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1º/2020 INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS (Roteiro de Estudos) Direito Processual Civil (gênero) – Direito Processual Coletivo (espécie). O Processo Civil perpassou por três fases, basicamente: 1) IMANENTISTA (ou civilista/sincretista/privatista): Havia uma grande confusão metodológica entre direito material e direito processual, negando-se a existência autônoma deste último, o qual se encontrava imanente, ou seja, dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material. 2) CIENTÍFICA (ou autonomismo): desenvolveu-se, nesta fase, a teoria do processo como ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total independência em relação ao direito material. No entanto, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo, deixando de servir ao direito material, o que criou excesso de formalismos. 3) INSTRUMENTALISTA (ou do acesso à justiça, ou contemporânea): A fase instrumentista, surgida em meados de 1950 (especialmente pelas obras de Garth/EUA e Cappelletti/ITA) e vivida por nós até os dias atuais, vai além dos autonomistas e vê o processo como instrumento não só de realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça em tempo hábil e com o menor dispêndio possível. • Ondas renovatórias de alterações legislativas decorrentes da terceira fase: a) Tutela dos necessitados/hipossuficientes - facilitação do acesso à Justiça. b) Coletivização do processo – necessidade de tratamento especial para o processo que trata de direitos coletivos. ➢ Bens e direitos de titularidade indeterminada. ➢ Bens e direitos cuja tutela individual é inviável. ➢ Bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável. c) Efetividade do processo – foco nos resultados. Ex.: respeito aos precedentes. 1º/2020 PRINCIPAL INFLUÊNCIA DO ESTUDO DO PROCESSO COLETIVO NO BRASIL: modelo do “class action” norte americano. Tal modelo é voltado para a proteção integral do direito coletivo e tem como características: a) a legitimidade do indivíduo ou de um grupo de indivíduos, caracterizada pelo controle jurisdicional da “adequada representação”. b) vinculatividade da coisa julgada para toda a classe, quer beneficiando-‐a, quer prejudicando-a, no caso da improcedência da ação (no Brasil é um pouco diferente do modelo norte-americano puro, uma vez que a coisa julgada erga omnes ou ultra partes, nos termos do art. 103 do CDC, é secundum eventum litis, ou seja, só beneficia). c) adequada notificação para aderir à iniciativa aos indivíduos: visando proteger o “direito de colocar-se a salvo da coisa julgada” (right to opt out). Ou seja, se o membro da classe entender mais vantajoso fazer valer seu direito com uma ação individual, ele tem o direito de “sair” do grupo ou classe comunicando ao legitimado que não pretende ser representado na demanda coletiva. d) atribuição de amplos poderes ao juiz: o que distingue esse modelo do modelo tradicional de litígio (vinculado predominantemente a atividade das partes e a uma radical neutralidade judicial). O PROCESSO COLETIVO É O RAMO DO DIREITO PROCESSUAL QUE, ORDENADO POR PRINCÍPIOS E REGRAS ESPECÍFICOS, PROPORCIONA A TUTELA EM JUÍZO DE DIREITOS METAINDIVIDUAIS. Os direitos coletivos estão numa categoria intermediária aos interesses público e privado, tendo com base a ideia de “essencialidade social”. A perspectiva de tutela coletiva visa evitar decisões contraditórias e os meios mais adequados para tal, relacionando-se diretamente às noções de isonomia e economia processual. Conceito doutrinário: Processo coletivo é “aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo/, em que se postula um direito coletivo lato sensu ou se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva passiva/, com o fito de obter um provimento jurisdicional que atingirá uma coletividade, um grupo ou um determinado número de pessoas” (GIDI, Antônio apud DIDIER JR., 2008, p. 46). Do conceito é possível extrair 3 elementos, quais sejam: a) a legitimação para agir. b) a afirmação de uma situação jurídica coletiva: o direito coletivo lato sensu no polo ativo (ação coletiva ativa), ou dever ou estado de sujeição a este direito no polo passivo (ação coletiva passiva). c) a extensão subjetiva da coisa julgada. 