
	MEDINA
Art. 929
I. Registro e distribuição imediata. O art. 929, caput, do CPC/2015 dispõe obre a necessidade de a distribuição ser imediata, nos tribunais. De acordo com o art. 93, XV, da CF/1988, “a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição” (a respeito da referida disposição constitucional, cf. o que escrevemos em Constituição Federal comentada cit., comentário aos arts. 5.º, LXXVIII, e 93, XV, da CF/1988). A regra constitucional tem por finalidade permitir às partes conhecerem o órgão colegiado e o relator a quem o recurso ou ação foram dirigidos, a fim de que a eles encaminhem seus requerimentos (cf., p.ex., art. 932, II, do CPC/2015). O art. 929, caput, in fine do CPC/2015, reproduz a regra constitucional (não havia referência a respeito, no art. 547 do CPC/1973). Sobre registro e distribuição em geral, cf. comentário ao art. 284 e ss. do CPC/2015.
II. Protocolo descentralizado, integrado e postal. A possibilidade de apresentação do recurso no protocolo descentralizado, em primeiro grau de jurisdição, referida no parágrafo único do art. 929 do CPC/2015, aplica-se a todos os recursos, inclusive aos recursos dirigidos aos tribunais superiores. Decidiu-se, corretamente, que “atenta contra a lógica jurídica conceder-se referido benefício aos recursos interpostos na instância local onde a comodidade oferecida às partes é mais tênue do que com relação aos recursos endereçados aos Tribunais Superiores” (STJ, AgRg no Ag 1.006.224/SP, 1.ª T., j. 03.11.2009, rel. Min. Luiz Fux). Em relação ao recurso remetido pelo correio, dispõe o § 4.º do art. 1.003 que, para aferição de sua tempestividade, “será considerada como data de interposição a data de postagem”. Essa disposição deve ser aplicada a quaisquer recursos, inclusive aos recursos extraordinário e especial, não mais se justificando a distinção, realizada por parte da jurisprudência na vigência do CPC/1973, entre protocolo descentralizado e protocolo postal integrado (a respeito, cf. comentário aos arts. 1.003 e 1.030 do CPC/2015).
Art. 930
I. Isonomia e publicidade da distribuição. Sorteio eletrônico. Regras regimentais. A distribuição deve ser realizada de modo a assegurar a observância da garantia do juiz natural. A alternatividade da distribuição assegura a isonomia, devendo-se a ela dar publicidade (cf. art. 930, caput; v. também comentário ao art. 285 do CPC/2015). De acordo com o art. 930 do CPC/2015, a distribuição se realizará por sorteio eletrônico. As regras regimentais devem considerar esses princípios. Não observadas as disposições regimentais referentes à distribuição, considera-se violado, também, o art. 930 do CPC/2015: “Da leitura do art. 548 do CPC [de 1973, correspondente ao art. 930 do CPC/2015] abstrai-se que a distribuição dos processos deve atender fielmente ao preceituado nas normas regimentais dos tribunais. Logo, qualquer desrespeito a essas normas configura-se violação a esse dispositivo legal” (STJ, REsp 598.111/AM, Rel. Ministro José Delgado, 1.ª T., j. 06.05.2004).
II. Prevenção e atribuição. Com a primeira distribuição dá-se a prevenção, fixando-se a competência do órgão colegiado e do relator, para recurso subsequente, que a eles serão atribuídos (ou, como se costuma dizer, “distribuídos por prevenção”). Tem-se decidido que “é irrecorrível o despacho que determina a redistribuição ou atribuição dos autos, haja vista tratar-se de ato meramente ordinatório bem como inexistir conteúdo decisório apto a causar gravame às partes” (STJ, STJ, AgRg na Rcl 9.858/CE, Rel. Ministro Felix Fischer, Corte Especial, DJe de 25.04.2013; no mesmo sentido, STJ, AgRg no AREsp 519.715/PR, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 3.ª T., DJe 18.02.2015). A respeito, cf. também comentário ao art. 286 do CPC/2015.
Art. 931
• FPPC, Enunciado 522: O relatório nos julgamentos colegiados tem função preparatória e deverá indicar as questões de fato e de direito relevantes para o julgamento e já submetidas ao contraditório.
Conclusão imediata ao relator. Prazo para elaboração de voto e restituição com relatório à secretaria. Os autos devem ser encaminhados de imediato ao relator (cf. art. 931 do CPC/2015, e não em 48 horas, como dispunha o art. 549 do CPC/1973; sobre a distribuição imediata, cf. comentário ao art. 929 do CPC/2015). O art. 931 do CPC/2015 estabelece prazo de trinta dias para que o relator elabore seu voto e restitua os autos com relatório à secretaria, mas tal dispositivo não previu consequências processuais, em caso de descumprimento desse prazo. Embora formulado para resolver questões similares quando já iniciado o julgamento pelo órgão colegiado, deve-se considerar o princípio que embasa o art. 940, § 2.º, do CPC/2015, de modo que, não observado o prazo referido no art. 931 do CPC/2015, seja o mesmo prorrogado por mais dez dias, e, não se observando, injustificavelmente, esse prazo, seja convocado substituto para elaborar relatório e voto. O relator elaborará voto se não for o caso de decidir monocraticamente o recurso (cf. art. 932, IV, V e VI, do CPC/2015), mas o acabará formulando, se houver agravo interno contra sua decisão (cf. art. 1.021 do CPC/2015).
Art. 932
• STJ, Súmula 253: O art. 557 do CPC [de 1973], que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário.
• STJ, REsp (repetitivo) 1.049.974/SP: 1. O art. 557 do CPC [de 1973] instituiu a possibilidade de, por decisão monocrática, o relator deixar de admitir recurso, dentre outras hipóteses, quando manifestamente improcedente, contrário à súmula ou entendimento já pacificado pela jurisprudência do respectivo Tribunal, ou de Cortes Superiores, viabilizando a celeridade processual. 2. Os embargos declaratórios são considerados recursos, máxime após a reforma processual, razão pela qual o art. 557 do CPC [de 1973] é-lhes aplicável, uma vez que, pela sua localização topográfica, o referido dispositivo legal dirige-se a todas as impugnações. Outrossim, não resistiria à lógica jurídica que pudesse o relator indeferir a própria apelação, recurso por excelência, pela sua notável devolutividade, e não pudesse fazê-lo quanto aos embargos, cuja prática judiciária informa serem, na grande maioria, rejeitáveis, quiçá protelatórios. Ademais, historicamente, sempre foi da tradição do nosso direito a possibilidade de enjeitá-los, como dispunha o art. 862, § 1.º, do CPC, de 1939. 3. “A sistemática introduzida pela Lei 9.756/1998, atribuindo poderes ao relator para decidir monocraticamente, não fez restrição a que recurso se refere. Opostos embargos declaratórios de decisão colegiada, o relator poderá negar seguimento monocraticamente, com base no caput do art. 557 do CPC [de 1973], pois não haverá mudança do decisum, mas não poderá dar provimento ao recurso para suprir omissão, aclarar obscuridade ou sanar contradição do julgado, com fundamento no § 1.º-A do mesmo artigo, pois em tal hipótese haveria inexorável modificação monocrática da deliberação da Turma, Seção ou Câmara do qual faz parte.” (REsp 630.757/ RJ, 5.ª T., j. 28.09.2005, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 07.11.2005). […]. 5. Deveras, ainda que prevalente a tese de que os embargos de declaração opostos contra decisão de órgão colegiado não podem ter seu seguimento obstado monocraticamente, ex vi do art. 537, do CPC [de 1973] […], é certo que eventual nulidade da decisão monocrática resta superada com a reapreciação do recurso pelo órgão colegiado, na via de agravo regimental. […] (STJ, REsp 1.049.974/SP, Corte Especial, j. 02.06.2010, rel. Min. Luiz Fux).
• STJ, REsp (repetitivo) 1.148.296/SP: 1. A intimação da parte agravada para resposta é procedimento natural de preservação do princípio do contraditório, nos termos do art. 527, V, do CPC [de 1973] […] 2. A dispensa do referido ato processual ocorre tão somente quando o relator nega seguimento ao agravo (art. 527, I [de 1973]), uma vez que essa decisão beneficia o agravado,razão pela qual conclui-se que a intimação para a apresentação de contrarrazões é condição de validade da decisão que causa prejuízo ao recorrido. (STJ, REsp 1.148.296/SP, rel. Min. Luiz Fux, Corte Especial, j. 01.09.2010).
• FPPC, Enunciado 81: Por não haver prejuízo ao contraditório, é dispensável a oitiva do recorrido antes do provimento monocrático do recurso, quando a decisão recorrida: (a) indeferir a inicial; (b) indeferir liminarmente a justiça gratuita; ou (c) alterar liminarmente o valor da causa.
• FPPC, Enunciado 82: É dever do relator, e não faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar o vício ou complementar a documentação exigível, antes de inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais.
• FPPC, Enunciado 83: Fica superado o Enunciado 115 da Súmula do STJ após a entrada em vigor do NCPC (“Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos”).
• FPPC, Enunciado 197: Aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 932 aos vícios sanáveis de todos os recursos, inclusive dos recursos excepcionais.
• FPPC, Enunciado 462: É nula, por usurpação de competência funcional do órgão colegiado, a decisão do relator que julgar monocraticamente o mérito do recurso, sem demonstrar o alinhamento de seu pronunciamento judicial com um dos padrões decisórios descritos no art. 932.
• FPPC, Enunciado 463: O art. 932, parágrafo único, deve ser aplicado aos recursos interpostos antes da entrada em vigor do CPC de 2015 e ainda pendentes de julgamento.
• FPPC, Enunciado 464: A decisão unipessoal (monocrática) do relator em Turma Recursal é impugnável por agravo interno.
• FPPC, Enunciado 550: A inexistência de repercussão geral da questão constitucional discutida no recurso extraordinário é vício insanável, não se aplicando o dever de prevenção de que trata o parágrafo único do art. 932, sem prejuízo do disposto no art. 1.033.
