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Revista Equina - Edição 70

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ANO 12 - Nº 70 - MARÇO / ABRIL 2017
• Abcesso Estromal Fúngico
em potra Quarto-de-Milha:
Relato de Caso
• Trombose de ramos da
Artéria Mesentérica Cranial
consequente à torção uterina
em égua: Relato de Caso
• Ozônio: um Fármaco
Multifatorial
• Gestão Empresarial:
Experiência do Cliente na
Veterinária
• Informativo Equestre:
Compreendendo a
Imunidade dos Potros
• Agronegócio: Rotulagem
e assimetria de informações
no mercado de Produtos
Equestres
•Terapia Física e
Reabilitação de Equinos
Atletas: Revisão
Odontologia Equina:
 • 1
S U M Á R I O ANO 12 - Nº 70 - MARÇO / ABRIL 2017
FOTO CAPA: Arquivo pessoal do autor
FOTO DESTAQUE:
Arquivo pessoal (Hovet/UFERSA)
www.passoapasso.org.br
1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063)
- publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Ca-
sos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de
Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados
com exclusividade.
2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas
devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail:
(revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. To-
das as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior di-
reito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm)
com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com mar-
gens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New
Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico,
25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comu-
nicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, grá-
ficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que
não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação
paisagem.
3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo
e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e
Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agrade-
cimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê
de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências.
Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente
devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética
institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf).
4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Títu-
lo, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdu-
ção; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme ne-
cessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais;
e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e
Informe Verbal devem aparecer antes das Referências.
5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes
tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espa-
nhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discus-
são (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agra-
decimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal de-
vem aparecer antes das Referências.
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA
6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título,
Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem
subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discus-
são e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências.
Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal;
Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referênci-
as. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente
devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética
institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf).
7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema
numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520,
conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais
diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Se-
gundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermi-
dades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até
50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.”
Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da
fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algaris-
mos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo,
na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a nume-
ração das citações a cada página. As citações de diversos docu-
mentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distin-
guidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após
a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exem-
plo: De acordo com Silva11 (2011a).
8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/
2002) conforme normas próprias da revista.
8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Phila-
delphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p.
TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Ama-
zônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p.
8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative
pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Balti-
more: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48.
8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of
sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John
Willey, 1977, cap.4, p.72-90.
8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON,
R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of
blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974.
8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al.
Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por
via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medi-
cina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010.
8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segu-
rança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineu-
ral em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e
Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas.
ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e
histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo
(ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equi-
nos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Ve-
terinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista.
8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departa-
mento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20).
8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a in-
formação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são
achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto,
antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do
autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação
na qual foi emitida a informação.
8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da
coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúr-
gico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD.
GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD
SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech
Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636.
Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/
proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1.
9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira
responsabilidade do(s) autor(es).
10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação.
11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto,
o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento.
12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de
dirigir-se à Comissão Editorial.
• Terapia Física e Reabilitaçãode Equinos Atletas:
Revisão (Página 4)
• Ozônio: um Fármaco Multifatorial (Página 10)
• Trombose de Ramos da Artéria Mesentérica
Cranial consequente à Torção Uterina em égua:
Relato de Caso (Página 14)
• Abcesso Estronal Fúngico em Potra
Quarto-de-Milha: Relato de Caso (Página 20)
• Agronegócio: Rotulagem e Assimetria de informações
no mercado de Produtos Equestres (Página 26)
• Odontologia: Exame Físico Odontológico (Página 28)
• Gestão Empresarial: Customer Experience
(Experiência do Cliente) na Veterinária (Página 32)
• Ortopedia Equina: Quais patologias podem ser
Patognomônicas dentro de cada imagem? (Página 34)
• Informativo Equestre: Compreedendo a imunidade
dos Potros (Página 40) 24
04
10
14
20
27 34
2 • 
E D I T O R I A L
FUNDADOR
Synesio Ascencio (1929 - 2002)
DIRETORES
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EDITOR RESPONSÁVEL
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2 • 
Alexandre Augusto O. Gobesso
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Marco Antônio Alvarenga
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malvarenga@fmvz.unesp.br
Marco Augusto G. da Silva
Clínica Médica de Equídeos
silva_vet@hotmail.com
Maria Verônica de Souza
Clínica
msouza@ufv.br
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Clinica Cirúrgica e Odontologia
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Clinica, Cirurgia e Neonatologia
neimar@anhembi.br
Roberto Pimenta P. Foz Filho
Cirurgia
robertofoz@gmail.com
Renata de Pino A. Maranhão
Clínica
renatamaranhao@yahoo.com
Silvio Batista Piotto Junior
Diagnóstico e Cirurgia Equina
abraveq@abraveq.com.br
Tobyas Maia de A. Mariz
Equinocultura e Fisiologia Equina
tobyasmariz@hotmail.com
Cavalos de Potência
na Equinocultura Brasileira
Desde o século XVIII, quando James Watt definiu que um
cavalo vapor correspondia a força necessária para erguer 150
quilos de carvão a uma altura de 30 metros em um minuto, a
palavra cavalo sempre esteve associada a uma medida de po-
tência, embora não seja uma unidade reconhecida no Sistema
Internacional de Unidades (SI). Isso não impede que seja ampla-
mente utilizada até hoje, especialmente na sua abreviatura em
inglês, HP.
Os mais diversos setores, como o automobilístico, fazem
sua reverência à potência do cavalo, mas aqueles que estão pró-
ximos a esse animal acabam se esquecendo. Não exatamente
na potência, na força necessário ao bom desempenho nas pro-
vas esportivas equestres, mas no seu uso no trabalho. A tração
animal, por exemplo, ainda é essencial em 25% das proprieda-
des rurais brasileiras (dados do último Censo Agropecuário). E,
por fatores como declividade, tamanho da propriedade (sem es-
cala para mecanização) e características da área (por exemplo,
plantações de cacau onde o transporte só é viável no lombo de
equídeos), a presença de cavalos, asininos e muares na lida, em
atividades além do lazer e esporte, deve perdurar por muitos anos.
O que chama a atenção nesse cenário é a escassa pesqui-
sa relacionada aos equídeos de trabalho. Aspectos clínicos, re-
produtivos, bem-estar, equipamentos e tantos outros são uma
mina pouco explorada, cientificamente e comercialmente. Em-
bora com despesas unitárias, por cabeça, muito inferiores a rea-
lizada com o cavalo de esporte, o grande número de animais de
lida faz com que produto da quantidade vezes preço atinja valo-
res atrativos.
Animais de trabalho representam um nicho de mercado de
grande potencial e muito pouco explorado. Além de oportunida-
des para os profissionais da equideocultura brasileira, o Brasil
necessita de melhor uso desse potencial para seu crescimento e
desenvolvimento.
Roberto Arruda de Souza Lima
Professor da ESALQ/USP
raslima@usp.br
 • 3
4 • 
Introdução
Desde sua domesticação o equino tem sido utilizado para os
mais diversos tipos de atribuições, tendo crescido consideravel-
mente o interesse pela utilização desse animal em atividades de
esporte e lazer, o que tem proporcionado uma exploração de gran-
de interesse econômico e que envolve animais de alto valor1;2.
Os esportes equestres demandam do animal atleta um elevado
índice de desempenho em virtude de exigências competitivas cada
vez maiores3. Em muitos casos o tipo de esforço ao qual o equino é
submetido excede os seus limites fisiológicos, predispondo esses a
diversos problemas de ordem musculoesquelética4.
Muitas das condições clínicas que atingem o equino atleta,
além de gerarem desconforto ao animal, por vezes exigem que este
se mantenha afastado das atividades esportivas por um longo perí-
odo, resultando, sobretudo em perdas econômicas. Lesões tendíne-
“Physical Therapy and
Rehabilitation of equine athlete:
review”
“Terapia Física y Rehabilitación del
equino atleta: revisión”
Pedro Augusto Cordeiro Borges*
(pedroavet@yahoo.com.br)
M.V., Residente em Clínica e Cirurgia de
Grandes Animais, no Hospital Veterinário
Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia,
UFERSA - Mossoró, RN.
