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1 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE MÓDULO I – PREENSÃO E LOCOMOÇÃO: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE PROBLEMA 5 – Superman Foi na tarde de 27 de maio de 1995 que o ator americano Christopher Reeve provou ser mesmo o Super-Homem. Depois de cair do cavalo e ferir a medula espinhal, Reeve só foi acordar no dias depois do acidente com a notícia que dali em diante nunca mais moveria nenhuma parte do corpo abaixo dos ombros. Sua lesão foi total: a medula espinhal foi transeccionada na 2ª vertebra cervical (C2). Em seu 2º livro, superar o impossível (editora Campus), ele conta que iria desistir da sua vida se não fosse a sua esposa, Dana, pedir-lhe que esperasse pelo menos 2 anos. Mas desde outubro do ano 2000 Reeve ganhou algumas sensações e movimentos. Ele é capaz de sentir a ponta de uma agulha em algumas partes do corpo e mover-se voluntariamente em exercícios de resistência. Mas nada disso foi milagre. Reeve, que é pai de 2 filhos, mantém em casa um regime de exercícios criados especialmente para ele. Ele não recuperou nenhuma função motora, tampouco apresentou controle da bexiga ou a evacuação, mas sua melhora, mesmo que lenta, faz com que ele se sinta melhor perante a vida. Falecido em outubro de 2004, em decorrência de complicações decorrentes de um quadro de sepse, o ator que imortalizou o personagem do “Superman”, viveu por 9 anos sob ventilação assistida e com discretos movimentos, únicos e dos dedos da mão esquerda, assistido por sua família em sistema de Homecare. Apesar dos discretos avanços na pesquisa em busca de forma de regenerar os axônios, se compararmos a situação de hoje com a de mais de 2 anos atrás o cuidado com portadores de doenças neurológicas está bem melhor. Naquele tempo um paciente de trauma raquimedular, como Reeve, logo morreria de infecções causadas por incontinência ou retenção urinária, ou pneumonia Estudos avanças para diminuir as complicações das lesões raquimedulares totais ou parciais, considerando-se ainda a expectativa de terapia gênica e de células tronco para remissão completa de seus efeitos Intencionalidade educacional: estudar a morfologia da medula espinal, formação dos nervos espinais e da inervação autonômica. Com base nos conhecimentos morfológicos compreender as consequências funcionais dos traumas medulares. Sumário Plexo Braquial .................................................................................................................................................................... 3 Plexo Lombosacral ............................................................................................................................................................. 6 Divisão funcional do SN ..................................................................................................................................................... 8 TRM- Trauma Raquimedular ........................................................................................................................................... 11 Síndrome da Bexiga Neurogênica .................................................................................................................................... 29 TCE – Traumatismo crânioencefálico .............................................................................................................................. 31 Objetivos da Tutoria: 1.Caracterizar o trauma raquimedular (combo) 2.Diferenciar o choque neurogênico e medular 3.Caracterizar as síndromes relacionadas ao trauma raquimedular - bexiga neurogênica (inervação da bexiga) 4.Descrever as políticas públicas para a terapia dos pacientes pós traumas medulares 2 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE INTRODUÇÃO ALTERAÇÕES DA SENSIBILIDADE As principais alterações da sensibilidade são: a) anestesia - desaparecimento total de uma ou mais modalidades de sensibilidade após estimulação adequada. O tenno emprega-se mais frequentemente para a perda da sensibilidade tátil, reservando-se o termo analgesia para a perda de sensibilidade dolorosa: b) hipoestesia – diminuição ↓ da sensibilidade; c) hiperestesia – aumento ↑ da sensibilidade; d) parestesia- aparecimento, sem estimulação, de sensações espontâneas e mal definidas como, por exemplo, o "formigamento"; e) algias - dores, em geral. LESÕES DA MEDULA A cada ano, milhares de pessoas no mundo sofrem lesões na medula espinhal que geram incapacidade permanente sensorial e motora, assim como perda do controle voluntário das funções vesical e intestinal. Diante da suspeita de uma lesão medular, é importante distinguir se os sintomas realmente resultam de lesões da medula ou das raízes nervosas. Quando a lesão ocorre nas raízes ventrais, os sinais motores incluem fraqueza, atrofia e perda de reflexos nos músculos inervados pela raiz. Quando são lesadas as raízes dorsais, haverá perda total de sensibilidade no dermátomo correspondente à raiz lesada. A identificação dos locais das lesões radiculares pode ser feita com base nos mapas de dermátomos e de território de inervação radicular. LESÕES DA COLUNA ANTERIOR HEMISSECÇÃO DA MEDULA A hemissecção da medula produz no homem um conjunto de sintomas conhecido como síndrome de Brown-Séquard (Figura 19.1). Os sintomas mais característicos resultam da interrupção dos principais tratos, que percorrem uma metade da medula. Os sintomas resultantes da secção dos tratos que não se cruzam na medula aparecem do mesmo lado da lesão. Já os sintomas resultantes da lesão de tratos que se cruzam na medula manifestam-se no lado oposto ao lesado. Todos os sintomas aparecem somente abaixo do nível da lesão. Assim temos: Sintomas que se manifestam do mesmo lado da lesão (tratos não cruzados na medula) a) síndrome do neurônio motor superior, ou seja, paralisia espástica, com aparecimento do sinal de Babinski, em virtude da interrupção das fibras do trato corticoespinhal lateral; b) perda da propriocepção consciente e do tato epicrítico em virtude da interrupção das fibras dos fascículos grácil e cuneiforme (Figura 19.1 A). Sintomas que se manifestam do lado oposto ao lesado (tratos cruzados) a) perda da sensibilidade térmica e dolorosa a partir de um ou dois dermátomos abaixo do nível da lesão, em consequência da interrupção das fibras do trato espínotalâmico lateral (Figura 19.1 B); b) ligeira diminuição do tato protopático e da pressão, por comprometimento do trato espinotalàmico anterior. Este comprometimento, em geral, é pequeno, porque as fibras da raiz dorsal, que levam esta modalidade de sensibilidade, dão ramos ascendentes muito grandes, que emitem colaterais em várias alturas antes de fazer sinapse na coluna posterior e cruzar para o lado oposto (Figura 19.1 C). FIGURA 19.1 Esquema mostrando o consequência da interrupção unilateral dos principais vias ascendentes da medula, como ocorre no síndrome de Brown-Séquord. A.As áreas escuros indicam os regiões comprometidos pelas lesões do fascículo grácil ou do troto espinotalômico laterol (B). O esquema C mostra por que a lesão do traio espinotalâmico anterior não causa sintomotologia acentuado TRANSECÇÃO DA MEDULA Imediatamente após um traumatismo que resulte na secção completa da medula, o paciente entra em estado de choque espinhal. Esta condição (que nada tem a ver com o choque por perda de sangue) caracteriza-se pela absoluta perda da sensibilidade, dos movimentos e do tônus nos músculos inervados pelos segmentos medulares situados abaixo da lesão. Há. ainda, retenção de urina e de fezes e perda da função erétil. Contudo, após um período variável, reaparecem os movimentos reflexos, que se tomam exagerados, aparece o sinal de Babinski. A eliminação de urina e de fezes passa a ser feita reflexamente, ou seja, semcontrole voluntário. A ereção só é possível com estimulação manual. 3 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Plexo Braquial Origem: Nervos espinais de C5 a T1 Responsáveis pela inervação dos MMSSs. A Formação das raízes estão próximas ao nervo escaleno anterior e escaleno médio. Passa posteriormente a clavícula, passando pelo musculo peitoral < e o M. Subescapular 4 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE PLEXO BRAQUIAL Nervos Inervação Lesões N. Musculocutâneo (C5 – C7) M. Anteriores do braço Flexão do Braço Inerva: - Perfura o M. Coracobraquial, e passa entre esses 2 M: - M. Bíceps Braquial - M. Braquial Cutânea: Pele lateral do antebraço Lesão do nervo Cutâneo: Perda da capacidade flexora N. Mediano (C6 – T1) Músculos: - M. Flexor do antebraço (exceto pelos inervados pelo N. Ulnar) - M. Tenares da mão - 1 e 2 lumbricais - Pronadores - Acompanha a A. Braquial. Passa anterior a fossa cubital Cutânea: palma da mão até metade do 4 dedo Lesão do nervo Mediano: (pedir para o pct fechar a mão) Mão em benção/ papal M. extensores de braço e antebraço (POSTERIOR) N. Axilar (C5 e C6) - M Redondo < e Deltoide Lesão do nervo Axilar: Perda dos movimentos do braço, ombro caído, musculatura atrofiada N. Radial (C5 – T1) Músculos: posteriores do braço e antebraço - M. Tríceps Braquial, Braquiorradial, extensor radial longo e curto do carpo, supinador e M. da região posterior do antebraço. Sulco do N. Radial, entre a cabeça do tríceps e posterior ao úmero Sensorial - Cutânea: - Região posterior e inferolateral do braço - Região posterior do antebraço - Dorso da mão e dos dedos (1ª, 2º, 3º e metade do 4º dedo) Lesão do nervo Radial: perde a capacidade de extensão do punho Mão caída + perda da sensibilidade Ex. Acidente