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24/03/2020 Campus Niterói - Professora Michele Penha DISCIPLINA: DIREITO CONTRATUAL PROFESSORA MICHELE PENHA Aulas no formato de ensino à distância em razão da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Campus Niterói 24/03/2020 Campus Niterói - Professora Michele Penha Campus Niterói - Professora Michele Penha https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/ Apresentação O principal objetivo do nosso Estudo Dirigido é dar continuidade ao conteúdo da disciplina, na modalidade de ensino à distância, devido a suspensão das aulas presenciais em razão das medidas de prevenção do Coronavírus. Nas primeiras aulas de 2020 trabalhávamos a Teoria Geral dos Contratos e já estávamos no final dessa jornada, então para finalizar vou apresentar no módulo III os últimos temas desse assunto e complementar o conteúdo já ministrado. A metodologia consistirá na exposição dos assuntos através de tópicos com explicações, sala de aula invertida (flipped classroom), disponibilização de apostila e indicação de textos relacionados e de bibliografia de apoio. Conforme a possibilidade será disponibilizada videoaulas e, por último, a proposta de atividades para avaliação no retorno às aulas. Campus Niterói Campus Niterói - Professora Michele Penha I – Teoria Geral dos Contratos 1.1. Conceito. 1.2. Evolução da Teoria Geral do Contratos. 1.3. Principiologia Contratual. 1.4. Formas de Contrato. 1.5. Requisitos de Validade dos Contratos. 1.6. Interpretação dos Contratos. 1.7. Formação dos Contratos: Fases pré e pós contratuais 1.8. Classificação dos Contratos. 24/03/2020 Campus Niterói - Professora Michele Penha Campus Niterói Campus Niterói - Professora Michele Penha II – Aprofundamento dos temas abordados em Teoria Geral dos Contratos 2.1 A evolução dos princípios afetos ao Direito Contratual a partir do Século XIX ao XXI: Voluntarismo; Pacta sunt servanda e Relatividade Dirigismo contratual; Proteção ao contratante vulnerável Boa-fé e função social do contrato, Boa-fé (Supressio, surrectio, tu quoque e venire) 2.2. Função social do contrato: correntes interpretativas e preservação do contrato. 24/03/2020 Campus Niterói - Professora Michele Penha Campus Niterói Campus Niterói - Professora Michele Penha INTRODUÇÃO HISTÓRICA Não é possível precisar a data ou momento exato do surgimento do contrato, mas a sua primeira função foi a de conciliar interesses contrapostos. No momento que a sociedade começou a evoluir percebendo que, ao invés de declarar guerra, era mais vantajoso propor trocas, surgiu o contrato. CONCEITO: “Contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades.” PABLO STOLZE “Manifestação de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, como o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico, pretendidos pelo agente.” REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO que veremos adiante. O contrato é, na verdade, um instrumento de conciliação entre as partes daí a necessidade de se observar a sua função social. Contudo não podemos esquecer que o contrato é uma espécie do gênero negócio jurídico – toda ação humana com o objetivo de criar, extinguir ou modificar uma situação jurídica. Vale ressaltar que no início do Século XX a teoria do contrato se baseava primordialmente na autonomia privada, ou seja, sem a interferência do Estado, porém, como avanço da sociedade capitalista e consequentemente com a diferença entre as partes contratantes, foi necessária a interferência do Estado com o objetivo de coibir o abuso do poder econômico e estabelecer a igualdade de condições. O maior exemplo é o próprio contrato de adesão! Na teoria Constitucional do contrato temos o contrato como um negócio jurídico por meio do qual as partes, segundo a sua autonomia privada, convergem as suas vontades, visando atingir determinados interesses, em observância aos princípios da função social e da boa-fé objetiva.” PABLO STOLZE Portanto, a teoria clássica foi reformulada já que a autonomia privada absoluta não comportava mais o modelo social, sendo transformada em autonomia privada limitada a valores constitucionais – função social e a boa-fé objetiva. Importante destacar que a autonomia privada não é absolutamente limitada, porém