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A ANO 10 - Nº 55 - SETEMBRO / OUTUBRO 2014 Indexação Qualis A R ev is ta d o M éd ic o V et er in ár io • w w w .r ev is ta ve te q u in a. co m .b r • Avaliação da eficácia e parâmetros fisiológicos de equinos sedados com uma formulação à base de Detomidina 1% • Desenvolvimento de potros equinos e muares de éguas suplementadas com diferentes fontes de óleos essenciais, com adoção do sistema Creep Feeding • Uroperitônio em três potros puro sangue de corrida • Adenoma hipofisário em pônei: relato de caso • Reconstituição de laceração perineal de terceiro grau ocasionada durante parto de uma égua: relato de caso Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética na avaliação em equinos atletas: Revisão de literatura MUSCULOESQUELÉTICA C B D Capas Equina 55.pmd 15/12/2014, 10:331 Capas Equina 55.pmd 15/12/2014, 10:332 • 1 S U M Á R I O SETEMBRO / OUTUBRO 2014ANO 10 - Nº 55 www.passoapasso.org.br IMAGEM CAPA: Serviço de Diagnostico por Imagem - Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária UNESP-Botucatu, SP A R Q U IV O P E S O A L D A A U TO R A I M A G E N S A D A P TA D A S P E LO A U TO R UROPERITÔNIO EM TRÊS POTROS PURO SANGUE DE CORRIDA São descritos três casos de uroperitônio em duas potrancas e um potro Puro Sangue de Corrida de 12, 20 e 8 dias de idade, respec- tivamente. Os animais apresentavam sinais de dor abdominal leve à moderada, taquipneia, taquicardia, distensão abdominal e disú- ria. Os animais apresentaram uma melhora rápida e sem complica- ções após a correção cirúrgica, recebendo alta aos nove, sete e 23 dias após a intervenção, respectivamente. (Página 4) RECONSTITUIÇÃO DE LACERAÇÃO PERINEAL DE TERCEIRO GRAU OCASIONADA DURANTE PARTO DE UMA ÉGUA: RELATO DE CASO As lacerações perineais por ocasião de parto podem acarretar graves prejuízos no desempenho reprodutivo e, nos casos mais agudos, oferece risco à vida da égua e do potro, apesar de pouco frequente em equinos, observa-se a ocorrência de casos de peritonite. Estas injúrias decorrem dos esforços realizados para a expulsão do feto. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de distocia em uma égua Quarto de Milha (QM) em decorrência de ruptura reto-vaginal e sua correção cirúrgica. (Página 8) ADENOMA HIPOFISÁRIO EM PÔNEI: RELATO DE CASO A disfunção adenohipofisária (DAH) é a mais comum endocrinopa- tia dos equídeos idosos. A presença de adenomas em região cor- respondente a hipófise pode ser associada a esta disfunção. Rela- ta-se neste artigo um caso de DAH por adenoma hipofisário em pônei idoso que apresentava diversos sinais associados a infec- ções secundárias, comumente predispostas pela endocrinopatia, definindo condição clínica diferenciada. (Página 22) AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE EQUINOS SEDADOS COM UMA FORMULAÇÃO À BASE DE DETOMIDINA 1% Objetivou-se neste estudo avaliar a eficácia e parâmetros fisiológi- cos de equinos submetidos à sedação com uma formulação à base de cloridrato detomidina 1% administrada pela via intravenosa (IV). Os parâmetros fisiológicos foram analisados mediante a avaliação da frequência cardíaca, respiratória, motilidade intestinal, pressão arterial sistólica e parâmetros eletrocardiográficos. Na análise de eficácia do fármaco considerou-se a variação percentual da altura de cabeça em relação ao solo e a avaliação de estímulos audiovisuais. (Página 28) DESENVOLVIMENTO DE POTROS EQUINOS E MUARES DE ÉGUAS SUPLEMENTADAS COM DIFERENTES FONTES DE ÓLEOS ESSENCIAIS, COM ADOÇÃO DO SISTEMA CREEP FEEDING Os ácidos graxos essenciais promovem a proteção contra doenças degenerativas, além de influenciar na saúde, na inflamação e no desenvolvimento. O objetivo do presente estudo foi analisar a possível interação entre o crescimento de potros equinos e muares de éguas suplementadas com diferentes fontes óleos essenciais. Além disso, foi analisada a possível influência da adoção do sistema Creep Feeding na padronização de desenvolvimento dos animais. (Página 34) COLUNA (VOCÊ SABIA?): QUAL A SUA OPINIÃO? VEJA AS RESPOSTAS Como colocado na edição anterior, faremos uma análise dos casos clínicos, imagens e fotos que foram publicadas a partir de casos clínicos variados de cavalos de esporte. Desta forma, os leitores poderão comparar, analisar, se questionar e adicionar conceitos úteis na interpretação de cada caso. (Página 34) A Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Magnética (RM) são metodologias diagnósticas bastante exploradas na Medicina Esportiva Equina. Apesar disso, muitas dúvidas ainda surgem quanto ao emprego dessas técnicas e suas vantagens sobre as outras modalidades rotineiramente utilizadas. Esta revisão tem como objetivo reunir informações sobre as principais indicações da TC e da RM no diagnóstico de diversas afecções do sistema musculoesquelético em equinos atletas, relacionando- as com os métodos de diagnósticos mais aplicados na rotina clínica, como a radiografia e a ultrassonografia. (Página 14) TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NA AVALIAÇÃO MÚSCULOESQUELÉTICA EM EQUINOS ATLETAS: REVISÃO DE LITERATURA A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A H O S P IT A L V E T. A N H E M B I M O R U M B I 2 • E D I T O R I A L FUNDADOR Synesio Ascencio (1929 - 2002) DIRETORES José Figuerola, Maria Dolores Pons Figuerola EDITOR RESPONSÁVEL Fernando Figuerola JORNALISTA RESPONSÁVEL Russo Jornalismo Empresarial Andrea Russo (MTB 25541) Tel.: (11) 3875-1682 andrearusso@uol.com.br PROJETO GRÁFICO Studio Figuerola EDITOR DE ARTE Roberto J. Nakayama EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Miguel Figuerola MARKETING Master Consultoria e Serviços de Marketing Ltda. Milson da Silva Pereira milson.master@ig.com.br PUBLICIDADE / EVENTOS Diretor Comercial: Fernando Figuerola Fones: (11) 3721-0207 3722-0640 / 9184-7056 fernandofiguerola@terra.com.br ADMINISTRAÇÃO Fernando Figuerola Pons, Juliane Pereira Silva ASSINATURAS: Tel.: (11) 3845-5325 editoratrofeu@terra.com.br REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA é uma publicação bimestral da EditoraTroféu Ltda. Administração, Redação e Publicidade: Rua Braço do Sul, 43 Morumbi - CEP: 05617-090 São Paulo, SP - Fones: (11) 3721-0207 / 3845-5325 3849-4981 / 99184-7056 editoratrofeu@terra.com.br nossoclinico@nossoclinico.com.br NOTAS: a) As opiniões de articulistas e en- trevistados não representam ne- cessariamente, o pensamento da REVISTA BRASILEIRA DE MEDI- CINA EQUINA. b) Os anúncios comerciais e infor- mes publicitários são de inteira responsabilidade dos anuncian- tes. DIRETOR CIENTÍFICO: NOSSO ENDEREÇO ELETRÔNICO Home Page: www.revistavetequina.com.br Redação: andrearusso@uol.com.br Assinatura/Administração: editoratrofeu@terra.com.br Publicidade/Eventos: fernandofiguerola@terra.com.br Editora: revistavetequina@revistavetequina.com.br 2 • Alexandre Augusto O. Gobesso Nutrição e Fisiologia do Exercício cateto@usp.br André Luis do Valle De Zoppa Cirurgia alzoppa@usp.br Cláudia Acosta Duarte Clínica Cirúrgica de Equídeos claudiaduarte@unipampa.edu.br Daniel Lessa Clínica lessadab@vm.uff.br Fernando Queiroz de Almeida Gastroenterologia, Nutrição e Fisiologia Esportiva almeidafq@yahoo.com.br Flávio Desessards De La Côrte Cirurgia delacorte2005@yahoo.com.br Geraldo Eleno Silveira Clínica Cirúrgica de Equinos geraldo@vet.ufmg.br Guilherme Ferraz Fisiologia do Exercício guilherme.de.ferraz@terra.com.br Henrique Resende Anatomia e Equinocultura resende@dmv.ufla.br Jairo Jaramillo Cardenas Cirurgia e Anestesiologia Equina dr.jairocardenas@yahoo.com.br Jorge Uriel Carmona Ramíres Clínica e Cirurgia carmona@ucaldas.edu.co José Mário Girão Abreu Clínica zemariovet@gmail.com.br Juliana Regina Peiró Cirurgia juliana.peiro@gmail.com Luiz Carlos Vulcano Diagnótico de Imagem vulcano@fmvz.unesp.br Marco Antônio Alvarenga Clínica e Reprodução Equina malvarenga@fmvz.unesp.br Marco Augusto G. da Silva Clínica Médica de Equídeos silva_vet@hotmail.comMaria Verônica de Souza Clínica msouza@ufv.br Max Gimenez Ribeiro Clinica Cirúrgica e Odontologia mgrvet@bol.com.br Neimar V. Roncati Clinica, Cirurgia e Neonatologia neimar@anhembi.br Roberto Pimenta P. Foz Filho Cirurgia robertofoz@gmail.com Renata de Pino A. Maranhão Clínica renatamaranhao@yahoo.com Silvio Batista Piotto Junior Diagnóstico e Cirurgia Equina abraveq@abraveq.com.br Tobyas Maia de A. Mariz Equinocultura e Fisiologia Equina tobyasmariz@hotmail.com Pierre Barnabé Escodro Cirurgia Veterinária e Clínica Médica de Equideos (Univ. Federal de Alagoas) pierre.vet@gmail.com CONSULTORES CIENTÍFICOS: Permanece a vitória da saúva nas batalhas, o que esperar do final da guerra? Há exatos quatro anos, o editorial do número 20 desta Revis- ta, trazia o título "Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil" e seu primeiro parágrafo explicava o porquê desse título: “Desde que o naturalista