automobilístico, fratura de terço médio do úmero N. Ulnar (C8 – T1) - Passa posterior ao epicôndilo medial do úmero (sulco do N. ulnar) “Choque no cotovelo” Músculos: - M. flexor ulnar do carpo - M. flexor profundo do dedo (só a metade medial/ulnar) - Hipotenares da mão (oponente, abdutor, flexor do dedo mínimo) - Adutor do polegar - 3 e 4 lumbricais - Interósseos Cutânea: porção medial do 4º dedo e todo 5º dedo Lesão do nervo Ulnar: Mão em garra Em repouso: Articulações metacarpofalangeanas ficaram hiperestendidas (para trás) com flexão das articulações interfalangeanas Ex. Luxação de cotovelo, fratura de epicôndilo medial, terço distal de úmero. (causando compressão ou laceração do ramo nervoso) 5 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE 6 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Plexo Lombosacral Plexo Lombar (L1 – L4) Nervo ílio-hipogástrico (L1 – L2) – Surge nas adjacências do músculo psoas maior, seguindo seu trajeto obliquamente sobre as fibras do músculo quadrado lombar, onde, em seguida, adentra na parede lateral do abdome, realizando a inervação sensitiva da pele nas regiões inguinal e púbica. Suas fibras motoras inervam os músculos da parede anterolateral do abdome. Nervo ílioinguinal (L1 – L2) – Localiza-se imediatamente abaixo do nervo ílio-hipogastrico, e acompanha o seu trajeto. Fornece inervação sensitiva para a pele da região genital e inervação motora para os músculos da parede anterolateral do abdome. Em alguns casos, o nervo ílioinguinal pode estar ausente. Nervo genitofemoral (L1 – L2) – Transpassa o músculo psoas maior, na sua superfície divide-se em um ramo genital e outro femoral. O ramo genital fornece inervação sensitiva à pele do escroto nos homens e dos lábios maiores do pudendo nas mulheres. O ramo femoral acompanha o trajeto dos vasos femorais, fornecendo inervação à pele do trígono femoral. Nervo cutâneo lateral da coxa (L2 – L4) – Percorre obliquamente as fibras do músculo ilíaco e cruza medialmente a espinha ilíaca anterossuperior. Passa posteriormente ao ligamento inguinal, adentrando a coxa, e fornece inervação sensitiva para a pele. Nervo obturatório – Emerge na borda medial do músculo psoas maior direcionando-se ao forame obturado, penetrando-o. Na sua passagem pela loja medial da coxa, supre os músculos adutores e a pele dessa região. Nervo femoral – É o maior e mais volumoso nervo do plexo lombar, um dos principais nervos do membro inferior. Na pelve, encontra-se entre os músculos ilíaco e psoas maior, cruza abaixo do ligamento inguinal, lateralmente à artéria femoral, adentrando na coxa, e encontra o trígono femoral. Faz a inervação motora dos músculos da loja anterior da coxa e fornece alguns ramos cutâneos. 7 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Plexo Sacral ( L4 – S4) Nervo glúteo superior —O nervo glúteo superior divide-se em ramo superior e inferior, o ramo superior faz a inervação motora do músculo glúteo mínimo, ao passo que o ramo inferior fornece ramificações para os músculos glúteo médio, glúteo mínimo e tensor da fáscia lata. Nervo glúteo inferior — Caracteriza-se por um misto de fibras motoras e sensitivas. Suas fibras motoras inervam o músculo glúteo máximo e as sensitivas suprem o períneo e a coxa. Nervo isquiático — Suas fibras originam-se dos ramos ventrais dos nervos espinhais de L4 a S3. Este nervo contribui para inervação sensitiva da pele do pé e da pele de maior parte da perna. Suas fibras motoras suprem os músculos da região posterior da coxa e os músculos de toda a perna e do pé. Nervo cutâneo femoral posterior — Suas funções são puramente sensitivas. Dessa forma inerva sensitivamente a pele do períneo, a face posterior da coxa e a fossa poplítea. Nervo pudendo — Recebe contribuições das divisões anteriores dos nervos S2, S3 e S4 (Gray e Goss, 1988). Seus ramos terminais são os nervos anal inferior também chamado de retal inferior, e o nervo perineal. Suas fibras motoras destinam-se à maioria dos músculos do períneo, ao passo que suas fibras sensitivas fornecem inervação para região anal e genital. 8 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Divisão funcional do SN Pode-se dividir o SN em somático e visceral. O sistema nervoso somático é também denominado sistema nervoso da vida de relação, ou seja, aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente. Para isso, a parte aferente do sistema nervoso somático conduz aos centros nervosos impulsos originados em receptores periféricos, informando estes centros sobre o que se passa no meio ambiente. Por outro lado, a parte eferente do sistema nervoso somático leva aos músculos esqueléticos o comando dos centros nervosos, resultando movimentos que levam ao maior relacionamento ou integração com o meio externo. O sistema nervoso visceral é responsável pela inervação das estruturas viscerais e é muito importante para a integração da atividade das vísceras, no sentido da manutenção da constância do meio interno (homeostase). Assim como no sistema nervoso somático, distingue-se no sistema nervoso visceral uma parte aferente e outra eferente. O componente aferente conduz os impulsos nervosos originados em receptores das vísceras (visceroceptores) a áreas especificas do sistema nervoso central. O componente eferente traz impulsos de alguns centros nervosos até as estruturas viscerais terminando, pois, em glândulas, músculos lisos ou músculo cardíaco, e é chamado de sistema nervoso autônomo. SN neurovegetativo Aferências viscerais neurônios simpáticos e parassimpáticos SN Aferências localizadas em vísceras normalmente ocupam o mesmo lugar da aferência cutânea de uma região somática. Competindo pela mesma região que fazsinapse na coluna lateral, e as vezes fazem sinapse pela mesma região que leva informações de área consciente e não consciente = dor referida. A dor iniciada em uma viscera recebe influência de uma área somática. Dor do IAM: região anterior do peito e na região do MMSS, devido a competição de vias sensitivas inconscientes e conscientes. Dor referida Eferências 9 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Somático Simpático Salivação mucosa: inibe a serosa/liquida Parassimpático Formação do tronco Simpático 10 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE 11 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE TRM- Trauma Raquimedular Introdução A lesão medular traumática, ou traumatismo raquimedular – TRM (coluna vertebral e medula espinhal), é uma lesão frequente que resulta em uma síndrome neurológica altamente incapacitante que compromete as principais funções motoras, autonômicas e reflexas levando a inabilidade permanente. A causa mais frequente é o traumatismo, mas também pode ser resultante de tumores, infecção, lesão vascular ou iatrogenicamente. A lesão medular afeta física e psicologicamente não apenas o indivíduo acometido, como também sua família e a sociedade. -Trauma não reconhecido e tratado pode resultar em dano irreparável à medula espinhal, com dano neurológico permanente. - Lesão imediata no momento do trauma - Lesão de coluna com lesão espinhal após movimentação - SNC incapaz de regenerar - Suspeitar de lesão e fazer imobilização EPIDEMIOLOGIA Incidência de 12,7 a 50 pessoas por milhão de pessoas por ano. O principal nível medular acometido é o cervical (50%), geralmente relacionado a mergulhos em superfícies rasas, podendo culminar em morte pela apneia provocada pela lesão dos nervos frênicos. Em seguida, nível torácico (29%), seguido pelo nível lombar (15%) e sacrais (4%). A principal causa são os acidentes automobilísticos (30%), seguido por acidente pós-mergulho em água rasa (21%), queda da própria altura (20%), ferimento por arma de fogo (12%) e acidentes esportivos (2%). Usualmente acomete a população jovem (15 - 35 anos). O homem é mais acometido (4:1), pelas atividades mais violentas e de alto risco. - Podem ocorrer por trauma direto na cabeça ou no pescoço, deslocamento do tronco, forçando a coluna e seus ligamentos além dos limites - Déficits neurológicos resultam do trauma em diferentes estruturas do SNC e SNP - Traumatismo cranioencefálico (TCE) é a causa mais comum de lesão neurológica - Déficit pode ser por lesão da medula espinhal ou lesão direta da raiz nervosa ou nervo periférico por lesão de extremidade - Dano pode ser temporário ou permanente A coluna vertebral suporta forças de 1.360 Joules de energia - Cinemática: TCE, trauma em pescoço, tronco, pelve, aceleração ou desaceleração brusca, quedas, ejeção de veículos, mergulho em água rasa. ANATOMIA E FISIOLOGIA - 33 vértebras: 7 C, 12 T, 5 L, 5 Sacrais e 4 coccígeas - Exceto as vertebras C1 (atlas), C2 (áxis), sacrais e coccígeas, são praticamente iguais em forma, estrutura e movimento. Consistem basicamente em corpo vertebral, processo espinhoso e processo transverso. A maior parte da vértebra é o corpo. Possui 2 curvaturas laterais (arcos neurais) formado pelo pedículo e pela lamina. Dentro do arco neural existe o forame vertebral (canal da coluna vertebral), por onde passa a medula espinhal O Canal medular é amplo e vai até a parte inferior da C2. ⅓ dos pcts com lesão neste nível vai a óbito no local devido comprometimento central do nervo frênico. A medula ocupa 95% do forame ao nível de C3 com 3mm entre a medula e a parede do canal, já ao final da lombar, a medula ocupa em torno de 65% do canal medular. Nos processos transversos se inserem músculos e ligamentos. Entre os corpos vertebrais existem os discos intervertebrais que são fixados pelos ligamentos longitudinais anteriores e posteriores, conferindo