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DEFEITOS DE FECHAMENTO DO TUBO NEURAL Francisco Lúcio A. Silva Docente do curso de graduação em Fisioterapia e Educação Física na UNESA Docente do curso de pós-graduação em Fisioterapia Neurológica e Traumato-ortopédica na UNESA Coordenador de Qualidade e Gestão na UNESA Cabo Frio francisco.lucio@estacio.br A partir da 3ª semana do desenvolvimento embrionário, inicia-se a formação da placa neural que dará origem ao tubo neural. Estrutura embrionária que dá origem ao sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal), através dos processos de indução, proliferação, diferenciação celular e apoptose (morte celular programada). Estes processos são controlados em geral por genes de origem materna e genes que controlam a especificação do uso crânio-caudal, segmentos corpóreos, atuando nos diversos campos do desenvolvimento embrionário. Defeitos durante o fechamento do Tubo Neural (3ª e 4ª semana de vida pós-concepcional) produzirão uma série de malformações, dependendo do momento, extensão e altura da falha. Anencefalia, encefalocele e espinha bífida são os exemplos mais importantes de defeitos do fechamento do Tubo Neural (DTN). Anencefalia A calota craniana não se forma e o tecido nervoso malformado é exposto, o que invariavelmente produz dias de vida. Encenfalocele A encefalocele é a herniação de tecido encefálico através de falhas ósseas. É habitualmente recoberta de pele íntegra e sua severidade é determinada pelo volume de tecido nervoso extracraniano. ESPINHA BÍFIDA OU MIELODISPLASIA É uma malformação congênita devido a uma disfunção no desenvolvimento da coluna vertebral, o qual resulta em fechamento incompleto do canal vertebral, por falta de fusão dos arcos vertebrais. Pode ou não acompanhar-se de protusão e displasia da medula ou das suas membranas. A espinha bífida é a mais frequente das principais malformações congênitas! Incidência: 1 / 1000 RN - Etiologia: desconhecida… Classificação Espinha Bífida Oculta: consiste na falta de fusão dos arcos vertebrais, porém não se observa herniação nem deslocamento de tecido nervoso. Podem apresentar ou não alterações cutâneas no nível da falha. É mais frequente na porção inferior da coluna lombar, envolvendo L5 e S1. Espinha Bífida Oculta Alteração ocorre somente nas vértebras; Não há protusão externa das meninges; Localização: L5 ou S1 (maioria dos casos); Suspeitar quando: Lesões cutâneas na região lombo- sacra (hemangioma, nevus pigmentoso e piloso ou lipomas). Classificação Espinha Bífida Cística: Meningocele: os arcos vertebrais não se fundem e existe herniação das meninges, fomando uma saliência com LCR. A bolsa é revestida externamente pelas membranas. Displasia da medula e sinais neurológicos não são observados, já que a condução dos impulsos se processa normalmente, pois a bolsa contém às vezes parte da medula ou das raízes nervosas. Classificação Espinha Bífida Cística: Mielomeningocele: a medula, as raízes nervosas e as meninges podem projetar-se através da falha da coluna vertebral. O tecido nervoso que, por sua vez, é anormal encontra-se às vezes preso à superfície interna de uma das membranas e outras vezes está exposto em consequência da mielosquise. Espinha Bífida Cística Meningocele: 25% dos casos; O saco herniado é recoberto com pele e contém somente as meninges; Função motora preservada; Rara associação com outras malformações do SNC. Mielomeningocele: Apresentação mais comum (75%); O saco herniado contém, além das meninges (duramáter e aracnóide), tecido nervoso. Localizado 80% dos casos na região lombar ou lombo-sacra; Associado com malformações neurológicas: hidrocefalia, Síndrome Arnold- Chiari (herniação do cerebelo), estenose do Aqueduto de Sylvius. A: Mielomeningocele. B: Mielosquise (notar hipotonia dos MMII). Herniação da Medula Espinhal: Mielomeningocele Anatomia Patologica da Mielomeningocele Medula e raízes nervosas: em muitos casos as raízes nervosas e os gânglios das raízes posteriores apresentam- se normais, porém a medula é sempre anormal, ou seja, displásica. Algumas células do corno anterior estarão preservadas e em outros casos nenhuma célula estará intacta. Vértebras: