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A TECNICA DO HTP0001

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A técnica da casa-árvore pessoa
(HTF» de John Buck
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Maria Cecilia de Vilhena Maraes Silva
o RTP propõe o desenho de temas simples, conhecidos da grande maioria das pessoas,
por meio dos quais podem ser explorados diferentes níveis de projeção da personalidade,
abordando aspectos mais arcaicos por meio do desenho da árvore e aspectos menos arcaicos
por meio do desenho da pessoa; o desenho da casa fica em algum ponto entre esses dois
extremos. Desenhos específicos e familiares à maioria das pessoas oferecem, para o clínico,
uma referência para a comparação da produção de um indivíduo em particular com a das
pessoas de mesma idade e status socioeconômico equivalente, constituindo, assim, uma
âncora para a interpretação.
Na forma original, proposta por Buck, o RTP envolve três desenhos produzidos com
lápis n° 2 e material verbal obtido no inquérito. Com o acréscimo sugerido por Rammer
(1991) - o RTP cromático - o clínico dispõe de um conjunto de pelo menos seis desenhos,
além do material verbal associado, contando, portanto, com uma amostra maior de compor-
tamentos observados em circunstâncias distintas. Para o autor, a fase cromática não consti-
tui apenas uma complementação da fase acromática. Ela representa um conjunto de condi-
ções em que o sujeito perde parte do controle defensivo: o inquérito que a antecede, além de
esclarecer aspectos do desenho, força a identificação do sujeito com o que produziu e mobi-
liza mais claramente os conflitos subjacentes; o uso da cor acentua a participação dos aspec-
tos emocionais; o material- giz de cera -impede o controle mais refinado de que o sujeito
dispõe quando desenha com o lápis n° 2; a impossibilidade de apagar o que considera erros
no desenho, tendo apenas a oportunidade de escondê-los, coloca o sujeito em uma situação
mais vulnerável. Essa configuração induz, no examinando, um nível de frustração diferente
daquele proposto pela fase acromática e expõe um nível mais profundo de sua personalida-
de, revelando de forma mais evidente os conflitos, as defesas e os recursos psicológicos do
indivíduo.
Este capítulo aborda as origens do RTP e os acréscimos feitos ao instrumento com o
passar do tempo. Com o objetivo de apresentar diferentes abordagens à análise do material
produzido, são apresentados: o simbolismo dos temas Casa, Árvore e Pessoa, o qual fun-
damentam a tradicional interpretação do conteúdo; o simbolismo do espaço, que funda-
menta a interpretação da folha em que se desenha como representação do espaço vivencial
ORIGENS E FUNDAMENTOS TEÓRICOS
do indivíduo; por fim, é descrita sucintamente a identificação dos tipos de defesa e de
organização da personalidade, desenvolvida por EIsa Grassano (1994,1996), como exem-
plo de análise integrada de vários aspectos associadas a um referencial teórico específico,
no caso, os conceitos de Melanie Klein.
Em seguida são apresentados alguns estudos que usam o HTP, o desenho da figura
humana ou o desenho livre para a identificação de variáveis complexas, estudos de caso da
vida real e avaliação de intervenções. O capítulo é encerrado com algumas considerações
sobre pontos levantados no artigo sobre o uso e a interpretação de desenhos.
A técnica projetiva da Casa-Arvore-Pessoa (HTP), de John Buck (1948), consiste na siste-
matização de vários procedimentos envolvendo a expressão gráfica que, a partir das décadas
de 1920 e 1930, foram impulsionados pela substituição da expressão verbal pelo desenho
livre como instrumental para associações livres no tratamento de crianças (Anzieu, 1986).
Já no final de 1926, Florence Goodenough desenvolvia, nos Estados Unidos, o teste da
figura humana (DFH) para avaliação do desenvolvimento intelectual de crianças. Karen
Machover, identificando o potencial para o estudo da personalidade da técnica de
Goodenough, cria o Desenho de uma pessoa (DAP,Draw a Person), uma técnica puramente
projetiva.
Em 1928, partindo de uma base exclusivamente intuitiva, o suíço EmilJucker utilizava o
desenho da árvore para identificar possíveis dificuldades dos clientes que o procuravam em
busca de orientação educacional e vocacional. A escolha da árvore como tema, segundo
Jucker, baseou-se no estudo da história da cultura e dos mitos, nos quais a árvore tem simbo-
lismo privilegiado (Van Kolck, 1984; Hammer, 1991). Em 1934, Schliebe, na Alemanha, com
o objetivo de investigar os afetós, solicitava vários desenhos de árvores, nesta seqüência:
uma árvore qualquer, depois gelada, alegre, pedindo ajuda, sofrendo e, por fim, morta. Dis-
cípulo de Jucker, Karl Koch criou o Teste da Árvore a partir de estudos experimentais com
desenhos desse tema em situações de hipnose, reflexões fenomenológicas sobre os possíveis
significados de cada traço da produção gráfica e aplicação de tratamento estatístico ao mate-
rial coletado (Van Kolck, 1984; Hammer, 1991). Posteriormente, Renée Stora, na França,
adaptou e modificou a técnica, tornando-a mais dirigida (Anzieu, 1980), mas seu trabalho
teve pouca repercussão no Brasil.
John Buck (1948) sistematizou os dados das técnicas desenvolvidas por Koch e Machover
e acrescentou o desenho da casa. Posteriormente, Emmanuel Hammer introduziu o HTP
cromático no procedimento, visando a investigar a personalidade em um nível mais pro-
fundo do que o possibilitado pela produção acromática (Hammer, 1991).
A tarefa de desenhar os três temas pode ser considerada como um tipo de teste situacional
no qual o sujeito enfrenta não só o problema de desenhar o tema indicado, como também
com o de orientar-se, adaptar-se e comportar-se numa situação específica. Para isso, ele mos-
trará um comportamento verbal, expressivo e motor. Esses comportamentos, assim como o
próprio desenho, fornecem os dados para a análise psicológica (Levy, 1991).
ATUALIZAÇÕES EM MÉTODOS PROjETIVOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÕGICA248
TÉCNICAS GRÁFICAS
PRINCíPIOS DE INTERPRETAÇÃO
249
A produção pode ser analisada sob três perspectivas: adaptativa, expressiva e projetiva
(Van Kolck, 1984). A diferenciação em três perspectivas é puramente didática, uma vez que
os três aspectos são inseparáveis. Da mesma forma, os vários desenhos devem ser analisados
em conjunto, procurando-se padrões característicos da produção do sujeito.
A perspectiva adaptativa avalia a adequação do sujeito à tarefa, considerando a qualida-
de da produção tanto em termos formais de correspondência ao grupo etário e sociocultural
ao qual o indivíduo pertence, quanto à compatibilidade entre o que foi solicitado e o que foi
produzido. De modo geral, os problemas de adaptação se devem a recursos intelectuais insu-
ficientes, problemas orgânicos, patologias mais graves ou problemas emocionais intensos.