alinhamento e estabilização. A coluna vertebral tem amplo movimento multidirecional 12 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE ANATOMIA DA MEDULA ESPINHAL A medula espinhal começa na base do tronco cerebral, (c1) passando pelo forame magno e atravessa casa vértebra pelo canal medular até L2, abaixo inicia-se a cauda equina. O suprimento sanguíneo é dado pelas artérias vertebrais. Cercada pelo liquido cefalorraquidiano (LCR) e envolta pelo revestimento dural (reveste o cérebro até S2). Composta pela: Massa cinzenta: corpos das cél. nervosas Massa branca: axônio que formam os tratos medulares, servindo de vias de comunicação para impulsos nervosos. Divididos em ascendentes e descendentes FISIOPATOLOGIA Uma vez que o trauma medular acontece, uma sequência de eventos fisiopatológicos ocorre gerando danos neurológicos. Esses danos são resultados de dois eventos distintos: a lesão mecânica primária e a lesão endógena secundária. Lesão primária A lesão mecânica primária é o resultado direto do impacto somado à compressão da medula espinhal que resulta em dano axonal. Essa lesão pode ocorrer por fraturas de deslocamento que resultam em fragmentos ósseos que comprimem a medula por uma hiperextensão e/ou cisalhamento da medula espinhal e/ou do seu suprimento sanguíneo. A lesão mecânica primária ainda pode ser resultado de uma transecção ou laceração da medula espinhal por deslocamento severo ou feridas penetrantes, levando à secção parcial ou total da medula. Escalpo: abrasões, lacerações, hematoma subgaleal e higroma subgaleal Fraturas: Lineares, cominutivas Lesão secundária Após o trauma inicial, inicia-se um processo endógeno chamado de lesão endógena secundária. O processo foi descrito pela primeira vez por Alfred R. Allen, em 1911. Esse processo ocorre como resultado da ruptura tecidual com uma hemorragia na substância cinzenta e, por conseguinte, acontece um aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica, apoptose glial e neuronal, além de uma complexa resposta neuroinflamatória que persiste por meses ou anos após o trauma inicial (Dumont et al., 2001; Schwartz e Fehlings, 2002; Profyris et al., 2004; Fleming et al., 2006; Donnelly e Popovich, 2008). Os eventos envolvidos durante essa fase fazem com que a sobrevivência neuronal seja escassa e a recuperação funcional prejudicada. Ademais, é durante esse momento da lesão que o ambiente celular torna-se inóspito para a regeneração e remielinização. O processo da lesão secundária é dividido em sub-fases: imediata, aguda, subaguda, intermediária e crônica Fase imediata: A fase imediata se refere, aproximadamente, as primeiras 2 horas após o trauma e resulta em uma morte neuronal e glial acompanhada de choque medular e consequente perda funcional motora no nível da lesão e abaixo. O trauma medular está associado ainda à liberação excessiva de glutamato, o principal neurotransmissor excitatório do SNC, que, especialmente no ambiente hipóxico da medula lesionada, leva ao estímulo exagerado dos receptores glutamatérgicos ionotrópicos, resultando na morte celular por excitotoxicidade. As células da glia também são atingidas, sendo os oligodendrócitos os mais prejudicados, uma vez que apresentam maior permeabilidade ao cálcio e sofrem sensibilização por ciclooxigenase-2, resultando em morte excitotóxica. Ocorre, ainda, o aparecimento de pontos hemorrágicos distantes do sítio da lesão original como resultado da perda de integridade estrutural dos capilares sanguíneos e há o aumento da expressão do fator de necrose tumoral- alfa (TNF- α) e interleucina-1β (IL-1β) Fase aguda: O primeiro momento da fase aguda ocorre entre 2 e 48 horas após o trauma medular inicial. Nesse momento,13 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE as petéquias aumentam em número e se unem formando uma volumosa área hemorrágica, resultando em uma isquemia. Este fenômeno é particularmente importante uma vez que a hemoglobina liberada é tóxica às células do SNC, expandindo o volume de tecido neural destruído. Relacionado a estes eventos, ocorre o infarto tecidual que propaga a necrose do tecido nervoso e é intensificado por mecanismos como a trombose e o choque neurogênico. A isquemia e o processo hemorrágico estão relacionados a permeabilidade da barreira hematoencefálica/ hematoespinhal, uma vez que a lesão medular causa uma interrupção nessas barreiras, atingindo uma interrupção máxima 2 horas após o trauma e retornando a níveis fisiológicos 2 semanas depois do trauma inicial (Figley et al., 2014). Dentre as primeiras 24 horas após o trauma inicial, ocorre um processo chamado choque medular, ou seja, a ausência de reflexos espinhais caudais. O choque medular é diferente do choque neurogênico, já que esse representa uma condição em que o paciente apresenta hipotensão e bradicardia devido a perda da resistência vascular periférica, enquanto aquele está relacionado a interrupção das funções neurais distal à lesão, incluindo reflexo, sensibilidade e força motora (Ditunno et al., 2004). Além disso, a interrupção das barreiras hematoencefálicas e hematoespinhal permite a infiltração de células do sistema imune para o SNC, tais como células T, neutrófilos e monócitos. As micróglias residentes continuam a proliferar e se ativam durante a fase aguda, resultando na liberação acentuada de quimiocinas e citocinas (Donnelly e Popovich, 2008; Tzekou e Fehlings, 2014). Dessa forma, durante as primeiras 24 horas após o trauma medular, os neutrófilos chegam ao sítio da lesão e há liberação de citocinas, MMPs, mieloperoxidase e espécies reativas de oxigênio (Fleming et al., 2006; Donnelly e Popovich, 2008). Assim, em 48 horas ocorre uma migração de monócitos e os neutrófilos já não são mais recrutados. Já em 72 horas, ocorre uma expansão da lesão secundária, uma vez que os monócitos iniciam sua diferenciação para macrófagos e há liberação de glutamato, TNF-α, IL-1β, IL-6 e prostanóides (Leskovar et al., 2000; Schwab et al., 2000). Depois da primeira semana após a lesão medular inicial, ocorre uma redução de macrófagos, porém a ativação de microglia persiste por semanas (Donnelly e Popovich, 2008). O resultado final dos eventos da fase aguda é a morte celular por apoptose e a desmielinização( Yu et al., 2009). Entre os primeiros dois dias e duas semanas da lesão medular traumatica os astrócitos tornam-se hipertróficos e proliferativos e inicia-se a formação da “cicatriz glial”, a qual é responsável por uma barreira física e química para a regeneração da medula espinhal (Karimi-Abdolrezaee et al., 2010; Karimi- Abdolrezaee et al., 2012; Young, 2014). Fase intermediária: inicia entre a 2ª e 3ª semana após o trauma e tem duração aproximada de 6 meses. Durante esse momento a reação de gliose continua até a cicatriz glial se formar por completo. A cicatrização glial é um fator crucial na recuperação de lesões no SNC, pois a eliminação do contingente de astrócitos reativos leva ao aumento do tamanho da lesão e a uma perda exagerada de macromoléculas através da barreira hematoencefálica que se encontra comprometida (Faulkner et al., 2004; Myer et al., 2006). Por conta disso, as falhas na regeneração axonal devem-se a produção de moléculas inibitórias pelos astrócitos a partir da cicatriz glial (Fitch e Silver, 2008). A contribuição dos astrócitos na ausência de regeneração no SNC deve-se a: 1- Falha em proporcionar um substrato celular apropriado para o crescimento axonal; 2- Ausência de fatores apropriados que suportem o crescimento axonal; 3- Produção de moléculas que inibem o alongamento axonal, como os proteoglicanos (Jones, Margolis, et al., 2003; Jones, Sajed, et al., 2003). Além dos astrócitos, a mielina do SNC também produz a glicoproteína associada à mielina (MAG), a Nogo-A e a glicoproteína da mielina de oligodendrócitos (Omgp), substâncias capazes de inibir o crescimento de axônios, pois estão localizadas na porção interna da bainha de mielina, fazendo contato direto com os axônios (Wang et al., 2002; Schweigreiter e Bandtlow, 2006; Fitch e Silver, 2008). Fase crônica: Uma lesão medular é considerada crônica a partir do 6º mês do trauma inicial. Durante esse momento a cicatriz glial e os cistos/cavidades na medula espinhal já estão desenvolvidos e estabelecidos. Os cistos são resultados dos restos de tecido neural e representam uma barreira física que impede a regeneração axonal. Nesse momento a degeneração walleriana (retração axonal) continua e pode durar anos até que os corpos celulares e os restos de axônios sejam totalmente removidos do sítio da lesão (Fleming et al., 2006; Kramer et al., 2013). - Degeneração Walleriana é o termo empregado para degeneração de axônios e suas baínhas de mielina após secção do nervo, geralmente traumática. O material resultante da degeneração da mielina e dos axônios tende a formar enovelados de membranas conhecidas como figuras de mielina. Figura 2. Eventos fisiopatologicos após a lesão medular traumática. Os eventos estão divididos em fase imediata (2 horas), aguda (2 a 48 horas), subaguda (48 horas a 14 dias), intermediária (14 dias a 6 meses) e crônica (a partir de 6 meses). 