• FPPC, Enunciado 551: Cabe ao relator, antes de não conhecer do recurso por intempestividade, conceder o prazo de cinco dias úteis para que o recorrente prove qualquer causa de prorrogação, suspensão ou interrupção do prazo recursal a justificar a tempestividade do recurso.
I. Direção formal e material do processo pelo relator. Ao relator incumbe a direção formal e material do processo, no Tribunal. Diz a lei processual que deve o relator “dirigir e ordenar o processo no Tribunal” (art. 932, I, do CPC/2015). Além da possibilidade de decidir o recurso, monocraticamente (cf. art. 932, III a V), também resolverá questões incidentes, como, p.ex., a relativa à desconsideração da personalidade jurídica (cf. art. 932, VI), à tutela provisória recursal (cf. art. 932, II, do CPC/2015) etc. Deve também o relator cooperar, p.ex., permitindo a correção de vícios na petição de recurso (cf. parágrafo único do art. 932 do CPC/2015). Deve, ainda, atuar de modo a assegurar a realização do contraditório (cf. art. 933, caput, do CPC/2015). Sobre direção formal e material do processo em geral, cf. comentário ao art. 139 do CPC/2015.
II. Tutela provisória. Incumbe ao relator examinar o requerimento de tutela provisória em recursos (cf. art. 932, II, do CPC/2015; assim, p.ex., em relação à apelação, cf. art. 1.012, §§ 3.º e 4.º, do CPC/2015, ao agravo de instrumento, cf. art. 1.019 do CPC/2015, aos embargos de declaração, cf. art. 1.026, § 1.º, do CPC/2015; aos recursos extraordinário e especial, após a admissão do recurso no órgão a quo, cf. art. 1.029, § 5.º, I do CPC/2015, na redação da Lei 13.256/2016). Também incumbe ao relator decidir a respeito, como regra, em se tratando de processos de competência originária do Tribunal (assim, p.ex., no caso de tutela provisória requerida em ação rescisória, cf. CPC, art. 969). A tutela provisória pode amparar-se em evidência ou urgência (cf., p.ex., em relação à apelação, o que dispõe o § 4.º do art. 1.012 do CPC/2015). Sobre a tutela provisória em geral, cf. comentário aos arts. 294 a 304 do CPC/2015; sobre o efeito suspensivo e a antecipação da tutela recursal como variações de tutelas provisórias recursais, cf. comentário ao art. 995 do CPC/2015.
III. Competência do relator para a realização dos juízos de admissibilidade e de mérito do recurso. Princípio da colegialidade. Observou-se, ainda na vigência do CPC/1973, um movimento crescente no sentido de se atribuir ao relator cada vez mais poderes para decidir monocraticamente, de modo que o julgamento de um recurso pelo órgão colegiado seja dispensado ou, no mínimo, adiado (sobre essa evolução, na vigência do CPC/1973, cf. o que escrevemos em O prequestionamento… cit., 2. ed., 1999, n. 2.5.2, p. 167 ss.; 3. ed., 2002, n. 1.3, p. 53 e ss.). Essa tendência foi mantida, no CPC/2015. Diz-se, no caso, que o relator atua como “porta-voz”, de modo que sua decisão “representaria” aquilo que seria decidido, caso o recurso fosse submetido à apreciação do órgão colegiado. A respeito, afirma José Carlos Barbosa Moreira que “pode-se equiparar o papel do relator ao de um ‘porta-voz avançado’: o que ele diz, supõe-se que o diga ‘antecipando’ a decisão do colegiado. Ao interessado ressalva-se o direito de desencadear um mecanismo de controle, capaz de mostrar se a ‘antecipação’ correspondeu ou não ao entendimento ‘antecipado’; em outras palavras, se merece realmente crédito o ‘porta-voz’” (Algumas inovações…, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis…, cit., p. 322). Admite-se que o relator não conheça do recurso, bem como que lhe dê ou negue provimento (art. 932, III a V, do CPC/2015; cf. comentário infra). Tal disposição, tendo em vista o princípio da colegialidade, deve ser interpretada restritivamente (sobre o princípio da colegialidade, cf. comentário ao art. 1.021 do CPC/2015). Assim, p.ex., não se admite a prolação de decisão monocrática se necessário o reexame de fatos e provas, pelo relator: “O art. 557 do CPC [de 1973] é regra de exceção que, por boa regra de hermenêutica, comporta interpretação restritiva. Sua finalidade é a de meramente possibilitar o julgamento mais rápido de processos, nas hipóteses de rejeição de recursos manifestamente incabíveis (caput), ou de julgamento de questões repetitivas a respeito das quais já haja jurisprudência pacificada. Não se pode dizer, nos termos do § 1.º do art. 557 [do CPC/1973], que o relator de um recurso, ao revisar a prova produzida nos autos, promove a aplicação de jurisprudência consolidada quanto à matéria. Se é necessária revaloração da prova, o julgamento do processo consubstancia uma atividade individual, relativa àquela controvérsia somente, não uma análise de matéria repetitiva” (STJ, REsp 1.261.902/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª.T., j. 16.08.2012). A decisão do relator é agravável (CPC/2015, art. 1.021), não ficando, por isso mesmo, vedado o acesso ao julgamento do órgão colegiado. Sobre princípio da colegialidade e recorribilidade da decisão do relator, cf. comentário ao art. 1.021 do CPC/2015.
IV. Juízo de admissibilidade negativo. Não conhecimento do recurso, pelo relator. O relator não conhecerá do recurso, de acordo com o inc. III do art. 932 do CPC/2015, quando “inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”. A primeira hipótese (recurso inadmissível) abrange as demais, pois, em se tratando de recurso prejudicado, faltará interesse recursal, e, não tendo havido impugnação específica aos fundamentos da decisão que possam manter sua conclusão, faltará, também, regularidade formal (a respeito dos requisitos dos recursos, cf. comentário ao art. 994 do CPC/2015). Cf., no entanto, comentário a seguir.
V. Juízo de admissibilidade ordinatório. Saneamento do vício. Antes de decidir pelo não conhecimento do recurso, deverá o relator intimar o recorrente para sanar o vício (cf. parágrafo único do art. 932 do CPC/2015). Naturalmente, deve-se estar diante de vício sanável. Não será o caso de se tomar a providência prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015, p.ex., em caso de intempestividade manifesta do recurso (pode, porém,haver dúvida quanto à tempestividade do recurso, hipótese em que deverá o relator intimar o recorrente, para que este se manifeste a respeito; v., a propósito, § 6.º do art. 1.003 do CPC/2015, sobre comprovação de ocorrência de feriado local). Adotou o CPC/2015, por princípio, a ampla sanabilidade dos vícios recursais. Assim, p.ex., interposto agravo de instrumento quando, em princípio, seria cabível apelação, ou vice-versa, deverá ser admitido o recurso, dando-se lhe o processamento adequado, determinando-se, se for o caso, a intimação do recorrente, para suprir requisitos ou juntar documentos (necessários, no caso do agravo de instrumento, p.ex., cf. art. 1.017 do CPC/2015). O CPC/2015 admite a correção também quando, interposto recurso especial, entender-se que cabível seria recurso extraordinário, hipótese em que se deverá dar à parte prazo para complementar ou, até, alterar a petição do recurso (cf. art. 1.032 do CPC/2015). Cf. também, a respeito, art. 938, §§ 1.º e 2.º do CPC/2015.
VI. Não provimento do recurso, pelo relator. Poderá o relator negar provimento a recurso em que se defenda tese oposta à de súmula ou de julgamento de casos repetitivos, bem como de assunção de competência (cf. art. 932, IV, do CPC/2015). À luz da principiologia adotada pelo CPC/2015 (cf., especialmente, arts. 926 e 927), não se deve permitir a negativa de provimento a recurso pelo relator com base em orientação manifestada por Tribunal local, se esta não estiver em consonância com o que estiver decidindo os Tribunais Superiores (semelhantemente, na vigência do CPC/1973, assim decidiram os seguintes julgados, dentre outros: STJ, REsp 299.196/MG, 2.ª T., j. 16.04.2002, rel. Min. Franciulli Netto; STJ, EREsp 223.651/ RJ, Corte Especial, j. 01.12.2004, rel. Min. Menezes Direito). Assim, p.ex., se orientação objeto de súmula de Tribunal local não for compatível com aquela oriunda de Tribunal superior, não está o relator autorizado a decidir com base na súmula do próprio Tribunal. O CPC/2015 não reproduziu regra prevista no art. 557 do CPC/1973, que admitia a rejeição de recurso manifestamente “improcedente”. Não se refere o art. 932 do CPC/2015, também, à “jurisprudência dominante” (expressão de difícil definição, outrora referida no art. 557 do CPC/1973): para que se admita o julgamento monocrático, deve-se estar diante de orientação sumulada, veiculada em julgamento de casos repetitivos ou em assunção de competência.
VII. Provimento do recurso, pelo relator. Observância do contraditório. Poderá o relator dar provimento ao recurso quando a decisão recorrida tiver acolhido tese jurídica contrária àquela adotada em súmula ou julgamento de casos repetitivos ou de assunção de competência (cf. inc. V do art. 932 do CPC/2015). O parâmetro a ser observado pelo relator, seja para dar, seja para negar provimento ao recurso, é o mesmo (cf. comentário supra, quando à negativa de provimento ao recurso). Note-se que, diversamente do que previa o § 1.º-A do art. 557 do CPC/1973, admite o art. 932, V, do CPC/2015 que se dê provimento a recurso quando a decisão recorrida contrariar orientação firmada pelo próprio Tribunal, e não necessariamente por Tribunal superior (é necessário, porém, que a orientação adotada pelo Tribunal local seja compatível com a seguida pelo Tribunal superior, como se disse no item precedente). O provimento do recurso só é admissível, diz a lei processual, “depois de facultada a apresentação de contrarrazões”. Tal disposição encontra-se em conformidade com o princípio do contraditório. Nesse sentido já era a jurisprudência, na vigência do CPC/1973. P.ex.: “Nas hipóteses do caput do art. 557 do CPC [de 1973, correspondente aos incs. III e IV do CPC/2015], é desnecessária a intimação do agravado, uma vez que será beneficiado pela decisão, em atenção aos princípios da celeridade e da economia processual. No caso do art. 557, § 1.º-A, do CPC [de 1973, correspondente ao inc. V do CPC/2015], em atenção aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é imprescindível a intimação do agravado para apresentar contrarrazões, pois a decisão modificará a situação jurídica até então estabelecida, em prejuízo à parte recorrida” (STJ, 2.ª T., REsp 1.187.639/ MS, rel. Min. Eliana Calmon, j. 20.05.2010; cf. também, no mesmo sentido, STJ, REsp 1.148.296/SP, rel. Min. Luiz Fux, Corte Especial, j. 01.09.2010; STJ, AgRg no Ag 1.383.757/SP, rel. Min. Benedito Gonçalves, 1.ª T., j. 19.05.2011; STJ, REsp 1.252.702/RJ, rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª T., j. 07.06.2011). Sobre princípio da colegialidade e recorribilidade da decisão do relator, cf. comentário ao art. 1.021 do CPC/2015.
