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1 NÃO É SÓ A LEITURA, TAMBÉM É O CONTEXTO Aluno: Adriano Jonathan M. de P. Oliveira1 Tutor(a): Angela Cristina de Souza Rego2 RESUMO A educação é o ponto chave para a formação de um cidadão, enquanto aluno, ele precisará ater-se de competências que o transformarão; dentre elas, estão a leitura e a produção textual, que são de suma importância para o aprendizado efetivo. Mas para isso, o verdadeiro aprendizado não deve ser construído por mera decodificação de signos. A relevância de uma boa aprendizagem está no desenvolvimento embasado nos contextos em que os textos a serem lidos ou construídos estariam inseridos; partindo deste ponto, este artigo trata a importância do trabalho do educador no que se refere à interação com seus alunos e os métodos para que eles evoluam da competência alfabetizada à letrada. Neste cenário, foram avaliadas as relações professor/ aluno e teorias desenvolvidas e as diversas formas de aplicação de métodos que contribuem para que os jovens possam compreender a importância do contexto em seu aprendizado de interpretação e produção de sentenças escritas. Tendo base bibliográficas as obras de Émile Durkheim (1858 – 1917), Paulo Freire (1921 – 1997), Magda Soares e Lev Vygotsky (1896 – 1934) Palavras chaves: Leitura; Produção Textual; Aprendizado; Contexto; Letramento. 1 Aluno concludente do curso de Licenciatura em LETRAS, Língua Portuguesa da Instituição de Ensino Superior Estácio de Sá. 2 Professor(a) Orientador(a) do artigo da Instituição de Ensino Superior Estácio de Sá. 2 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tratará o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos de Língua Portuguesa (LP) em aulas de Leitura e Produção textual, com o objetivo de mostrar como o professor de Língua Portuguesa pode trabalhar os conteúdos para desenvolver a seus alunos a competência letrada. Entende-se que a leitura é algo importante no processo de aprendizagem. Ao longo da história, foi, e ainda é, instrumento de assimilação e transmissão de conhecimento de filósofos, sociólogos, matemáticos e muitos outros estudiosos de tantas outras áreas; sem ela, seríamos incapazes de compreendermos e produzirmos bons textos Portanto, quais os desafios do professor de língua portuguesa no processo de ensino-aprendizagem, de modo a conduzir aos alunos à competência letrada? A problematização deste tema norteia a importância do aluno de se tornar um indivíduo capaz de buscar o conhecimento a partir da leitura, e de como ela contribui com base no acesso aos diferentes tipos e gêneros textuais. Ao inserir saberes inerentes à sua formação, que trarão esclarecimento sobre as coisas relevantes do mundo, para o desenvolvimento pessoal e profissional e suas responsabilidades perante a sociedade, gozando dos direitos à cidadania. Este artigo foi construído por meio de pesquisa bibliográfica e online, visando teorias e métodos que o embasem para melhor verificação e comprovação da problematização sobre o tema proposto. De modo qualitativo buscou-se identificar as atribuições do professor de Língua Portuguesa no processo de desenvolvimento das competências de leitura e produção textual de forma contextualizada, analisando a importância do conhecimento de mundo e de como desenvolvê-lo aos educandos. A partir do conceito de letramento, o objetivo aqui traçado é de como o educador pode usar métodos e materiais para fomentar o seu trabalho em ensino-aprendizagem, levando em consideração teorias de autores consagrados por suas contribuições na área da educação e pedagogia. A relevância do tema delimitado consiste na relação de ensino-aprendizagem e a contextualização trabalhada em leitura e produção de textos, nas escolas públicas brasileiras, nos segmentos de 6º ao 9º ano do ensino fundamental, e de como o 3 educador pode conduzir os conteúdos aos educandos de forma eficiente e satisfatória no processo, a saber que a relação dentro do ambiente de ensino-aprendizagem é