francês August Saint-Hilaire escre- veu a frase emprestada para título deste editorial, muitos a utiliza- ram, literalmente ou com pequenas variações. Getúlio Vargas e Mon- teiro Lobato, entre muitos brasileiros ilustres, citavam esta frase com regularidade. Até Macunaíma, o anti-herói criado por Mário de An- drade, fez referência à saúva e à saúde do Brasil. E não aprende- mos a priorizar a saúde, não só a humana, mas também a animal". O que mudou desde então? Na época a motivação do texto foi o decréscimo nas verbas do orçamento da União para defesa animal e a notícias, na época, de caso de Mormo em São Paulo após décadas sem registro de ocorrências no Estado. Hoje a Lei Orçamentaria é manchete de jornais, mas não pelo aumento dos recursos para defesa animal (que tem diminuído), mas pela neces- sidade de ajustá-la ao não cumprimento da meta de superavit. Ou seja, aumentaram, e muito, os gastos do Governo mas reduziram as despesas com a saúde dos equídeos, o que significa dizer que o assunto é cada vez menos relevante para os governantes. Quanto à motivação, ao contrário do desejado, novos casos de Mormo foram reportados, dificultando negócios nacionais e internacionais, além, e principalmente, da preocupação com a saúde cada vez maior entre os agentes mais conscientes na equideocultura nacional. E perma- necem problemas básicos, como o controle da Piroplasmose. É fundamental que este tema de editorial não retorne como acontece nesse momento. Para tanto, profissionais e interessados da equideocultura, assim como suas entidades representativas tra- gam o debate para fora de seu círculo de conversa, que a preocu- pação com a saúde chegue ao Governo com inquietação, incomo- dando para que haja reação positiva e eficiente para melhoria da defesa sanitária. Não podemos deixar que a "saúva", o carrapato entre outros, vençam o cavalo e o Brasil. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br www.arruda.pro.br • 3 4 • em três potros Puro Sangue de Corrida. “Uroperitoneum in three Thoroughbred foals” “Uroperitoneo en tres potros Pura Sangre de Carrera” Stefano Leite Dau (stefanodau@hotmail.com) M.V., Mestrando, Programa de Pós-Graduação, Univ. Federal de Santa Maria (UFSM) Flávio Desessards de La Corte* (delacorte2005@yahoo.com.br) Prof. Associado do Depto. de Clínica de Grandes Animais (DCGA), UFSM Karin Erica Brass Profa. Associada do Depto. de Clínica de Grandes Animais (DCGA), UFSM Marcos Azevedo (socram_vet@yahoo.com.br) Doutorando, Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária, UFSM Roberta Carneiro da F. Pereira Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária, UFSM Endrigo Pompermayer Médico Veterinário Autônomo, Doha Racing & Equestrian Events, Qatar Laura Huber (laura.huber16@hotmail.com) Médica Veterinária Autônoma, Santo Ângelo-RS *Autor para correspondência RESUMO: São descritos três casos de uroperitônio em duas potrancas e um potro Puro Sangue de Corrida de 12, 20 e 8 dias de idade, respectivamente. Os animais apresentavam sinais de dor abdominal leve à moderada, taquipneia, taquicardia, distensão abdominal e disúria. O diagnóstico de uroperitônio foi realizado por meio de ultrassonografia transabdominal onde se observou a presença de imagens ecográficas sugestivas de alças intestinais flutuando em grande quantidade de líquido hipoecoico; e confirmado pela relação creatinina do líquido abdominal: creatinina sérica acima de dois. Primeiramente os potros foram submetidos à fluidoterapia intravenosa associada à drenagem progressiva do líquido peritoneal para posterior celiotomia exploratória com o objetivo de localizar e reparar a lesão. Na potranca de 20 dias e no potro de 8 dias foi identificada uma ruptura de úraco. Na potranca de 12 dias, foi constatado um defeito congênito na parede dorsal da bexiga que foi reparado após leve debridamento dos bordos da lesão. Nos três casos foi efetuada a ressecção do úraco, veia e artérias umbilicais e posterior cistorrexia. Os animais de 20, 8 e 12 dias de idade apresentaram uma melhora rápida e sem complicações após a correção cirúrgica, recebendo alta aos nove, sete e 23 dias após a intervenção, respectivamente. Unitermos: potros, ruptura de bexiga, uroperitônio, úraco patente ABSTRACT: Three cases of uroperitoneum in Thoroughbred foals, two females and one male, are described in the present study. The animals showed clinical sings of mild to moderate abdominal pain, tachycardia, tachypnea, abdominal distention and straining to urinate. The diagnosis of uroperitoneum was made by transabdominal ultrasound examination and confirmed by the ratio of [abdominal fluid creatinine] : [serum creatinine] greater than two. Initially the foals were treated with intravenous fluid therapy associated with progressive drainage of peritoneal fluid for subsequent exploratory laparotomy in order to identify and repair the lesion. A ruptured urachus was identified in the 20-day-old filly and in the 8-day-old colt. The 12-day-old filly had a congenital defect in the dorsal aspect of the bladder; this defect was repaired after debridement of the lesion edges. The resection of urachus, umbilical vein and arteries was performed in all three cases followed by cistorrhaphy. The outcome was good without complications after surgical correction; the 20-day old filly , 8-day-old colt and the 12-day-old filly were discharged at 9, 7 and 23 days after surgery, respectively. Keywords: foal, bladder rupture, uroperitoneum, patent urachus RESUMEN: Tres casos de uroperitoneo son descriptos, respectivamente, en dos potrancas y un potro Pura Sangre de Carrera de 12, 20 y 8 días de edad. Los animales presentaban señales de dolor abdominal discreta a moderada, taquipnea, taquicardia, distensión abdominal y disuria. El diagnóstico de uroperitoneo fue realizado por medio de ultrasonografía transabdominal, donde fueron observadas vueltas intestinales fluctuando en gran cantidad de líquido hipoecogénico; fue confirmado por la relación creatinina del líquido abdominal: creatinina sérica arriba de 2. Primeramente los productos fueron sometidos a la fluidoterápia intravenosa asociada a un drenaje progresivo del líquido peritoneal para una posterior quirurgia abdominal exploratoria con el objetivo de localizar y reparar la lesión. En la potranca de 20 días y en el potro de 8 días fue identificada una ruptura de uraco. En la potranca de 12 días fue constatada una alteración congénita en la pared vesical dorsal que fue reparada después de un desbridamiento de los bordos de la lesión. En los 3 casos fue efectuada la resección del uraco, de las venas y arterias umbilicales e una posterior cistorrafia. Los 3 animales de 20, 8 y 12 días de edad presentaron una rápida mejora sin complicaciones después de la corrección quirúrgica, y recibieron alta 9, 7 y 23 días después. Palabras-claves: potrillo, uroperitonio, ruptura de vejiga, quirurgia FO TO : A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R • 5 Introdução O uroperitônio é uma doença comum em neonatos, principalmente recém-nasci- doshospitalizados, de ocorrência mais es- porádica em potros jovens e menos frequen- te em animais adultos6,15,16. A ruptura de be- xiga é a causa mais comum de uroperitô- nio, contudo, outras lesões do trato uriná- rio como ruptura e infecção de úraco, rup- tura e a má formação congênita dos urete- res podem determinar o mesmo quadro clí- nico3,10,19. A fisiopatologia da ruptura de bexiga e úraco não está completamente es- clarecida, porém se acredita que as pres- sões extra-abdominais sofridas durante o parto sobre a bexiga repleta e a infecção do umbigo sejam as principais causas, respec- tivamente10,13. Por outro lado, em cavalos adultos, as causas mais comuns de urope- ritônio descritas são urolitíase, exercício intenso e, em éguas, lesões de bexiga e ure- tra durante o parto12,15. A manifestação clínica de uroperitônio pode ocorrer nos primeiros dias pós-parto. Os sinais clínicos comumente encontrados são fraqueza, depressão, dificuldade em mamar, disúria, presença de pequeno vo- lume ao urinar, taquicardia e taquipneia10. À medida que a doença progride, pode- se observar distensão abdominal e os ani- mais podem adotar uma postura com os membros estendidos13. Sinais de compro- metimento sistêmico como febre, conges- tão de mucosas, diarreia e envolvimento de outros órgãos também são observados em alguns casos de uroperitônio19. O diagnóstico é baseado nos achados clínicos associados aos exames de ultras- sonografia, análise do líquido peritoneal, bioquímica e hemograma5,10. A relação mai- or que dois entre a concentração de creati- nina do líquido peritoneal e a sérica con- firma o diagnóstico16. O tratamento de es- colha é a correção cirúrgica da origem do extravasamento de urina para a cavidade2. Contudo, esta é uma emergência clinica e não cirúrgica, logo os animas devem ser estabilizados para posterior