Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TERAPÊUTICA ANTINEOPLÁSICA AULA TERAPÊUTICA VETERINÁRIA TERMOS UTILIZADOS EM ONCOLOGIA As neoplasias são massas anormais de tecidos cujo crescimento excede e não está coordenado ao crescimento dos tecidos normais e que persiste mesmo cessada a causa que a provocou. Podem ser benignas, com baixa taxa de mitose, localizada e dificilmente põe em risco a vida do paciente; enquanto outras são classificadas como malignas por apresentarem poder invasivo e ou de capacidade de produzir metástases. O termo câncer somente é aplicado a este último tipo de neoplasia. A nomenclatura e o critério de classificação das neoplasias são realizados de várias maneiras: Segundo seu comportamento clínico – benigno ou maligno Segundo o seu aspecto microscópico/origem – histomorfológico/histogenético. Sufixo “oma” – neoplasia benigna; “carcinoma” neoplasia maligna de origem epitelial; “sarcoma” neoplasia maligna de origem mesenquimal (tecido muscular, linfoides ou tecido conjuntivo) A leucemia é um tumor derivado de células-tronco hematopoiéticas. Composição do nome da neoplasia - tecido de origem+sufixo: neoplasias benignas – leiomioma, adenoma, lipoma, hemangioma, papiloma; neoplasias malignas: leiomiossarcoma, adenocarcinoma, lipossarcoma, hemangiossarcoma, carcinoma. CARCINOGÊNESE - ORIGEM DA NEOPLASIA Uma célula normal se torna cancerosa em decorrência de uma ou mais mutações em seu ácido desoxirribonucleico (DNA), que pode ser adquirida ou herdade (um gene herdado que sofreu mutação ou defeito e que predispõe ao câncer), por exemplo, gene de supressão tumoral BRCA1 e BRCA2 que predispõe ao câncer de mama em mulheres). A carcinogênese é um processo complexo, de múltiplos estágios, em geral, envolvendo mais de uma mudança genética. Há duas categorias principais de mudanças genéticas: Ativação de proto-oncogenes a oncogenes – proto-oncogenes são genes que normalmente controlam a divisão, apoptose e diferenciação celular, mas que podem se converter em oncogenes que induzem mudanças malignas por ação viral ou carcinogênica. Inativação de genes de supressão tumoral – as células normais contêm genes capazes de suprimir mudanças malignas (antioncogenes – p53, Rb1, inibidores cdk, BRCA1, BRCA2). CARCINOGÊNSE X IMUNIDADE EVIDENCIAS DO CARÁTER IMUNOGÊNICO DAS NEOPLASIAS Várias são as evidências de que a presença de células neoplásicas no tecido tem caráter imunogênico: Na análise de histológica de tecidos afetados é comum se observar um grande número de infiltrado de células mononucleares, compostas por linfócitos T, NK, e também macrófagos. Ocorrência de um aumento de volume dos linfonodos drenantes do local da neoformação, devido ao aumento na proliferação de linfócitos; Maior índice de cânceres em indivíduos submetidos às terapias imunossupressoras prolongadas (transplantados e doentes autoimunes). CARCINOGÊNESE - ORIGEM DA NEOPLASIA RESPOSTA IMUNOLÓGICA CONTRA NEOPLASIAS Em razão das frequentes mutações de seu DNA ou pela presença de vírus oncogênicos, as células neoplásicas passam a sintetizar proteínas alteradas, que anteriormente não eram produzidas, podendo ser, desta forma, reconhecidas pelo sistema imune como não próprias, principalmente no contexto do MHC-I, o qual induz a resposta celular mediada pelos linfócitos T CD8+. Também vale ressaltar que alterações mutagênicas no prórpio MHC-I ou na sua não expressão na membrana da célula tumoral a tornam alvo de linfócitos NK. A produção anormal de lipídios e carboidratos por células neoplásicas faz com que os linfócitos B produzam anticorpos específicos para estas moléculas, que podem auxiliar na ativação de macrófagos, para ação efetora fagocítica e produção de citocinas, como TNF, e ativação do sistema complemento. Ainda, a presença de antígenos tumorais pode ativar células T helper a produzirem citocinas como IL-2 e IL-12, importantes para a resposta celular