14 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE CINEMÁTICA Trauma fechado: - Principais causas de lesão: Colisões automobilísticas e de motricidade, quedas, lesões em esportes, trauma violento, incidente em água rasa, acelerações e desacelerações, inclinações, ejeção de veículos, etc. Pcts pediátricos: quedas, atropelamentos Lesão penetrante - Se não sofreu lesão neurológica no momento, não há motivos para preocupação - Lesão geralmente ocorre no caminho da penetração, lesa diretamente a medula - Não causa fraturas instáveis pelo baixo risco de lesão de ligamento ou fratura óssea. Pelo baixo risco de lesão e pela importância que se pode ter outras lesões, pcts com trauma penetrante não precisa ser submetido a imobilização em alguns casos imobilizar pcts com lesão penetrante em cabeça, pescoço e tórax com sintomas neurológico, - trauma contuso 2ªrio ao penetrante deve ser imobilizado CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES MEDULARES Quando suspeitar de lesão na coluna? As lesões medulares podem ser classificadas de acordo com: 1- o nível, 2- a gravidade do défice neurológico, 3- o tipo de síndrome medular e 4- a morfologia. NÍVEL O nível neurológico de lesão é definido pelo segmento mais caudal da medula, que se traduz através de funções motoras e sensoriais normais em ambos os lados do corpo. O termo nível sensorial, quando usado, refere-se aos segmentos mais caudais da medula que conservam suas funções sensoriais normais. De forma análoga, o nível motor é definido pela função motora do grupo-chave muscular mais baixo que mantém um valor de, pelo menos, 3/5 na escala de graduação de força muscular. No caso de lesões completas, quando se detecta, ainda que prejudicada, alguma evidência de função sensorial ou motora distalmente ao segmento normal mais baixo, fala-se em zona de preservação parcial. Como descrito anteriormente, é importante que se determine o nível de lesão de ambos os lados. Uma clara distinção deve ser feita entre as lesões acima e abaixo de T1. As lesões traumáticas dos primeiros 8 segmentos cervicais da medula resultam em quadriplegia, Enquanto as abaixo de T 1 acarretam paraplegia. O nível ósseo da lesão corresponde à vértebra cuja estrutura está danificada, resultando em lesão medular. Já o nível neurológico da lesão é determinado fundamentalmente pelo exame clínico. Frequentemente existeuma discrepância entre o nível ósseo e o neurológico, pois os nervos espinhais entram no canal medular através dos forames e, uma vez dentro dele, dirigem-se para cima ou para baixo, antes de penetrar propriamente na medula. Tal discrepância torna-se cada vez mais acentuada quanto mais caudal for a lesão. Deixando de lado o que se refere às medidas iniciais de estabilização das lesões ósseas, todas as descrições subsequentes, quanto à altura da lesão, basear-se-ão no nível neurológico. GRAVIDADE DO DÉFICIT NEUROLÓGICO Lesões medulares podem ser categorizadas quanto a: • Paraplegia incompleta (lesão torácica incompleta) • Paraplegia completa (lesão torácica completa) • Quadriplegia incompleta (lesão cervical incompleta) • Quadriplegia completa (lesão cervical completa) 15 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Isso é importante para avaliar qualquer sinal de preservação da função ao longo dos tratos da medula espinhal. Qualquer função motora ou sensorial abaixo do nível da lesão constitui uma lesão incompleta. Sinais de uma lesão incompleta incluem qualquer sensação (incluindo o reconhecimento de posição) ou movimentos voluntários nas extremidades inferiores, preservação sacral, contração esfincteriana anal voluntária e flexão voluntária do hálux. Reflexos sacrais, como o reflexo bulbocavernoso ou a contratilidade anal, não são qualificados como preservação sacral. SÍNDROMES MEDULARES Nos doentes portadores de lesão medular, são encontrados, com frequência, alguns padrões característicos de lesão neurológica, tais como síndrome central da medula, síndrome anterior da medula e síndrome de Brown- Séquard. Tais padrões devem ser reconhecidos, pois, de outra forma, podem confundir o examinador. Síndrome medular posterior: - Raras - envolve colunas posteriores - Perda da propriocepção e vibração. Função motora e sensitiva sem alterações Síndrome medular anterior: - Geralmente causada por fragmentos ósseos, hiperflexão ou pressão das artérias espinhais Sintomas: perda da função motora (paraplegia), dor, Tº e menos comum propriocepção - Podem manter movimento, propriocepção e vibração A síndrome anterior da medula caracteriza-se por paraplegia e por dissociação da perda sensorial com perda de sensibilidade à dor e à temperatura. A função da coluna posterior (responsável pela sensibilidade proprioceptiva ao posicionamento, à vibração e à pressão profunda) está preservada. Usualmente, a síndrome anterior da medula é secundária a infarto da medula no território suprido pela artéria espinhal anterior. De todas as lesões incompletas, é aquela que tem o pior prognóstico. Síndrome medular Central: - Geralmente causada por hiperextensão da cervical Sintomas: fraqueza ou parestesia das extremidades superiores - Força e sensibilidade normal nas extremidade inferiores - Causa graus variáveis de disfunção da bexiga A síndrome central da medula é caracterizada pela desproporção entre a perda de força motora nas extremidades superiores, que é muito mais acentuada que a perda de força nas extremidades inferiores. Nessas circunstâncias, pode haver graus variáveis de perda sensorial. Geralmente, esta síndrome decorre de lesões por hiperextensão em doentes que apresentam estenose preexistente do canal medular cervical (comumente manifestação de doença osteoartrítica degenerativa). Habitualmente, a história é de uma queda para frente que resulta em impacto facial. Acredita-se que a síndrome central da medula seja decorrente de um comprometimento vascular no território de distribuição da artéria espinhal anterior. Esta artéria supre as porções centrais da medula. As fibras motoras dos segmentos cervicais são topograficamente dispostas em direção ao centro da medula. Os braços e as mãos são os mais gravemente atingidos. A síndrome central da medula pode ocorrer com ou sem fratura ou luxação da coluna cervical. A recuperação da força muscular costuma seguir um padrão característico: inicia-se pelos músculos dos membros inferiores, continua pela recuperação da função vesical e termina pela musculatura proximal dos membros superiores e das mãos. Nestes casos de lesão central, o prognóstico quanto à recuperação costuma ser melhor do que aquele de outras lesões incompletas. Síndrome de BROWN-SÉQUARD - Causada por lesões penetrantes envolvendo hemi-transecção da medula espinhal, atingindo apenas de uma lado Sintomas: perda da função motora, vibração e propriocepção do lado afetado com perda de sensação de dor e Tº do lado oposto da lesão A síndrome de Brown-Séquard resulta da hemissecção da medula, geralmente por traumatismo penetrante. Embora esta síndrome seja raramente encontrada, as variações do padrão clássico não são raras. Em sua forma mais pura, ela consiste em comprometimento motor ipsilateral (trato corticoespinhal) e perda da sensibilidade postural (coluna posterior), concomitantes à perda contralateral da sensibilidade térmica e à dor começando um ou dois níveis abaixo do nível da lesão (trato espinotalâmico). Mesmo que a síndrome seja decorrente de traumatismos penetrantes diretamente na medula, costuma ocorrer algum grau de recuperação. 16 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Síndrome do cone medular (T2 – L1) - Lesão do cone medular - Arreflexia da bexiga, intestino e MMII - Segmentos sacrais preservados - Prognóstico variável Síndrome da cauda equina: - Lesão entre o cone medular e as raízes lombossacras - Arreflexia da bexiga, intestino e MMII - Arreflexia do bulbocavernoso - Anestesia em sela MORFOLOGIA As lesões traumáticas de coluna podem ser descritas como fraturas, fraturas-luxações, lesões medulares sem anormalidades radiológicas (SCIWORA) e lesões penetrantes. Cada lesão poderá ainda ser classificada como estável ou instável. Entretanto, a determinação da estabilidade de um tipo particular de lesão nem sempre é fácil e, mesmo entre especialistas, pode haver discordância. Assim sendo, especialmente durante o atendimento inicial, todo doente que apresente evidências radiológicas de lesão de coluna e todos aqueles com défices neurológicos devem ser considerados portadores de uma lesão instável da coluna. Esses doentes devem ser imobilizados até serem avaliados por um especialista, geralmente um neurocirurgião ou um ortopedista. Tipos de fraturas (segundo AOspine): Tipo A Lesões compressivas (achatamento de vértebras) A1: Fratura em “tear drop”: gota de lágrima, uma “lasca” A2: Fratura em “Split”, acomete os dois platôs, como uma rachadura A3: Acometimento do platô superior A4: Acometimento de ambos os platôs * A3 e A4: com achatamento maior que 50% são indicativos cirúrgicos Tipo B Lesões por ruptura B1: Ruptura anteroposterior B2: Ruptura do platô superior, associada a ruptura ligamentar B3: Ruptura do disco vertebral, associada a ruptura ligamentar total * Usualmente são abordadas cirurgicamente. Tipo C Lesões por deslocamento Geralmente envolve compressão, rupturas e deslocamentos, sendo o tipo mais grave de fratura, podendo estar associada a sinais clínicos de rotura parcial ou completa medular. Lesões esqueléticas: Fraturas por compressão: geram achatamento do corpo vertebral Fraturas com fragmentos ósseos que alojam no canal medular Subluxação: deslocamento parcial da vertebra de seu ligamento normal Superestiramento ou laceração: dos ligamentos e músculos, gerando instabilidade na coluna Qualquer uma dessas lesões pode resultar em imediata transecção irreversível, ou apena comprimir ou estirar a medula espinhal. Pacientes com fratura de coluna, tem 10% de chance de ter uma 2ª fratura, por isso a imobilização completa. A ausência de déficitneurológico indica