há casos em que não ocorre a fusão posterior dos arcos vertebrais e dos processos espinhosos e outros casos em que as vértebras não se desenvolvem completamente. Pele: raramente a lesão se apresenta revestida por tecido cutâneo normal, aparece uma tumoração saliente na região dorsal, coberta lateralmente e base por pele normal e no vértice da massa turmoral não há revestimento cutâneo. Geralmente existe fusão da duramáter com as bordas da falha cutânea, de modo que a bolsa é revestida exclusivamente pela membrana aracnóide. Cérebro: 80% dos casos se acompanham de hidrocefalia, devida à estenose do aqueduto ou ao bloqueio do fluxo do LCR entre o IV ventrículo e o espaço subaracnóde do cérebro, interferindo na reabsorção do líquor. Anatomia Patologica da Mielomeningocele Manifestações Clínicas Paralisia flácida; Diminuição da força muscular; Atrofia muscular; Diminuição ou abolição dos reflexos tendinosos; Diminuição ou abolição da sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva; Incontinência dos esfíncteres de reto e de bexiga; Deformidades de origem paralítica e congênita; Hidrocefalia. Outras Manifestações Úlceras de decúbito; Osteoporose; Atraso no DNPM; Contraturas e deformidades; Pode acompanhar outras anomalias congênitas: Luxação congênita de quadril, pé equino-varo, escoliose devido a presença de hemivértebras que resulta em cifose; Lábio leporino e fenda palatina; Malformações cardíacas ou das vias urinárias. Deformidades e suas causas Comprometimento dos pés Deformidades Paresia ou paralisia dos gastrocnêmio e soleo, com atividade normal dos mm tibiais anteriores. Deformidade calcâneo – valgo ou calcâneo – varo. Paresia ou paralisia dos mm tibias anteriores e dos mm responsáveis pela eversão. Deformidade equino – varo. Falta de oposição à ação dos mm lumbricóides. Deformidade em flexão das articulações metatarso – falangianas. Paralisia completa dos MMII + peso das roupas de cama + ação da gravidade. Deformidade em equinismo com flexão das articulações tarso – metatarsianas e metatarso – falangianas. Deformidade calcâneo – valgo não corrigida + peso das roupas de cama + ação da gravidade. Deformidade em flexão da metade anterior do pé. Deformidades e suas causas Comprometimento dos joelhos Deformidades Falta de oposição à ação do músculo sartório, assumindo o MI a postura em flexão, abdução e rotação externa. Deformidade em flexão. Falta de oposição à flexão e abdução da coxa. Deformidade em flexão. Falta de oposição à ação do músculo quadríceps. Deformidade em hiperextensão. Deformidades e suas causas Comprometimento dos Quadris Deformidades Paralisia completa dos MMII + postura da coxa em flexão, abd e rotação externa. Deformidade em flexão, abd e rotação externa. Falta de oposição à ação dos flexores e adutores. Luxação do quadril e deformidade em flexão e add. Comprometimento Coluna Vertebral Deformidades Contratura dos flexores das coxas. Lordose. Desequilíbrio da musculatura da coluna. Escoliose. Intervenções Clínicas Mielomeningocele; Hidrocefalia; Incontinência vesical; Fisioterapia. • Hidrocefalia: 65% dos RN com mielomeningocele sem macrocefalia apresentam ventriculomegalia que se manifesta apenas após o fechamento da lesão espinhal. Realizar o ultra-somprecoce nestes RN. • Alterações urológicas: 85% das mielomeningoceles localizadas acima da S2 apresentam alterações neurológicas da bexiga (realizar o ultra-som renal e a cistouretrografia miccional). Na presença de bexigoma é contra-indicada a manobra de Crede (pode acentuar o refluxo vésico-ureteral): esvaziar a bexiga através da sondagem vesical intermitente. Malformações associadas O ÁCIDO FÓLICO E OS DEFEITOS DO TUBO NEURAL A relação entre o uso peri-concepcional do ácido fólico e a redução da incidência de DTN tem sido sugerida nos últimos 30 anos. Não há dúvidas sobre a eficácia da suplementação de ácido fólico, tanto na prevenção de recorrências de DTN (em mulheres com gestações previamente afetadas) como na prevenção da primeira ocorrência de um DTN promovida pela suplementação de ácido fólico varia em diferentes estudos e gira em torno de 70%. A proteção também é alta na prevenção das recorrências. Obrigado!