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COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE SANTA CATARINA FACULDADE CESUSC CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ADAILTO RICHARD MENDES O DIREITO À MUDANÇA DE NOME E SEXO: A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ESFERA PESSOAL FLORIANÓPOLIS, NOVEMBRO, 2018 Adailto Richard Mendes O direito à mudança de nome e sexo: a intervenção do Estado na esfera pessoal Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis como requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Msc. Larissa Tenfen Silva Florianópolis, Novembro, 2018 Adailto Richard Mendes O direito à mudança de nome e sexo: a intervenção do Estado na esfera pessoal Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade Cesusc como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito, submetido à Banca Examinadora e considerado aprovado em __/__/___. _____________________________________________________ Prof. Msc. Larissa Tenfen Silva Orientador - Cesusc _____________________________________________________ Denise Maria Nunes Membro da Banca - Cesusc _____________________________________________________ Christiane Heloisa Kalb Membro da Banca – Cesusc “Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.” (Carlos Drummond de Andrade) AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a minha avó, Maria Neuzi Mendes, por ter sido conjuntamente, mãe e avó, bem como, por me proporcionar uma educação de qualidade e uma visão humanitária do mundo. Ao meu pai, Richard Gentil Mendes, por buscar estar sempre presente e apesar das dificuldades, buscou auxiliar em minha formação acadêmica. Ao meu pai de criação, Ciro Chiappini, que junto com minha avó, cuidou de mim desde o nascimento. Por fim, agradeço à minha orientadora por toda a paciência e auxílio ao longo do semestre. . RESUMO O trabalho irá analisar em que medida e de que forma o Estado pode e faz a intervenção na vida privada do indivíduo, em especial, no tocante a mudança de nome e sexo para os Transgêneros, sendo assim, abordará os direitos inerentes de todos os seres humanos, como os Direitos Humanos e tratados internacionais específicos à sexualidade e gênero. De modo secundário, será analisado como o Estado intervém na esfera privada do indivíduo limitando sua autonomia. Para elucidar o que foi proposto, o primeiro capítulo irá analisar a origem do atual Estado Democrático de Direito, para isto, teremos como ponto inicial, as teorias contratualistas acerca das primeiras sociedades não jurídicas, passando para outras modificações do Estado que ocorreram em razão das mudanças dos indivíduos da sociedade e os direitos conquistados através dessas mudanças. O segundo capítulo irá dirimir acerca da Teoria dos Transgêneros, portando, mostrará como foi criado o termo “transgênero”, tornando claro o motivo por trás da classificação da sexualidade e do gênero, demonstrando como essa classificação binária homem- mulher se perpetua na sociedade ao longo dos anos e o surgimento de movimentos sociais que vão de encontro com este ideal de gênero, será exemplificado algumas expressões da sexualidade humana e os estigmas sofridos por apresentarem-se fora do sistema binário. Por fim, o último capítulo irá explicar sobre a origem do nome e como individualiza o indivíduo na sociedade, também será feita a análise jurisprudencial demonstrando a disparidade entre as decisões proferidas no país, findando com a análise crítica da decisão do Supremo Tribunal Federal, que por meio de decisão, pacificou o tema sobre a mudança de nome e sexo para os transgêneros. Utilizou-se do método dedutivo juntamente de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial. Palavras-chave: Intervenção do Estado. Transgêneros. Direito à identidade. Mudança de nome. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 O ESTADO DE DIREITO E INTERVENÇÃO: DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE .................................................................. 10 2.1 ESTADO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO....................................... 10 2.2 ESTADO MODERNO .......................................................................................... 13 2.2.1 Estado absolutista ......................................................................................... 13 2.2.2 Estado liberal .................................................................................................. 14 2.3 ESTADO SOCIAL ............................................................................................... 17 2.4 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ............................................................ 18 2.4.1 Estado Democrático de Direito no Brasil ..................................................... 20 2.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO FORMA DE INTERVENÇÃO ESTATAL ... 22 2.5.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e direitos relacionados ......... 23 2.5.2 Direito da personalidade ................................................................................ 25 3 TEORIA DOS TRANSGÊNEROS .......................................................................... 28 3.1 GÊNERO E SISTEMA BINÁRIO ......................................................................... 28 3.1.2 O Patriarcado e a Heteronormatividade ....................................................... 31 3.1.3 O Feminismo e o Movimento LGBT .............................................................. 32 3.2 TRANSGÊNERO ................................................................................................. 34 3.2.1 Transexuais .................................................................................................... 35 3.2.2 Travesti ............................................................................................................ 37 3.2.3 Crossdresser .................................................................................................. 37 3.3. ESTIGMA SOCIAL DOS TRANSGÊNEROS ..................................................... 38 4 A MUDANÇA DE NOME E SEXO COM BASE NA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS: UMA ANÁLISE ACERCA DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 4275 ...................................................................... 42 4.1 LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI 6.015/73): IMUTABILIDADE DO NOME E POSSIBILIDADES DE MUDANÇAS ......................................................................... 42 4.2 ANÁLISE DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 4275 ........... 43 4.2.1 O pedido inicial ............................................................................................... 43 4.2.3 Votos e divergências...................................................................................... 45 4.3 PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA ........................................................................ 49 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56 8 1 INTRODUÇÃO Os transgêneros fazem parte de uma minoria política existente no país, apesar de todos os direitos positivados na Constituição,direitos infraconstitucionais, pactos e tratados internacionais que deviam garantir o desenvolvimento pleno daqueles que fogem do padrão heteronormativo, isto não ocorre por uma diversidade de fatores, essa não aceitação do transgênero é algo institucionalizado e existe desde o início de algumas sociedades. Essa institucionalização parte pelos próprios agentes que compõe o ente estatal, dada à inexistência de norma que delimita o tema transgênero. O presente trabalho visa demonstrar a invisibilidade dos transgêneros mesmo com a existência dos direitos fundamentais, que mesmo não definindo gênero e sexo, acaba por não dar eficácia às normas essenciais para o transgênero expressar sua personalidade. A violação das normas e princípios constitucionais são características da minoria política e a falta de representatividade desta comunidade na sociedade. Portanto, o Estado, como responsável, de certa forma, pelo convívio e a relação entre os indivíduos na sociedade, é inerte no que tange os transgêneros. Na medida em que os direitos existentes não são mais eficazes, fazem-se necessárias novas normas para englobar e conceder eficácia as normas que pertencentes ao grupo violado, sem qualquer distinção. É possível notar este fenômeno nas mudanças ocorridas no Estado, desde o Absolutismo até o Estado atual. Os movimentos sociais são de extrema importância para a conquista dos direitos civis, sendo amplamente demonstrado na construção do Estado, que, diga- se de passagem, é o meio existente para aperfeiçoar o indivíduo e de maneira alguma, priva-lo de desenvolver-se igual aos demais. O tema possuía diversas decisões judiciais conflitantes desde o início do século, o que não garantia uma segurança jurídica para o transgênero, tendo em vista que, ora era deferida a mudança do nome, ora indeferida. As diversas expressões da sexualidade humana sofrem em razão do binarismo, que desde o nascimento, cria um padrão a ser seguido, padrão perpetuado ainda nos dias de 9 hoje. É nesta linha de pensamento, transgeneridade e intervenção estatal, que o trabalho irá seguir. Para isto, foi divido em três capítulos, o primeiro irá tratar acerca da origem do Estado ao Estado Democrático de Direito, visando demonstrar em que pontos o Estado necessita de mudança e o por qual motivo, findando o capítulo com os direitos fundamentais conquistados ao longo dos anos. O segundo capítulo tem como escopo, a transgeneridade, desta forma, será demonstrado como surgiu a classificação existente, quais são os estigmas criado em razão da exclusão do convívio da sociedade. O último capítulo irá abordar acerca da conquista da mudança de nome e sexo pela via judicial, criticando-o. Utilizou-se do método dedutivo juntamente de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial. 10 2 O ESTADO DE DIREITO E INTERVENÇÃO: DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Uma análise acerca da origem do Estado ao Estado Democrático de Direito, relacionando-os com os direitos fundamentais e direitos da personalidade. 