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Processo Civil 2

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Processo de conhecimento e procedimento comum
Introdução
A jurisdição é uma função estatal e deverá ser exercida pelo juiz observando a natureza da pretensão formulada pelo autor em juízo. É a partir do processo de conhecimento que o juiz poderá concluir que o autor tem razão, e julgará procedente o pedido, ou, se concluir o contrário, julgará improcedente o pedido.
Processo de conhecimento. Conceito e natureza jurídica 
O processo judicial é um método de solução de conflito através do qual o Estado exerce sua função jurisdicional. O Código de Processo Civil de 2015 avançou ao reconhecer expressamente a arbitragem como uma forma não estatal de solução de conflito ampliando o próprio conceito de processo (art. 3º, §1º). Assim, pode-se compreender o processo como um método, estatal ou não, de solução de conflitos caracterizado pela relação jurídica estabelecida entre um órgão julgador e pelas partes.
A tutela dos direitos (MARINONI, 2015) é desenvolvida pelo Estado por meio do processo de conhecimento, que tem como principal objetivo eliminar a incerteza acerca de determinada questão jurídica, definindo, no caso concreto, quem tem direito a ser tutelado. O processo de conhecimento se desenvolve em pelo menos duas fases, em que prevalecem 
1) atos de cognição, onde o juiz aprecia as alegações e provas produzidas pelas partes, e
2) atos executivos com a finalidade de se obter o cumprimento do que foi determinado na sentença.
O código também trata do processo de execução (art. 771 e ss), onde a principal atividade do juiz é determinar a prática de atos executivos que concretizem a obrigação fixada em um documento considerado pela lei como um título executivo extrajudicial (art. 784).
O termo processo é muito utilizado tanto no âmbito do direito processual como em outras áreas do direito. A principal característica do processo judicial decorre de sua condução, por um juiz, agente político do Estado, das etapas processuais com estrita observância da legislação. Além do julgamento por um juiz, o processo judicial deve, mais que qualquer outro, assegurar o contraditório e a ampla defesa enquanto garantias constitucionais, ratificadas nas normas fundamentais do Código de Processo Civil, através do qual as partes participam efetivamente na construção da decisão judicial.
Processo= É o conjunto de atos que se devolvem regulamente para compor a lide;
Procedimento = É a forma, maneira como os atos se desenvolvem;
Procedimento. Conceito e classificações
Um processo consiste numa relação jurídica processual que se materializa a partir de um procedimento. Este último é, portanto, um conjunto de atos processuais que se entrelaçam em cada etapa do processo até a decisão final da causa. Há procedimentos com mais atos processuais e, portanto, mais longo; e também procedimentos mais céleres, com atos processuais mais concentrados. Assim, um mandado de segurança, por tutelar direito líquido e certo, não admite produção de provas e requer um procedimento mais célere, considerando a natureza do direito tutelado. Por outro lado, uma ação de investigação de paternidade, que tem como um dos principais meios de prova o exame de DNA, terá um procedimento mais extenso, com provas técnicas, para se identificar corretamente a paternidade.
Por esse motivo, o Código de Processo Civil dispôs sobre dois tipos de procedimento: comum e especiais. Diferentemente do CPC/1973, o CPC/2015 eliminou a subdivisão do procedimento comum sumário e ordinário, e estabeleceu um procedimento comum e os procedimentos especiais. Conforme dispõe o art. 318 do Código de Processo Civil, o procedimento comum é aplicável em todas as causas, constituindo-se num procedimento padrão.
Há casos em que o legislador, observando as peculiaridades do direito deduzido em juízo, estabeleceu procedimentos especiais com a finalidade de garantir o julgamento mais adequado de determinadas causas. Nesses casos, o procedimento se adapta ao direito material atendendo as suas necessidades para alcançar a efetiva e tempestiva tutela jurisdicional.
Os procedimentos especiais estão elencados entre os arts. 539 e 770 do Código de Processo Civil. Os procedimentos especiais têm regras próprias acerca da realização dos atos processuais. No entanto, as disposições do procedimento comum são aplicáveis subsidiariamente aos procedimentos especiais quando couber.
Uma observação se faz necessária. Procedimento é matéria de ordem pública, ou seja, não pode ser objeto de escolha pelas partes. Dessa forma, o procedimento pertinente será definido por exclusão: se a causa a ser ajuizada tiver procedimento especial tipificado no CPC, o autor deverá observá-lo; mas, se não tiver procedimento específico, a causa tramitará pelo procedimento comum, que é a regra geral.
Procedimento comum. Disposições gerais
O procedimento comum é concentrado e possui atos processuais simplificados. A proposta do código foi estabelecer um procedimento padrão mais célere com maior concentração das etapas do processo. Assim, o procedimento, em primeira instância, se inicia com o recebimento da petição inicial pelo juiz e se exaure com a prolatação da sentença de mérito (princípio da primazia do mérito, art. 4º), através da qual o exercício da jurisdição em primeiro grau se esgota.
A petição inicial dá início ao procedimento comum. Após o seu recebimento, o réu é citado, para ter ciência do processo, e intimado para comparecer à audiência preliminar de conciliação ou sessão de mediação1. Caso haja acordo, o juiz homologará o mesmo por sentença e o processo será extinto, com resolução do mérito, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC. Nos casos em que não houver acordo, o prazo para a resposta do réu se iniciará (art. 335). Apresentada a contestação pelo réu, o juiz intimará o autor a se manifestar em réplica. Do ponto de vista técnico, a réplica somente ocorrerá nos casos em que o réu apresente uma defesa processual (art. 351) ou fatos novos (art. 350). Porém, na praxe forense, após a juntada da defesa do réu, o autor é intimado para se manifestar, independentemente da defesa apontada pelo réu. 
Estabelecido o contraditório, o processo avançará para etapa saneadora. Nessa fase, o juiz realizará, conforme o caso, atividades no sentido de preparar o processo para a fase instrutória, onde prevalece atos probatórios. O magistrado encaminhará as providências preliminares necessárias. Se o réu não apresentou contestação, o juiz decretará a revelia, se for a hipótese. Poderá extinguir o processo, sem resolução do mérito, se verificar, desde logo, que ocorreu uma das hipóteses do art. 485 do CPC. Também poderá fazer isso com resolução do mérito nas hipóteses de reconhecimento da prescrição e decadência (art. 487, II) ou nos casos em que há acordo (art. 487, III). Poderá o juiz, além disso, julgar antecipadamente o mérito nos casos em que não houver necessidade de produção de provas ou nos quais a questão tratada seja exclusivamente de direito (art. 355, I) ou, ainda, nos casos em que a revelia aplicada ao réu enseje os efeitos do art. 344.
O juiz poderá, inclusive, julgar antecipadamente parte do mérito deduzido em juízo. Assim, nos casos em que o autor formula mais de um pedido e um deles restar incontroverso ou pronto para julgamento, o juiz poderá dar uma sentença parcial, resolvendo parte da demanda antecipadamente (art. 356). 
Não sendo a hipótese de nenhuma das providências preliminares descritas acima, o juiz organizará o saneamento do processo (art. 357), isto é, verificar a existência de vícios processuais que possam inviabilizar o julgamento do mérito. Uma vez realizado, o processo avança para a fase probatória. A prova documental, em regra, é produzida no momento do ajuizamento da demanda ou da apresentação da defesa. Nessa fase, o juiz conduzirá a produção da prova pericial, documental superveniente ou prova oral. 
A audiência de instrução e julgamento, enquanto ato processual, somente será realizada nas circunstâncias em que haja necessidade de produção de prova oral (testemunhas e depoimento pessoal) ou noscasos em que haja necessidade de se obter esclarecimentos do perito (art. 477, §3º). Se não ocorrer nenhuma dessas hipóteses, a audiência não será designada e o juiz julgará desde logo a causa. 
Finda a audiência e observado o contraditório, o juiz proferirá sentença, esgotando suas atividades no primeiro grau de jurisdição. Essas são as disposições gerais do procedimento comum, que pode sofrer variações quando o juiz adaptar o procedimento (art. 139, VI) ou quando as próprias partes realizarem negócio processual (art. 191).
Adaptação procedimental
O Código de Processo Civil estabeleceu como regra geral um procedimento padrão, denominado procedimento comum. Se a demanda a ser ajuizada pelo autor não tiver procedimento especial definido, tramitará observando as regras do procedimento comum mencionadas anteriormente. No entanto, mesmo nos casos em que a demanda estiver tramitando pelo procedimento comum, estabelecido como regra geral, o juiz poderá, observando as peculiaridades da causa, adaptar o procedimento para dilatar prazos, alterando a ordem da produção de provas com o objetivo de dar maior efetividade ao direito tutelado (art. 139, VI). Essa regra, que trata do princípio da adaptabilidade procedimental, permite ao juiz adequar o procedimento de acordo com a necessidade do direito discutido em juízo dando maior efetividade ao processo. Para compreender melhor esse princípio, basta pensar em uma determinada demanda, em que o autor, por exemplo, pretende obter a declaração de nulidade de cláusula contratual de um plano de saúde. Diante da necessidade de um tratamento médico específico, o juiz reduz os prazos processuais e antecipa a produção de algumas provas para tutelar melhor os interesses do consumidor em juízo. Assim, embora o código estabeleça um único procedimento, o art. 139, VI, permite ao juiz, de ofício ou provocado pelas partes, adaptar o procedimento de acordo com as necessidades da causa. Essa regra de flexibilização do procedimento se reflete em diversos atos do processo e permite ao juiz, no entendimento de Luís Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini (2015, p. 282), observar o princípio da efetividade e da duração razoável do processo para dar à atividade judicial maior aproveitamento possível.