apenas limitada por parâmetros constitucionais. ATENÇÃO: O reconhecimento deste princípio não nega a autonomia privada mas apenas a reeduca. “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” JORNADA 23 que interpreta o ART. 421 CC “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.” PRINCIPIOLOGIA CONTRATUAL 1 - PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE OU DO CONSENSUALISMO Conceito: Incialmente defendida pela escola jusnaturalística, traduzia a ideia de que cada homem pode dispor livremente de suas ações. E hoje traduz a liberdade contratual, porém, como já abordado, condicionada a princípios da função social e da boa-fé objetiva. Chamado Princípio do voluntarismo e seu fundamento está na livre vontade das partes. Esse princípio contempla a liberdade na escolha da forma, do conteúdo e com quem contratar, coisa que pouco vivenciamos nos contratos de adesão. VEJAMOS UM EXEMPLO NO CÓDIGO: “Art. 1.899 do CC - Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.” 2 - Princípio da Força Obrigatória do Contrato O contrato é de observância obrigatória pelas partes, uma vez assinado torna-se lei, pois do contrário, seria apenas um protocolo de intenções. Princípio da intangibilidade dos contratos (uma vez formado, não pode ser alterado unilateralmente). Contudo, como já abordado acima, com o crescimento da sociedade capitalista e consequentemente a desigualdade e o aumento dos contratos de adesão, este princípio fora mitigado pela chamada teoria da Imprevisão. A teoria da imprevisão é invocada quando um acontecimento superveniente e imprevisível torna excessivamente onerosa a prestação imposta a uma das partes, em face da outra. PABLO STOLZE Atenção: não é necessário que ocorra o enriquecimento da outra parte, pois em alguns casos a própria parte credora pode ser prejudicada pelo fato superveniente. Alguns doutrinadores, dando nova roupagem a este princípio o denominaram teoria da onerosidade excessiva. Alegando esta teoria a parte poderá pleitear a revisão do contrato ou até sua resolução. 3 - Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato Segundo este princípio, em regra geral, o contrato só deve repercutir efeitos entre as partes contratantes. Significa dizer que se o contrato for assinado entre João e Maria, só estes se vinculam ao mesmo. Porém, este princípio também possui exceções, vejamos: 4 - Princípio da Função Social do Contrato O princípio da função social tem base no artigo 1ª (dignidade da pessoa humana), art. 5º (direitose garantias fundamentais) e no art. 170, todos da Constituição Federal, onde consagrou uma ordem social harmônica visando a evitar abuso de poder econômico. Importante destacar que atender à função social não significa atender o interesse do Estado, pois o interesse do Estado não se confunde com o interesse da sociedade. Função social significa respeitar valores socialmente objetivados e não interesses do Estado. Trata de uma mudança de ideologia dos contratos, significa atuar como fator limitativo da autonomia privada em respeito a determinados valores sociais. Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Constituição Federal de 1988: –Art. 1o, III - dignidade da pessoa humana; –Art. 5o, XXIII – função social da propriedade; –Art. 182 e 186 - função social da propriedade urbana e rural; –Art. 170 – princípios da ordem econômica. Precisamos primeiramente diferenciar a boa-fé objetiva da boa-fé subjetiva, vejamos: A boa-fé subjetiva traduz o estado psicológico de inocência ou falta de conhecimento, ou seja, a pessoa que realiza o contrato não tem ciência de um determinado vício, esta boa-fé deriva do reconhecimento da ignorância do agente na prática do ato. Já a boa-fé objetiva, contemplada nesta parte de princípios, consiste em uma regra de comportamento, de natureza ética sim, porém dotada de exigibilidade jurídica. “A boa-fé objetiva, cláusula geral de natureza principiológica, baseada no art. 422, do Código Civil, traduz uma regra de conteúdo ético e exigibilidade jurídica.” “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa- fé.” Quando falamos de boa-fé objetiva, falamos de uma cláusula geral que traduz uma regra de lealdade a ser observada pelas partes, contudo, dotada de exigibilidade jurídica, não