2.1 ESTADO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO O presente capítulo busca investigar acerca da origem do Estado e sua evolução ao longo da história, findando com características atuais e sua importância em prol da sociedade. Jean-Jaques Rousseau (2001 p. 11) diz que a origem do Estado está ligada com o conceito de família, pois considera como uma forma inicial de relacionar-se em grupo, sendo o pai, chefe da família, detém a soberania. [...] é a família, portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o povo dos filhos, e havendo nascidos todos livres e iguais, não alienam a liberdade a não ser em troca da sua utilidade. Toda a diferença consiste em que, na família o amor do pai pelos filhos o compensa dos cuidados que lhes dá, ao passo que no Estado, o prazer de comandar substitui o amor que o chefe não sente por seus povos. (Rousseau, 2001, p. 11) O Dalmo De Abreu Dallari (DALLARI, 1972, p. 45) acredita que para entendermos a origem e a formação do Estado, é necessário analisar a etimologia da palavra Estado, que ao longo do tempo foi mudando sua definição. Ainda para Dalmo, a definição de Estado é atrelada a ideia de convivência permanente e ligada a uma sociedade política, tal ideia foi difundida por Maquiavel (2009, p. 29.), que detém a seguinte frase: “Todos os Estados que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou principados”. De acordo com Dallari, a partir de Maquiavel, a palavra Estado foi utilizada de diversas formas, ora para definir a consistência de um estado, ora para falar de grandes propriedades rurais de domínio privado, como era difundido na Espanha do século XVIII, a ideia de Estado ao longo da história sempre foi a mesma em sua essência, porém, com alterações em seu nome. Para o Darcy Azambuja (1978, p. 9), também foi a partir de Maquiavel, em 11 seu livro O Princípe, que discorria sobre formas de governo, que diversos escritores passaram a estudar acerca do Estado, citando que: Machiavelli, no século XVI, escreve o Príncipe, e lança os fundamentos da política, como arte de governar os Estados, ou mais exatamente, como arte de atingir, exercer e conservar o poder. Dessa época em diante avoluma-se a corrente dos escritores que se dedicam ao estudo do Estado sob todos os aspectos e ao sabor das mais variadas orientações doutrinárias. Das diversas teorias do aparecimento do Estado, Dalmo (1972, p. 46) sendo que uma delas existe a ideia que o Estado sempre existiu, pois os indivíduos sempre foram ligados em uma sociedade não jurídica, mas com normas de convívio que regulavam a vida em grupo. Sendo assim, escreve que: [...] o Estado, assim como a própria sociedade, existiu sempre, pois desde que o homem vive sobre a Terra, acha-se integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo. Outra gama de autores, segundo Dallari (1972, p. 46), acreditam que o Estado surge para melhor atender as necessidades do grupos sociais, que unidos poderiam defender-se de atos violentos. Sendo assim, escreve que “a sociedade humana existiu sem o Estado durante certo período” e complementa informando que “[...] este foi constituído para atender às necessidades ou às conveniências dos grupos sociais.”. Ainda para Dallari, alguns doutrinadores apenas acreditam que o Estado é Estado quando apresenta certas características de soberania. Segundo o autor: Karl Schmidt, diz que o conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico concreto, que surge quando nascem a ideia e a prática da soberania. (DALLARI, 1972, p. 46) Esse pensamento coaduna com o pensamento de Hobbes (2003, p. 225) que diz a sociedade se forma pelo medo recíproco, que todos são possíveis ameaças e somente cedendo quota parte de sua liberdade é possível atingir a autoconservação. Sobre a instituição de um Estado, ocorre quando homens, pactuam seus interesses visando uma proteção do coletivo contra agressões de terceiros, visando ainda, a convivência em paz da sociedade, Hobbes (1988, p. 107), ainda disciplina que: Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens concordam e pactuam, cada um com cada um dos outros, que a qualquer 12 homem ou assembleia de homens aquém seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes homens. A origem do Estado aindapode ser definida entre Estado Originário, que surge a partir de grupos de indivíduos e derivados, que são Estados oriundos de Estado pré-existentes. A formação originária, segundo Dallari (1972, p. 48), possuí duas teorias, uma segue a ideia de formação natural, ou seja, que não há uma causa concreta, nem ato das partes; já a segunda teoria, chamada de formação contratualista, acredita que o anseio dos homens de se conglomerar, é ato voluntário. Esta tese, faz parte da teoria contratualistas, como por exemplo a de Rousseau, Hobbes e Locke. Já em relação às causas determinantes para a origem do Estado, os autores Dalmo De Abreu Dallari (1972, p. 48-49) e Sahid Maluf (1995, p. 54-56), definem da seguinte forma: Origem Familiar, que divide-se em dois grupos, patriarcal e matriarcal; Origem em causa econômica ou patrimonial e a Origem por ato de força ou violência. No caso da Origem Familiar, a teoria ocorre no núcleo familiar, e que deste surge um Estado, podemos ter como exemplo, o caso das Famílias Reais; a teoria patriarcal se assemelha a estrutura de uma família regida pela parte paterna, o Professor Sahid Maluf (1995, p. 54) disciplina que: Os pregoeiros da teoria patriarcal encontram na organização do Estado os elementos básicos da família antiga: unidade do poder, direito de primogenitura, inalienabilidade do domínio territorial etc. Seus argumentos, porém, se ajustam mais às monarquias, especialmente às antigas monarquias centralizadas, nas quais o monarca representava, efetivamente, a autoridade do pater familias. Ainda segundo Maluf, a origem familiar patriarcal que enseja a criação do Estado ocorre com a união de diversas famílias. Em relação a teoria matriarcal, acredita-se que em razão da sociedade inicial visar a reprodução, e portanto, seria promíscua, ficaria a parte materna responsável pela família primitiva. Sendo assim, seria a mãe “autoridade suprema das primitivas famílias, de maneira que o clã matronímico, sendo a mais antiga forma de organização familiar”. 13 Analisando a segunda teoria, que seria a origem em razão da causa patrimonial ou econômica, e que acredita-se que teve origem com o filósofo Platão, seria o Estado formado para que todos os indivíduos integrantes dividissem o trabalho em diferentes áreas para assim aproveitarem os benefícios da cooperação (DALLARI, 1972, p. 48), o autor ainda cita a expressão de Platão em seu livro II de “A República”: [...] quando nos “Diálogos”, no Livro II de “A República”, assim se expressa: “Um Estado nasce das necessidades dos homens; ninguém basta a si mesmo, mas todos nós precisamos de muitas coisas”. E logo depois: “...como temos muitas necessidades e fazem-se mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai recorrendo à ajuda deste para tal fim e daquele para tal outro; e, quando esses associados e auxiliares se reúnem todos numa só habitação, o conjunto dos habitantes recebe um nome de cidade ou Estado”. Para a teoria da origem do estado através da força ou violência, entende- se que ocorreu por meio da guerra e que os mais fortes tornaram-se vitoriosos, conseguinte, deste embate surge o Estado (MALUF, 1995, p. 56) e em conformidade, o Professor Dallari (1972, p. 48) diz que a origem desta teoria era a de exploração econômica dos vencidos no embate. Entende-se que o Estado não pode apenas surgir através da força bruta, mas também precisa surgir da razão, pois é ela que une, que estabelece uma norma e que permite seja realizado a justiça. (MALUF, 1995, p. 57) 2.2 ESTADO MODERNO A criação e justificação de um Estado centralizado ganha relevo nas teorias contratualistas, como se verá abaixo. 