Negócio processual 
Além da adaptação do procedimento, o Código de Processo Civil admite a realização de um negócio processual entre as partes, de modo a alterar a ordem dos atos do procedimento comum ou até mesmo excluir alguns, para que o processo tramite observando os atos processuais previamente definidos pelas partes, conforme disposto no art. 190. Trata-se de regra inovadora e sem precedentes em nossa cultura processual, mas que pode contribuir muito para o bom funcionamento da administração da Justiça.
O negócio processual poderá ser realizado somente por pessoas capazes e versar sobre direitos que admitam autocomposição. Para evitar desiquilíbrio entre as partes e impedir que uma delas fique vulnerável, se faz necessário que ambas as partes estejam acompanhadas de seu advogado (Enunciado nº 18 do FPPC). Essa interpretação está de acordo com o princípio da isonomia processual (art. 7º do CPC). Ainda no que diz respeito aos aspectos subjetivos do negócio processual, se faz premente se posicionar em relação à possibilidade de o negócio processual envolver a parte processual que não participou do ato. Imagine a hipótese em que A ajuizou ação em face de B e C, e, após a citação, A e B realizaram um negócio processual para reduzir todos os prazos processuais. Esse negócio processual vinculará C, que não participou? Nesse caso, o negócio processual somente será válido se tiver a anuência de C. (Essa interpretação foi levada a efeito pelo Enunciado nº 402 do FPPC.)
O negócio processual constitui, portanto, importante inovação, que permite ao autor e ao réu decidirem sobre diversos aspectos do procedimento comum, como: pacto de impenhorabilidade; acordo de ampliação de prazos das partes de qualquer natureza; acordo de rateio de despesas processuais; dispensa consensual de assistente técnico; acordo para retirar o efeito suspensivo de recurso; acordo para não promover execução provisória; pacto de mediação ou conciliação extrajudicial prévia obrigatória, inclusive com a correlata previsão de exclusão da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de exclusão contratual da audiência de conciliação ou de mediação prevista no art. 334; pacto de disponibilização prévia de documentação (pacto de disclosure), inclusive com estipulação de sanção negocial, sem prejuízo de medidas coercitivas, mandamentais, sub-rogatórias ou indutivas; previsão de meios alternativos de comunicação as partes entre si; acordo de produção antecipada de prova; escolha consensual de depositário-administrador no caso do art. 866; convenção que permita a presença da parte contrária no decorrer da colheita de depoimento pessoal; acordo para a realização de sustentação oral; acordo para ampliação do tempo de sustentação oral; julgamento antecipado do mérito convencional; convenção sobre prova; redução de prazos processuais (Enunciados nº 19 e 21 do FPPC).
É similar a um self-service procedimental. As partes definem em comum acordo como seguirão os atos processuais, podendo excluir a prática de determinados prazos e reduzir ou ampliar prazos processuais. Ao juiz caberá somente homologar o negócio processual, assegurando que as garantias processuais constitucionais sejam preservadas3. Contudo, não se admite a realização do negócio processual sobre questões de ordem pública ou criação/extinção de recursos. Também não se admite negócio processual sobre os seguintes assuntos: acordo para modificação da competência absoluta; acordo para supressão da primeira instância; acordo para afastar motivos de impedimento do juiz; acordo para criação de novas espécies recursais; acordo para ampliação das hipóteses de cabimento de recursos (Enunciado nº 20 do FPPC).
Embora o art. 190 limite a realização do negócio processual nas hipóteses de direitos disponíveis, essencialmente patrimoniais, o FPPC editou enunciado favorável à interpretação no sentido de que a indisponibilidade do direito não impede a celebração de negócio processual (Enunciado nº 135 do FPPC). Assim, embora o código o tenha estipulado, o procedimento comum padrão comporta flexibilização tanto pelo juiz (art. 139, VI) como também pelas próprias partes através do negócio processual.
Espécies de negócio processual
O negócio processual poderá ser típico e atípico. O código, em seus dispositivos legais, regulamenta alguns negócios processuais em temas específicos, como suspensão do processo (art. 313, II); saneamento e organização do processo (art. 357, §2º); distribuição dinâmica do ônus da prova (art. 373, §3º); entre outros. Esses negócios processuais previamente estabelecidos pelo código são denominados típicos. Entretanto, as partes também podem realizar negócios processuais que não tenham sido previstos pelo código, utilizando, para tanto, a regra do art. 190. São os denominados negócios processuais atípicos. Portanto, as partes têm à sua disposição duas modalidades de negócio processual. Muito embora o negócio processual não esteja no bojo de nossa cultura jurídica processual, espera-se que os profi ssionais do direito assimilem bem essa regra para que se possa aprimorar a administração da Justiça no Brasil. A figura a seguir ilustra as hipóteses de negócio processual elencados no código.
Calendário processual
 O art. 191 do CPC autoriza o juiz e as partes a fixarem um calendário para a prática de atos processuais. Calendarização significa a definição de prazos processuais e também a fixação do termo inicial e final desses mesmos prazos, dispensando a publicação no diário oficial. Pode ser realizada a partir de negócio processual ou em comum acordo entre as partes, mesmo no âmbito do procedimento comum. Uma vez fi xado o calendário para a prática dos atos processuais, as partes fi - cam a ele vinculadas, não se admitindo modifi cação sem prévia justificativa (art. 191, §1º do CPC). Essa inovação processual trazida pelo CPC/2015 contraria a cultura processual brasileira, pois dispensa a intimação das partes para os atos previstos na calendarização (art. 191, §2º do CPC). Trata-se de interessante forma de administração do tempo do processo pelas partes que, se utilizada de fato, pelo Poder Judiciário e pelos advogados, muito contribuirá para a celeridade processual, pois eliminará o chamado tempo morto do processo, ou seja, o tempo, às vezes infindável, que o processo (físico ou eletrônico) permanece à espera da publicação.
Improcedência liminar do pedido 
A petição inicial, como instrumento da demanda traz, em regra, um conflito de interesses para ser solucionado pelo Estado. Toda a atividade judicial se desenvolve para que o juiz, após um amplo contraditório, julgue a causa em favor ou não do autor, eliminando a incerteza sobre determinada questão jurídica. É nesse contexto que a petição inicial se constitui como um importante tema no processo civil. 
O juiz, ao receber a petição inicial, pode encaminhar pelo menos três atitudes: 
1) admitir a inicial e determinar a citação/intimação; 
2) determinar a emenda da petição inicial nos casos em que não foi formulada adequadamente pelo autor; e, 
3) por fim, o juiz poderá, mesmo antes de citar o réu, julgar improcedente liminarmente a petição inicial.
Trata-se de julgamento de mérito, logo no início do processo e sem a citação do réu, nas hipóteses elencadas no art. 332 do Código de Processo Civil. A primeira hipótese cuida da improcedência liminar da inicial quando a pretensão do autor contrariar enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça. Por exemplo, a Súmula nº 585 do STJ diz que dívidas relativas ao IPVA ocorridas após a venda do veículo não obrigam, solidariamente, o vendedor. Assim, se A vende o carro para B em 2015 e o comprador não paga o imposto referente aos anos de 2016 e 2017, A não poderá ser cobrado pelo IPVA devido após a venda. Se alguma ação for ajuizada contra A cobrando os impostos devidos de 2016 e 2017, o magistrado poderá, liminarmente, julgar improcedente a demanda sem ao menos citar o réu.
A hipótese do art. 332, II, é mais ampla, pois permite a improcedência liminar nos casos em que a pretensão autoral for contrária a acórdãos do STF e do STJ. Em tese, quaisquer decisões colegiadas desses tribunais superiores autorizam o juiz de primeiro grau a aplicar a sentença liminar. 
As hipóteses do art. 332, III e IV, cuidam da improcedência liminar nos casos em que a pretensão autoral contrariar precedentes judiciais dos tribunais de justiça dos estados ou tribunais regionais federais, editados a partir do julgamento dos incidentes de resolução de demandas repetitivas, incidente de assunção de competência e nas súmulas referentes a direito local.
Essa forma de julgamento liminar não é nova. Surgiu no processo civil brasileiro através da sentença liminar disposta no art. 285-A do CPC/734. O Código de Processo Civil de 2015 ampliou as hipóteses de incidência da improcedência liminar, autorizando o juiz a julgar liminarmente as pretensões contrárias aos entendimentos dos tribunais superiores. O principal objetivo do legislador é garantir mais segurança jurídica através do fortalecimento do sistema de precedentes judiciais disposto no CPC/2015. Julgado improcedente liminarmente o pedido, a parte autora poderá interpor recurso de apelação (art. 1.009), ocasião em que o juiz poderá se retratar de sua decisão no prazo de 5 dias (art. 332, §3º). Nesse caso, o juiz determinará o prosseguimento do processo com a regular citação do réu. Entretanto, caso o juiz não exerça o juízo de retratação, deverá citar o réu para que este possa apresentar suas contrarrazões ao recurso interposto.