importa que esta regra seja implícita ou explícita, tem que ser observada! Probidade mencionada no artigo 422 do CC se trata do aspecto objetivo da boa-fé!!! ATENÇÃO: A boa-fé objetiva, como princípio regulador, é um rol apenas enumerativo e não taxativo!!!! Funções da boa-fé objetiva: A boa-fé objetiva tem uma função interpretativa, ou seja, ela auxilia na interpretação do contrato; A boa-fé também tem função delimitativa da autonomia privada. A boa-fé tem também uma função constitutiva de deveres anexos ou colaterais ou deveres de proteção, deveres esses decorrentes da boa-fé objetiva, inerentes a qualquer contrato. Na doutrina clássica o contrato gerava um dever principal (dar, fazer ou não fazer), porém, hoje a doutrina moderna, contemplando a boa-fé objetiva, elenca ainda que o contrato não gera só o dever principal, mas deveres implícitos, anexos, colaterais, tão importantes quanto o principal. Tão importantes que hoje, além da parte entrar em juízo pleiteando a resolução de contrato por descumprimento do dever principal, também poderá pleitear resolução por descumprimento do dever anexo, neste caso ocorre a chamada violação positiva do contrato. OBS.: “O descumprimento desses deveres anexos reveste-se de tamanha gravidade que a doutrina, em tal caso (violação positiva do contrato) tem sustentado a responsabilidade civil objetiva do infrator (Enunciado 24, da I Jornada).” Enunciado 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. Exemplos de deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva: Dever de assistência – Eu vendo a Izabel um celular que trouxe dos EUA. Duas semanas depois, o celular dá defeito. O dever de assistência decorre da boa-fé objetiva, é dever implícito de conteúdo ético e exigibilidade jurídica. Dever de sigilo ou confidencialidade – Uma empresa, com a qual a parte tenha um contrato, divulga os dados para outra empresa, alegando que o contrato nada mencionava a respeito. Neste caso não há necessidade de se ter uma cláusula específica para tal, pois o dever de sigilo é um dever anexo decorrente da boa-fé objetiva. Dever de informação – A empresa viola a boa-fé objetiva ao não prestar o dever de informação. Se o carro vai sair de linha, a empresa tem que informar ao comprador. O princípio da boa-fé objetiva deve ser observado na fase anterior, durante e pós-contrato. A boa-fé objetiva na fase pré- contratual é algo fundamental. Ninguém está obrigado a contratar, mas dependendo da situação, você pode ter criado no outro uma expectativa legítima de contratar gerando dano. Na fase pré-contratual, se você cria uma legítima expectativa e não contrata, isso pode acarretar prejuízo por quebra da boa-fé. Exemplo: Nenhuma pessoa está obrigada a casar, porém, dependendo da forma com a qual você exerça seu direito você pode ter criado uma expectativa legítima, geradora de dano e, nestes casos, existem julgados condenando por quebra de boa- fé pré-contratual, já que o casamento é considerado um contrato especial. No que tange ao pós-eficácia objetiva da obrigação, trata-se de reconhecimento de que mesmo após a consumação da obrigação, efeitos podem persistir, ou seja, mesmo após o contrato, ela deve ser observada sob pena de responsabilidade civil. Exemplo: O empregado que foi despedido não pode usar informações colhidas quando trabalhava na empresa. É quebra de boa-fé objetiva, da mesma forma o sócio que sai da sociedade não pode divulgar segredos da empresa que trabalhava. DESDOBRAMENTOS DA BOA-FÉ OU FUNÇÕES REATIVAS DA BOA-FÉ OBJETIVA 1ª Figura: Venire contra factum proprium Significa vedação do comportamento contraditório! É um desdobramento da boa-fé e também é conhecida como teoria dos atos próprios e tem raízes na Idade Média. Significa, literalmente vir contra fato que lhe é próprio, ou seja, não se pode, na linha do tempo, adotar comportamentos contraditórios entre si. Exemplo clássico é o art. 330 do CC, vejamos: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Se o credor permitiu que o pagamento fosse feito em Niterói e o contrato previa o pagamento em Rio Bonito, não pode esse credor, depois, adotar comportamento contraditório e exigir que o pagamento seja feito em Rio Bonito. OBS.: “O STJ tem adotado em mais de uma oportunidade esta