fundamental, já que é a partir dos estímulos aplicados pelo tutor e as experiências vividas com os colegas de turma serão relevantes à aprendizagem. Ao se perceber a prática educativa enquanto promovedora de cidadania, aumenta-se a preocupação para o rumo que a educação tem traçado nas últimas décadas no Brasil. As estatísticas, evidentemente, têm apresentado quadros alarmantes de rendimento negativos nas escolas brasileiras em todas as áreas, principalmente em Leitura e produção de texto, que são os pilares para o desenvolvimento tanto em LP, quanto nas outras disciplinas. Fica notoriamente claro que tais problemas se devem ao defeituoso sistema de governo nos estados brasileiros, por não darem suporte adequado às escolas publicas, e não a metas a serem cumpridas pelo sistema educativo. As gerações das últimas décadas tem se distanciado da Leitura, isso é resultado da má administração política a longo prazo. Em contrapartida, o professor enquanto condutor da cidadania, não permitirá que os fatores que auxiliam no retrocesso do desenvolvimento dos educandos interfiram no seu trabalho. O empenho e compromisso do docente para com a educação vai muito além de tais questões. A sua objetividade e esforço de transformar os indivíduos em seres capazes de pensar com responsabilidade e senso crítico, contribuirá com que tenhamos um país melhor no futuro. 4 2 CONTEXTUALIZANDO O TEXTO 2.1 LEITURA, LETRAMENTO E O PORQUÊ DE SER LETRADO 2.1.1 Leitura, para muitos, leitura se dá à decodificação de uma unidade composta por grafemos ( palavras, frases e parágrafos ), no entanto, leitura se dá à capacidade que temos de entendermos uma unidade dotada de significado, também chamada de texto, seja ela um grafema3, um desenho, ou expressão ( faciais, gestuais e linguísticas ) e etc. Ao longo da nossa capacitação linguística – de criança até a fase adulta – temos acessos à inúmeras formas de leituras, que são necessárias para que as comunicações em sociedade. Na escola precisamos desenvolvermos a capacidade linguística através da escrita, que é a forma de se representar graficamente algo que é falado, visto e nomeado. Entender que a leitura não é algo restrito permiti-nos ampliar nossa capacidade de interpretação. Portanto, a leitura é uma das ferramentas que usamos para termos acesso aos mais variados meios de informação, seja na transposição, internalização de um conteúdo. Muitas vezes, sem que percebamos, a transitividade que a leitura agrega ao nosso dia a dia é constante. Ao longo da história, as sociedades são influenciadas a todo momento, pelas diversas formas de leituras que seus falantes as utilizam. Tendo como base o estudo bibliográfico aqui realizado para a fomentação deste artigo, pôde-se dizer que, para nos tornarmos bons leitores, precisamos perceber que a leitura vai muito além de textos escritos; ela acontece em tudo aquilo que temos acesso, nos mais variados cenários. Se tornar um cidadão esclarecido, capaz não só de ler o que lhe é exposto, mas compreender, depende muito do processo pelo qual o indivíduo passará ao longo de sua formação acadêmica. Para muitos falantes, “Leitura” é algo restrito à palavra, frases e textos, mas se todos tivessem a ideia da dimensão de tal prática, não a ignorariam tanto. Em “A importância do ato de ler: em três artigos que se completam”, Paulo Freire ( 2007, p.18-22 ) nos fala, a partir de sua visão e experiências da infância, juventude e mocidade, de como se dá a Leitura, e de que maneira ela se estabelece em nossas 3 Unidade de um sistema de escrita que, na escrita alfabética, corresponde às letras (e tb. a outros sinais distintivos, como o hífen, o til, sinais de pontuação, os números etc.), e, na escrita ideográfica,corresponde aos ideogramas. 