1º/2020 FUNDAMENTOS DA AÇÃO COLETIVA Segundo Didier Júnior, as ações coletivas possuem duas justificativas: a) Fundamento sociológico: aumento das “demandas de massa”. Está ligado, portanto, ao princípio do acesso à justiça. b) Fundamento político: permitem a solução de diversos conflitos por meio de um só processo, reduzindo os custos, uniformizando os julgamentos e trazendo previsibilidade e segurança jurídica. Está ligado principalmente ao princípio da economia processual. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS OU METAINDIVIDUAIS – características de direitos de natureza massificada. - Direitos de terceira dimensão (ou geração); - “Onda renovatória” de acesso à justiça; - Inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5, inc. XXXV, CF/88). CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO a) Quanto ao sujeito: 1. Processo coletivo ATIVO: é o processo coletivo por excelência, em que a coletividade é autora, por meio de um legitimado coletivo. 2. Processo coletivo PASSIVO: é aquele em que a coletividade é ré. Seria a situação inusitada de a coletividade ser demandada como ré numa ação. Na doutrina, existem duas posições diametralmente opostas sobre ação coletiva passiva: ➢ 1ª corrente (DINAMARCO): não existe ação coletiva passiva, por ausência de previsão legal. O art. 5º LACP só trata dos legitimados ativos, enquanto não há essa previsão para a ação coletiva passiva. ➢ 2ª corrente (majoritária – GRINOVER, DIDIER): existe ação coletiva passiva, pois a prática tem demonstrado que há situações em que a coletividade deve ser acionada (Ex.: em caso de greve, a representação da coletividade passiva é do sindicato ou da associação). Ademais, a sua existência decorre de uma interpretação sistemática, dispensando previsão expressa: 1º/2020 - o art. 5º, §2º da Lei 7.347/85 (LACP) permite o ingresso do Poder Público e das associações como litisconsortes de “qualquer das partes”, o que abrange a passiva. - o art. 83 do CDC determina que para a defesa dos direitos coletivos são admissíveis todas as espécies de ações capazes a propiciar a adequada e efetiva tutela, o que inclui a ação rescisória proposta pelo réu da ação coletiva originária, os embargos à execução coletiva ou o mandado de segurança impetrado pelo réu da ação coletiva contra ato judicial. A maior dificuldade é identificar o representante da coletividade ré (deve ser analisada casuisticamente, devendo recair preferencialmente sobre sindicatos e associações de classe). b) Quanto ao objeto: 1. Comum: ação civil pública, ação popular, mandado de segurança coletivo, ação de improbidade administrativa, mandado de injunção coletivo e habeas data coletivo. 2. Especial: controle concentrado (em regra, controle abstrato) de constitucionalidade (ADI, ADC, ADPF, ADO). Justificativa: se o ordenamento jurídico está sendo tutelado, de forma reflexa também estão os direitos transindividuais. HISTÓRICO DO PROCESSO COLETIVO BRASILEIRO: I- Ação popular (Lei n. 4.717/1965). II- Política nacional do meio ambiente (Lei n.º 6.938/1981). III- Lei de ação civil pública (Lei n.º 7.343/1985). IV- Constituição Federal (art. 129, inc. III, 134, caput). V- Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/1990). PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO: 1. Atipicidade ou não-taxatividade. a) Dimensão material: art. 1º, IV, LACP – qualquer interesse difuso ou coletivo pode ser tutelado pelo processo coletivo, ainda que não regulado em lei. b) Dimensão processual: art. 83, CDC; art. 212, ECA; art. 82,E. Idoso - todas as espécies de ações capazes de proporcionar a adequada tutela coletiva são admitidas. 