intervenção cirúrgica e assim diminuir possíveis com- plicações no transoperatório13. Relato de Caso Caso 1: Uma potranca com 20 dias de idade oriunda de um criatório no Sul do Brasil. Exame físico: apresentava-se apática, com distensão abdominal, prolapso de reto de grau II (Figura 1), frequência cardíaca (FC): 96 batimentos por minuto (bpm), frequência respiratória (ƒ): 30 movimen- tos respiratórios por minuto (mrpm) e tem- po de perfusão capilar (TPC): 3 segundos (“). Na ultrassonografia abdominal (US) ob- servou-se grande quantidade de líquido hi- poecoico livre na cavidade e ausência de conteúdo no interior da vesícula urinária. Exames laboratoriais: não foram eviden- ciadas alterações nos parâmetros hemato- lógicos; o perfil bioquímico apresentou ele- vação da fosfatase alcalina (FA) (744,14 UI/ dL), gama glutamil transferase (GGT) (26,35 UI/dL) e ureia (71,03 mg/dL). O lí- quido obtido na abdominocentese apresen- tava coloração amarelo palha, turvação média, densidade: 1008, proteína: 1,4 gr/ dL, pH 8 e presença de hemácias. Caso 2: uma potranca, proveniente da mesma propriedade do caso anterior, com 12 dias de vida. Exame Físico: o animal chegou alerta com sinais de distensão abdominal, FC: 80 bpm, (ƒ): 136 mrpm, temperatura retal (TR): 39,1oC e TPC: 2". O US revelou a presença de muito líquido hipoecoico livre na cavi- dade abdominal e a bexiga semirepleta (Fi- gura 2), sem presença de lesão aparente. Exames Laboratoriais: No hemograma foi observada leucocitose (15.600 leucócitos/ µL), e constatada elevação da concentra- ção ([]) sérica de ureia (121,47 mg/dL), GGT (33,05 UI/dL), FA (1128 UI/dL) e cre- atinina (4,4 mg/dL) no exame bioquímico. Figura 1: Prolapso de reto (grau II) no caso acima Figura 2: Ultrassonografia transabdominal onde se observa uma imagen sugestiva de uma quantidade anormal de liquido livre na cavidade e distensão parcial da bexiga. O aspecto ventral do abdome está no topo FO TO : A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R FO TO : A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R 6 • O líquido obtido através de abdomino- centese apresentava coloração amarelo pa- lha, aspecto límpido, densidade 1010, pH 7,5, proteína: 1,6 gr/dL com presença de pequena quantidade de neutrófilos e linfó- citos. Caso 3: Um potro com oito dias de vida. Exame Físico: o animal estava alerta, FC: 80 bpm, (ƒ): 36 mrpm, TPC: 1", TR: 37,8oC. Ao exame de US, foi verificada a presença de líquido livre na cavidade e re- pleção vesical. Exame Laboratorial: No hemograma se pode observar hemoglobinemia (8,8 g/dL). No exame bioquímico, foi constatada alte- ração na concentração sérica das enzimas creatina quinase (687,57 UI/L), creatinina (6,5 mg/dL), FA (530 UI/dL), GGT (36,67 UI/L) e ureia (284,28 mg/dL). Na abdomi- nocentese, se obteve líquido de coloração branca, de aspecto turvo, com densidade 1.008, pH 6,5 e proteína 1,6 gr/dL e pre- sença de 88% de neutrófilos, 11% de linfó- citos, 1% de macrófagos com leucócitos com baixo grau degenerativo e presença de eritrofagocitose. O diagnóstico de uroperitônio, nos três casos que deram entrada no Hospital Vete- rinário Universitário da Universidade Fe- deral de Santa Maria (UFSM), foi realiza- do por meio dos achados clínicos e ultras- sonográficos, e confirmado pela relação maior que dois entre a concentração da cre- atinina do líquido abdominal e a sérica (Tabela 1). Primeiramente os animais fo- ram estabilizados por meio de fluidotera- pia intravenosa com solução salina 0,9% (20 ml/kg/min) e glicose 5% (200 ml/hr/ 50 kg) associada a drenagem do líquido peritoneal (com um catéter intravenoso 16G de poliuretano) para posterior celiotomia exploratória. O tempo entre a estabiliza- ção e a intervenção cirúrgica foi de 12, 18 e 4 horas para os casos 1, 2 e 3, respectiva- mente. Para o procedimento cirúrgico, os ani- mais foram pré-medicados com xilazina (1 mg/kg), induzidos com diazepam (0,05 mg/ kg) e cetamina (2,2 mg/kg) e mantidos em plano anestésico com isoflurano em oxigê- nio 100% (10 ml/kg/min). Os potros fo- ram colocados em decúbito dorsal, e a por- ção ventral do abdômen foi assepticamen- te preparada para cirurgia. O acesso na ca- vidade abdominal foi por meio de uma in- cisão para-retro umbilical na linha média nos três casos. Nos casos 1 (Figura 3) e 3, foi identifi- cada uma ruptura localizada na transição da bexiga para o úraco, sendo este e os va- sos umbilicais removidos após ligadura usando-se fio absorvível multifilamentoso de polyglactina 910, tamanho 0 em padrão isolado simples. Na potranca de 12 dias (caso 2), foi constatado um defeito congê- nito na parede dorsal da bexiga (medindo 2 cm aproximadamente) (Figura 4) que foi corrigido, após um leve debridamento dos bordos da lesão, por meio de duas camadas de sutura em padrão Cushing com fio ab- sorvível multifilamentoso de polyglactina 910, tamanho 2-0. Neste caso, também, o úraco, artérias e veias umbilicais foram re- movidos com posterior cistorrafia usando- se fio de sutura de polyglactina 910 tama- nho 2-0 em padrão Cushing. Nos três casos, após a lavagem da cavi- dade abdominal com Ringer Lactato, a ca- vidade abdominal foi suturada como de rotina (padrão simples-continua na linha Alba com polyglactina 910 n° 1; padrão Cushing no tecido subcutâneo com po- lyglactina 910 tamanho 2-0; pele com nylon 2-0 em padrão contínuo simples). Durante o pós-operatório, os animais receberam cetoprofeno (2,2 mg/kg/dia, IV), omeprazol (1mg/kg/dia, PO), penicilina potássica (22.000 UI/kg, quatro vezes ao dia, IV), gentamicina (6,6 mg/kg/dia, IV) e metronidazol (15mg/kg, três vezes ao dia, PO) por sete dias. A potranca do caso 1 foi submetida a uma segunda intervenção ci- rúrgica, dois dias após a primeira, para cor- reção do prolapso de reto, uma vez que o tratamento clínico empregado não apresen- tou uma resposta satisfatória. Os animais dos casos 1, 2 e 3 apresen- taram uma melhora rápida e sem compli- cações após a correção cirúrgica, e recebe- ram alta aos nove, sete e 23 dias, respecti- vamente. Salientamos que o potro de oito dias de vida (caso 2) permaneceu hospita- lizado por um período maior para tratamen- to de uma úlcera de córnea, apedido do proprietário. Discussão e Conclusão Potros neonatos machos apresentam uma maior predisposição para o desenvol- vimento de uroperitônio por lesões na ve- sícula urinária, quando comparado com as fêmeas, devido a conformação anatômica da uretra mais alongada, dificultando o es- vaziamento vesical durante o parto4,10,13. As lesões de úraco são decorrentes, na sua maioria, de infecções de umbigo ou de sep- ticemia6,16,18. Diferentemente, no presente relato, mesmo sendo um grupo pequeno de animais, fêmeas foram mais acometidas; e nos casos de ruptura de úraco não se obser- vou um quadro infeccioso associado. Curi- osamente, as duas potrancas eram do mes- mo criatório e foram diagnosticadas com 15 dias de intervalo. Outro aspecto inte- ressante é que os animais apresentam ida- de superior quando comparado a outros tra- balhos que apresentam idade inferior a 24 horas4,13,18,21, menos de 48 horas6, dois 8,19,22, quatro3,16 e 11 dias de vida14. O teste comparativo entre a [creatini- na] do líquido peritoneal com a sérica e o Figura 3: Segmento da transição entre a bexi- ga e o úraco onde se observa o local da ruptu- ra (seta branca) e presença de hemorragia ao redor, sugerindo uma causa traumática Figura 4: Defeito congênito no fechamento do aspecto dorsal da bexiga. Uma tesoura Met- zenbaum reta de 18cm foi introduzida no ori- fício para sua identificação Tabela 1: Concentração de creatinina plasmática (CP) e do líquido peritoneal (CLP) e a relação entre CP:CLP dos potros PSC com uroperitôneo Potro CP CLP Relação (mg/dl) (mg/dl) CP:CLP 1 1,53 5,48 1: 3,58 2 4,4 22,00 1:5 3 6,5 17,6 1:2,7 FO TO : A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R FO TO : A R Q U IV O P E S S O A L D O A U TO R • 7 exame ultrassonográfico, empregados no presente relato, são os exames mais reco- mendados para o diagnóstico de uroperitô- nio devido a sua acurácia e fácil realiza- ção2,17. Em um estudo com 31 neonatos hos- pitalizados, a causa primária de uroperitô- nio foi determinada por meio de ultrassom, e também se verificou que mesmo receben- do fluidoterapia como tratamento de outra enfermidade não houve alteração no resul- tado do teste comparativo entre a [creatini- na] sérica com a peritoneal16. Outros méto- dos diagnósticos como o raio-X contrasta- do e a urografia retrógada que permitem a identificação de lesões na uretra, vesícula urinária e ureteres4,10,13,19também podem ser de grande auxilio. Alguns autores ressal- tam a importância de se realizar o exame US ou radiográfico do tórax em animais acometidos por uroperitônio, pois estes podem apresentar também urinotórax ou efusão pleural, um agravante durante a anestesia geral3,20,21,22. A terapia empregada em casos de