Audiência de conciliação e mediação 
Um processo judicial, em regra, tem como principal característica um conflito de interesses. Por esse motivo, alguns autores conceituavam o processo como uma guerra institucionalizada, onde vence a parte que mais bem utilizou as “armas” processuais. Essa percepção do processo, como uma estratégia processual, contribuiu para a formação de profissionais do direito voltados mais para o litígio do que para a solução consensual do litígio. Imagine a hipótese em que um casal que ainda se ama por algum mal-entendido pretende se divorciar. Nesse caso, independentemente do que o juiz decidir num litígio sobre divórcio, o conflito social ainda permanecerá entre o casal, que continuará em conflito sobre a guarda, a visitação do filho, partilha de bens ou qualquer outra questão que lhe diga respeito. Significa dizer que, em alguns casos, uma sentença judicial pode resolver um conflito jurídico, mas não resolverá um conflito social. O conflito permanecerá mesmo após a decisão judicial, acarretando inúmeros recursos ou novas ações, perpetuando determinado conflito social. Buscando superar essa cultura litigante, o Código de Processo Civil de 2015 estabeleceu, como etapa anterior ao contraditório, a audiência de conciliação ou mediação. A proposta do legislador é permitir que as partes compareçam a uma audiência de conciliação ou sessão de mediação antes mesmo de o réu apresentar sua defesa.
O art. 334 do CPC diz que o réu será citado e intimado a comparecer à audiência de conciliação ou mediação. Uma primeira questão se coloca: essa audiência é obrigatória? Pela leitura do art. 334, §4º, a audiência de conciliação ou mediação somente não ocorrerá se tanto o autor como o réu manifestarem expressamente o desinteresse em sua realização. Se apenas uma das partes se manifestar em sentido contrário à realização, ainda assim o procedimento ocorrerá. Caso o autor não tenha interesse na realização da audiência, deverá se manifestar expressamente na petição inicial. Se o autor elaborar sua petição inicial e não se manifestar expressamente acerca de seu interesse na realização do ato, o juiz concluirá em sentido positivo. O réu tem o prazo de até 10 dias, antes da audiência designada, para se manifestar. O silêncio de ambas as partes acarretará manutenção da audiência designada e a ausência ensejará a aplicação de multa de 2% do valor da causa em favor do Estado.
Pensemos na seguinte hipótese. O autor ingressa com uma ação indenizatória em face do réu. Na petição inicial, o autor não se manifesta expressamente sobre a realização da audiência e o réu se manifesta em sentido contrário à sua realização. Ao interpretarmos o art. 334, §4º, I, do CPC, concluímos que a audiência de conciliação ou mediação será designada normalmente e a parte que faltar, injustificadamente, será penalizada com multa de 2% sobre o valor pretendido pelo autor ou do valor da causa, que será revertida em favor da União ou do Estado (art. 334, §8º do CPC).
Nos casos em que houver litisconsortes, somente será dispensada a audiência de mediação se todos manifestarem expressamente seu desinteresse. Se um autor ajuizou uma ação contra quatro réus, todos, além do próprio autor, devem se manifestar em sentido contrário à realização da audiência, pois, se assim não for, o juiz designará a audiência e as partes que faltarem sem a devida justificativa serão penalizadas com multa já referida aqui.
Essa obrigatoriedade contribui para fragilizar, em alguma medida, o conceito de solução consensual de conflitos, pois nos casos em que uma das partes não mais suporta ouvir a voz da outra esse ato processual não obterá resultado positivo algum.
O art. 334, §4º, II, dispõe que a audiência de conciliação/ mediação também não será realizada se o direito controvertido não admitir autocomposição. São raras as hipóteses em que não se admite autocomposição. Um exemplo dessas hipóteses diz respeito às ações contra a Fazenda Pública. Em tese, o interesse público discutido em juízo impede que a advocacia pública transija sobre os interesses públicos. No entanto, a Lei nº 13.140/2015 dispõe sobre autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública, ampliando as possibilidades de solução consensual em relaçãoà Fazenda Pública. Assim, a impossibilidade de realização da audiência de conciliação/mediação tem seu alcance reduzido na praxe forense.
Faz-se necessário, ainda, diferenciar as hipóteses em que haverá audiência de conciliação das que terão sessões de mediação. O Código de Processo Civil não é claro nesse aspecto. No entanto, sua interpretação sistemática sugere um entendimento razoável sobre o tema. Segundo o art. 165, §2º, a conciliação será indicada para os casos em que não existir vínculo anterior entre as partes. Já a mediação será indicada nos casos em que houver um vínculo anterior entre as partes. As partes devem comparecer acompanhadas de advogado ou defensor público (art. 334, §9º do CPC). Essa regra tem como escopo garantir que nenhuma parte fique vulnerável na provável elaboração do acordo. Nesse sentido, a parte poderá constituir representante com poderes específicos para negociar e transigir (art. 334, §10 do CPC).
O código valoriza a conciliação e mediação como formas consensuais de solução de conflito (art. 3º, §§2º e 3º do CPC). Por esse motivo, o código estabeleceu como etapa preliminar do procedimento comum com claro objetivo de aprimorar a prestação da tutela jurisdicional pela autocomposição. Além da audiência de conciliação e mediação, prevista no art. 334 do CPC, o ordenamento processual estabelece que a mediação é obrigatória nas ações de família (arts. 694 a 697 do CPC), somente tramitando pelo procedimento comum nos casos em que, após diversas tentativas, não for possível obter o acordo. Tais dispositivos legais evidenciam a importância que esses meios de solução de conflito ganharam no CPC/2015. Por fim, a audiência de conciliação e mediação poderá ser realizada por meio eletrônico. Embora essa técnica ainda não tenha plena aplicabilidade em todo o país, dúvida não há quanto a seu potencial para dinamizar a solução consensual de conflitos no Brasil.
Conclusão: O principal objetivo do capítulo foi abordar os principais atos processuais do procedimento comum na fase postulatória. Assim, estudamos o processo de conhecimento, sua natureza jurídica e as principais características dos procedimentos comum e especial. Além da regra geral sobre o procedimento comum, abordamos as espécies de negócio processual e sua importância no que tange ao protagonismo das partes na construção do procedimento através do qual a demanda será julgada. O negócio processual atípico, pela sua amplitude, pode abordar uma ampla gama de atos processuais. Por sua vez, o negócio processual típico são os negócios previstos em diversos dispositivos legais do código e permitem que as partes ajustem o procedimento às peculiaridades da demanda ajuizada. O estudo das hipóteses de improcedência liminar do pedido, como forma de julgamento célere de demandas repetitivas ou fortalecimento de precedentes judiciais dos tribunais, foi ampliada no CPC/2015. Sua compreensão permitirá maior dinamismo no julgamento de questões idênticas, assegurando a ampla defesa e o contraditório. Por fim, a análise da audiência de conciliação e mediação demonstrou que, se for bem assimilada pela comunidade jurídica e pelos cidadãos, contribuirá para a construção de um sistema processual em que as partes participem ativamente da solução de seu conflito, atuando de forma ativa na formação da decisão.
Da resposta do réu 
Introdução 
A Constituição Federal de 1988 (art. 5º, LV) assegura a todos os litigantes o contraditório e a ampla defesa no processo judicial ou administrativo. No processo civil, o contraditório e a ampla defesa são exercidos através da resposta do réu. Por essa razão, compreender as modalidades de resposta do réu e seus desdobramentos no processo civil é fundamental para entender o alcance das normas fundamentais do CPC/2015. Assim, neste capítulo, abordaremos a contestação, principal forma de defesa do réu, a revelia e a reconvenção, meio processual próprio para que o réu demande contra o autor no processo por ele mesmo ajuizado. A parcialidade do juiz deve ser impugnada pela parte interessada através de exceção de impedimento e suspeição. Compreender a finalidade desse incidente processual bem como seu procedimento é de grande relevância para o controle da imparcialidade e da aplicação do princípio do juiz natural no processo civil brasileiro. Por fim, o estudo da preclusão e seus desdobramentos no processo encerram o capítulo. Agora, estudaremos, portanto, todas as possíveis defesas do réu e suas respectivas consequências processuais.
Respostas do réu: Conceito. Princípios constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis 
O processo se inicia com a distribuição da petição inicial. Embora o réu ainda não figure na relação processual, não há dúvidas acerca da existência do processo. Entretanto, a citação (art. 238) convocará o réu ou o interessado para integrar a relação processual. Após o ato citatório, o réu terá ciência da existência de um processo contra si e poderá, se assim quiser, apresentar sua resposta ao pedido formulado pelo autor. O termo resposta do réu, na verdade, é um gênero que contempla algumas espécies de possíveis manifestações do réu em sua defesa.
O réu, após o esgotamento das possibilidades de conciliação/mediação, pode apresentar contestação, reconvenção ou até mesmo arguir a parcialidade do juiz através de exceção de impedimento ou suspeição. A apresentação poderá ser em conjunto ou individualmente, de acordo com o tipo de defesa que o réu tenha em mente. Poderá, também, o réu reconhecer o pedido formulado pelo autor, permitindo o julgamento imediato da lide. A resposta do réu tem grande importância no procedimento comum, pois assegura o exercício pleno do contraditório e da ampla defesa.