2.2.1 Estado absolutista Este Estado precede o liberalismo, no absolutismo, tem-se que todo o poder emana do Rei, é uma ruptura dos poderes do Papado e dos monarcas, sendo motivada por uma corrente reacionária, cristalizado pela Reforma Protestante, liderada por Martinho Luthero e João Calvino. Com a influência deste movimento, os 14 monarcas concentraram todo o poder, de forma absoluta. Por mais que tenha existido essa ruptura com a igreja, era tido que os Reis possuíam um direito divino para governar. (MALUF, 1995, p. 119) O Sahid Maluf (1995, p. 120), preconiza que as monarquias absolutistas não conheciam qualquer limitação de poder, criando até um novo conceito chamado de senhoria real, que nada mais era do que a fusão de senhoria, que remetia ao senhor feudal, proprietário da terra e, real de realeza, que remete aos antigos imperadores. No meio do absolutismo, surge uma reação anti absolutista, que foi promovida através do racionalistas, que buscavam entendimentos lógicos para chegar a uma conclusão, este pensamento permitiu que as classes menos favorecidas um entendimento do que seria a liberdade e direitos, esta observação fez com que as estruturas da monarquia deixassem de ser tão fortes; o filósofo que mais destaca-se neste período é John Locke, que busca a limitação do poder do soberano, assim como, que todos ficassem sujeitos às vontades do monarca. (MALUF, 1995, p. 121) O Estado, segundo a doutrina de Locke, resulta de um contrato entre o Rei e o Povo, contrato esse que se rompe quando uma das partes lhe vio- la as cláusulas. Os direitos naturais do homem são anteriores e superiores ao Estado, por isso que o respeito a esses direitos é uma das cláusulas prin- cipais do contrato social. A monarquia absoluta, como forma de governo, desconhecendo limitações de qualquer natureza, é incompatível com os justos fundamentos da sociedade civil. Se os homens adotaram a forma de vida em sociedade e organizaram o Estado, fizeram-no em seu próprio benefício, e não é possível, dentro dessa ordem, que o poder se afirme com mais intensidade do que o bem público o exige. (MALUF, 1995, p. 121) Desta forma, não seria sensato que uma forma de governo não respeitasse os direitos individuais, tendo em vista, que foram os indivíduos que compactuaram entre si e para seu próprio benefício. É com base nos movimentos racionalistas, que fortalecida por diversos outros filósofos, que as massas oprimidas puderam criar resistência perante aqueles que detém o poder. (MALUF, 1995, p. 122) 2.2.2 Estado liberal A concepção de Estado liberal ascende com a burguesia da época, que 15 buscava uma maior liberdade econômica e limites do Poder Real, que alcança toda a Europa com o surgimento de autores, como Locke, Marcelo Lira Silva (2011, p. 124) disciplina em seu artigo que o entendimento de Locke sobre o Estado de Natureza é determinado pela razão, ou seja, o direito natural é limitado onde começa o direito do outro, desta forma, o autor cita que: [...] o estado de natureza traçado por Locke no Segundo Tratado sobre o Governo Civil é descrito, caracterizado e garantido pela predominância da lei de razão, segundo a qual a não invasão à vida, à saúde, à liberdade e à propriedade é condição necessária à garantia daquele estado de perfeitas e plenas igualdade e liberdade. Trata-se da afirmação e reconstrução hipotética de um estado originário, como forma de legitimação de um Estado de novo tipo, essencialmente caracterizado pela limitação do poder.(SILVA, 2011, p. 124) O liberalismo político buscava a realização dos conceitos trazidos pelos contratualistas acerca do direito natural, trazia uma dignificação da humanidade, de igualdade entre os seres. Com estes ideias, boa parte das revoluções populares da época, buscavam posições semelhantes, conforme disciplina Sahid Maluf (1995, p.129): [..] os ideais que empolgaram o mundo ao tempo das revoluções populares inglesa, norte-americana e francesa: sobe- rania nacional, exercida através do sistema representativo de governo; regime constitucional, limitando o poder de mando e assegurando a supremacia da lei; divisão do poder em três órgãos distintos (Legislativo, Executivoe Judiciário) com limitações recíprocas garantidoras das liberdades públicas; separação nítida entre o direito público e o direito privado; neutralidade do Estado em matéria de fé religiosa; liberdade, no sentido de não ser o homem obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; igualdade jurídica, sem distinção de classe, raça, cor, sexo, ou crença; igual oportunidade de enriquecimento e de acesso aos cargos públicos, às conquistas da ciência e à cultura universitária; não intervenção do poder público na economia particular [...].(MALUF, 1995, p.129): Estas ideias que nortearam o estado liberal são os mesmos que iriam levá-lo à ruína, pois este não intervencionismo do Estado fez com que as classes subalternas ficassem a mercê daqueles que detinham o poder econômico. Desta maneira, através da Revolução Industrial, diversos trabalhadores são substituídos por máquinas, o que levou ao desemprego em massa, sendo necessário que todos da família do proletariado fosse buscar emprego, tanto mulheres, como as crianças. (MALUF, 1995, p. 130) As ideias liberais modernas têm suas raízes nas guerras religiosas ocorridas na Europa do século XVII, em que se proclamava o direito de liberdade religiosa, tendo sido acolhidas especialmente na Inglaterra, para 16 fundamentar as pretensões de maior liberdade econômica, e limitação do Poder Real, sobretudo no que se refere aos direitos de propriedade e à tributação, bandeiras essas empunhadas pela burguesia mercantil e industrial ascendente (ALVES, 2008, p. 66). O poder político, com o avanço da Revolução Francesa, ficou nas mãos dos aristocratas, donos de grandes fortunas, que utilizaram do lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”, que tinha como significado real, a igualdade da burguesia com a nobreza, a liberdade econômica, a fraternidade, que nada mais era apenas para ganhar o apoio da massa trabalhadora. (LA BRADBURY, 2006) Nesse contexto, a classe burguesa emergente detinha o poder econômico, enquanto que o poder político estava sob o domínio da realeza e da nobreza. Logo, percebe-se que o princípio da não intervenção do Estado na economia, defendido pelo Estado Liberal, foi uma estratégia da burguesia para evitar a ingerência dos antigos monarcas e senhores feudais nas estruturas econômicas da época, garantindo a liberdade individual para a expansão dos seus empreendimentos e a obtenção do lucro. (BRADBURY, 2006). Assim como: O Poder Político, assim, ficava concentrado nas mãos dos proprietários, mantendo-se, destarte, uma dimensão aristocrática na estrutura orgânico política da sociedade (ALVES, 2008, p. 66). O aumento da riqueza dos aristocratas criava um abismo entre o os patrões e o assalariados, o que aumentou cada vez mais o desequilíbrio social, sendo que o Estado da época nada fazia. Todos os ideais do liberalismo apenas deram mais poder para os economicamente dominantes, e que diante de todo o ocorrido, foi necessário uma reação enérgica para buscarem igualdade, tal situação. (MALUF, 1995, p. 130-131) [...] o liberalismo que se apresentara perfeito na teoria bem cedo se revelou irrealizável por inadequado à solução dos problemas reais da sociedade. Converteu-se no reino da ficção, com cidadãos teoricamente livres e materialmente escravizados. (MALUF, 1995, p. 130) É no liberalismo que surge a primeira geração dos direitos fundamentais, visando os direitos individuais e que são oponíveis ao Estado. (BONAVIDES, 2001, p. 517) Por fim, com base no que foi demonstrado por Cleber Francisco Alves, Leonardo Cacau Santos La Bradbury e Sahid Maluf, o liberalismo é uma ideologia que buscava a autonomia pessoal perante o Estado. De forma resumida, é a liberdade econômica, jurídica, tanto para igualdade entre os homens, como também, 17 para o direito e proteção da propriedade. 2.3 ESTADO SOCIAL A concepção de Estado social surge na medida em que o liberalismo falha, já que o não intervencionismo do Estado permitia que a burguesia, que detinha a matéria-prima, pudesse controlar o mercado, fazendo com que diversos obreiros trabalhassem em condições insalubres e sem direitos. Estado de Bem-estar social, que tinha como objetivo corrigir as consequências negativas do Liberalismo, que desde a Revolução Francesa de 1789 não havia se preocupado com o trabalhador (LA BRADBURY, 2006). [...] percebe-se que os direitos públicos subjetivos criados, minimamente, pelo liberalismo, exigiam uma postura estatal negativa, enquanto que o Estado Social reclamava por uma conduta positiva, dirigente, ativista, onde se implementassem políticas governamentais que, efetivamente, garantissem o mínimo de bem-estar à população (LA BRADBURY, 2006). O estopim para as revoluções que originaram o Estado Social, ocorrem durante e após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que devido ao excesso de trabalho para suprir os fronts da guerra, resultaram numa sociedade sedenta por mudanças. A Revolução Russa (1917) é a primeira revolução que introduz o Estado Social, bem como, derruba o Czarismo (Realeza Russa), já que o sistema econômico Russo era extremamente atrasado, aproximava-se do sistema feudal e com a entrada na guerra, que ia contra os anseios da população, foi tido como estopim para a queda do czarismo (LA BRADBURY, 2006). [...] o Estado liberal, eivado de erros doutrinários, superado pelas realidades sociais, se tornara impotente para resolver o conflito, cada vez mais grave, entre as classes obreiras e patronais. (MALUF, 1995, p. 135) Na Europa, a pobreza e a miséria não eram diferentes das encontradas no Império Russo, desta forma, para evitar que uma nova revolução com ideais semelhantes aos da Revolução Russa, a burguesia europeia, foi conivente com a mudança, visando não perder o controle econômico. A partir desse momento, a burguesia que proclamava o não intervencionismo econômico, passa a apoiar a intervenção do estado na economia, o princípio da igualdade