ausência de lesões na medula espinhal no momento da avaliação, mas não elimina a possibilidade de fratura óssea ou coluna instável. Mecanismos específicos de lesão que causam trauma na coluna vertebral: Carga axial: compressão da coluna. Ex. trauma em para-brizas, mergulho em agua rasa, queda em pé de altura considerável, exacerbação das curvaturas normais Hiperflexão, hiperextensão, hiper-rotação: lesões ósseas, rompimento de músculos e ligamentos, ex. colisão traseira Inclinação lateral repentina ou excessiva, lesa mais fácil pela menor mobilidade, ex. trauma lateral no tórax Tração (alongamento excessivo da cabeça): causa estiramento e laceração da medula espinhal, ex.: lesão em parques infantis e enforcamento Lesão da medula espinhal Lesão 1ªria: fragmento ósseo, compressão medular ou interrupção do suprimento sanguíneo 17 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Lesão 2ªria: edema, isquemia ou movimentação dos fragmentos ósseos Concussão medular: ruptura temporária das funções da medula distal ao local da lesão, envolve ferimento ou sangramento dos tecidos da medula, resultando em perda temporária ou permanente sem lesão macroscopicamente visível Choque medular: fenômeno neurológico que ocorre durante período imprevisível e variável após lesão medular, resultando perda temporária de toda função sensorial e motora, flacidez muscular e paralisia, perda de reflexos abaixo do nível da lesão na medula. Termino do choque quando reflexo bulbocavernosos Compressão medular: é a pressão na medula espinhal causada por edema, ruptura de disco ou fragmentos ósseos, pode resultar em isquemia e exige descompressão Laceração medular: quando o tecido da medula é lacerado. Quase sempre a lesão leva a invalidez permanente se algum ou todos os tratos medulares forem interrompidos. Pode ser revertido quando a lesão for leve Transecção Transecção medular completa: - Todos os tratos medulares são rompidos - Todas as funções medulares distais ao local de lesão são perdidas - Devido edema, a determinação da extensão é exata após 24 horas da lesão - Maioria resulta em tetraplegia ou paraplegia dependendo do nível da lesão Transecção medular incompleta: - Pode apresentar funções motoras/sensoriais intactas de certos grupamentos musculares ou de um heimicorpo - Melhor prognostico - (A) Síndrome medular central - (B) Síndrome de Brown-séquard - (C) Síndrome medular anterior Lesão completa medular: perda de todos os movimentos - Cursa com disfunção esfincteriana, arreflexia, hipotonia generalizada, perda total dos movimentos e da sensibilidade = choque medular refere-se à flacidez (perda do tônus muscular) e à perda de reflexos notada após a lesão medular. O “choque” para a medula pode fazer com que ela pareça totalmente desprovida de função, ainda que não esteja necessariamente destruída, podendo voltar a ter algum nível de funcionamento. Choque por lesão muscular em qualquer nível. Ausência do reflexo do bulbo cavernoso o reflexo é observado pelo estímulo da glande peniana ou do clitóris, que gera em situações fisiológicas a contração do esfíncter anal. Reflexo Cremastérico: espátula um estímulo na virilha ascendente músculo cremastérico enruga a bolsa escrotal. E presença de priapismo ereção peniana prolongada persistente (>4h), dolorosa, desencadeada ou não por estímulo sexual. Ambos causados pela descarga adrenérgica expressiva que ocorre no choque medular, indicando um pior prognóstico. CHOQUE NEUROGÊNICO - Secundário a lesão da medula espinhal - Representa um achado adicional - Diferente do choque medular (perda temporária da função sensitiva e motora) - Interrupção do SN simpático, perdendo a constricção dos músculos nas paredes dos vasos abaixo do ponto de ruptura. Ocorre dilatação, aumentando o tamanho do compartimento vascular, levando a perda da resistência vascular sistêmica, causando relativa hipovolemia - Queda da PA: pele quente e seca (perfil A) (choque hemorrágico: fria e úmido – perfil C) - FC normal ou bradicardia - Raramente compromete a oxigenação dos tecidos periféricos - Lesões altas podem necessitar de vasopressores e marcapassos - Corrigir a PA se sistólica < 90 mmHg Manter entre 85 – 90 mmHg • Como identificar e tratar o choque neurogênico e o medular? O choque neurogênico resulta da lesão das vias descendentes do sistema simpático da medula espinhal cervical ou torácica alta, o que ocasiona a perda do tônus vasomotor e a perda da inervação simpática do coração. O choque neurogênico é raro nas lesões medulares abaixo do nível de T6. Se o choque estiver presente nesses doentes, deve-se realmente suspeitar de outra causa alternativa. A perda do tônus vasomotor por sua vez, causa vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades inferiores, represamento de sangue e, consequentemente, hipotensão. Como resultado da perda de tônus simpático no nível do coração, o doente pode tornar-se bradicárdico ou, pelo menos, deixar de apresentar taquicardia como resposta à hipovolemia. Nessas condições, a pressão sanguínea não costuma normalizar-se através da infusão de líquidos apenas e, o que é pior, esforços para normalizá-la podem resultar em sobrecarga hídrica e edema pulmonar. Habitualmente, a pressão sanguínea pode ser restaurada pelo uso cauteloso de vasopressores, após reposição volêmica moderada. A atropina pode ser usada para corrigir uma bradicardia que acarrete repercussões hemodinâmicas significativas. Síndrome de Claude-bernard-Horner (sugestivo de lesão simpático): ptose, miose e anidrose 18 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE O termo choque medular refere-se à flacidez (perda do tônus muscular) e à perda de reflexos notada após a lesão medular. O "choque" para a medula lesada pode fazer com que ela pareça totalmente desprovida de função, ainda que não esteja necessariamente destruída. A duração deste estado é variável. (24 horas ou meses) arreflexia, flacidez, perda sensibilidade Fases do choque medular - Fase aguda: semana ou até meses – hipotonia, hiporreflexia seguido de espasticidade. - Fase intermediária: 6 meses até 2 anos – aumento gradual de espasticidade - Fase Cronica: após reabsorção total do edema e hemorragia subaracnóidea - Fase tardia: Dimininuição do volume medular da região afetada (afilamento), medula substituída por tecido fibrose CHOQUE NEUROGÊNICO CHOQUE MEDULAR Lesão das descendentes do SNA simpático Cervical a Torácico alto (até T6) Perda do tônus muscular e arreflexia Choque por lesão medular em qualquer nível Perda do tônus vasomotor Perda da inervação simpática do ♥ Pode voltar a apresentar função normal Período de acometimento é variavel Vasodilatação de vísceras e extremidades Bradicardia ou taquicardia não compensatório Hipotensão PA não se normaliza apenas com cristaloides EFEITOS EM OUTROS ÓRGÃOS E SISTEMAS Uma lesão de medula cervical baixa ou torácica alta pode resultar em hipoventilação por paralisia dos músculos intercostais. Quando há lesões da medula cervical alta ou média, o diafragma também é paralisado devido ao comprometimento dos segmentos de C3 a C5, que inervam o diafragma através dos nervos frênicos. A incapacidade de perceber estímulos dolorosos pode mascarar lesões potencialmente graves em outras partes do corpo. É o caso dos sinais usuais de abdome agudo. TIPOS ESPECÍFICOS DE LESÃO ESPINHAL As lesões traumáticas da coluna cervical podem resultar de apenas um ou de vários dos seguintes mecanismos de trauma: Compressão axial, Flexão, Extensão, Rotação, Flexão lateral, Tração Observação: as lesões da coluna cervical alta em crianças (C1-C4)são quase 2x mais comuns que as lesões cervicais baixas. LUXAÇÃO ATLANTO-OCCIPITAL As disjunções craniocervicais são lesões pouco comuns (rara e fatal) e resultam de movimentos acentuados de flexão e tração, de natureza traumática. A maioria desses doentes morre por destruição do tronco cerebral e apneia, ou apresenta lesões neurológicas extremamente graves (dependência de ventilador mecânico e quadriplegia). Ocasionalmente, um doente pode sobreviver desde que estejam disponíveis recursos para reanimação imediata, no local do trauma. Esse tipo de lesão pode ser identificado em até 19% dos doentes portadores de lesões fatais da coluna cervical e é uma causa comum de morte em casos de síndrome do bebê sacudido quando este morre imediatamente após a agressão. A imobilização da coluna é recomendada desde o início. Um auxílio para identificação de luxações atlanto-occipitais nas radiografias de coluna, incluindo as "Power's ratio". FRATURA DO ATLAS (C1) O atlas é um anel ósseo delicado, dotado de amplas superfícies articulares. As fraturas do atlas correspondem a aproximadamente 5% das fraturas agudas da coluna cervical. Cerca de 40% das fraturas do atlas vêm acompanhadas de fraturas do áxis (C2). A lesão mais comum de C1 consiste em fratura por explosão da vértebra (fratura de Jefferson). O mecanismo usual do trauma é uma sobrecarga axial, tal como ocorre quando um objeto pesado cai verticalmente sobre a cabeça ou quando o próprio doente cai, batendo a cabeça em posição relativamente neutra. A fratura de Jefferson consiste na ruptura anterior e posterior do anel de C1, com subsequente deslocamento lateral das massas laterais. A incidência radiológica mais adequada para diagnosticar a fratura é a radiografia transoral, que permite ver a região de C1 e C2, e pela tomografia axial (TC) • FIGURA 7-5 Fratura de Jefferson. Radiografia transoral mostrando fratura de Jefferson. Essa fratura envolve ruptura de ambos os anéis (anterior e posterior) de C1 com deslocamento lateral das massas laterais. No doente que sobrevive a uma fratura do atlas e chega até o hospital, a fratura geralmente não está associada a lesões da medula espinhal. Entretanto, tais fraturas são instáveis e devem ser tratadas desde o início com colar cervical. Fraturas de apenas um ramo do atlas ou comprometimento dos processos laterais não são raras e tendem a ser estáveis. Apesar disso, devem ser tratadas como se fossem instáveis até que o doente seja avaliado por um médico qualificado, geralmente um neurocirurgião ou um ortopedista. 