Fabio Franco Almeida,
Tales Gil de França
M.V., Residentes em Clínica e Cirurgia de
Grandes Animais, no Hospital Veterinário
Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia,
UFERSA - Mossoró, RN
Paulo Ricardo Firmino
M.V. Esp. Mestrando em Ciência Animal na
UFERSA - Mossoró, RN
Heider Irinaldo Pereira Ferreira
M.V. MSc. Locado no Setor de Clínica e
Cirurgia de Grandes Animais, no Hospital
Veterinário Jerônimo Dix-Huit Rosado
Maia, UFERSA - Mossoró, RN
* Autor para correspondência
RESUMO: Desde a sua domesticação o equino tem sido utilizado em diversos tipos de atividade,a fim
de atender necessidades humanas. Recentemente tem-se crescido o interesse do uso desses animais
em atividades de esporte e lazer, de tal modo que estes passaram a ser vistos como atletas, tendo de
manter altos índices de desempenho e estando susceptíveis aos mais diversos tipos de lesões. Avanços
recentes nas áreas da medicina esportiva, fisioterapia e reabilitação equina têm auxiliado no processo de
recuperação desses animais e retomada do desempenho atlético após períodos de inatividade por lesão.
Assim a presente revisão tem por objetivo caracterizar as técnicas de fisioterapia e reabilitação equina
bem como apontar as principais indicações de cada uma destas.
Unitermos: equino, fisioterapia, reabilitação, ultrassom terapêutico
ABSTRACT: Horses has been used as different purposes to support humans, since it domestication.
There is an increase of interest on its use for competition and entertainment and this require high
performance levels of these animals witch became them susceptible to injuries. Recent advances on
equine sports medicine, physical therapy and rehabilitation have helped on recovery after inactivity period
by injury. The aim of this review is to characterize physical therapy and rehabilitation techniques and to
show its main indications. 
Keywords: horse, physical therapy, rehabilitation, therapeutic ultrasound
RESUMEN: Desde su domesticación, el caballo ha sido utilizado en varios tipos de actividades, a fin de
satisfacer las necesidades humanas. Más recientemente ha sido el creciente interés en el uso de estos
animales en las actividades de deporte y ocio, de tal manera que llegó a ser visto como atletas, teniendo
que mantener altos niveles de rendimiento y estando susceptibles a varios tipos de lesiones. Los recientes
avances en las áreas de medicina deportiva, fisioterapia y rehabilitación han ayudado en el proceso de
recuperación de estos animales y reanudación de rendimiento atlético tras períodos de inactividad por
lesión. Por lo tanto, esta revisión es para caracterizar las técnicas de fisioterapia y rehabilitación, así como
las principales indicaciones para cada uno de estos. 
Palabras claves: caballo, terapia física, rehabilitación, terapia de ultrasonido 
de equinos
atletas: revisão
as e ligamentares não só significam queda de desempenho, como
também podem significar o afastamento definitivo do esporte5.
Avanços recentes na área da reabilitação e medicina esportiva
equina tornaram possível aos equinos atletas alcançar novos níveis
de excelência6. A fisioterapia e reabilitação são de grande valia para
que a terapia médica ou cirúrgica torne-se bem sucedida, reduzin-
do o tempo de recuperação do paciente e potencializando a chance
de que esse volte a ter o mesmo desempenho nas atividades reali-
zadas anteriormente. Agentes físicos, tais como; frio, calor, eletri-
cidade, som, campos magnéticos, compressão e movimento, po-
dem ser utilizados pelo terapeuta durante a reabilitação de equinos
atletas, no intuito de auxiliar na redução da dor e edema, e promo-
ver a restauração do funcionamento ideal da região afetada7. Entre-
tanto, para a aplicação dessas técnicas, é necessário que se tenha
conhecimento a cerca das indicações e métodos de tratamento, bem
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)
 • 5
como um diagnóstico que proporcione a localização da lesão8;9.
Assim, a presente revisão, tem por objetivo abordar caracte-
rísticas acerca dos mecanismos de ação, indicações e usos de técni-
cas de fisioterapia e reabilitação de equinos atletas.
Termoterapia
Um dos métodos de terapia física mais acessível e utilizado
ao longo do tempo é a termoterapia. Calor ou frio podem ser admi-
nistrados aos equinos de várias maneiras9.
• Terapia a frio
Essa é uma técnica amplamente difundida na medicina espor-
tiva afim de proporcionar condições ideais para a reparação teci-
dual, sendo utilizada principalmente quando se trata de lesões mus-
culoesqueléticas recentes, tendo sua maior eficácia em um período
de até 24 a 48 horas após a injúria. Os maiores benefícios da apli-
cação de terapia a frio são a redução da circulação local, edema e
dor9,10,11. Em resposta ao resfriamento tecidual, há uma redução na
taxa metabólica que leva a inibição enzimática e reduzida libera-
ção de histamina, reduzindo assim o dano tecidual.
A vasoconstrição proporcionada pelo frio, como uma respos-
ta do sistema nervoso autônomo buscando minimizar a perda de
calor corporal, limita a formação de edema e hemorragia. Através
da redução do edema, reduz-se também a pressão sobre receptores
nociceptivos, o que associado a uma menor velocidade de condu-
ção nervosa também proporcionada pelo gelo, promove analge-
sia12. A aplicação do gelo pode ser feita de diversas formas; manu-
almente através de compressas ou bolsas de gelo; por imersão dos
membros em recipientes contendo gelo ou por meio de botas co-
merciais para crioterapia, bandagens de gel, duchas e sprays11. Se-
gundo Starkey (2001), uma temperatura em torno de 13,8ºC é aquela
que propicia ideal redução do fluxo sanguíneo local. O tempo de
aplicação varia de 20 a 40 minutos, devendo-se levar em conside-
ração a estrutura a ser tratada bem como profundidade da lesão11.
uma condição benéfica ao processo de cicatrização de feridas14.
Segundo Stashak (1994)15, o calor pode ser administrado sob for-
ma de calor radiante, através de luz infravermelha; calor conduti-
vo, através de compressas quentes; ou calor conversivo, através de
energia elétrica de alta frequência (diatermia) ou ondas sonoras
(ultrassom). Com relação a profundidade tecidual que atinge, a te-
rapia por adição de calor pode ainda ser classificada em superficial
ou profunda. O calor superficial não atinge profundidades maiores
que 2 cm, tendo assim seu uso limitado quando se deseja aquecer
diretamente tecidos mais profundos, como músculos. O principal
método de aplicação de calor superficial é a luz infravermelha, sendo
esta capaz de reduzir a dor através da estimulação de receptores
cutâneos11. Para aplicação de radiação infravermelha, preconiza-se
uma distância mínima de 30 cm entre o foco de luz e a pele; e o
tempo de aplicação pode variar de 20 a 30 minutos. Seguir essas
recomendações torna-se importante a fim de evitar queimaduras
cutâneas16.
A aplicação de calor profundo pode ser feita por diatermia,
que consiste no uso de energia eletromagnética de elevada fre-
quência que gera calor pela resistência do tecido a passagem da
energia; ou através do uso do ultrassom terapêutico, que através de
vibrações acústicas de alta frequência produz efeitos térmicos e
atérmicos11. Devido aos efeitos não térmicos o ultrassom será me-
lhor abordado em um tópico à parte. De maneira geral, a aplicação
de calor é contraindicada quando se tem lesões agudas, em virtude
de promover aumento da circulação local podendo favorecer a for-
mação de edema, e indicada em lesões subagudas e crônicas visan-
do o controle da dor e reação inflamatória local e promovendo dre-
nagem de áreas infectadas17,18.
Figura 1: Aplicação de crioterapia por imersão em gelo e água
..........................................................................................................................