5 vivências. Para ele, o processo de Leitura dos indivíduos acontece muito antes de frequentarmos a escola; tais Leituras se estabelecem a partir das percepções que temos sobre tudo aquilo que estão à nossa volta, algo que também pode ser chamado de “Leitura de mundo”. Freire esboça seu encantamento por relembrar períodos em que sequer conhecia a Leitura da palavra, mas que ali, em seu ato de escrever, relembra as outras Leituras daquela época. A genialidade do método e a forma de descrever suas vivências para levar aos seus leitores o confrontar com a Leitura, o significado, a realidade e a maneira de como coexistimos com nossas capacidades, e para trazer-nos a reflexão e a relação entre a palavra, às circunstâncias, os contextos e o conhecimento de mundo, que é estabelecido, desenvolvido e atualizado com o passar de nossas experiências. Ora, imagine uma criança ou jovem que não tenha em si o interesse de observar as mínimas coisas ao seu redor, ou que simplesmente dê atenção a coisas efêmeras que não contribuem em nada ao seu desenvolvimento; a tarefa de pessoas mais experientes, como o professor, é de estimula-lo, valendo-se de recursos dentro da realidade vivida pelo indivíduo. Em sala de aula, os recursos mais usados são as tipologias e gêneros textuais, que devem estar de acordo com o contexto vivido pelo jovem, para que ele possa enxergar e entender o mundo a sua volta, e que a partir dele (o conhecimento de mundo) possa ter competência linguística para compreender outros textos e buscar e desenvolver seus textos. 2.1.2 De acordo com a professora, pesquisadora e percursora dos estudos relacionados à alfabetização e letramento, Magda Soares, em um vídeo publicado em um canal de YouTube: “[...] o letramento, que é aprender a produzir textos, a ler e compreender o que lê, a ajustar o texto que escreve, para quem escreve, em que contexto escreve e com que objetivo escreve e saber identificar e lidar com diferentes gêneros de textos, isso é letramento”(SOARES, 2016); 6 Na citação anterior, percebemos que o letramento é um processo complexo, não algo complicadíssimo de ser depreender, mas sim, algo que depende do trabalho mútuo entre professor e aluno, ao longo do desenvolvimento. Se Magda Soares nos diz, no trecho acima, que letramento se dá a capacidade de identificar gêneros de texto, manusea-los, produzi-los e emprega-los de modo intencional e objetivo; concluímos que o letramento é uma característica necessária para a não alienação. A leitura informa e ajuda-nos a construir pensamentos, ideias e opniões. O nosso intelecto precisa de estímulo para desenvolver-se; é através do desenvolvimento que adquirimos a capacidade de ler, mas não é a capacidade de decodificação e significado de um palavra, mas sim, todo entendimento que é retido por intermédio de uma série de fatores que contribuem para a interpretação definitiva de um texto; assim como nos fala o trecho a seguir: “Um leitor competente sabe selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a suas necessidades, conseguindo estabelecer as estratégias adequadas para abordar tais textos. O leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos.”(BRASIL, 1998, p.70) 2.1.3 Partindo dessa premissa, percebe-se o quão valioso é que os discentes tenham ensino de qualidade. Uma vez letrados, via regra, são de suma importância na sociedade a que fazem parte. Então, tornar-se letrado permite-nos melhor inserção na sociedade; isso significa que somos capazes de entendermos o que acontece a nossa volta, a tornarmos decisões responsáveis no que diz respeito à Política, melhores capacitações, empregabilidade e etc. veja ainda: “Cada sociedade fixa um certo “ideal do homem”, do que ele deve ser, do ponto de vista intelectual, físico e moral, sendo esse ideal o próprio polo que norteia a educação”(DURKHEIM, 2010. p.15) 7 2.2 INTERAÇÃO E MEDIAÇÃO: A escola, enquanto espaço de socialização, tem o papel de fornecer um ambiente propício a inserção dos alunos para que eles possam se habituarem com mais facilidade; é neste cenário em que os alunos aprendem a se inteirar com o outro (os colegas de classe, professores, inspetores e etc); a partir dessa experiência, durante todo período escolar, ele desenvolverá competências comunicativas