A perspectiva expressiva analisa o estilo próprio do sujeito. Como destaca Hammer
(1991), nossos músculos não mentem; a análise volta-se para a expressão psicomotora do
indivíduo, levando em conta também os comportamentos não-verbais apresentados durante
a realização da tarefa. Considerando que a folha em branco representa o ambiente delimitado
imposto ao sujeito (Van Ko1ck, 1984), o modo como o indivíduo o utiliza revelará sua
orientação geral em relação ao mundo e a si próprio. Os aspectos expressivos revelam
características estáveis do indivíduo, como as atitudes básicas em relação a si e ao ambiente,
o grau de energia de que dispõe e como a investe, o controle na expressão dos impulsos e os
recursos cognitivos potenciais e efetivamente usados para dar conta das tarefas propostas
(Hammer, 1991).
A perspectiva projetiva concentra-se no modo como o tema é tratado e avalia a atri-
buição de qualidades às situações e objetos representados, o que permite identificar áreas
de conflito mais significativas (Van Ko1ck, 1984). Aqui a atenção se volta para as diferen-
tes partes representadas e a análise se fundamenta no aspecto simbólico dos elementos
analisados.
ASPECTOS SIMBÓLICOS DA TRíADE CASA-ÁRVORE-PESSOA
A experiência tem demonstrado que os temas árvore, casa e pessoa são os preferidos
pelas crianças quando sãosolicitados desenhos livres. Em pesquisa realizada na Inglaterra,
Griffiths, citado por Hammer (1991), constatou que a figura humana é objeto mais desenha-
do espontaneamente pelas crianças pequenas, seguida da casa e depois da árvore.
O HTP parte do pressuposto de que existe, no homem, uma tendência a ver o mundo de
modo antropomórfico. Assim, ele tende a atribuir a sua visão a outros habitantes do mundo,
o que permite identificar-se com eles e não apenas com seus pares humanos. Nesse sentido,
a casa, a árvore e a pessoa desenhadas no HTP não deixam de ser representações da imagem
que o indivíduo tem de si.
A Casa suscita associações à vida familiar e doméstica, tanto para crianças quanto para
adultos. O clima geral (ou atmosfera) do desenho é bastante indicativo de como o indivíduo
sente o seu ambiente. Segundo Hammer (1991), a casa representa mais freqüentemente o
auto-retrato com elementos de fantasia, ego, contato com a realidade, acessibilidade e também
a percepção da situação doméstica. Para a avaliação da integridade do ego, especial atenção
deve ser dada à solidez das paredes; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser indicado
pela proporção entre a área do corpo da casa e a do telhado. As aberturas para o mundo,
representadas pelas portas e janelas, são boas indicações da disponibilidade do indivíduo
para a interação social. Os elementos acessórios, como chaminés, jardineiras, grades de
proteção, também devem ser considerados em seus aspectos simbólicos, procurando-se
compreender a que servem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter motivado
sua inclusão. Por ser o primeiro da série, muitas vezes o desenho da casa apresenta poucos
detalhes ou tamanho pequeno, ou é desenhado no canto superior esquerdo da folha. Essas
produções podem indicar uma atitude de cautela decorrente da falta de referências quanto
ao que virá em seguida. Caso essas características apareçam somente nesse primeiro desenho
da casa, a importância da produção no quadro geral será menor, devendo-se enfatizar a própria
atitude do indivíduo frente a uma situação sobre a qual não tem controle.
A Árvore, por sua condição mais básica, natural e vegetativa, favorece a' projeção de
sentimentos mais profundos da personalidade e do self em um nível mais primitivo. Como
a relação entre o indivíduo e a árvore não é tão evidente, esse desenho favorece também a
atribuição de sentimentos mais profundos, negativos ou perturbadores com menos exigên-
cia de manobras defensivas do ego (Hammer, 1991). A Árvore tem alto valor simbólico e o
emprego universal de seu simbolismo foi constatado por autores de diferentes áreas como
Carl Gustav Jung (1991), Joseph Campbell (1990), Sir James G. Frazer(1986), apenas para
citar alguns. Nossa identificação com a árvore pode ser observada pelo uso metafórico de seu
ciclo anual como representação das fases da vida - observamos na árvore nosso próprio
processo de crescimento, reprodução e morte, e também a possibilidade de recuperação.
Jung considera a árvore como um motivo presente em sonhos, mitos e lendas de várias
culturas, podendo assumir diferentes significados: evolução, crescimento físico ou amadure-
cimento psicológico. Além disso, esse tema está intimamente relacionado com o simbolismo
da cruz, uma forma esquematizada de árvore. Desenhar uma cruz é representar a si mesmo;
a árvore é simbolismo do homem enquanto ser vertical e representa o crescimento e a evolu-
ção, graças à proeminência do eixo vertical em sua estrutura, em oposição ao simbolismo dos
animais, mais associado à vida ir}stintiva. Expressões como "me senti podado" ou "ele resga-
tou suas raízes" ou a primeira frase da obra Ricardo m de William Shakespeare, 1/ o inverno da
nossa desesperança" (também título de uma obra de John Steinbeck) remetem à nossa iden-
tificação com a árvore e o ciclo das estações. Para a avaliação da integridade do ego, especial
atenção deve ser dada à solidez do tronco; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser
indicado pela proporção entre tronco e copa. As diferentes possibilidades de interagir com o
mundo são indicadas pelas ramificações dos galhos. Elementos acessórios, como flores, fru-
tos, nós na superfície do tronco, também devem ser considerados em seus aspectos simbóli-
cos, procurando-se compreender a que servem e identificar os conflitos ou necessidades que
podem ter motivado sua inclusão.
O desenho da Pessoa nitidamente tem características de "humanidade", com as quais
o indivíduo prontamente se identifica. Geralmente o desenho da pessoa gera protestos e
reclamações por parte de sujeitos adultos. Não se pode negar que se trata de um desenho
mais difícil de fazer do que o de uma casa ou de uma árvore. Há mais detalhes, as dificulda-
des com as proporções ficam mais evidentes. Porém, é preciso considerar que, como o dese-
nho da pessoa mobiliza conflitos mais próximos da consciência, é natural que a ansiedade
aumente, assim como as manobras defensivas para contorná-Ia. Por esses motivos, o dese-
nho da pessoa tende a ter uma qualidade inferior à dos dois desenhos anteriores.
O desenho da pessoa é determinado por fatores psicodinâmicos nucleares resultantes do
conceito de imagem corporal - a imagem física em sua estrutura, e em grande parte incons-
ciente, do tipo de pessoa que se é, que cada um de nós leva em seu aparelho psíquico. Essa
imagem se baseia em parte nas convenções, em parte nas sensações e estrutura somática, e
250 ATUALIZAÇÕES EM IVI~TODOS PROIETIVOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Aspectos simbólicos do uso do espaço
em parte na transposição simbólica das atitudes em características somáticas. É construída
a partir de todas as imagens, sensações e emoções pelos quais o corpo passa ao longo da
vida, constituindo o estrato inconsciente das representações corporais (Schilder, 1981).