material e a realização da justiça social. (LA BRADBURY, 2006) 18 O princípio da igualdade material ou substancial não somente considera todas as pessoas abstratamente iguais perante a lei, mas se preocupa com a realidade de fato, que reclama um tratamento desigual para as pessoas efetivamente desiguais, a fim de que possam desenvolver as oportunidades que lhes assegura, abstratamente, a igualdade formal. Surge, então, a necessidade de tratar desigualmente as pessoas desiguais, na medida de sua desigualdade. (LA BRADBURY, 2006) As primeiras Constituições que implantam os direitos sociais, são a Constituição do México (1917) e a Constituição do Weimar (1919). No Brasil, apenas foram implantados os direitos sociais (trabalhistas) na Era Vargas, mais precisamente na Constituição de 1934. Desta forma, é possível notar que o Estado Social se aproxima do Estado de Direito, pois onde havia o abstencionismo do Estado, passou a ter um Estado fiscal, que buscava não só a proteção dos direitos individuais, mais também a obrigação de fazê-lo valer no plano real e desta formam que surgem os direitos de segunda geração. (LA BRADBURY, 2006) Paulo Bonavides (1980, p. 343). entende que é no Estado social que realmente surge igualdade, pois retira a abstencionismo e faz com que o Estado, além de garantidor de direitos, torne-os eficaz, assim cita em seu livro: O Estado social é enfim Estado produtor da igualdade fática. Trata-se de um conceito que deve iluminar sempre toda hermenêutica constitucional, em se tratando de estabelecer equivalência de direitos. Obriga o Estado, se for o caso a prestações positivas; a promover meios, se necessário, para concretizar comando normativos de isonomia. Portanto, como foi citado anteriormente, ante a ausência de amparo do Estado para igualar os desiguais, foi necessário uma atuação do Estado para, ao menos, diminuir as desigualdades. 2.4ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO O Estado Democrático de Direito deve ser analisado através da evolução dos Estado já demonstrados, apesar disto, não pode ser considerado com uma soma dos Estados preexistentes. (MORAES, 2014, p. 279) Desta forma, é possível notar que o Estado, ao longo do tempo, vai corrigindo seus defeitos e na medida que falha com os direitos que devia garantir, busca renovar-se para incluir aqueles cidadãos que têm seus direitos violados ou suprimidos. Portanto, é necessário esclarecer que tanto o Estado Liberal como o 19 Estado Social, trouxeram contribuições importantes para o Estado Democrático de Direito, enquanto um traz restrições para o Estado, o outro cria obrigações (LA BRADBURY, 2006). É nítido o que é o Estado Democrático de Direito, que inicia-se no liberalismo, que por sua vez engessa o poder estatal por meio da norma e o Estado Democrático, que é o Estado regido pelo voto da maioria, com respeito aos direitos e garantias fundamentais, preservando a minoria. A criação destes dois origina a criação do Estado democrático de Direito, que pode ser entendido com um conceito novo de Estado. (LA BRADBURY, 2006). A democracia nasceu de uma concepção individualista da sociedade, isto é, da concepção para a qual — contrariamente à concepção orgânica, dominante na idade antiga e na idade média, segundo a qual o todo precede as partes — a sociedade, qualquer forma de sociedade, e especialmente a sociedade política, é um produto artificial da vontade dos indivíduos (BOBBIO, 2006, p. 34) E coadunando com Bobbio, segundo José Afonso da Silva (1999, p. 123, apud MORAES, 2014, p. 279), cita que: A configuração do ‘Estado Democrático de Direito’ não significa apenas unir formalmente os conceitos de Estado Democrático e Estado de Direito. Consiste, na verdade, na criação de um conceito novo, que leva em conta os conceitos dos elementos componentes, mas os supera na medida em que incorpora um componente revolucionário de transformação do ‘status quo. Fica cristalino que o Estado de Direito, que preconiza a liberdade e a não intervenção do Estado, tem papel essencial para o exercício da democracia no Estado Democrático de Direito. É neste momento que surgem os direitos de terceira geração, que focam no plano dos direitos difusos, sendo assim, Paulo Bonavides (2006, p. 563-569) ensina que: Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se neste fim de século enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo, ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. Os publicistas e juristas já o enumeram com familiaridade, assinalando-lhe o caráter fascinante de coroamento de uma evolução de trezentos anos na esteira da concretização dos direitos fundamentais. Emergiram eles da reflexão sobre temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. De acordo com Moraes (2014, p. 278), uma grande dificuldade do Estado 20 Democrático de Direito seria impedir que as funções sociais fossem utilizadas como dominação, tendo em vista que estado detém o poder da força. 2.4.1 Estado Democrático de Direito no Brasil No Brasil, o Estado Democrático de Direito possui uma longa história, sendo que surge no império, através da Constituição de 1824, porém, além dos três poderes habituais, que são: Legislativo, Executivo e Judiciário, surgiu também o Poder Moderador, que era do Imperador. (ABRANTES, 2016, p. 127) De acordo com o Pedro Lenza (2012, p. 104), diversos movimentos populares contra o império surgiram naquela época, como por exemplo: a Revolução Farroupilha e a Cabanagem, a Constituição da época, por influência das Revoluções Francesas e Americana, possui um viés liberal. Rei reinava, governava e administrava, como dissera Itaboraí, ao contrário do sistema inglês, onde vigia e vige o princípio de que o Rei reina, mas não governa. (SILVA, 2005, p. 76) Apesar disto, o voto na época era direcionado apenas a uma pequena parcela da população, homens e que possuíam uma renda mínima para votar, mesmo com a vinda da Constituição de 1891, os votos ainda eram destinados a parcela dominante da população, apesar desta Constituição possuir pequena alterações, o fato de ser extinto o Poder Moderador foi um grande avanço para a democracia. (ABRANTES, 2016, p. 127) Segundo Paulo Bonavides (2000, p. 155-176), os acréscimos em relação a Constituição de 1824, são “a introdução da república, da federação e da forma presidencial de governo”. Vale ressaltar que o Brasil perde a religião oficial e torna- se laico. (LENZA, 2012, p. 106), Após a Constituição de 1891, surge a Revolução de 1930, que acaba colocando um fim da República Velha, com a crise de 1929, havia um movimento contra oligarquias da antiga república, bem como, uma classe operária totalmente explorada em razão do processo de industrialização, que perdia o trabalho para a máquinas. Por ter sido um movimento militar que derrubou a República Velha e instaurou um Governo Provisório, passou o Poder Executivo a exercer os outro dois 21 poderes, inclusive, nomeando interventores em cada Estado, a fim de ter um controle maior sobre o país. (LENZA, 2012, p. 110) Apesar do que foi feito naquela época, foi no Governo Vargas em que foi instituído o Código Eleitoral, bem como, o direito de voto às mulheres. Com a vinda da Constituição de 1934, ainda sobre o regime Vargas, pôs um fim ao viés liberal das constituições anteriores, em razão dos diversos movimentos sociais da época, esta constituição possui forte influência da Constituição de Weimar. (LENZA, 2012, p. 111) Apesar do viés social que aparenta ter esta constituição, naquele momento existiam os chamados representantes classistas, que eram escolhidos entre os patrões e empregados, desta forma, João Gilberto Lucas Coelho (1986, p. 3) cita: A constituinte, eleita após duras contestações ao governo provisório de Vargas, tinha 214 representantes eleitos através de partidos e representação proporcional e 40 representantes classistas, escolhidos por processos indiretos de entidades patronais e de empregados No mais, a Constituição durou pouco tempo, e na transição para a Constituição de 1937, manteve-se a República, os três poderes, o sistema federal e presidencialismo representativo. (LENZA, 2012, p. 111) A queda do Governo Vargas ocorre em razão da polarização entre a direita, que defendia um estado autoritário e a esquerda, que possuía ideias socialistas e sindicais. Em razão da Intentona Comunista, que se tratava de um grupo político-militar que detinha apoio do Partido Comunista, tinham como objetivo tirar Getúlio Vargas do Poder, porém, não obtiveram sucesso pois Getúlio Vargas, juntamente do Congresso Nacional, decretaram Estado de Guerra. Desta forma, Getúlio Vargas, pondo fim à tentativa de golpe, extingue o Congresso Nacional e centraliza o poder. (LENZA, 2012, p. 114) A Constituição de 1937, detém o nome de polaca, em razão de possuir características da Constituição polonesa, que possuía cunho fascista. Tanto que foi criado um Departamento de Imprensa e Propaganda, que fiscalizava todas as notícias, foi extinto todos os partidos e como toda ditadura, existia um polícia especial. Apesar dos pesares, foi neste regime que surgiu as leis trabalhistas, que existem até a atualidade. (LENZA, 2012, p. 114) 22 Em razão de o Brasil entrar ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, o então presidente Getúlio Vargas, perde apoio da população e de intelectuais da época, pois era contraditório o governo da época ter um regime que centralizava o poder