A Constituição Federal de 1988 assegura aos litigantes, em geral, o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), permitindo que as partes e, principalmente, os réus exerçam sua defesa de forma plena e com amplo contraditório. No processo civil, a resposta do réu é o instrumento que assegura o pleno exercício dessas garantias constitucionais processuais. O juiz, ao inviabilizar o exercício do contraditório pelas partes, estará violando, diretamente, o texto constitucional. O Código de Processo Civil, em sua perspectiva constitucionalizada, incluiu o princípio do contraditório e da ampla defesa no rol das normas fundamentais do processo civil (arts. 1º ao 12), reforçando, na legislação infraconstitucional, a importância dessas garantias constitucionais processuais. O art. 7º assegura às partes o acesso a todos os meios de defesa, devendo o juiz “zelar pelo efetivo contraditório”. O art. 9º, por sua vez, determina que não se pode proferir decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. O art. 10 dispõe que o juiz não pode decidir, em nenhum grau, com base em fundamento que não tenha dado às partes a oportunidade de se manifestar, mesmo nos casos que tratem de matéria de ordem pública1. Por fim, o código dispõe, ainda, que, mesmo nos casos de improcedência liminar do pedido, se não houver retratação do juiz, o réu será citado para apresentar contrarrazões ao recurso interposto pelo autor. Esses dispositivos legais infraconstitucionais confirmam a importância da plena aplicação dos princípios do contraditório e da ampla defesa em todas as etapas do processo civil, mas, essencialmente, quando se trata da resposta do réu, por ser este o momento em que aquele que é demandado pode apresentar toda matéria de defesa em relação a pretensão do autor.
Espécies: contestação e reconvenção. Características 
Conforme já foi mencionado, o réu tem à sua disposição algumas espécies de respostas possíveis que podem ser apresentadas em juízo, de acordo com o caso. Antes de abordar cada uma delas em detalhes, é necessário fazer um panorama geral das modalidades de respostas prevista no CPC. A contestação é a principal defesa do réu. Nela o réu deve articular todas as defesas possíveis para negar a pretensão do autor. Já a reconvenção tem como objetivo possibilitar um “contra-ataque” do réu em face do autornas hipóteses previstas em lei. O réu poderá, também, no prazo da resposta, arguir a parcialidade do juiz através de exceção de impedimento ou suspeição. No entanto, se a parcialidade foi verificada após o prazo da resposta, o réu terá o prazo de 15 dias, a contar da ciência do fato, para apresentar a respectiva exceção.
Contestação 
De acordo com o art. 335 do CPC, o réu terá 15 dias para oferecer contestação escrita2. Por se tratar da principal defesa do réu, essa modalidade de resposta requer estudo mais detalhado. O Código de Processo Civil de 2015, ao privilegiar a conciliação ou mediação como a primeira etapa do processo, determina que a contestação somente poderá ser oferecida após a realização frustrada da audiência de conciliação/mediação ou nos casos em que seja cancelada por desinteresse das partes. Tal dispositivo se justifica na medida em que é mais provável que se consiga obter o acordo antes da defesa do réu do que em momento posterior, onde os ânimos estarão mais acirrados.
Na contestação, o réu deverá apresentar todas as possíveis matérias de defesa. Poderá apresentar defesa processual (dilatória e peremptória) e/ou defesa de mérito (direta e indireta). Nas defesas processuais, o réu atacará o processo e não o mérito da demanda. Segundo redação do art. 337, incumbe ao réu alegar antes de discutir o mérito as matérias ali elencadas. Essas defesas devem ser arguidas como preliminares da contestação e definem se o juiz apreciará ou não o mérito da demanda. Por essa razão, devem ser arguidas como preliminar. As defesas processuais podem ser classificadas como dilatórias e peremptórias.
As defesas dilatórias são aquelas que, se acolhidas, retardarão a marcha do processo, mas não provocarão a extinção do processo. São defesas processuais dilatórias: a inexistência ou nulidade de citação (art. 337, I); a incompetência relativa ou absoluta (art. 337, II); a incorreção do valor da causa (art. 337, III); a conexão (art. 337, VIII); e a indevida concessão do benefício da gratuidade de Justiça (art. 337, XIII).
 Já as defesas processuais peremptórias, se acolhidas, acarretarão a extinção do processo sem resolução do mérito. São exemplos de defesas processuais peremptórias: a inépcia da inicial (art. 337, IV); a perempção (art. 337, V); a litispendência (art. 337, VI); a coisa julgada (art. 337, VII); entre outras.
Alguns exemplos podem facilitar a compreensão. Pensemos na hipótese em que o réu alega a incompetência relativa do juízo. A ação deveria ser distribuída no domicílio do réu, por se tratar de direito pessoal (art. 46 do CPC), mas foi ajuizada erroneamente no domicílio do autor. Se o réu, ao oferecer a contestação, alegar, em preliminar, a incompetência relativa do juízo, e se esta defesa for acolhida, o juiz declinará de sua competência para o juízo competente. Nesse caso, o processo não será extinto, mas encaminhado para o juízo competente. Esse trâmite dilatará o tempo do processo, mas não acarretará a sua extinção. O mesmo não acontecerá se o réu alegar como defesa a existência de coisa julgada. Se o juiz reconhecer a existência de coisa julgada prévia, o processo será extinto sem resolução do mérito.
Por sua vez, as defesas de mérito atacam o objeto da pretensão do autor em si e podem ser direta e indireta. Na defesa direta de mérito, o réu nega o fato constitutivo do direito do autor, ou seja, nega que o autor tenha razão em sua pretensão. Se o autor alega que tem direito à uma indenização por negativação indevida, o réu nega, afirmando que a negativação se deu em decorrência do inadimplemento do autor. O autor diz que tem direito à reintegração de posse; o réu nega, afirmando que o autor nunca teve a posse. A principal característica da defesa direta de mérito é a negativa dos fatos e consequências jurídicas apontadas pelo autor na petição inicial. 
As defesas indiretas de mérito têm como característica principal o fato de que o réu reconhece o fato articulado pelo autor em sua petição inicial, mas apresenta um fato novo impeditivo, modificativo ou extintivo do alegado direito do autor. Importante compreender que o réu reconhece o fato alegado pelo autor, mas lhe opõe o novo fato, que não foi ainda apresentado em juízo.
Pensemos num caso em que o autor ajuíza uma ação de cobrança em face do réu. O réu, em sua contestação, reconhece que deve, sim, ao autor, mas já ocorreu a prescrição (fato extintivo). O réu poderia também alegar que já efetuou o pagamento parcial da dívida (fato modificativo) ou que o contrato que ampara a cobrança é nulo (fato impeditivo). Esses exemplos demonstram que o réu, apesar de reconhecer os fatos alegados pelo autor, apresenta em sua defesa um novo fato que fulmina, indiretamente, a pretensão autoral. Como foi demonstrado, o réu poderá apresentar em sua contestação defesas processuais (dilatória e peremptória) e defesas de mérito (direta e indireta). Entretanto, considerando que a contestação é a principal espécie de resposta do réu, este deve apresentar todas as defesas na mesma oportunidade. Trata-se do princípio da eventualidade ou da concentração da defesa (art. 336), que estabelece que o réu deve apresentar toda matéria de defesa na contestação sob pena de preclusão. Se, por algum motivo, o réu deixar de apresentar uma defesa de mérito em seu favor, não mais poderá fazê-lo, em razão da preclusão. Assim, caberá ao réu apresentar suas defesas processuais (dilatórias e peremptórias) em preliminar de contestação e as defesas de mérito (direta e indireta) no capítulo correspondente ao mérito.
Por seu turno, o código permite ao réu deduzir novas alegações após o oferecimento da contestação nas hipóteses do art. 342. Assim, poderá o réu, em fase posterior à oferta da contestação, alegar direito ou fato superveniente; matérias de ordem pública que devem ser reconhecidas de ofício pelo juiz ou quando a lei autorizar sua alegação em qualquer tempo e grau de jurisdição, como ocorre com a incompetência absoluta (art. 64, §1º). Além do princípio da eventualidade, o réu deverá observar também o princípio da impugnação específica (art. 341), que estabelece que o réu deve se manifestar precisamente sobre todas as alegações do autor, sob pena de ser presumidas como verdadeiras as alegações não impugnadas.
Vamos entender esse princípio a partir de um caso concreto. Em determinada ação judicial, o autor alega que sofreu dano material e estético. O réu apresenta contestação e impugna, especificadamente, somente o dano material. Assim, as alegações referentes ao dano estético se tornaram incontroversas, por ausência de impugnação do réu, e serão presumidas como verdadeiras, nos termos do art. 341 do CPC. As consequências decorrentes da inobservância do princípio da impugnação específica comportam exceções. São as exceções elencadas nos incisos do art. 341 do CPC. Também não se aplica a confissão ficta ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.
Contestação. Preliminares 
O Código de Processo Civil de 2015 teve como premissa maior tornar mais célere a prestação da tutela jurisdicional, eliminando os diversos incidentes processuais característicos do Código de 1973. Algumas defesas processuais, como a impugnação ao valor da causa, a impugnação à gratuidade de Justiça ou à incompetência relativa, que anteriormente eram veiculadas através de incidentes processuais, passaram a ser arguidas na própria contestação, eliminando formalidades desnecessárias. Assim, algumas defesas processuais necessitam de uma abordagem mais detalhada, em razão mesmo das peculiaridades de sua arguição em sede de contestação.
Incompetência absoluta e relativa 
A incompetência é uma das principais defesas processuais a ser arguidas pelo réu. A incompetência absoluta, que se caracteriza pelo descumprimento dos critérios de sua fixação (em razão da pessoa, matéria e função), viola o interesse público, sendo, portanto, insanável. Por se tratar de interesse público, pode ser arguida em qualquer tempo e grau de jurisdição (art. 64, §1º). A incompetência relativa, por sua vez, é caracterizadapelo descumprimento de critérios que atendem aos interesses das partes (em razão do território e do valor da causa), e pode ser sanada devido ao silêncio da parte ré. O CPC/1973 determinava que a incompetência absoluta deveria ser arguida na primeira oportunidade que o réu tivesse para se manifestar nos autos – em outras palavras, na própria contestação. Entretanto, a incompetência territorial deveria ser arguida através de exceção, em peça autônoma, e incidentalmente apresentada no processo.