VIII. Competência do relator para dar ou negar provimento a recurso extraordinário e recurso especial. O relator somente poderá dar ou negar provimento a recurso extraordinário baseando-se apenas na jurisprudência firmada (de acordo com os incs. IV e V do art. 932 do CPC/2015) no próprio Tribunal, já que não há “Tribunal Superior” ao STF. No que respeita à resolução de questões federais infraconstitucionais, o STJ é a última instância, já que não há “Tribunal Superior” a ele, com competência para julgar tais temas. Portanto, a jurisprudência dominante utilizada como base para a análise do relator, ao aplicar o art. 932, IV e V, do CPC/2015, seja para dar, seja para negar provimento ao recurso especial, será a oriunda do próprio STJ. Evidentemente, é indispensável que, nesse caso, a questão federal infraconstitucional seja “pura”, isso é de definição da inteligência de determinado dispositivo legal federal infraconstitucional em si mesmo, e não à luz da Constituição. Com efeito, não se descarta que, nesse caso, o STF venha a se manifestar a respeito do mesmo tema jurídico e, se isso ocorrer, deverá o STJ vergar-se à orientação firmada pelo STF. P.ex., não se deve admitir a prolação de decisão monocrática no STJ com base na Súmula 343 desse Tribunal (“É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar”), pois a orientação nela retratada discrepa da veiculada na Súmula Vinculante 5 do STF (“A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”).
IX. Competência do relator para julgar embargos de declaração. No que diz respeito aos embargos de declaração, ocorre situação peculiar, já que o relator não pode, monocraticamente, acolher este recurso para, p.ex., suprir omissão existente em acórdão, que é decisão tomada pelo colegiado. Assim, p.ex., não pode, monocraticamente, ser dado provimento a embargos de declaração opostos contra acórdão (cf. STJ, REsp 630.757/RJ, 5.ª T., j. 28.09.2005, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 07.11.2005, p. 343; STJ, REsp 1.049.974/SP, Corte Especial, j. 02.06.2010, rel. Min. Luiz Fux). Essa orientação, a nosso ver, pode ser extraída do § 2.º do art. 1.024 do CPC/2015, embora esse dispositivo refira-se apenas a embargos de declaração opostos contra decisão do relator. A respeito, cf. comentário ao art. 1.024 do CPC/2015.
X. Competência do relator para julgar remessa necessária. Segundo o Enunciado 253 da Súmula do STJ, “o art. 557 do CPC [de 1973], que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário” (a respeito, na doutrina, cf. Athos Gusmão Carneiro, Recurso especial, agravos e agravo interno, n. 117, p. 194; na jurisprudência, cf. STJ, REsp 318.861/PB, 2.ª T., j. 02.02.2006, rel. Min. João Otávio de Noronha). A competência do relator, no entanto, reduzir-se-á a aferir a admissibilidade da remessa necessária, já que as mesmas circunstâncias referidas nos incs. IV e V do art. 932 do CPC/2015, para autorizar o não provimento ou o provimento do recurso pelo relator, foram consideradas pelo legislador para se estabelecer limites à aplicação da remessa necessária (cf. § 4.º do art. 496 do CPC/2015). Assim, p.ex., remetidos os autos ao Tribunal, poderá o relator decidir monocraticamente, com base no inc. III do art. 932 do CPC/2015, que não se admite remessa necessária, pois a orientação adotada pelasentença coincide com a constante de súmula (não se tratará de não provimento, mas de não conhecimento da remessa necessária, portanto).
Art. 933
• FPPC, Enunciado 522: O relatório nos julgamentos colegiados tem função preparatória e deverá indicar as questões de fato e de direito relevantes para o julgamento e já submetidas ao contraditório.
Constatação de fato ou direito superveniente à decisão recorrida. Questão apreciável de ofício ainda não examinada. Notando-se ter ocorrido fato supervenientemente à decisão recorrida, deverá o Tribunal manifestar-se, a respeito. Incide, aqui, a regra prevista no art. 493 do CPC/2015, aplicável, p.ex., em julgamento da apelação (STJ, RMS 30.511/PE, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5.ª T., j. 09.11.2010), de recurso especial (STJ, REsp 704.637/RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª T., j. 17.03.2011; STJ, EDcl no AgRg no REsp 1.145.754/ES, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, 3.ª T., j. 12.08.2014), assim como de outros recursos. Decidiu-se, nesse sentido, que “a superveniência do fato jurídico representado pela morte da criança, ocorrido após a interposição do recurso especial, impõe o emprego da norma contida no art. 462 do CPC [de 1973, correspondente ao art. 493 do CPC/2015], porque faz fenecer o direito, que tão somente à criança pertencia, de ser abrigada pela filiação socioafetiva” (STJ, REsp 450.566/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., j. 03.05.2011). Antes de decidir a respeito, deverá o órgão jurisdicional dar às partes oportunidade para se manifestar (cf. arts. 493, parágrafo único, e 933, §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015).
Art. 934
Designação de dia de julgamento pelo presidente. Inexistência de revisor, no CPC/2015. Após a devolução dos autos pelo relator à secretaria (art. 931 do CPC/2015), estes são apresentados ao presidente, que designa o dia do julgamento e a publicação da pauta no órgão oficial (art. 934 do CPC/2015), observando-se o que dispõe o art. 935 do CPC/2015. O CPC/2015 não mais se refere à figura do revisor (art. 551 do CPC/1973). A revisão era considerada “burocracia inaceitável” (STJ, REsp 496.197/PR, 2.ª T., j. 22.03.2005, rel. Min. Eliana Calmon) e vinha sendo dispensada nos casos em que se discutia apenas questão de direito (STJ, REsp 1.073.008/RJ, 4.ª T., j. 14.04.2009, rel. Min. Fernando Gonçalves; STJ, REsp 775.381/SP, 3.ª T., j. 15.12.2009, rel. Min. Sidnei Beneti). Não havendo atuação de revisor no regime previsto no CPC/2015, elaborado o voto pelo relator seguir-se-á, desde logo, o julgamento pelo órgão colegiado (cf. arts. 931 e 935 do CPC/2015).
Art. 935
• STJ, Súmula 117: A inobservância do prazo de 48 horas [previsto no § 1.º do art. 552 do CPC/1973, de cinco dias, de acordo com o art. 935, caput, do CPC/2015], entre a publicação de pauta e o julgamento sem a presença das partes, acarreta nulidade.
• FPPC, Enunciado 84: A ausência de publicação da pauta gera nulidade do acórdão que decidiu o recurso, ainda que não haja previsão de sustentação oral, ressalvada, apenas, a hipótese do § 1.º do art. 1.024, na qual a publicação da pauta é dispensável.
• FPPC, Enunciado 198: Identificada a ausência ou a irregularidade de publicação da pauta, antes de encerrado o julgamento, incumbe ao órgão julgador determinar sua correção, procedendo a nova publicação.
I. Publicação da pauta. Devido processo legal. Vista dos autos. Viola-se o devido processo legal, caso não haja publicação prévia da pauta: “Hipótese em que, decorridos aproximadamente 5 (cinco) meses da inclusão do processo em pauta, o recurso especial foi julgado e parcialmente provido sem que tivesse sido novamente pautado, subtraindo da parte a possibilidade de sustentar oralmente. Tal fato caracteriza grave violação dos princípios da ampla defesa e do due process of law […]” (STJ, AR 4.031/RJ, 1.ª Seção, j. 24.09.2008, rel. Min. Herman Benjamin). Após a publicação da pauta, às partes, será permitida vista dos autos (cf. § 1.º do art. 935 do CPC/2015, sem correspondente, no CPC/1973).