para suas experiências futuras ( no trabalho, Universidade e outros. O que precisamos perceber, é que além de um espaço de aprendizagem de matérias , os jovens aos poucos vão aprendendo a importância da comunicação, do entendimento, do respeito e dos valores, que agregados aos conhecimentos de mundo que são desenvolvidos com o passar do tempo, como nos fala o fragmento a seguir “Ora, toda disciplina possui um duplo objetivo: promover certa regularidade na conduta dos indivíduos e atribuir fins de determinados a essa conduta, o que ao mesmo tempo limita seu horizonte ”( DURKHEIM, 2008, p.64). Antes de mais nada, o docente deve ter um olhar esclarecido para todo o contexto em que ele está inserido; saber como funcionam os projetos político- pedagógico na instituição; conhecer à(s) turma(s) que ele acompanhará, quais os tipos de avaliação poderão ser feitas durante o processo de desenvolvimento e buscar métodos que trarão melhores resultados. Assim sendo, o educador com o norte traçado terá base para alcançar objetivos efetivos: “Para tanto, é necessária uma “cultura psicológica”, que possibilitará ao mestre determinar as atitudes pertinentes para o cumprimento de sua “missão”. Os modelos pedagógicos devem levar em conta a psicologia da criança, que nos ensina, por exemplo, que a criança não é fundamentalmente nem egoísta, nem altruísta. Por outro lado, ensina-nos que a criança “entra naturalmente em comunicação com os outros”, qualidade que é preciso saber utilizar. Esses modelos devem também incorporar estudos sobre os grupos, que mostram como indivíduos associados constroem, espontaneamente, um psiquismo coletivo. [...] Dois pontos retêm particularmente a atenção no discurso durkheimiano: a influência do que ele chama de “meio escolar” sobre a educação social e cívica do aluno e a necessidade para o mestre de encontrar o meio-termo justo, entre o laissez-faire anárquico e seu próprio abuso do poder.”(DURKHEIM, 2010, p.26) 8 Nós seres humanos temos a capacidade de nos desenvolvermos de acordo com as nossas necessidades pessoais e sociais, e embora esta característica seja inata, muito do nosso desenvolvimento acontece com base nas influências que os ambientes nos proporcionam. O estudioso e pensador Russo Lev Vygotsky(1896-1934), que foi pioneiro e propulsor dos estudos relacionados ao desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes, desenvolveu uma teoria chamada de “ZDP (zona de desenvolvimento proximal)” ou contemporaneamente falando ZDI (zona de desenvolvimento iminente). Tomando como base o trecho do seguinte artigo retirando de um site da internet baseia-se teoricamente: “A observação do contexto psicológico criado pela criança e pelo adolescente, comparada às informações obtidas na literatura, permite-nos alavancar a afinidade com a construção de conhecimento e a habilidade de mediar situações-problema para atingir importantes objetivos ligados à formação acadêmica, pessoal e profissional de nossos alunos. Assim, a compreensão e utilização da Zona de Desenvolvimento Proximal é fundamental para a prática pedagógica.”(SILVA, [2017?]). Partindo do pressuposto da citação inferimos que a contribuição de alguém mais experiente norteará a assimilação, assim como o professor de Língua Portuguesa, em aulasde produção textual, precisará se valer de uma série de situações que estimulem o pensar para levar os discentes a compreender os conteúdos propostos. Desse modo, se a ZDP é a relação de direcionamento e compreensão de conteúdos que permeiam o aluno, o porquê não usarmos a ZDR ( zona de desenvolvimento real) dos alunos, de modo geral, para melhor compreensão do que se pretende ensinar ? Então, mas o que seria essa zona de desenvolvimento real ? Assim como a ZDP atua como mediação auxiliar de aprendizado, a ZDR é aquela que já pertence à criança e ao adolescente; é tudo aquilo que eles fazem sem auxílio de outra pessoa. Para tanto, respondendo à primeira indagação acima, se o aluno é habituado a ler sites da