1º/2020 2. Primazia do mérito coletivo. Art. 4, CPC – o princípio da primazia do mérito previsto no CPC/2015 é decorrente de princípio anterior já presente no processo coletivo. A ideia é priorizar a análise do mérito, em detrimento de formalidades em excesso. Esse princípio também remete à instrumentalidade das formas e ao melhor aproveitamento dos atos processuais, oportunizando a correção de eventuais vícios no caso concreto. 3. Indisponibilidade da ação/execução coletiva. A tutela coletiva não pertence aos entes legitimados, mas à coletividade. O ente legitimado, portanto, não por dispor de um direito coletivo. Ex.: não é possível a extinção de uma ACP pela desistência da ação, situação em que outro legitimado irá atuar na ação coletiva, sendo tal atuação uma obrigação do Ministério Público. (5º, §3º, LACP) Atenção: essa indisponibilidade é mitigada sempre que o conflito perder o objeto, desde que de forma fundamentada. Atenção: art. 100, CDC – obrigação do MP na execução coletiva caso outro legitimado não o faça. 4. Máxima efetividade do processo coletivo. - aumento dos poderes instrutórios do juiz. - flexibilização procedimental (adequação do procedimento às situações concretas). - aumento dos instrumentos de execução. 5. Ampla divulgação das ações coletivas. - permissão ao interessado para ingressar como litisconsorte. - “fair notice” – adequada informação/notificação. - arts. 94 e 104, CDC. 6. Integração normativa – microssistema de normas coletivas. LACP (21) e CDC (90) – normas de reenvio. As regras e princípios do processo coletivo devem ser lidas e interpretadas de forma conjunta (diálogo das fontes), visando conferir uma unicidade ao sistema. 1º/2020 7. Não-prejudicialidade da coisa julgada coletiva. No processo coletivo, a coisa julgada não pode prejudicar a tutela individual. (103, §§ 3º e 4º, CDC) Outros princípios: • Aplicação residual do CPC. • Representatividade adequada – art. 5º, LACP. • Intervenção obrigatória do Ministério Público – art. 5º, §1º, da LACP. CATEGORIAS DE DIREITOS COLETIVOS: 1. Naturalmente ou essencialmente coletivos – difusos e coletivos “strictu sensu”. 2. Acidentalmente coletivos – individuais homogêneos (facilitação da tutela). Código de Defesa do Consumidor – Lei n.º 8.078/90: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. • DIREITOS DIFUSOS tratam de interesses indivisíveis, pertencentes a um grupo indeterminado de pessoas, ligadas por circunstâncias de fato. ➢ Indeterminação do sujeito. Não há como definir qual a parte conferida a cada um relativa àquele direito. ➢ Indivisibilidade do objeto. Não como dividir o objeto do direito, para entregar uma “suposta quota parte” de um indivíduo sem descaracterizá-lo. ➢ Litigiosidade interna. 1º/2020 No bojo de um interesse difusos podem estar presentes interesses de diferentes pessoas e natureza. Por isso a característica da litigiosidade interna. ➢ Provável mutação no tempo e no espaço. Os interesses coletivos sofrem mudanças ao longo do tempo, acompanhando as mudanças e anseios sociais. • DIREITOS COLETIVOS “STRICTU SENSU” tratam de interesses indivisíveis, pertencentes a um grupo, categoria ou classe determinada ou determinável de pessoas, ligadas por uma relação jurídica base entre si ou entre estes e a parte contrária. ➢ Indivisibilidade do objeto. ➢ Determinabilidade do sujeito. Existe a possibilidade de determinação dos sujeitos titulares. ➢ Relação jurídica base. Vínculo associativo capaz de unir os componentes de um grupo determinado. ATENÇÃO: se você está diante de um OBJETO INDIVISÍVEL, trata-se de um direito DIFUSO ou COLETIVO “STRICTU SENSU”, que foram os direitos naturais ou essencialmente coletivos. ATENÇÃO: se você verificar a existência de uma RELAÇÃO JURÍDICA BASE na esfera coletiva, trata-se de um DIREITO COLETIVO “STRICTU