II. Adiamento de julgamento e retirada de pauta. Nova publicação da pauta. De acordo com o art. 935, caput, devem ser incluídos “em nova pauta os processos que não tenham sido julgados, salvo aqueles cujo julgamento tiver sido expressamente adiado para a primeira sessão seguinte”. Na jurisprudência que se produziu à luz do CPC/1973, preponderava a orientação segundo a qual deve haver nova publicação somente em caso de retirada da pauta, e não em caso de adiamento de julgamento uma das próximas sessões, a ocorrer em “tempo razoável”: “A respeito da necessidade de intimação das partes para a sessão de julgamento, a jurisprudência do STJ distingue duas situações: O processo, uma vez incluído em pauta, com intimação das partes, e adiado o seu julgamento, pode ser julgado nas sessões subsequentes, independentemente de nova publicação. Por outro lado, se o processo é retirado de pauta, faz-se necessária nova publicação de pauta” (STJ, REsp 751.306/AL, 3.ª T., j. 02.03.2010, rel. Min. Nancy Andrighi). Sob esse prisma, afirma-se que “o adiamento de processo incluído em pauta não exige nova publicação desde que o novo julgamento ocorra em tempo razoável” (STJ, AgRg no REsp 1.155.705/ DF, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 21.06.2012). Por “tempo razoável” considera-se, como se viu, o adiamento em até três sessões (no mesmo sentido, STJ, EDcl no AgRg nos EREsp 1.124.653/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, 1.ª Seção, j. 12.11.2014). Não nos parecia correta essa orientação. Advogados que residem em locais distantes da sede do Tribunal devem se deslocar com antecedência, não raro com elevados custos com a viagem. Obrigar a parte e seus advogados a realizarem viagens em vários dias distintos e sucessivos é algo despropositado, sem justificativa. Segundo pensamos, caso haja adiamento, deve-se definir, desde logo, em qual das próximas sessões o caso retornará à pauta, dando-se as partes por intimadas na própria sessão, e, caso o adiamento ocorra sem data predefinida, é imprescindível que haja nova publicação. Essa preocupação foi manifestada no seguinte julgado: “1. A rejeição dos presentes Embargos de Declaração implicaria a manutenção da sistemática atualmente em vigor no âmbito da Corte Especial do STJ, no sentido de que, uma vez incluído em pauta o processo, não se faz necessária nova publicação e intimação das partes, independentemente do número de sessões pendentes do respectivo julgamento. 2. O caso concreto é paradigmático e propicia reflexão mais aprofundada sobre essa praxis, em razão de o acórdão embargado ter sido proferido sob a sistemática do art. 543-C do CPC [de 1973], que reclama ampla participação das partes na formação do convencimento judicial e, a critério do Tribunal, até mesmo de pessoas, órgãos ou entidades interessadas na controvérsia (art. 543-C, § 4.º, do CPC [de 1973]). 3. Trata-se de uma daquelas situações em que o STJ não se deve guiar pelo procedimento de outros tribunais. Ao contrário, deve dar o bom exemplo. Há que se fazer o certo. E o certo é assegurar a ampla defesa, o contraditório e a segurança jurídica. 4. Não se pode desconsiderar que este é um Tribunal nacional, um Tribunal de superposição, onde atuam advogados que vêm dos extremos mais remotos do nosso País. 5. Nesse sentido, causa intensa preocupação, além do caso concreto, a situação dos advogados que se deslocam a Brasília, com despesas custeadas por seu cliente, que, amiúde, é pessoa humilde e somente pode dispor de passagem uma única vez, sem conseguir arcar com os custos da segunda, terceira e, muito menos, quarta e quinta viagens. 6. O estabelecimento de um limite de três sessões para dispensa de nova publicação é um início, um limiar para a retificação da omissão até hoje verificada, sem prejuízo de a questão ser deliberada oportunamente mediante reforma do Regimento Interno. No Processo Civil brasileiro, a surpresa e o ônus financeiro excessivo são incompatíveis com o due process e com os pressupostos do Estado de Direito que, no nosso caso, é antes de tudo Social. 7. Embargos de Declaração acolhidos,com efeito modificativo, para anular o acórdão embargado” (STJ, EDcl no REsp 1.340.444/ RS, Rel. p/ Acórdão Ministro Herman Benjamin, Corte Especial, j. 29.05.2014). A preocupação referida é louvável, mas deve ir além, para converter-se em alteração na prática do referido Tribunal e dos demais tribunais do Brasil. Com acerto, o texto do novo CPC incorporou semelhante modo de pensar, como se viu.
Art. 936
Ordem de preferência dos julgamentos, nos tribunais. O CPC/2015 contém disposição mais ampla que a outrora prevista no art. 562 do CPC/1973, que contemplava apenas a hipótese agora prevista no art. 936, III, do CPC/2015. Antes de se prosseguirem os julgamentos iniciados em sessão anterior, deve-se, de acordo com o CPC/2015, ser julgados os casos e que houver sustentação oral (art. 936, I) e, depois, aqueles em que houver pedido de preferência (art. 936, II).
Art. 937
I. Julgamento em sessão presencial e sustentação oral. Visão geral. O direito à sustentação oral em sessões de julgamento nos tribunais é manifestação do direito de influir decisivamente no resultado do processo, também visto como manifestação do princípio do contraditório (cf. comentário ao art. 7.º do CPC/2015; sobre o status activus processualis, cf. comentário ao art. 2.º do CPC/2015). A sustentação oral poderá ser feita por videoconferência (cf. § 4.º do art. 937 do CPC/2015; para viabilizar a aplicação do dispositivo, o Conselho Nacional de Justiça implantou o Sistema Nacional de Videoconferência (http://vc.cnj.jus.br/). A sustentação oral, em caso de julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas, tem disciplina específica (cf. art. 984 do CPC/2015). A sessão referida no art. 937 é presencial. Em sua redação original, o CPC/2015 previa, nos casos em que não se admitisse sustentação oral, o julgamento por meio eletrônico (cf. art. 945 do CPC/2015, posteriormente revogado pela Lei 13.256/2016). Admite-se que se decida por meio eletrônico a respeito da presença de repercussão geral da questão constitucional veiculada em recurso extraordinário (cf. comentário ao art. 1.035 do CPC/2015). Sobre o julgamento por meio eletrônico (sessão virtual ou eletrônica), cf. comentário ao revogado art. 945 do CPC/2015.
II. Agravo interno. O CPC/2015 admite, textualmente, a sustentação oral em caso de agravo interno nos casos de competência originária relativos a “ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação” (cf. art. 937, VI, e § 3.º, do CPC/2015). Não há previsão expressa, em relação ao agravo interno interposto contra outras decisões monocráticas referidas no art. 932 do CPC/2015 (o inc. VII do art. 937 da versão enviada à sanção do CPC/2015, que o admitia, foi vetado pela Presidência da República). Não nos parece adequada a opção seguida pelo legislador. A causa não é menos importante, a ponto de se impedir a sustentação oral, apenas pelo fato de o recurso ter sido julgado monocraticamente. Pode-se, ainda, estar-se diante de equivoco da decisão monocrática (p.ex., quanto à aplicação dos incs. IV ou V do art. 932 do CPC/2015), a merecer destaque por ocasião do julgamento do agravo interno. Nada impede de todo modo, que regimento interno de Tribunal admita a sustentação oral, no caso (cf. art. 937, IX, do CPC/2015).
III. Agravo de instrumento. Decisão de mérito. O CPC/2015 admite a realização de sustentação oral em agravo de instrumento que verse sobre tutela provisória (art. 937, VIII; o art. 554 do CPC/1973 não admitia sustentação oral em agravo de instrumento). Deve-se admitir sustentação oral, também, em agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória de mérito (cf. art. 1.015, II, do CPC/2015). No caso, não se admite apelação apenas por não se tratar de decisão final (cf. comentário ao art. 203 do CPC/2015), mas isso não altera a substância da decisão recorrida, que, sendo de mérito, tem aptidão para fazer coisa julgada (cf. art. 502 do CPC/2015), podendo ser, contra ela, ajuizada ação rescisória (cf. art. 966 do CPC/2015).
IV. Remessa necessária. Deve-se admitir sustentação oral também em remessa necessária, a despeito da ausência de previsão expressa, no art. 937 do CPC/2015. Ora, a sustentação oral, nos casos referidos na lei processual, é franqueada tanto ao recorrente quanto ao recorrido. Similarmente, no caso da remessa necessária, a parte em favor de quem foi proferida a decisão em reexame deve ter garantido seu direito de defender sua manutenção (semelhantemente, cf. STJ, REsp 493.862/MG, rel. p/ acórdão Min. Franciulli Netto, 2.ª T., j. 05.02.2004). Cf. também comentário aos arts. 552 e 565.
V. Litisconsortes representados por advogados distintos. Prazo em dobro. Os litisconsortes que tiverem diferentes advogados de escritórios distintos têm “prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal” (art. 229, caput do CPC/2015), o que abrange, naturalmente, o prazo para realização de sustentação oral. Decidiu-se, na vigência do CPC/1973, que “a existência de procuradores diversos confere aos litisconsortes o direito a prazo dobrado para suas manifestações nos autos, prerrogativa que não é afastada pelo fato de as peças processuais serem subscritas em conjunto”. Há nulidade, assim, se os litisconsortes são “impossibilitados de suscitar, durante a sustentação oral, todas as questões relevantes no exíguo prazo de sete minutos e meio, vale dizer, metade do tempo a que fariam jus” (STJ, REsp 888.467/SP, rel. p/ ac. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª T., j. 01.09.2011). Não incide, no caso, a exceção prevista no § 2.º do art. 229 do CPC/2015, já que concebida para se evitar a contagem de prazo em dobro em processo eletrônico quando se tratar de manifestação que dependa de consulta prévia aos autos (p.ex., prazo para se recorrer contra decisão judicial proferida em processo eletrônico), e não para se manifestar oralmente.
VI. Requerimento de preferência de julgamento para sustentação oral. Adiamento de julgamento. De acordo com o § 2.º do art. 937 do CPC/2015, aquele que desejar fazer sustentação oral presencialmente deverá requerê-lo até o inicio da sessão de julgamento, a fim de que o caso seja julgado preferencialmente aos demais (cf. art. 936, I, do CPC/2015); se se tratar de sustentação oral a ser realizada por videoconferência, o requerimento deverá ser requerido até o dia anterior ao da sessão (cf. § 4.º do art. 937 do CPC/2015). Admite-se que se requeira o adiamento do julgamento, a fim de que se julgue a causa em sessão seguinte. Não se trata, porém, de direito assegurado pelo art. 937 do CPC/2015 (como não o era pelo art. 565 do CPC/1973; nesse sentido, STJ, REsp 956.486/ES, 3.ª T., j. 23.04.2009, rel. Min. Nancy Andrighi; STJ, AgRg no REsp 1.071.761/MG, 4.ª T., j. 23.02.2010, rel. Min. João Otávio de Noronha). Afirma-se, na jurisprudência, que o adiamento “ocorrerá ou não conforme prudente avaliação do magistrado” (STJ, AgRg no REsp 1.323.145/ MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª T., j. 20.02.2014).
Art. 938
• FPPC, Enunciado 82: É dever do relator, e não faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar o vício ou complementar a documentação exigível, antes de inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais.
• FPPC, Enunciado 199: No processo do trabalho, constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício pelo órgão jurisdicional, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio Tribunal ou em primeiro grau, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível, prosseguirá no julgamento do recurso.