19 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE SUBLUXAÇÃO POR ROTAÇÃO EM C1 A subluxação por rotação em C1 costuma ser vista com maior frequência em crianças. Pode ocorrer espontaneamente após traumatismos de grande ou pequeno porte, com infecções respiratórias altas ou acompanhando a artrite reumatoide. O doente apresenta-se com a cabeça em rotação persistente (torcicolo). Essa lesão é diagnosticada melhor pela radiografia transoral através da visualização do odontoide, embora os achados radiológicos possam ser de difícil interpretação. Nesse tipo de lesão, o odontoide não se encontra equidistante dos processos laterais de C1. O doente não deve ser forçado a corrigir a rotação da cabeça, mas, pelo contrário, deve ser imobilizado e enviado a um centro no qual possa receber tratamento especializado. •FIGURA 7-6 (A) TC com reconstrução 3D de um doente com subluxação por rotação de C1. (B) TC com reconstrução 3D de doente com subluxação rotacional de C1. (C) TC axial de doente com subluxação rotacional de C1 FRATURAS DO ÁXIS (C2) O áxis é a maior vértebra cervical e apresenta um formato peculiar. Por isso é suscetível a vários tipos de fraturas, dependendo da força e da direção do impacto. As fraturas agudas de C2 representam aproximadamente 18% de todas as fraturas de coluna cervical. Fraturas do Odontoide: Cerca de 60% das fraturas de C2 acometem o processo odontoide, uma protuberância óssea bem definida que se projeta cranialmente e que, em condições normais, faz contato com o arco anterior de C1. O processo odontoide é mantido fixo, fundamentalmente pelo ligamento transverso. As fraturas do odontoide podem ser identificadas, inicialmente, seja por meio de uma radiografia lateral da coluna cervical, seja por uma radiografia transoral. Entretanto, costuma ser necessária uma TC para definição mais clara. As fraturas do odontoide de tipo I afetam tipicamente sua extremidade e são relativamente raras. As fraturas de tipo II ocorrem através da base do odontoide e são as mais frequentes. Em crianças abaixo de 6 anos, a epífise usualmente presente pode ser confundida com uma fratura a este nível. As fraturas de tipo III afetam a base do odontoide e se prolongam obliquamente para o corpo do áxis. • FIGURA 7-7 Fratura do Odontoide. TC evidenciando fratura de odontoide tipo II que acomete a sua base. Fraturas dos Elementos Posteriores: A fratura típica do enforcado compromete os elementos posteriores de C2, ou seja, a parte interarticular. Esse tipo de fratura representa cerca de 20% de todas as fraturas do áxis e resulta, habitualmente, de uma lesão por extensão. Doentes portadores desse tipo de fratura devem ser mantidos com imobilização externa até que possam receber cuidados especializados. Variantes da fratura do enforcado incluem fraturas bilaterais que comprometem os processos laterais ou os pedículos da vértebra. • FIGURA 7-8 Fratura do Enforcado (setas) demonstradas em TC com reconstrução (A) axial, (B) sagital paramediana e (C) sagital da linha média. Note a angulação anterior e a distância excessiva entre os processos espinhosos de C1 e C2 (setas duplas). Outras Fraturas de C2: Cerca de 20% de todas as fraturas do áxis não afetam o odontoide e são de tipo diferente da fratura por enforcamento. Entre elas encontram-se as fraturas que afetam o corpo, o pedículo, os processos laterais, as lâminas e o processo espinhoso. 20 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE FRATURAS E LUXAÇÕES (C3 A C7) As fraturas de C3 são pouco comuns, possivelmente porque esta vértebra está localizada entre o áxis, que é mais vulnerável, e o "fulcro relativo" da coluna cervical, ou seja, as vértebras C5 e C6, que constituem a parte mais móvel, na altura das quais a coluna cervical possui os maior movimentos de flexão e extensão. Em adultos, o local mais frequente de fraturas de coluna cervical é C5 e o nível mais comum de subluxação é entre C5 e C6. Os padrões mais comuns de lesões identificadas nesse segmento são as fraturas dos corpos vertebrais, com ou sem subluxação; a subluxação dos processos articulares (incluindo as luxações das facetas articulares, uni ou bilateralmente); e as fraturas das lâminas, dos processos espinhosos, dos pedículos ou das massas laterais. Raramente ocorrem rupturas ligamentares sem que existam, concomitantemente, fraturas ou luxações das facetas articulares. A incidência de lesões neurológicas aumenta dramaticamente com as luxações das facetas articulares. Na presença de luxações unilaterais dessas facetas: 80% dos doentes apresentam algum tipo de lesão neurológica, Cerca de 30% têm apenas lesões de raízes nervosas, 40% lesões incompletas da medula espinhal e 30% lesões completas da medula espinhal. Na presença de luxação bilateral das facetas, a morbidade é muito maior, com lesões de medula incompletas em 16% dos casos e completas em 84%. FRATURAS DA COLUNA TORÁCICA (T1 A T10) As fraturas da coluna torácica podem ser classificadas em quatro grandes categorias: Lesões em cunha por compressão anterior Lesões por explosão do corpo vertebral Fraturas de Chance Fraturas-luxações A sobrecarga axial associada à flexão resulta em lesões em cunha por compressão anterior. O encunhamento costuma ser pequeno, de modoque o encurtamento da face anterior do corpo vertebral raramente é igual ou superior a 25% da face posterior. Graças à rigidez da caixa torácica, a maioria dessas fraturas costuma ser estável. As lesões por explosão do corpo vertebral são causadas pela compressão vertical axial. As fraturas de Chance são fraturas transversas no corpo vertebral. Elas são causadas por flexão sobre um eixo anterior à coluna vertebral e são mais frequentemente encontradas em colisões automobilísticas quando o doente foi contido apenas pelo cinto abdominal. As fraturas de Chance podem estar associadas a lesões viscerais abdominais e retroperitoneais. • FIGURA 7-9 Fratura de Chance. Radiografia mostrando fratura de Chance-uma fratura transversa através do corpo vertebral. As fraturas-luxações são relativamente raras na coluna lombar e torácica devido à orientação das articulações das facetas. Essas lesões são quase sempre resultantes de flexão extrema ou trauma contuso grave da coluna, que produz ruptura dos elementos posteriores das vértebras (pedículos, facetas, lâmina). Entretanto, o canal medular é estreito em relação à medula espinhal, de modo que as fraturas-subluxações da coluna torácica frequentemente resultam em défices neurológicos completos. Fraturas simples por compressão são usualmente estáveis e frequentemente tratadas com um colete rígido. Fraturas por explosão, fraturas de Chance e fraturas- luxações são extremamente instáveis e quase sempre requerem fixação interna. FRATURAS DA JUNÇÃO TORACOLOMBAR (T11 A L1) Fraturas neste nível da coluna toracolombar costumam ser o resultado da relativa imobilidade da coluna torácica quando comparada à coluna lombar. Em sua maioria, resultam da combinação de hiperflexão e rotação agudas e, consequentemente, costumam ser instáveis. Entre os doentes particularmente suscetíveis a esse tipo de lesão, encontram-se os que sofrem quedas de altura e os motoristas que, por estarem usando cinto de segurança no momento do impacto, sofrem uma flexão com grande transferência de energia. A medula espinhal termina no cone medular, aproximadamente no nível de L1. Uma lesão neste nível costuma resultar em disfunções da bexiga e do intestino, assim como em redução da sensibilidade e da motricidade nos membros inferiores. Os doentes portadores de fraturas toracolombares são particularmente vulneráveis a movimentos de rotação. Por isso, qualquer movimento de rotação em monobloco deve ser realizado com extremo cuidado. FRATURAS LOMBARES Os sinais radiológicos associados às fraturas lombares são semelhantes àqueles encontrados nas fraturas toracolombares e torácicas. Entretanto, por acometerem apenas a cauda equina, a probabilidade de existir um défice neurológico completo é menor nesse tipo de lesão. LESÕES PENETRANTES Os tipos mais comuns de lesões penetrantes são causados por arma de fogo ou por arma branca. E importante que se determine o trajeto do projétil ou da arma branca. Para tanto, deve-se utilizar as informações obtidas da história, o 21 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE exame clínico (orifício de entrada e de saída), assim como interpretar as radiografias simples e o exame tomográfico. Quando o trajeto do agente vulnerante atravessa diretamente o canal vertebral, costuma ocorrer um défice neurológico completo. Entretanto, défices completos podem também ocorrer como consequência de transferência de energia quando um projétil de alta velocidade passa próximo à medula espinhal, mesmo sem transfixá-la. De um modo geral, as lesões penetrantes da coluna costumam ser estáveis, a menos que o projétil destrua uma parte considerável da vértebra. LESÕES VASCULARES CONTUSAS DAS ARTÉRIAS CARÓTIDA E VERTEBRAL O traumatismo contuso da cabeça e do pescoço é um fator de risco para lesões das artérias