contra as células cancerosas, e ainda INF-gama, que induz o aumento da expressão do MHC-I das células neoplásicas, tornando-as assim fáceis de serem reconhecidas pelas células do sistema imune. PRINCIPAL QUESTÃO Mas como explicar o fato de o sistema imune ser incapaz de evitar a morte decorrente do câncer de indivíduos imunocompetentes? Uma das explicações está relacionada com a agressividade de determinados cânceres, pois os componentes celulares e moleculares do sistema imune não são suficientemente eficazes na destruição destas células, frente ao rápido e intenso crescimento de massa tumoral. A outra explicação está diretamente relacionada com os mecanismos de escape que algumas células neoplásicas adquiriram: 1. Muitas células neoplásicas, ao terem seus epítopos de superfície ligados a anticorpos anticélula neoplásica, endocitam estes epítopos juntamente com os anticorpos a eles ligados, para que não seja ativado o sistema complemento nem ocorra ativação de células fagocíticas, principalmente os macrófagos. 2. 2. A seleção das células neoplásicas pela própria ação do sistema imune promove a eliminação daquelas células que apresentam peptídios anormais no contexto do MHC-I. Por outro lado, este mesmo mecanismo pode favorecer o crescimento de células que com MHC-I não imunogênico. Assim, se células neoplásicas não apresentarem peptídios anormais, estas podem se perpetuar e proliferar no organismo. PRINCIPAL QUESTÃO 3. Muitas células neoplásicas não expressam ou expressam muito pouco MHC-I em sua superfície, dificultando, assim, o seu reconhecimento antigênico por linfócitos TCD8+. Ainda, mesmo se ocorrer a apresentação antigênica via MHC-I e linfócito TCD8+, a resposta pode ser ineficaz, pois muitas células neoplásicas podem não expressar MHC-II; logo, estas não propiciariam a ativação de linfócitos T helper. Ainda, pode ocorrer de as APC não conseguirem se infiltrar na massa neoplásica para então procederem à apresentação de antígenos tumorais aos linfócitos T helper, tornando desta maneira, ineficaz a ação dos linfócitos TCD*+, já que estes necessitam de citocinas produzidas pelos T helper para potencializarem seu efeito citotóxico. 4. Existem várias linhagens de células neoplásicas que produzem citocinas ditas imunossupressoras: TGF-β, as quais suprimem tanto a ativação de linfócitos quanto a ação efetora de macrófagos e também, produção de citocinas IL-10 que é reconhecidamente supressora da resposta imune celular e das funções dos macrófagos. 5. Pode ocorrer falha na indução da morte por apoptose de células neoplásicas. Neste sentido, muitas células neoplásicas, mesmo após receberem o estímulo para ativar a cascata das caspases e desencadear o processo apoptótico (por exemplo quando ocorre a ligação do TNF-α ao seu receptor), não o fazem, pois podem ativar a expressão de genes antiapóptóticos, como o bcl-2, presente em alguns linfomas, entre outros mecanismos antiapoptóticos. CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS NEOPLÁSICAS Proliferação descontrolada Resistência à apoptose (morte celular programada) Expressão da telomerase (telômeros são estruturas especializadas que recobrem os terminais dos cromossomos que o protegem da degradação – telomerase é uma enzima que mantém e estabiliza os telômeros conferindo longevidade à célula cancerosa). Angiogênese direcionada ao tumor (formação de novos vasos que no caso de tumores ocorrem em resposta a fatores de crescimento produzidos pelo tumor em evolução). Invasividade – que acaba comprometendo outros tecidos e órgãos Capacidade de causar metástase – produção de neoplasias secundárias em outros locais. DIAGNÓSTICO DA NEOPLASIA DIAGNÓSTICO DA NEOPLASIA Diagnóstico da neoplasia é feito a partir dos seguintes exames: Citologia: geralmente é o primeiro exame a ser realizado para identificação do processo neoplásico pela facilidade, custo e rapidez do procedimento. Esse exame é