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Indexação Qualis A R ev is ta d o M éd ic o V et er in ár io • w w w .r ev is ta ve te q u in a. co m .b r ANO 13 - Nº 75 - JANEIRO / FEVEREIRO 2018 • Uso de cerclagem e resina acrílica na osteossíntese mandibular em equino: relato de caso • Escala para avaliação do bem-estar em equídeos atletas • Encarceramento em forame epiplóico em equino: relato de caso • Sialoadenite e hiperplasia gengival induzidas por desgaste dentário irregular em equino: relato de caso • Sinais clínicos em equídeos naturalmente infectados por Burkholderia mallei no Estado de Alagoas: relato de caso • Sablose como causa de síndrome cólica em um equino • Ruptura do ligamento da cabeça do fêmur em uma égua: dor, limitação de movimento e achados de necrópsia • Ortopedia Equina: Qual é o verdadeiro espaço articular em uma Radiografia? A OSTEODISTROFIA FIBROSA NA CAVIDADE ORAL A OSTEODISTROFIA FIBROSA NA CAVIDADE ORAL • 1 S U M Á R I O ANO 13 - Nº 75 - JANEIRO / FEVEREIRO 2018 FOTO CAPA: Equident FOTO DESTAQUE: Arquivo pessoal do autor 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Ca- sos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (lucianarevistaequina@gmail.com) e editados em idioma Portugu- ês. Todas as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferi- or direito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com margens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo cien- tífico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comunicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figu- ras, gráficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apre- sentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agrade- cimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Títu- lo, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdu- ção; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme ne- cessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espa- nhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discus- são (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agra- decimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal de- vem aparecer antes das Referências. NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discus- são e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referênci- as. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf). 7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520, conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Se- gundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermi- dades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.” Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algaris- mos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo, na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a nume- ração das citações a cada página. As citações de diversos docu- mentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distin- guidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exem- plo: De acordo com Silva11 (2011a). 8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/ 2002) conforme normas próprias da revista. 8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Phila- delphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p. TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Ama- zônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p. 8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Balti- more: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48. 8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John Willey, 1977, cap.4, p.72-90. 8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON, R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medi- cina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segu- rança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineu- ral em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equi- nos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Ve- terinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departa- mento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a in- formação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúr- gico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovadosserão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial. • Escala para avaliação do bem-estar em equídeos atletas (Página 4) • Encarceramento em forame epiplóico em equino: Relato de caso (Página 10) • Uso de cerclagem e resina acrílica na osteossíntese mandibular em equino: Relato de caso (Página 14) • Sablose como causa de síndrome cólica em um equino (Página 18) • Ruptura do ligamento da cabeça do fêmur em uma égua: dor, limitação de movimento e achados de necrópsia (Página 22) • Sinais Clínicos em equídeos naturalmente infectados por Burkholderia mattei no estado de Alagoas: Relato de caso (Página 26) • Sialoadenite e hiperplasia gengival induzidas por desgaste dentário irregular em equino: Relato de caso (Página 30) • Odontologia Equina: A Osteodistrofia fibrosa na cavidade oral (Página 32) • Agronegócio: Desafios econômicos na comercialização de Feno (Página 36) • Informativo Equestre: Hidroterapia em Equinos (Página 40) •Gestão Empresarial: Reuniões, ajudam ou atrapalham o Médico Veterinário? (Página 41) • Ortopedia Equina: Qual é o verdadeiro espaço articular em uma Radiografia? (Página 42) 14 www.passoapasso.org.br dr.jairocardenas@yahoo.com.br 10 18 14 32 42 2 • E D I T O R I A L FUNDADOR Synesio Ascencio (1929 - 2002) DIRETORES José Figuerola, Maria Dolores Pons Figuerola EDITOR RESPONSÁVEL Fernando Figuerola JORNALISTA RESPONSÁVEL Russo Jornalismo Empresarial Andrea Russo (MTB 25541) Tel.: (11) 3875-1682 russo.jornalismo@gmail.com PROJETO GRÁFICO Studio Figuerola EDITOR DE ARTE Roberto J. Nakayama MARKETING Master Consultoria e Serviços de Marketing Ltda. Milson da Silva Pereira milsonbiconsult@gmail.com PUBLICIDADE / EVENTOS Diretor Comercial: Fernando Figuerola Fones: (12) 3959-2412 (11) 99184-7056 fernandofiguerola@terra.com.br ADMINISTRAÇÃO Fernando Figuerola Pons ASSINATURAS: Tel.: (12) 3959-2412 WhatsApp (12) 99790-0262 editoratrofeu@terra.com.br REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA é uma publicação bimestral da EditoraTroféu Ltda. Administração, Redação e Publicidade: Rua Leonardo Gonçalves Caramurú, 249 / casa 23 Condomínio Bella Cittá CEP: 12321-490 Bairro Jardim Emília - Jacarei, SP Tel.: (12) 3959-2412 (11) 99184-7056 WhatsApp (12) 99790-0262 editoratrofeu@terra.com.br nossoclinico@nossoclinico.com.br NOTAS: a) As opiniões de articulistas e en- trevistados não representam ne- cessariamente, o pensamento da REVISTA BRASILEIRA DE MEDI- CINA EQUINA. b) Os anúncios comerciais e infor- mes publicitários são de inteira res- ponsabilidade dos anunciantes. DIRETOR CIENTÍFICO: Pierre Barnabé Escodro Cirurgia Veterinária e Clínica Médica de Equideos (Univ. Federal de Alagoas) pierre.vet@gmail.com CONSULTORES CIENTÍFICOS: NOSSO ENDEREÇO ELETRÔNICO Home Page: www.revistavetequina.com.br Redação: russo.jornalismo@gmail.com Assinatura/Administração: editoratrofeu@terra.com.br Publicidade/Eventos: fernandofiguerola@terra.com.br Editora: revistavetequina@revistavetequina.com.br 2 • Alexandre Augusto O. Gobesso Nutrição e Fisiologia do Exercício cateto@usp.br Aline Emerim Pinna Diagnóstico por Imagem aepinna@id.uff.br André Luis do Valle De Zoppa Cirurgia alzoppa@usp.br Cláudia Acosta Duarte Clínica Cirúrgica de Equídeos claudiaduarte@unipampa.edu.br Daniel Lessa Clínica lessadab@vm.uff.br Fernando Queiroz de Almeida Gastroenterologia, Nutrição e Fisiologia Esportiva almeidafq@yahoo.com.br Flávio Desessards De La Côrte Cirurgia delacorte2005@yahoo.com.br Geraldo Eleno Silveira Clínica Cirúrgica de Equinos geraldo@vet.ufmg.br Guilherme Ferraz Fisiologia do Exercício guilherme.de.ferraz@terra.com.br Henrique Resende Anatomia e Equinocultura resende@dmv.ufla.br Jairo Jaramillo Cardenas Cirurgia e Anestesiologia Equina dr.jairocardenas@yahoo.com.br Jorge Uriel Carmona Ramíres Clínica e Cirurgia carmona@ucaldas.edu.co José Mário Girão Abreu Clínica zemariovet@gmail.com.br Juliana Regina Peiró Cirurgia juliana.peiro@gmail.com Luiz Carlos Vulcano Diagnótico de Imagem vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Cláudio Nogueira Mendes Clínica de Grandes Animais luizclaudiomendes@gmail.com Marco Antônio Alvarenga Clínica e Reprodução Equina malvarenga@fmvz.unesp.br Marco Augusto G. da Silva Clínica Médica de Equídeos silva_vet@hotmail.com Maria Verônica de Souza Clínica msouza@ufv.br Max Gimenez Ribeiro Clinica Cirúrgica e Odontologia mgrvet@bol.com.br Neimar V. Roncati Clinica, Cirurgia e Neonatologia neimar@anhembi.br Roberto Pimenta P. Foz Filho Cirurgia robertofoz@gmail.com Renata de Pino A. Maranhão