Por esse motivo, esse desenho manifesta mais prontamente a visão de si mesmo mais pró-
xima da consciência e a relação com o ambiente. Para a avaliação da integridade do ego,
especial atenção deve ser dada à integridade do corpo, à delimitação clara dos seus limites
em relação ao ambiente que o circunda; o grau de valorização dos processos ideacionais
em oposição aos emocionais pode ser identificado pela proporção entre cabeça e tronco.
As diferentes possibilidades de interagir com o mundo são indicadas pelas mãos e braços; a
disponibilidade para entrar em contato com conteúdos internos ou externos é expressa
pelo tamanho e qualidade dos olhos, entre outros. Elementos acessórios, como bolsas,
cintos ou anéis, também devem ser considerados em seus aspectos simbólicos, procurando-
se compreender a que servem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter mo-
tivado sua inclusão.
Considerando que a folha em branco representa o ambiente delimitado imposto ao
sujeito, a análise do modo como o indivíduo o utiliza revela sua orientação geral em relação
ao mundo e a si próprio, ou seja, o seu espaço existencial. O simbolismo do espaço apresen-
tado por Max Pulver fundamenta várias interpretações do uso do papel, como é o caso do
HTP, ou de outras superfícies, como a tampa da caixa do teste da Aldeia, de Arthus (Anzieu,
1986; Augras 1980).
Segundo Pulver, em seus estudos para fundamentar a análise psicológica da escrita, o
simbolismo espacial precede o siplbolismo verbal, e a expressão gráfica, como a artística,
revela sistemas anímicos de organização do mundo. Nas palavras de Augras (1980): "o
espaço aparece como um sistema de linhas convergentes cujo ponto de encontro é o ho-
mem" (p. 244).
Para Pulver, esse espaço, que está dentro de cada pessoa, "fornece uma ordem primordial
que é simbólica, isto é, intuitiva e ainda não intelectual" (Pulver, 1953, mencionado em
Augras, 1980). O autor usa um esquema em cruz para representar o espaço, no qual integra a
dimensão temporal (direção) à dimensão espacial. No eixo horizontal da cruz, o lado esquer-
do está associado à origem, ao começo de tudo e, por extensão, ao passado, à introversão é à
Mãe; o lado direito, por suavez, associa-se à evolução, à extroversão e, por extensão, à reali-
zação no ambiente, ao futuro, ao Pai. No eixo vertical, há uma linha intermediária (que
corresponde à pauta, na escrita) que representa a realidade externa perceptível, onde tudo
pode acontecer; esse plano equivale à esfera empírica do ego - o que em termos concretos
equivaleria ao espaço que percebemos da superfície de apoio dos nossos pés a até um pouco
acima do plano visual horizontal. Acima, a área consciente, envolve as "funções superiores",
associadas aos processos de pensamento, imaginação ou, segundo a denominação do autor,
da lntelectualidade - basta observar como tendemos a olhar para cima quando nos esforça-
mos em concentrar a atenção nos nossos pensamentos. Abaixo encontra-se a área do não-
visível, da materialidade, do inconsciente.
O simbolismo do espaço permeia várias formas em que configuramos objetos e experiên-
cias da nossa vida diária. Por exemplo, ao dizermos "José está no mundo da lua" ou "Você
precisa dar asas à imaginação", referimo-nos aos processos ideacionais, entendidos como
"'"
251TécNICAS CRÁ"CAS
Uso das defesas nas técnicas gráficas
EIsa Grassano (1996), apoiada na teoria kleiniana, propõe indicadores para o diagnósti-
co das defesas com base no desenvolvimento evolutivo dos processos defensivos identifica-
dos na produção gráfica: dos mecanismos esquizóides para os mecanismos maníacos e obses-
sivos da etapa depressiva para a emergência de mecanismos neuróticos e mais avançados. O
fracasso na primeira ou na segunda etapas permitirá o diagnóstico do tipo de organização
neurótica, psicótica ou psicopática da personalidade. A autora destaca que não basta somen-
te rotular as defesas; é necessário compreender o processo dinâmico de que fazem parte, o
que envolve identificar a modalidade defensiva, por que o ego optou por ela, com que fina-
lidade optou por ela, a que nível evolutivo corresponde a modalidade defensiva e que carac-
terísticas tem essa configuração defensiva (plasticidade, rigidez etc). A partir dos indicadores
levantados, Grassano caracteriza as produções neuróticas, psicóticas e psicopáticas.
A análise concentra-se na integração do aparato psíquico e no desenvolvimento de fun-
ções de discriminação, por um lado, e no desenvolvimento de funções simbolizantes (pensa-
mento lógico-abstrato, reparação e sublimação), por outro .
-
ATUALIZAÇÕES EM MÉTODOS PROjETIVOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA252
"acima", assim como a concepção habitual de céu; por outro lado, dizemos que "Ê preciso
mergulhar nos conteúdos do inconsciente", aquilo que está abaixo, oculto sob a terra firme
em que pisamos, assim como a concepção habitual de inferno. Entendemos também que
nossos sentimentos vêm "de baixo", e precisam ser controlados pela cabeça: lime subiu uma
raiva e perdi a cabeça". Também as metas a alcançar são representadas como escaladas no
eixo vertical: "ele quer subir na vida", "ela tem metas muito altas", "ele é uma alpinista
social".
O eixo horizontal indica progressão e a dimensão temporal, o que pode ser constatado
em expressões como 11 ele parece que não avança, não sai do lugar" (permanecer no ponto de
origem, à esquerda) ou em "não coloque os bois à frente do carro" (a ação precipitada, para
a direita) ou ainda em "é preciso enxergar mais longe" (ter uma visão do futuro).
Esse simbolismo, apresentado aqui de modo extremamente conciso, aplica-se também
aos três temas do HTP, o que permite compará-Ias: uma área inferior, de base, que constitui o
apoio do objeto na realidade prática, representada mais claramente pelos pés da figura hu-
mana e pelas raízes da árvore ou área de apoio da árvore e da casa sobre o solo; uma área
intermediária, de estrutura sólida, que assegura a sustentação do objeto e que representa
características mais estáveis do objeto (paredes da casa, corpo da pessoa, tronco da árvore);
uma área superior, menos estável, mais móvel ou fluida (telhado da casa, copa da árvore,
cabeça e feições da figura humana). Considerando o simbolismo do espaço proposto por
Pulver, essas três áreas corresponderiam, respectivamente, à (1) área corporat do inconscien-
te, da matéria; (2) a área do ego, que assegura a integridade do indivíduo, e de suas relações
tanto com as pulsões como com as demandas do ambiente, do qual se diferencia; (3) a área
dos processos de ideação, do pensamento, da imaginação. Nos desenhos, a harmonia dessas
três áreas, sua articulação e proporções adequadas indicam uma personalidade integrada que
faz pleno uso de seus recursos internos. Mais preocupantes são as produções em que justa-
mente a parte "estrutural" dos desenhos se mostra comprometida (paredes em ruínas ou a
ponto de desabar, delimitação incerta ou irregular do corpo da pessoa ou do tronco da árvo-
re). Os aspectos de integridade e harmonia são particularmente importantes na análise das
defesas desenvolvida por Grassano (1994, 1996), abordada a seguir.