internet, gibis, conversas e postagens de redes sociais, pode-se dizer que isso faz parte da sua zona de desenvolvimento real; assim sendo, o educador pode trazer à sala de aula um texto retirado de uma página de rede social, uma conversa de WhatsApp, um vídeo de YouTube e tantas outros canais de entretenimento usados por eles, para assim mostrá-los como a adequação da língua 9 em seus contextos acontece, como aconteceria em outros cenários e dando foco aos contextos, porque assim a leitura, interpretação e produção não ficariam desarmônicos e descontextualizados. Segundo o Ministério da educação, em os Parâmetros Curriculares Nacionais em Língua Portuguesa do 5ª ao 8ª ( 1998, p.67 ), o professor mais do que um canal de transmissão de conhecimentos, é o detentor da responsabilidade da formação de cidadãos; levando em consideração o fato de que o seu estudo e atualização de conteúdos dentro da área disciplinar deve ser constante. Sua participação contínua em programas que viabilizem a eficácia no que diz respeito à aplicação de métodos, conceitos e teorias para fomentar o seu trabalho fazem parte do ser professor. O comprometimento com a educação o levará a alçar novos patamares em prol do desenvolvimento não só do aluno, mas o seu também. Fica claro que para suprir as demandas o aluno precisará saber lidar com os registros variados dos textos usados no cotidiano, principalmente com aqueles mais formais, mais próximos do modelo ideal linguístico. Ele deve depreender-se, pelo contexto social, as variedades linguísticas com que se têm acesso e respeitá-las. O olhar crítico do aprendiz deve ser cativado para que consiga compreender a língua como mediadora de todos os valores e expressões culturais. O educando deve encarar a linguagem também como meio privilegiado de se ter acesso aos conhecimentos indispensáveis para sua formação, e produzi-los sempre que necessário. O entendimento do funcionamento da linguagem deverá leva-lo a valorizar a leitura como fonte de informação e de fruição estética, assim como meio de ampliação de zona cultural. “Avaliar o letramento por meio de levantamento das competências reais de uma amostra representativa da população, isto é, levantamento realizado por amostragem, é uma alternativa para assegurar uma aferição mais precisa da extensão e qualidade do letramento na população.”(SOARES, 2008, p.103) 10 2.3 O TEXTO E O CONHECIMENTO DE MUNDO Há quem diga que o ato de leitura é uma tarefa fácil, mas se engana quem tenha esse pensamento estabelecido; ler é um processo complexo, que sempre dependerá de uma visão ampla, dotada de conhecimentos técnicos. Tais conhecimentos serão suplementados durante a aprendizagem; por isso, a importância de se estudar tantas áreas da língua portuguesa, inclusive a gramática, veja: “Pensamos que o professor pretenda ver discutida a questão da gramática enquanto conjunto de normas que regulam o uso de uma língua (gramática normativa). Nota-se, contudo, que qualquer língua do Mundo é constituída por um reduzido número de sons e por um conjunto de regras de utilização desses sons isoladamente ou formando palavras e frases. Ao conhecimento dessas regras também se pode chamar gramática.”(ROCHA, 2008). É consideravelmente indiscutível a importância do estudo da Gramática para que tenhamos base ao se analisar um texto, assim como esta prática contribui no processo discursivo, assim como nos diz os PCNs (parâmetros curriculares nacionais) de Língua Portuguesa, veja: “Tomando-se a linguagem como atividade discursiva, o texto como unidade de ensino e a noção de gramática como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua linguagem, as atividades curriculares em Língua Portuguesa correspondem, principalmente, a atividades discursivas: uma prática constante de escuta de textos orais e leitura de textos escritos e de produção de textos orais e escritos, que devem permitir, por meio da análise e reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua competência discursiva.”