doutrina (REsp 95539/SP e REsp 605687/AM)” REsp 95539/SP (14/10/96): PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS POSTERIORES. "VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM ". BOA-FE. PREPARO. FERIAS. “A mulher que deixa de assinar o contrato de promessa de compra e venda juntamente com o marido, mas depois disso, em juízo, expressamente admite a existência e validade do contrato, fundamento para a denunciação de outra lide, e nada impugna contra a execução do contrato durante mais de 17 anos, tempo em que os promissários compradores exerceram pacificamente a posse sobre o imóvel, não pode depois se opor ao pedido de fornecimento de escritura definitiva. Doutrina dos atos próprios. art. 132 do cc.” Se ela adotou um comportamento aceitando, não pode depois, negá-lo. Se minha esposa afirma que o ato que eu pratico é válido, não pode depois dizer que é inválido, exceto se houver uma justificativa legal para isso. REsp 605687/AM (20/06/96): Parte que autoriza a juntada, pela parte contrária, de documento contendo informações pessoais suas, não pode depois ingressar com ação pedindo indenização, alegando violação do direito à privacidade pelo fato da juntada do documento. Doutrina dos atos próprios. 2ª Figura: Tu quoque Outro desdobramento da boa-fé objetiva vem de uma parte da expressão do imperador Júlio César, ao ser apunhalado, “até tu Brutus?”. Sua aplicação visaevitar que uma das partes da relação negocial surpreenda a outra, causando-lhe prejuízo. Na prática significa que uma das partes não pode, jamais, adotar um comportamento marcado pelo ineditismo, ou seja, um comportamento que surpreenda a outra parte, causando-lhe prejuízo. Exemplo de aplicação do tu quoque é a exceptio non adimpleti contractus (exceção de contrato não cumprido). A exceção de contrato não cumprido, prevista nos arts. 476 e 477, do Código Civil, permite que a parte, colhida de surpresa, possa se opor à exigência obrigacional da outra parte, que ainda não cumpriu sua prestação. Ex: Contrato de empreitada - a obra deve ser entregue no dia 30/06. A empreiteira não concluiu a obra porque o outro contratante não entregou o material a tempo. Ao ser demandada em juízo, a empreiteira alega, em defesa, exceção de contrato não cumprido: não tem como cumprir a prestação se a outra parte não cumpriu previamente a dela. Questão interessante: é possível num contrato haver uma cláusula que afasta a possibilidade de a parte alegar em defesa a exceção de contrato não cumprido? Como no exemplo acima, seria possível no contrato de empreitada, constar uma cláusula estipulando que, ainda que o empreiteiro não receba o material, ele deverá fazer às suas próprias custas e depois cobrar o material gasto na obra? Sim! Essa cláusula que exclui a aplicação de contrato não cumprido é a chamada cláusula solve et repete, de aplicação especial nos contratos administrativos e excepcionalmente aceita nos contratos civis. 3ª Figura: Exceptio doli Figura pela qual tem como objetivo sancionar a parte que age com o intuito de molestar a parte contrária, pleiteando aquilo que não lhe é devido, ou até procrastinando o cumprimento de uma decisão judicial (assédio processual). Um exemplo clássico está no art. 940 do CC, vejamos: Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição. REQUISITOS DE VALIDADE DOS CONTRATOS Partes capazes - capacidade genérica (art. 3º e 4º) e a capacidade específica ou legitimação. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável - a licitude é ampla, não se restringindo à ideia de legalidade. Conteúdo do contrato (aos direitos e obrigações objeto de regulamentação pelas partes) e objeto do contrato (bens e prestações). Forma Consentimento recíproco ou acordo de vontades. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS Nem sempre o contrato traduz exatamente a vontade entre as partes, justamente por este motivo faz-se necessária a atuação do advogado em sua elaboração. Interpretar o contrato significa apurar a vontade real das partes e, normalmente quando as partes não chegam a um consenso, o mesmo deverá ser levado ao Judiciário para que o Juiz faça a interpretação, portanto temos: A interpretação declaratória – A interpretação declaratória tem como objetivo descobrir a intenção comum dos contratantes no momento da celebração; A interpretação construtiva ou integrativa – Esta interpretação tem como objetivo buscar o aprimoramento do contrato suprindo suas lacunas. Contudo, na interpretação dos contratos devemos observar dois princípios: Princípio da boa-fé (art. 113 do CC) – As partes contratantes possuem o dever de lealdade, portanto, o intérprete deve presumir que todas as partes procederam de boa-fé na celebração. Princípio da conservação ou aproveitamento do contrato – Havendo duas ou mais cláusulas conflitantes, prevalecerá a que produzir algum efeito, pois não é plausível que se tenha uma clausula no contrato que não produza efeito algum, vejamos alguns Enunciados sobre o tema: Enunciado 176 da III Jornada de Direito Civil – “Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual.” Enunciado 367 da IV Jornada de Direito Civil – “Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo eqüitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada sua vontade e observado o contraditório.” DEMAIS REGRAS INTERPRETATIVAS: •Art. 423 e 424 do CC – Se no contrato de adesão houver cláusulas ambíguas ou, até mesmo, contraditórias, sempre se adotará a interpretação mais favorável ao aderente e que são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante do negócio.; •Art. 843 do CC – A transação se interpreta restritivamente; •Art. 819 do CC – A fiança não poderá ser interpretada de forma extensiva; •Art. 1.899 do CC – Aproveitamento da vontade do testador na interpretação do testamento. PACTOS SUCESSÓRIOS – Art. 426 do CC Em nosso ordenamento jurídico só se admite duas formas de sucessão – a legítima e a testamentária, sendo proibido a sucessão contratual, admitindo porém, uma única exceção, a saber: Art. 2.018 CC – permite a partilha entre vivos, do pai para os filhos, vejamos: “É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.” FORMAÇÃO DO CONTRATO Entendendo o contrato como um negócio jurídico bilateral formado pela convergência de duas vontades contrapostas, este passa por algumas fases, a saber: FASE DAS NEGOCIAÇÕES – FASE DE PUNTUAÇÃO; FASE DA PROPOSTA – OFERTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO e; FASE DA ACEITAÇÃO – CONCLUSÃO DO NEGÓCIO, que pode ser celebrado mediante contrato preliminar ou definitivo. Temos ainda na formação do contrato: • A Oferta – vinculação e possibilidade de retratação (art. 428); • A Aceitação - formação contratual, possibilidade de retratação e o silêncio; • A Norma aplicável, foro competente e capacidade; • Lugar - onde a proposta é feita (domicílio do policitante ou, no CDC é o do domicílio do consumidor); • Tempo - o da expedição da aceitação, como regra, ou da recepção da aceitação, como exceção. FASE DAS NEGOCIAÇÕES – FASE DE PUNTUAÇÃO - FASE PRÉ- CONTRATUAL OU DAS TRATATIVAS PRELIMINARES No processo de formação do contrato, em um primeiro momento, temos a fase das tratativas preliminares, e se caracteriza por sondagens, conversações e debates – FASE DE PUNTUAÇÃO. Nesta fase preliminar não há obrigatoriedade, pois realizar negociações é um direito concedido pelo ordenamento jurídico. Contudo, ao dar início as negociações é necessário observar as nuances do caso concreto pois o princípio da boa-fé objetiva (já estudada) também se aplica a esta fase pré-contratual, observados os deveres de lealdade e confiança, evitando assim que gere uma expectativa de contratar. Portanto, mencionar que a pessoa não é obrigada a contratar não exime a responsabilidade dos danos decorridos por esta expectativa. Outra informação importante é que a proposta se transmite aos herdeiros, não se aplicando no caso de obrigação personalíssima. A proposta deve conter: TODOS OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO PROPOSTO – preço, quantidade, prazo de entrega, forma de pagamento etc; DEVE SER CLARA, COMPLETA E INEQUÍVOCA – deve ser formulada em linguagem simples e compreensível. EXEMPLO: Faço a oferta ao comprador e este fica pensando, após alguns dias eu entro em contato com a parte questionando se ela vai comprar ou não o que eu ofereci pois estamos negociando há dias. Neste momento a pessoa faz a proposta de pagar R$ 300,00 - No momento em que o proponente ou policitante faz a proposta de pagar R$ 300,00 (proposta esta chamadade policitação), exige da outra parte a manifestação de sua aceitação, esta parte que aceita é chamada de aceitante ou oblato. No momento que a proposta toca a aceitação, nasce o zigoto, que é o núcleo do contrato que é o chamado consentimento. O consentimento nasce da convergência entre proposta e aceitação. O Código Civil entende que a proposta obriga o proponente (princípio da vinculação), mas existem exceções, que não se aplicam nas relações de consumo. Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Percebemos que a regra aparece no início do artigo e, após as exceções, portanto o legislador reconhece a perda da eficácia da oferta nos seguintes casos, vejamos: 1) SE O CONTRÁRIO NÃO RESULTAR DOS TERMOS DELA MESMA – No caso de conter na própria oferta cláusula expressa “esta proposta não é definitiva e se reserva o direito de retirá-la ou proposta sujeita a confirmação” , neste caso, o proponente reserva o direito de retratar-se ou arrepender-se de concluir o negócio; 2) EM RAZÃO DA NATUREZA DO NEGÓCIO – São as chamadas propostas abertas ao público que se consideram limitadas ao estoque existente, reguladas no art. 429 do CC; 3) EM RAZÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO – Circunstâncias mencionadas no art. 428 do CC, que estabelece situações em que a proposta também deixa de ser obrigatória, porém, para tanto devemos diferenciar contrato entre presentes e entre ausentes, vejamos: •Presentes – são partes que se relacionam diretamente, ou seja, mantém contato direto e pessoal, quase que simultâneo (telefone, whatsapp, chat de conversa, skype); •Ausentes – são partes que não mantém contato direito (carta, e-mail etc.), neste caso não há a simultaneidade de relacionamento. O DOUTRINADOR TARTUCE tem um pensamento divergente, pois defende que a contratação via e-mail, estando a parte online ocorre a simultaneidade. VEJAMOS O ART. 428 CC “I – Se, feita sem prazo à pessoa presente, não foi imediatamente aceita” - caso em que estando as partes presentes, de corpo ou das formas acima citadas, não fora aceita, pois entre presentes a aceitação deverá ser imediata, por conta da simultaneidade de relacionamento. “II – Se, feita sem prazo à pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente” – Trata-se do caso da proposta ter sido enviada, sem referência a prazo, porém decorre o tempo necessário para a sua chegada (conceito aberto e vago do legislador e, neste caso será aplicado os costumes utilizados na região – PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. “III – Se, feita à pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado” – Trata-se de proposta enviada com prazo para aceitação e, após o prazo, a parte não se manifesta perdendo assim a sua obrigatoriedade. “IV – Se, antes dela (a proposta), ou simltâneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente” – Trata-se do caso de recebimento antes ou simultaneamente o arrependimento ou a retratação da proposta. FASE DA ACEITAÇÃO – CONCLUSÃO DO NEGÓCIO Aceitação é a concordância com a proposta e, para concluir o negócio deverá ser realizada de forma pura e simples, ou seja, de forma mais clara para as partes contratantes e realizada dentro do prazo, envolvendo a adesão integral aos termos da proposta. Contraproposta – Se a aceitação for realizada fora do prazo, será interpretada como uma contraproposta (art. 431 CC). A aceitação pode se ser: Expressa – manifestação do aceitante; Tácita – prática de conduta que induz ao aceite, conforme o art. 432 CC que menciona duas formas: 2.1 – Quando “o negócio for daqueles em que não seja de costume a aceitação expressa” – Exemplo de fornecedor que sempre envia determinada quantidade de produtos independentemente de pedido anterior e, no caso de vontade de interromper este fornecimento, deverá comunicar expressamente e de forma antecipada; 2.2 – Quando o proponente tiver dispensado; FORMAÇÃO DO CONTRATO ENTRE AUSENTES Vejamos um caso interessante: O proponente José redige uma proposta a João e envia via correio, o carteiro vai até a residência de João e entrega a proposta e este, ao lê-la a aceita, redigindo imediatamente uma resposta informando de sua aceitação e a envia via correio também. Contudo, quem recebe a carta é o