•.•..
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I
Ii,!I
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Para avaliar o grau de integr::.çã'J do aparato psíquico e desenvolvimento de funções
de discriminação, volta a atenção para a percepção da realidade, indicada pelo tratamento
que recebe a folha como representante simbólico do espaço externo, ou seja, como o sujei-
to "povoa" esse espaço, e para as características da estruturação intrapsíquica, reveladas
pelas características estruturais de cada objeto obtido (qualidades harmônicas ou desarti-
culadas; objetos completos, incompletos, parciais/reais, imaginários, bizarros). São obser-
vadas a preservação da gestalt, a qualidade das figuras, o grau de diferenciação das figuras,
o tipo de movimento (expansivo ou impedido ou coartado); noções de perspectiva, inser-
ção adequada das partes; também a localização e o tamanho são considerados representa-
ções da localização do próprio ego com relação ao mundo externo em termos de seguran-
ça, insegurança, megalomania.
Para a avaliação do desenvolvimento de funções simbolizantes, Grassano considera
que a produção gráfica revelará as ansiedades ou preocupações mobilizadas no indivíduo
frente à reparação e o estado de seus objetos internos e seu ego (inteiros, quebrados,
parcializados etc). Como sublimação e reparação estão indissoluvelmente unidas, o grau
de desenvolvimento da capacidade sublimatória se expressaria graficamente na disposi-
ção, atitude e modalidade com que o indivíduo enfrenta a tarefa projetiva e no aspecto
inteiro, sólido, harmonioso (reparado) ou, ao contrário, destruído do objeto gráfico.
As produções neuróticas caracterizam-se pela preservação da Gestalt, da delimitação e
das qualidades centrais que caracterizam os objetos na realidade. Os elementos patológicos
se manifestam em pequenas áreas e se expressam por ênfase exagerada, omissão ou zonas
confusas que não comprometem a organização da totalidade.
As produções psicóticas caracterizam-se pela fragmentação e a dispersão de elementos. A
produção tem uma aparência geral confusa. A desorganização é observada também nos obje-
tos gráficos individuais, cujas características se afastam das observadas na realidade; os dese-
nhos têm uma aparência estranha e parcial. Os mecanismos de splitting e identificação projetiva
excessivos provocam a desorganização do ego e do objeto e vivências de esvaziamento e
despersonalização.
Nas produções psicopáticas, a identificação projetiva indutora excessiva leva à paralisa-
ção e à anulação da capacidade de discriminação do objeto externo. O "mau" é depositado
no objeto externo, mas ao contrário do que ocorre com da identificação projetiva psicótica,
o ego mantém o controle do projetado para evitar a reintrojeção e para levar o objeto a
assumir ativamente as características projetadas. Geralmente há produção de objetos gran-
des, expressão de necessidade de difundir a imagem corporal, o corpo, no continente objeto
externo. A ênfase é colocada na musculatura de braços, pernas e tórax - exacerbação de
mecanismos de ação e necessidade de instrumentar o aparato motor como expulsivo-expan-
sivo de controle do objeto.
PESQUISASCOM O HTP
O HTP, e particularmente o desenho da figura humana, tem sido bastante utilizado em
pesquisas que procuram avaliar auto-estima, imagem corporal e diferentes aspectos psicoló-
gicos de grupos clínicos diversos. A aplicação das técnicas gráficas sofre pequenas alterações,
dependendo do tempo disponível, do contexto em que se dá a avaliação e das especificidades
:~:.: :."" 1,.,=-:::: :=::.- :5: ?A:(A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
do grupo estudado. Kesta seção, serão abordados alguns estudos que envolvem as técnicas
gráficas em diferentes contextos e para finalidades diversas.
Estudos associados à obesidade
Santos, Peres e Benez (2002) utilizaram o desenho da figura humana para delinear o
perfil psicológico de 10 adultos obesos mórbidos submetidos a um programa multidisciplinar
de reeducação alimentar. Para o estudo foram selecionados pacientes com idade acima de 21
anos, Índice de Massa Corporal compatível com obesidade mórbida e que não apresentavam
problemas psiquiátricos ou de saúde que impedissem o retorno ambulatorial. A aplicação,
individual, seguiu o procedimento sugerido por Machover: dois desenhos de figura humana,
um de cada sexo, com lápis preto n° 2 e folhas de papel tamanho Ofício.
Para a análise do material coletado foi elaborado um protocolo de avaliação, compos-
to por 41 indicadores envolvendo aspectos gerais, formais e de conteúdo. Entretanto, para
a interpretação priorizou-se a análise qualitativa, considerada mais profunda e reveladora
do que a avaliação quantitativa. As observações coletadas durante o contato de aproxima-
damente 90 dias com os participantes, por ocasião da intervenção multidisciplinar, tam-
bém foram articuladas com a elaboração das hipóteses interpretativas.
Em linhas gerais, os desenhos indicaram, no grupo estudado, características psicológi-
cas coerentes com as encontradas na literatura sobre obesos: dificuldades de contenção de
impulsos; tendência à imaturidade, passividade, dependência e insegurança; busca de sa-
tisfação no plano da fantasia; imagem corporal permeada por sentimentos de inadequação,
inferioridade, descontentamento, baixa auto-estima e inibição. Segundo os autores, os
dados obtidos por meio dos desenhos serviram de subsídio para o direcionamento do aten-
dimento psicológico, visando à maior conscientização dos problemas emocionais
vivenciados, o que pode ter contribuído para a adesão dos sujeitos ao tratamento.
Almeida, Loureiro e Santos (2002) usaram o desenho da figura humana e uma entrevista
complementar para avaliar a auto-iÍnagem de 30 mulheres com obesidade mórbida e compará-
Ias com a auto-imagem de 30 mulheres não obesas. Como no estudo acima, a aplicação seguiu
o procedimento sugerido por Machover. A avaliação dos resultados foi feita quantitativamente,
a partir de itens cujos significados, segundo a literatura, estão mais associados à imagem cor-
poral, sendo 10 de aspectos gerais e IS de tamanho e propordonalidade da configuração glo-
bal e de partes específicas (como cabeça, olhos, ombros e outras) de cada desenho. A codificação
foi feita por quatro psicólogos, divididos em duas duplas. Cada protocolo foi avaliado de modo
independente por dois psicólogos. Em caso de discordância, um terceiro psicólogo, da outra
dupla, avaliou o item em questão. O nível de concordância entre avaliadores atingiu a média
de 0,83 no grupo de obesas e variou de 0,70 a 0,92 no grupo de não-obesas. A descrição do
perfil geral de cada grupo baseou-se na freqüência e na porcentagem dos índices predominan-
tes. A comparação entre os dois grupos utilizou o Teste +2 ou o Teste de intervalo de confiança
entre proporções, dependendo do número de Índices envolvido em cada item.