O CPC/2015 simplificou a forma de arguição dessa modalidade de defesa processual, determinando que o réu alegue em sua contestação tanto a incompetência absoluta como também a relativa, conforme redação do art. 337, II. O réu terá o prazo de 15 dias para arguir a incompetência (absoluta e relativa). As consequências do silêncio do réu, no entanto, serão diferentes para uma e para outra. Se o réu não arguir a incompetência absoluta no referido prazo, poderá arguir em outro momento, arcando, no entanto, com as custas processuais em razão da demora. O mesmo não ocorre na incompetência relativa. Segundo o art. 65 do CPC, a incompetência relativa será prorrogada se o réu não alegar o vício em preliminar de contestação. Significa dizer que o foro, que até então era incompetente, passa a ser competente em razão do silêncio do réu. Suponhamos que o autor, que reside em São Paulo, pretenda ingressar com uma ação de cobrança no valor de R$ 100.000,00 em face do réu, que reside em Minas Gerais. Utilizando o critério do art. 46 do CPC, essa demanda, por se tratar de direito pessoal, deverá ser distribuída na Comarca de Minas Gerais, por ser o domicílio do réu. Contudo, o autor, por equívoco, ingressou com a referida demanda em seu domicílio, Comarca de São Paulo. Há, portanto, uma incompetência territorial evidente que deverá ser alegada pelo réu em preliminar de contestação. Mas, se o réu não o fizer, dar-se-á o fenômeno processual da prorrogação, ou seja, a Comarca de São Paulo, que a princípio era relativamente incompetente, passa a ser competente em razão do silêncio do réu. Por se tratar de interesse das partes, somente o réu pode alegar a incompetência relativa, sendo vedado ao juiz reconhecer de ofício, conforme verbete da Súmula nº 33 do Superior Tribunal de Justiça, mantida mesmo na vigência do CPC/2015.
Oferecida contestação com preliminar de incompetência formulada, o juiz, após o devido contraditório, apreciará a questão, e, se for acolhida, declinará de sua competência para o órgão jurisdicional competente3. Trata-se de defesa processual dilatória que retardará o processamento da causa, mas não acarretará a extinção do processo. O réu poderá oferecer contestação com preliminar de incompetência no foro de seu domicílio. Cuida-se de hipótese que tem como escopo facilitar a defesa processual do réu nos casos em que a dificuldade de deslocamento do mesmo possa impedir-lhe de exercer o contraditório e a ampla defesa (art. 340). Para compreender melhor a hipótese em estudo, pense no caso de o autor ajuizar, erroneamente, a demanda em Manaus, mas o réu residir no Espírito Santo. Nesse caso, o réu poderá apresentar sua contestação no foro de seu domicílio (Espírito Santo), não mais necessitando se deslocar para Manaus. A contestação será distribuída para um dos juízos no foro do domicílio do réu, e este ficará incumbido de informar o juízo onde a causa tramita (art. 340, §1º). Caso a incompetência seja reconhecida, o juízo onde a contestação foi distribuída ficará prevento para julgamento da causa.
Incorreção do valor da causa 
A toda e qualquer causa, ainda que não tenha conteúdo econômico direto, devera ser atribuído um valor (art. 291). Essa exigência legal se justifica na medida em que o valor da causa é referência imediata para se alcançar a quantia correspondente à taxa judiciária4, como também é referência para fixação de honorários sucumbenciais nos casos em que não haja proveito econômico em favor do autor (art. 85, §2º do CPC). O valor da causa também é referência na ação rescisória para se apurar o valor do depósito de 5% para ajuizamento da respectiva ação (art. 968, II, do CPC). Em regra, o valor da causa corresponde ao proveito econômico perseguido pelo autor. Entretanto, quando não se é possível identificar um proveito econômico imediato, o valor da causa deve ser fixado por estimativa (art. 291). É o caso do divórcio litigioso em que o casal não possui bens a partilhar. Mas nem sempre é simples fixar o valor da causa. Por esse motivo, o art. 292 do CPC apresenta um rol exemplificativo que auxilia o demandante a fixar, no caso concreto, o valor a ser atribuído à causa. Não obstante, em muitos casos, esse valor é fixado de forma equivocada, ocasionando contratempos na relação processual. A inconsistência do valor da causa, no regime anterior, era arguida em um incidente próprio denominado impugnação ao valor da causa. No entanto, essa formalidade, por vezes, acarretava a demora injustificada na solução do conflito posto em juízo. O CPC/2015 estabeleceu que a indicação equivocada do valor da causa poderá ser corrigida pelo próprio juiz, de ofício, nos termos do art. 292, §3º, através de impugnação feita pelo réu em preliminar de contestação, conforme disposto no art. 293. Dessa forma, caso discorde do valor atribuído à causa pelo autor, o réu deverá, sob pena de preclusão, impugnar o valor atribuído à causa, de forma adequada e fundamentada, em preliminar de contestação e o juiz apreciará a preliminar rejeitando-a ou acolhendo-a. Se acolher a impugnação, determinará a complementação das custas judiciais.
Indevida concessão da gratuidade de Justiça 
Um processo judicial tem custos e despesas que devem ser arcados pela parte que deu causa à demanda. No entanto, como apontou Mauro Cappelletti (1988), o alto valor das custas judiciais no mundo tem sido um sério obstáculo ao amplo acesso à Justiça. No Brasil, esse obstáculo vem sendo superado com a concessão da gratuidade de Justiça aos litigantes que não tenham condições de arcar com as custas e despesas do processo. A Lei nº 1.060/50, com redação alterada pela Lei nº 7.510/86, foi a primeira a tratar diretamente do assunto e, por muitos anos, serviu como referência legislativa no que diz respeito à concessão da gratuidade de Justiça. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, LXXIV, assegura aos cidadãos, desprovidos de recursos, assistência jurídica e integral gratuita. Esses dispositivos legais, constitucionais e infraconstitucionais, contribuíram para a ampliação das defensorias públicas dos estados e da União, permitindo que um número maior de cidadãos tivesse acesso ao Poder Judiciário e, como consequência, mais acesso aos direitos.
O CPC/2015 tratou especificadamente da gratuidade de Justiça, dispondo que esta pode ser concedida a qualquer pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos. O código foi específico ao discriminar detalhadamente o que compreende a concessão da gratuidade de Justiça (art. 98, §1º), incluindo, a título de exemplo, as taxas e custas judiciais, honorários advocatícios, despesas com exame de DNA, entre outras. A gratuidade pode ser requerida na petição inicial, na contestação ou na petição através da qual um terceiro pretende ingressar no processo (art. 99). A simples afirmação de pobreza feita pela parte gera presunção relativa de veracidade das alegações (art. 99, §3º). No entanto, se o juiz verificar que existem nos autos elementos que apontem para a falta dos pressupostos legais5 para a concessão da gratuidade de Justiça, deverá, antes de indeferir o requerimento, dar à parte a oportunidade de comprovar a existência dos pressupostos legais. Esse regramento do CPC acerca da gratuidade de Justiça demonstra que a hipossuficiência econômica é presumida e que o juiz somente pode indeferir quando nos autos houver elementos suficientes que demonstrem o contrário. No entanto, a parte contrária pode impugnar a gratuidade requerida, nos termos do art. 100 do CPC, no prazo de 15 dias. O réu,no entanto, deverá impugnar a concessão indevida da gratuidade de Justiça em preliminar de contestação. O CPC/2015 simplificou a arguição dessa defesa processual eliminando formalidades desnecessárias. Assim, o réu que pretender impugnar a gratuidade concedida deverá, nos termos do art. 337, XIII, do CPC, alegar, em preliminar de contestação, a indevida concessão juntando as provas suficientes que eliminem a presunção relativa de insuficiência de recursos do autor. Essa prova pode ser feita através de comprovante de rendimentos, fotos de viagens permanentes a passeio no exterior, entre outras que evidenciam a condição financeira estável da parte autora. Caso a preliminar arguida na contestação seja acolhida, o autor deverá arcar com o pagamento das custas que deixou de adiantar além do pagamento de multa, nos casos de litigância de má-fé, que pode alcançar até o décuplo do valor das custas e despesas processuais, que serão revertidas em favor do Estado ou da União.
Ilegitimidade e mudança no polo passivo 
O réu poderá, ainda, alegar sua ilegitimidade passiva para a causa. Para tanto, deverá alegar, em preliminar de contestação, que não é parte legítima para a causa ou que não foi o causador do prejuízo alegado pelo autor. Nesse caso, o juiz ouvirá o autor sobre a possibilidade de substituição do polo passivo (art. 338). Essa regra permite ao autor corrigir o polo passivo e prosseguir regularmente com a demanda em face do verdadeiro réu.