• Terapia por adição de calor
O uso do calor com fins terapêuticos se dá devido aos seus
efeitos hemodinâmicos, neuromusculares, metabólicos e nos teci-
dos conjuntivos. Um aumento de 10ºC de temperatura representa
um acréscimo de duas a três vezes na taxa metabólica local e incre-
menta a oxigenação tecidual de tal maneira que isso se reflete em
Figura 2: Termoterapia superficial
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Hidroterapia
Modalidades de hidroterapia tais como, exercícios subaquá-
ticos e natação, têm sido utilizadas para reduzir tensões mecânicas
aplicadas sobre os membros, diminuir dor e inflamação e melho-
rar o tônus muscular19. As diversas possibilidades de uso tornam a
hidroterapia uma modalidadeversátil capaz de produzir uma gama
de efeitos terapêuticos, eficazes na restauração funcional e resta-
belecimento do desempenho atlético20. As propriedades físicas da
água proporcionam um meio onde o empuxo, aumento da pressão
hidrostática, viscosidade, capacidade de alterar a temperatura e
a osmolaridade são aplicados em diferentes combinações para
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desempenhar um papel importante na reabilitação músculoesque-
lética individualizada21. A força de empuxo associada a exercícios
subaquáticos melhora a estabilidade articular e reduz os estresses
mecânicos sobre músculos e articulações, além de facilitar a movi-
mentação de fluidos através dos tecidos, promovendo a drenagem
de metabólitos acumulados8,21. O aumento da pressão hidrostática
extravascular incrementa a circulação local auxiliando na redução
de edema21. Além disso, a hidroterapia pode ter adicionada a ela
modalidades térmicas; imersão em água morna promove vasodila-
tação, melhora a circulação e reduz espasmos musculares, enquan-
to a imersão em água fria ajuda a reduzir processos inflamatórios
restringindo por vasoconstrição o acumulo de mediadores inflama-
tórios21.
A hidroterapia também pode ser aplicada através de duchas,
de tal maneira que a pressão exercida pelo jato de água promove
massagem tecidual auxiliando a circulação sanguínea local e a dre-
nagem linfática. Quando a se quer promover a drenagem linfática a
ducha deve ser feita no sentido desta, ou seja, de baixo para cima,
podendo ainda se adicionar a ducha, os efeitos do frio ou do calor22.
Ultrassom Terapêutico
Diferentemente do ultrassom diagnóstico, o ultrassom terapêu-
tico foi trabalhado especificamente para exercer efeitos biológicos
sobre os tecidos23. Através de um cabeçote que transforma energia
elétrica em energia mecânica, o ultrassom gera ondas acústicas em
frequências inaudíveis ao ouvido humano e essas ondas por sua vez
são transmitidas aos tecidos biológicos, se propagando através de
vibrações de moléculas presentes no meio, de tal maneira que a
compressão e expansão promovida aos tecidos possa auxiliar no
processo de regeneração destes9,24. Para que haja propagação das
ondas acústicas é necessário que se tenha um meio dotado de pro-
priedades elásticas, onde o movimento vibratório de uma molécula
possa ser transmitido às moléculas adjacentes25. O ultrassom pode
ser utilizado para estimular a cicatrização, aliviar a dor, reduzir
edemas e promover fibrinólise9. A aplicação do ultrassom pode ser
feita em modo contínuo ou pulsado; no modo contínuo a energia é
aplicada de maneira ininterrupta em ciclos de frequência maiores
ou iguais a 100% de tal maneira que predominam os efeitos térmi-
cos, assim o US utilizado nesse modo promove a extensibilidade
de tecidos ricos em colágeno, maior fluxo sanguíneo e atividade
enzimática locais, podendo ser associado a exercícios de amplitu-
de, quando o ultrassom é utilizado de maneira pulsada, entretanto,
a energia é aplicada de modo interrompido em ciclos de frequência
que variam de 20 a 100%, de forma que os efeitos mecânicos pre-
dominam sobre os efeitos térmicos, esse modo é utilizado princi-
palmente quando se objetiva acelerar o processo de cicatrização de
feridas8,12,22,24. A frequência a ser utilizada correlaciona-se com a
profundidade dos tecidos que se deseja atingir, o que torna neces-
sário o conhecimento da anatomia e de aspectos particulares desses
tecidos11,12. Usualmente se tem duas frequências no ultrassom, de 1
e 3 MHz, sendo a frequência de 1MHz capaz de penetrar de 2 a 5
cm e a frequência de 3 MHz de 1 a 3 cm de profundidade12.
A maioria dos aparelhos de ultrassom terapêutico trabalha com
intensidades que variam de 0 a 2 W/cm2, em geral quanto maior a
intensidade, mais significativo o aumento de temperatura proporci-
onado pelo ultrassom. Para aquecer áreas com quantidade signifi-
cativa de tecidos moles, intensidades tão altas quanto 2 W/cm2 po-
dem ser utilizadas, porém quando se tem pouca quantidade de teci-
do mole ou tecido ósseo próximo a superfície da pele, recomenda-
se o uso de intensidades mais baixas12. Apesar de níveis de até 2 W/
cm2 poderem ser utilizados, Olsson et al (2008)24, especula que o
uso de ultrassom terapêutico em intensidades acima de 1,5 W/cm2
pode causar efeitos danosos aos tecidos em recuperação. A terapia
com ultrassom deve sempre buscar se estabelecer dentro de limites
abaixo dos quais ocorram efeitos deletérios aos tecidos26.
 O tempo de aplicação varia de quatro a 10 minutos por área,
de maneira que quando se tem uma superfície grande, esta é dividi-
da em três a quatro partes iguais e o mesmo tempo é aplicado em
cada uma dessas partes24. O tratamento é normalmente realizado
uma ou duas vezes por dia, durante um período que varia de 10 a
14 dias, devendo se fazer tricotomia da área e utilização de gel
condutor para melhorar o contato do cabeçote com a pele9. Contra-
indica-se a utilização do ultrassom terapêutico em áreas periocula-
res, próximo a centros de crescimento ósseo antes que esse cresci-
mento tenha sido concluído, em fraturas e processos inflamatórios
agudos, animais que apresentam distúrbios circulatórios, neoplasi-
as e processos sépticos18.
Figura 3: Ultrassom terapêutico
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Terapia com Ondas de Choque
(Extracorporeal Shock Wave Therapy - ESWT)
A utilização da terapia com ondas de choque (ESWT) na Me-
dicina Equina iniciou na Alemanha por volta de 1996. Devido a
experiências positivas no tratamento de desmopatias em humanos,
a primeira afecção em equinos a ser tratada com esse tipo de tera-
pia, foi a desmite do ligamento suspensor do boleto27.
A ESWT consiste em ondas de pressão acústica produzidas
por um gerador e propagadas no corpo do paciente, de maneira
localizada, onde incrementam o fluxo sanguíneo local, estimulam
a remodelação óssea e fortalecem estruturalmente as articulações28,29.
O mecanismo através do qual esses efeitos ocorrem ainda não é
totalmente elucidado, porém estudos “in vitro” demonstram a in-
fluência que essa terapia pode apresentar sobre expressão de genes
e fatores de crescimento, envolvidos nos processos inflamatórios e
de reparação tecidual31;31. A ESWT diferencia-se do ultrassom tera-
pêutico pela menor frequência de ondas, menor absorção tecidual
e ausência de efeitos térmicos32.
Em geral a terapia com ondas de choque é indicada em tendi-
nites, desmites, osteoartrites e dores em grupos musculares pro-
fundos9. Um trabalho realizado por Alves et al (2009)28, mostra
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resposta positiva a ESWT em animais com desmites de ligamento
supraespinhoso e interespinhoso, independente de serem crônicas
ou agudas.
Para que se atinjam resultados ótimos é fundamental que se
tenha um diagnóstico preciso e um acompanhamento através de
exames de imagem que permita avaliar a eficácia do tratamento e
estabelecer um plano de reabilitação adequado. Para execução do
tratamento é importante que se estabeleça um bom contato entre a
superfície a ser tratada e o dispositivo, pois o ar pode interferir na
transmissão das ondas. O foco da onda, densidade energética e
número de pulsos utilizados irão depender da área e grau da lesão.
Os tratamentos com ESWT, geralmente consistem de três sessões,
com intervalos de duas a três semanas entre elas. Após cada uma
das sessões o cavalo deve permanecer ao menos dois dias sem ati-
vidade física e duas semanas após a terceira sessão é recomendado
que se faça uma avaliação completa do animal, afim de decidir
pela continuidade ou não do tratamento9.