Os resultados mostraram que a produção da maioria dos itens não apresentou diferen-
ças significativas entre os dois grupos. Entretanto, os itens que apresentaram diferenças
significativas, segundo os autores, são os que se supõe sejam os mais relevantes quanto à
questão da imagem corporal: desenho realizado no 4° quadrante; cabeça grande ou muito
grande; olhos pequenos; tronco representado de forma distorcida; mãos grandes, muito
grandes ou omitidas; pernas longas e finas. Quanto às características gerais da produção,
foi observada maior freqüência no grupo de obesas: linhas finas; traçado de avanços e
recuos; desenhos localizados na parte superior da folha; linhas grossas; traços trêmulos;
desenhos localizados no 4° quadrante; ausência de temática específica. A forma como essas
-------,----- ----------------
- ~~~-~~ ------"--'-------~,.-.__r___ - ----"'"TO
mulheres representam braços, olhos e pernas sugerem falta de confiança na própria produ-
tividade e na manipulação do ambiente, e inadequação no contato com as pessoas.
No grupo de mulheres não-obesas destacaram-se sinais de agressividade, dependência
e de falta de controle em relação ao ambiente (tamanhos globais, olhos e nariz grandes),
tendência a se guiar mais pelos impulsos do que pela reflexão (pescoço grosso, de tamanho
médio ou curto) e confiança nas funções intelectuais e sociais (cabeça de tamanho médio).
De modo geral, tronco, tórax, peito e pernas foram representados de forma adequada, in-
dicando satisfação com a forma corporal e estabilidade com relação ao corpo. Segundo os
autores, as fontes dos sentimentos de inadequação evidenciados no desenho da figura hu-
mana quanto à imagem corporal das mulheres obesas podem ser de diversas naturezas, que
a análise adotada no estudo não permitiu identificar.
255
Estudo de validade com avaliação da auto-estima
Silva e Villemor-Amaral (2006) realizaram um estudo com o objetivo de evidenciar a
validade concorrente entre as categorias de indicadores de auto-estima do CAT-Ae do HTP.
Para tanto, foi calculada a correlação entre os indicadores de auto-estima dos dois instru-
mentos e também com os resultados no EMAE - Forma A, um instrumento de auto-relato
(Gobitta e Guzzo, 2004, citados em Silva e Villemor-Amaral). Do estudo participaram 32
crianças, com idades entre 7 e 10 anos, de ambos os sexos, freqüentando da 2a• à 4a• séries
do ensino fundamental de uma escola da rede pública do interior do Estado de São Paulo.
Apenas a fase acromática do HTP foi aplicada. Os dados mostraram correlação positiva e
moderada quanto à auto-estima entre o HTP e o CAT-A (0,575). Em relação ao EMAE, a
correlação com o CAT-A foi positiva e baixa (0,381), ao passo que com o HTP não foi
encontrada correlação significativa.
Embora as crianças da amostra em sua maioria tenham apresentado auto-estima eleva-
da nos três instrumentos, os resultados no EMAE mostram uma concentração de 93,8% da
amostra com auto-estima elevada, em oposição a 78,1% no CAT-Ae 87,5% no HTP. Segundo
as autoras, os dados demonstraram que os índices de correlação entre os instrumentos per-
mitiram encontrar evidência de validade para o CAT-Ae o HTP. As autoras concluem ainda
que as diferenças observadas entre os diferentes instrumentos podem decorrer do fato de o
HTP avaliar a auto-estima implícita e o EMAE, por apoiar-se mais nas funções cognitivas,
avaliar a auto-estima explícita. O CAT-Aavaliaria os dois tipos de auto-estima, por ser projetivo
mas também por se apoiar nas funções cognitivas, devido ao seu caráter verbal.
Estudos de identificação de abuso sexual
Segundo Deffenbaugh (2003), à medida que os testes projetivos se popularizaram, au-
mentou o número de estudos visando à identificação de elementos que permitissem a detecção
de problemas emocionais específicos. Essa tendência pode ser particularmente observada na
busca de indicadores de abuso sexual por meio do HTP e do desenho da figura humana.
A autora aponta alguns esforços nesse sentido. Já na década de 1940, Laura Bender,
que trabalhava com crianças vítimas de abuso sexual, identificou casas pintadas ou con-
tornadas em vermelho e chaminés e árvores fálicas como elementos bastante freqüentes
na produção dessas crianças. Esses dados foram confirmados posteriormente por Cohen e
Phelps, quarenta anos depois.
Deffenbaugh (2003) levanta váriascríticas ao uso dos desenhos, como as já conheci-
das alegações de subjetividade da interpretação e falta de fidedignidade e validade do ins-
trumento. Levanta também a hipótese de que a maior exposição das crianças à sexualida-
de, nos dias de hoje, coloque em dúvida a adequação de manuais escritos no passado.
Reconhece, porem que o RTP apresenta "benefícios logísticos". Primeiro, é um instrumen-
to que demanda pouco tempo de aplicação e é de baixo custo; pode ser reaplicado durante
o período de terapia, para avaliação do tratamento e, nesse sentido, consiste em "anota-
ções visuais" da evolução da criança. A autora concorda com Allan e Clark (1984), para
quem o RTP não deve ser usado apenas no início da relação paciente-terapeuta; como os
desenhos favorecem a expressão dos pensamentos e sentimentos da criança, o terapeuta
poderá usá-Ios para convidá-Ia a explorar partes de um desenho particular; no mesmo
sentido, as verbalizações da criança associadas à produção constituem uma valiosa fonte
de informações para o terapeuta. Para a autora, a principal vantagem do RTP é favorecer
uma relação de confiança com o terapeuta que lhe permitirá falar a respeito de seus proble-
mas de modo mais aberto. Boa parte das restrições de Deffenbaugh ao instrumento baseia-
se na pesquisa feita por Palmer e colaboradores (2000).
Palmer (2000) avaliou os desenhos do RTP de 47 crianças com histórico confirmado
de abuso sexual, arquivados no Newark Beth Israel Medical Center, em New]ersey, nos
Estados Unidos, com a produção de um grupo composto por crianças de duas igrejas locais,
além dos irmãos, sem histórico de abuso, das crianças do primeiro grupo. A avaliação foi
feita por meio de quatro escalas desenvolvidas por Van Rutton (1994, citado por Palmer e
colaboradores): SRC (preocupação com conceitos relevantes em termos sexuais); AR
(agressividade e hostilidade); WGA (retraimento e acessibilidade resguardada) e ADST (vi-
gilância quanto ao perigo, atitude de suspeita e falta de confiança). As escalas de Van Rutton
consistem em um conjunto de itens agrupados segundo o aspecto comum que avaliam.