Clínica renatamaranhao@yahoo.com Silvio Batista Piotto Junior Diagnóstico e Cirurgia Equina abraveq@abraveq.com.br Tobyas Maia de A. Mariz Equinocultura e Fisiologia Equina tobyasmariz@hotmail.com Tendências de Marketing na Equinocultura Recentemente, Sophie Barrington, da Archer Creative, pu- blicou um artigo discutindo as perspectivas do marketing na equi- nocultura para os próximos 10 anos. Ela destaca a importância do uso de vídeos, nos seus mais diversos formatos (streaming ao vivo, 360 graus, animação, etc.). A autora revela que os usuá- rios do YouTube consomem um bilhão de horas de vídeo diaria- mente. Já os usuários do Facebook observam oito bilhões de vídeos por dia. E, 82% dos usuários do Twitter visualizam o con- teúdo do vídeo. Parece claro que as ações de marketing devem incluir vídeos. Mas o papel não está aposentado. Além do vídeo, tudo que compõem o marketing digital deve ser incrementado, entretanto, há a ressalva importante que o material impressa ainda será ne- cessário e deve sempre ser usados em parceria com mídias digi- tais ainda por, pelo menos, a próxima década. Após uma forte expansão na quantidade de informações disseminadas com uso intensivo da internet, verificada nos últi- mos anos, a qualidade voltará ser valorizada. As empresas no setor equestre deverão dar atenção ao conteúdo do que divul- gam tanto em redes sociais quanto em seus próprios portais. O marketing de influenciadores é cada vez mais utilizado na indústria relacionado ao cavalo em nível mundial. Mas é preci- so tomar o cuidado de não confundir esse marketing com a sim- ples contratação de celebridades (ou artistas do momento): é necessário ter credibilidade, autoridade, para capitalizar a influ- ência. Artigos e autores das publicações nas diversas revistas (jor- nals e magazines) deverão estar cada vez mais frequentes e vi- sualizados não apenas no meio acadêmico, mas também nas iniciativas de marketing, preferencialmente acompanhados de vídeos ilustrando seus estudos e recomendações. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br • 3 4 • Clarisse Simões Coelho Universidade Federal da Bahia Helena Emília Cavalcanti de Costa Cordeiro Manso Universidade Federal Rural de Pernambuco Helio Cordeiro Manso Filho* (helio.mansofo@ufrpe.br) Universidade Federal Rural de Pernambuco José Dantas Ribeiro Filho Universidade Federal de Viçosa José Mário Girão Abreu Universidade Estadual do Ceará Pierre Barnabé Escodro Universidade Federal de Alagoas Sandra Regina Fonseca de Araújo Valença Universidade Federal Rural de Pernambuco * Autor para correspondência Escala para avaliação do “Scale for assessing well-being in athletes equids” “Escala para evaluacion del bienestar en equídeos atletas” em equídeos atletas RESUMO: Nas últimas décadas, com o desenvolvimento da hipiatria, o bem-estar (BE) passou a ser tema regular nas discussões técnicas e projetos científicos dessa área da medicina veterinária. Diferentes grupos passaram a estudar e incluir aspectos do BE animal nas atividades esportivas com equídeos. Esse trabalho objetivou o desenvolvimento de um modelo de avaliação de BE para equídeos em atividades atléticas e de trabalho, facilitando a análise por hipiatras nas diferentes regiões do país. Serão utilizados sete parâmetros da hipiatria, os quais têm largo amparo científico paraserem empregados na determinação do bem-estar: (1) Escore corporal, (2) Frequência cardíaca de repouso e recuperação, (3) Presença de ferimentos/sangramentos, (4) Dor/claudicação, (5) Concentração de leucócitos, (6) Concentração de eritrócitos, hemoglobina e volume globular e (7) Creatinaquinase (CK). O sistema consiste em pontuar cada item e o somatório desta pontuação será confrontado na escala indicando o nível de BE no qual o animal se encontra. Para cada parâmetros, a ausência de anormalidade representará o valor da pontuação “0” (zero), enquanto a presença de anormalidade e penalização significa “1” (um). Assim, quanto mais pontos um animal obtiver, menor será a condição de BE que ele possui. A implementação de um sistema de avaliação do BE do atleta poderá contribuir para o melhor acompanhamento dos equídeos atletas e de trabalho e assim para o exercício da hipiatria nas suas diferentes áreas. O sistema é simples, mas baseado em parâmetros científicos, largamente utilizados em diversos países e no Brasil, podendo ser aplicados com eficiência contribuindo, assim, para o desenvolvimento da Equideocultura nacional e atendendo aos anseios da sociedade no século XXI. Unitermos: cavalo, esporte, bem-estar animal, frequência cardíaca, creatinaquinase ABSTRACT: In the last decades with the development of hipiatry, the well-being has become a regular theme in the technical discussions and scientific projects of this veterinary area. different groups started to study and include aspects of the welfare in the sport activities with equidae. This work aimed at the development of a model of evaluation of equine welfare in athletic and work activities, facilitating the analysis by equine veterinarians in different regions of the country. Seven parameters of hipiatry will be used, which have wide scientific support to be used in the determination of well-being. They are: body score, recovery heart rate, presence of wounds / bleeding, pain / claudication, leukocyte concentration, erythrocyte concentration, hemoglobin concentration, globular volume and creatine kinase (CK). The system consists of punctuating each item and the sum of this score will be confronted in the scale indicating the level of welfare in which the animal is. For each parameter, the absence of abnormality will represent the score value "0" (zero), while the presence of abnormality and penalty means "1" (one). Thus, the more points an animal gets, the less welfare it has. The implementation of a system of evaluation of the athlete's well-being may contribute to the better monitoring of the equidae athletes and of work and thus to the exercise of hipiatry in its different areas. The system is simple but based on scientific parameters, widely used in several countries and in Brazil, and can be applied efficiently, thus contributing to the development of the National equine production and meeting the yearnings of society in the 21st century. Keywords: horses, sport, welfare, heart rate, creatine kinase RESUMEN: En las últimas décadas, con el desarrollo de la hipiatría, el bienestar (BE) pasó a ser tema regular en las discusiones técnicas y proyectos científicos de esa área de la medicina veterinaria. Diferentes grupos pasaron a estudiar e incluir aspectos del BE animal en las actividades deportivas con équidos. Este trabajo objetivó el desarrollo de un modelo de evaluación de BE para équidos en actividades atléticas y de trabajo, facilitando el análisis por hipiatras en las diferentes regiones del país. siete parámetros hipiatria serán utilizados, que tienen apoyo científico amplia para ser empleados en la determinación del bienestar: (1) la condición corporal, (2) la frecuencia cardíaca en reposo y la recuperación, (3) la presencia de lesión / sangrado, (4 (5) concentración de leucocitos, (6) concentración de eritrocitos, hemoglobina y volumen globular y (7) creatinaquinasa (CK). El sistema consiste en puntuar cada ítem y la suma de esa puntuación será confrontada en la escala indicando el nivel de BE en el cual el animal se encuentra. Para cada parámetro, la ausencia de anormalidad representará el valor de la puntuación "0" (cero), mientras que la presencia de anormalidad y penalización significa "1" (uno). Así, cuanto más puntos obtenga un animal, menor será la condición de BE que posee. La implementación de un sistema de evaluación del BE del atleta puede contribuir al mejor seguimiento de los équidos atletas y de trabajo y así para el ejercicio de la hipiatría en sus diferentes áreas. El sistema es simple, pero basado en parámetros científicos, ampliamente utilizados en diversos países y en Brasil, pudiendo ser aplicados con eficiencia contribuyendo así al desarrollo de la Equidocultura nacional y atendiendo a los anhelos de la sociedad en el siglo XXI. Palabras claves: caballo, deporte, bienestar animal, frecuencia cardíaca, creatinaquinasa • 5 têm amparo científico para serem empregados na determinação do bem-estar. São eles: (1) Escore corporal, (2) Frequência cardíaca de recuperação, (3) Presença de ferimentos, sangramentos e taras, (4) Dor/claudicação, (5) Concentração de leucócitos, (6) Concen- tração de eritrócitos, concentração de hemoglobina, volume globu- lar e (7) Creatinaquinase (CK) (Quadro 1). O sistema consiste em pontuar cada item e o somatório desta pontuação será confrontado na escala indicando o nível de bem- estar no qual o animal