e combaterpaíses com o mesmo regime. Em razão de diversas atos arbitrários de Vargas, como nepotismo e nomeações para Prefeitos, Vargas foi retirado do poder. Já em 1946, é criada a nova Constituição, que visava a redemocratização do país, divergindo ao regime anterior. (LENZA, 2012, p. 118) Uma característica importante, é que neste regime de 1946, os direitos sociais adquiridos na Era Vargas não foram removidos. A Constituição de 1946, com o fim da segunda guerra mundial, normalizou o três poderes, restabeleceu o mandado de segurança e a ação popular. (LENZA, 2012, p. 119) Em 1964 surge a Golpe Militar, o período em que diversas garantias constitucionais são relativizadas. Com o surgimento dos Atos Institucionais, os efeitos dos três poderes voltam a centralizar-se, desta forma, era permitido ao Presidente suspender direitos políticos, cassa-los sem a apreciação do judiciário. Sendo que logo após, as eleições passam a serem indiretas, os cidadãos não possuíam mais voto. Formalmente, as Constituições criadas no regime militar não alteraram de forma brusca a estrutura do Estado anterior, o que ocorreu foi uma relativização da estrutura dos três poderes, da forma federativa e eletiva. (LENZA, 2012, p. 120-121) Após o desmonte do regime militar, surge a Constituição de 1988, considerada como uma constituição cidadã, devido ao seu extenso rol garantias A Constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização de seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento se seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a Constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. (SILVA, 2003, p. 37-38) 2.5 DIREITOS FUNDAMENTAIS COMO FORMA DE INTERVENÇÃO ESTATAL Como foi demonstrado anteriormente acerca da origem do Estado ao Estado Democrático de Direito, os limites de um Estado são feitos pela criação de direitos, tendo como pressuposto, os direitos naturais, ou seja, direitos não 23 positivados anteriores a uma sociedade, os limites acontecem tanto nos poderes como nas funções do governo para com seus governados. A Constituição, como foi visto anteriormente, abrange a sociedade como um todo, novamente, engessando-a, criando obrigações positivas e negativas do Estado. Portanto, o Estado atua conforme os dispositivos da lei, não podendo ignorá-los ou mitigá-los. Como foi devidamente demonstrado, conforme o Estado falha com cidadão ele acaba adaptando-se para resguardar a integridade do indivíduo. A transição do Estado Liberal para o Estado Social demonstra bem este acontecimento. 2.5.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e direitos relacionados A Dignidade da Pessoal Humana é o principal fundamento para os direitos da personalidade. Tal princípio é o escudo de cada característica do indivíduo, valendo para além do que é físico (integridade física), como também, intimidade, psique e moral. Assim disciplina o jurista Ingo Wolfgang Sarlet (2011, p. 55), que cita: Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa co- responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos. Este princípio encontra-se na Constituição Federal, especificamente no art. 1º, III, tal princípio, não pode ser confundido com os Direitos Fundamentais, pois se trata de um princípio basilar, que serve de parâmetro para os Direitos Fundamentais (BARROSO, 2010, p.14), este princípio possui valores históricos que visam uma finalidade a ser realizada, protegendo a existência do ser, com todos as suas qualidades e defeitos, no meio da sociedade. (BARROSO, 2010, p. 21-22) Princípios são normas jurídicas com certa carga axiológica, que consagram valores ou indicam fins a serem realizados, sem explicitar comportamentos específicos.(BARROSO, 2010, p.12). De acordo com Barroso (2010, p.17), cada pessoa deve ser tratada como 24 um fim em si mesmo, ou seja, o âmago de cada um somente lhe diz respeito, não podendo ter suas características suprimidas por vontade ou preconceito dos governantes, ainda segundo Barroso (2010, p. 22), o Estado surge para que o indivíduo se desenvolva, sendo assim, não poderia o Estado criar obstáculos para que indivíduo não atinja esse objetivo. Para Sarlet (2011, p. 77-78), o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos do nosso Estado Democrático de Direito e que isto demonstra que a pessoa humana vem antes do Estado, ou seja, a finalidade do Estado é o desenvolvimento do indivíduo. Cada pessoa tem autonomia para decidir sobre a própria vida, suas escolhas, sua personalidade, não podendo sofrer sanções externas, salvo se violar direito de outros, assim é o pensamento de Barroso (2010, p. 24), que cita: A dignidade como autonomia envolve, em primeiro lugar, a capacidade de autodeterminação, o direito do indivíduo de decidir os rumos da própria vida e de desenvolver livremente sua personalidade. Significa o poder de fazer valorações morais e escolhas existenciais sem imposições externas indevidas. Decisões sobre religião, vida afetiva, trabalho, ideologia e outras opções personalíssimas não podem ser subtraídas do indivíduo sem violar sua dignidade O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana está atrelada aos direitos e garantias fundamentais, sendo que tal princípio permite que os direitos fundamentais sejam ponderados entre si, bem como, que sejam estes direitos protegidos por parte do Estado, dando a devida eficácia para cada um destes. Desta forma, a nossa Constituição atual, possui alguns direitos que tornariam o desenvolvimento pleno da personalidade do indivíduo.(SARLET, 2011, p. 101) Ainda temos alguns direitos inerentes da Dignidade da Pessoa Humana, que são: direito à liberdade, à igualdade, à identidade e à intimidade, ao nome, entre outros, sendo todos são necessários para o desenvolvimento da personalidade. (SARLET, 2011, p. 101) É necessário discorrer sobre estes direitos necessários para que o indivíduo tenha pleno desenvolvimento de sua personalidade para relacioná-los com o problemática desta pesquisa. O Direito à liberdade, é uma das bases da Dignidade da Pessoa Humana, é disciplinada como sendo necessária para que o indivíduo realize suas paixões, 25 projetos, anseios. Para isso, o Estado precisa prestar condições para que a liberdade seja de fato exercida, tal direito pode chocar-se com direitos alheios, como por exemplo: uma violação à honra ou intimidade. (ANDRADE, 2003, p. 319) E em relação à prestação positiva do Estado, Andrade (2003, p. 319) ainda cita que: “Não é verdadeiramente livre aquele que não tem acesso à educação e à informação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, ao lazer”. Sendo assim, entende-se que é necessário uma prestação positiva e uma negativa do Estado, ou seja, uma atuação e uma abstenção, respectivamente. Para Barroso e Osório (2016, p. 3), a igualdade é intrínseca para com a ideia de democracia, preceitua-se que todos possuem o mesmo valor, portanto, impede que haja tratamentos diferentes, a não ser para corrigir diferenças. [...] a igualdade se expressa particularmente em três dimensões: a igualdade formal, que funciona como proteção contra a existência de privilégiose tratamentos discriminatórios; a igualdade material, que corresponde às demandas por redistribuição de poder, riqueza e bem estar social; e a igualdade como reconhecimento, significando o respeito devido às minorias, sua identidade e sua diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras .(BARROSO; OSÓRIO, 2016, p. 3) Desta forma, a finalidade é a igualdade, porém, quando há pessoas em situação de desigualdade, deve o Estado prestar um tratamento desigual a fim de igualar aos demais. Assim é o pensamento de Nery Júnior (1999, p. 42) que diz que deve-se “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.” 2.5.2 Direito da personalidade Segundo Carlos Roberto Gonçalves “são direitos inalienáveis, que se encontram fora do comércio, e que merecem a proteção legal”. (2013, p. 184) Os Direitos da personalidade são inerentes para que o indivíduo se desenvolve no seio da sociedade, são direitos próprios, como por exemplo: direito à identidade, à intimidade entre vários outros, sendo que devem ser protegidos pelo ente estatal (BELTRÃO, 2005, p. 47- 48) Para Diniz (2012, p. 135-136), os direitos da personalidade são aqueles direitos próprios de todo ser humano, sendo necessário um “comportamento 26 negativo de todos”, ou seja, uma prestação negativa, uma não violação com os direitos da personalidade de outros. A Constituição Federal mostrou a dimensão dos Direitos da personalidade, assim dispõe o art. 5°, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. [...] reconhece-se nos direitos da personalidade uma dupla dimensão: a axiológica, pela qual se materializam os valores fundamentais da pessoa, individual ou socialmente considerada, e a objetiva, pela qual consistem em direitos assegurados legal e constitucionalmente, vindo a restringir a atividade dos três poderes, que deverão protegê-los contra quaisquer abusos, solucionando problemas graves que possam advir com o progresso tecnológico [...] (DINIZ, 2012, p. 133) Os Direitos da personalidade surgem com o nascimento e são de extrema importância para que o indivíduo construa sua personificação no meio social, tal positivação do direito demonstra que o indivíduo é o firma ser tutelado, sendo assim, por pensamento lógico, não poderia servir de limitação. (RIZZARDO, 2006, p. 151) [...] sob a denominação de direitos de personalidade, compreendem-se direitos personalíssimos e os direitos essenciais ao desenvolvimento da pessoa humana, que a doutrina moderna preconiza e disciplina no corpo do Código Civil como direitos absolutos, desprovidos, porém, da faculdade de disposição. Destinam-se a resguardar a eminente dignidade da pessoa humana, preservando-a dos atentados que pode sofrer por parte de outros indivíduos.