Por exemplo, a escala SRC inclui itens como: ênfase no dormitório, cabelo enfatizado ou
elaborado, indefinição do sexo da figura, figura do sexo oposto ao da criança, pescoço
comprido. A escala AR contém itens como presença de dentes, ênfase no queixo, dedos
sem mãos, maior pressão na linha da boca. Embora reconheçam as limitações da pesquisa,
os autores, com base nos resultados obtidos, concluem que o RTP não contribui para o
processo de avaliação de abuso sexual e recomendam que não seja usado para identificar
ou confirmar a ocorrência dessa possibilidade. Os problemas meto do lógicos do estudo re-
conhecidos pelos autores são: falta de informações sobre variáveis culturais e raciais, nível
de escolaridade dos pais e treinamento artístico anterior; registros dos abusos sexuais de
qualidade irregular e sujeitos a viés; composição do grupo de controle sem avaliação ade-
quada da possibilidade de os irmãos incluídos terem, também eles, sido vítimas de abuso
sexual; a média das idades do grupo de comparação era 1 ano e meio inferior à média do
grupo clínico; a amplitude de idades no grupo vitimizado era de 4 anos e 6 meses a 17
anos e 5 meses, enquanto no grupo de comparação a amplitude era de 5 anos e 2 meses a
13 anos e 9 meses; além das questões da idade, não houve controle adequado das variáveis
gênero e nível social. Em nenhum momento os autores levam em conta o fato de o HTP ter
sido aplicado de forma coletiva nas crianças, nas próprias igrejas. Em uma sala de aula,
foram fornecidas quatro folhas de papel às crianças, após uma breve apresentação infor-
mando que a pesquisa visava a compreender melhor os desenhos de casa, árvore e pessoa
das crianças. Não há dados sobre como os desenhos foram solicitados. Não há como asse-
gurar que a motivação dessas crianças para desenhar e o envolvimento emocional com a
tarefa tenham sido os mesmos do grupo clínico, submetido a aplicações individuais em
256 - - -, -, , ,- - ". - _ ... '-1,.-... PSICOLÓGICA
um contexto de investigação mais amplo. Não nos deteremos mais nessa pesquisa, mas
ela é um bom exemplo de como muitas vezes as conclusões de estudos com graves falhas
metodológicas passam a ser citadas como evidências favoráveis ou desfavoráveis a um
instrumento, sem levar em conta as limitações ou inadequações desses estudos.
Briggs e Lehman (1989) demonstram como os desenhos são importantes para o diagnós-
tico de ocorrência de abuso sexual. Em seu artigo, as autoras apresentam dois casos: um em
que havia a certeza de abuso sexual - uma menina de cerca de 4 anos relatou à mãe que um
homem a havia tocado nos genitaisj no outro caso, a suspeita foi levantada pela professora
de uma menina de 5 anos, assustada com a quantidade de símbolos fálicos que a garota
apresentava em seus desenhos, e com a impressão que eles lhe transmitiam de que" algo não
estava bem". A análise isolada de partes dos desenhos pouco esclarece, mas a produção das
duas meninas mostra claramente um alto grau de ansiedade e sentimento de desamparo
frente a um ambiente ameaçador. Destaca-se a pobreza de detalhes das representações de si
quando comparadas às de outras figuras desenhadas por essas crianças.
Após o incidente, a primeira menina passou a se desenhar sem braços e com alinha do
solo. Seis meses após o ocorrido, e antes de ser levada a uma psicóloga, ela desenhou "o
homem que eu não gosto" com braços largos e grandes e traços como dedos, além de fazer
um pequeno traço na região genital. As cores predominantes são roxo, vermelho e preto.
Segundo as autoras, seus desenhos mostram que ela passava por grande sofrimento emocio-
nal. Após a primeira sessão de terapia, a garota desenhou a si e à terapeuta. Embora a terapeuta
seja desenhada com mais detalhes, as duas figuras têm dois braços e não há linha do solo.
Abaixo, um desenho em que a criança se apresenta na banheira, cercada por "uma aranha,
uma cobra, uma minhoca e uma abelha", realizado antes da intervenção terapêutica (Briggs
e Lehman, 1989, p. 138).
257
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A segunda criança de fato estava sofrendo abuso sexual por parte de seu irmão e possi-
velmente da mãe - que tinha histórico de abuso sexual em relação ao filho mais velho.
Como apontam as autoras, os desenhos dessa menina, além dos formatos fálicos, apre-
sentavam auto-retratos sem feições e sem braços; ao desenhar a família na casa, o irmão
foi representado com um "terceiro membro", próximo à virilha, que mais se assemelha a
um pênis ereto. Abaixo, O desenho da casa. O contorno foi feito pela professora. As duas
figuras superiores são respectivamente o irmão e a mãe; a criança se representa ao lado da
porta, apoiada na linha do solo. (Briggs e Lehman, 1989, p. 146)
ATUALIZAÇÕES EM MéTODOS PROJETIVOS PARA AVAl.IAÇÃO PSICOLÓGICA258
A comparação de elementos isolados dos desenhos provavelmente não seria conclu-
siva. Mas o tom emocional geral dessas produções permite identificar claramente o am-
biente percebido como altamente ameaçador. Associados aos relatos verbais que provo-
caram e aos dados de observação do comportamento dessas crianças em diferentes
ambientes, os desenhos contribuíram decisivamente para a identificação da natureza da
agressão sofrida por elas.
Apenas como ilustração da força dramática da expressão gráfica, é mostrado a seguir o
desenho de uma menina de 13 anos estuprada repetidamente; o desenho encontra-se dis-
ponível em http://www.amnestyusa.org/child_soldiers/pages.
Gomes (s.d.) apresenta parte dos resultados de um estudo sobre a formação do sintoma
na criança, que envolve o atendimento dos pais. Como parte do procedimento, é feito o
psicodiagnóstico -da criança, com base nos modelos de Ocampo e Trinca, usando o HTP e, no
caso de crianças menores, também a hora lúdica. Após o psicodiagnóstico, é propostoo
atendimento dos casais em 8 sessões de psicoterapia breve com enfoque psicanalítico. Após
o encerramento da intervenção terapêutica, as crianças são reavaliadas.
O estudo mostra 6 casos e demonstra a utilidade do HTP nesse contexto. Segundo a
autora, o instrumento permitiu identificar os recursos egóicos presentes e traços da persona-
lidade das crianças. As árvores mostraram-se adequadas às faixas etárias dos sujeitos; as casas
revelaram mais claramente as dificuldades da dinâmica conjugal ou familiar, o que funda-
mentou o deslocamento do foco do atendimento, das crianças para os pais; as figuras huma-
nas permitiram observar a construção da identidade, o contato interpessoal e dados referen-
tes à autonomia e à independência. Os desenhos no reteste evidenciaram a evolução das
crianças: mostraram-se mais elaborados e com uso de cores mais adequado; revelaram que as
crianças estavam mais seguras e aliviadas do peso das questões familiares, mais abertas a
interesses compatíveis com a idade, mais independentes e desenvolVidas socialmente, com
remissão das queixas de conduta iniciais. Para a autora, "o uso de algumas técnicas projetivas
permite ao clínico maior clareza na atribuição das hipóteses diagnósticas e, conseqüente-
mente, na escolha do melhor tipo de intervenção terapêutica para o caso"(p. 10).