( BRASIL , 1998, p.27) Vale ressaltar que à medida em que estivermos expostos a uma unidade de significado, ou seja, um texto, todas as partes precisam ser consideradas no ato de interpretação, assim como expressa o trecho “O texto é visto como um sistema de conexões entre vários elementos tais como: sons, palavras, enunciados, significações, participantes, contextos, ações, etc.;”(MARCUSCHI, 2008, p. 80). Inferi-se que todo texto a partir de seus elementos possuí o seu contexto, que também dependerá do conhecimento de mundo de cada emissor e receptor, ou seja, 11 quanto maior o conhecimento de mundo, maior será a habilidade para produção e interpretação. Paulo Freire, um dos grandes nomes de contribuição à educação e a Política Brasileira e que também influenciou com sua inteligência e métodos de aplicação outros países da América, África e Europa, tinha como marca em seu trabalho a importância de como se estabelecer uma relação dialética entre professores e alunos. Para ele, a educação permeia tanto o educando quanto o educador, um aprendendo com que outro; sua obra enfatiza o valor do conhecimento de mundo que os alunos desenvolvem; em uma de suas varias citações no livro “A importância do ato de ler”, diz: “[...]; dizer algo do processo enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente - a “reler” experiências fundamentais de minha prática, guardados na memória desde as experiências mais remotas da minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica do ato de ler se veio em mim construído”(FREIRE, 2017b, pág 18). Em tese, diríamos que as palavras de Freire relatam que nós indivíduos, em tudo que vivemos, fazemos, produzimos, partilhamos e compartilharemos no mundo, nos leva ao conhecimento de mundo; para tanto, esse conhecimento deve ser explorado, desenvolvido e não limitado a áreas de conhecimentos, ambientes de nossas vivências e etc, 12 2.4 O CONTEXTO É O TODO Abriremos a discursão dos próximos parágrafo com a intenção de apresentar argumentos que sinalizem a inteiração dos envolvidos no processo de ensino aprendizagem e a contextualização dos textos. Quando pensamos em ensino-aprendizagem, o objetivo e os métodos devem ser adaptáveis e transversais. Ainda sim, mesmo que o papel do professor seja criar situações-problema, mediar conteúdos e desenvolvercompetências, não é possível fazer isso de forma direta, ou, pelo menos, não em todos os cenários. Com base no contexto social, as práticas de aplicação de aprendizagem devem acompanhar os seus cenários, e a análise de tais, devem ser feitos e traçados junto à escola. Ao termos acesso a um texto, temos a possibilidade de analisá-lo com base nos nossos conhecimentos adquiridos, e para isso, tais devem ser bem construídos, pois do contrário, não conseguiríamos obter entendimento satisfatório. O contexto é formado por partes, partes importantes que juntas trazem mensagens aos seus receptores. Se o leitor estiver acompanhando um determinado texto e alguma dessas partes não for percebida, todo o entendimento estará comprometido, dando vez a outras interpretações e até mesmo tornando-o incoerente; vejamos o exemplo: • A)Exemplo: O aluno, com maior dificuldade de aprendizado, se saiu bem ao realizar a prova. • B)Exemplo: O aluno se saiu bem ao realizar a prova • C)Exemplo: O aluno com maior dificuldade de aprendizado. • D) Exemplo: Com maior dificuldade de aprendizado, se saiu bem ao realizar a prova. 