eficaz para diagnóstico de massas na pele, e subcutâneo, assim como massas em órgãos internos ou tecidos (linfonodos,fígado, baço, rins, próstata, tireóide, pulmão, etc.) Nesses casos seria necessário o uso de ultrassom para guiar a agulha com mais segurança ao local da punção. Pode ser que esse exame não seja conclusivo, necessitando de biópsia. Citologia pode ser feita por citologia aspirativa com agulha fina (CAAF), ou por imprint ou decalque de tecido, ou esfregaços ou exsudatos, e por centrifugação de fluidos corporais. Biópsia – avaliação histológica é necessária quando a citologia não é conclusiva. Dependendo da localização e do tamanho da massa, a obtenção do fragmento para pesquisa pode ser obtida por agulha, punch, ou cirurgicamente pela remoção de um fragmento ou da massa inteira. DIAGNÓSTICO DA NEOPLASIA Diagnóstico por imagem – neoplasias malignas requerem avaliação mais extensa para detecção de possíveis metástases ou de grau de grau de invasividade. Radiografia e ultrassom podem ser necessários para metástases pulmonares, e abdominais para detectar massas em órgãos ou na cavidade abdominal. Principais locais de metástases dependendo do foco original da neoplasia Foco original Metástase Mama Pulmões e ossos Pele Linfonodos regionais Boca Linfonodos regionais e tórax Períoneo Linfonodos abdominais Ossos Pulmões e outros ossos DIAGNÓSTICO DA NEOPLASIA Exames laboratoriais e complementares: necessários para a avaliação da condição do paciente antes, durante e depois da quimioterapia, por meio de hemograma, análises bioquímicas, urinálise, eletrocardiograma, endoscopia, etc. Exame clínico: bastante criterioso, por tratar-se de um paciente com grande risco de morte, dependendo do tipo da neoplasia. Fazer o exame físico completo, além de ser de suma importância uma análise detalhada da massa ou nódulo, registrando o tamanho e o formato dos tumores, se há aderência ou não a outros planos e comprometimento de estruturas vizinhas. Observar também se não há concomitantemente inflamação, infecção, ulceração e necrose. Os linfonodos regionais devem ser obrigatoriamente investigados, com relação ao tamanho, ou à presença de aderências, o paciente também pode ser avaliado de acordo com o esquema de desempenho de Karnovsky modificado para cães e gatos. Esquema de Karnovsky modificado para cães e gatos Grau Características clínicas 0 - Normal Atividade normal, completamente ativo, mesmo desempenho do que antes da doença. 1- Restrito Certa restrição de atividade, porém hábil para desempenhar a maioria das funções que tinha antes da doença. 2 - Comprometido Atividade gravemente restrita, caminha somente para o local onde se alimenta e ou dorme, defeca e urina em áreas aceitáveis ou ainda tem controle sobre essa situação. 3 - Incapaz Completamente incapaz, somente se alimenta com ajuda, perda de controle da micção e defecação. 4 - Terminal Moribundo, não responde a estímulos, morte iminente. ESTADIAMENTO TUMORAL Existe uma normativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que fornece um índice ou estadiamento para a extensão da doença neoplásica, que pode auxiliar na escolha da melhor opção de tratamento e prognóstico da doença. Designação é tumor/nódulo/metástase (TNM) + subclassificação A ou B, sendo: T – tamanho do tumor primário: 𝑇0 ausência de tumor, 𝑇𝑥 tumor primário impossível de ser acessado, 𝑇𝑖𝑠 carcinoma in situ, 𝑇𝑛 quanto maio o n, maior o tamanho do tumor, podendo n variar de 0-4. N – número e as características dos linfonodos locais ou regionais afetados:𝑁0 linfonodos normais em tamanho e textura,𝑁𝑥 linfonodos ausentes ou impossíveis de serem acessados,𝑁1 indica comprometimento dos linfonodos. M – presença ou não de metástase: 𝑀0 metástases não detectáveis, 𝑀𝑥 impossível detectar a presença de metástases,𝑀1 presença de metástases. A – ausência de sinais sistêmicos da doença. B – presença de sinais sistêmicos da