Há casos em que o autor, ao elaborar sua petição inicial, não conta com informações suficientes quanto ao causador do dano e o réu apontado equivocadamente poderá contribuir, ao alegar essa defesa, para que o autor corrija o defeito. Imagine a seguinte hipótese: o proprietário de um imóvel pretende ingressar com uma ação para obter reparações dos danos ocasionados pelo vazamento de água do imóvel vizinho. Sem saber ao certo quem é o verdadeiro proprietário, ajuíza ação em face do caseiro ou de qualquer outro prestador de serviços domésticos. Nesse caso, o meio adequado para que o caseiro alegue sua ilegitimidade é oferecer contestação arguindo em preliminar sua ilegitimidade. Do ponto de vista procedimental, a arguição de ilegitimidade passiva poderá ter dois encaminhamentos possíveis. O primeiro diz respeito à alegação de ilegitimidade pelo réu, que indica o verdadeiro sujeito passivo (art. 339). Nessa hipótese, o autor poderá aceitar a indicação, no prazo de 15 dias, e requisitar a substituição no polo passivo. Poderá também o autor, em vez de requerer a substituição, optar pela inclusão do indicado como litisconsorte passivo do réu originário. Se assim fizer o autor, mesmo nos casos em que o réu alegue em preliminar de contestação que é parte ilegítima para a causa, o processo prosseguirá com a parte ré originária acrescida do litisconsorte indicado na defesa. O código impõe ao réu que alegar a ilegitimidade o dever de indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida em juízo, sob pena de arcar com as custas do processo e ainda indenizar o autor pelos danos decorrentes da falta de indicação. Contudo, há situações em que o réu não sabe, de fato, quem é o verdadeiro réu. Para não sofrer as consequências processuais aqui mencionadas, deverá o réu afirmar expressamente seu desconhecimento, ocasião em que o juiz facultará ao autor substituir o polo passivo, no prazo de 15 dias. Caso seja realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas pagas pelo réu excluído e os honorários de seu advogado.
Reconvenção 
O réu pode, além de se defender, demandar em face do autor utilizando a mesma relação processual. Trata-se de um verdadeiro contra-ataque do réu contra o autor no mesmo processo. No regime anterior (CPC/1973), a reconvenção era apresentada em uma petição autônoma. O réu que pretendesse reconvir deveria oferecer contestação juntamente com a reconvenção. O Código de Processo Civil de 2015 simplificou o procedimento da reconvenção, permitindo que o réu ofereça, na mesma petição, contestação e reconvenção conforme dispõe o art. 343. Todavia, a inclusão da reconvenção como um capítulo da contestação não lhe retira a autonomia, que permanece mesmo no código vigente. Assim, o réu poderá contestar e reconvir, ou somente reconvir (343, §6). Essa autonomia é reforçada no art. 343, §2º, ao dispor que a desistência ou a extinção da ação principal não impede o prosseguimento da reconvenção. São duas demandas que tramitam no mesmo processo. A reconvenção tem como fundamento primeiro a economia processual. Assim, nos casos em que a pretensão do réu tiver conexão com a ação principal ou com os fundamentos da defesa, este poderá veicular sua demanda no bojo da contestação, ou em peça autônoma, em face do autor. Para entender melhor, pensemos numa situação em que o autor ajuíza uma ação de cobrança, no valor de R$ 100.000,00, em face do réu, e este se defende (contestação), dizendo que a divida já foi paga, e aduz ainda que o autor é o devedor da quantia de R$ 20.000,00. O réu, portanto, aproveita a própria demanda ajuizada pelo autor e formula sua pretensão (cobrança dos R$ 20.000,00).
Além desses requisitos, para que a reconvenção seja admitida, se faz necessário que o juiz seja competente tanto para a ação principal como para a reconvenção. Será necessário, ainda, que haja a compatibilidade de procedimentos. Não se admite, por exemplo, que a demanda principal tramite pelo procedimento comum e a reconvenção tenha uma pretensão que tenha procedimento especial definido em lei. O último requisito diz respeito ao prazo. O réu deverá reconvir, necessariamente, no prazo de 15 dias. Ultrapassado esse prazo, deverá o réu ajuizar ação própria, com livre distribuição, em face do autor.
Além desses requisitos, para que a reconvenção seja admitida, se faz necessário que o juiz seja competente tanto para a ação principal como para a reconvenção. Será necessário, ainda, que haja a compatibilidade de procedimentos. Não se admite, por exemplo, que a demanda principal tramite pelo procedimento comum e a reconvenção tenha uma pretensão que tenha procedimento especial definido em lei. O último requisito diz respeito ao prazo. O réu deverá reconvir, necessariamente, no prazo de 15 dias. Ultrapassado esse prazo, deverá o réu ajuizar ação própria, com livre distribuição, em face do autor.
Reconvir é ato processual exclusivo do réu em face do autor. No período anterior ao CPC/2015, havia forte divergência doutrinária e jurisprudencial6 acerca da possibilidade de se reconvir em face de terceiros que não integrem a relação processual. O código superou a divergência, admitindo expressamente a reconvenção em face de terceiros (art. 343, §3º). Assim, o réu poderá reconvir em face do autor e de terceiro. Para melhor entendimento dessa hipótese, pense numa situação em que um dos locadores propõe ação de cobrança de aluguel em face do locatário, e este contesta e oferece reconvenção, pleiteando a rescisão do contrato de locação em face do autor e de outro locador que, por algum motivo, não integrou a lide.
A reconvenção, portanto, permite a ampliação subjetiva da demanda para incluir terceiro, no polo passivo da demanda reconvencional, que até então não havia sido incluído na relação processual. Trata-se de importante inovação do CPC/2015, que contribuirá para a adequada solução de diversas situações jurídicas, sobretudo as que versem sobre direito imobiliário.
O código também cuida de uma hipótese sem antecedentes em nosso ordenamento processual. O art. 343, §5º, regula a reconvenção em face do substituto processual. Essa hipótese legal diz respeito aos casos em que o réu pretende reconvir em face do substituído, mas o código admite que a reconvenção seja redirecionada para o substituto processual. Imagine que alguém tenha autorização legal para estar em juízo defendendo direito alheio. Ainda que o réu queira reconvir em face do autor, poderá fazê-lo mesmo em face do substituto, se demonstrar que existe direito que o ampare. Didier Jr. (2015) discorre sobre a possibilidade de o substituto processualreconvir em face do autor, na condição de réu. Para Didier Jr., se faz necessário que o substituto, na condição de réu, tenha também legitimação extraordinária para postular em juízo.
A reconvenção é cabível não só no procedimento comum, mas também em alguns procedimentos especiais. Admite-se, por exemplo, reconvenção no procedimento monitório (art. 702, §6º, do CPC/2015). No entanto, não se admite reconvenção nas denominadas ações dúplices. As ações dúplices são aquelas em que o réu pode formular pedido na própria contestação, independentemente de reconvenção. Nas ações dúplices, o juiz tutelará não o autor, mas a parte que necessitar da respectiva tutela jurisdicional, dispensando-se a reconvenção. São exemplos de ações dúplices: as ações possessórias (art. 556) e a ação de consignação em pagamento (art. 545, §2º). Em ambos os casos, o autor poderá ser condenado em razão da contestação oferecida pelo réu.
Por fim, cabe discorrer sobre o procedimento da reconvenção. Uma vez proposta a reconvenção, o autor-reconvindo será intimado, na pessoa de seu advogado (art. 343, § 1º), para apresentar resposta no prazo de 15 dias. A intimação será feita em nome do advogado, para dinamizar o processamento da demanda. Por essa razão, o código determina que o advogado inclua na procuração o endereço eletrônico e não eletrônico. O autor-reconvindo poderá utilizar todas as modalidades de respostas admitidas no Código de Processo Civil. Poderá, inclusive, apresentar reconvenção da reconvenção. Caso a reconvenção seja rejeitada liminarmente, o réu-reconvinte poderá interpor recurso de agravo de instrumento nos termos do art. 1.015, II, do CPC. Se, porventura, a ação principal for extinta, por algum fato extintivo, ou o autor desista, a reconvenção prosseguirá, independentemente da extinção da ação principal. Tramitando as duas ações em conjunto (principal e reconvencional), o juiz deverá julgar as duas conjuntamente.
Exceção de impedimento e suspeição 
A exceção de impedimento ou suspeição é um incidente processual que tem como finalidade impugnar a parcialidade do juiz em determinada demanda judicial. O art. 5º, XXXVII e LIII, da Constituição Federal de 1988, dispõe sobre o princípio do juiz natural, e assegura que os litigantes serão julgados por juiz independente e imparcial. Entretanto, ocorrendo a parcialidade do juiz, caberá ao interessado apresentar exceção de impedimento ou suspeição, conforme o caso. Ao contrário da contestação e da reconvenção, a exceção de impedimento e suspeição são apresentadas, em regra, no prazo de 15 dias, a contar da ciência do fato (art. 146). Por esse motivo, a exceção poderá ser apresentada em qualquer tempo ou grau de jurisdição, observando o prazo para sua apresentação. Contudo, existem casos em que o réu, ao ser citado, verifica, desde logo, a parcialidade do juiz da causa. Dessa forma, a exceção de impedimento ou suspeição constitui uma modalidade de resposta do réu e será apresentada em conjunto com a contestação.
A parcialidade do juiz pode ser relativa ou absoluta. A parcialidade relativa tratará de hipóteses subjetivas de envolvimento do juiz com uma das partes (suspeição). O art. 145 enumera os fatos que são considerados suspeição8. Por se tratar de parcialidade relativa, que envolve interesse das partes, a exceção deverá ser apresentada no prazo de 15 dias, sob pena de preclusão. Transcorrido esse prazo, o vício da parcialidade estará sanado e o juiz, inicialmente suspeito, habilitado para julgar a causa.
A parcialidade absoluta (impedimento) é um vício grave e pode ser aferido de forma objetiva. O art. 144 do CPC enumera as hipóteses de impedimento, tais como atuação prévia do juiz como advogado da parte, membro do Ministério Público ou perito; que tenha apreciado a causa no primeiro grau de jurisdição; quando seu cônjuge for parte no processo; entre outras. Por se tratar de vício que viola interesse público, a parte terá 15 dias para apresentar exceção de impedimento, mas não haverá preclusão, podendo a parte arguir a parcialidade absoluta após o trânsito julgado através de ação rescisória (art. 966, II, do CPC).