uro- peritônio deve priorizar a estabilização do paciente e a correção de qualquer desequi- líbrio eletrolítico, uma vez que esta enfer- midade é uma emergência clínica e não ci- rúrgica3,10,13. O tratamento pré-cirúrgico empregado nos casos deste relato corrobo- ra com o descrito na literatura10,13. Animais que estão sendo tratados para outras enfer- midades e desenvolvem uroperitônio podem não apresentar o quadro de desequilíbrio eletrolítico caso estejam recebendo fluido- terapia6,16. A não estabilização dos pacien- tes antes do procedimento cirúrgico pode desencadear problemas cardiorrespiratóri- os no pré, trans ou pós-operatório e culmi- nar com a morte do animal1,3,9,10,13,20. Os microorganismos comumente isola- dos nos casos de uroperitônio incluem β- Streptococcus, bactérias entéricas gram-ne- gativas e anaeróbicas que são semelhantes aos encontrados em potros com sepse2,17,19. Há uma incidência de 63% de infecções em potros associadas a quadros de uroperitô- nio6. A antibioticoterapia de amplo espec- tro empregada nos três casos obedeceu a procedimento padrão na clínica e teve como objetivo prevenir/tratar uma possível infec- ção, como no caso 2, considerando possí- vel contaminação devido a manipulação durante abdominocentese, celiotomia ou cateterização 2,10. A ruptura de bexiga é a causa mais co- mum de uroperitônio em neonatos, contu- do outras lesões do trato urinário como rup- tura e infecção de úraco, ruptura dos urete- res e da uretra, e a má formação congênita podem causar o mesmo quadro clíni- co3,4,9,10,13,14,19,20,22,23. Além da correção cirúr- gica para a ruptura de bexiga, a correção clínica pode apresentar uma resposta sa- tisfatória em alguns casos1,8; contudo este tipo de tratamento pode favorecer a infec- ção vesical ascendente se não bem maneja- do2. O prognóstico para estes casos é favo- rável em 80-90% dos casos10, porém caso o paciente desenvolva um quadro de urope- ritônio concomitante a outra doença sistê- mica o prognóstico se torna reservado com uma taxa de 50% de sobrevivência16,21. Al- gumas complicações que podem ocorrer após a cirurgia são uroperitônio recorrente por drenagem através da sutura, falha na correção do defeito, complicações na inci- são, aderências, arritmias por problemas eletrolíticos (hipercalemia), septicemia, pneumonia, hemorragia da artéria umbili- cal, peritonite e urinotorax7,10,19,20,21,22,23. Os animais do presente relato apresentaram uma recuperação clínica satisfatória e sem complicações após a intervenção cirúrgi- ca, e receberam alta após 9, 7 e 23 dias para os casos 1, 2 e 3 respectivamente. Mesmo em potrancas e potros com idade superior a 10 dias, a presença de uroperi- tônio deve ser investigada nos casos de distensão abdominal com ou sem sinais de desconforto. O uroperitônio em potros é uma emergência clínica na qual se deve priorizar a estabilização do animal para posterior intervenção cirúrgica. O prognos- tico é favorável desde que seja identificado e corrigido precocemente e este não esteja associado à outra enfermidade. Referências 1 - BARTMANN, C.P. et al. Diagnosis and surgi- cal management of colic in the foal: literature revi- ew and retrospective study. Clinical Techniques in Equine Practice, v.1, n.3, p.125-142, 2002. 2 - BRYANT, J.E & GAUGHAN, E.M. Abdominal surgery in neonate foals. Vet. Clin. North Am. Equine Pract., v.21, p.511-535, 2005. 3 - BUTTERS, A. Medical and surgical manage- ment of uroperitoneum in a foal. Can. Vet. J., v.49, p.401-403, 2008. 4 - CASTAGNETTI, C. et al. Urethral and bladder rupture in a neonatal colt with uroperitoneum. Eq. Vet. Educ., v.22, n.3, p.132-138, 2010. 5 - DIVERS, T. & PERKINS, G. Urinary and hepa- tic disorders in neonatal foals. Clinical Techniques in Equine Practice, v.2, n.1, p.67-78, 2003. 6 - DUNKEL, B. et al. Uroperitoneum in 32 foals: influence of intravenous fluid therapy, infection and sepsis. J. Vet. Int. Med. v.19, n.6, p.889-893, 2005. 7 - EDWARD III, R.B. et al. Laparoscopic repair of a bladder rupture in a foal. Vet. 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Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN) Dourados, MS José Henrique Saraiva Borges (jhsborges@hotmail.com) M.V., Dr. em Cirurgia Veterinária. Profissional Autônomo, Campo Grande, MS *Autora para correspondência RESUMO: As lacerações perineais por ocasião de parto podem acarretar graves prejuízos no desempenho reprodutivo e, nos casos mais graves, oferece risco à vida da égua e do potro, apesar de pouco frequente em equinos observa-se a ocorrência de casos de peritonite. Estas injúrias decorrem dos esforços realizados para a expulsão do feto. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de distocia em uma égua Quarto de Milha (QM) em decorrência de ruptura reto-vaginal e sua correção cirúrgica. A ruptura reto-vaginal em decorrência do processo de parto ocorreu em uma égua Quarto de Milha, primípara de 5 anos, pesando 400 kg, foi atendida no Hospital Veterinário da UNIGRAN de Dourados-MS, Brasil. Não obtivemos informações a respeito da primeira fase do parto até a expulsão do feto, porém foram evidenciados os sinais da distocia e ruptura de vagina e reto. A reconstituição dos tecidos lesados o potro já se encontrava desmamado. Após a sedação foi realizada a sutura em duas camadas, utilizando a técnica Caslick até a primeira etapa. A segunda etapa foi realizada após 30 dias da primeira, com a finalidade de utilizar partes do tecido cicatrizado na primeira etapa. Neste caso clínico ressalta-se a importância do acompanhamento dos partos em criações intensivas e particulares de equinos. Já que a intervenção imediata em casos de distocia é crucial para a sobrevivência da égua e potro, assim como a recuperação da laceração perineal através do método adequado de tratamento. Nota-se também a grande importância na dieta do animal para evitar o rompimento da sutura após a cirurgia e o manuseio com o animal durante o período de cicatrização. Unitermos: laceração, distocia, reto-vaginal, reconstituição ABSTRACT: The perineal lacerations during childbirth can cause serious damage on reproductive performance and, in severe cases, life-threatening to the mare and foal, although infrequent in horses observed the occurrence of peritonitis. These injuries result from efforts to expel the fetus. This paper aims to report a case of dystocia in a mare Quarter Horse (QM) due to rectovaginal rupture and its surgical correction. The rectovaginal break due to the birth process occurred in a Quarter Horse mare, primiparous 5 years, weighing 400 kg, was treated at the Veterinary Hospital of the Golden UNIGRAN-MS, Brazil. We did not obtain information regarding the first stage of labor until the expulsion of the fetus, but were shown the signs of dystocia and rupture of the vagina and rectum. The reconstruction of injured tissues filly was already weaned. After sedation suture was performed in two layers, using the technique Caslick to the first stage. The second stage was carried out 30 days after the first, in order to use parts of scar tissue in the first step. In this clinical case-emphasizes the importance of intensive monitoring of deliveries and private equine creations. Since early intervention in cases of dystocia is crucial for the survival of the mare and foal, as well as the recovery of perineal laceration through the appropriate method of treatment. It is also noticed that great importance in the diet of the animal to prevent disruption of the suture after surgery and the handling by the animal during the healing period. Keywords: laceration, dystocia, recto-vaginal, reenactment. RESUMEN: Las laceraciones perineales durante el parto pueden causar graves daños en la función reproductora y, en casos graves, potencialmente mortales para la yegua y potro, aunque poco frecuente en caballos observó la aparición de peritonitis. Estas lesiones son el resultado de los esfuerzos para expulsar el feto. Este documento tiene por objeto informar de un caso de distocia en un barrio yegua Caballo (QM) por rotura rectovaginal y su corrección quirúrgica. La ruptura rectovaginal debido al proceso de nacimiento ocurrió en un cuarto del caballo yegua, primíparas 5 años, con un peso de 400 kg, fue atendido en el Hospital Veterinario de la de oro Unigran-MS, Brasil. No se obtuvo información sobre la primera etapa del parto hasta la expulsión del feto, pero nos mostraron los signos de distocia y ruptura de la vagina y el recto. La reconstrucción de los tejidos lesionados potranca ya fue destetado. Después de la sedación de sutura se realizó en dos capas, usando la técnica Caslick a la primera etapa. La segunda etapa se llevó a cabo 30 días después de la primera, con el fin de utilizar partes de tejido de la cicatriz en la primera etapa. En esta clínica de caso pone de relieve la importancia de la vigilancia intensiva de las entregas y creaciones