doença. TERAPÊUTICA ANTINEOPLÁSICA VISÃO GERAL DA TERAPÊUTICA ANTINEOPLÁSICA Como muitas neoplasias malignas se deslocam do organismo por metástases, ou são disseminadas, as terapêuticas locais como cirurgias e radiação, possuem eficácia limitada. Nessas situações, a quimioterapia antineoplásica é particularmente adequada. O principal problema na terapia antineoplásica é a seletividade. Os tecidos normais originados de células lábeis, como as células da medula óssea, sistema linfoide e trato gastrointestinal são particularmente suscetíveis aos efeitos deletérios da quimioterapia. A terapêutica antineoplásica na Medicina Veterinária até a alguns anos se restringia principalmente à excisão cirúrgica. Nos últimos anos, a oncologia clínica, tanto no auxílio diagnóstico como na terapêutica progrediu sobremaneira, especialmente em cães e gatos, nos quais a pesquisa é maior. Diversos profissionais atualmente estão envolvidos no diagnóstico e tratamento do animal, como o clínico, o cirurgião, o radiologista, o patologista clínico e o enfermeiro, que deverão atuar em equipe conjuntamente com o animal e o proprietário. Várias modalidades de terapêuticas podem ser empregadas no tratamento da neoplasia, isoladas ou combinadas, com objetivo curativo ou paliativo. Dentre essas modalidades – cirurgia, radioterapia, imunoterapia, hipertermia, quimioterapia. VISÃO GERAL DA TERAPÊUTICA ANTINEOPLÁSICA Uso da quimioterapia precisa ser avaliada sob critérios – fatores ligados ao animal: tipo de neoplasia, tamanho, localização, número de linfonodos envolvidos, metástase, estado nutricional, idade, função renal, hepática, cardíaca.; fatores ligados ao tutor: disponibilidade de cuidados do paciente, condição financeira (terapias são caras); fatores associados aos medicamentos utilizados: via de administração, absorção, distribuição, eliminação e efeitos colaterais. Quando todos os fatores estiverem sido analisados, e o julgamento clínico for que o animal não pode ser curado, mas sim triado para um tratamento paliativo, a qualidade de vida desse paciente deve ser questionada e a possibilidade da eutanásia deve ser discutida com o tutor. O monitoramento do paciente antes, durante e após a terapêutica antineoplásica é de extrema importância, podendo ser crucial para o prosseguimento ou interrupção do tratamento. O monitoramento consiste em exames clínicos e complementares, como hemograma, bioquímico, citológico, radiológico, entre outros, periodicamente. Além disso, deve-se monitorizar se não houve o aparecimento de resistência aos antineoplásicos utilizados durante o tratamento. TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO TRATAMENTO DAS NEOPLASIAS Os medicamentos usados na quimioterapia, de maneira geral, interferem na síntese de DNA, RNA, ou na replicação celular, levando à cessação da divisão ou à morte celular. Infelizmente estes efeitos não se restringem às células neoplásica, a maior parte dos agentes antineoplásicos também atua sobre as células normais, principalmente aquelas que se dividem constantemente, tais como medula óssea, epitélios, gônadas, e folículos pilosos (naqueles animais que apresentam pelos com crescimento contínuo) – efeitos tóxicos característicos. Para a quimioterapia, as células que não estão em divisão têm menor importância, enquanto a fração de crescimento das células tumorais em muito influencia sua suscetibilidade à quimioterapia. Como a maior parte dos agentes antineoplásicos atua nas células que estão sintetizando ativamente o DNA, fica claro que um tumor que contenha 5% de todas as células em replicação crescerá mais lentamente, mas será refratário ao tratamento. Tumores agressivos que contêm grande proporção de células em divisão regridem rapidamente com a quimioterapia, podendo permanecer em remissão por longo período. TRATAMENTO DAS NEOPLASIAS Agentes antineoplásicos são aqueles que visam tratar as neoplasias sistêmicas, localizadas, as