carótida e vertebral. O reconhecimento e o tratamento precoce dessas lesões podem reduzir o risco de acidente vascular cerebral. As indicações para investigação são amplas, mas os critérios sugeridos para a investigação incluem: Fraturas de Cl - C3 Fraturas cervicais com subluxação Fraturas envolvendo o forame transverso Aproximadamente- um terço desses doentes irão apresentar lesões vasculares contusas das artérias carótida e vertebral na angiotomografia cervical. O tratamento destas lesões envolve a anticoagulação ou terapia antiplaquetária, geralmente recomendada para os doentes sem contraindicações. • FIGURA 7-1 0 Angio-TC cervical com lesão de carótida Gil (seta) Dentro dos tratos das medula espinhal, clinicamente testaremos três: - Trato espinotalâmico (ascendente): dor e Tº do lado oposto - Trato piramidal (descendente): Função motora do mesmo lado Graus de perda de força - Colunas posteriores (ascendente): propriocepção e vibração do mesmo lado 22 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Como graduar a força: Escalas de força – (MRC) Medical Research Council 0 AUSÊNCIA DE CONTRAÇÃO “Não vejo nenhuma contração muscular” 1 CONTRAÇÃO MUSCULAR SEM MOVIMENTO/ esboço de contração (visível ou palpável) “Vejo contrair o musculo, mas não exerce movimento” 2 MOV. ATIVO SE ELIMINADA A GRAVIDADE “Movimenta a articulação sobre o plano da maca- não vence a gravidade” 3 MOV. ATIVO CONTRA A GRAVIDADE “Vence a gravidade” 4 MOV. ATIVO CONTRA RESISTÊNCIA 4 (pode ser 4+ ou 4 -) 4 –: vence pequena resistência 4: vence resistência moderada 4+: Vence resistência forte 5 Força muscular normal NT Não passível de teste Classificação dos déficits motores: - Plegia: déficits total da função (ausência total de movimento) – MRC 0 e 1 - Paresia: déficit parcial da função (Parético: comprometimento da função, mas com resquício de função) – executa movimento - MRC 2 e 4 Mono: um membro afetado - Hemi: Dimídio afetado Diparesia ou diplegia: paralisia de segmentos simétricos (Pode afetar face e membros superiores ou inferiores) Paraparesia ou paraplegia: fraqueza de MMIIs Tetraparesia ou tetraplegia: paralisia dos 4 membros EXAME NEUROLÓGICO - 1ª realizar atendimento primário com estabilidade da cervical - Realizar uma rápida avaliação no atendimento primário, pedindo para pct movimentar membros e testar a sensibilidade global Exame neurológico completo não é realizado no APH Objetivo é reconhecer indicação de imobilização e não definir a lesão. Exame completo é realizado testando movimentação, propriocepção, dor, sensação de Tº e vibração AVALIAÇÃO CLÍNICA - Avaliar e graduar dermátomos e miótomos de cranial para caudal - Definir nível sensitivo e motor (ultimo nível) - Definir se o déficit é completo ou incompleto Escala de Frankel ou ASIA: - Serve para a classificação clínica do paciente: - Parcial: comprometimento de 2 sistemas e total: comprometimento dos 3 sistemas: motor, sensitivo e autônomo. A Rotura completa: ausência ade função motora ou sensorial, inclusive nos seguimentos S4-S5 B Rotura incompleta: função sensorial, preservada abaixo do nível neurológico afetado, incluindo seguimentos S4 e S5, ausência de resposta motora. C Rotura incompleta: função motora está preservada abaixo do nível neurológico e mais metade dos principais M. abaixo do nível neurológico tem gradação de força < 3 D Rotura incompleta: função motora está preservada abaixo do nível neurológico e pelo menos metade dos principais M. abaixo do nível neurológico tem gradação de força >3 E Normal: Paciente sem alterações motoras ou sensitivas. 23 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE Raiz nervosa Dermátomo C3 Face anterior do pescoço C4 Acrômio e clavícula C5 Face anterior do braço C6 Margem radial do antebraço e polegar C7 Dedos 2 a 4 C8 Dedomínimo e margem ulnar do antebraço T1 Margem anterior do antebraço T2 Face interna do antebraço T3 Abaixo do ângulo de Louis T4 Mamilos T6 Processo xifoide T7-T8-T9 Abdome e costas T10 Umbigo T12 Acima do ligamento inguinal - virilha L4 Face interna da perna L5 Margem interna do pé e Hálux S1 Borda externa do pé e face posterior da perna S2 Face posterior da coxa S3-S4-S5 Região do períneo Miótomos Raiz nervosa Movimento C1-C2 Flexão do pescoço C3 Flexão lateral do pescoço C4 Elevação do ombro C5 Flexores de cotovelo - Bíceps braquial, braquial C6 Flexão do cotovelo/ extensão do punho - M. extensor longo e curto do carpo C7 Extensão do cotovelo/ flexão do punho - M. Tríceps braquial C8 Extensão e desvio ulnar do polegar Flexor profundo dos dedos/ avalia 3º dedo aplicando força na interfalangiana distal T1 Abdução do dedo mínimo - M. abdutor do dedo mínimo (aplicar resistência na falange proximal) L2 Flexão de quadril - M. iliopsoas L3 Extensão do joelho - M. quadriceps L4 Dorsiflexão de tornozelo - M. tibial anterior L5 Extensão do hálux - M. extensor longo do hálux S1 Planificação e eversão do tornozelo/ extensão do quadril - M. Gatrocnêmico e sólio S2 Flexão do joelho Raiz nervosa Músculos C2 - C3 Esternocleidomastóideo C3 – C4 Trapézio – diafragma C5 Flexores de cotovelo – Biceps braquial, braquial C5 - C6 Supra-infraespinhal, Deltoide, Redondo, Braquial, Biceps, Braquirradial, extensor radial do carpo C6 - C7 (C8) Supinador, Pronador, Flexor radial do carpo, Triceps C7 – C8 Extensor ulnar do carpo, extensor digital, extensor polegar, extensor indicador, Flexor digital, pronador, flexor polegar, flexor ulnar do carpo C8 – T1 Abdutor do polegar, abdutor do dedo mínimo, interósseos L2 – L3 Iliopsoas, sartório, grácil, abdutor da coxa (até L4) L3 – L4 Reto femoral, vastro lateral e medial L4 – L5 Tibial anterior e posterior L4 – S1 Gluteo, tensor da fáscia lata L5 – S1 Extensor dos dedos, fibular longo e curto L5 – S2 Gluteo maior, semitendinoso/ membranoso, bíceps femural, flexor dos dedos S1 – S2 Gastrocnômios, Abdutor dos dedos, interósseo Obs.: Outros miotomos não tão importantes: T2 e T3: intercostais superiores T4, T5 e T6: intercostais inferiores T7 a T10: reto abdominal superior T11 e T12: reto abdominal inferior Em regiões onde não há miotomos chaves a testar, presume-se que o nível do motor seja o mesmo que o nível sensitivo, se a função motora testável acima desse nível também é normal 24 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO - imobilização em posição supina em prancha longa rígida em alinhamento neutro - Alinhamento em posição neutra (anatômica) - Principio da imobilização da fratura: imobilizar articulação abaixo (pelve) e acima (cabeça) da fratura. - Imobilizar o pct no momento e na posição encontrada - Imobilização ortostática, macas prancha curta, colete de imobilização - Técnicas permitem estabilizar coluna até paciente ser colocado em posição supina - Manter sinais vitais adequados IMOBILIZAÇÃO Indicações para imobilização da coluna: Dor e sensibilidade à palpação da coluna Queixa de dor na coluna em repouso ou movimentação Alteração do nível de consciência (Glasgow <15) Estresse agudo Incapacidade de se comunicar Deficit ou queixa neurológica - Paresia – “formigamento” - parestesia - plegia – “dormência” - priapismo - ereção involuntária e persistente - choque medular, - choque neurogênico Deformidade anatômica Defesa ou contratura muscular paravertebral Lesões que causam distrações (lesões dolorosas: queimaduras, fratura de fêmur, etc) Duvida Efeito adverso pela imobilização: ↑ FC Isquemia cutânea (úlcera por pressão) Dor Biomecânica do trauma Cinemática do trauma para suspeição Avaliação rápida para indicar imobilização TÉCNICA DE IMOBILIZAÇÃO 1- Alinhar cuidadosamente e estabilizar cabeça, manter apoio e estabilização 2- Avaliação primária 3- Verificar capacidade motora, sensorial e circulação em extremidades 4- Examinar pescoço 5- Prancha curta ou colete, manobra de retirada rápida se estiver em veículo, prancha rígida se estiver no chão 6- Imobilizar tronco, depois pelve 7- Avaliar necessidade de acolchoar a área atrás da cabeça (adulto) ou tórax (criança) 8- Imobilizar cabeça na posição alinhada e neutra (Head Block + Fixadores) 9- Imobilizar MMIIs (evitar rotações e abduções) 10- Proteger os MMSSs (fixar à prancha ou cruzar sobre tronco) 11- Reavaliar exame primário e capacidade motora, resposta sensorial e circulação em extremidades. 