Eletroterapia
A estimulação elétrica tem muitos benefícios documentados
nos seres humanos, tais como aumento da força muscular, diminui-
ção de espasmos musculares e alívio da dor agudae crônica12. O
uso de corrente elétrica para redução da dor retoma a estória de um
grego antigo que ao pisar em um peixe elétrico notou alivio da dor
que sentia23. Embora algumas classificações mais gerais possam
colocar modalidades como ultrassom terapêutico e ESWT como
métodos de eletroterapia, aqui iremos restringi-la a dois tipos de
correntes, por serem essas fornecidas pela maioria dos aparelhos
disponíveis no mercado e corriqueiramente utilizadas na prática
clinica; a estimulação elétrica funcional (FES) e estimulação elétri-
ca transcutânea (TENS).
A corrente de TENS quando aplicada promove alívio da dor;
primeiramente, por meio da inibição de nociceptores aferentes en-
volvidos no reconhecimento e transmissão do estímulo doloroso,
conforme prega a “teoria do portão” e em segundo plano por esti-
mular a liberação de opioides endógenos que causam a inibição da
dor de maneira descendente33,34. A corrente de FES por sua vez,
promove estimulação parcial do músculo sadio ou contração total
de músculos desenervados, de modo que sua utilização busca evi-
tar que grupos musculares atrofiados exacerbem essa atrofia e au-
xiliar no fortalecimento muscular de suporte para animais em trei-
namento8,23,35. Em ambas as correntes a estimulação inicia sempre
com uma intensidade mais baixa e que vai sendo aumentada grada-
tivamente8.
Os efeitos adversos da eletroestimulação são mínimos, poden-
do haver irritação da pele quando os eletrodos são mantidos por
muito tempo em um mesmo local. As contraindicações incluem
doenças cardíacas, prenhes, febre e infecção; não sendo recomen-
dado, além disso, posicionar eletrodos sobre a cavidade torácica23.
É importante ressaltar que nem sempre é possível prever a reação
do cavalo aos estímulos, devendo sempre se ter cuidado e avaliar
constantemente as reações do animal durante a aplicação, evitando
assim acidentes.
Laser de Baixa Intensidade
Embora em uso a mais de 30 anos, a terapia a laser, se conso-
lidou na medicina veterinária apenas nos últimos 10 anos. O laser
traz benefícios semelhantes aos da acupuntura, porém sem ser in-
vasivo. Existem quatro classes de laser, sendo o laser de classe IV
o mais comumente utilizado na clínica médica de equinos23.
A terapia a laser baseia-se na absorção de luz por moléculas
cromóforas, que se localizam nas mitocôndrias dos tecidos irradia-
dos. A energia emitida pelo laser é então transformada em energia
bioquímica, resultando em uma série de reações que modulam fun-
ções celulares e estimulam mecanismos de reparação tecidual36. Os
efeitos biológicos do laser incluem redução na expressão da inter-
leucina-1, redução da despolarização nervosa e liberação de en-
dorfinas, resultando em propriedades anti-inflamatórias e analgé-
sicas. A dose de energia utilizada no tratamento irá depender da
natureza e profundidade da lesão9.
O laser de baixa frequência é indicado no tratamento de feri-
das, lesões de tecidos moles, osteoartrite e alívio da dor, podendo
ainda atuar sinergicamente com o Plasma Rico em Plaquetas (PRP)
no tratamento de lesões de tendões e ligamentos9,23.
Deve-se atentar para a execução do protocolo adequadamente
durante o uso, para evitar o superaquecimento tecidual bem como
se deve prezar pela proteção da córnea do operador e do animal,
principalmente quando se trata lesões próximas aos olhos. O laser
é contraindicado em fêmeas prenhes, animais em fase de cresci-
mento e pacientes com problemas hematológicos23.
Exercício Controlado
O exercício controlado é parte fundamental de praticamente
todos os programas de reabilitação37. A realização de exercícios
pós-lesão melhora o processo de cicatrização de tendões, ligamen-
tos e músculos38. De acordo com publicação feita por Gillis (1997)39,
o exercício sozinho é capaz de promover resultados satisfatórios
na recuperação de 67 a 71% dos cavalos com lesões de tecidos
moles.
Figura 4: Aplicação de estimulação elétrica transcutânea (TENS)
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O exercício controlado comumente inicia em baixa intensida-
de e é aumentado progressivamente de acordo com a resposta do
paciente. Uma caminhada leve, a mão, pode ser introduzida na ro-
tina do animal poucos dias após a lesão; a fim de orientar o alinha-
mento das fibras tendíneas, musculares e ligamentares em repara-
ção, bem como prevenir a formação de aderências indesejáveis9.
Davidson (2016)37, destaca a importância de um diagnóstico preci-
so na prescrição de um programa de exercícios controlados; segun-
do este autor, sem um diagnóstico apurado a grandes possibilida-
des que os exercícios adotados, de maneira errônea, possam contri-
buir para reincidência da lesão ou até mesmo desabilitar o animal
de atividades atléticas por completo.
O período de tempo no qual o programa de exercícios contro-
lados tendo em vista a reabilitação irá ocorrer depende, não só do
grau da lesão como também do tecido lesionado. Normalmente afec-
ções musculares requerem um menor tempo de reabilitação que
afecções ósseas, que por sua vez podem requerer menor tempo que
afecções de ligamentos e tendões, isso se dá devido a particularida-
des desses tecidos que se expressam tanto nos mecanismos pelos
quais eles são lesionados, como no processo de reparação destes.
Vários protocolos são descritos, podendo o tempo total de reabili-
tação variar desde alguns meses até mesmo um ou dois anos em
desmopatias e tendinopatias mais graves9;37.
Considerações Finais
Os avanços na área da fisioterapia e reabilitação de equinos
têm proporcionado resultados aos animais atletas que anteriormen-
te seriam improváveis. A diversidade de métodos de terapia física
disponíveis facilita a sua aplicabilidade e torna possível subtrair o
tempo que seria necessário a reabilitação dos equinos, provendo
melhor condição de vida ao animal e minimizando prejuízos finan-
ceiros. Sendo assim, temos em tais métodos uma poderosa ferra-
menta terapêutica a disposição de medicina esportiva equina. 
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10 • 
Introdução e Discussão
Ozônio é um gás natural cuja molécula é composta por 3 oxi-
gênios que se ligam em uma reação endotérmica. Foi descoberto
em 1840 por Christian Friedrich Schobein ao realizar um experi-
mento com arco voltaico e perceber um “cheiro de eletricidade” no
ar ao final do experimento. Sua primeira aplicação médica foi rea-
lizada durante a Primeira Guerra Mundial nas bases do exército
alemão, como estratégia de tratamento dos ferimentos de guerra1.
Ozonioterapia é definida pelo Comitê Científico Internacio-
nal de Ozonioterapia como um tratamento médico que utiliza uma
mescla de gases oxigênio-ozônio (0,05 à 5% de ozônio) como agente
terapêutico para tratar um amplo conjunto de enfermidades6.
RESUMO: O ozônio é um fármaco em forma gasosa que apresenta ampla aplicabilidade médica. Em função das
doses e concentrações utilizadas, pode apresentar efeitos antissépticos, imunomodulatórios e analgésicos, tratando
doenças sistêmicas, ortopédicas, dermatológicas e até mesmo oncológicas. Sua grande acessibilidade e baixo
custo tornam a terapia muitas vezes banalizada e pouco creditada entre o meio médico e científico, apesar das
inúmeras publicações disponíveis. Sua execução deve ser exclusiva a médicos e médicos veterinários e deve ser
realizada com critérios técnicos, ética e consciência.
Unitermos: ozonioterapia, infecção, inflamação, dor, gás
ABSTRACT: Ozone is a gaseous drug with broad medical applicability. Depending on the doses and concentrations
used, it may present antiseptic, immunomodulatory and analgesic effects, treating systemic, orthopedic,
dermatological and even oncological diseases. Its great accessibility and low cost make the therapy often banalized
and poorly credited between the medical and scientific environment, despite the numerous publications available.
The execution should be exclusive to physicians and veterinarians and should be performed with technical, ethical
and conscientious criteria.