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Avaliação de intervenção
259
L
Um estudo emblemático
Meyer, Brown e Levine (1955) realizaram um estudo com pacientes internados no Mount
Sinai Hospital, na cidade de NovSlYork, para a realização de cirurgias invasivas e mutiladoras.
Retomarei aqui este estudo, apesar de ter sido realizado há mais de 30 anos, por considerá-
10 um exemplo de pesquisa adequada às técnicas projetivas gráficas sob vários aspectos:
- A coleta de dados se deu em um contexto real de prática clínica.
- O teste foi aplicado em sessões individuais.
- Há dados objetivos sobre a situação de vida atual dos participantes.
- Há dados de anamnese e de entrevista psiquiátrica realizadas com os participantes.
- Os desenhos foram feitos em duas situações distintas, antes e após os procedimentos
cirúrgicos.
- As interpretações procuram apreender o sentido global de cada produção, sem deixar
de mencionar detalhes relevantes em termos de significado.
- As interpretações são articuladas com os dados do histórico de cada paciente e com
uma teoria, no caso, a psicanálise.
Além disso, o próprio estudo teve origem em uma situação prática, na qual os dados
obtidos por meio da anamnese e da entreVista psiquiátrica mostraram-se insuficientes para a
compreensão mais profunda das Vivências em situação de crise dos pacientes e dos recursos
que eles mobilizam para suportá-Ias. Essa insuficiência foi observada a partir de um caso
concreto de mastectomia.
A paciente, de S4 anos, informou ter tido uma vida normal e feliz, exceto pela
perda de um filho de dez anos de idade, há nove anos. Relatou ter sofrido muito na
ocasião da perda, mas afirmou ter conseguido superar a tragédia. A conclusão a partir
desses e de outros dados foi a de que a paciente poderia sofrer um período de depressão
leve após a cirurgia, sem outras conseqüências psicológicas preocupantes, o que de fato
aconteceu. Porém, no terceiro dia após a operação, a paciente relatou um sonho em
que via o filho morto correndo. Ela procurava alcançá-Ia, com os braços abertos, mas
ele sempre escapava. O médico perguntou-lhe em que direção o menino corria, ao que
a paciente respondeu, sem hesitar: "Para a esquerda, doutor, sempre para a esquerda".
A mama esquerda fora removida.
A equipe de atendimento considerou que o sonho indicava a associação da perda da
mama com a perda do filho, uma atitude inconsciente em relação à cirurgia que não fora
identifica da nas entrevistas. Ponderou-se que o uso de uma técnica projetiva contribuiria
com dados sobre as atitudes inconscientes em relação a mudanças corporais provocadas por
intervenções cirúrgicas. Um projeto conjunto usando o HTP e a avaliação psiquiátrica foi
então desenvolvido, tema do artigo aqui referido.
Dos 22 pacientes que seriam submetidos a procedimentos invasivos e/ou mutiladores,
9 realizaram apenas a primeira série de desenhos, por diferentes motivos, e 5 se recusaram
a fazer o teste. A forma aplicada foi simplificada: os pacientes recebiam lápis grafite n° 2 e
lápis de cor comuns; era-Ihes solicitado que desenhassem uma casa, uma árvore e uma
figura humana de cada sexo, usando os lápis que quisessem.
A interpretação dos desenhos baseou-se na apreensão global dos desenhos e os detalhes
relevantes, de modo geral atípicos, foram examinados no contexto da apreensão global.
Inicialmente foi feita uma análise cega por psicólogos que desconheciam o histórico clínico
dos casos. Essas análises mostraram-se bastante precisas, não só em termos de aspectos
psicológicos como também quanto à natureza da doença física e do tratamento cirúrgico.
As conclusões finais levaram em conta a interpretação do desenho articulada com os da-
dos do histórico de cada paciente.
Um dado que chamou a atenção foi a grande diferença na qualidade das produções pré-
operatórias e pós-operatórias, a ponto de se cogitar se teriam sido feitas pelo mesmo indivíduo,
uma diferença, segundo os autores, comparável à que se observa na produção de indivíduos
submetidos a anos de terapia psicanalítica.
A presença de regressão pré-operatória foi marcante, com várias produções com caracte-
rísticas de deterioração esquizofrênica. Nesse sentido, destacam-se uma casa com braços e
pernas, uma figura humana semelhante a um sapo e outra com dois narizes, além de uma
representação de perfil com as feições vistas de frente, entre outras. Houve casos em que a cor
foi usada de modo irrealista, como uma árvore com folhas cor-de-rosa. Quanto ao conteúdo,
ocorreram desenhos de crianças como figuras humanas, brotos em lugar de árvores formadas
e casas semelhantes a caixas. Outros exemplos de regressão foram identificados em desenhos
que procuravam ocupar o mínimo espaço possível e uma instância de lábios protraídos com
ênfase na oralidade.
Esses pacientes não apresentaram nenhum indício de desorganização na entrevista psi-
quiátrica. A qualidade da produção no pós-operatório dependeu do resultado da cirurgia. Os
pacientes submetidos a mutilações visíveis apresentaram os mesmos elementos defensivos
observados na produção anterior à intervenção. No caso de pacientes cuja cirurgia não resul-
tou em mutilações visíveis ou apenas mínimas, a produção pós-cirúrgica foi sensivelmente
melhor. As cores se mostraram compatíveis com a realidade, desenhos monocromáticos
foram substituídos por desenhos coloridos, as figuras infantis foram trocadas por figuras
adultas} inclusive os brotos por árvores maduras, e as casas se mostraram mais receptivas e
260 ATUAlIZAÇÕ:=S 2M MÉTODOS PROIET1VOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
abertas para o entorno; a representação da casa com braços e pernas foi substituída por um
desenho compatível com a realidade e a boca com ênfase na oralidade foi modificada. O
tom emocional dos desenhos também apresentou sensível melhora.
Para os autores, a regressão é comum em pessoas doentes. Esses aspectos encontra-
dos em vários pacientes e que desapareceram após a cirurgia, seriam manifestações da
intensa ansiedade dessas pessoas diante não só do procedimento cirúrgico em si, como
também da mutilação decorrente e da possibilidade da morte. Comparando os dados
observados nessa amostra de pacientes que passavam por momentos agudos da doença
com as observações de Levine e Brown, mencionados pelos autores, em relação a aspec-
tos regressivos em doentes crônicos, os autores observaram que o grau de ansiedade e o
sentimento de catástrofe iminente são bem mais acentuados no grupo agudo. Os autores
destacam ainda que o grau de regressão observado nos desenhos superou em muito o
observado nas entrevistas clínicas.