O procedimento da exceção é simplificado (art. 146). A parte excipiente apresentará a exceção no prazo de 15 dias, apontando os motivos da recusa e as provas necessárias para demonstração do alegado. O juiz, ao receber a petição, poderá reconhecer a suspeição ou o impedimento9, e encaminhar os autos ao substituto legal. A parcialidade é do juiz, não do juízo. Nesse caso, o processo continuará sua tramitação no juízo competente, mas o juiz substituto oficiará no processo em substituição do juiz suspeito ou impedido. Se o juiz não admitir a parcialidade, determinará a autuação do incidente e terá o prazo de 15 dias para apresentar suas razões. Em seguida, os autos serão encaminhados ao tribunal competente. Distribuído o incidente no tribunal, o relator determinará os efeitos em que o mesmo será recebido (com ou sem efeito suspensivo). Caso o tribunal verifique que a alegação do excipiente não procede, julgará improcedente o incidente e o juiz excepto permanecerá na causa. Acolhida a alegação do excipiente, o juiz excepto será afastado da causa, arcará com as custas judiciais do incidente e o substituto legal conduzirá o processo. Caso o juiz excepto discorde da decisão, poderá recorrer.
Revelia 
Frustrada a audiência de conciliação/mediação, o réu deverá se manifestar sobre a pretensão autoral através de uma das modalidades de resposta aqui apresentadas. O réu poderá: a) ficar inerte; b) reconhecer o pedido; c) contestar; e d) excepcionar (suspeição e impedimento). O réu poderá, também, em atenção ao princípio da eventualidade, apresentar contestação, reconvenção e exceção de impedimento e suspeição. Contudo, se não oferecer contestação, será declarado revel. Importante esclarecer que o réu tem ônus de contestar e não dever, ou seja, o réu não é obrigado a apresentar contestação. No entanto, assumirá as consequências processuais de sua inércia caracterizada pela revelia, que, no procedimento comum, é a ausência de contestação do réu. O simples fato de o réu não apresentar contestação incide a revelia e seus efeitos. Ainda que o réu apresente reconvenção, a revelia será decretada pelo juiz. Nos juizados especiais cíveis estaduais, diferentemente do que ocorre no procedimento comum, a revelia ocorrerá quando o réu não comparecer à quaisquer das audiências designadas, ainda que a contestação tenha sido juntada aos autos. Decretada a revelia pelo juiz, seus efeitos materiais e processuais irradiarão pelo processo. O efeito material da revelia corresponde à presunção de veracidade dos fatos articulados pelo autor na petição inicial (art. 344). Significa dizer que se o autor alegar que o réu lhe causou danos materiais e não houver contestação, o decreto da revelia tornará tal alegação presumida verdadeira, convertendo-a em confissão ficta. Essa presunção não é absoluta, podendo ser produzida prova em contrário. Por exemplo: se em determinada demanda o autor pretende obter reparação por danos materiais em face do réu, caso a revelia seja decretada e o autor não produza provas suficientes do alegado, o juiz julgará improcedente o pedido do autor, a despeito da revelia decretada.
Os efeitos processuais da revelia são: 
a) os prazos do revel que não tenha patrono nos autos fluirão a partir da data da publicação do ato no Diário Oficial (art. 346) e 
b) julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, II, do CPC. O primeiro efeito processual da revelia ocorrerá somente nos casos excepcionais, pois o réu será intimado, primeiramente, a comparecer à audiência de conciliação/ mediação, na qual a presença dos advogados das partes é obrigatória (art. 344, §9º, do CPC).
Os efeitos da revelia não incidirão nas hipóteses elencadas no art. 345 do CPC. O art. 345, I, trata da hipótese em que há pluralidade de réus e um deles contesta a ação. O principal objetivo é impedir que o réu diligente não seja prejudicado pela desídia dos demais réus. A exceção aqui referida é dirigidaao litisconsórcio unitário, pois o juiz deverá tratar de forma equânime os réus.
A segunda exceção trata dos direitos indisponíveis (art. 345, II). Os efeitos da revelia não incidirão nas demandas que tratam de direitos indisponíveis, ainda que o juiz a decrete. Podemos citar como exemplo as ações de estado (divórcio, alimentos, guarda etc.). Por se tratar do estado de pessoas, o legislador achou, por bem, excluir os efeitos da revelia nesses casos. Por exemplo: em uma ação de divórcio proposta pela esposa, ainda que o marido seja revel, não haverá o efeito material da presunção de veracidade acerca do alegado na inicial.
Não incidirão os efeitos da revelia se o autor não instruir a petição inicial com documento que a lei considere indispensável à prova do ato jurídico discutido em juízo. Essa hipótese pode ser mais bem compreendida a partir do seguinte exemplo: em um determinado processo, o autor formula uma pretensão reivindicatória de um imóvel em face do réu, mas não junta nenhuma prova da compra do mencionado imóvel. Nesse caso, mesmo o réu sendo revel, o juiz deixará de aplicar os efeitos em razão do que dispõe o art. 345, III, do CPC.
O juiz não aplicará os efeitos da revelia nos casos em que as alegações do autor não forem verossímeis ou estiverem em contradição com a prova dos autos. Cuida-se de hipótese que reforça os princípios da boa-fé processual (art. 5º do CPC) e da cooperação (art. 6º do CPC). Por fim, se faz necessário abordar acerca da possibilidade de se aplicar a revelia e seus efeitos em face da Fazenda Pública. O art. 345, II, do CPC dispõe que não se aplicam os efeitos da revelia quando a demanda tratar de direitos indisponíveis. Considerando que a Fazenda Pública cuida do interesse público, o juiz, mesmo nos casos em que esta não apresente a contestação, decretará a revelia, mas não lhe aplicará seus efeitos. Assim, não se admite a presunção de veracidade das alegações do autor (confissão ficta) em face da Fazenda Pública. Leonardo Carneiro da Cunha10, ao abordar o tema, sustenta que os atos públicos presumem-se legítimos cabendo ao autor, portanto, demonstrar e comprovar as alegações formuladas na inicial, de modo a elidir a presunção de legitimidade dos atos administrativos realizados pela Fazenda Pública.
Também não se admite o julgamento antecipado do mérito nos termos do art. 355, II, do CPC. Exatamente por não existir presunção de veracidade em face da Fazenda Pública, o juiz deve permitir às partes uma ampla produção de provas. Entretanto, conforme sustenta Cunha (2016), é possível que os fatos apontados na inicial estejam fartamente provados documentalmente nos autos de modo a autorizar a redução da atividade judicial, não em razão da revelia, mas por não haver mais necessidade de produção de novas provas.
Preclusão 
Um processo se desenvolve como uma marcha encadeada de atos processuais rumo à solução do mérito mediante sentença. Por sua vez, o código estabelece forma e prazo de atos processuais, de modo que as partes consigam alcançar o julgamento de mérito num prazo razoável, conforme inteligência do art. 4º do CPC. É nesse contexto que se insere o estudo da preclusão. Preclusão é um conceito do direito processual e pode ser definido como a perda do direito de se praticar um ato dentro de determinado processo. Tem, portanto, efeitos endoprocessuais, impossibilitando a parte de praticar determinado ato em razão da preclusão. A preclusão pode ser temporal, consumativa ou lógica. A preclusão temporal (art. 223) é a perda do direito de se praticar um ato em razão da perda de um prazo. O réu tem 15 dias para contestar, conforme dispõe o art. 335 do CPC. Se o réu apresentar sua defesa no 16º dia, o juiz determinará o seu desentranhamento em razão da preclusão temporal. A preclusão temporal não se aplica aos prazos fixados para o juiz (art. 226), por se tratar de prazo impróprio. A preclusão temporal poderá ser elidida se a parte provar que não realizou o ato no prazo por justa causa. O código conceitua justa causa como evento alheio à vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por seu mandatário (art. 223, §1º, do CPC). Assim, se a parte tinha de apresentar um documento no prazo de 5 dias, mas, por motivo de saúde, da parte ou de seu advogado, ficou impossibilitada de fazê-lo, o juiz poderá permitir que a parte pratique o ato no prazo que assinalar. Denomina-se preclusão consumativa a impossibilidade de se praticar em razão de tê-lo praticado. A parte não poderá renovar a prática de um ato já praticado. Eis um exemplo mais simples sobre o tema: considere a hipótese de o réu apresentar contestação no 10º dia do prazo. Logo após o oferecimento da contestação, 2 dias depois, o réu percebe que deixou de apresentar uma defesa de mérito importante e peticiona, ainda dentro do prazo de 15 dias, o complemento de sua defesa. O juiz rejeitará o complemento da contestação, uma vez que já se operou a preclusão consumativa. O fato de o réu ter apresentado a contestação no 10º dia caracteriza a consumação do ato de se defender, que não poderá ser complementado ou refeito em razão da preclusão consumativa.
Por fim, a preclusão lógica tem como peculiaridade a impossibilidade de a parte praticar um ato em razão de se ter praticado ato anterior incompatível com que se pretende praticar. Não se admite que a parte pratique atos processuais incompatíveis entre si; por esse motivo, a preclusão lógica impede a prática do ato incompatível. Pensemos na hipótese em que o réu é condenado a pagar uma determinada quantia. Imediatamente após a publicação da sentença, o réu deposita o valor da condenação e, ainda no prazo recursal, apresenta recurso de apelação. O ato de cumprir a obrigação é incompatível com o ato de impugnar a decisão, pois o simples depósito sugere, em regra, que o réu concordou com a decisão.