metástases e aliviar os sintomas das síndromes paraneoplásicas. Síndromes paraneoplásicas: muitas neoplasias, tanto benignas quanto malignas produzem determinadas substâncias, como, por exemplo, hormônios,ou induzem alterações sistêmicas diversas, que em conjunto são denominadas síndromes paraneoplásicas. Tradicionalmente, a cirurgia em suas diversas modalidades, a hipertermia, a criocirurgia e a radioterapia tem sido indicadas para o controle de cânceres localizados. Doenças neoplásicas localizadas e ou disseminadas podem ser tratadas por meio de terapias sistêmicas como: quimioterapia (no sentido de substância química para tratamento de neoplasias), imunoterapia, e terapias moleculares ou dirigidas a alvos específicos. CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS ALQUILANTES – MOSTARDAS NITROGENADAS Ciclofosfamida (mais usado), clorambucila, bussulfano, melfano, dacarbazina, carmustina, lomustina. São medicamentos que atuam independente da fase do ciclo celular (células em repouso ou em células em divisão ativa); com ação dirigida ao DNA não possuindo portanto ação seletiva sobre as células neoplásicas. Esses medicamentos previnem a replicação celular por interferência no DNA. A alquilação das proteínas e RNA pode ocorrer também inibindo a transcrição. Seu uso resulta em morte celular, mutagênese ou até mesmo em carcinogênese. Utilizados no tratamento de tumores dos tecidos linforreticulares, com atividade limitada em sarcomas e carcinomas. ALQUILANTES Ciclofosfamida – uso: Leucemias, tumor oral, carcinomas, linfoma maligno, mielomas múltiplos, tumores mamários e ovarianos, neuroblastoma, retinoblastoma, linfoma dérmico; efeito colateral supressão da medula óssea levando a leucopenia e trombocitopenia, cistite hemorrágica necrosante estéril (acroleína), associada à desenvolvimento de carcinoma de célula transicional da bexiga - Carcinogênica. Hematológica (Leucemia). Clorambucil – (pode ser usado como substituto da ciclofosfamida), usado em tratamento de leucemia linfocítica crônica e linfoma de células pequenas, bem como em distúrbios inflamatórios caracterizados por infiltração linfocítica nos cães e gatos; efeitos tóxicos supressão da medula óssea (leucopenia e trombocitopenia retardada), se doses elevadas pode causar necrose e atrofia cerebelar, raramente observa-se náusea, vômito, diarreia e pigmentação cutânea. Carmustina e lomustina - Neoplasias cerebrais, linfomas, mastocitomas, mielomas múltiplos, câncer de pulmão e trato gastrointestinal raramente são utilizadas por apresentam nefrotoxicidade, se utilizadas usa-se para tratar insulinomas em cães - Carcinogênica. Leucemia, Mielossupressão, neutropenia e trombocitopenia tardia, Sinais gastrointestinais, Hepatotóxico. ANTIMETABÓLICOS Antimetabólicos – metotrexato, 5-fluorouracila, Citarabina, mercaptopurina, tioguanina, gencitabina. São substâncias que possuem semelhanças estruturais com aquelas necessárias para o funcionamento fisiológico das células, sendo entretanto suficientemente diferentes para interferir na utilização de metabólitos essenciais, interferir nas funções do DNA e do RNA (com alteração na transcrição e tradução) ou bloqueando mecanismos de biossíntese. Atuam na fase S pela inibição competitiva da síntese de DNA. São análogos do ácido fólico, pirimidinas ou purinas e são ativos nas fases específicas – fases de síntese de DNA. ANTIMETABÓLICOS Metotrexato – análogo do ácido fólico; trata neoplasias linforreticulares e coriocarcinoma humano e linfoma veterinário; efeitos colaterais supressão da medula óssea e mucosite TGI, hepatotoxicidade, e nefrotoxicidade em doses elevadas. Citarabina – análogo pirimidínico, usado no tratamento de distúrbios linforreticulares e mieloproliferativos em cães e gatos particularmente quando o SNC está envolvido. Desenvolve depressão da medula óssea (leucopenia, trombocitopenia, anemia, megaloblastose). Fluoruracil – análogo pirimidínico; usado carcinoma cutâneo de células escamosas em cães e equinos, tumores do TGI em cães; é tóxico para a mucosa oral e GI, medula óssea (trombocitopenia e anemia), observa-se anorexia, náusea e vômito. ANTIMICROTÚBULOS OU ALCALOIDES DA VINCA Vincristina, vimblastina, paclitaxel. Interrompem a divisão celular na metáfase, interferindo nos microtúbulos que formam os fusos responsáveis pela mobilização dos cromossomos. Atuam durante a fase M, promovendo a ruptura do fuso mitótico. Levam à dissolução do fuso mitótico, sendo agentes específicos para atuarem na fase mitótica do ciclo celular. Toxicidade - alterações neurológicas, dérmicas, hematológicas e gastrointestinais. Vincristina – fármaco de escolha para o tratamento do tumor venéreo transmissível, usado em neoplasias linforreticulares, e combinado a outras drogas trata sarcomas de tecidos moles; neurotoxicidade, efeitos hematológicos moderados. Vimblastina - trata mastocitomas caninos não-extirpáveis; pode produzir leucopenia e neurotoxicidade. Paclitaxel – trata carcinomas de ovários e de mama refratários a fármacos; mielodepressão, gatos desenvolvem anorexia por dias após o tratamento. ANTIBIÓTICOS Antraciclinas (doxorrubicina), actinomicina D ou dactinomicina, mitoxantrona, bleomicina. Alguns antibióticos que sabidamente têm atuação como citocidas (morte celular) ou citostáticos (interferência no crescimento celular) para microrganismos podem fazer o mesmo como agentes antineoplásicos. Destroem o DNA celular e previnem a replicação. Bleomicina atua na fase G2. Doxorrubicina – possui atividade antitumoral contra uma ampla variedade de tumores, incluindo tumores sólidos; toxicoses – sinais associados à liberação de histamina, perda de peso, anorexia, diarreia, vômito, mielodepressão, hipoplasia de medula óssea, atrofia linfóide, alopecia, atrofia testicular, toxicose cardíaca (arritmias e cardiomiopatia). Dose padrão: cães que pesam mais de 10Kg é de 30mg/m² IV, a cada três semanas; cães com menos de 10Kg e gatos devem receber 1mg/Kg IV a intervalos de três semanas. HORMÔNIOS Prednisona/prednisolona. Diminuem o número de linfócitos circulantes pela supressão da mitose, e aumentam a quantidade de células vermelhas circulantes. Os hormônios podem produzir remissão de certas neoplasias, aliviando também as síndromes paraneoplásicas consequentes a elas. Os mais utilizados são os glicocorticoides para tratamento de neoplasias hematopoeticas, linfoides, e mastocitomas- Linfosarcomas, mastocitomas e leucemias. Apresentam citotoxicidade para as células neoplásicas, por mecanismos ainda pouco compreendidos - Carcinogênico. Mielossupressão. Prednisona – para tumores não-linfóides como os tumores cerebrais são paliativos por reduzirem a inflamação e a tumefação; nas neoplasias linforreticulares e possivelmente de tumores de mastócitos podem ser citotóxicos; toxicidade – ulceração gástrica, osteoporose e suscetibilidade aumentada à infecções; polidipsia e poliúria, polifagia e respiração ofegante excessiva são comuns em pacientes mantidos de forma crônica. OUTROS AGENTES L-asparaginase, Cisplatina (Fibrossarcoma, osteossarcoma, carcinomas primários e secundários de cabeça, pescoço, bexiga, próstata, carcinomas de cavidade oral e da derme, adenocarcinoma nasal etc – toxicidade: Nefrotóxica. Alterações renais, hematológicas e gastrointestinais); Carboplatina (Osteossarcoma, carcinoma de glândulas mamárias – toxicidade; Mielossupressão, toxicidade gastrointestinal, neuropatia periférica). Imunomoduladores – interferon, interleucinas (ambos imunoestilantes) e glicocorticoides, ciclosporina, azatioprina (imunossupressores) - uso de agentes que modificam a relação entre o hospedeiro e a neoplasia, com os resultantes efeitos terapêuticos – aumento da resposta ativa e interferência passiva na resposta do hospedeiro. BIOSSEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DOS