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Capítulo 6. Gravidez Ectópica Relatores Docente: Prof. Kleber Pimentel Preceptores: Dra. Luanda Sakaguchi; Dr. Ronald Paulo; Dr. Agnaldo Viana. Validado em 05 de janeiro de 2017. 1. Conceito Toda gravidez com implantação e desenvolvimento fora da cavidade endometrial. Contextualização: 1.1.1. Incidência: 1-2% das gestações e 10-15% das mortes maternas no 1º trimestre 1.1.2. Fatores de risco: Cirurgias Tubárias prévias (odds ratio OR de 21); GE prévia (OR de 8,3); Doença inflamatória prévia - DIP (OR de 3,4); Uso de Dispositivo Intra-uterino (OR de 5,0); Idade >35 a 39anos (OR de 1,4), ≥40 (OR de 2,9); Fumante ≥ 20 cigarros por dia (OR de 3,9); Técnicas de reprodução assistida (02 a 10% dos casos), Endometriose. 1.1.3. Localização pode ser: Trompa (95-96%), ovário (3%), abdominal (1%), cicatriz de cesárea (<1%) ou cervical (<1%). II. Objetivos Assistenciais: Diagnóstico precoce para evitar complicações e permitir a escolha do tipo de tratamento Diretrizes para a escolha do tipo de tratamento Orientações para o tratamento de complicações III. Recursos Essenciais: Laboratório para: Beta HCG quantitativo, hemograma, TGO, TGP, tempo de protrombina, uréia, creatinina, sumário de urina; Ultrassonografia; Equipe médica e de enfermagem; Medicação: Metotrexato; Centro Cirúrgico com instrumental cirúrgico e anestésico; Acesso a sangue e hemoderivados; Se possível, acesso a hematologista para consulta sobre o tipo de reposição a ser realizada. IV. Quadro Clínico: o GRAVIDEZ ECTÓPICA ÍNTEGRA Atraso menstrual (nem sempre presente); Dor em baixo ventre (geralmente unilateral e progressiva); Sangramento genital discreto e escuro-acastanhado (pode estar ausente); Útero amolecido ao toque; Volume uterino menor que o esperado para o tempo de amenorréia; Presença de massa anexial dolorosa à palpação. o GRAVIDEZ ECTÓPICA ROTA Atraso menstrual (nem sempre presente); Geralmente útero menor que o esperado para o tempo de amenorréia; Dor abdominal intensa, súbita (inicialmente em baixo ventre); Escapulalgia - dor irradiada para ombro (irritação do nervo frênico): Sinal de Lafond; Instabilidade hemodinâmica, hipotensão, taquicardia em ortostase e choque hipovolêmico; Palpação abdominal dolorosa com reação abdominal; Dor aguda ao toque do fundo de saco de Douglas - sinal de Proust; Equimose periumbilical (sinal de Cullen). OBS: As manifestações clínicas surgem tipicamente entre 6 e 8 semanas após o último período menstrual normal, mas podem ocorrer mais tardiamente se a gravidez estiver fora da trompa. Os sintomas da gravidez inicial normal também estão presentes: aumento da sensibilidade mamária, náuseas e polaciúria. V. Conduta: Tabela 1- Opções Terapêuticas para Gestação Ectópica. Cirurgia Metotrexato Expectante Indicação Sinais de ruptura BHCG > 5000 Laparoscopia Diagnostica Suspeita de Heterotópica Sem ruptura BHCG < 5000 Saco gestacional > 3,5 cm Hemograma normal, função hepática normal e perfil renal normal (Beta hCG quantitativo, hemograma, TGO, TGP, tempo de protrombina, uréia, creatinina, sumário, hemograma completo) Sem ruptura BHCG < 1000 BHCG em queda em 48h Paciente esclarecida sobre tratamento (tto) e tempo de tto Paciente esclarecida sobre tratamento (tto) e tempo do mesmo Procedimento Salpingostomia – conservador Salpingectomia – sangramento, tuba muito danificada, GE recorrente Laparotomia – hemodinâmica instável Dose única de MTX: 50mg/m² IM. Repetir a dose se BHCG não diminuir 15% entre o Dia 1 e o Dia7. Maximo de 3 doses Confirmar com a paciente a acessibilidade a emergência e explicar as possíveis evoluções e complicações Repetir BHCG e USGTV em 48h Acompanhamento BHCG semanal Sem atividade sexual até resolução MTX 50mg/m² se GE persistente (seguindo o acompanhamento do metrotexato) BHCG semanal Sem atividade sexual até resolução Gestação após 4 a 6 meses do tto Paciente internada pelo menos até o Dia 8 BHCG semanal Sem atividade sexual até resolução Tabela 2 - Taxa de sucesso do Metotrexato (MTX) baseado no nível de β-hCG β-Hcg Sucesso % < 1000 UI/L 88 1000 a 2000 UI/L 71 >2000 a 3000 UI/L 59 > 3000 a 4000 UI/L 50 > 4000 UI/L 42 Dados retirados de Sagiv R, Debby A, Feit H, Cohen-Sacher B, Keidar R, Golan A. The optimal cutoff serum level of human chorionic gonadotropin for efficacy of methotrexate treatment in women with extrauterine pregnancy. Int J Gynaecol Obstet. 2012;116(2):101-104. 