equinos privadas. Dado que la intervención temprana en casos de distocia es crucial para la supervivencia de la yegua y potro, así como la recuperación de laceración perineal a través del método de tratamiento adecuado. También se notó que una gran importancia en la dieta del animal para evitar la interrupción de la sutura después de la cirugía y la manipulación por el animal durante el periodo de cicatrización. Palabras clave: laceración, distocia, recto-vaginal, recreación. A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A • 9 Introdução As lacerações ocasionadas durante o parto podem acarretar graves prejuízos no desempenho reprodutivo, nos casos mais graves há possibilidade de oferecer risco a vida da égua e do potro, como nos casos de ocorrência de peritonite. Estas injúrias vêm decorrentes dos esforços realizados para a expulsão do feto. Uma vez iniciado o trabalho de parto e decorrido seu tempo previsto (30 - 56 mi- nutos, de acordo coma raça), já com a bol- sa fetal rompida, a égua em dificuldade de parir deve ser auxiliada, para evitar exaus- tão materna, prolapso uterino ou retal ou a morte do feto7. Os traumas reto-vestibulares ocorrem em diversas espécies, mas são descritos com maior frequência em éguas11. O parto ocorre com maior frequência no período noturno, sendo: 43% das 2h às 4h; 38% das 20h às 23h30; 14% das 4h30 às 7h30 e 5% du- rante o dia. A égua de primeira cria (pri- mípara) deve receber cuidados especiais ao parto. A parição de primíparasdeve ocor- rer em local separado das éguas multípa- ras, pois estas podem cuidar ou zelar pelo recém-nascido, provocando a rejeição da cria pela mãe7. Geralmente as feridas da vulva e as rup- turas de períneo são consequências de par- tos. Fetos demasiadamente grandes podem romper a comissura vulvar, produzindo le- são que pode comprometer inclusive o es- fíncter anal ou, então, no momento do par- to um dos cascos dos membros anteriores do potro pode romper o assoalho dorsal da vagina e atingir o reto, perfurando-o. Nes- tas condições quase sempre ocorre dilace- ração dos tecidos, atingindo a comissura dorsal dos lábios da vulva e do esfíncter anal11. As rupturas ou lacerações perineais po- dem ser classificadas conforme a extensão e gravidade das lesões teciduais: 1º grau: acomete apenas a mucosa do ves- tíbulo da vagina e a comissura dorsal vul- var; 2º grau: acomete além da mucosa e sub- mucosa do vestíbulo vaginal, a pele da co- missura dorsal vulvar e os músculos do períneo, incluindo o constritor vulvar; 3º grau: acomete todas as estruturas atin- gidas em segundo grau, acompanhadas de ruptura do assoalho dorsal do vestíbulo da vagina, assoalho ventral do reto, septo pe- rineal, músculos e o esfíncter anal11. As lacerações de primeiro grau podem ser reparadas apenas com a operação ci- rurgia de Caslick por primeira intenção, não sendo necessário qualquer outro cuidado adicional. As lesões de segundo grau já necessitam da reconstituição dos danos pe- rineal e de esfíncter vaginal, seguidos da técnica de Caslick. Por outro lado, quando a laceração é de terceiro grau, com extenso comprometimento do assoalho dorsal do vestíbulo vaginal e assoalho ventral do reto, faz-se necessária a reconstituição em pla- nos de sutura, que se inicia na região cra- nial da lesão até a reconstituição do esfínc- ter anal e comissura dorsal da vulva11.O presente trabalho tem como objetivo rela- tar um caso de distocia em uma égua QM e ocorrência de ruptura reto-vestibular e sua resolução total. Relato de caso A ruptura reto-vaginal em decorrência do processo de parto ocorreu em uma égua da raça Quarto de Milha, primípara, 5 anos, pesando 400 kg, que foi atendida no Hos- pital Veterinário do Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN, Doura- dos - MS. O animal foi atendido já apre- sentando distocia e laceração (Figura 1). Não obtivemos informações a respeito da primeira fase do parto até a expulsão do feto, porém foram evidenciados os sinais da distocia e ruptura de vagina e reto. São sinais de que o feto apresentava-se com os membros anteriores na vulva e com a ca- beça saindo através do reto. Figura 1: Ruptura reto-vaginal em decorrência de processo de parto ............................................................ Imediatamente deveria ter sido promo- vida a reintrodução do feto e a orientação da cabeça permitindo a evolução do pro- cesso de parto. O potro deveria ter nascido “a termo” para se obter um desenvolvimen- to semelhante ao do seu grupo contempo- râneo. Como se encontrava em uma proprie- dade particular onde a rotina de acompa- nhamento dos partos não é realizada, a dis- tocia não foi evidenciada imediatamente, causando danos como: ruptura da vagina na sua parte dorsal ao longo de toda sua extensão (da cérvice a área de vestíbulo) e ruptura do reto em forma de ‘’+’’ (aproxi- madamente 25 cm longitudinalmente e 6 cm transversalmente). A reconstituição dos tecidos lesados foi realizada aproximadamente dez meses após o parto cujo potro já se encontrava desma- mado. A sedação foi feita com xilazina 20ml, acepromazina 3ml e anestesia Epi- dural (Figura 3). Para realização da sutu- ra foi utilizado fio absorvível, Vicryl n°0, A lesão pôde ser classificada como uma laceração de terceiro grau. Nas lacerações de terceiro grau, a égua apresenta elimina- ção de fezes pela vagina, além do extenso ferimento (Figura 2). Parte das fezes que são eliminadas podem se acumular no fun- do vaginal, proporcionando grave infecção genital que pode levar a infertilidade11. Figura 2: Laceração de terceiro grau ............................................................................... A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A Figura 3: Anestesia epidural A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A 10 • Figuras 4 e 5: Sutura em duas camadas, utilizan- do a técnica Caslick até a primeira etapa Figura 6: Vulvoplastia realizada na primeira eta- pa Figura 7: Óleo de girassol sendo administrado como emoliente por sonda nasogástrica A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A A R Q U IV O P E S S O A L D A A U TO R A promovendo a sutura em duas camadas, utilizando a técnica Caslick até a primeira etapa (Figuras 4 e 5). A segunda etapa foi realizada após 30 dias, com a finalidade de utilizar partes do tecido cicatrizado na pri- meira etapa. A sedação foi semelhante, no entanto foi realizada uma neuroleptoanes- tesia, junção de um opioide (Morfina 2 ml) com anestésico (xilazina 20 ml e acepra- mazina 3 ml), seguidos de anestesia Epi- dural. Neste tipo de anestesia duas condi- ções fundamentais devem ser respeitadas: 1. quantidades maiores (em volume) levam o animal a prostração dos membros poste- riores (acima de 10 ml) e em equinos este problema é mais sério que nos bovinos, pois o equinos, não aceitando a situação, gol- peia com manotaços e de maneira violenta com risco de ocasionar fraturas dos mem- bros anteriores6. Diante desta situação, a primeira conduta é a de aplicar uma anes- tesia geral intravenosa ou até uma aneste- sia dissociativa e a segunda é que não se deve colocar algodão embebido em álcool ou álcool iodado em cima do canhão da agulha para “evitar moscas”, pois o álcool é um neutrolítico enérgico, que poderá cau- sar lesão nervosa irreversível6. Para que a difusão anestésica se dê da melhor maneira possível, aconselha-se aguardar 5 a 10 minutos, pois nesta anes- tesia busca-se também com o mínimo con- seguir o máximo, o que vale dizer evitar ultrapassar 5 a 8 ml de volume, não impor- tando a concentração injetada no espaço epidural, pois a concentração estaria envol- vendo período cirúrgico6. Na primeira cirurgia foi feita a recons- trução da vulva (vulvoplastia) (Figura 6) e, na segunda, foi reconstituído o reto, uti- lizando a mesma técnica. No pós-operató- rio utilizou-se Banamine 10 ml, Zelotril 30 ml, foi feita assepsia utilizando iodo diluí- do em soro e Tanidil como repelente. Como emoliente foi administrado óleo de giras- sol por sonda nasogástrica e um copo do óleo misturado na ração durante as refei- ções (Figura 7). O animal respondeu positivamente a ci- rurgia, ao tratamento e obteve cicatrização da lesão. Discussão A vulvoplastia mostrou ser o reparo ci- rúrgico indicado no tratamento de éguas com laceração perineal e fístula reto vesti- bular, pois de 32 éguas 24 gestaram após o procedimento4. As lacerações perineais de terceiro grau mostraram não responder bem à intervenção cirúrgica imediata e a reco- mendação geral é de esperar quatro a seis semanas para realização da cirurgia recons- trutiva2,9. Os métodos mais utilizados são o repa- ro em dois estágios com completa cicatri- zação entre o primeiro e o segundo proce- dimento cirúrgico1,3. Existe também a téc- nica de reparo em um estágio, onde duas divisões de tecido são criadas; no entanto em um experimento realizado utilizando 17 animais, a cicatrização por primeira