• FPPC, Enunciado 332: Considera-se vício sanável, tipificado no art. 938, § 1.º, a apresentação da procuração e da guia de custas ou depósito recursal em cópia, cumprindo ao relator assinalar prazo para a parte renovar o ato processual com a juntada dos originais.
• FPPC, Enunciado 333: Em se tratando de guia de custas e depósito recursal inseridos no sistema eletrônico, estando o arquivo corrompido, impedido de ser executado ou de ser lido, deverá o relatorassegurar a possibilidade de sanar o vício, nos termos do art. 938, § 1.º.
SUMÁRIO: I. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito – II. Saneamento de vícios do recurso e de vícios processuais em geral. Necessidade de produção de provas.
I. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito. Antes de julgar o mérito, deverá o relator (ou o órgão colegiado respectivo, cf. § 4.º do art. 938 do CPC/2015) identificar se há alguma questão preliminar a ser resolvida (sobre questões prévias, preliminares e prejudiciais, cf. comentário ao art. 489 do CPC/2015). Não se conhecerá do mérito, caso sua análise seja incompatível com o que se tiver decidido, em relação à questão preliminar. Deve-se, porém, antes de se não se conhecer do recurso (juízo de admissibilidade negativo), verificar se sua correção ou o saneamento de outro vício processual que impeça o exame do mérito é possível (cf. comentário a seguir). Rejeitada a preliminar ou não sendo ela incompatível com o mérito, seguir-se-á o julgamento, com o exame da questão principal (cf. art. 939 do CPC/2015).
II. Saneamento de vícios do recurso e de vícios processuais em geral. Necessidade de produção de provas. No regime do CPC/2015, adota-se, como princípio, a regra de que não apenas os vícios processuais em geral, mas também vícios que impediriam o conhecimento do recurso devem ser, sempre que possível, sanados (cf. §§ 1.º e 2.º do art. 938 do CPC/2015; cf. também comentário ao art. 932, parágrafo único, do CPC/2015). Deve-se estar diante de vício sanável, contudo. Caso, p.ex., note-se a ausência de citação de pessoa que deveria ter sido citada como litisconsorte necessária (arts. 114 e 115 do CPC/2015), a solução será, em princípio, a decretação da nulidade dos atos praticados, com o retorno dos autos ao órgão a quo. É o que ocorre no “caso em que o Tribunal a quo entendendo pela necessidade da produção de prova pericial para o efetivo esclarecimento do estado de saúde da autora, determinou, em preliminar, a conversão do julgamento em diligência para que os autos retornassem à origem exclusivamente para a realização da prova” (STJ, AgRg no REsp 1.157.796/ DF, 1.ª T., j. 18.05.2010, rel. Min. Benedito Gonçalves). O mesmo não se dá, porém, em casos como o de ausência de procuração de uma das partes, hipótese em que deve-se designar prazo para se sanar o vício (cf. art. 76 do CPC/2015). Incide também, aqui, no que couberem, outras disposições pertinentes ao sistema de nulidades processuais, como, p.ex., a abordagem funcional dos requisitos processuais (cf. art. 488 do CPC/2015). Se necessária a produção de prova, converte-se o julgamento em diligência, que poderá ser realizada perante o próprio tribunal ou em 1.º grau de jurisdição (cf. § 3.º do art. 938 do CPC/2015).
Art. 939
Julgamento do mérito do recurso. Abordagem funcional dos requisitos processuais. Dogma da prioridade e preponderância do exame do mérito. Rejeitada a preliminar ou saneado o vício, ou, ainda, não havendo óbice a que se examine o mérito por não serem as questões (preliminar e de mérito) incompatíveis, segue-se o julgamento da matéria principal. Incidem, aqui, os princípios que informam o sistema de invalidades processuais (cf. comentário aos arts. 276 e ss. do CPC/2015). Assim, deverá o órgão recursal realizar uma abordagem funcional dos requisitos processuais, e, sendo o caso, examinar o mérito, desde que para proferir decisão (de mérito) favorável à parte a quem aproveitaria seu não exame (cf. arts. 279, § 2.º, e 488 do CPC/2015).
Art. 940
Pedido de vista e prosseguimento de julgamento. Os votos do relator e dos demais juízes do órgão colegiado são proferidos, como regra, na mesma sessão. Pode ocorrer, contudo, que um dos juízes não se considere habilitado a votar desde logo, podendo, então, solicitar vista, no prazo de dez dias. Devolvidos os autos, o recurso será reincluído em pauta. Pode o juiz que solicitar vista pedir prorrogação do prazo por mais dez dias, findo os quais o presidente do órgão requisitará os autos. De acordo com o § 2.º do art. 940 do CPC/2015 (sem correspondente, no CPC/1973), caso o juiz que pediu vista ainda não se considere habilitado a votar, o presidente do órgão convocará substituto para proferir voto. O Conselho Nacional de Justiça, através da Resolução 202/2015, regulamentou o art. 940 do CPC/2015.
Art. 941
• FPPC, Enunciado 166: A aplicação dos enunciados das súmulas deve ser realizada a partir dos precedentes que os formaram e dos que os aplicaram posteriormente.
• FPPC, Enunciado 200: Fica superado o Enunciado 320 da Súmula do STJ (“A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento”).
I. Conclusão do julgamento. Possibilidade de retificação de voto proferido. Conclui-se o julgamento quando, proferidos os votos, proclama-se o seu resultado (cf. art. 941, caput, 1.ª parte do CPC/2015). Disso se extrai, também, que, enquanto não se dá início à proclamação do resultado, é possível a retificação de voto proferido. Assim já se entendia, na vigência do CPC/1973, a despeito da ausência de texto legal nesse sentido (cf., p.ex.: “Nos órgãos colegiados dos tribunais, o julgamento se encerra com a proclamação do resultado final, após a coleta de todos os votos. Enquanto tal não ocorrer, pode qualquer dos seus membros, inclusive o relator, retificar o voto anteriormente proferido” – STJ, REsp 258.649/PR, 1.ª T., j. 17.08.2004, rel. Min. Teori Albino Zavascki; no mesmo sentido, no STJ: REsp 1.080.189/ MG, 1.ª T., j. 07.10.2008, rel. Min. Francisco Falcão; EDcl no REsp 772.368/SC, 2.ª T., j. 22.04.2008, rel. Min. Humberto Martins; HC 64.835/RJ, 5.ª T., j. 22.05.2007, rel. Min. Felix Fischer, DJ 13.08.2007, p. 393). O CPC/2015 contém disposição expressa a respeito (cf. § 1.º, 1.ª parte, do art. 941 do CPC/2015), que autoriza a retificação pelo juiz que já votou. Trata-se de ato personalíssimo, contudo: não se permite a alteração de voto proferido por juiz afastado ou substituído (cf. § 1.º, in fine, do art. 941 do CPC/2015; nesse sentido, na vigência do CPC/1973, cf. STJ, REsp 1416635/SP, Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de Noronha, 3.ª T., j. 07.04.2015). Concluído o julgamento, sua alteração (e dos votos que o compõem) só será admitida nos casos previstos no art. 494 do CPC/2015 (p.ex., em se tratando de erro material). Note-se que, em alguns casos, poderá se estar diante de proclamação de resultado parcial, ou provisório: é o que acontece quanto se profere julgamento por maioria, na hipótese prevista no art. 942 do CPC/2015. Nesse caso, a declaração do resultado do julgamento apenas abre espaço para a sua continuidade, e não para a sua conclusão efetiva, no sentido referido no art. 941, caput, do CPC/2015. Por isso que, dentre outras consequências, prosseguindo o julgamento nos termos do art. 942 do CPC/2015, poderão os juízes que já votaram na primeira etapa (isso é, antes do prosseguimento) retificar seu voto (cf. § 2.º do art. 942 do CPC/2015).
II. Fundamentação do acórdão. Declaração de voto. Votos concordantes com o voto condutor do acórdão. Votos divergentes. Prequestionamento. Tem-se decidido que é desnecessária a fundamentação de voto concordante com o condutor do acórdão, quando unânime o resultado do julgamento (p.ex., STJ, REsp 45.840/SP, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª T., j. 08.05.1996; STJ, REsp 176.528/MG, rel. Min. Ari Pargendler, 3.ª T., j. 29.09.1999; STJ, EDcl no REsp 49.564/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, 3.ª T., j. 24.04.2007). O mesmo não se pode admitir, contudo, em se tratando de voto divergente. Ora, em decisões tomadas por maioria, é exatamente a fundamentação dos votos (vencedor e divergentes) que permite compreender os porquês de se ter chegado a um ou outro resultado, diferentemente, pois, do que sucede em se tratando de uma maioria obtida para a aprovação de uma lei no âmbito do Poder Legislativo, em que o voto de um deputado, p.ex., não precisa ser fundamentado. A respeito, dispõe o § 3.º, 1.ª parte do art. 941 do CPC/2015 que “o voto vencido será necessariamentedeclarado”. A completude da fundamentação abrange, desse modo, além da declaração do voto vencedor, também a do voto divergente. Essa disposição é importante, pois, no julgamento de recurso interposto contra o acórdão, deve-se considerar os fatos descritos não apenas no voto vencedor, mas, também, no voto vencido (cf., dentre outros, STJ, REsp 1.107.249/RS, rel. Min. Jorge Mussi, 5.ª T., j. 01.09.2009; STJ, AgRg no REsp 1.032.439/RS, rel. Min. Napoleão Nunes Mais Filho, 5.ª T., j. 05.05.2011). Coerentemente com esse modo de pensar, dispõe a 2.ª parte do § 3.º do art. 941 do CPC/2015 que o voto vencido é “parte integrante do acórdão para todos os fins legais, inclusive de prequestionamento” (em sentido contrário, dispunha a Súmula 320 do STJ que “a questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento”; tal orientação resta sem aplicação, à luz do CPC/2015).