se encontra (Quadro 2). Para cada indica- dor, a ausência de anormalidade representará o valor da pontuação “0” (zero), enquanto a presença de anormalidade representará o valor da pontuação “1” (um). Assim, quanto mais pontos um ani- mal obtiver, menor será a condição de bem-estar que ele possui. Para equídeos que somarem 3 (três) ou menos pontos, o sistema indica ausência de comprometimento do seu bem-estar. Equídeos que estão com pontuação entre 4 e 5 apresentam qualidade inter- mediária na escala de bem-estar, os equídeos com pontuações atin- gindo 6 (seis) até 7 (sete) possuem nítido comprometimento do seu bem-estar (Quadro 2). Essa escala poderá ser utilizada a qualquer momento da vida do animal e não serve como uma declaração ou Introdução Ao longo das últimas décadas, a Medicina Veterinária Equina Brasileira desenvolveu-se em diversas áreas, favorecendo boas prá- ticas nos diversos de sistemas de criação em várias regiões do Bra- sil. Associados a esses fatores, a grande utilização de processos mais tecnológicos, tem favorecido a difusão e o uso dessas técnicas com bases científicas, produzindo melhoras significativas na cria- ção de equídeos, e que incorporem as práticas de bem-estar animal (BEA). O bem-estar em animais pode ser definido de forma que per- mita pronta relação com outros conceitos, como necessidades, li- berdades, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimen- tos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde. Es- tas diretrizes, estabelecidas na sociedade pós-guerra, precisam de adaptações, segundo a espécie em questão e de sua utilização, pro- curando seguir a medicina veterinária baseada na evidências cien- tíficas. Esses novos conceitos conduziram ao desenvolvimento de sistemas de avaliações simples e objetivos6,7,21 que procuraram di- fundir as boas-práticas de criação e de BEA entre todos os envolvi- dos com os equídeos atletas. Alguns grupos de pesquisa nacionais vêm desenvolvendo in- vestigações em cavalos atletas, visando compreender as respostas biológicas nas diferentes modalidades esportivas. O aumento do rendimento atlético depende de diversos fatores psíquicos e físi- cos, alimentação e idade do animal, justificando a busca por pro- gramas de treinamento e nutrição para cada tipo de atividade eques- tre. Com a maior intensificação nas criações e práticas esportivas com equídeos, e em virtude da maior compreensão da fisiologia nos animais dos aspectos que levam ao estresse, os agentes de de- fesa animal e a classe médico veterinária têm contribuído para que a utilização desses animais seja realizada dentro dos conceitosde BEA e da senciência. Em seu excelente livro (Zootecnia Especial - Equídeos), ain- da atual para os dias de hoje, o prof. Guilherme Hermsdorff (1956) já destacava que as boas-práticas de criação e de BEA deveriam ocupar todas as áreas da Equideocultura, desde a criação até as fases de treinamento, competição e trabalho, favorecendo o melho- ramento genético e o desenvolvimento de todo o sistema de cria- ção no Brasil, e ainda recordando-se que de acordo com o Código de Conduta da Federação Equestre Internacional (FEI, 2014), o bem-estar de equinos deverá ser soberano perante as outras de- mandas. A investigação do bem-estar dos equídeos deve se assentar na medicina baseada nas evidências científicas. Diferentes parâme- tros fisiológicos têm sido utilizados para avaliação de condiciona- mento atlético e acompanhamento de treinamento físico e tais in- formações podem também serem usadas na avaliação da saúde, conforto e prazer dos animais. O estabelecimento de uma escala poderá facilitar a compreensão do grau de BEA no qual o animal ou grupo deles está sendo submetido6,7,21. Essa escala poderá favo- recer a melhora nas práticas de criação e treinamento dos animais atletas e de serviços, e assim estimular a aplicação das boas-práti- cas de treinamento e competição em toda a indústria. Esse trabalho objetivou o desenvolvimento de uma escala de avaliação de BEA para equídeos em atividades atléticas e de trabalho pelos hipiatras nas diferentes regiões do país. Sugestão de modelo para avaliação do Bem-Estar em cavalos e outros equídeos atletas e como utilizá-lo Serão utilizados sete parâmetros na prática da hipiatria, os quais Quadro 1: Sistema de avaliação para a formação da escala de bem-estar nos equídeos atletas e de trabalho ITEM A SER AVALIADO AVALIAÇÃO “ 0 ” “ 1 ” 1 ESCORE CORPORAL 4-6 ≤3 1 até 9 ≥7 2 FERIMENTOS/SANGRAMENTO Sem ferimentos ou Presente Arreios - professora, esporas, cicatrizes associadas Acidentes - recentes ou antigos ao esporte ou trabalho Sem sangramento 3 DOR ou CLAUDICAÇÃO Ausente Presente Escala do Obel (1-5). Obel ≤1 Obel 2-5 4 FC @ Repouso no boxe ou 20-50 ≥64/72bpm FC Recuperação ≤30min de ≤64/72 @ 30min ≥64/72bpm finalizado o exercício 5 [NEUTRÓFILOS] Normalidade para o Fora da normalidade: laboratório em uso acima ou abaixo 6 ANEMIA Normalidade para o Fora da normalidade: Combinar He, Hb e Ht/VG laboratório em uso acima ou abaixo 7 Creatinaquinase (CK) Normalidade Horário da colheita: entre 4 e ≤400UI ≥500 UI 5 horas após exercício TOTAL de PONTOS ---###--- Quadro 2: Sistema de classificação na escala de bem-estar para equídeos atletas e de trabalho Pontuação Conclusões 0 até 3 Animais submetidos as boas-práticas de bem-estar em suas atividades esportivas Entre 4 e 5 Animais que devem refazer a sua avaliação pois estão próximos ao comprometimento o seu bem-estar De 6 até 7 Animais com bem-estar comprometido, necessitando de adequação pra recuperar o bem-estar 6 • atestado definitivo do BEA, pois trata-se de um processo dinâmico e em constante evolução. Em qualquer situação, desde competições, manejo e outras práticas que envolvam equídeos, os critérios clínicos ou de bom senso terão impacto maior na avaliação global do animal, superan- do a própria pontuação do protocolo. Assim, as 7 (sete) variáveis supracitadas e/ou outras, não contempladas na proposta, mas que o avaliador julgue de importância temporal, terão caráter individual na determinação na condição do BEA. Também, os centros de com- petição ou treinamento podem obter uma certificação de bem-estar dos animais alojados com base nessa escala, que poderia ter vali- dade de 30 dias, ou uma certificação a partir de um programa de avaliação regular ao longo do ano ou de um período, devidamente acompanhado por profissionais habilitados. Parâmetros utilizados na Avaliação do Bem-estar de Equídeos e sua interpretação ESCORE CORPORAL A avaliação do escore corporal (EC) tem sido largamente uti- lizada na avaliação dos equídeos, sendo que há pelo menos dois padrões para equinos2,3,7 e um para os asininos6. Essa diferença en- tre as espécies deve-se a distribuição do acúmulo de gordura, que nos asininos é muito peculiar, formando “cachos de gordura” ou lipomas. Os muares apresentam uma distribuição do acúmulo de gordura um pouco mais semelhante aos equinos. Basicamente, esses índices de EC indicam que o número mais baixo, normalmente “1”, podendo ser “0”, revelam um animal ca- quético, muito magro e muitas vezes com escaras no corpo e em visível quadro de estado catabólico. Já o número mais elevado, seja o 9 usado no padrão americano2 ou 5 utilizado no padrão in- glês3, indicam animais obesos. Essa distribuição para os jumentos segue o padrão de 1 até 56. Mesmo sabendo-se que esse tipo de avaliação é subjetivo e, que a determinação da composição corporal poderia ser mais efici- ente na determinação da percentagem de gordura corporal e a mas- sa livre de gordura4,5, ele é bastante difundido entre veterinários, zootecnistas e criadores. Apesar dessa característica, o IEC tem servido como indicador da eficiência do programa nutricional e intensidade de treinamento/trabalho, fornecendo importantes infor- mações. Deve ser ainda enfatizado que para cada modalidade esporti- va ou tipo de trabalho pode haver um EC que reflita adequadamen- te as demandas energéticas da atividade física. Por exemplo, cava- los de enduro e de corrida usualmente apresentam EC mais próxi- mos de 4/5, enquanto cavalos de provas de marcha e salto/adestra- mento o padrão 5/6, em uma escala de 1 até 9. Esse é um fato que o avaliador deve considerar quando se propõe utilizar o EC para com- por a tabela de pontuação aqui descrita. Penalização: Animais com escores inferiores a 3 ou superio- res a 7, indicam anormalidade e serão penalizadas no siste- ma de escala de avaliação. FERIMENTOS, SANGRAMENTOS, TARAS E CICATRIZES A presença de ferimentos, sangramentos, taras e cicatrizes são importantes aspectos nas avaliações do BEA dos equídeos desde longa data, tanto que há séculos é um dos ítens a ser considerado durante a compra e negociações de animais. No caso de