Keywords: ozonotherapy, infection, inflammation, pain, gas
RESUMEN: El gas ozono es una forma de fármaco que tiene una amplia aplicabilidad médica. Debido a las
repetidas dosis y concentraciones pueden proporcionar antiséptico, analgésico y efectos inmunomoduladores,
el tratamiento de enfermedades sistémicas, ortopédica, dermatológicas y oncológicas incluso. Su gran accesibilidad
y bajo costo hacen que la terapia a menudo trivializado y poco le atribuye entre la comunidad médica y científica,
a pesar de las numerosas publicaciones disponibles. Su ejecución debe ser única para los veterinarios y los
médicos y debe ser realizado con criterios técnicos, la ética y la conciencia.
Palabras clave: ozonoterapia, infección, inflamación, dolor, gas
um Fármaco
Multifatorial
Os equipamentos médicos possuem mecanismos de geração
induzido pelo efeito corona, em que o oxigênio medicinal (puro,
100% e estéril) é conduzido por meio de uma mangueira de silico-
ne até uma bobina elétrica, a qual fornece energia para a formação
da mistura gasosa em concentrações pré-estabelecidas pelo opera-
dor (Figura 1).
O ozônio possui mecanismos de ação diretas e indiretas. Ao
entrar em contato direto com microrganismos, promove a oxidação
imediata de suas membranas ou cápsulas plasmáticas, resultando
em poros que promovem o desbalanço hidroeletrolítico e a morte
celular5. O mecanismo indireto ocorre principalmente nas aplica-
ções por vias sistêmicas, cuja resposta é dependente da ativação de
Dra. RobertaCarvalho Basile*
(carvalho.basile@gmail.com)
MV., Professora de Clínica e
Cirurgia de Grandes Animais,
UNICEP São Carlos, SP
MSc. Laryssa Rosseto
Doutoranda FCAV-UNESP
Jaboticabal, SP
MV. Lara Antoniassi del Rio
Residente UNIRP, São José do
Rio Preto, SP
Dr. Jean Guilherme Joaquim
Instituto Bioethicus, Botucatu, SP
Dra. Paola Castro Moraes
MV., Professora de Clínica
Cirúrgica Veterinária, FCAV
UNESP Jaboticabal, SP
* Autora para correspondência
“Ozone: a multifatorial drug”
“Ozono: un medicamento
multifactorial”
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mecanismos de transdução nuclear, mediado pelo gene Nrf2, da
síntese de enzimas antioxidantes tais como superóxido dismutase,
catalase, glutationa peroxidase e heme-oxigenase-1 e interleucinas
anti-inflamatórias6. O gás possui efeito antisséptico, não possui efeito
antibiótico. Isto quer dizer que, para eliminar microrganismos, ne-
cessita de contato direto com eles, em aplicações por vias tópicas
ou cavitárias.
O gás atua como fármaco, possuindo faixa terapêutica, doses
ineficazes e doses tóxicas. Os valores preconizados para humanos
são diretamente transpostos para o uso em animais, sem haver até o
momento demais estudos espécie-específicos. São utilizadas doses
entre 0,01 à 0,1 mg/kg/dia quando o gás é aplicado por vias sistê-
micas9.
Sistemicamente, o ozônio pode ser aplicado entre concentra-
ções de 10 à 40 mg/mL diretamente na forma de gás por via intra-
retal/intravaginal (Figura 2), ou diluído em solução salina 0,9%
(Figura 3) ou sangue do próprio paciente (Figura 4) por via intra-
Figura 1: Equipamento gerador de ozônio medicinal
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venosa (auto-hemoterapia maior) ou intramuscular (auto-hemote-
rapia menor), apresentando ações imunomodulatórias. Pode ainda
ser aplicado na forma de gás por via intra-articular (Figura 5),
perilesional, paravertebral (Figura 6), perifacetária, intradiscal, óti-
ca, óptica, intravesical, tópica, intraperitoneal, intramuscular (Fi-
gura 7), técnica de bagging (Figura 8) e flushing (Figura 9), apre-
sentando por estas vias ações antisséptica, anti-inflamatória e anal-
gésica. A via inalatória é proibida por causar broncoatelectasia11.
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Figura 2: Ozonioterapia por via retal em equino. Figura 3: Processo
de ozonização de fluidos
Figura 4: Sangue ozonizado
para auto-hemoterapia maior.
Esquerda, sangue em
coloração vermelha clara pós
ozonização. Direita, sangue
obtido por punção venosa.
Figura 5: Aplicação intrarticular
de ozônio para tratamento de
osteoartrite.
Figura 6: Aplicação
paravertebral de ozônio para
tratamento de lombalgia.
Figura 7: Aplicação de ozônio
para disfunção sacroilíaca.
12 • 
As concentrações a serem aplicadas nas vias locais ou tópicas
devem variar entre 10 e 70 mg/mL, sendo que quanto maior a con-
centração escolhida, maior o efeito antisséptico. Porém a escolha
da concentração deve ainda respeitar os limites de toxicidade de
cada tecido. Tecidos e órgãos mais delicados devem receber con-
centrações menores para que não haja necrose, tais como mucosas,
alças intestinais e olhos6.
A citotoxidade do ozônio foi testada em ratos e determinada
por via intraperitoneal como sendo de 2,3 mg/kg. A partir de 1,4
mg/kg o ozônio começa a apresentar efeitos clastogênicos3. Por-
tanto, a ozonioterapia apresenta um fator de segurança de 14 vezes
ao se respeitar os limites de dose preconizados (0,01 à 0,1 mg/kg)4.
Apresenta ainda contraindicações em casos de anemia hemolítica,
estados de estresse oxidativo agudo, trombocitopenia severa, he-
morragias de grande profusão, entre outras.
Ao entrar em contato com fluidos orgânicos, o ozônio rapida-
mente oxida moléculas resultando em radicais livres e lipoperóxi-
dos. Os radicais livres formados (ânion superóxido, peróxido de
hidrogênio, ânion hidroxila) possuem meia vida de 60 segundos,
sendo rapidamente inativados pelos antioxidantes sistêmicos. Já os
lipoperóxidos são mais duradouros e gerados pela oxidação de li-
pídeos livres, sendo os principais formados o malondialdeído
(MDA) e 4-hidroxi-nonenal (4HNE)11.
Estes lipoperóxidos circulam por todos os órgãos, distribuin-
do a mensagem de estado de estresse oxidativo aos tecidos. Cada
tipo celular responde de forma específica à mensagem recebida.
Por exemplo, as hemácias aumentam a disponibilização de oxigê-
nio por diminuição da afinidade da hemoglobina ao oxigênio2; as
células endoteliais promovem vasodilatação local pela liberação
de óxido nítrico8; as plaquetas liberam fatores de crescimento e
transformadores de crescimento de fibroblastos8; aumenta a ativi-
dade fagocitária de neutrófilos10; liberação de interleucinas anti-
inflamatórias e enzimas antioxidantes11.
A ativação do gene Nrf2 pela ozonioterapia foi verificada em
um estudo7 que constatou o pico de atividade 30 minutos após a
administração de autohemoterapia maior em 6 pacientes humanos.
Além disso, verificaram ainda relevante aumento na produção de
superóxido dismutase, catalase e glutationa reduzida, atuando como
modulador do estresse oxidativo e da inflamação.
A ozonioterapia é uma técnica de tratamento ampla, que pode
oferecer efeitos antissépticos, anti-inflamatórios, imunomodulató-
rios e analgésicos a depender das doses e concentrações utilizadas.
Possui mecanismos de ação sistêmica complexos, atuando direta-
mente como mensageiro de estresse oxidativo e promovendo a ati-
vação de genes com funções citoprotetoras. Necessita ser utilizada
de forma técnica e responsável pois, como qualquer fármaco, apre-
senta toxicidade, contraindicações e efeitos adversos. 
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Figura 8: Técnica de “bagging” para tratamento de feridas. Figura 9:
Técnica de “flushing” para tratamento de afecções de casco
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 • 13
14 • 
Introdução
A síndrome cólica é uma das afecções de maior prevalência
em equinos, podendo acarretar prejuízos significativos devido ao
custo elevado do tratamento e a possibilidade de óbito. As cólicas
podem ser causadas por vários mecanismos, sendo as obstruções res-
ponsáveis por 56% de sua ocorrência, com taxas de óbito de 21 e
76%, quando simples ou estrangulantes, respectivamente. O compro-
metimento do fluxo sanguíneo intestinal nos cavalos resulta, mais fre-
quentemente, da torção mecânica ou encarceramento do intestino10.