(GOMES, 1989, p.153) Os direitos da personalidade possuem capítulo próprio no Código Civil de 2002, com início no art. 11: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. Maria Helena Diniz (2012, p. 136), disciplina, com base no enunciado n. 4 do Conselho Federal de Justiça, que os direitos da personalidade podem ser limitados, desde que não seja uma limitação permanente. O art. 13 do Código Civil nos traz a seguinte informação: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”. Segundo Diniz (2012, p. 140, somente são possíveis os atos de disposição do corpo quando não tragam prejuízos para a integridade física do indivíduo, salvo quando for exigência médica. Ainda aduz que é permitido a correção de genitália naqueles casos em que o indivíduo tenha genitália masculina e/ou feminina. (DINIZ, 2012, p. 27 140) Por fim, é pertinente destacar os artigos 16º ao 19º, tendo em vista que são essenciais para o entendimento desta pesquisa. Estes artigos tutelam o direito ao nome e a sua defesa, acerca do direito ao nome, Maria Helena Diniz (2012, p. 144) informa que “[...] ele integra a personalidade, por ser o sinal exterior pelo qual se individualiza a pessoa, identificando-a na família e na sociedade”. Por fim, é possível requerer indenização em pecúnia quando violar o nome de outrem, seja de forma vexatória ou utilizando do nome para propaganda. Isto demonstra a importância do nome para a identidade pessoal. (DINIZ, 2012, p. 144) O Direito de Imagem é autônomo e não depende de outros direitos fundamentais, está presente tanto no art. 5º da Constituição Federal, assim como, no art. 20 do Código Civil, diz respeito sobre a imagem pessoal e sua exposição, sendo que também é cabível reparo em casos de ato ilícito ou exploração indevida. (DINIZ, 2012, 145-147) Conforme já citado anteriormente, todos os direitos acima constroem a identidade do indivíduo, uma problemática atual são aqueles que possuem estes direitos, mas que não se identificam com seu sexo biológico, seria necessário uma mudança no entendimento destas leis, visando a igualdade de poder construir uma identidade não só pessoal, mas no âmbito social. 28 3 TEORIA DOS TRANSGÊNEROS Será analisado a origem da Teoria dos Transgêneros e de que forma essa classificação se perpetua no tempo, assim como, os estigmas sofridos na população transgênera na sociedade. 3.1 GÊNERO E SISTEMA BINÁRIO A sociedade foi criada no sistema binário homem-mulher, sendo que seu gênero, ou seja, seu modo de se expressar seria de forma masculina ou feminina, esse binarismo também diz respeito às práticas sexuais, que deveriam ser somente entre os binários, não podendo fugir deste grupo. (MODESTO, 2013, p. 52) Desde que nascemos, somos condicionados a agir conforme nossa aparência, sexo biológico, grande parte do nosso modo de agir em meio à sociedade são criações sociais e não biológicas, sendo assim, a sociedade determina o modo de agir do indivíduo com base no seu sexo. As características, tanto masculinas ou femininas, mudam ao redor do mundo em razão da diversificação dos seres. (JESUS, 2012a, p. 5-6) O termo “sexo”, também conhecido como sexo biológico ou genital, refere- se essencialmente à genitália que cada indivíduo traz entre as pernas ao nascer. (LANZ, 2014, p.39 ) O que determina o gênero é o meio social, ou seja, como a pessoa se identifica e se expressa no âmbito social, não levando em consideração seu sexo biológico. Desta forma, o termo “transgênero” engloba aqueles que o gênero não coaduna com o sexo biológico, que são os casos das crossdressers e transexuais. (JESUS, 2012a, p. 5-6) Gênero diz respeito às expectativas sociais de desempenho que cada ser humano deve atender tendo em vista o seu sexo genital. O gênero é uma construção social que varia intensamente de cultura para cultura e de época para época.(LANZ, 2014, p. 39) Atualmente, o binarismo não coaduna com a sociedade atual, em razão das diversas expressões da sexualidade humana, não fazendo sentido em existir, pois não explica a orientação sexual nem o gênero. (MODESTO, 2013, p. 56) 29 De acordo com Lanz (2014, p. 39-40), há registros de inúmeras diversidades de gênero pelo mundo, sendo considerado algo comum pela sociedade de algumas culturas, ou seja, não ficam presas ao sistema binário. É extremamente importante, segundo a autora, elucidar que tanto o sexo biológico, quanto o gênero, não possuem quaisquer ligações com a orientação sexual. Porém, dependendo da cultura, é algo que seria conexo com os termos “sexo” e “gênero”. O sexo biológico, na maioria daqueles que fazem o ultrassom, é descobrir qual a genitália da criança, sendo quea partir deste ponto, todos as peças de roupas, brinquedos e tantos outros itens que se adquire com a vinda de uma criança, são ligadas ao seu sexo biológico, portanto, desde antes do nascimento, a criança já possui um gênero definido e que ao longo do seu desenvolvimento, ela vai sendo condicionada a agir de acordo com seu sexo biológico. (SILVA, 2017, p. 13) Beauvoir (1980, p. 9), também entende desta maneira, com sua famosa frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, que diz que o gênero é uma construção social, ou seja, desde o nascimento há um condicionamento de como agir, os trejeitos etc. Thomas Laqueur (2001, p. 19) segue com o mesmo entendimento, disciplinando que o gênero é cultural e que antes de existirem estudos voltados para o tema, existia o “modelo de sexo único”, que significava a igualdade entre sexo e gênero. O autor ainda salienta que tal distinção está direcionada ao fracasso. Contrariando o sistema binário, surgiu a teoria queer, que entende que o sistema binário está incorreto, que a formação da nossa identidade não é determinada ao sexo biológico e sim pela cultura, em contrapartida, disciplina a teoria que a identidade de formaria de maneira fluída, diversa e variável, caso não houvesse influência cultura. Esta teoria tem a finalidade de quebrar a barreira do binarismo, acredita-se que o sistema binário surgiu como forma de regulação social, visando classificar a sociedade. (CÂNDIDO, 2016, p. 1) [...] convencionou chamar na história de Teoria Queer, como método analítico que além de defender a desnaturalização da sexualidade e do gênero – como fenômenos não implícitos da natureza, mas de ordem também política, social e cultural – percebe as identidades e a própria sexualidade de forma muito mais fluída, apontando as fraturas e contradições da estrutura social. (FERREIRA, AGUINSKY, 2013, p. 226) Segundo Ferreira e Aguinsky (2013, p. 224-225), todas as possibilidades 30 de sexualidade sempre existiram, porém, o que foge do padrão heteronormativo é considerado moralmente errado. Parte deste preconceito tem fundamento histórico, sendo de cunho religioso, como por exemplo, o Cristianismo. Antes do Cristianismo, a relação entre pessoas do mesmo sexo era tido como algo comum, sendo que desta forma que se passava o conhecimento acerca das práticas sexuais, com o crescimento do cristianismo, a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo ou pessoas que tivessem um “desvio” na personalidade e, por ventura, comportassem de forma adversa ao seu sexo biológico, eram tidas como doentes ou pecadoras. (FERREIRA, AGUINSKY, 2013, p. 226) Ao falar de gênero, torna-se necessário explicar a distinção de sexo e orientação sexual. De início, ressalta-se que os termos não são sinônimos, como será visto a seguir. Os estudos acerca da orientação sexual existem há muito tempo, pois bem, percebe-se que a heterosexualidade não é estudada como a homossexualidade, a condição do homossexual era entendida como uma patologia, ou seja, uma doença que precisava ser explicada. (MENEZES, BRITO e HENRIQUES, 2010, p. 245) Alguns estudos entendem que é possível que a nossa espécie não tenha uma orientação sexual definida, logo, a cultura e os estímulos sexuais que formam a orientação sexual do indivíduo. Há outros estudos que divergem desta teoria, onde a heterossexualidade seria o natural e, portanto, não necessita ser explicada. (MENEZES, BRITO e HENRIQUES, 2010, p. 246) [...] a orientação sexual pode ser observada a partir de um continuum de sete possíveis classificações: (1) Exclusivamente heterossexual; (2) Predominantemente heterossexual com episódios raros de homossexualidade; (3) Predominantemente heterossexual com múltiplos episódios de homossexualidade; (4) Tanto heterossexual quanto homossexual; (5) Predominantemente homossexual com múltiplos episódios de heterossexualidade; (6) Predominantemente homossexual com episódios raros de heterossexualidade; (7) Exclusivamente homossexual. (MENEZES, BRITO e HENRIQUES, 2010, p. 246) A ideia do que é orientação sexual varia conforme os pesquisadores, mas algo em comum é que orientação sexual está ligada ao desejo sexual e a excitação física. O desejo é visto como algo psicológico, social e está relacionado com o outro, ou seja, o parceiro. Já a excitação física está ligada ao corpo, ao toque, sendo uma 31 resposta fisiológica. (CARDOSO, 2008, p. 73) 3.1.2 O Patriarcado e a Heteronormatividade A ideia do patriarcado, remete à Roma Antiga, onde a ideia de família tinha o homem como chefe, a mulher, assim como os filhos, ficavam sujeitos ao patriarca até o falecimento deste. O Patriarcado é uma construção social e está enraizado na sociedade, tem como pressupostos a hierarquização dos sexos, colocando a mulher e os homens mais novos como subordinados. (NARVAZ, KOLLER, p. 50) Para Barreto (2004, p. 64), o patriarcalismo é instituído em todas as sociedades modernas, segue a ideia da dominação do homem, como chefe da família, sob as mulheres e os filhos. É caracterizado por uma autoridade imposta institucionalmente, do homem sobre mulheres e filhos no ambiente familiar, permeando toda organização da sociedade, da produção e do consumo, da política, à legislação e à cultura.