animais atletas, ferimentos com sangramentos podem estar associados aos erros no arreamento (“pegadura de sela”) ou ao mau trato do ani- mal. Especificamente, ferimentos na cabeça, principalmente nos olhos e língua, algumas partes do tronco, costados (esporas) e flan- cos (chicotes). Adicionalmente, a atividade física executada pode levar ao aparecimento de inúmeros tipo de taras, principalmente nos mem- bros (ovas, exostoses, tendinites crônicas, etc), que podem ter sido adquiridas durante competições ou mesmo em treinamentos. Por isso, equídeos atletas devem treinar, competir e trabalhar obede- cendo os padrões cíclicos de treinar-competir-recuperar, evitando o desgaste precoce dos tecidos envolvidos com as práticas esporti- vas. A presença dessas taras pode tornar o andamento irregular e facilitar o aparecimento de ferimentos, como sangramentos, em diferentes partes do corpo do animal. Penalização: Lesões que estejam interferindo claramente na performance/treinamentos, as feridas com sangramento, e lesões típicas de maus-tratos serão penalizadas no sistema de escala de avaliação. DOR E CLAUDICAÇÃO A dor é excelente indicador de BEA em qualquer espécie, sendo que nos equídeos esse talvez seja uma das principais causas do baixo rendimento ou da perda de capacidade atlética10. O diagnós- tico para a dor se baseia no exame físico realizado pelo veterinário, seguindo o padrão de avaliações de BEA que seguem o sistema da FEI (2014), onde o veterinário realiza o exame apenas visualmente para as claudicações como o animal ao passo e ao trote, desmonta- do, e puxado com cabresto de cabo longo em linha reta. Caso os animais necessitem de palpação e manobras diagnós- ticas, como flexões e extensões forçadas, e uso da pinça de casco, ou métodos mais sofisticados, como bloqueios anestésicos e técni- cas de diagnóstico por imagem (radiografias e ultrassonografia),ele poderá ser penalizado e retirado das competições. O sistema de escala de dor/claudicação mais empregado no Mundo para a avaliação da dor, principalmente as associadas a lo- comoção, talvez seja o descrito por Obel (1948), que desenvolveu uma escala para animais com laminite, mas que hoje é empregada para qualquer tipo de claudicação nos equídeos. Na atual proposta de avaliação, o hipiatra deve identificar se o animal está ou não com dor, sabendo-se que esse tipo de exame pode ser como o ani- mal parado ou em movimento7,10, e seguindo o padrão da FEI (2014) descrito acima. Penalização: Caso seja determinado que o animal esteja com dor ou com claudicação, graus de 2 até 5, nas escala Obel (1948), ele será penalizadas no sistema de escala de avaliação. FREQUÊNCIA CARDÍACA: REPOUSO E DE RECUPERAÇÃO A avaliação da frequência cardíaca (FC) sempre foi muito es- tudada por veterinários e hipiatras; contudo nas últimas décadas, ela passou a ter grande importância devido a maior difusão das provas de resistência e enduro por todo o mundo. Assim, a FEI (2014) passou a incluir em suas avaliações de bem-estar do atleta a determinação da FC de recuperação em diferentes fases da compe- tição9,10,16. A FC cardíaca dos animais bem condicionados são mais bai- xas do que as observadas nos não treinados, quando submetidos • 7 todos ao mesmo tipo de desafio ou competição, contribuindo, as- sim, para um maior eficiência energética e prolongando o tempo até a fadiga12,13,14. Também, deve-se observar que senilidade inter- fere nesse parâmetro, da mesma forma que animais jovens podem também apresentar FC mais elevadas do que os adultos. A mensuração da FC em repouso deve ser realizada com o animal em ambiente calmo, de preferência no seu boxe/baia. Já a mensuração da FC em recuperação é realizada em até 30 minutos após o término do esforço físico, em ambiente calmo, sem a monta- ria ou arreado e para animais condicionados deverá estar abaixo de 64-72bpm (FEI, 2014). Penalização: Caso a FC de recuperação seja superior a 64- 72 bpm no período não superior à 30 minutos, o cavalo será penalizadas no sistema de escala de avaliação. CONCENTRAÇÃO DE LEUCÓCITOS, ERITRÓCITOS, HEMOGLOBINA E HEMATÓCRITO A utilização de exames laboratoriais e sua correta interpreta- ção são imprescindíveis para a boa conduta clínica e resolução dos processos mórbidos que acometem os animais. Na atualidade, ob- servou-se o desenvolvimento e a disponibilidade comercial de muitos aparelhos utilizados em laboratórios de análise clínica. Essa evolução ocorreu principalmente nos contadores automáticos de células e nos aparelhos automáticos de bioquímica. Isso tem se tra- duzido numa maior facilidade para realização de exames e, conse- quentemente, em diagnósticos clínicos mais refinados. Porém, para que o veterinário possa usufruir desse grande avanço, é imprescin- dível saber solicitar e interpretar esses resultados obtidos com o auxílio de técnicas tradicionais de análise ou com o auxílio de má- quinas de última geração. Um aspecto importante nesse tipo de avaliação será a coleta das amostras. Para avaliação desses parâmetros, o ideal é colher o sangue em tubos com anticoagulante EDTA, preferencialmente pela parte da manhã sem movimentar ou estressar os animais. Cavalos Puro-Sangue apresentam grande desenvolvimento do baço e qual- quer movimento podem estimular a contração desse órgão, aumen- tando assim o número de hemácias/eritrócitos (He), concentração de hemoglobina (Hb) e o hematócrito (Ht) ou volume globular (VG), comprometendo a avaliação. Finalmente, deve-se enfatizar que a correta interpretação deve ser feita procurando valores de normalidade na literatura condi- zentes com faixa etária, sexo, alimentação, tipo de esforço realiza- do e as condições climáticas onde os animais são criados17,18. Penalização: Animais com concentrações desses parâmetros sanguíneos (leucócitos e He/Hb/Ht) acima ou abaixo dos pa- râmetros da normalidade para raça e modalidade esportiva, aceitos na literatura nacional e internacional, serão penali- zadas no sistema de escala de avaliação. ENZIMA CREATINAQUINASE (CK) Nos últimos anos, a determinação da concentração da enzima muscular creatinaquinase (CK) ou creatinakinase passou a ser am- plamente utilizada como forma de avaliação da saúde dos equídeos atletas. Ela é encontrada livre no citoplasma de células musculares e são extravasadas dessas células quando há lesão ou aumento da permeabilidade de sarcolema. Todo tipo de exercício físico provo- ca algum grau de transporte, mas quanto maior for a lesão muscu- lar, maior será a elevação da CK no sangue dos animais9,19. Para melhor entendimento desse processo, estudos realizados por Valberg indicaram que valores de CK acima de 400-500 UI/L indicam lesão muscular significativa, sinalizando que o animal pre- cisa de repouso para se recuperar e, dependendo do caso, necessi- tará de tratamento clínico. Desse modo, para um avaliação precisa o sangue do animal deverá ser colhido cerca de 4 até 6 horas após o exercício, já que após 24 horas a concentração de CK pode retor- nar a valores basais, dependendo da extensão da lesão19,20. Penalização: Animais com concentrações da CK acima de 500UI entre 4 e 5 horas de finalizado o exercício físico ou competição serão penalizadas no sistema de escala de avali- ação. OUTROS PARÂMETROS Outros parâmetros poderiam ter sido utilizados, entre eles a concentração de cortisol, o número de linfócitos, a interação entre animais (visual, olfativa, táctil, etc) e o programa alimentar. O cor- tisol sempre foi utilizado como biomarcador do bem-estar, mas re- centemente alguns pesquisadores passaram a discutir a real impor- tância dele para o entendimento desse tipo de avaliação21. Além disso, existem questões a serem resolvidas para que sua determina- ção seja utilizada, entre eles: o tipo de teste (radioimunoensaio, ELISA, quimioluminescência, etc), a marca e o valor do kit comer- cial e o horário da coleta, e a disponibilidade de laboratórios locais e além do tipo da amostra. O número de linfócitos faz parte do hemograma. Essa determi- nação é importante, pois as linfopenias usualmente estão associadas à estresse, infecções e desordens inflamatórias graves e agudas. Finalmente, o programa alimentar que pode ser associado com o índice de escore corporal, pois uma alimentação não compatível com o tipo de atividade física resultará em perda ou ganho excessi- vo de gordura, modificando o escore corporal. A interação entre animais também é importante, pois os equídeos são animais gregá- rios, daí o seu incremento nas últimas décadas das práticas que aumentem a interação entre os animais. Aqueles sistemas de cria- ção e alojamento com animais recolhidos em “prisões” isoladas tem diminuído, pois há o entendimento que assim como nos huma- nos, os equídeos são animais gregários. Do mesmo modo, a huma- nização é tão prejudicial quanto o isolamento para todos os ani- mais domésticos, comprometendo o bem-estar. Conclusão A implementação de um sistema de avaliação do BEA-Atleta poderá contribuir para o melhor acompanhamento dos equídeos atletas e de trabalho e assim para o exercício da hipiatria nas suas diferentes áreas. O sistema é simples, mas baseado em parâmetros científicos, largamente utilizados em diversos países e no Brasil, podendo ser aplicados com eficiência contribuindo, assim, para o desenvolvimento da Equideocultura nacional e atendendo aos an- seios da sociedade no século XXI. Contudo, deve-se recordar que ele deverá ser um processo dinâmico e atualizado regularmente. Referências 1. HERMSDORFF, G.E. Zootecnia especial, Volume 1 - Equideos. Edição pu- blicada sob os auspícios da Universidade Rural e do Escritório Técnico de Agri- cultura, Brasil-Estados Unidos, 1956. 