inten- ção foi obtida em 82%3. A égua deve ser tratada no período pós- operatório com antibiótico-terapia de am- plo espectro de ação, medicamento anti-in- flamatório e profilaxia tetânica. A adminis- tração de uma dieta com mistura de farelo e de óleo mineral podem facilitar a defeca- ção durante o período inicial de cicatriza- ção5. A porção dorsal dos lábios vulvares é removida assim como na operação de Cas- lick para corrigir pneumovagina.A pele do períneo e os lábios da vulva são saturados com suturas interrompidas utilizando nylon 2-08. A égua volta a ser alimentada imedia- tamente após a operação. Os antibióticos são administrados durante cinco dias e as suturas sobre o períneo e os lábios da vulva são retirados 14 dias após a cirurgia8. O pós-operatório das reconstituições de lacerações de terceiro grau envolve além dos curativos diários na ferida cirúrgica, tratamento dietético para a manutenção das fezes em estado pastoso. Para tanto foi fei- ta a substituição gradual do alimento con- centrado para ração peletizada e, volumo- so verde e tenro, e também a administra- ção sulfato de magnésio na dose de 0,5 a 1,0 g/kg/dia. Normalmente, em éguas com alimen- tos tenros e água à vontade, apenas a ad- ministração de alimentos verdes e laxativo é suficiente para auxiliar o trânsito e eli- minação das fezes. Outra alternativa laxa- tiva que foi utilizada é a administração de 10 a 20g/dia de semente de linhaça adicio- nada à ração. • 11 12 • Para tanto mantenha a semente de li- nhaça imersa em água morna durante cer- ta de 1 hora antes de sua administração. Quando o animal é atendido até cerca de seis horas após a laceração, existe gran- de possibilidade do caso ser resolvido por primeira intenção por meio de cirurgia para a reconstituição das paredes do reto e da vagina. As lesões com mais de seis horas devem ser tratadas como uma ferida que cicatrizará por segunda intenção, até a for- mação de tecido fibroso, para então serem operadas. Com muita frequência, éguas que apresentam fístula reto-vaginal apresentam recidivas do problema em partos futuros. O Não sendo o caso da égua atendida, pois, ela deu entrada no hospital para atendimen- to 10 meses após o ocorrido. Conclusão Neste caso clínico ressalta-se a impor- tância do acompanhamento dos partos em criações intensivas e particulares de equi- nos. Já que a intervenção imediata em ca- sos de distocia é crucial para a sobrevivên- cia da égua e potro, assim como a recupe- ração da laceração perineal através do mé- todo adequado de tratamento. Nota-se tam- bém a grande importância na dieta do ani- mal para evitar um rompimento nos pon- tos após a cirurgia e o manuseio com o ani- mal durante o período de cicatrização. Resultados satisfatórios podem ser ob- tidos, desde que os princípios básicos da técnica cirúrgica obstétrica sejam respeita- dos, e as éguas que foram submetidas à ci- rurgia corretiva recebam assistência médi- co-veterinária no parto seguinte9. Após a cicatrização, a égua precisa ser examinada quando à presença de endome- trite, e se for caso, tratada de acordo. A fe- cundação deve ser adiada por seis meses para permitir que a região ganhe alguma resistência. Algumas éguas necessitam de inseminação artificial devido à acentuada redução do tamanho da abertura vulvar8. Na maioria dos casos, o prognóstico de uma gravidez futura é excelente quando o reparo da laceração peritoneal de terceiro grau foi bem sucedido. O retorno de lace- rações perineais do terceiro grau em traba- lhos de parto subquentes é variável, com- preendendo desde nenhum traumatismo até outra laceração peritoneal de terceiro grau. É aconselhável, ter um acompanhante pre- sente durante os futuros partos, para mini- mizar a gravidade de injúria, se houver dis- tocia8. Referências 1 - AANES, W.W. Surgical repair of tirad-degree perineal lacera- tion and rectovaginal fistula in the mare. Journal American Ve- terinary Medical Association, v.144, n.5, p.485-491, 1964. 2 - AANES, W.W. Surgical management of foaling injuries. Vet. Clin. N. Am., 4, p.417, 1988. 3 - BELKNAP, J.K.; NICKELS, F.A. A one-stage repair of third- degree perineal lacerations and retovestibular fistulae in 17 ma- res. Veterinary Surgery, v.1, n.5, p.378-381, 1992. 4 - COLBERN, G.T.; AANES, W.A.; STASHAK, T.S. Surgical management of perineal lacerations and retovestibular fistulae in the mare: A retrospective study of 47 cases. 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Laceração Perineal e Fístula Reto-Vestibular na Égua: Uma revisão; Disponível em: http://revistaseletrônicas.pucrs.br/ojs/index.php/fzva/article/vi- ewFile/2130/1639. Acesso em: Ago. 2014 11 - THOMASSIAN. Ruptura da vulva e do períneo no parto. Enfermidades dos Cavalos, v.4, p.254, 2005. • 13 14 • Gustavo Fernandes Viana* (medvetgust@hotmail.com) Pós-Graduando do Depto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ-UNESP/Botucatu Adriana Cristina Saldanha de Aguiar (adricsa@gmail.com) Pós-Graduanda do Depto. de Reprod. Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ-UNESP/Botucatu Laís Melício Cintra Bueno (laismelicio@uol.com.br) Pós-Graduanda do Depto. de Reprod. Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ-UNESP/Botucatu José Nicolau Prospero Puoli Filho (jnppf@fmvz.unesp.br) Prof. Assistente Dr. do Depto. de Prod. Animal, FMVZ-UNESP/Botucatu Vânia Maria de Vasconcelos Machado (vaniamvm@fmvz.unesp.br) Profa. Assistente Dra., Depto. de Reprod. Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ-UNESP/Botucatu * Autora para correspondência TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA e RESSONÂNCIA MAGNÉTICA na avaliação em equinos atletas: revisão de literatura Figura 1: equino em decúbito lateral sendo submetido ao exame de tomografia computadorizada ........................................ S E R V IÇ O D E D IA G N O S TI C O P O R I M A G E M ( D E P TO . D E R E P R O D . A N IM A L E R A D . V E TE R IN Á R IA U N E S P -B O TU C A TU /S P ) “Use of Computed Tomography and Magnetic Resonance imaging in Musculoskeletal evaluation in athlete horses - review” “Tomografía Computarizada y Resonancia Magnética en evaluación Musculo Esquelética en equinos atletas - revisión de la literatura” RESUMO: A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são metodologias diagnósticas bastante exploradas na Medicina Esportiva Equina. Apesar disso, existem muitas dúvidas quanto ao emprego dessas técnicas e suas vantagens sobre as outras modalidades rotineiramente utilizadas. Esta revisão de literatura tem como objetivo reunir informações sobre as principais indicações da TC e da RM no diagnóstico de diversas afecções do sistema musculoesquelético em equinos atletas, relacionando-as com os métodos de diagnósticos mais aplicados na rotina clínica, como a radiografia e a ultrassonografia. Unitermos: Tomografia computadorizada, ressonância magnética, musculoesquelético, equinos ABSTRACT: Computed tomography (CT) and magnetic resonance imaging (MRI) are imaging modalities currently performed in Equine Sports Medicine. Nevertheless, there are many questions about the application of these techniques and advantages over other commonly used imaging modalities. This review aims to gather information regarding the main indications of CT and MRI on musculoskeletal disorders in athlete horses, correlating these methods with other techniques such as ultrasonography and radiography. Keywords: Computed tomography, magnetic resonance, musculoskeletal, horses RESUMEN: La tomografía computarizada (TC) y la resonancia magnética (RM) son metodologías diagnósticas, bastante exploradas en la Medicina Deportiva Equina. Sin embargo, existen muchasdudas en cuanto al empleo de esas técnicas y sus ventajas sobre otras modalidades rutinariamente utilizadas. Esta revisión de la literatura tiene como objetivo reunir informaciones sobre las principales indicaciones de la TC y de la RM en el diagnóstico de diversas afecciones del sistema músculo esquelético en equinos atletas, relacionándolas con los métodos de diagnósticos más aplicados en la rutina clínica, como la radiografía y la ultrasonografía. Palabras Clave: tomografía computarizada; resonancia magnética, musculo esquelético, equinos 1. INTRODUÇÃO A geração de imagens por tomografia computado- rizada (TC) baseia-se nos mesmos princípios físicos das radiografias convencionais. Os raios X caracteri- zam-se por emissão de radiação eletromagnética que se propagam em linha reta semelhante à velocidade da luz. O seu grau de penetração depende da energia de fótons e das características do material. Desta for- ma, uma imagem é desenvolvida através do registro da penetração dos raios X com base na absorção rela- tiva em diferentes tecidos. O exame tomográfico foi desenvolvido na década de 1970. Inicialmente, con- sistiam de uma fonte de raios X e de um único detec- tor interconectados por um gantry (estrutura