25 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE TÉCNICA DE IMOBILIZAÇÃO Contraindicação de alinhamento de cabeça: Resistencia ao movimento Espasmo muscular Aumento da dor Início ou aumento de um déficit neurológico Comprometimento da via aérea ou ventilação COLARES CERVICAIS RÍGIDOS - Único e principal objetivo é proteger coluna contra compressão. - Aplicado após posição alinhada neutra da cabeça - Limitam a flexão em 90% extensão, inclinação lateral e rotação em 50% - Rígido ≠ macio Colar eficaz: apoiado no tórax, coluna torácica, clavícula e trapézio - Tamanho adequado, pequeno não tem utilidade e pode comprimir vasos do pescoço com aumento da pressão intracraniana. Grande causa hiperextensão e tração da coluna, ou movimento total se mento dentro do colar - colocar cobertor ou toalha se cabeça não puder ser alinhada - Deve permitir abertura de mandíbula no caso de náusea ou vômitos, evitando broncoaspiração. MANUTENÇÃO DO ALINHAMENTO NEUTRO DA CABEÇA - Geralmente fica em posição inadequada após alinhamento em posição neutra - Na maioria dos adultos existe um espaço entre a parte posterior da cabeça e do dispositivo na posição neutra - Ocorre hiperextensão - Deve acolchoar para reduzir este espaço e alinhar coluna vertebral - Nas crianças até 7 anos a cabeça é maior que o resto do corpo, quando está em posição neutra ocorre flexão. Acolchoar tronco para manter a coluna alinhada e neutra ERROS MAIS COMUNS NA IMOBILIZAÇÃO 1- Imobilização inadequada 2- Tamanho inadequado ou aplicação inadequada do colar cervical 3- Imobilização com a cabeça em hiperextensão (falta de acolchoamento) 4- Imobilizar a cabeça antes do tronco ou reajustar as faixas após fixação da cabeça 5- Acolchoamento inadequado (desconforto e lesão secundária) 6- Colocar em imobilização da coluna sem critérios AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA Como confirmar a presença ou ausência de uma lesão importante da coluna espinhal? A associação de um exame clínico cuidadoso e uma avaliação radiológica completa é fundamental na identificação de uma lesão de coluna. Radiografia: Avaliar a coluna vertebral nas incidências anteroposterior (AP) em perfil e transoral. TC = possibilita o diagnóstico de fraturas ocultas, estabilidade e se há compressão RMN = maior detalhamento de partes moles. CERVICAL Radiografias da coluna cervical são indicadas para todos os doentes traumatizados portadores de dor na linha média do pescoço, sensibilidade à palpação, défices neurológicos relacionados à coluna cervical, alteração do nível de consciência, suspeita de intoxicação ou mecanismo de trauma significativo que cause lesão que desvie a atenção. Existem duas opções para a avaliação radiológica. Em locais com tecnologia disponível, deve-se realizar uma tomografia axial com cortes finos desde o occipício até T1, com reconstruções sagital e coronal. Em locais onde esse exame não está disponível, deve ser realizada radiografia nas incidências lateral, anteroposterior (AP) e transoral para identificação do odontoide. Na incidência lateral devem ser visualizadas a base do crânio, todas as sete vértebras cervicais e a primeira vértebra torácica. Ao realizar o exame 26 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE radiológico com incidência lateral da coluna, pode ser necessário puxar para baixo, caudalmente, os ombros do doente, para que não passem despercebidas fraturas ou fraturas-luxações nas vértebras cervicais mais baixas. Quando não for possível a visualização de todas as sete vértebras cervicais na radiografia lateral convencional, deve ser feita uma radiografia em posição de nadador para examinar a região cervical inferior e torácica superior. A incidência transoral para visualização do odontoide deve incluir o processo odontoide por inteiro e as articulações direita e esquerda de C1 e C2. A incidência anteroposterior da coluna cervical pode permitir a identificação de luxações unilaterais das facetas articulares mesmo quando a radiografia lateral não mostra anormalidades ou sugere apenas luxações de pequena monta. Imagens axiais de tomografia computadorizada com cortes finos também devem ser realizadas em áreas suspeitas, identificadas nas radiografias simples ou no segmento inferior da coluna cervical, caso ele não seja adequadamente visualizado nessas radiografias. Imagens axiais de tomografia computadorizada no nível de C1 e C2 podem ser mais sensíveis do que as radiografias na detecção de fratura dessas vértebras. Se as imagens forem de boa qualidade e adequadamente interpretadas, as lesões instáveis da coluna cervical serão detectadas com uma sensibilidade superior a 97%. Antes que a série de radiografias seja considerada normal e que o colar cervical seja removido, ela deve ser revisada por um médico experiente na interpretação adequada desses filmes. A tomografia computadorizada pode ser usada no lugar de radiografias simples para avaliação da coluna cervical. E possível que um doente apresente uma lesão puramente ligamentar, que resulte em instabilidade sem nenhuma fratura associada, embora estudos recentes sugiram que, caso as radiografias da coluna cervical em 3 incidências e o exame tomográfico complementar sejam verdadeiramente normais (por exemplo, sem edema anterior de partes moles e sem angulação anormal), é improvável a existência de instabilidade importante. Doentes com dores cervicais e imagens normais devem realizar ressonância magnética ou radiografias com extensão-flexão ou ser tratados com colar cervical semirrígido por 2 a 3 semanas com a repetição de exames sequenciais clínicos e de imagem, se necessário. A radiografia em flexão-extensão da coluna cervical pode detectar instabilidade oculta ou determinar a estabilidade de uma fratura conhecida, tal como uma fratura laminar ou por compressão. Em nenhuma circunstância, o pescoço do doente deverá ser forçado em posição na qual haja dor. Todos os movimentos devem ser voluntários. Esses filmes devem ser obtidos sob supervisão direta de um médico experiente na interpretação desse tipo de exame. Em alguns doentes portadores de lesão importante de partes moles, o espasmo dos músculos paraespinhais pode limitar de maneira significativa o grau de extensão e flexão que o doente tolera. Nesses casos, o doente deve ser tratado com um colar cervical semirrígido por 2 a 3 semanas antes de repetir qualquer tentativa de radiografias em flexão e extensão. A ressonância magnética parece ser o exame mais sensível para detectar lesões de tecidos moles em até 72 horas após a lesão. Entretanto, faltam dados que correlacionem a instabilidade da coluna cervical com achados positivos na ressonância magnética. Aproximadamente 10% dos doentes com fratura de coluna cervical apresentam também uma segunda fratura de coluna vertebral não contígua. Esse fato justifica uma varredura radiológica completa de toda a coluna em qualquer doente que tenha fratura de coluna cervical. Tal varredura é também recomendada em todo doente traumatizado que esteja em coma. Na presença de défices neurológicos, a ressonância nuclear magnética (RNM) é recomendada para detectar qualquer lesão por compressão de partes moles, como hematoma extradural ou hérnia de disco traumática, que não podem ser detectados nas radiografias simples. A RNM também detecta contusões ou rupturas da coluna espinhal e lesões de partes moles e de ligamentos paraespinhais. Entretanto, a RNM é frequentemente impossível de ser feita em doentes hemodinamicamente anormais. Nessas circunstâncias, ou quando o equipamento não está disponível, a presença de uma compressão aguda da medula causada por hérnia de disco traumática ou hematoma extradural pode ser excluída pela mielografia por tomografia computadorizada. Esses estudos especializados comumente são realizados a critério de um cirurgião de coluna. COLUNA TORÁCICA E LOMBAR As indicações para a realização de radiografias torácicas e lombares são as mesmas que as utilizadas para a coluna cervical. Quando disponível, pode ser utilizada uma varredura tomográfica da coluna torácica e lombar como triagem inicial. Radiografias anteroposteriores e laterais, junto com cortes axiais de tomografia computadorizada, realizadas em áreas suspeitas, diagnosticam mais de 99% das lesões instáveis. O alinhamento vertical dos pedículos e a distância entre os pedículos de cada vértebra lombar e torácica devem ser observados na incidência anteroposterior. As fraturas instáveis frequentemente provocam aumento da distância interpedicular. As incidências laterais detectam subluxações, fraturas por compressão e fraturas de Chance. A TC é um método de imagem particularmente útil para detectar fraturas dos elementos posteriores (pedículos, lâmina e processos espinhosos) e para determinar o grau de compressão do canal provocada pelas fraturas com explosão. As reconstruções sagitais das imagens axiais da tomografia computadorizada ou a tomografia simples podem ser necessárias para diagnosticar as fraturas de Chance de forma adequada. Antes de retirar as imobilizações e proteções da coluna, uma série completa de radiografias de boa qualidade deve ser considerada normal após análise e interpretação adequada por um médico habilitado, à semelhança do que é feito com a coluna cervical. Entretanto, devido à possibilidade de úlcera por pressão, a remoção desses doentes da prancha longa NAO deve aguardar pela interpretação final dessas radiografias. 27 Letícia M. Dutra - Preensão e Locomoção: Plexos, TRM, Bexiga neurogênica e TCE TRATAMENTO ESPECÍFICO Corticoterapia: (minimiza a resp. inflamatória – predispõe a infecções) - Iniciar nas primeiras 8 horas do trauma - Se iniciar até 3 horas, manter apenas 24 horas - Se iniciar após 3 horas, manter por 48 horas - Metilprednisolona 30 mg/Kg na 1ª hora e 5,4 mg/Kg/hora na próximas 24 a 48 horas Risco: Imunossupressão e TVP (Iniciar profilaxia precoce – Enoxaparina, rivaroxabana) Principalmente em TRM de Cervical - C cirurgia nas 1ªs 24 horas - T e L: não é comprovado a urgência em cirurgia Abordagem multidisciplinar: TTO cirúrgico; Intercorrências clínicas; Fisioterapia; Cuidados de enfermagem; Apoio psicológico TRATAMENTO CIRÚRGICO - Cirurgia precoce (<72 horas) diminui incidência de complicações pulmonares e maior chance de recuperação neurológica - Redução de fraturas e luxações precoces - Descompressão medular - Estabilização: Mobilidade precoce e Reabilitação - Terapia com cél-tronco: Cavitação preenchida com cél pluripotenciais Recuperação de padrão de condução nervosa Antigamente quando ocorria um trauma na medula o paciente era apenas imobilizado no hospital até poder receber alta. No entanto, hoje os avanços da medicina melhoraram significativamente o tratamento dos pacientes com lesão medular e resultaram em uma melhora na qualidade de vida. Assim, quando ocorre o trauma na
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