8 • 2. HENNEKE, D.R.; POTTER, G.D.; KREIDER, J.L.; YEATES, B.F. Relati- onship Between Condition Score, Physical Measurements and Body Fat Percen- tage in Mares, Equine Veterinary Journal, 15 (4): 371-372, 1993. 3. CARROLL, C.L.; HUNTINGTON,P.J. Body Condition Scoring and Weight Estimation of Horses, Equine Veterinary Journal, 20 (1): 41-45, 1988. 4. ABREU, J.M.G.; MANSO FILHO, H.C.; MANSO, H.E.C.C.C. Composição corporal nos cavalos de trabalho. Ciência Animal Brasileira, 10 (4): 1122- 1127, 2009. 5. KEARNS, C.F.; McKEEVER, K.H.; KUMAGAI, K.; ABE, T. Fat-free mass is related to one-mile race performance in elite standartbred horses. The Veteri- nary Journal, 163 (3): 260-266, 2002. 6. THE DONKEY SANCTUARY. CONDITION SCORING AND WEIGHT ESTIMATION. Research Department. The Donkey Sanctuary, Published 2013. Revised October 2014, p.4. 7. 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Low plasma cortisol and fecal cortisol metabolite measures as indicators of compromised welfare in domestic horses (Equus caballus). PLoS ONE 12(9): e0182257, 2017. • 9 10 • “The epiploic incarceration in horses: case report” “Encarcelamiento en forame epiplóico en equinos: estúdio de caso” Gustavo Morandini Reginato*, (gmorandinivet@gmail.com) Julia de Assis Arantes Mestrandos do Programa de Biociência Animal da Fac. de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Univ. de São Paulo Gonçalo da Rocha Morona, Pedro Henrique Salles Brito, Marília Alves Ferreira, Roberto Romano do Prado Filho Residentes do Programa de Clínica Médica e Cirúrgica de Equinos pela Fac. de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Univ. de São Paulo Renata Gebara Sampaio Dória Professora da Área de Clínica e Cirurgia de Equinos da Fac. de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Univ. de São Paulo *autor para correspondência RESUMO: O encarceramento em forame epiplóico em equinos é observado em 2-10% das cólicas encaminhadas para a cirurgia, causando um comprometimento vascular que pode levar a necessidade de ressecção do segmento de alça intestinal afetado ou, até mesmo, eutanásia do animal. Um equino, macho, castrado, 400 kg, 5 anos de idade, da raça Mangalarga foi admitido com sinais de cólica, que tinha duração de 24 horas. Após os exames pertinentes, foi indicada a cirurgia, a qual foi negada pelo proprietário. Após tentativa de manutenção da vida do animal, foi indicada a eutanásia, sendo diagnosticado encarceramento de íleo no forame epiplóico na necropsia. Foi avaliado que o animal possuiria um bom prognóstico caso a laparotomia fosse realizada. Unitermos: sablose, cólica, isquemia, aprisionamento, hérnia ABSTRACT: The epiploic incarceration in horses is observed in 2-10% of the cramps referred for surgery, causing vascular impairment that may lead to the need for resection of the affected intestinal segment or even euthanasia of the animal. A horse, 400 kg, male, 5-year-old, Mangalarga was admitted with signs of colic, which lasted 24 hours. After the pertinent examinations, the surgery was indicated, which was denied by the owner. After trying to maintain the life of the animal, euthanasia was indicated, being diagnosed incarceration of ileus in the epiploic foramen at necropsy. It was evaluated that the animal would have a good prognosis if the laparotomy was performed. Keywords: sablosis, colic, ischemia, imprisonment, hernia RESUMEN: El encarcelamiento en foramen epiplóico en equinos se observa en el 2-10% de los cólicos derivados a la cirugía, generando un compromiso vascular que puede llevar a la necesidad de resección del segmiento de las asas intestinales afectadas o, y incluso, la eutanasia del animal. Un equino, macho, castrado, 400 kg, 5 años de edad, de la raza Mangalarga fue admitido con señales de cólico, que tenía una duración de 24 horas. Después de los exámenes pertinentes, fue indicada la cirugía, la cual fue negada por el propietario. Después de un intento de mantenimiento de la vida del animal, fue indicada la eutanasia, siendo diagnosticado encarcelamiento de íleo en el foramen epiplóico en la necropsia. Se evaluó que el animal tendría un buen pronóstico si se realizaba la laparotomía. Palabras clave: sablosis, cólico, isquemia, aprisionamiento, hernia em forame epiplóico em equino: relato de caso • 11 Introdução O forame epiplóico localiza-se na região abdominal dorsal direita, circundado basicamente pelo processo caudal do fígado, veia cava, veia porta e pregagastropancreática. Ele possui circun- ferência variável entre os equinos, sendo descrito de 6,8 a 16,6 cm1. Denomina-se encarceramento ou aprisionamento intestinal no forame epiplóico ou ainda hérnia intestinal no forame epiplóico, quando um segmento de alça intestinal se instala neste forame e dali não retorna novamente à sua posição anatômica, havendo um comprometimento vascular e de trânsito intestinal do segmento afe- tado. Dos animais que são encaminhados para laparotomia, 2-10% são em decorrência de encarceramento no forame epiplóico2,3,4. Geralmente os encarceramentos ocorrem com partes do intestino delgado5, mas há relatos de outras regiõesdo intestino, como o ceco6 e cólon maior7. Frequentemente o encarceramento ocorre da esquerda para a direita1,9. Sugere-se que para que o encarceramento ocorra, o intes- tino inverte a bolsa omental e então passa pela curvatura menor do estômago percorrendo por dentro do vestíbulo do omento, o qual possui um formato de funil, desembocando no forame epiplóico, que é mais firme e estreito, fazendo com que a alça se encarcere neste local1. Para a decisão se o caso é cirúrgico, leva-se em contao histó- rico, avaliação física, palpação transretal, ultrassonografia transa- bdominal2,8 e, para um diagnóstico mais preciso pode-se utilizar a laparoscopia abdominal9. Apesar disso, a laparotomia exploratória entra como o diagnóstico mais preciso nos casos de encarceramen- to de forame epiplóico. A aerofagia, cólica nos últimos 12 meses, e altura de cernelha são tidos como fatores predisponentes à ocorrência do encarcera- mento no forame epiplóico10. Esta afecção deve ser tratada cirurgi- camente e pode ser necessária a realização de ressecção e enteroa- nastomose da parte afetada pela isquemia devido ao comprometi- mento tecidual, podendo chegar a mais de 17m de segmento remo- vido5. A recorrência desta afecção é baixa, mas pode ocorrer pelo não fechamento do forame por tecido fibroso, que ocorre em al- guns animais após a laparotomia. Nos animais em que há persistên- cia do forame aberto, a recidiva pode ser evitada fechando o fora- me cirurgicamente, com animal em posição quadrupedal, com au- xílio de um laparoscópio9,11. Relato de Caso Um equino, macho, castrado, 400 kg, 5 anos de idade, da raça Mangalarga foi admitido na Unidade Didática Clínico-Hospitalar (UDCH) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP), campus Fernando Costa, com queixa de síndrome cólica. Na anamnese foi informado que o animal havia apresentado desconforto abdominal há cerca de 24 horas antes da admissão, com piora do quadro após 6 horas. Após manifestação dos sintomas mais graves foi realizada palpa- ção transretal por veterinário particular, na qual identificou-se uma compactação em flexura pélvica. Foi realizada então a sondagem nasogástrica, para lavagem gástrica que apresentou um conteúdo fétido. Após isso, deu-se início à fluidoterapia enteral, porém, den- tro de duas horas o animal começou a apresentar refluxo espontâ- neo, sendo cessada a administração. O animal ficou em observação por mais 12 horas, porém como manteve-se com quadro de dor abdominal intensa, foi encaminhado para a UDCH. O animal era mantido em regime semi-confinado com forne- cimento de 3 kg de concentrado comercial para equinos fornecidos duas vezes ao dia, grama coast-cross, sal mineral e água ad libi- tum. Possuía