III. Decisões unânimes e por maioria. Crítica. O julgamento de apelação ou agravo de instrumento é tomado no órgão colegiado pelo voto de três juízes (cf. art. 941, § 2.º, do CPC/2015). Esse número é considerado quórum mínimo também para a reunião de turmas no STF (art. 147 do RISTF) e no STJ (art. 179 do RISTJ), apesar de as mesmas serem compostas por cinco ministros (cf. arts. 4.º do RISTF e 2.º, § 4.º do RISTJ). As decisões do órgão colegiado tomadas por maioria podem sujeitar-se, em alguns casos, à técnica de julgamento prevista no art. 942 do CPC/2015. Pode-se, ainda, exigir-se que a decisão seja tomada por maioria qualificada, a fim de que se delibere em um ou outro sentido (p.ex., o art. 97 da CF/1988 dispõe que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”), ou, ainda, estabelecer-se que determinado efeito só possa decorrer de decisão tomada por unanimidade (cf., p.ex., art. 1.021, § 4.º, do CPC/2015, quanto à imposição de multa). Jeremy Waldrom, apesar de reconhecer, como observamos no comentário supra, que juízes não apenas chegam a um ponto de vista e votam a respeito, mas devem deliberar cuidadosamente antes de decidir (“They deliberate thoughtfully both among themselves and each in the solitude of his or her own chambers”), suscita interessante questão, afirmando que, ao fim e ao cabo, relevantes temas atinentes a princípios jurídicos muitas vezes acabam sendo decididos, pura e simplesmente, por maioria, à semelhança do que sucede no âmbito das decisões tomadas pelo Poder Legislativo (“ultimately nothing but numbers determines how the Supreme Court, which is supposedly a ‘forum of principle’, makes its decisions”; Jeremy Waldrom, Five to Four: Why Do Bare Majorities Rule on Courts?, The Yale Law Journal 123/1692, abril/2014, os textos citados estão às p. 1709 e 1725, respectivamente). Para obviar aos inconvenientes de uma decisão por maioria sobre assuntos jurídicos relevantes (5 x 4, p. ex., como afirma o referido autor), sobre a resolução de determinados temas ou para a tomada de decisões em um dado sentido deve-se exigir mais que uma maioria simples, mas uma maioria qualificada. Essa exigência é observada, no caso do art. 97 da CF/1988, acima referido, bem como em se tratando de inadmissibilidade de recurso extraordinário por ausência de repercussão geral (art. 102, § 3.º, da CF/1988) e edição de súmulas vinculantes (art. 103-A da CF/1988).
Art. 942
• FPPC, Enunciado 466: A técnica do art. 942 não se aplica aos embargos infringentes pendentes ao tempo do início da vigência do CPC, cujo julgamento deverá ocorrer nos termos dos arts. 530 e seguintes do CPC de 1973.
• FPPC, Enunciado 552: Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento não unânime no âmbito dos Juizados Especiais.
I. Julgamento não unânime. Técnica de julgamento. Ampliação do quórum . Tomada de votos de outros juízes. O art. 942 do CPC/2015 dispõe sobre técnica de julgamento aplicável a casos de julgamento não unânime, nas hipóteses que especifica (cf. comentário a seguir). Embora não se trate de recurso, mas de mero prosseguimento de julgamento com ampliação do quórum de juízes que proferirão voto, tal mecanismo surgiu, na tramitação legislativa do projeto de lei que aprovou o CPC/2015, como algo que faria as vezes dos embargos infringentes, recurso antes previsto nos arts. 530 a 534 do CPC/1973. Nos casos referidos no art. 942 do CPC/2015, o julgamento há de prosseguir caso não se alcance a unanimidade, tomando-se o voto de juízes em “em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial” (art. 942, caput, do CPC/2015). Assim, p.ex., caso o resultado momentâneo do julgamento da apelação (para a qual há quórum de três juízes, cf. art. 941, § 2.º, do CPC/2015) seja o de, por maioria (isso é, dois votos a um), se dar provimento para reformar sentença de mérito, prossegue-se o julgamento com a tomada de voto de mais dois juízes, número que seria suficiente para se inverter o resultado (isso é, se poderia chegar a três votos contra dois). Como o julgamento só se conclui efetivamente após o prosseguimento de que trata o art. 942, aqueles que já se manifestaram em sua primeira fase poderão retificar seu voto, nos termos do § 1.º do art. 941 (cf. § 2.º do art. 942 do CPC/2015). Sempre que possível, o prosseguimento dar-se-á na mesma sessão, tomando-se voto de outros componentes do órgão colegiado que estejam presentes (cf. § 1.º do art. 942 do CPC/2015); caso contrário, o julgamento prosseguirá em nova sessão, convocando-se outros julgadores, assegurado o direito a nova sustentação oral (cf. art. 942, caput, 2.ª parte, do CPC/2015).
II. Cabimento da técnica de julgamento prevista no art. 942 do CPC/2015. A técnica de julgamento referida no art. 942 é textualmente vedada nos casos referidos em seu § 4.º (julgamento de incidente de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas, de remessa necessária e nos casos de julgamento não unânime proferido por plenário ou corte especial dos tribunais). Rigorosamente, essa regra restritiva é desnecessária, já que o caput e o § 3.º do art. 942 do CPC/2015 dispõem sobre as hipóteses em que a técnica se aplica. Assim, p.ex., referida técnica não é aplicável, em se tratando de recurso extraordinário ou especial (embora seja admissível em se tratando de ação rescisória, quando a competência originária para seu julgamento for do STF ou do STJ). No ponto, valeu-se o legislador de critérios não muito claros, para dispor sobre as situações que justificam o prosseguimento do julgamento com a tomada do voto de mais juízes: ao referir-se à apelação, redigiu o texto de modo impreciso (onde está “quando o resultado da apelação for não unânime”, deveria ser “quando o resultado do julgamento da apelação for não unânime”), sem deixar claro se se trata de julgamento sobre a admissibilidade ou sobre o mérito do recurso, se se estende tanto ao caso de provimento quanto ao de desprovimento da apelação, e, ainda, se se aplica tanto em caso de julgamento que reforma quanto ao que anula sentença. Segundo pensamos, para se compreender de modo adequado a hipótese referida no caput, deve-se recorrer às demais situações em que, segundo a lei, aplica-se o procedimento previsto no art. 942 do CPC/2015. Segundo o § 3.º do art. 942 do CPC/2015, a técnica de julgamento aplica-se também à ação rescisória e ao agravo de instrumento interposto contra decisão de mérito. Tem-se, aí, um claro discrimen: admite-se a técnica de julgamento quando se tratar de decisão de mérito (a rescisória, como regra, é manejada contra decisões dessa natureza, cf. art. 966, caput, e § 2.º, do CPC/2015, salvo no caso do § 2.º, I do mesmo art.). Os incs. do § 3.º do art. 942 do CPC/2015 contém, ainda, uma outra restrição: a decisão deve ter sido rescindida ou reformada (respectivamente, em se tratando de rescisória ou de agravo de instrumento). Ora, não faz sentido que tais restrições sejam observadas em relação à rescisória eao agravo de instrumento, e o mesmo não ocorra, em se tratando de apelação. Por isso, entendemos que a técnica de julgamento prevista no art. 942 do CPC/2015 deverá ser observada apenas nos casos em que se der provimento a apelação interposta contra sentença de mérito (ou, pelo menos, contra decisão que, in abstracto, tenha aptidão para figurar como objeto de ação rescisória). A essa conclusão chega-se também interpretando-se sistematicamente a hipótese prevista no caput, em relação às referidas no § 3.º do art. 942 do CPC/2015, e é, também, a que melhor se ajusta à finalidade da referida técnica, já que parece despropositado exigir-se a continuidade de julgamento quando, p.ex., sentença de mérito é mantida, quando negado provimento, por maioria, à apelação. Deve-se observar a técnica prevista no art. 942 do CPC/2015 também em julgamento de embargos de declaração, quando, no julgamento desse recurso, se chegar a um dos resultados referidos acima (p.ex., quando, no julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão que reformou sentença). Tal se dá porque a decisão que julga os embargos de declaração integra a decisão embargada (cf., a respeito, comentário aos arts. 1.022 a 1.026 do CPC/2015).
Art. 943
I. Registro dos atos processuais em documento eletrônico. Os atos processuais realizados no Tribunal, dentre os quais encontram-se os votos e os acórdãos, podem ser registrados em documento eletrônico (cf. art. 943, caput do CPC/2015). Tais documentos deverão ser impressos e, então, juntados aos autos do processo, se estes não forem eletrônicos. A respeito, cf. comentário aos arts. 193 e ss. do CPC/2015.
II. Lavratura do acórdão e publicação da ementa. É necessário que se lavre acórdão e que dele conste ementa, isso é, a síntese do que foi julgado, que será publicada no órgão oficial. A ementa deve ser publicada em 10 dias (cf. §§ 1.º e 2.º do art. 943 do CPC/2015). Caso isso não ocorra em trinta dias, as notas taquigráficas substituirão o acórdão, enquanto este não for publicado (cf. art. 944 do CPC/2015). Não se admite que norma regimental dispense a lavratura de acórdão, já que todas as decisões devem ser fundamentadas (nesse sentido, cf. STJ, AgRg no Ag 648.231/RJ, 3.ª T., j. 14.06.2007, rel. Min. Castro Filho; no mesmo sentido, STJ, REsp 784.334/RJ, Rel. Ministro Castro Meira, 2.ª T., j. 16.06.2009).
III. Ementa, acórdão e identificação da ratio decidendi . No contexto do CPC/2015, em que se dá ênfase ao respeito à jurisprudência, é importante que se identifique a ratio decidendi dos julgados, e não aquilo que considera obiter dicta (“Esta distinção [entre ratio decidendi e obiter dicta] não é desconhecida no âmbito da nossa jurisprudência, mas não vem sendo aplicada com o necessário rigor: não é raro que os enunciados contenham obiter dicta, já que quem formula o enunciado frequentemente extrai do texto da sentença qualquer enunciação jurídica sem verificar se essa é a base efetiva da decisão; na prática judiciária, comporta-se não raramente desse mesmo modo, fazendo referência a qualquer parte da sentença que pareça útil invocar como precedente” – Taruffo, Precedente e jurisprudência, RePro 199/139). Se o entendimento firmado deve ser considerado – ainda que não tenha caráter vinculante – na prolação de outras decisões judiciais, é necessário saber-se o quê deve ser considerado fundamento determinante do julgado proferido. É no acórdão, e não na ementa, portanto, que se deve identificar a ratio decidendi (p.ex., para os fins do art. 489, § 1.º, V, do CPC/2015, quanto ao ajuste dos “fundamentos determinantes” de precedente ao caso a ser julgado). Cf., a respeito, comentário aos arts. 926 e 927 do CPC/2015.