SENSU”. • DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS tratam de interesses divisíveis, pertencentes a indivíduos determinados, ligados em virtude de uma origem comum (ato, fato ou contrato). Lembre-se: são direitos acidentalmente coletivos. Ex.: dano decorrente de um mesmo defeito, numa série de máquinas produzidas. ➢ Divisibilidade do objeto. ➢ Determinabilidade do sujeito. ➢ Origem comum. Neste caso, pessoas são lesadas por um mesmo evento e, para evitar a pluralidade de decisões, assim como observar a economia processual, autoriza-se a tutela coletiva, desde à década de 90, da tutela que em sua essência é individual. Observa-se que a TRANSIDIVUDUALIDADE aqui é fictícia. 1º/2020 Método desenvolvido pelo Professor Hugo Nigro Mazzilli para a correta classificação dos direitos coletivos: a) O objeto é divisível? Se sim, é direito individual homogêneo. b) O grupo é indeterminável? Se sim, é direito difuso. c) Há relação jurídica base? Se sim, é direito coletivo “strictu sensu”. INSTRUMENTOS EXTRAJUDICIAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS COLETIVOS - valorização dos métodos consensuais. 1. PODER DE REQUISIÇÃO: prerrogativa que traduz uma ordem de natureza administrativa e imperativa, visando obter informações, esclarecimento, documentos ou providências necessárias ao exercício das atribuições. 2. RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA: ato que expede uma orientação fundamentada a órgãos públicos ou privados, provocando a adequação do comportamento às exigências legais. Atenção: este é um ato jurídico unilateral, sem conteúdo coercitivo (tecnicamente). 3. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (ou Compromisso de Ajustamento de Conduta): negócio jurídico bilateral que visa ajustar a conduta do compromitente às exigências legais, tendo por objeto interesses sociais indisponíveis. (5º, §6º, LACP.) INQUÉRITO CIVIL Conceito: procedimento investigativo, administrativo, informativo, público, facultativo e inquisitivo, que visa reunir elementos de convicção para instruir eventual ação coletiva. Ou seja, trata-se de procedimento para reunir elementos de convicção na tutela dos direitos transindividuais. Atenção: não há contraditório! (8º e 9º LACP; Res. CNMP 23/07.) Instauração: iniciativa privativa do MP (art. 129, III, CF). *Efeitos: I - não impede o ajuizamento de ACP por outro colegitimado (ainda que idêntico o objeto) II - obsta a decadência referente ao direito do consumidor reclamar por vícios aparentes ligados ao fornecimento de produtos e serviços (art. 26, §2º, CDC). Arquivamento: se submete a controle de órgão superior do MP, que pode: I - homologar o arquivamento. II - converter em diligência. 1º/2020 III - ajuizar ACP ou designar outro órgão. * Após o arquivamento, o Promotor de Justiça possui o prazo de 3 dias para enviar os autos ao órgão superior, sob pena de falta funcional. ** Eficácia de TAC firmado no bojo do Inquérito Civil fica condicionada à decisão de homologação do arquivamento. Após, forma título executivo extrajudicial. AUDIÊNCIA PÚBLICA: instrumento de consulta pública de uma coletividade, que visa debater um tema de interesse social,por meio da oitiva de especialistas e da colheita de depoimentos da sociedade civil. É uma forma de ampliação do “contraditório” em relação a determino tema. Formas: a) extrajudicial – ex: audiência pública no processo de licenciamento ambiental (Resoluções nº 01/1986 e 09/1987, CONAMA). b) judicial – ex: audiência pública no microssistema de resolução de demandas repetitivas (art. 983, §1º, e 1.038, inc. II). Funções: I- participação popular na gestão pública. II- concretização do princípio democrático. III- transparência dos atos decisórios do Estado. IV- mecanismo probatório extrajudicial. V- institucionalização do discurso público em torno de questões sociais. VI- legitimidade política às decisões estatais.
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