histórico de extração de dois dentes devido a altera- ções na arcada dentária e ainda realização de laparotomia há cinco meses como forma de tratamento de compactação de cólon e sa- blose que não foram solucionadas pelo tratamento clínico. Nesta cirurgia, também realizada na UDCH, foi encontrada grande quan- tidade de areia a qual sugeriu-se ser a responsável pela evolução clínica do animal. Foi necessária a realização de enterotomia para remoção do conteúdo intestinal compactado, que se estendia por duas regiões, sendo uma no colón ventral, em região de flexura eternal e a outra no cólon dorsal em região próxima à flexura pélvi- ca até o cólon transverso. Após procedimento cirúrgico o animal evoluiu bem, com alta médica após 15 dias, porém apresentou como consequência uma hérnia incisional de 5 cm. Passou 5 meses sem apresentar qualquer tipo de sintoma, até que teve esta primeira ocorrência. No exame físico o animal apre- sentava mucosa oral com halo toxêmico, frequência cardíaca de 80 bpm, hipomotilidade intestinal e à palpação transretal foi possível identificar uma compactação em flexura pélvica de consistência firme e sem possibilidade de determinar sua extensão.Também ha- via presença de intestino delgado distendido palpável. Foi indica- da a laparotomia exploratória, porém não houve autorização do proprietário para realização da mesma. Foi dada continuidade no tratamento clínico com realização de fluidoterapia parenteral com Ringer Lactato e para analgesia realizou-se 1,1 mg/kg de flunixin meglumine BID e infusão contínua de lidocaína (bolus de 1,3 mg/ kg seguido de 0,05 mg/kg/min de lidocaína a 2% sem vaso constri- tor) quando havia aumento de dor. Em momentos que a terapia analgésica não era efetiva, administrou-se 0,5 mg/kg de xilazina (IV) para obtenção de resposta mais efetiva. Ao exame hematológico observou-se sequestro de leucócitos com 1200/mL (referência: 5400-14300/mL) e pela mensuração de lactato sérico obteve-se 3,14 mmol/L (referência: 1,11-1,76 mmol/ L). Após ultrassonografia em região de linha média ventral foi ob- servado que não seria possível realizar a coleta de líquido peritone- al ao acesso de alto risco de perfuração de alça por conta da exten- sa compactação. Figura 1: Visualização do forame epiplóico com a extremidade do la- paroscópio dentro do mesmo. D= duodeno; MD= mesoduodeno; GSL= ligamento gastroesplênico; S= estômago; P= pâncreas; O= omento maior; DR= recesso dorsal. (Fonte: Equine Veterinary Journal, v.47, n.3, p.313-318, 2014) 12 • A cada uma hora era avaliada a presença de refluxo entero- gástrico através da sonda nasogástrica, que foi mantida no animal. O animal apresentou refluxo durante 24 horas e após esse período de internação era retirado 12L de refluxo por hora. Após 28 horas de internação, o animal já não respondia à analgesia, a palpação transretal ainda havia presença de intestino delgado palpável e, somado aos exames hematológico e sérico, julgou-se necessário a realização da eutanásia do animal. Imediatamente após a eutanásia deu-se início à necropsia, na qual pôde-se observar que havia compactação de cólon dorsal di- reito com presença de conteúdo alimentar e sablose, além disso, foi possível realizar o diagnóstico definitivo de encarceramento de íleo no forame epiplóico, com comprometimento vascular e injúria te- cidual de grau leve do segmento afetado (figura 2). sim como no episódio de cólica anterior, o que leva a crer que o animal estava em local no qual havia contaminação de areia no ali- mento ou na água ingerida, ou que o mesmo ingeria areia do ambi- ente por espontânea vontade, contribuindo para o acúmulo da mes- ma nas alças intestinais13. Valores de lactato são encontrados em animais com cólica, es- tando relacionados principalmente a desidratação e hipóxia tecidu- al, sendo que neste caso a causa mais provável deste aumento seja a hipóxia tecidual devido ao processo isquêmico encontrado no seg- mento de íleo que ficou encarcerado14. Além disso, a leucopenia observada provavelmente está relacionada ao sequestro observado em situações nas quais há comprometimento de alça intestinal devi- do a um processo estrangulativo15. A sobrevida a curto prazo de casos de encarceramento de fora- me epiplóico é em torno de 80% e a longo prazo 70%2,16. Isso soma- do aos achados clínicos e de necropsia, leva a crer que, caso o ani- mal tivesse sido submetido à cirurgia, as chances de sucesso seriam grandes, provavelmente acompanhado de um bom prognóstico no pós-cirúrgico. Referências 1. BERGEN, T.; DOOM, M.; BROECK, W. et al. A topographic anatomical study of the equine epiploic foramen and comparison with laparoscopic visualization. Equine Veteri- nary Journal, v.47, p.313-318, 2015. 2. VACHON, A.M.; FISCHER, A.T. Small intestinal herniation through the epiploic fora- men: 53 cases (1987-1993). Equine Veterinary Journal, v.27, n.5, p.373-380, 1995. 3. MAIR, T.S.; SMITH, L.J. 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Figura 2: Segmento de íleo com comprometimento vascular devido a encarceramento no forame epiplóico em equino. .......................................................................................................................... Discussão Pela avaliação do segmento encarcerado no momento da ne- cropsia foi avaliado que, caso esse animal passasse por procedimen- to cirúrgico, não seria necessária a realização de ressecção e anasto- mose daquele segmento devido à avaliação do aspecto da alça, que se apresentava com boa condição de recuperação vascular e tecidu- al, o que aumenta as chances de sobrevida do animal e diminui as chances de complicações pós-operatórias12. Esse animal apresentou cólica por compactação seguida de la- parotomia 5 meses antes deste evento e isso é um dos fatores predis- ponentes para o encarceramento em forame epiplóico descrito na literatura10. Além disso, havia presença de sablose novamente, as- A R Q U IV O P E S S O A L D O S A U TO R E S • 13 14 • Uso de cerclagem e resina acrílica na “Use of cerclage and acrylic resin on mandibular osteosynthesis in horses: case report” “Uso de cerclaje y resina acrílica en la osteosintesis mandi- bular en equino: relato de caso” .................................. Áthila Henrique C. Costa*, (athila_henrique_@hotmail.com) Cinthia D.S. Lima Graduandos do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, PB Caio S. Pereira, Rodolfo M. Bastos Residentes da Clínica Médica de Grandes Animais, Universidade Federal de Campina Grande, PB Daniel M. Assis Hospital Veterinário, Universidade Federal de Campina Grande, PB Eldinê G.M. Neto Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande, PB * Autor para correspondência mandibular em equino: relato de caso RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo relatar um caso de fratura mandibular em um cavalo Quarto de milha com 8 meses de idade, atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, Patos-PB. O animal havia fratura a mandíbula após pular a parede da baia e bater com a boca no solo. No exame físico o animal apresentava parâmetros clínicos dentro dos valores de referência para espécie, porém, notou-se região de dentes incisivos presa apenas por um segmento de mucosa. O exame de raio-x foi utilizado para confirmar existência de fratura completa no espaço interdental da mandíbula, afetando os dois ramos da mandíbula, caudal às raízes dos dentes incisivos. Optou-se pelo uso de cerclagem e aplicação de resina acrílica na osteossíntese mandibular. O procedimento cirúrgico ocorreu em decúbito lateral mediante sedação e manutenção na anestesia geral inalatória, além de bloqueio local. Após a cirurgia foi feita administração de antibióticos, analgésico, anti-inflamatório, alimentação líquida enriquecida com suplementos e limpeza com antissépticos bucais. Houve consolidação total da fratura permitindo o retorno da capacidade de apreensão dos alimentos. Unitermos: fratura mandibular, cavalo, dente ABSTRACT: The present study aims to report a case of mandibular fracture in a quarter-mile horse at 8 months of age, attended at the Veterinary Hospital of the Federal University of Campina Grande, Patos-PB. The animal had fractured its jaw after it had jumped from the bay wall and hit its mouth on the ground. In the physical examination, the animal presented clinical parameters within the reference values for the species, however, it was observed a region of incisor teeth held only by a segment of mucosa. The x-ray examination was used to confirm the existence of a complete fracture in the interdental space of the mandible, affecting the two branches of the mandible, caudal to the roots of the incisor teeth. The use of cerclage and application of acrylic resin in mandibular osteosynthesis