(BARRETO, 2004, p. 64) O termo “heteronormatividade” foi criado por Michael Warner, desde então é utilizado para explicar o conceito cultural de padronização do sexo e gênero. (PETRY; MEYER, 2011, p. 196) Lanz (2014, p. 41) disciplina sobre o que é a heteronormatividade, que seria do que a imposição do sistema binário a todas as relações sociais, excluindo todos os diversos gêneros existentes. A heteronormatividade é de extrema importância para o entendimento do estigma que os transgêneros podem sofrem desde o nascimento, portanto, o termo é entendido como “um padrão de sexualidade que regula o modo com as sociedades ocidentais estão organizadas”. (PETRY; MEYER, 2011, p. 196) Tanto a heterossexualidade, quanto a heteronormatividade são culturais, é algo taxado como “normal”, o que foge deste padrão é anormal e, portanto, busca- se corrigir o que é fora do padrão heteronormativo através da medicina. (PETRY; MEYER, 2011, p. 196) Para Tiburi (2018, p. 76-77), aqueles que não correspondem ao sistema heteronormativo, receberam classificações e ainda utilizam-se destas marcações 32 para poder questionar a dominação, segundo a autora, adaptar-se a este sistema que busca marcar aqueles que não se adequam a heteronormatividade, não é “naturalizar” as marcações, mas sim criar um direito de existir e de estar presente. Tiburi (2018, p. 81) questiona quem se beneficia da identidade e exemplifica ao falar da questão racial, disciplinando que o termo “Negro” foi criado por senhores de escravos, sendo assim, pode-se concluir que os outros termos, como por exemplo, o dos transgêneros foi criado como forma de opressão, já que favorece apenas à dominação do homem, outro exemplo, segundo a autora, é a origem do nome feminista, que assim que surgiu tinha uma conotação negativa. 3.1.3 O Feminismo e o Movimento LGBT Para Silva e Campos (2014, p. 3), os movimentos feministas possuem uma longa história e foram responsáveis por diversas conquistas, não apenas para as mulheres. Podendo ser divido em ondas, a primeira onda do feminismo no Brasil, é o movimento pelo sufrágio feminino, foi a luta pelo direito de votar. O direito de votar as mulheres foi positivado em 1932, pelo código Eleitoral, porém, apenas foi possível o exercício com a promulgação da Constituição de 1946. Por sem um período de industrialização, também houveram movimentos feministas para igualar o salário entre homem e mulheres, bem como, para questionar a jornada dupla de trabalho. Para Tiburi (2018, p. 13-14, 27), o feminismo também surge no período de industrialização, portanto, do capitalismosurge o feminismo, a autora também faz uma crítica a dupla jornada de trabalho, em que mulheres trabalham recebendo remuneração e também trabalham no lar. O feminismo busca quebrar a ideia de naturalidade do patriarcado, sendo assim, quer desconstruir a ideia de hierarquização dos gêneros. A segunda onda do feminismo, segundo Alves e Pitanguy (1982, p. 9), surge com a finalidade de reinventar a ideia de sexo, sendo que, independe de ser homem ou mulher, o indivíduo não precisa adaptar-se ao modelo padronizado. De acordo com Vianna (2015, p. 794), os movimentos sociais, tanto o 33 feminismo quanto o LGBT, estão diretamente ligados com a ausência de direitos por uma minoria política ou que não são reconhecidos perante o Estado e a sociedade. A sigla LGBT significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, há divergências em relação à sigla, porém, existe um entendimento que é necessário incluir mais gêneros e sexualidades. (VIANNA, 2015, p. 794) Para Tiburi (2018, p. 41, 77), “o feminismo é um operador criativo que libera todos das coações patriarcais, desonera as pessoas da dívida de gênero”, sendo assim, a autora também disciplina que o feminismo auxilia aqueles que são humilhados e oprimidos, em razão das diferenças culturais construídas ao longo da história, para terem suas reivindicações ouvidas na sociedade. Para Alves e Pitanguy (1982, p. 54, 58), a partir da década de 60 que o movimento feminista possui nova frente de luta, não ligado apenas ao sexo feminino, mas também aproximando grupos politicamente minoritários, reivindicando direitos a fim de diminuir a desigualdade. Ainda, segundo as autoras, o feminismo surge como um movimento de massas e passa a ter um grande poder de mudança social. Um dos movimentos sociais originários é o Movimento LGBT. Simões e Facchini (2009, p. 45), entendem que o grande marco da luta LGBT ocorreu em um bar gay chamado Stonewall Inn, localizado em Nova York, onde ocorreu uma tentativa de interdição do bar por parte da polícia local, tal tentativa resultou em uma reação por parte dos próprios integrantes do bar, portanto, uma população que vivia escondida em razão discriminação, passou a ser uma manifestação de orgulho por serem quem são. Para Simões e Facchini (2009, p. 45), o movimento responsável por chamar atenção ao termo “orientação sexual”, foi o movimento LGBT. Sendo assim, o movimento tinha a homossexualidade como algo inerente da personalidade do indivíduo e imutável, ainda segundo os autores, no século 19, já haviam estudos em relação a condição do homossexual, onde argumentava-se que não era uma opção do indivíduo, era algo inerente do indivíduo e estava presente em outras espécies, portanto, não poderia dizer que tal condição era uma doença. O movimento social LGBT permitiu a criação de uma identidade coletiva, que foi construída por variedade de pessoas que possuem um interesse em comum, que é o reconhecimento da sua sexualidade e gênero, portanto, buscam a liberdade 34 para desenvolverem-se sem empecilhos da sociedade e do Estado, desta forma, é um movimento social de extrema importância pelo viés identitário que carrega, abrangendo diversas concepções de gênero e sexualidade (VIANNA, 2015, p. 794) A criação deste viés identitário, segundo Tiburi (p. 54-55), faz surgir a ideia de “lugar de fala”, que permite a politização daqueles que sofrem em razão da heteronormatividade, assim, é possível criar um diálogo entre aqueles que não se a assemelham com o padrão heteronormativo, como também, com os que se assemelham ao padrão, visando desconstruir essa classificação existente e criando certa empatia com diversas outras minorias políticas. Sustenta ainda, que lutar por um lugar de fala, seja qual for o movimento de minorias políticas, é lutar pelo direito de todos, pois permite que outras minorias se manifestem em público. 3.2 TRANSGÊNERO Sustenta Lanz (2014, p. 66, 71) que aquele que diverge da heteronormatividade que foi estabelecida ao nascer, se torna transgênero, que como a própria autora define “transgressão de gênero”. O conceito de transgênero é amplo, possuindo um enorme rol de possibilidades, consequentemente, engloba todos que possuem divergência de gênero, portanto, não se trata de um novo gênero, mas como preceitua Lanz (2014, p. 70) “[...] uma circunstância sociopolítica de inadequação e/ou discordância e/ou desvio e/ou não-conformidade com o dispositivo binário de gênero, presente em todas as identidades gênero-divergentes”. A primeira coisa a se dizer sobre o termo transgênero é que não se trata de mais uma‘ identidade gênero-divergente, mas de uma circunstância sociopolítica de inadequação e/ou discordância e/ou desvio e/ou não-conformidade com o dispositivo binário de gênero, presente em todas as identidades gênero-divergentes. Para Santos, a identidade de gênero, é como o indivíduo se identifica e se expressa no meio da sociedade, mas sem relação com seu sexo biológico, portanto, nos casos dos transsexuais, a percepção de si não se coaduna com a sua genitália. Ainda de acordo com Santos, há relatos de pessoas que não se identificam com seu sexo biológico e não querem/necessitam de cirurgia de redesignação sexual, ou seja, conseguem viver normalmente com essa dualidade. (SANTOS, 35 2018, p .5-6 ) Como já foi suscitado por Santos (2018, 5-6), existem pessoas que mesmo não se identificando com seu sexo biológico, também se identificam com o sexo oposto, portanto, como disciplina Lanz (2014, p. 71), “sua identidade de gênero não se enquadra em nenhuma das duas categorias disponíveis”, podemos pegar como exemplo as crossdresser, que são homens que possuem trejeitos e formas de se vestir com aspecto feminino e que não se identificam com o binômio homem- mulher, desta forma, classificam-se como um terceiro gênero. (JESUS, 2012a, p. 9) Se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio construto chamado “sexo” seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma. Se o