Conclusão: A abordagem do presente capítulo teve como principal objetivo estudar as respostas do réu e sua importância para assegurar a ampla defesa e o contraditório. A partir da compreensão sobre a finalidade de cada uma das modalidades de resposta, poderá o réu exercitar melhor a sua defesa, bem como delimitar os pontos controversos que serão objetos da atividade instrutória do juiz.
Providências preliminares. Saneamento e julgamento conforme o estado do processo 
Introdução
O presente capítulo tem como principal finalidade estudar as principais providências exercidas pelo juiz após o oferecimento da resposta do réu. O processo civil pode ser estudado em quatro principais fases: postulatória, saneadora, instrutória e decisória. A fase postulatória compreende os atos postulatórios do autor (distribuição da petição inicial) e do réu (oferecimento de resposta). Exercido o contraditório, o processo avança para a fase saneadora através da qual o juiz adotará as providências preliminares cabíveis e organizará o processo para a fase subsequente.
Saneado o processo, o juiz determinará a produção das provas requeridas pelas partes e que foram deferidas por serem necessárias à solução do mérito, isto é, trata-se da fase instrutória do processo. Por fim, amadurecida a questão posta em juízo, o processo ingressará na fase decisória, através da qual o juiz decidirá a lide, privilegiando a decisão de mérito, nos termos do art. 4º do CPC. O estudo das providências preliminares tem como escopo analisar os possíveis encaminhamentos do juiz após o oferecimento da resposta do réu, que constitui a fase saneadora do processo. Casos há em que o juiz extinguirá o processo antes mesmo da fase instrutória. Cuida-se do julgamento conforme estado do processo. Nessas circunstâncias, o juiz poderá, ainda, julgar antecipado, integral ou parcialmente, quando não houver necessidade de produção de novas provas. A proposta do presente capítulo é analisar as providências preliminares, as possibilidades de julgamento conforme estado do processo e as formas de saneamento e organização do processo, possibilitando a correta compreensão destes institutos processuais e sua importância para a efetiva prestaçãoda tutela jurisdicional.
Providências preliminares: conceito 
Após o oferecimento ou não da contestação, o juiz estudará o processo para verificar as providências cabíveis em cada caso concreto (art. 347). Cuida-se de importante fase, pois definirá o modo como o juiz apreciará o mérito ou até mesmo identificará se o processo tem condições de seguir adiante para uma solução integral do mérito. O conjunto dessas providências tem como escopo preparar o processo para a fase instrutória e decisória sem vícios ou irregularidades. Dessa forma, o Código trata expressamente de algumas providências preliminares, tais como a especificação de provas e a manifestação do autor sobre questões preliminares e fatos novos (modificativo, extintivo e impeditivo) arguidos pelo réu. Outras providências podem ser determinadas pelo juiz, ainda que não estejam tipificadas como tais. É a hipótese de se determinar a citação do autor para responder a reconvenção ou mesmo determinar que seja promovida a citação do denunciado nos casos de denunciação da lide. Por fim, as providências preliminares são aquelas que surgem em razão das manifestações do réu ou terceiro interveniente. Passemos, então, ao estudo detalhado das providências preliminares.
Da não incidência dos efeitos da revelia 
No capítulo anterior, estudamos o fenômeno da revelia e seus efeitos no processo civil. Entretanto, neste capítulo, abordaremos, do ponto de vista prático, os casos em que não incidirão dos efeitos da revelia. O art. 345 do CPC dispõe que a revelia não produzirá seus efeitos se: a) houver pluralidade de réus e um deles contestar a ação; b) o litígio versar sobre direitos indisponíveis; c) a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; d) se as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou em contradição com a prova produzida nos autos. A revelia, nesse caso, será irrelevante, pois não produzirá nenhum de seus efeitos materiais (confissão ficta) ou processuais (dispensa de intimação do réu que não tiver patrono nos autos e julgamento antecipado do mérito). Nessas hipóteses, o juiz decretará a revelia, mas ele não terá nenhum efeito para o réu revel. Ocorrendo a revelia irrelevante, o juiz determinará que o autor especifique eventuais provas que pretenda produzir, além das que já houver produzido. Essa providência se faz necessária, pois não são raros os casos em que mesmo ocorrendo a revelia a pretensão do autor é julgada improcedente em razão de não restar demonstrada a existência do fato constitutivo do direito do autor1. Para melhor compreensão do tema, pense em determinado caso no qual o autor pretende obter indenização por danos materiais e estéticos em razão de ferimentos ocasionados por projétil disparado, acidentalmente, de arma de um policial militar. O estado não apresentou contestação. Nessa hipótese, embora o juiz tenha de decretar a revelia, esta não incidirá seus efeitos, devendo prosseguir na instrução da causa, e julgar improcedente o pedido caso o autor não prove o fato constitutivo de seu direito.
Por esse motivo, o art. 348 determina que o juiz deverá ordenar à parte autora que especifique as provas que pretenda produzir nos casos em que a revelia decretada não irradie seus efeitos no processo. Cuida-se, nesse particular, de medida que tenciona garantir o pleno exercício da ampla defesa e do devido processo legal ao autor e ao réu nos casos de revelia irrelevante. O art. 349 do CPC permite, ainda, ao réu revel, nos casos em que a revelia não incida seus efeitos, produzir provas com o intuito de as contrapor às alegações e provas produzidas pelo autor. Não há dúvidas, no entanto, de que a referida regra tem como escopo garantir o devido processo legal e a ampla defesa, que não podem ser desconsiderados mesmo nos casos de revelia. Ainda que o réu seja desidioso em realizar a sua defesa, o sistema processual lhe garante o pleno exercício da ampla defesa. 
Assim, poderá o autor requerer prova documental superveniente, provas periciais, provas orais (depoimento pessoal e inquirição de testemunhas), enfim, todo e qualquer meio de prova admitida em direito, mesmo após a decretação da revelia do réu, com o objetivo de permitir a plena comprovação da existência dos fatos articulados pelo autor em sua petição inicial.
A revelia enseja, ainda, uma providência preliminar específica quando o revel estiver preso ou foi citado por edital. Nesse caso, conforme disposição do art. 72, II, do CPC, o juiz deverá determinar a nomeação de um curador especial para defender, ainda que por negativa geral, os interesses do demandado. Tal providência será cabível mesmo nos casos em que a revelia enseja seus regulares efeitos.
Alegações do réu 
O réu pode apresentar diversos tipos de defesa, como vimos no capítulo anterior. Pode, por exemplo, negar o fato alegado pelo autor. Nesse caso, estará apresentando uma defesa direta de mérito. Poderá, também, apresentar outras questões que não tenham a finalidade de impugnar diretamente o mérito, mas sim de apontar vícios processuais ou fatos novos que não foram abordados pelo autor. Trata-se das denominadas questões prévias.
Questões prévias, portanto, são aquelas matérias arguidas pelo réu em sua contestação que devem ser apreciadas pelo juiz antes de se analisar o mérito da causa. São prévias porque podem interferir no modo como o juiz enfrentará o mérito ou até mesmo definir se o mérito será ou não analisado. As questões prévias são classificadas em questões prejudiciais e questões preliminares (arts. 503 e 351, respectivamente, ambos do Código de Processo Civil). As questões prejudiciais são, em regra, defesas indiretas de mérito e definem o modo como o juiz julgará o mérito da causa. Já as questões preliminares são defesas processuais e sua solução define se o juiz apreciará ou não o mérito da demanda. Além das questões prévias, o réu poderá também apresentar fatos novos, ou seja, reconhecer o fato alegado pelo autor, mas apresentar outro que, indiretamente, fulminará a pretensão autoral. Quando o réu apresenta em sua defesa uma questão prévia ou fatos novos, o autor será intimado para se manifestar em réplica. A réplica aqui constitui importante providência preliminar que tem como finalidade maior assegurar um amplo contraditório na processualística brasileira. Importante registrar que, na prática forense, o autor será sempre intimado para se manifestar em réplica, independentemente da defesa apresentada pelo réu. Passemos, pois, ao estudo da réplica no processo civil brasileiro.
Alegações do réu: questões preliminares 
O art. 337 do Código de Processo Civil dispõe que o réu deverá, antes mesmo de discutir o mérito, apresentar todas as defesas processuais cabíveis. Assim, deverá o réu, em preliminar de contestação, alegar a sua ilegitimidade para a causa, a incompetência do juízo, a coisa julgada, entre outros temas elencados no referido artigo. Como vimos no capítulo anterior, as defesas processuais podem ser dilatórias e peremptórias. As dilatórias provocam o retardamento do andamento processual até a sua solução e as peremptórias, pela sua gravidade, acarretam a extinção do processo sem resolução do mérito. Independentemente da defesa processual apresentada na preliminar de contestação, o juiz, em atenção ao princípio do contraditório, deverá intimar o autor para se manifestar em réplica no prazo de 15 dias (art. 351).
A réplica, nessa hipótese, permitirá ao autor apresentar argumentos contrários às defesas processuais veiculados pelo réu, possibilitando ao juiz melhores condições para apreciar a questão. Nesse sentido, poderá o réu alegar coisa julgada como defesa processual e o autor, em réplica, demonstrar para o juiz que a causa de pedir debatida no processo anterior, onde se operou a coisa julgada, foi diversa da causa de pedir discutida no novo processo. A réplica, nesse caso, proporcionará ao juiz condições adequadas para afastar a alegação infundada do réu. Esta é a principal finalidade da réplica no contexto do procedimento

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