Duas exceções à melhoria nos desenhos pós-cirúrgicos foram observadas. Uma foi uma
paciente de 45 anos com longo histórico de cirurgias retaise anais, desde aproximadamen-
te 15 anos de idade. Muitas vezes a paciente introduzia o dedo indicador no ânus para
facilitar a passagem das fezes. Era gaga desde os 7 anos de idade e apresentou enurese
noturna até os 17 anos. Os autores identificaram uma grande semelhança entre seus dese-
nhos da figura humana e a figura de João Felpudo (Struwwelpeter), o personagem de um
conto infantil alemão, conforme mostra a ilustração abaixo (extraída de Meyer, Brown e
Levine, 1955, p. 444) .
.L..
TÉCNICAS GRÁFICAS 261
, Ilustração de João Felpudo e tradução dos versos disponíveis em http://www.angela-lago.com.br/lHoffmann.html
Outra produção que não apresentou diferenças significativas foi a de uma paciente com
recursos intelectuais limítrofes que finalmente se dispusera a remover um cisto do escalpo. O
cisto tinha o tamanho de urna bola de beisebol e estava presente há 25 anos. Na fase pré-
cirúrgica todos os desenhos - casa, árvore e pessoa - tinham urna "bola" que se projetava das
extremidades superiores. Após a remoção do cisto, as protuberâncias ainda apareceram nos
desenhos, como se ele tivesse sido "integrado" à imagem corporal da paciente. Os desenhos
da paciente anteriores à cirurgia são mostrados abaixo (extraído de Meyer, Brown e Levine,
1955, p. 441).
Olha pra ele! Olha sól
Cabelo e mãos de dar dó.
As unhas nunca cortou,
cor de carvão, um horror!
Água? Nunca! 6 fedor!
E cada dia é pior!
Qualquer coisa é melhor
que esse João Catimbó.
(tradução de Angela-Lago)l
ATUALIZAÇÕES EM MÉTODOS PROJETIVOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA262
Este último também foi o único caso em que a doença somática foi expressa diretamente
no desenho. Nos outros pacientes, as alusões apresentaram caráter simbólico e tenderam a
desaparecer ou se modificar após a cirurgia: um homem portador de câncer retal pintou de
vermelho os degraus que conduzem à casa; uma mulher com suspeita de câncer de mama
desenhou a casa perfeitamente simétrica, exceto por uma janela representada apenas pelo
contorno, dando a impressão de vazio, desenhada no mesmo lado da mama afetada. Já um
paciente que seria submetido a hemipelvectomia, decorrente de sarcoma na virilha, omitiu a
parte inferior da figura humana, o que foi identificado pelos autores como um processo de
negação; no desenho da árvore, uma linha inclinada bizarra corta o tronco; no pós-operató-
rio, o corpo da figura humana é omitido abaixo da linha do pescoço; após 3 meses, as duas
pernas aparecem no desenho, embora a perna esquerda (correspondente ao membro ampu-
tado), tenha o pé mutilado. Outra paciente, com suspeita de câncer de mama, desenhou urna
casa perfeitamente simétrica, exceto pela ausência da parede esquerda; a figura humana foi
CONSIDERAÇÕES FINAIS
desenhada como uma menina de sete anos, com o pé esquerdo deformado. Na cirurgia foi
constatado que se tratava de um tumor benigno e a mama foi preservada. A casa desenha-
da após a cirurgia é perfeitamente simétrica e íntegra, e a figura humana é uma adolescente
com os seios bem representados.
Os três últÜnos casos citados, assim como o sonho da paciente que deu origem ao
projeto, apresentam correspondência entre lateralidade anatômica e lateralidade da repre-
sentação simbólica da parte do corpo afetada. Esse dado reforça o caráter de auto-retrato
dos desenhos.
Ainda segundo os autores, no grupo de pacientes estudados, as mudanças mais dramáti-
cas foram observadas nos desenhos da casa. Isso pode ser explicado por dois motivos: primei-
ro, a correspondência entre casa e si-mesmo é menos óbvia, uma vez que, dos três temas
solicitados, apenas a casa não é um organismo vivo, o que mobilizaria menos defesas; segun-
do, a casa pode ser também a representação de um lugar seguro, associado às noções de lar ou
figura materna, o que lhe confere alto valor emocional em uma situação de caráter tão amea-
çador como aquela em que os pacientes se encontravam. Por outro lado, foi possível diferen-
ciar aspectos mais estáveis da personalidade e conteúdos mais diretamente associados ao
momento de crise.
Na prática clínica, os desenhos, como já mencionado várias vezes nos capítulos sobre
técnicas projetivas gráficas, não devem ser vistos como mera somatória de sinais ou caracte-
rísticas de produção que se prestam, ou não, a exercícios matemáticos. Se, por um lado, a
identificação de características próprias de grupos clínicos específicos contribui com dados
importantes para a compreensão .da dinâmica ou da patologia subjacente, por outro nada
dizem sobre as especificidades dos casos, como fica claro nos estudos baseados em itens
isolados. Eventos como abuso sexual, possibilidade de mutilação ou presença de doença nos
genitais não "cria" características específicas; eles terão impacto na personalidade única so-
bre a qual se abatem, que mobilizará, à sua maneira, os recursos possíveis para enfrentar o
trauma ou a ameaça. Essa configuração singular de forças escapa completamente aos índices
numéricos, aos itens isolados ou às categorias amplas e abstratas. Quem espera a elaboração
de escalas de itens isolados que resultem em um valor numérico e assegurem o diagnóstico
certamente se frustrará. Apenas a consideração da produção gráfica como um todo e na sua
singularidade poderá revelar de modo dramático as conseqüências desses eventos sobre a
personalidade global.
Os desenhos podem expressar o sofrimento com uma intensidade que excede o que as
palavras, e muito menos os números, podem dar conta. Para o cliente, a expressão gráfica
favorece a elaboração dos conflitos ou, pelo menos, a maior conscientização dos conteúdos
dolorosos e estimula verbalizações associadas. Para o clíIlÍco, eles permitem aproximar-se do
mundo interno dessas pessoas, de suas ansiedades e principais temores, assim como dos re-
cursos de que dispõem para suportá-Ios, a fim de fornecer-lhes o apoio e o acolhimento de
que necessitam - o que nem sempre é explicitado nas entrevistas. Porém, esses dados não se
dão a conhecer em termos absolutos. Cabe ao profissional usar a experiência e o lastro pes-
soal para relacioná-Ios em articulações mais complexas, de acordo com o método clínico. A
utilidade das técnicas projetivas gráficas, quando subordinadas ao método clínico, é inesti-
mável para o profissional que trabalha com as questões da vida real daqueles a quem atende.
263TÉCNICAS GRÁFICAS
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