Enfarto associado com doença trombótica vascular mesenté-
rica, sem nenhuma evidência de estrangulamento, tem sido associ-
ado com migração das larvas de Strongylus vulgaris ou da arterite
de ramos da artéria
mesentérica cranial
consequente à torção
uterina em égua:
relato de caso
Gonçalo da Rocha Morona;
Gustavo Morandini Reginato;
Julia de Assis Arantes;
Pedro Henrique Sales Britto;
Marília Alves Ferreira;
Roberto Romano do Prado Filho
Residentes do Programa de
Residência em Área Profissional
da Saúde em Saúde Animal e
Ambiental / Clínica Médica e
Cirúrgica de Equinos da FZEA/USP
- Pirassununga, SP
Paulo Fantinato Neto
Prof. Dr., do curso de Medicina
Veterinária do Centro Universitário
Moura Lacerda -
Ribeirão Preto, SP
Renata Sampaio Gebara Dória*
(redoria@usp.br)
Profa. Dra., do Depto. de
Medicina Veterinária da FZEA/USP
Pirassununga, SP
* Autora para correspondência
RESUMO: O presente relato de caso trata de um infarto intestinal associado com trombose da artéria mesentérica
cranial, sem obstrução estrangulativa do intestino. Uma égua sem raça definida (SRD), 8 anos de idade foi
admitida no Hospital Veterinário da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, com desconforto
abdominal há cerca de 72 horas. Devido ao grau de dor e achados laboratoriais optou-se em realizar laparotomia
exploratória. Aproximadamente 12 horas após a cirurgia o animal apresentou novamente dor abdominal aguda,
vindo a óbito na sala de indução anestésica. Durante a necropsia, observou-se necrose em alguns segmentos do
jejuno, de todo o ceco e colón ventral direito. Trombose de ramos da artéria mesentérica cranial foi considerada
devido ao processo de isquemia e reperfusão e a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS).
Unitermos: trombose, artéria mesentérica cranial, equino
ABSTRACT: The present case report deals with an intestinal infarction associated with thrombosis of the cranial
mesenteric artery, without strangulative intestinal obstruction. A non-defined breed mare, 8 years old, was admitted
to the Veterinary Hospital of the Faculty of Animal Science and Food Engineering, with abdominal discomfort for
about 72 hours. Dueto the degree of pain and laboratory findings, an exploratory laparotomy was performed.
Approximately 12 hours after surgery, the animal showed again acute abdominal pain, and died in the anesthetic
induction room. During necropsy, necrosis was observed in some segments of the jejunum, through out the
cecum and right ventral colon. Thrombosis of branches of the cranial mesentericarterywas considered dueto the
ischemia and reperfusion process and the systemic inflammatory response syndrome(SIRS).
Keywords: thrombosis, cranial mesenteric artery, equine
RESUMEN: El presente caso trata un infarto intestinal asociado a trombosis de la arteria mesentérica craneal sin
obstruccióne strangulativa del intestino. Una yegua mestiza, de 8 años de edad fue admitida em el Hospital
Veterinario de la Facultad de Ciencia Animal e Ingeniería de Alimentos de la Universidad de São Paulo, campus
Fernando Costa, Pirassununga, com mal estar abdominal durante las últimas 72 horas. Debido al grado de dolor
y hallazgos de laboratorio se decidió realizar una laparotomía exploratoria. Aproximadamente 12 horas después
de la cirugía el animal presentó nuevamente dolor abdominal agudo, hasta su posterior muerte en la sala de
inducción anestésica. Durante la necropsia se observo necrosis em algunos segmentos del yeyuno, todo el ciego
y el colon ventral derecho. Ramas trombosis de la arteria mesentérica craneal se considero debido al proceso de
la isquemia y la reperfusión y el síndrome de respuesta inflamatoria sistémica (SIRS).
Palabras clave: trombosis, arteria mesentérica craneal, equino
resultante. O termo cólica tromboembólica foi usado para abranger
cólicas produzidas por infartos não estrangulativos intestinais rela-
cionados com S. vulgaris, induzindo arterite e cólica, produzidos
pela redução do fluxo de sangue intestinal. Quando o termo é usa-
do para descrever a lesão intestinal, é relacionado ao infarto causa-
do por trombos na vasculatura periférica mesentérica11.
A trombose venosa mesentérica (também conhecida como
trombose venosa visceral) é uma forma rara, mas letal, de isquemia
mesentérica que pode acometer seres humanos. A isquemia mesen-
térica (IM) pode ser classificada como aguda (IMA) ou crônica
(IMC), dependendo da progressão dos sinais clínicos. Assim, exis-
tem classificações de acordo com a origem (arterial ou venosa) e
“Thrombosis of branches of the cranial
mesenteric artery in consequence of uterine
twist in a mare: case report”
“Trombosis del ramas de la arteria mesentérica
craneal resultado del útero entorsión en una
yegua: presentación de un caso”
 • 15
fisiopatologia (obstrutiva ou não obstrutiva)6. As lesões teciduais
decorrentes das obstruções são iniciadas pela hipóxia, a qual de-
sencadeia uma série de eventos fisiopatológicos sequenciais e in-
terdependentes. Com a reoxigenação após a correção cirúrgica, as
lesões geradas pela hipóxia se agravam, aumentando a resposta in-
flamatória inicial, o que pode ocasionar uma reação sistêmica e
possibilidade de disfunção em múltiplos órgãos. Tais lesões são
desencadeadas por dois eventos interdependentes: a inflamação e
o estresse oxidativo, ambos presentes tanto na isquemia, quanto na
reperfusão10.
Isquemia e Reperfusão
A definição de isquemia está ligada com a redução ou inter-
rupção do fluxo sanguíneo, compondo uma das principais causas
de lesão tecidual. As modificações celulares são diretamente rela-
cionadas à duração da isquemia e, quando essa se estende por tem-
po suficiente, ocasiona necrose5. A isquemia é uma redução subs-
tancial no fornecimento de sangue, devido a qualquer constrição
funcional ou obstrução mecânica dos vasos sanguíneos que condu-
zem a perfusão tecidual, levando a inadequada oxigenação9. A res-
tauração do fluxo sanguíneo, depois de um período de isquemia
intestinal, é necessária para manter a função de células e viabilida-
de. No entanto, a reintrodução abrupta de oxigênio, ou seja, a re-
perfusão, pode iniciar uma cascata de eventos que exacerba a lesão
do tecido9. Devido ao seu papel na produção de energia, o oxigênio
é essencial para função celular normal e, em última análise, sobre-
vivência celular. Na maioria das células, o consumo de oxigênio
ocorre nas mitocôndrias, onde o oxigênio é reduzido à água pelo
transporte de cadeia de elétrons. Este processo é acoplado com a
síntese de adenosina trifosfato (ATP), a principal fonte de energia
na maioria das células. A privação de oxigênio leva a insuficiência
de fosforilação oxidativa e diminuição na produção de ATP, o qual
é necessário para satisfazer as demandas metabólicas da célula. A
redução do fornecimento de sangue no trato intestinal resulta em
rápida diminuição no suprimento de oxigênio, causando lesão e
morte das células da mucosa intestinal, que são altamente depen-
dentes deenergia9.
Quando o oxigênio se esgota no nível celular, ocorre uma sé-
rie de eventos que levam a danos e, finalmente, morte celular. À
medida que a concentração de oxigênio continua a diminuir, as con-
centrações de ATP também diminuem e glicólise anaeróbica ocor-
re, em uma tentativa para manter a função da célula. Estas altera-
ções causam a diminuição pH intracelular devido ao acúmulo de
lactato e de íons de hidrogênio a partir da hidrólise de ATP8,9. Com
a restrição da energia disponível, verificam-se alterações na per-
meabilidade da membrana, que libera o aporte de sódio e cálcio e a
saída de potássio da célula, levando à ampliação citoplasmática e à
degeneração hidrópica5. A diminuição de ATP intracelular prejudi-
ca o transporte ativo, através da membrana celular, mediado pela
bomba de Na+/K+ ATPase, o que acarreta alterações na permeabi-
lidade dessa membrana. O aumento de sódio intracelular ocasiona
a difusão de água para o interior da célula, resultando em edema,
desintegração da mitocôndria, do retículo endoplasmático e ruptu-
ra de lisossomas, com a liberação das enzimas contidas em seu
interior7,10.