7. Gestação ectópica intersticial ou cervical. Conduta específica: Esquema de múltiplas doses: 1mg/kg por dia IM ou EV nos dias 1,3,5 e 7. Associado a uso por via oral de Leucovorin 0,1mg/kg nos dias 2,4,6 e 8. Dosagem de β-hCG nos dias 1,3,5 e 7. Se os níveis de β-hCG caírem mais de 15% da medida anterior deve-se interromper o tratamento. Deve-se manter seguimento semanal do β-hCG até que permaneça indetectável. Em caso de queda < 15% da última dosagem deve-se repetir dose de MTX 1mg/kg e no dia seguinte nova dose de Leucovorin. Mesma eficácia que o de dose única, porém com mais efeitos colaterais. 8. Observações importantes: o Contra-indicações ao MTX: - Amamentação - Imunodeficiência - Discrasia sanguínea, coagulopatias - Doença pulmonar em atividade - Hepatopatias - Úlcera péptica - Disfunção renal - Hipersensibilidade à droga - Gestação heterotópica - Sem condições para seguimento - o Efeitos Colaterais do MTX: - Náuseas, vômitos, diarréia, estomatite e aumento transitório das transaminases. - Raros: supressão medular, hepatotoxicidade, fibrose pulmonar, alopecia reversível - 60% pode aumentar dor abdominal transitoriamente (realizar analgesia profilática). - 30% terão sintomas colaterais no esquema de dose única. o Durante o tratamento com MTX evitar: Toques vaginais (risco de rotura) Relações sexuais Exposição ao sol (risco de dermatite pelo MTX) Alimentos e vitaminas contendo ácido fólico Antiinflamatórios não esteroidais (AINEs), pelo risco de anemia aplástica e toxicidade gastrointestinal quando associados ao MTX. o Dicas: É comum persistência de dor leve a moderada e de curta duração após uso de MTX (6 a 7 dias após). A dor pode ser causada tanto pelo aborto tubário quanto pela distensão por formação de hematoma e pode ser controlada com paracetamol. Em caso de dor severa repetir USG transvaginal para afastar gestação ectópica rota. Não existe benefício em seriar USG transvaginal após uso de MTX. Após tratamento pode-se notar aumento do tamanho da massa que pode persistir por semanas. Isso possivelmente acontece por formação de hematoma e não é um preditor de falha terapêutica. Administrar imunoglobulina anti-Rh para as pacientes Rh negativos. Referências Bibliográficas: 1.Barash JH, Buchanan EM, Hillson C. Diagnosis and management of ectopic pregnancy. Am Fam Physician. 2014;90(1):34–40. 2.MMWR. Ectopic pregnancy–United States, 1990-1992. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). MMWR Morb Mortal Wkly Rep 1995;44:46-8. 3.Sagiv R, Debby A, Feit H, Cohen-Sacher B, Keidar R, Golan A. The optimal cutoff serum level of human chorionic gonadotropin for efficacy of methotrexate treatment in women with extrauterine pregnancy. Int J Gynaecol Obstet. 2012;116(2):101-104. 4.Zugaib (2015). Obstetrícia (3ª edição). Editora Manole: Barueri, SP. Capítulo 30: Gestação Ectópica; 583-600. 5.Farquhar CM. Ectopic pregnancy. Lancet. 2005. p. 583–91. 6.Barnhart KT. Ectopic Pregnancy. N Engl J Med [Internet]. 2009;361(4):379–87. Availablefrom: http://www.nejm.org/doi/abs/10.1056/NEJMcp0810384\npapers2://publication/doi/10.1056/NEJ Mcp0810384 7.Gurel S. Ectopic Pregnancy. Ultrasound Clinics. 2008. p. 331–43. CRAIG LB, KHAN S. Expectant Management of Ectopic Pregnancy. Clinical Obstetrics and Gynecology. 2012. p. 461–70. 8.Brito MB e cols. Tratamento clínico da gravidez ectópica com metotrexato. Femina Jan 2009. Vol 37. Número 1. 9.Montenegro e cols. Gravidez Ectópica. Rezende obstetrícia. 12 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2013. P. 309-401. 10.UpToDate. Tulandi et al. Ectopic pregnancy: clinical manifestations and diagnosis. Acesso em Abril de 2016. 11.UpToDate. Tulandi et al. Ectopic pregnancy: surgical treatment. Acesso em Abril de 2016. 12.UpToDate. Tulandi et al. Ectopic pregnancy: Choosing a treatment and methotrexate theraphy. Acesso em Abril de 2016. http://www.nejm.org/doi/abs/10.1056/NEJMcp0810384/npapers2:/publication/doi/10.1056/NEJMcp0810384 http://www.nejm.org/doi/abs/10.1056/NEJMcp0810384/npapers2:/publication/doi/10.1056/NEJMcp0810384 ANEXO 1. Algoritmo para Diagnóstico de Gestação Ectópica Suspeita de gestação ectópica HCG + USG sem gestação tópica USG indeterminado Saco gestacional ectópico com embrião com atividade cardíaca ou Anel tubário ou Massa anexial complexa Gestação Ectópica BHCG quantitativo ≤ 2000 mUI/mL > 2000 mUI/mL BHCG e USG/48h BHCG inferior a 66% sem saco gestacional tópico Retirado de Zugaib, 2008
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