QUIMIOTERÁPICOS Riscos na Manipulação de Quimioterápicos Produtos com potencial Genotóxico CarcinogênicoTeratogênicoTóxico sobre sistema reproduto Potencializados pela associação de medicamentos anti-neoplásicos 1- Alteração ciclo menstrual 2- Ocorrência de aborto 3- Malformações congênitas e danosao DNA 4- Infertilidade 5- Potencial mutagênico 6- Lesões hepáticas Exposição a agentes antineoplásicos Contaminação ambiental Vias respiratórias Contato direto com pele e mucosas Formação de aerosóis / Derramamentos / Gotículas Remoção das soluções dos frascos Abertura de ampolasTransferência de soluções Retirada de ar das seringas Fracionamento de comprimidos Sinais/Sintomas mais frequentes Intoxicação aguda (Exposição ocupacional) Cefaléia Náuseas Vômitos Irritação de pele e mucosa Reações alérgicas Alopécia. TERAPÊUTICA ADJUVANTE As neoplasias geralmente são tratadas com protocolos que combinam, além da quimioterapia, outras modalidades de terapêutica, com intuito da remissão total da doença. Procedimentos curativos: cirurgia, radioterapia, hipertermia, criocirurgia, fototerapia. Procedimentos paliativos: quimioterapia, imunoterapia. A combinação desses procedimentos confere maior chance de sucesso terapêutico na remissão da neoplasia e possíveis metástases. Cirurgia – mais usada tratar doenças neoplásicas localizadas, se maligno, excisado 2 a 3 cm além do tumor no tecido normal, se possível. A quimioterapia após a cirurgia é indicada para casos nos quais há metástases ou tumores com alta incidência de metastática, ou ainda para tratar outros focos sem possibilidade cirúrgica. Radioterapia – é utilizada para neoplasia localizada ou regional, ou como terapêutica paliativa em pacientes terminais. Em razão da radiação ser bastante efetiva para tumores de volume pequeno, pode ser utilizada em conjunto com cirurgia ou quimioterapia. Hipertermia – consiste na aplicação de altas temperaturas (42°C) diretamente no tumor por vários tipos de métodos. É eficaz em gatos com pequeno carcinoma superficial de células escamosas e em combinação com radioterapia no tratamento de fibrossarcomas e hemangiopericitomas em cães e gatos. TERAPÊUTICA ADJUVANTE Criocirurgia: baseia-se no congelamento local das células neoplásicas. É uma terapêutica bem sucedida no tratamento de neoplasias pequenas e superficiais em cães e gatos. Fototerapia ou terapia fotodinâmica: o paciente recebe um medicamento fotossensibilizante que é rapidamente eliminada pela maioria das células normais, mas retida perinuclearmente pela célula neoplásica. Depois, esse tumor é submetido à terapêutica com laser, que estimula as moléculas fotossensibilizadas, resultando em aumento de energia e morte das células. Imunoterapia: uso de agentes imunomoduladores que modificam a relação hospedeiro/neoplasia, com melhora do sistema de defesa. Interferon (interferon-α na dose de 20 U/Kg, VO) principalmente em felinos portadores de leucemia (vírus da leucemia felina); Bacilo Calmette-Guérin (BCG) e derivados como adjuvante da terapêutica de neoplasias mamárias de cadelas, tumor venéreo transmissível (TVT), carcinoma epidermoide ocular em bovinos e sarcoide em equinos; levamisol (2 a 15mg/Kg/dia, VO), endoparasiticida imunomodulador que inibe a angiogênese in vitro e o crescimento tumoral in vivo e já foi utilizado em neoplasias mamárias e carcinoma intranasal. SUPORTE NUTRICIONAL DE PACIENTES COM NEOPLASIAS: POTENCIAIS INDICAÇÕES História: perda de peso superior a 10% do peso corporal normal, inapetência ou anorexia por mais de 72h, terapêutica de fluido intravenoso por mais de 72h. Achados do exame físico: perda de tecido adiposo, atrofia de massa muscular, tamanho e força, letargia e fraqueza, condição corporal ruim, úlcera não curável, ferimento, articulação ou ossos dolorosos, linfadenopatia, organomegalia, membrana mucosa seca e pálida, tumores palpáveis. Resultados de testes laboratoriais: anemia, linfopenia, atividade energética hepática elevada, hiperglicemia/hipoglicemia, hipoproteinemia, hipoalbuminemia, hiperlipidemia, proteinúria, glicosúria, cetonúria, esteatorreia, sangue fecal oculto. O paciente deveria receber elementos nutricionais via oral sempre que possível. Quando a alimentação via oral não for possível, os tubos alimentares nasogástricos, gastrotomia, e jejunostomia são opções viáveis. Quando a alimentação pelo trato gastrointestinal não for possível, a alimentação parenteral é a prática alternativa. ALGUNS PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS LINFOMA INDUÇÃO DA REMISSÃO Ciclofosfamida –Vincristina - Prednisona Cães – 8 semanas Gatos 6-8 semanas Ciclofosfamida (Fosfaseron®): 50mg/𝑚2, VO, 4 dias por semana ou em dias alternados durante 8 semanas. 200 – 300 mg/𝑚2, VO, a cada 3 semanas. Vincristina (Oncovin®): 0,5mg/𝑚2, IV, 1 vez por semana, durante 8 semanas Prednisona (Meticorten®): 40 a 50 mg/𝑚2, VO, por dia na primeira semana, depois 20 a 25 mg/𝑚2, VO por dia nas 7 semanas restantes. MANUTENÇÃO Clorambucil (Leukeran®): 20mg/𝑚2, VO, em semanas alternadas Prednisona: 20 a 25 mg/𝑚2, VO, em dias alternados LINFOMA REINDUÇÃO DA REMISSÃO Primeira recidiva Ciclofosfamida –Vincristina – Citarabina - Prednisona Cães Gatos Citarabina (Aractyn CS®): 100mg/𝑚2, IV, dividido em duas vezes ao dia, somente durante 4 dias na primeira semana 100mg/𝑚2, IV, dividido em duas vezes ao dia, apenas por dois dias. Segunda recidiva Adriblastina –dacarbazina Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2 , IV, a cada 3 semanas Dacarbazina (Dacarb®): 1000 mg/𝑚2, IV, 1 vez a cada 3 semanas Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2, IV, a cada 3 semanas Dacarbazina (Dacarb®): 1000 mg/𝑚2, IV, 1 vez a cada 3 semanas TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL Vincristina Vincristina (Oncovin®): 0,5 - 0,7mg/𝑚2, IV, ou 0,0125 – 0,025 mg/Kg, IV, 1 vez por semana, durante 4 a 8 semanas. Doxorrubicina Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2, IV, 1 vez por semana, de 4 a 8 semanas, nos casos resistentes à vincristina. SARCOMA DE TECIDOS MOLES - CÃES ADIC Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2, IV, a cada 3 semanas Dacarbazina (Dacarb®): 1000 mg/𝑚2, IV, em infusão por 6 a 8h, 1 vez a cada 3 semanas Sulfa + Trimetoprima (Bactrim®): 15 mg/Kg, VO, duas vezes ao dia VAC – ciclo de 21 dias Vincristina (Oncovin®): 0,75mg/𝑚2, IV no 8º e no 15º dia Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2, IV, no 1° dia Ciclofosfamida (Fosfaseron®): 100mg/𝑚2, VO, no 1º dia Sulfa + Trimetoprima (Bactrim®): 15 mg/Kg, VO, duas vezes ao dia SARCOMA DE TECIDOS MOLES - GATOS VAC – ciclo de 21 dias Vincristina (Oncovin®): 0,5mg/𝑚2, IV no 8º, no 15º dia e no 22º dia Doxorrubicina (Adriblastina®): 30mg/𝑚2, IV, no 1° dia Ciclofosfamida (Genuxal®): 50mg/𝑚2, VO, no 15º dia ao 18° dia ou 200mg/𝑚2 no 15° dia Carboplatina Carboplatina (Carboplatina®): 200 – 240mg/𝑚2, IV a cada 3 semanas MiC – ciclo de 21 dias Mitoxantrona (Mitostate®): 4 a 6mg/𝑚2, IV, por gotejamento por mais de 4 h no dia 1. Ciclofosfamida (Fosfaseron®): 200 a 300mg/𝑚2, VO, no dia 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, S.F. Terapêutica antineoplásica. In: Manual de terapêutica veterinária. 3ed. São Paulo: Roca, 2018. p. 201 – 224. DAGLI, M.L.Z., LUCAS, S.R.R. Agentes antineoplásicos. In: SPINOSA, H.S., GÓRNIAK, S.L., BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 5ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2015. p 643-660. LAPPIN, M. R. Enfermidades infecciosas. In: LORENZ, M.,C.; CORNELIUS, L.,M.; FERGUSON, D.,C. Manual de terapêutica em pequenos animais. Buenos Aires: Intermedica. 1993. p. 399-418. PAPICH, MG; HEIT, M.C; RIVIERE, J.E. Fármacos antifúngicos e antivirais. In: ADAMS, H.R. Farmacologia e terapêutica em veterinária. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. p. 767-790.
Compartilhar