Durante a isquemia, ocorre elevação das concentrações de
cálcio intracelular, o que ativa a fosfolipase A2 (PLA2) associada
às células, com subsequente degradação da membrana de fosfoli-
pídeos, liberando ácidos graxos, o que provoca tanto alterações de
membrana como de estrutura intracelular. A fosfolipase A2, de-
sempenha um papel central em várias reações bioquímicas e nas
funções celulares9,10. Uma dessas funções é a liberação de ácido
araquidônico, a partir dos fosfolipídeos da membrana celular, re-
gulando a formação de lisofosfolípidos, tais como lisofosfatidilco-
lina e fator de agregação plaquetária (PAF)9. O ácido araquidônico
é um substrato para síntese de eicosanoides, substâncias que atuam
como mediadores inflamatórios. A partir do ácido araquidônico,
pela via da enzima ciclo-oxigenase, são produzidos prostaglandi-
nas e tromboxanos e, pela via da lipoxigenase, as lipoxinas e leuco-
trienos. Essas substâncias irão ativar plaquetas, leucócitos, células
endoteliais e moléculas de adesão, gerando vários eventos inflama-
tórios como aderência, quimiotaxia e degranulação de leucócitos,
aumento da permeabilidade vascular, agregação plaquetária e pro-
dução de radicais livres10.
O fator de ativação plaquetária é liberado a partir de diferen-
tes tipos celulares, incluindo células endoteliais, neutrófilos, pla-
quetas, e macrófagos9. Além de contribuir com os eventos celula-
res e circulatórios da inflamação, também induz a produção de ou-
tros mediadores pelas células inflamatórias locais. Entre suas ações
estão o aumento da aderência, degranulação e produção de radicais
superóxido pelos neutrófilos e aumento da permeabilidade vascu-
lar9,10. Com o restabelecimento do aporte sanguíneo para o tecido,
vários fatores atuam para o agravamento das lesões teciduais. Ini-
cialmente, considerou-se que a lesão de reperfusão era causada pela
produção de quantidades aumentadas de radicais livres de oxigê-
nio no tecido pós-isquêmico. Os radicais livres derivados do oxi-
gênio (RLOs) são moléculas que possuem um elétron não empare-
lhado em seu orbital externo. Por conta dessa característica, esses
são extremamente reativos e podem produzir alterações celulares
graves por meio da peroxidação de lipídios do citoplasma e da mem-
brana celular, oxidação de proteínas e fragmentação de ácidos nu-
cléicos5. Os radicais livres são geralmente instáveis e altamente
reativos9. Os RLOs mais importantes são o superóxido (O2-) e o
radical hidroxil (OH-)5,9,10.
Para manutenção da integridade dos tecidos é fundamental o
equilíbrio entre produção e eliminação de RLOs. Caso haja dese-
quilíbrio, é desencadeado um processo de estresse oxidativo, por
meio dos RLOs, que causam alterações teciduais5. Ou seja, quando
o oxigênio é fornecido durante a reperfusão, formam-se como sub-
produtos, os RLOs, oxidantes, que além de aumentar a lesão celu-
lar, também ativam a PLA2 e estimulam a quimiotaxia de mais
células inflamatórias10.
Existem várias vias para a geração de radicais superóxido, um
RLO, podendo ser por produção enzimática ou por vias não enzi-
máticas. Durante o processo isquêmico, devido à diminuição do
ATP celular, ocorre aumento da concentração de cálcio citosólico,
que em conjunto com a calpaína, convertem a xantina desidrogena-
se (XDH), uma enzima presente no citosol das células animais,
para xantina-oxidase (XO), de forma irreversível. A XO, na pre-
sença de oxigênio, catalisa a oxidação da hipoxantina, um subpro-
duto da quebra do ATP, em xantina e ácido úrico, com a geração de
um radical superóxido9.
RLOs derivados da XO iniciam o recrutamento e ativação de
granulócitos pós-isquemia do intestino, mediando ou exacerbando
a lesão da mucosa intestinal. Da mesma forma, eles iniciam a gera-
ção de substâncias, como leucotrienos, complemento e PAF, os quais
promovem a quimiotaxia, adesão e extravasamento de leucócitos
na reperfusão9. A adesão dessas células ao endotélio vascular, na
microcirculação, dificulta o fluxo sanguíneo local, determinando
uma “segunda onda” de lesão por RLOs5.
16 • 
O processo de isquemia-reperfusão envolve, também, a atua-
ção do óxido nítrico (NO), o qual auxilia nas funções primordiais
dos tecidos, como a regulação do fluxo sanguíneo por meio do re-
laxamento da musculatura vascular, além de reduzir a adesividade
de neutrófilos ao endotélio vascular, inibir a formação de micro-
trombos e antagonizar o vasoespasmo produzido por substâncias
vasoconstritoras. Nos processos inflamatórios, a síntese de NO é
acentuada e passa a desencadear efeitos não desejáveis devido à
interferência na regulação da circulação local e sistêmica, ou à pro-
dução de moléculas altamente reativas, como os radicais hidroxil e
dióxido de nitrogênio, e o ânion peroxinitrito5.
O resultado líquido da geração de RLOs é o dano estrutural
causado ao tecido por lipoperoxidação das membranas celulares e
suas organelas e a produção de mediadores de fosfolipídios, devi-
do à ativação da PLA2, liberando numerosos mediadores inflama-
tórios, que exacerbam os danos aos tecidos. Os neutrófilos são re-
crutados para os tecidos durante a isquemia e a reperfusão; em se-
guida, eles sofrem degranulação e lançam produtos destrutivos (pro-
teases e RLOs), que vão exacerbar ainda mais a lesão tecidual9.
Os eventos subsequentes à hipóxia e reoxigenação são inter-
dependentes e complementares e compreendem, em última análi-
se, uma resposta inflamatória tão intensa quanto maior o tempo de
obstrução e o comprometimento circulatório decorrente. A magni-
tude da reação inflamatória tecidual pode gerar uma inflamação
generalizada, caracterizando a síndrome da resposta inflamatória
sistêmica (SIRS), que pode ocasionar a síndrome da falência de
múltiplos órgãos (MODS)10.
A síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) está
associada a uma reação inflamatória sistêmica de natureza infecci-
osa, traumática ou metabólica4. Esse processo pode ser precipitado
por muitos fatores diferentes, incluindo microrganismos, vírus, trau-
ma, reações imunológicas e hipóxia3. Mediadores químicos infla-
matórios alteram a manutenção da homeostase no organismo, in-
duzindo a produção, em excesso, de moléculas de adesão, óxido
nítrico, produtos do metabolismo do ácido araquidônico, fator ati-
vador plaquetário, citocinas e fator de necrose tumoral (TNF)4. Em
consequência, a síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (MODS)
é resultante da liberação de citocinas que ocasionam injúrias endo-
teliais, aumentando a permeabilidade vascular, hipotensão arterial,
vasodilatação arteriolar e hipoperfusão tecidual com danos isquê-
micos. A síndrome da disfunção múltipla dos órgãos (MODS) des-
creve uma síndrome clínica em que há graus progressivos e gradu-
ados de disfunção de múltiplos sistemas de órgãos principais, as
quais podem ou não progredir para falha. Em essência, SIRS des-
creve um processo e MODS descreve o resultado desse processo3.O estímulo à produção de mediadores pró-inflamatórios e inflama-
tórios é um mecanismo essencial para proteger o organismo, pro-
movendo um “equilíbrio inflamatório”. Como exemplo, uma falha
circulatória grave pode desencadear um excesso da resposta pró-
inflamatória, induzindo quimiotaxia neutrofílica, ativação de pla-
quetas, vasoconstrição ou vasodilatação e aumento da permeabili-
dade capilar. Com o decorrer do processo inflamatório, é desenca-
deada a fase de efeitos colaterais, como abertura de “shunts” arte-
riovenosos, fechamento dos esfíncteres pré-capilares, vasodilata-
ção, excessiva permeabilidade vascular, formação de “microtrom-
bos” leucocitários, agregação plaquetária juntamente com coagula-
ção intravascular disseminada e ativação do sistema retículo endoteli-
al, levando a lesões celulares e alterações metabólicas graves4.