Art. 944
Acórdão e notas taquigráficas. Os julgamentos realizados por órgãos colegiados nos tribunais, ordinariamente, são registrados em notas taquigráficas. Estas contêm “a discussão, os votos fundamentados, bem como as perguntas feitas aos advogados” (cf. art. 103 do RISTJ, cuja disposição encontra similar em regimentos internos de outros tribunais). Tais notas servirão como base para a elaboração do acórdão e, em caso de discrepância entre este e as notas taquigráficas, prevalecerão estas àquele (cf., em relação ao STJ, cf. art. 103, § 1.º, do RISTJ). Tem-se entendido que “a disponibilização das notas taquigráficas são supridas pela publicação do acórdão” (STJ, EDcl no REsp 963.176/AM, 4.ª T., j. 16.04.2009, rel. Min. João Otávio de Noronha), mas “deve ser determinada a juntada aos autos de todas as notas taquigráficas do julgamento quando, somente a partir delas, se possibilite às partes compreender, com exatidão, o sentido e alcance da decisão” (STJ, EDcl no HC 114.789/SP, 6.ª T., j. 13.04.2010, rel. Min. Celso Limongi, Des. conv. do TJSP). Nesse contexto, compreende-se a regra prevista no art. 944 do CPC/2015, segundo a qual a demora em publicação do acórdão faz com que este seja substituído pelas respectivas notas taquigráficas (semelhantemente, cf. o que já dispunha o art. 17 da Lei 12.016/2009, relativo ao mandado de segurança; a respeito, cf. o que escrevemos em coautoria com Fábio Caldas de Araújo em Mandado de segurança individual e coletivo cit., em comentário ao referido artigo).
Art. 945
Julgamento por meio eletrônico. Autorizava o art. 945 do CPC/2015 a realização de julgamento de recursos e processos de competência originária nos tribunais por meio eletrônico, desde que neles não se admitisse sustentação oral (cf. art. 937 do CPC/2015). O art. 945 do CPC/2015, no entanto, foi revogado pela Lei 13.256/2016 (cf. art. 3.º, I da referida Lei). A despeito disso, segundo pensamos, nada impede que os tribunais realizem julgamento por meio eletrônico (sessão virtual ou eletrônica), não presencial. A hipótese de julgamento por meio eletrônico já era prevista, em relação ao STF, ainda na vigência do CPC/1973, nos arts. 323 e 323-A de seu regimento interno (cf. comentário ao art. 1.035 do CPC/2015). De todo modo, devem ser observadas, no julgamento por meio eletrônico, as garantias mínimas do processo, decorrentes do due process of law: todas as decisões judiciais devem ser públicas e fundamentadas (art. 93, IX, da CF/1988). Assim, as decisões proferidas no decorrer da sessão virtual deverão ser fundamentadas e tornadas públicas ao longo do procedimento, de modo a tornar conhecidas tais razões de imediato, e não apenas ao final da deliberação pelo órgão colegiado. Não se deve admitir, também, julgamento em sessão virtual ou eletrônica quando couber sustentação oral ou quando uma das partes se opuser (nesse sentido, dispunha o art. 945, caput e §§ 2.º e 3.º do CPC/2015, mas, segundo pensamos, esse é o entendimento que deve prevalecer, por ajustar-se às garantias constitucionais acima referidas, a despeito da revogação do art. 945 do CPC/2015 pela Lei 13.256/2016).
Art. 946
Recurso interposto contra decisão interlocutória deve ser julgado, em regra, antes de recurso interposto contra sentença. Abordagem funcional dos requisitos processuais e dogma da prioridade. A regra prevista no art. 946 do CPC/2015 deve ser interpretada em consonância com aquela disposta no art. 488 do CPC/2015. De acordo com o art. 946 do CPC/2015, o agravo de instrumento, em princípio, deve ser julgado antes da apelação e, se ambos os recursos tiverem que ser julgados na mesma sessão, deverá o agravo ser julgado antes. Seguindo essa linha, como regra, a definição daquilo que se decidiu na interlocutória agravada deve preceder, logicamente, à sentença apelada. De fato, o resultado do julgamento do agravo de instrumento pode esvaziar de sentido o teor da decisão a ser proferida na apelação (p.ex., no caso de agravo de instrumento que verse sobre exclusão de litisconsorte ou a redistribuição do ônus da prova, cf. art. 1.015, VII e XI do CPC/2015, como resultado do julgamento do agravo poderá se decretar a nulidade e se determinar a retomada do processo, a partir de fase processual anterior à sentença). Assim considerado, o art. 946 do CPC/2015 coaduna-se com o dogma da prioridade do exame dos requisitosprocessuais. Tal dogma, no entanto, não é absoluto, no contexto do CPC/2015, que impõe a análise funcional dos requisitos processuais (cf. comentário ao art. 488 do CPC/2015). Pode ocorrer, p.ex., que o tribunal detecte a possibilidade de se julgar o mérito, versado na apelação, em favor daquele a quem aproveitaria a decretação de nulidade objeto de discussão em agravo de instrumento. Além disso, pode ainda suceder que, com a prolação da sentença, o agravo de instrumento perca seu objeto: “Verifica-se a existência de dois critérios para solucionar o impasse relativo à ocorrência de esvaziamento do conteúdo do recurso de agravo de instrumento em virtude da superveniência da sentença de mérito, quais sejam: a) o da cognição, segundo o qual o conhecimento exauriente da sentença absorve a cognição sumária da interlocutória, havendo perda do objeto do agravo; e b) o da hierarquia, que pressupõe a prevalência da decisão de segundo grau sobre a singular, quando então o julgamento do agravo se impõe. Contudo, o juízo acerca do destino a ser dado ao agravo após a prolação da sentença não pode ser feito a partir de uma visão simplista e categórica, ou seja, a solução da controvérsia não pode ser engendrada a partir da escolha isolada de um dos referidos critérios, fazendo-se mister o cotejo com a situação fática e processual dos autos, haja vista que a pluralidade de conteúdos que pode ter a decisão impugnada, além de ensejar consequências processuais e materiais diversas, pode apresentar prejudicialidade em relação ao exame do mérito. A pedra angular que põe termo à questão é a averiguação da realidade fática e do momento processual em que se encontra o feito, devendo-se sempre perquirir se remanesce interesse e utilidade no julgamento do recurso, o que, em princípio, transcende o fato de ser ou não, a questão nele discutida, pressuposto lógico da decisão de mérito” (STJ, REsp 1.389.194/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4.ª T., j. 20.11.2014). Diante disso, vê-se que a regra prevista no art. 946 do CPC/2015 pode ceder a várias exceções. Sobre a abordagem funcional dos requisitos processuais e dogma da prioridade, cf. comentário ao art. 488 do CPC/2015.
José Miguel Garcia Medina.
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao CPC/1973 4. ed., rev., atual. e ampl., 2. tiragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
	Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart E Daniel Mitidiero
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de processo civil comentado. 2ª. ed., rev., atual. e ampl., 2. tiragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
Art. 929
1. Registro. Os autos remetidos ao tribunal deverão ser registrados a fim de que se certifique a data de entrada. À secretaria cumpre ordená-los para imediata distribuição (art. 929, CPC).
2. Descentralizado. O serviço de protocolo poderá, por ato do tribunal, ser descentralizado, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.
Art. 930
1. Distribuição. Registrado o feito, tem-se que distribuí-lo – vale dizer, atribuí-lo a determinado órgão jurisdicional. A distribuição rege-se pelas regras da publicidade, da alternatividade e do sorteio eletrônico (art. 930, CPC). Havendo motivo para distribuição por dependência (art. 286, CPC), essa deve ser atendida.
2. Prevenção. Estando já prevento determinado órgão jurisdicional, cumpre encaminhar-lhe desde logo os autos. O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processos conexos – hipótese em que a distribuição será por dependência (arts. 286 e 930, parágrafo único, CPC). A distribuição, nesses casos, deve ser compensada, a fim de que se observe a igualdade (art. 285, CPC).
Art. 931
1. Relator. Tendo recebido os autos, o órgão jurisdicional encarregado da relatoria tem de redigir o relatório e o seu voto. No relatório deve constar a exposição dos pontos controvertidos sobre que versar o recurso e no voto a análise da controvérsia submetida pela parte ao tribunal. Logo em seguida, deverá restituí-los logo em seguida à secretaria conjuntamente com o seu relatório. A ultrapassagem do prazo de 30 (trinta) dias para remessa à secretaria não acarreta qualquer consequência de ordem processual.
Art. 932
1. Poderes do relator. O relator tem poderes para dirigir o processo (arts. 932, I, VII e VIII, 933 e 938, CPC), para decidir questões incidentais (art. 932, II e VI, CPC) e para decidir o próprio recurso em determinadas situações (art. 932, III, IV e V, CPC). Nesse último caso, trata-se de expediente que visa a abreviar o julgamento de recursos inadmissíveis, compatibilizar as decisões judiciais e racionalizar a atividade judiciária. A Constituição não determina o juiz natural recursal. O Código de Processo Civil, no entanto, define o juiz natural recursal como sendo o órgão colegiado do tribunal a que compete o conhecimento do recurso. Nesse sentido, o relator, alçando mão do art. 932, CPC, apenas representa o órgão fracionário – a possibilidade de decisão monocrática representa simples delegação de poder do colegiado ao relator. O relator tem o dever de julgar o recurso monocraticamente, preenchidos os requisitos inerentes à espécie, porque aí estará prestigiando a autoridade do precedente (arts. 926 e 927, CPC) e patrocinando sensível economia processual. Pode o relator julgar monocraticamente qualquer espécie recursal a partir do art. 932, CPC, podendo inclusive invocá-lo para decidir a remessa necessária (súmula 253, STJ: “o art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário”) e para, em sendo o caso, decidir questões concernentes a processos de competência originária. O relator deve exercer seus poderes de ofício, independentemente de requerimento de quaisquer das partes.