was chosen. The surgical procedure was performed in lateral decubitus by means of sedation and maintenance in general inhalation anesthesia, in addition to local blockade. After surgery, administration of antibiotics, analgesic, anti-inflammatory, liquid feeding enriched with supplements and cleaning with oral antiseptics were done. There was total consolidation of the fracture allowing the return of the food seizure capacity. Keywords: mandibular fracture, horse, tooth RESUMEN: El presente trabajo tiene por objetivo relatar un caso de fractura mandibular en un caballo Cuarto de Milla con 8 meses de edad, atendido en el Hospital Veterinario de la Universidad Federal de Campina Grande, Patos-PB. El animal había fracturado la mandíbula después de saltar la pared de la bahía y golpear con la boca en el suelo. En el examen físico el animal presentaba parámetros clínicos dentro de los valores de referencia para especie, sin embargo, se notó región de dientes incisivos presa sólo por un segmento de mucosa. El examen de rayo-x se utilizó para confirmar la existencia de fractura completa en el espacio interdental de la mandíbula, afectando las dos ramas de la mandíbula, caudal a las raíces de los dientes incisivos. Se optó por el uso de cerclaje y aplicación de resina acrílica en la osteosíntesis mandibular. El procedimiento quirúrgico ocurrió en decúbito lateral mediante sedación y mantenimiento en la anestesia general inhalatoria, además de bloqueo local. Después de la cirugía se efectuó la administración de antibióticos, analgésico, anti-inflamatorio, alimentación líquida enriquecida con suplementos y limpieza con antisépticos bucales. Se produjo una consolidación total de la fractura permitiendo el retorno de la capacidad de aprehensión de los alimentos. Palabras clave: fractura mandibular, caballo, diente FO N TE : H V -U FC G • 15 Introdução As fraturas de mandíbula em equinos requerem bastante atenção, pois, dificultam a apreensão de alimentos pelos ani- mais e consequentemente a sua alimentação, principalmente quando acometem a região dos dentes incisivos ou espaço in- terdental6. Diversas etiologias são incriminadas no desencadeamento das fraturasde mandíbula, dentre elas: traumatismos diretos em consequência de coices de outros animais ou acidentes au- tomobilísticos, pode ter caráter iatrogênica após exodontia ou resultante de uma periostite alveolar. Os sinais clínicos são va- riados, como evidência do trauma na área acometida, desvio para lado da fratura, halitose, falta na aposição dos dentes, res- tos alimentares junto ao local da fratura, disfagia, exterioriza- ção da língua, sialorreia e dependendo da gravidade pode ha- ver edema e dor na articulação temporo-mandibular, assim como crepitação e sangue no canal auditivo correspondente ao lado da fratura7. O diagnóstico pode ser realizado clinicamente por meio da inspeção e palpação da mandíbula e exames complementa- res radiográficos podem confirmar e avaliar a extensão e natu- reza da fratura. Após avaliação da fratura, diversos tratamentos podem ser instituídos tais como a cerclagem, placas compressi- vas, pinos intramedulares, parafusos, talas acrílicas, fixadores externos, entre outros visando sempre estabilizar o foco da fra- tura, restaurar a estrutura óssea e alinhar novamente os dentes para possibilitar mais uma vez a mastigação e apreensão dos alimentos3. O objetivo deste relato é descrever um caso de fratura de mandíbula em potro tratada por técnica de cerclagem e aplica- ção de resina acrílica para osteossíntese mandibular. Relato de Caso Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Fe- deral de Campina Grande um potro da raça Quarto de Milha com oito meses de idade, com 208 kg de peso corporal e queixa de trauma oral após acidente em baia. Previamente ao encami- nhamento hospitalar o animal havia recebido 10 ml de Flunixin meglumine na propriedade (sem que houvesse qualquer pres- crição por Médico Veterinário). No exame físico, a frequência cardíaca, frequência respi- ratória, temperatura corporal e motilidade intestinal estavam dentro dos valores de referência para espécie, porém notou-se região dos dentes incisivos da mandíbula presa a mandíbula apenas por um segmento de mucosa e presença de halitose. Exames radiográficos foram realizados nas projeções dorso- ventral e latero-lateral com intuito de determinar o tipo e exten- são das lesões. O exame radiográfico confirmou a presença de fratura completa no espaço interdental da mandíbula, afetando os dois ramos da mandíbula, caudal as raízes dos dentes incisi- vos representada na figura 1. Diante do quadro, optou pelo procedimento cirúrgico (os- teossíntese mandibular) em decúbito lateral utilizando como Figura 1: Radiografia do crânio equino evidenciando fratura completa do espaço interdental, projeção latero-lateral .......................................................................................................................... FO N TE : H V -U FC G Figura 2: Exame radiográfico do crânio equino após redução da fratura do espaço interdental onde é possível evidenciar a correta aproxima- ção dos bordos da fratura por meio da cerclagem, projeção latero- lateral .......................................................................................................................... medicação pré-anestésica inicialmente acepromazina (0,1 mg/ kg, IV) e após 15 minutos, diazepam (0,5 mg/kg, IV) e cetami- na (2 mg/kg, IV) aplicados simultaneamente e por fim manu- tenção sob anestesia geral inalatória com isoflurano, além do bloqueio local com 10 ml de lidocaína sem vasoconstrictor de- positados no forame mandibular em ambas hemiarcadas. Teve início a cirurgia com realização de cerclagem entre os dentes 701 e 702, com ancoragem no ramo direito da mandíbula atra- vés de perfuração com furadeira ortopédica. O mesmo procedi- mento foi realizado entre os dentes 801 e 802 com fixação no lado esquerdo, uma terceira cerclagem foi inserida na sínfise mentoniana até espaço interdental 701-801, todos os fios de aço usados com espessura 0,8 mm (figura 2). Aplicou-se ain- da, resina acrílica sobre a área de união dos fios. FO N TE : H V -U FC G 16 • No pós-operatório, utilizou como antibioticoterapia o me- tronidazol (15 mg/kg, VO, 12/12 horas, 10 dias) associado ao ceftiofur (4.4 mg/kg, IM, 12/12 horas, 10 dias). O protocolo analgésico foi baseado na utilização de tramadol (1 mg/kg, IV, 12/12 horas, 3 dias) e como anti-inflamatório fenilbutazona (3 mg/kg, IV, 12/12 horas, 4 dias). Como suporte para a recupera- ção do animal, realizou-se adição de suplementos ao leite à base de minerais e vitaminas, limpeza da ferida com água e clorexi- dine alcoólica e aplicação de pomada cicatrizante. Após 60 dias realizou-se a retirada da cerclagem e resina acrílica obtendo consolidação total da fratura (figura 3) e re- torno da função de apreensão do animal permitindo sua alta hospitalar. mm. A modificação da espessura do fio se deu considerando disponibilidade do material no momento e idade mais jovem, além do tamanho menor. Aplicou-se ainda, resina acrílica sobre a área de união dos fios como método de auxílio na fixação em conjunto com a cerclagem, além de ser fácil aplicação, aquisição e baixo custo como citado por Pimentel4 (2012). A cavidade oral é um local bastante contaminado fazendo- se necessário a utilização de maneira profilática de antimicro- bianos. O tratamento suporte pós-operatório segue o recomen- dado por Thomassian5 (2005) que indica utilização de alimen- tos pastosos ou líquidos nos primeiros dias visando diminuir a pressão da mastigação, assim como aplicação de antibióticos e limpeza com soluções antissépticas do local. Conclusão O procedimento cirúrgico em conjunto com a terapia de suporte pós-operatória mostraram-se eficazes para a recupera- ção do animal, por meio da consolidação da fratura e reposici- onamento dos dentes incisivos. Permitiu-se a oclusão adequada da mesa dentária e conse- quentemente restauração da saúde do animal e da capacidade de apreensão dos alimentos. Além disto, esta terapia possui um custeio menor e eficácia comprovada possibilitando aten- der a população de menor poder aquisitivo que representa a grande maioria dos atendimentos do Hospital Veterinário - UFCG. Referências 1. AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine surgery, 4.ed., St. Louis: Elsevier Saunders, 2012. 2. ALVES, G.E.S. et al. Fraturas odontomaxilares e mandibulares em equí- deos tratados por diferentes técnicas de osteossíntese. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.60, n.6, p.1382-1387, 2008. 3. FREITAS, F.C. et al. 