em for- ma de biscoito), o qual envolvia o paciente. A ima- gem tomográfica axial (transversal), também chama- da de “fatia”, foi originada pela integração de dados de computadores que geravam uma série de imagens radiográficas bidimensionais produzidas em torno de um único eixo de rotação. As primeiras imagens to- mográficas eram adquiridas em uma única secção transversal anatômica. O paciente era movido a uma • 15 dada distância e, assim, o próximo corte era obtido. A TC espiral ou helicoidal usa o movimento contínuo do paciente através do gantry combinado com rotação contí- nua dos raios X do sistema de fonte/detec- tor, criando um volume helicoidal de da- dos que podem ser reconstruídos em espes- suras de corte especificados pelo técnico para criar conjuntos de imagens axiais3. A Imagem por ressonância magnética (IRM) é, resumidamente, o resultado da in- teração de um forte campo magnético pro- duzido pelo equipamento com os prótons de hidrogênio dos tecidos, criando uma condição para que se possa enviar um pul- so de radiofrequência e, após, coletar a ra- diofrequência modificada, através de uma bobina ou antena receptora. Este sinal co- letado é processado e convertido em ima- gem ou informação¹0. A metodologia da ressonância magné- tica (RM) baseia-se em três etapas chama- das de alinhamento, excitação e detecção de radiofrequência. O alinhamento faz re- ferência à característica magnética de nú- cleos de alguns átomos, que tendem a se dirigir paralelamente a um campo magné- tico. Por características físicas específicas e também por ser o mais abundante nos te- cidos, os núcleos de próton de hidrogênio, é o componente empregado para produzir as imagens. Dessa forma, para que os nú- cleos de próton de hidrogênio sejam dire- cionados, a presença de um campo magné- tico intenso é indispensável. Na excitação, compreende-se que cada núcleo de hidro- gênio já realiza uma vibração em certa fre- quência, que é adequada ao campo magné- tico em que está localizado. Quando o apa- relho de ressonância magnética emite uma onda eletromagnética há uma mudança de energia da onda emitida pelo equipamento para os átomos de hidrogênio, fenômeno que é chamado de ressonância. A detecção de radiofrequência ocorre quando os nú- cleos de hidrogênio ganham a energia e tor- nam-se instáveis. Ao regressarem ao esta- do clássico, emitem ondas eletromagnéti- cas fazendo com que o equipamento de RM detecte e reproduza a posição no espaço e a intensidade da energia emitida (intensida- de do sinal)8. A RM e a TC possibilitam a avaliação não invasiva e in situ das estruturas que compõem o sistema musculoesquelético17. A tomografia computadorizada, além do diagnóstico de lesões, permite o auxílio no planejamento cirúrgico, especialmente quando é realizada a reconstrução tridimen- sional das imagens geradas (3D). Possibi- lita a avaliação da extensão e das caracte- rísticas das lesões e das estruturas envolvi- das no estudo em vários planos. O exame tomográfico é considerado muito eficaz na avaliação de lesões ósseas e de anexos em regiões podais5,26. As medições da densida- de relativa do tecido podem ser calculadas para cada pixel e numericamente represen- tadas como unidades Hounsfield para com- paração com os tecidos de referência. Re- giões musculoesqueléticas podem ser ava- liadas por variações no tom de escalas de cinza pelo recurso conhecido como coefi- ciente de atenuação (windows) paras dife- rentes tecidos, como moles e ósseo3 (Figu- ra 1 e 2). A ressonância magnética é considera- da uma modalidade padrão ouro para ava- liação de lesões musculoesqueléticas. Pro- porciona visibilização efetiva de lesões em tecidos moles e ósseo25. O alto contraste de tecidos moles concedido pela RM permite um estudo detalhado de cartilagens, liga- mentos, tendões, cápsulas articulares e membrana sinovial27 (Figura 3 e 4). Esta técnica possibilita geração de imagens axi- ais milimétricas das extremidades do crâ- nio em alta resolução. Tais imagens podem também ser reproduzidas em outros planos, como sagital e dorsal. A espessura dos cor- tes pode ser variada e dependerá da região de interesse ou o foco de uma determinada estrutura a ser estudada24. 2. VANTAGENS 2.1. TC sobre a Radiografia A TC é excelente na avaliação óssea e muito útil para definir fraturas intra-arti- culares complexas não visibilizadas radio- graficamente, assim como esclerose óssea subcondral induzida por estresse, e outras lesões ósseas subcondrais como cistos e al- terações sutis. Na maioria dos casos, o exa- me tomográfico é realizado após a obten- ção de imagens radiográficas com a finali- dade de se obter um diagnóstico mais apu- rado16 (Figura 5). Na região da articulação metacarpo/me- tatarsofalângica (boleto), a radiografia não fornece visibilização completa da extensão das fraturas condilares, quando comparado Figura 2: A imagem A, em reconstrução tridimensional (3D), mostra a extensão e as caracterís- ticas de mineralizações tendíneas e ligamentares ao longo da articulação metacarpofalângica e falange proximal (setas amarelas). A localização mais precisa e a análise dessas lesões po- dem ser mais bem representadas aplicando o coeficiente de atenuação (windows) para tecidos moles no plano axial (imagem B, C e D) - setas vermelhas. Na imagem B, é indicada lesões no tendão flexor digital superficial. Em C, no ligamento sesamoideo distal reto e em D, no tendão flexor digital profundo (Imagens cedidas pelo Serviço de Diagnostico por Imagem - Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária UNESP-Botucatu/SP) ..................................................................................................................................................................... A B C D 16 • Figura 4: As imagens A, B e C exemplificam diferentes contrastes e planos de imagem que podem ser geradas através da ressonância magnética da região metacarpofalângica. Na ima- gem A, observamos a sequência spin eco T2 no plano axial. Em B, a sequência STIR (Short Time Inversion Recovery) representada no plano dorsal. Já em C, a sequência gradiente eco TURBO 3D ponderada em T1 no plano sagital. (Imagens cedidas pelo Serviço de Diagnostico por Imagem - Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária UNESP-Botucatu/SP) Figura 3: Posicionamento em decúbito lateral do equino durante exame de ressonância magné- tica (Imagens cedidas pelo Serviço de Diagnostico por Imagem - Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária UNESP-Botucatu/SP) A B C Figura 5: As imagens A e B exemplificam o estudo da região metacarpofalângica através da aplicação do coeficiente de atenuação para tecido ósseo no plano axial. Na imagem A, obser- va-se área hiperatenuante em côndilo lateral da região distal do 3º metacarpiano (elipse amare-la). Em B, no mesmo membro reproduzido em A, observa-se área hiperatenuante em região lateral da falange proximal, com aumento da densidade óssea constatada em Unidade Houns- field, medindo 1427 HU. Tais evidências sugerem esclerose subcondral e entesopatia em topo- grafia de inserção de ligamento colateral lateral da articulação metacarpofalângica (Imagens cedidas pelo Serviço de Diagnostico por Imagem - Departamento de Reprodução Animal e Radiolo- gia Veterinária UNESPBotucatu/SP) com métodos que reproduzem imagens axi- ais, como tomografia computadorizada, que permite melhor avaliação dos aspectos pal- mar e plantar. A extensão de fissuras linea- res proximais nos ossos do terceiro meta- carpiano e metatarsiano (IIIMc e IIIMt) também são melhores detectadas usando TC (12). A TC é especialmente vantajosa para avaliar fraturas condilares, quando aplicada previamente à cirurgia18. 