13 No exemplo A, tem-se duas informações a respeito do aluno; já no exemplo B, foi retirada uma informação e no C, a outra. Quando paramos para analisarmos o último exemplo, D, algumas partes fazem sentido, mas no ato da leitora não conseguimos obter uma informação clara, precisa e coerente. Então, percebemos que ao tirarmos partes do primeiro exemplo, o seu sentido foi modificado; imaginem, então, se à medida em que estivermos lendo uma frase ou parágrafo, por mera falta de atenção, uma parte seja perdida, se não retomarmos a leitura, a interpretação será definida sem àquele parte. Concluí-se que o contexto dos textos lidos exigem atenção, para que se possa obter interpretação precisa. O ensino deve consistir em criar dinâmicas, aplicar métodos, propor desafios e estimular competências linguística dos alunos através dos diferentes tipos textuais, criando-se um paralelo com seus respectivos gêneros. Quando se imagina como desenvolver os alunos a partir da linguagem, talvez surjam tantas dúvidas: • No primeiro momento, os métodos usados devem priorizar o contexto social, cultural e linguístico; • Em segundo, selecionar os materiais que de acordo com os itens acima se adequem à realidade dos alunos; • Posteriormente, verificar a melhor forma de se aplicar os conteúdos, previamente e planejadamente selecionados; A base do conceito de letramento também se aplica ao professor, pois ele terá que verificar os gêneros que se adequem da melhor forma ao tipo de aula que ele pretende mediar; trabalhando de forma consciente e objetiva de acordo com o desenvolvimento dos alunos: acompanhando a Leitura e a produção de texto, e alertado-os para possíveis inadequações. Por isso a importância de se trabalhar gêneros, como: • Notícia, relato, anúncio...; • Romance, crônica, conto...; • Ensaio, artigo, resenha...; • Seminário,palestra,entrevista...; • Propaganda, regulamento, manual de instruções...; 14 “Qualquer processo de avaliação ou medição exige uma definição precisa do fenômeno a ser avaliado ou medido. Sem dúvida, a maior parte das dúvidas e controvérsias em torno de levantamentos e pesquisas sobre níveis de letramento têm sua origem na dificuldade de formular uma definição precisa e universal desse fenômeno e na impossibilidade de delimitá-lo com precisão. Essa dificuldade e impossibilidade devem-se ao fato de que o letramento cobre uma vasta gama de conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos e funções sociais; conceito de letramento envolve, portanto, sutilezas e complexidades difíceis de serem contempladas em uma única definição. Isso explica por que as definições de letramento diferenciam-se e até antagonizam-se e contradizem-se: cada definição baseia-se em uma dimensão de letramento que privilegia. Confrontem-se estes dois autores:”(SOARES, 2009, p.65-66). Quando se entende como funcionam os gêneros textuais, e porque de usá-los, nossa compreensão linguística dispara, fazendo-nos capazes de entender até mesmo os que não usamos no cotidiano. Assim sendo, se podemos lidar com os diversos gêneros, somos então letrados, e se somos letrados, ao lermos um texto, do mais simples ao mais complexo, a interpretação é só uma questão de uma boa leitura. Munidos de tal competência letrada, o contexto dos diversos tipos de textos torna-se algo impossível de não se perceber. 3 EDUCAÇÃO BRASILEIRA: PONTO DE VISTA ECONÔMICO-SOCIAL A educação brasileira rasteja rumo ao que se espera de um país em desenvolvimento. Uma das áreas que deveria receber mais atenção dos governos, devido à sua importância e contribuição com a sociedade, formando cidadãos, sofre com a má distribuição dos investimentos. De acordo com Denise Drechsel(2016) em um artigo publicado no site Gazeta do Povo, em parceria com o Educa mais Brasil, o Pisa4, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, é uma iniciativa avaliativa comparada que atua aplicando provas em séries do Ensino Fundamental da rede pública. Segundo ela, em 2015, o Pisa avaliou jovens de 15 anos em 72 países, e ainda sim, o Brasil obteve péssimo resultado, ficando entre os piores. As provas 4 Programme for International Student Assessment. 