2. Direção do processo. Dentro do órgão fracionário competente, o relator é responsável pela direção do processo. Daí a razão pela qual tem poderes para determinar prova, homologar autocomposição das partes, determinar a intimação do Ministério Público e exercer outras atribuições eventualmente constantes do regimento interno do respectivo tribunal. Além disso, o relator deve dirigir o processo observando no que couber igualmente o art. 139, CPC. Em outras palavras: deve, dentre outras coisas, dirigi-lo de forma cooperativa (art. 6.º, CPC). Não por acaso o legislador particularizou o seu dever de prevenção no art. 932, parágrafo único, CPC.
3. Questões incidentais. Compete ao relator decidir eventuais pedidos de tutela provisória – antecipação da tutela satisfativa e tutela cautelar (arts. 294 a 311, CPC) – e de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137, CPC). Da decisão cabe agravo interno (art. 1.021, CPC).
4. Não conhecer. O relator deve inadmitir – isto é, não conhecer – o recurso quando esse não preencher os requisitos intrínsecos e/ou extrínsecos que viabilizam o seu conhecimento. Inadmissibilidade é gênero no qual se inserem as espécies recurso prejudicado e recurso sem impugnação específica – rigorosamente, portanto, bastaria a alusão à inadmissibilidade. Recurso prejudicado é recurso no qual a parte já não tem mais interesse processual, haja vista a perda de seu objeto – enquadrando-se, portanto, no caso de inadmissibilidade (ausência de requisito intrínseco de admissibilidade recursal). Recurso sem impugnação específica é aquele que não enfrenta os fundamentos invocados pela decisão recorrida (ausência de requisito extrínseco de admissibilidade recursal). Antes de não conhecer de qualquer recurso, porém, tem o relator o dever de viabilizar ao recorrente a sanação do vício ou a complementação da documentação faltante (art. 932, parágrafo único, CPC). Trata-se de dever de prevenção, decorrente da estrutura cooperativa do processo civil brasileiro (art. 6.º, CPC). O relator deve indicar especificamente qual o vício deve ser sanado ou qual é a documentação faltante (dever de esclarecimento).Da decisão cabe agravo interno (art. 1.021, CPC).
5. Negar provimento. O relator pode negar provimento ao recurso liminarmente quando esse for contrário a precedentes das Cortes Supremas (art. 932, IV, a e b, CPC). Note-se que a alusão do legislador a súmulas ou a casos repetitivos constitui apenas um indício – não necessário e não suficiente – a respeito da existência ou não de precedentes sobre a questão que deve ser decidida. O que interessa para incidência do art. 932, IV, a e b, CPC, é que exista precedente sobre a matéria – que pode ou não estar subjacente a súmulas e pode ou não decorrer do julgamento de recursos repetitivos. O relator também pode negar provimento ao recurso invocando jurisprudência vinculante das Cortes de Justiça – que depende de se encontrar sumulada (art. 932, IV, a, in fine, CPC) ou de ter sido gerada a partir da forma específica dos incidentes de resolução de demandas repetitivas e de assunção de competência (art. 932, IV, c, CPC). O que se procura prestigiar com a possibilidade de o relator negar provimento ao recurso é a força vinculante dos precedentes e da jurisprudência sumulada ou decorrente de julgamentos dos incidentes próprios. Da decisão cabe agravo interno (art. 1.021, CPC).
6. Dar provimento. O relator pode dar provimento ao recurso – mas aí, em respeito ao contraditório, deve primeiro ouvir a parte contrária (art. 932, V, CPC). As mesmas situações que autorizam o relator a negar provimento autorizam-no a dar provimento: a diferença entre os incisos IV e V do art. 932, CPC, encontra-se apenas na necessidade de prévia oitiva da parte contrária. O legislador persegue a mesma motivação: prestigiar a força vinculante dos precedentes e da jurisprudência sumulada ou decorrente de julgamentos dos incidentes próprios. Da decisão cabe agravo interno (art. 1.021, CPC).
7. Colegiado. Inconformada com a decisão do relator, pode a parte provocar a análise do colegiado competente para conhecer do recurso mediante a interposição de agravo interno no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.021, § 2.º, CPC). Observe-se que, rigorosamente, esse agravo apenas desobstrui a via normal do recurso originariamente interposto, permitindo o desembargo adequado da irresignação. Essa a sua função. Em outras palavras: o recurso originariamente interposto não vai suplantado pelo agravo interno, cuja única finalidade é permitir a análise pelo colegiado do recurso julgado monocraticamente. A análise que o colegiado realiza provendo o agravo é a do recurso originariamente interposto.
8. Colegiado como última instância. A jurisprudência é pacífica em exigir a interposição do agravo interno para o colegiado a fim de que se esgote a instância, viabilizando-se, assim, a interposição dos demais recursos eventualmente cabíveis (recurso extraordinário, recurso especial e embargos de divergência). Consoante a jurisprudência, o recurso especial, por exemplo, interposto diretamente da decisão monocrática do relator, não deve ser conhecido, porque não configura decisão de última instância (STJ, 1.ª Turma, REsp 738.586/PR, rel. Min. Luiz Fux, j. 06.09.2007, DJ 15.10.2007, p. 228).
9. Dever de prevenção. Tendo em conta a estrutura cooperativa do processo civil brasileiro (art. 6.º, CPC), o relator tem o dever de viabilizar à parte a sanação de eventual vício existente no recurso, inclusive a complementação da documentação, no prazo de 5 (cinco) dias (art. 932, parágrafo único, CPC). Trata-se de dever de prevenção. Ao fazê-lo, deve o relator indicar precisamente o que deve ser sanado ou complementado (dever de esclarecimento). Da decisão que viabiliza a correção formal do recurso cabe agravo interno (art. 1.021, CPC).
Art. 933
1. Dever de diálogo. O fato e o direito supervenientes são atendíveis no julgamento das Cortes de Justiça (arts. 342, I, 493 e 933, CPC) e, quando determinantes da perda do objeto recursal, também pelas Cortes Supremas. Conjuntamente com as questões apreciáveis de ofício ainda não debatidas, agregam-se ao objeto do recurso. Todavia, como não é possível que exista julgamento definitivo válido sem que as partes tenham tido a oportunidade de exercer o direito ao contraditório, aí entendido como direito de influência (arts. 9.º e 10, CPC), que implica dever de diálogo (art. 489, § 1.º, IV, CPC), a validade da utilização de material novo e ainda não debatido na decisão está condicionada justamente ao prévio debate com as partes. Vale dizer: o relator tem o dever de abrir a oportunidade para as partes falarem a respeito do fato e do direito supervenientes e das questões apreciáveis de ofício ainda não debatidas (art. 933, CPC).
2. Momento. Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, o julgamento será imediatamente suspenso (art. 933, § 1.º, CPC). Porém, estando as partes devidamente representadas na sessão – e concordando a respeito (analogamente, art. 190, CPC) – poderão se manifestar específica e oralmente sobre a questão nova, sem suspensão do julgamento. Se a constatação ocorrer por lembrança de outro juiz, desembargador ou ministro que compõe o colegiado, esse deve encaminhar a questão ao relator a fim de que sejam tomadas as providências pertinentes (art. 933, § 2.º, CPC).
Art. 934
1. Publicidade. Em condições os autos, toca ao presidente do órgão fracionário designar data para julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial. Todos os recursos, incidentes e ações originárias devem entrar em pauta, o que obviamente inclui o agravo interno e os embargos declaratórios, tendo em conta a necessidade de se assegurar o direito ao contraditório, na sua mais básica acepção de direito de informação (arts. 5.º, LV, CF, e 7.º, 9.º e 10.º, CPC), e o direito à publicidade dos atos processuais (arts. 5.º, LX, e 93, IX, CF, e 11 e 189, CPC), não só no que tange à observância do direito à informação pública, mas também a respeito do direito de se fazer presente na sessão de julgamento.
Art. 935
1. Pauta. Entre a data da publicação da pauta e a sessão de julgamento mediará, pelo menos, o espaço de 5 (cinco) dias (art. 934, CPC). Trata-se de prazo de espera, cujo objetivo está em possibilitar que as partes e os seus advogados, querendo, participem da sessão de julgamento. “A inobservância do prazo de 48 (quarenta e oito) horas, entre a publicação de pauta e o julgamento sem a presença das partes, acarreta nulidade” (súmula 117, STJ). A súmula 117, STJ, continua sendo aplicável, observando-se, contudo, o prazo previsto no art. 934, CPC. Rigorosamente, no entanto, a inobservância do prazo legal de espera acarreta a ineficácia do julgamento e não a sua nulidade. A solução aí está em refazê-lo. A pauta de julgamento deve ser afixada na entrada da sala em que ocorrerá a sessão de julgamento.
2. Nova pauta. Os processos não julgados devem ser objeto de nova pauta, salvo se expressamente colocados na pauta da sessão subsequente por indicação do presidente do órgão julgador.
3. Vista dos autos. As partes têm direito de acesso aos autos depois de publicada a pauta de julgamento. O direito é à vista dos autos na secretaria do órgão julgador, vedando-se implicitamente a retirada em carga.
Art. 936
1. Ordem. O art. 936, CPC, apresenta a ordem em que os processos serão julgados na sessão. A sua não observância, acaso não gere prejuízo, não acarreta nulidade. Trata-se de simples irregularidade.
Art. 937
1. Sustentação oral. Depois de feita a exposição da causa pelo relator, o presidente possibilitará a sustentação oral das razões recursais pelas partes, concedendo a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um. Não podem as partes inovar na fundamentação recursal. Tem a parte direito a realizar sustentação oral em reexame necessário (STJ, 2.ª Turma, REsp 493.862/MG, rel. Min. Eliana Calmon, rel. para acórdão Min. Franciulli Netto, j. 05.02.2004, DJ 12.04.2004, p. 192). A sustentação oral pode ser feita por videoconferência ou qualquer outro recurso tecnológico que permita transmissão de som e imagem em tempo real

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