Outro fator potencial no agravamento do quadro de SIRS são
disfunções no sistema gastrointestinal, como diminuição do peristal-
tismo devido à isquemia vascular, facilitando a adesão e transloca-
ção bacteriana, além das erosões ulcerativas na mucosa intestinal.
Com a evolução do quadro clínico, há ativação endotelial e migra-
ção neutrofílica, lesionando o tecido saudável com a liberação de
substâncias citotóxicas precursoras da coagulação, ocorrendo com
a evolução do quadro clínico, a coagulação evolução do quadro
clínico, há intravascular disseminada (CID). Com a ativação dos
fatores de coagulação e inibição da fibrinólise, ocorre o depósito
de fibrina, com remoção deficiente da microcirculação, a formação
de trombos, depleção dos fatores de coagulação e ativação plaque-
tária, resultando em manifestações hemorrágicas que agravam todo o
quadro clínico do paciente acometido pela síndrome4.
Relato de Caso
Uma égua, sem raça definida, 8 anos, foi admitida na unidade
didática clínico hospitalar, da Faculdade de Zootecnia e Engenha-
ria de Alimentos (FZEA/USP), com desconforto abdominal agudo
há cerca de 72 horas. As alterações apresentadas durante o exame
clínico revelaram aumento da frequência cardíaca e respiratória,
hipomotilidade em todos os quadrantes, mucosa oral ictérica com
halo cianótico, tempo de preenchimento capilar de 3 segundos e
temperatura retal 38,8ºC. Após sondagem nasogástrica não se ob-
teve refluxo espontâneo, mas notou-se presença de conteúdo o qual
foi totalmente lavado. Na palpação transretal as alças intestinais
palpáveis estavam posicionadas, observou-se útero gravídico com
tensão anormal e desviado para posição caudo-lateral direita, suge-
rindo assim torção uterina. A paracentese evidenciou líquido peri-
toneal alaranjado. As alterações de hemograma foram hematócrito
de 53% e leucopenia, com 1700 leucócitos/ì L. Já as alterações do
exame bioquímico foram 400 mg/dL de fibrinogênio, bilirrubina
indireta levemente aumentada, 3,24-mg/dL e lactato plasmático
extremamente elevado, 11,89-mmol/L. O proprietário não estava
ciente do estado gestacional da égua, não sabendo afirmar data de
cobertura.
Devido ao histórico do animal, não resolução clínica do des-
conforto abdominal e achados laboratoriais, optou-se pela laparo-
tomia exploratória. Durante o procedimento cirúrgico constatou-se
que as alças intestinais realmente estavam devidamente posiciona-
das, porém, levemente congestas, principalmente, ceco e cólon
maior. Como havia pouco conteúdo pastoso no cólon não foi ne-
cessário enterotomia para sua lavagem. O útero e os ovários foram
explorados e não foram encontradas alterações. As alças exteriori-
zadas foram reposicionadas e, para síntese, optou-se por três pla-
nos de sutura, Sultan na camada muscular com fio de nylon 0,60
cm, Cushing no subcutâneo, com fio ácido poliglicólico nº 1 e Wolf
na pele,com fio de nylon 0,60 cm.
Logo após a recuperação anestésica, a égua apresentou mími-
ca de dor leve, cavando com os membros torácicos, sendo contro-
lada com analgésicos e infusão contínua de lidocaína (bolus de 1,3
mg/kg, seguido de 0,05 mg/kg/minuto). Após 4 horas, o animal
voltou a apresentar dor e abertura de cérvix. À palpação, o útero
apresentava palpação tensa e deslocada, porção caudo-lateral di-
reita. Foi retirado o feto do útero, que possuía em torno de 5 meses,
com intuito de corrigir o posicionamento uterino. Após remoção
do feto, a palpação do útero voltou ao normal, sem tensão e corre-
tamente posicionado e o animal acalmou. Com o passar do tempo,
o grau de dor foi aumentando, não sendo mais responsiva aos anal-
gésicos e o animal queria permanecer em decúbito e cavava cons-
tantemente. Aproximadamente 12 horas após a cirurgia e 6 horas
após remoção do feto, dor intensa foi observada, onde o animal
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cavava intensamente, vinha a decúbito e rolava, portanto nova la-
parotomia exploratória foi indicada. Minutos antes do novo proce-
dimento cirúrgico o animal veio a óbito.
A necropsia foi realizada e entre seus achados, foram obser-
vadas lesões intestinais focais e difusas. Algumas porções do jeju-
no, ceco e cólon ventral apresentavam necrose com coloração ar-
roxeada ou preta (Figuras 1 e 2). O posicionamento das alças esta-
va correto, descartando a possibilidade de reposicionamento equi-
vocado no ato cirúrgico. Útero e ovários não apresentavam quais-
quer tipos de alterações visíveis. Parasitas não foram encontrados
no lúmen intestinal e trombo ou embolo não foi encontrado na arté-
ria mesentérica cranial, porém, nos vasos que irrigam o intestino
delgado, ceco e cólon ventral notou-se a presença de trombos.
A lesão tecidual surge tanto durante a isquemia como na re-
perfusão. Quando o período de isquemia se alonga, os efeitos pre-
judiciais da isquemia vêm a predominar e, uma vez que ocorre en-
farte do tecido, é irreversível e a reperfusão pode não ter efeito
sobre o eventual resultado1. Após hipóxia e reoxigenação eventos
interdependentes e complementares, compreendem, a uma respos-
ta inflamatória tão acentuada quanto maior o tempo de obstrução e
o comprometimento circulatório subsequente. A amplitude da rea-
ção inflamatória tecidual pode estabelecer uma inflamação genera-
lizada, caracterizando a SIRS que pode acarretar a MODS10. Neste
caso relatado, as possíveis causas do infarto intestinal observado
foram trombose de ramos da artéria mesentérica cranial, devido ao
processo de isquemia e reperfusão e síndrome da resposta inflama-
tória sistêmica (SIRS). Martín-Cuervo et al. (2013) recomendam
que isquemia mesentérica trombótica pós-cirúrgica seja incluída
nos diagnósticos diferenciais de dor abdominal após a cirurgia, como
observado neste relato.
Pode-se levantar questionamento se o ocorrido não tenha sido
deslocamento intestinal ou torção, porém, de acordo com a anato-
mia dos vasos sanguíneos intestinais, seria impossível ocorrer ne-
crose de cólon ventral, caso não houvese ocorrido necrose de có-
lon dorsal, como evidenciado na figura 2.
Este relato descreve um caso incomum de torção uterina que
teve como consequência trombose de ramos da artéria mesentérica
cranial, com consequente lesão de isquemia e reperfusão em ceco e
colon ventral, além de lesões à distância. 
Referências
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plinar approach. British Journal of Surgery, 1995, 82, p.1446-1459.
2. EPSTEIN, K.L.; FEHR J. Colic Surgery. In: SOUTHWOOD, L.L. Practical guide to equine colic. Wiley-
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4. LIMA, A.F.K.T.; FRANCO, R.P. Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS), um desafio diagnósti-
co. Acta Veterinaria Brasilica, v.3, n.4, p.123-131, 2010.
5. MATOS, J.J.R.T.; ALVES, G.E.S.; FALEIROS, R.R.; JÚNIOR, A.P.M. Lesões de isquemia e reperfusão no
intestino de equinos: fisiopatologia e terapêutica. Ciência Rural, v.30, p.1083-1093, 2000.
6. MARTÍN-CUERVO, M.; GRACIA, L.A.; VIEITEZ, V. et al. Case Report: Postsurgical segmental mesente-
ricis chemic

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