sexo é, ele próprio, uma categoria tomada em seu gênero, não faz sentido definir o gênero como uma interpretação cultural do sexo. O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado. (BUTLER, 2003 apud MOURA, 2014, p. 1) É importante ressaltar que a identidade de gênero não possui qualquer relação com a orientação sexual, em vista disto, não é possível identificar a identidade do indivíduo apenas com olhos, pois é algo extremamente pessoal. (LANZ, 2014, p. 74-75) 3.2.1 Transexuais O transexualismo tem relação com a identidade de gênero e apenas, não tem afinidade com sua orientação sexual, havendo casos em que a auto identificação surge no início da vida ou ao longo da vida, o que ocorre em razão da sociedade, pois se desde o nascimento da criança apenas se conhece o sistema binário, torna difícil o entendimento de que ter tendência ao transexualismo é algo natural e pessoal do ser humano. (JESUS, 2012a, p. 8) A condição do transexual não depende da cirurgia, como acredita-se popularmente. Vale ressaltar que a mulher transexual é aquela que reivindica o conhecimento como mulher, o mesmo vale para o homem transexual. Ambos devem ser reconhecidos com o gênero em que se identificam. Sendo assim, a mulher transexual, que antes de se identificar como trans, era homem cisgênero e hétero, 36 passa a ser mulher transexual homossexual. (JESUS, 2012a, p. 8-9) Pereira (2006, p. 472) assinala que todos os transgêneros, independente de suas vontades em relação a si, apenas querem ser conhecidos perante o Estado. O transexualismo desde a origem é tido como uma patologia, portanto, tentava-se entender se de fatoera uma doença, como surgiu e como repará-la. (PEREIRA, 2006, p. 471) Lanz (2014, p. 162) expõe que há muito tempo os biólogos entendem que não há fator biológico na identidade de gênero, ou seja, a classificação binária em conluio com a heteronormatividade excluem aqueles que não se encaixam no binarismo. Atualmente, classifica-se o transexual de duas formas, o primário e o secundário. O primário é aquele que durante a evolução da sua personalidade, isto é, da infância até a vida adulta, não se identifica com seu sexo biológico e entende que nasceu no corpo errado, por conseguinte, entende que o único meio de adequação é a intervenção cirúrgica. O secundário, é aquele que se identifica com o gênero oposto, que é homossexual, porém, sentem-se adequação entre o seu gênero e sexo biológico. (SILVA, 2017, p. 39) Apesar das pequenas mudanças sobre esta temática, a Organização Mundial de Saúde1, após 28 anos, retirou o transexualismo do rol das doenças mentais2, o que permite o livre desenvolvimento da personalidade, assim como, impede que seja estudada com uma patologia. Essa mudança, após os 28 anos da permanencia do transexulismo como doença mental ocorreu em razão dos movimentos feitos pelos próprios transgêneros, que há muito tempo já buscavam essa despatologização. (JESUS, 2012b, p. 1) [...] a ótica da mobilização social como forma de influência dos grupos sociais marginalizados, em que as pessoas que vivenciam a dimensão das transgeneridades (ou transgeneralidades), orientadas por políticas de cunho identitário, tornem a sua realidade cada vez visível, e continuem lutando, dentro dos sistemas legais e políticos, para propiciar um maior reconhecimento de sua humanidade e da justeza de suas várias demandas. 1 OMS. Organização Mundial de Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: descrição clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: OMS; 1993. 37 (JESUS, 2012b, p. 1) 3.2.2 Travesti A denominação travesti é condição de identidade tipicamente brasileira, das transgressões de gêneros existentes no Brasil, esta é a de maior destaque. (LANZ 2014, p. 148) As travestis são aquelas pessoas que possuem trejeitos e se expressam como do gênero feminino, muitas não se identificam com o sexo masculino, tampouco com o feminino, entendem ser uma nova classificação de gênero. (JESUS, 2012a, p. 9) Travesti, para Lanz (2014, p. 149, 153, 157), é toda pessoa que utiliza-se de roupas do sexo oposto, por consequência, pode-se concluir que todos os transgêneros se travestem, mas o principal problema, é que no Brasil, o termo “travesti” é associado à prostituição. Tanto o transexual, quanto a travesti, sofrem com o que se chama de “homossuexualidade compulsória”, isto é, associam o gênero com a orientação sexual, tal associação entre ambos é uma falácia. [...] pode designar indistintamente qualquer pessoa que se apresente socialmente usando vestuário culturalmente definido como de uso próprio do gênero oposto ao dela. Assim, estritamente dentro do conceito de travestismo/crossdressing como o ato de uma pessoa vestir-se com roupas reservadas ao gênero oposto ao seu, concluímos que tanto dragqueens, como travestis, transformistas, crossdressers e transexuais (que, a rigor, não estão se travestindo, já que acreditam ‘pertencer‘ originalmente ao gênero oposto...), todas essas categorias gênerodivergentes se travestem. (LANZ 2014, p. 149) A imagem das travesti é extremamente ligada ao de profissionais do sexo, como também, “vestuário erótico, exibicionismo, baixa renda, baixa escolaridade”.(LANZ 2014, p. 152) 3.2.3 Crossdresser As crossdressers, apesar de serem semelhante as travesti, não requerem conhecimento acerca do seu gênero, possuem o prazer de usar roupas femininas, mas se identificam com seu sexo biológico, outra diferença é que as crossdressers 38 são momentâneas, isto é, se vestem esporadicamente, por prazer momentâneo, já as travestis vivem diariamente como pertencente do gênero feminino. (JESUS, 2012a, p. 10) A definição de crossdresser se assemelha ao de travesti, mas o termo surgiu para diferenciar das travesti em razão desta última ser amplamente conhecida como profissionais do sexo, as crossdresser possuem o medo de serem descobertas, tanto que muitas apenas se travestem em suas casas, no geral, as crossdresser são de classes mais favorecidas economicamente. (LANZ, 2014, p. 173-174) As principais características que as diferenciam são meramente econômicas, como vimos no tópico anterior, muitas travestis são colocadas para fora de casa desde muito cedo, portanto, ante a necessidade econômica, torna-se profissionais do sexo. O que diverge dos crossdresser, que segundo Lanz (2014, p. 175-176) são em grande parte da classe do topo da pirâmide econômica. 3.3. ESTIGMA SOCIAL DOS TRANSGÊNEROS A transgeneridade pode surgir em qualquer momento da vida, há casos de crianças, adultos, adultos com filhos, outros já idosos. Muitas vezes é devido a falta de conhecimento e a heteronormatividade, essa falta de conhecimento em relação a transgeneridade, faz com que a maior parte dos transgêneros continuam ocultos, talvez por medo ou falta de autoconhecimento. O medo de se expor publicamente como um transgressor de gênero provoca o ocultamento deste lado do indivíduo, que muita vezes, passa a vida toda sem poder expressar plenamente toda sua personalidade ante heteronormatividade. (LANZ, 2014, p. 138-139, 129) Para o transgênero, encaixar-se na sociedade é extremamente importante, porém, precisa suprimir sua verdadeira personalidade, visando não apenas sentir-se parte da sociedade, mas também para evitar violências. (LANZ, 2014, p. 130) [...] assim, uma função de legitimação da identidade, através da alteridade proporcionada pelo ‘olhar do outro‘, nos relacionamentos interpessoais diários da pessoa transgênera com outras pessoas (cis ou trans). Dentro dessa concepção altamente predominante dentro do mundo transgênero, o ‘outro‘ tem uma importância crucial na ‘confirmação‘ ou na ‘invalidação‘ da 39 identidade de gênero que o indivíduo quer expressar ao mundo. (LANZ, 2014, p.130) O desconhecimento acerca dos transgêneros é tanta, que por mero preconceito, os próprios pais expulsam seus filhos de casa, tendo em vista que alguns demonstrar pertencer ao gênero oposto desde o nascimento, havendo casos em que a violência física se perpetua dentro do lar, sendo uma tentativa preconceituosa de “corrigir” o infante. (MAGNO, DOURADO, SILVA, 2018, p. 6) [...] não foram raras as narrativas sobre expulsão de travestis e mulheres transexuais de casa por conta da performance “afeminada”, que demonstram tanto a estereotipia, quanto a separação das travestis e mulheres transexuais do convívio familiar com aquelas pessoas consideradas apropriadamente generificadas, reforçando, portanto, um sistema de gênero binário oposicional, baseado na coerência sexo, gênero e desejo. “Meu pai quando chegava às vezes e dizia: ‘Não quero afeminado dentro de casa’. Ai eu já com 13, 14 anos. (...) Então, eu fugi com uma travesti pra o Rio de Janeiro” (Angélica, travesti, 26 anos, prostituta). “Eu sempre fui afeminado desde criança e fui crescendo assim (...) quis sair da companhia da minha mãe, mas ela também mandava eu ir me embora. (...) Então, eu desde 14 anos que eu vivo só pelo mundo afora...” (Adélia, 61 anos, travesti, não tem ocupação no momento). (MAGNO; DOURADO; SILVA, 2018, p. 6) Bento (2009, p. 97), na mesma linha de raciocínio, diz que a descoberta da corpo e a identificação de pertencer a outro gênero acarreta em agressões físicas, verbais e até rejeição familiar. Em razão de algumas não conseguirem se manter na escola, devido a serem expulsas de casa ou não aguentarem a discriminação no âmbito escolar,
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