15 avaliaram as áreas de ciências, matemática e leitura. Ficando leitura, pertinente a Língua Portuguesa, em 59ª, com média de 407, enquanto as nações mais bem colocadas tiveram 493. Comparado aos anos anteriores, o Brasil não apresentou melhora significativa de desenvolvimento, mesmo tendo subido 11 pontos desde o ano 2000. De 2012 a 2015 houve o aumento de 10% da média de gasto de distribuição por alunos da OCD 5 . Ainda sim, o Brasil obteve um dos piores rendimentos comparado a outros países. A autora ainda relata que embora o País faça investimentos, eles são administrados de maneira inadequada, onde boa parte dos recursos são destinados ao Ensino Superior, que nem todos conseguem cursar, ao invés de investirem nos ensinos fundamental e médio. O Brasil se perde cada vez mais, ao invés de fazer reformas qualitativas para o avanço da educação, se afunda em mais e mais metodologias que não garantem o resultado esperado. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os fatores e processos linguísticos relatados ao longo deste artigo, vimos que as suas contribuições no aprendizado e a composição de leitura e produção textual são extremamente relevantes a aprendizagem, não só de Língua Portuguesa, mas também em outras áreas de ensino; ao depreender-se de tais conceitos, o individuo transcende sua alfabetização; nota-se que para se ler e escrever um bom texto não é simplesmente ter no papel um amontoado de palavras. Ler e produzir um texto é uma tarefa difícil, que demanda esforço do aluno, do professor, a compreensão dos gêneros e análise do contexto social. Em suma, fica evidente que a objetivação do aprendizado efetivo sobre o tema aqui abordado é essencial para os indivíduos. Não é apenas ler, ou meramente escrever um texto; é ler através do subentendido, do implícito e também do contexto 5 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 16 como um todo; é produzir com um objetivo, para um público alvo, com a intenção de nortear, incentivar, informar, conduzir, narrar, didatizar e sobretudo aprender. Conclui-se, então, que o aprendizado de tantas outras áreas, a atualização e aquisição de conhecimento, o agir perante a sociedade e a percepção dos males que sondam a discriminação e utilização da informação, e de que forma usar a competência discursiva diante das cúpulas sociais que vivem sob o manto da ignorância e alienação,dependem unicamente do aprendizado, do traço libertador de se tornar esclarecido, capacitado linguisticamente, não só um reprodutor de signos gráficos e leitor de palavras e frases descontextualizadas, mas sim, ser esclarecido, mais que alfabetizado, se um indivíduo letrando. 17 5 REFERÊNCIAS • SOARES, Magda. Afaletrar Cenpec. Alfabetização e Letramento . Youtube, 27 jul. 2016. Disponível em <https://m.youtube.com/watch?v=k5NFXwghLQ8>. Acesso em: 22 set. 18. • SILVA, André. A Zona de Desenvolvimento Proximal: um conceito fundamental para a prática pedagógica, [S.l.], [2017?]. Disponível em: <https://psicoativo.com/2017/12/zona-de- desenvolvimento-proximal-conceito-explicado.html> Acesso em: 25 set. 2018. • ROCHA, Carlos. A importância da Gramática, 2008. Disponível em: <https://www.estudoadministracao.com.br/ler/16-11-2014-como-fazer-citacoes-internet/> Acesso em: 02 Out.2018 • BRASIL.Ministério da educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1998. Ibidem., p.27, ibidem., p.67, ibidem., p.70. • MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, Análise de gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.p.80. • FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler - três artigos que se completam. 1. Ed. São Paulo: Cortez editora, vol 22, 2017. Ibidem., p.18, ibidem., 19, ibidem., 20, ibidem., 21, ibidem., 22. • DURKHEIM, Émile. Educação moral. Petrópolis: Editora Vozes LTDA, Ed.2, 2008, p.64 • DURKHEIM, Émile. Émile Durkheim. Recife: Editora Massangana , 2010. Ibidem., p.15, Ibidem., p.26. • SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 3 .ed. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2009. Ibidem., p.65, ibidem., p.66, ibidem.,103. • DRECHSEL, Denise. Brasil continua entre os piores do mundo em ciências, matemática e leitura. 2016. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/brasil-continua- entre-os-piores-do-mundo-em-ciencias-matematica-e-leitura- 6w5ri4eal9cvz0a9qgtykya40/ampgp/> Acesso em: 25 de Outubro de 2018 18
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