2.2. RM sobre Radiogafia e a Ultrassonografia Em muitas enfermidades da região dis- tal da articulação metacarpo/metatarso- falângica, a presença da remodelação ós- sea adaptativa pode evoluir para a remode- lação não adaptativa, e consequentemente levar à lesão óssea. Em última análise, os danos do osso subcondral na região distal do IIIMc e IIIMt podem levar a fratura e a progressão da osteoartrite. Fraturas condi- lares do IIIMc podem ocorrer em locais que perderam arquitetura normal da região tra- becular28. O Exame de ressonância mag- nética é capaz de evidenciar a remodela- ção óssea adaptativa e não adaptativa que não é radiograficamente evidente29. A osteoartrite da articulação do boleto é a enfermidade mais frequentemente di- agnosticada em exame de ressonância mag- nética após exames radiográficos e ultras- sonográficos inconclusivos4. Evidências ra- diográficas de osteofitose periarticular e remodelação óssea secundária à sinovite crônica ocorrem tardiamente na doença. A RM parece ser a modalidade mais abran- gente para avaliar a osteoartrite do bole- to14. A RM pode ser necessária para o diag- nóstico de perda precoce da cartilagem da articulação metacarpofalângica e lesão do osso subcondral sem dano ósseo estrutural ou desmineralização, muitas vezes não de- tectados pela radiografia23,31. Avaliação ultrassonográfica é útil para a análise dos tecidos moles envolvidos nas articulações metacarpo/metatarsofalângi- cas, mas é menos sensível que a ressonân- cia magnética para lesões dos ligamentos sesamoides distais reto e oblíquo22. Apesar da lesão do ramo do ligamento suspensor ser geralmente diagnosticada através da ultrassonografia, tem se obtido melhor ava- liação por RM. Esta técnica é capaz de mostrar lesões ao longo da superfície axial dos ramos do ligamento suspensor, esten- dendo-se para os ossos sesamoides proxi- mais32. A ultrassonografia é comumente utilizada • 17 18 • Figura 6: Hipersinal e aumento das dimensões, na sequencia SE T2 em plano axial, no aspec- to lateral do tendão flexor digital profundo (TFDP) em topografia de falange proximal (seta amarela). Tais evidências sugerem tendinite do TFDP. (Imagens cedidas pelo Serviço de Diag- nostico por Imagem - Departamento de Repro- dução Animal e Radiologia Veterinária UNESP- Botucatu/SP) para avaliar os ligamentos sesamoides dis- tais. Devido à conformação da porção dis- tal do metacarpo, presença de várias orien- tações dos tecidos moles e existência de estruturas vasculares, a reprodução e inter- pretação das imagens podem ser limitadas para o ultrassonografista. A RM reproduz de forma detalhada esta anatomia comple- xa das estruturas ligamentares e caracteri- za com precisão a gordura e os planos faci- ais a partir de regiões das fibras do ligamento22. Imagens por RM oferecem vantagens sobre a radiografia e ultrassonografia du- rante a investigação por indícios de clau- dicação subcarpal2,31. O diagnóstico de des- mite do ligamento suspensor por RM in- cluem espessamento em aspecto proximal, aderências entre o ligamento suspensor pro- ximal e os ossos metacarpo e metatarso e anormalidade difusa das fibras e lesões cen- trais32. Cavalos com claudicação localiza- da no carpo ou região subcarpal que apre- sentam resultado negativo nos achados ul- trassonográficos e radiológicos podem mos- trar sinais de anormalidades dentro do as- pecto palmaroproximal do osso IIIMc atra- vés da RM. Esses sinais indicam presença de fluido (processo inflamatório), provavel- mente por reações de estresse na região proximal do IIIMc. Tem sido proposto que essas alterações sejam a fonte primária de dor em ausência de lesões no ligamento suspensor19. Apesar da técnica ultrassono- gráfica ainda ser a ferramenta mais usada para o diagnóstico de lesões tendíneas, a RM é capaz de detectar mudanças sutis na composição do tecido que não são detectá- veis através do exame ultrassonográfico. Como a ultrassonografia, a ressonância magnética detecta o aumento da espessura e a mudança na composição do tecido do tendão ou ligamento30 (figura 6). 2.3. TC sobre RM Os osteófitos associados com osteoar- trite do boleto são geralmente identifica- dos radiograficamente e, através da RM, como alterações do contorno das margens articulares proximais e distais dos ossos sesamoides e margens periarticulares da falange proximal7. Osteófitos menores são diagnosticados com mais precisão através da TC, porque artefatos podem ocorrer em imagens produzidas por RM, superestiman- do o tamanho dos osteófitos14. 2.4. RM sobre TC A resolução de contraste superior da res- sonância magnética supera a resolução es- pacial mais elevada de TC para o reconhe- cimento de doenças degenerativas muscu- loesqueléticas14. 3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A TC E RM 3.1. Aspectos Relevantes Para os fragmentos osteocondrais, a ra- diografia é o método mais adequado para a detecção de fragmentos na região dorsal da falange proximal se comparada com a TC12. A visibilidade de fragmentos osteocondrais em imagens de RM, em oposição às radio- grafias, depende da localização do fragmen- to e dos tecidos adjacentes. Efeitos soma- tórios em radiografia podem permitir que fragmentos osteocondrais tornem-se mais visíveis do que em ressonância magnética, já que um fragmento pode ser dividido ao longo de duas fatias subsequentes, diminu- indo a sua visibilização. Um fragmento ós- seo pode ser difícil de ser identificado em um estudo de RM. Esta dificuldade surge porque o fragmento osteocondral tem bai- xa intensidade de sinal (baixo contraste de imagem), semelhante a muitas estruturas adjacentes, tais como vasos sanguíneos, ten- dões, locais de inserção dos ligamentos, cápsula articular adjacente e proliferação sinovial. Por outro lado, a RM elimina so- breposição de imagens e pode permitir a detecção de fragmentos ósseos não visibi- lizados radiograficamente. Nem a radiogra- fia nem a RM oferecem uma completa ava- liação da osteoartrite. Para uma avaliação mais abrangente, provavelmente seria re- comendado o envolvimento de ambas as técnicas7. Apesar da RM ser indicada como a mo- dalidade mais adequada para reproduzir imagens de cartilagens, a identificação pre- cisa de lesões nas articulações metacarpo/ metatarsofalângica continua um desafio, devido à característica delgada da cartila- gem dessa região e às superfícies curvas articulares, resultando em suscetibilidade de avaliação parcial do seu volume13,15. 3.2. Efeitos Adversos 3.2.1. TC Com todos os benefícios indubitáveis da TC, deve-se atentar para o fato que o méto- do utiliza radiação ionizante e que a dose de radiação recebida pelo paciente é consi- derada alta em comparação aos outros mé- todos de diagnóstico radiológico, sendo ul- trapassadas apenas pelas doses envolvidas nos procedimentos radiológicos interven- cionistas. As doses em órgãos podem atin- gir o valor de 100 mGy, em estudos com cortes finos e superpostos. Além disso, na TC não existe um controlador “natural” de dose de radiação para o paciente, como o filme radiográfico na radiografia conven- cional. Se a dose de radiação for acima do necessário, o filme fica muito enegrecido, prejudicandoo contraste da imagem e, con- sequentemente, o potencial das informações extraíveis para o diagnóstico correto. Além disso, devido ao processo matemático de reconstrução das imagens, quanto maior a dose de radiação na TC, melhor será a qua- lidade da imagem20. A nefropatia induzida por contraste (NIC) é o termo usado para descrever a nefrotoxicidade associada ao uso de meios de contraste iodados intravascular. A fisiopatologia da NIC envolve redu- ções induzida por contraste na perfusão renal e fluxo tubular renal, resultando em uma redução aguda na taxa de filtração glo- merular (TFG)6. Fatores de risco incluem doença renal crônica préexistente (DRC) e diabete19. A incidência de NIC após tomo- grafia computadorizada em pacientes com DRC foi quantificado em 2,5%, apesar de pré-tratamento com fluidos intravenosos e N-acetilcisteína9. 3.2.2. RM Não são conhecidos os riscos biológi- cos da exposição a campos magnéticos ou pulsos de radiofrequência usados em res- sonância magnética. No entanto, há riscos significativos dos efeitos do forte campo magnético em • 19 20 • objetos metálicos dentro da sala de RM ou implantados nos pacientes. Em seres hu- manos, a RM é contraindicada em pacien- tes com marcapassos cardíacos permanen- tes, fragmentos metálicos dentro dos olhos, e clipes de aneurisma intracranianos ferro- magnéticos. Se os implantes metálicos são fortemente incorporados, consequentemen- te, não há risco de gerar deformação do campo magnético e esses pacientes pode- rão ser submetidos ao exame de RM. A uti- lização de agentes de contraste à base de gadolínio para exames de RM foi recente- mente demonstrada que podem gerar ris- cos em pacientes submetidos ao exame. As reações anafiláticas a estes agentes são ra- ros. No entanto, uma associação entre os meios de contrastes à base de gadolínio ad- ministrados em RM e o desenvolvimento de fibrose nefrogênica sistêmica (FNS) em pacientes com doença renal crônica tem sido descrita em seres humanos1,21. 4. CONCLUSÃO Podemos concluir que a TC e RM são metodologias diagnósticas precisas na vi- sibilização de alterações musculoesquelé- ticas sutis e precoces em equinos. Repro- duzem imagens de melhor resolução na maioria das afecções do sistema locomo- tor, quando comparadas com a radiografia e ultrassonografia. Dentre as principais di- ficuldades enfrentadas para a realização do exame tomográfico e por ressonância mag- nética, destaca-se a necessidade de subme- ter o animal a um protocolo anestésico. É importante ressaltarmos que a TC e RM já é rotineiramente executada há décadas em muitos centros de diagnóstico por imagem da Europa e Estados Unidos para avalia- ção musculoesquelética em equinos. No Brasil, ainda existem poucos locais e pro- fissionais especializados na aplicação de tais técnicas. Referências 1 - ABUJUDEH, H.H.; KAEWLAI, R.; KAGAN, A.; CHIBNIK, L.B.; NAZARIAN, R.M.; HIGH, W.A.; KAY, J. 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