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Figura 3: Exame radiográfico do crânio de um equino 60 dias após redução da fratura do espaço interdental onde é possível evidenciar total recuperação após cerclagem e aplicação de resina acrílica, pro- jeção latero-lateral .......................................................................................................................... FO N TE : H V -U FC G Resultados e Discussão A inspeção e palpação são métodos do exame físico os quais em conjunto são capazes de diagnosticar casos como este, principalmente, devido aos dentes incisivos mandibulares esta- rem preso apenas por um segmento da mucosa e pendular. Al- ves et al2 (2008) afirma que não é possível dispensar as radio- grafias, pois, estas são imprescindíveis para avaliar gravidadeda lesão e traçar um plano cirúrgico. Este autor também cita animais embaiados e jovens como fator de risco para ocorrên- cia de acidentes como ocorreu neste relato. A utilização de cerclagem é descrita como método mais empregado nos casos de fraturas tanto mandibulares como ma- xilares utilizando-se dos dentes adjacentes para ancoragem2. Segundo Auer e Stick1 (2012) este procedimento é indicado neste tipo de fratura, porém o fio de aço sugerido é de espessura 2,5 • 17 18 • Introdução O acúmulo de areia no trato gastrointestinal, também conhecido como sablose, pode originar tanto irritação da mucosa quanto obstrução2,3. Areia com textura mais fina costuma acumular no cólon ven- tral; já a areia mais grossa é normalmente encontra- da no cólon dorsal. Porém, existem diferenças entre organismos, uma vez que alguns animais conseguem eliminar essa areia de forma fisiológica e outros não conseguem, levando a uma patologia entérica4. Equinos que vivem em regiões de solo arenoso e com pasto pobre em forragem são mais propensos à ingestão de areia. Além disso, existem relatos de equinos, principalmente potros, que ingerem areia deliberadamente3,4,5. Os sinais clínicos apresentados podem variar de sintomas discretos a intensos. A diarreia é um si- nal comum, uma vez que a areia provoca irritação e como causa de síndrome cólica em um equino “Sablosis as a cause of colic syndrome in an equine” “Acumulación de arena en el tracto intestinal como causa de síndrome cólico en un equino” Maysa R. Franco* (maysarfranco@gmail.com) Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Pio Décimo Adryano C. Carvalho Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Pio Décimo Rachel L.F.S. Andrade Professora Mestre do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Pio Décimo * Autora para correspondência inflamação da mucosa intestinal. Em casos de com- pactação é possível observar sinais semelhantes ao de uma cólica normal, em que o peso do acúmulo causa dor intensa e leva o animal a deitar e rolar a fim de reduzir a pressão causada pelo material com- pactado1,2,4,5. Esses movimentos abruptos, juntamente com a inflamação da mucosa, pode resultar em rup- tura intestinal e, consequentemente, endotoxemia e peritonite1,5. O diagnóstico de cólica por ingestão de areia pode ser difícil, pois a maioria dos sintomas tam- bém está relacionada com outros tipos de cólicas e os testes para identificação de areia nas fezes nem sempre são fidedignos1. Em alguns casos é possível detectar a presença de areia através da palpação re- tal, da identificação da areia no material fecal, da aus- cultação, ao ouvir a fricção das partículas de areia durante as contrações intestinais, além de radiografia RESUMO: O objetivo deste trabalho é relatar um caso de sablose associado a síndrome cólica em uma égua da raça Quarto de Milha, 21 anos, pesando 450 kg, apresentando quadro clínico agudo. O diagnóstico foi realizado através das alterações macroscópicas observadas durante a necrópsia. A sablose é uma afecção do sistema digestório que pode causar desde lesões simples na mucosa intestinal até obstrução total do lúmen. Os sinais clínicos com frequência são equivalentes aos de síndrome cólica e diarreia relacionada à abrasão da areia na mucosa intestinal. Embora não seja uma das causas mais comuns de cólica em equídeos, a sablose deve ser considerada diagnóstico diferencial no estabelecimento de causa morte por síndrome cólica. Unitermos: areia, cólica, equino, sablose ABSTRACT: The objective of this work is to report a case of sablosis associated with colic syndrome in a Quarter Horse mare, aged 21 years, weighing 450 kg, presenting an acute clinical condition. The diagnosis was made through macroscopic changes observed during necropsy. Sablosis is a condition of the digestive system that can cause from simple lesions in the intestinal mucosa to total obstruction of the lumen. The clinical signs are often equivalent to those of colic syndrome and diarrhea related to sand abrasion in the intestinal mucosa. Although not one of the most common causes of colic in equines, sablosis should be considered as a differential diagnosis in establishing cause death by colic syndrome. Keywords: colic, equine, impaction, sand RESUMEN: El objetivo de este trabajo es relatar un caso de acumulación de arena en el tracto intestinal asociado al síndrome cólico en una yegua de la raza Cuarto de Milla, 21 años, pesando 450 kg, presentando cuadro clínico agudo. El diagnóstico se realizó através de los cambios macroscópicos observados durante la necropsia. La acumulación de arena en el tracto intestinal es una afección del sistema digestorio que puede causar desde lesiones simples en la mucosa intestinal hasta obstrucción total del lumen. Los signos clínicos con frecuencia son equivalentes a los de síndrome cólico y diarrea relacionada con la abrasión de la arena en la mucosa intestinal. Aunque no es una de las causas más comunes de cólico en équidos, la acumulación de arena en el tracto intestinal debe ser considerada diagnóstico diferencial en el establecimiento de causa muerte por síndrome cólico. Palabras clave: acumulación, areno, cólico, equino • 19 e ultrassonografia abdominal1,2,3,4,5. A paracentese pode ser realiza- da, entretanto deve ser executada com cautela para que não haja perfuração da alça intestinal. O líquido peritoneal geralmente está normal, exceto quando o curso da cólica está avançado com altera- ções da permeabilidade da alça ou mesmo já existe ruptura intesti- nal4,5. O tratamento mais comum em casos de sablose é o uso de laxantes como muciloide do Psyllium, óleo mineral e sulfato de magnésio, e hidratação via endovenosa. Em casos de compactação a principal abordagem é o procedimento cirúrgico. O prognóstico é considerado bom quando a compactação é pequena e passiva de reversão1,2,3,4. Este relato tem como objetivo documentar um caso de sablo- se como causa de síndrome cólica em um equino. Relato de Caso Uma égua da raça Quarto de Milha, 21 anos, pesando 450 kg, apresentou sinais de cólica e logo foi acionado um médico veteri- nário para acompanhamento. Na avaliação epidemiológica do lo- cal foi possível observar que se tratava de uma região de solo are- noso. A partir de uma primeira análise, a égua se apresentava com manifestação significativa de desconforto, desidratação moderada e atonia intestinal. O tratamento inicial instituído foi lavagem gás- trica, aplicações IV de Ringer Lactato, sorbitol na dose de 50-100 g/animal, dipirona na dose de 25 mg/kg e flunixin meglumine na dose de 1,1 mg/kg. Fez-se uma reavaliação e foi observado hipo- motilidade, porém quando realizada a palpação foi constatado pre- sença de compactação na extensão do cólon próximo à flexura pél- vica. Diante disto, foi recomendada a realização do tratamento ci- rúrgico. Todavia, devido à idade e o baixo valor zootécnico do ani- mal foi excluída a possibilidade de intervenção cirúrgica. O animal foi à óbito cerca de 24h após o início dos sintomas. Na necropsia observou-se ascite e presença de conteúdo intestinal por toda a cavidade abdominal (Figura 1). Após uma análise dos segmentos do intestino, foi possível observar uma ruptura na região do cólon ventral direito (Figura 2), além de fecaloma na região de cólon dorsal esquerdo (Figura 3) logo após a flexura pélvica e, colocado como causa principal da síndrome cólica, verificou-se a presença de areia na região distal do colon dorsal direito. Figura 1: Presença de conteúdo intestinal por toda a cavidade abdo- minal Figura 2: Ruptura na região do cólon ventral direito Figura 3: Fecaloma na região de cólon dorsal esquerdo FO N TE : A R Q U IV O P E S S O A L FO N TE : A R Q U IV O P E S S O A L FO N TE : A R Q U IV O P E S S O A L 20 • Resultados e Discussão Em análise sobre predileção por sexo e raça, não foi observa- do tamanha relevância; porém, em relação à idade, os animais jo- vens possuem maior predisposição, relatos mostram que potros com menos
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