porteiro do prédio do proponente, que a entrega a José que imediatamente abre a resposta. Quando se deu a formação do contrato? Quando João redigiu a aceitação? Quando postou a carta? Quando o proponente recebeu a carta? Quando o proponente tomou conhecimento da aceitação? Em que momento se forma o contrato entre ausentes? Existem duas teorias explicativas fundamentais? PORTANTO, no caso acima citado, se João mandou a resposta e se arrependeu e esta informação chegar ao proponente antes da resposta ou ao mesmo tempo que a resposta, significa que o contrato não existe, pois na verdade, o contrato não se forma quando a resposta é expedida, mas quando o proponente recebe a resposta sem arrependimento porque se o aceitante se arrepender, ele ainda tem tempo de redigir um arrependimento e enviar ao proponente. Conclui-se que, o contrato não se forma quando a resposta é expedida, mas sim recebida pelo proponente sem arrependimento. Interpretando, OBS.: O enunciado 173, da III Jornada, reforça essa teoria. Enunciado 173 – Art. 434: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente. A OFERTA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O CDC em seu artigo 30 contempla que as propostas feitas ao consumidor serão informadas pelo princípio da vinculação, ou seja, terá uma carga de obrigatoriedade mais elevada do que nos demais contratos. Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. LUGAR DA CELEBRAÇÃO Art. 435 do CC – “Reputar-se-à celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.” III– Continuação dos temas da Teoria Geral dos Contratos 3.1. Vícios Redibitórios. 3.2. Evicção. 3.3. Extinção do contrato, onerosidade excessiva e teoria da imprevisão. 24/03/2020 Campus Niterói - Professora Michele Penha Campus Niterói Campus Niterói - Professora Michele Penha VÍCIO REDIBITÓRIO Conceito: São defeitos ocultos que diminuem o valor do bem ou prejudicam a sua utilização, recebida por força de um contrato comutativo. LEMBRANDO: Quanto a vantagem patrimonial os contratos podem ser: .... ONEROSOS, COMUTATIVOS – São aqueles que possuem prestações certas e determinadas e, consequentemente não possuem risco; Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas. ATENÇÃO: A diferença entre vício redibitório e erro está no fato de que o erro interfere na vontade, compro uma estátua de osso de marfime na verdade era osso de cachorro, este erro invalida o negócio jurídico!!! Já no vício redibitório não está na vontade do agente e sim na coisa e gera a dissolução do contrato. Requisitos: Que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo; Que os defeitos sejam ocultos; Que existam no momento da celebração do contrato e perdurem até a ocasião da reclamação; Que sejam desconhecidos pelo adquirente; Que sejam graves a ponto de prejudicar o uso. Os defeitos supervenientes presumem-se resultantes do mau uso da coisa pelo adquirente ! A ignorância por parte do alienante não o exime da responsabilidade, devendo restituir o valor recebido mais as despesas com o contrato – art. 443 CC (princípio da boa-fé) contudo, se o vício era de ciência do alienante, este responderá ainda por perdas e danos. Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá. ESPÉCIES DE AÇÕES PARA O CASO – AÇÕES EDILÍCIAS Existem dois tipos de ações edilícias, vejamos: Ação REDIBITÓRIA – Ação que visa rejeitar a coisa, rescindindo o contrato e pleiteando a devolução do valor pago; Ação QUANTI MINORIS (OU ESTIMATÓRIA) – Ação que visa conservar a coisa apesar do defeito, reclamando apenas o abatimento no preço. Se a relação civil, ou seja, que não haja uma relação de consumo, o prazo para ajuizar a ação edilícia está elencada nos termos do art. 445: Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. HIPÓTESES DE DESCABIMENTO DAS AÇÕES EDILÍCIAS 1 – Coisas vendidas conjuntamente – art. 503 CC – Somente a coisa defeituosa deverá ser restituída, salvo se formarem um todo inseparável, como no caso do par de sapatos. Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas. 2 – Entrega de coisa diversa da contratada – neste caso não se caracteriza um vício e sim no inadimplemento contratual. 3 – Erro quanto as qualidades essenciais do objeto – O erro não se confunde com o vício!!!! EVICÃO Conceito de evicção: “Ocorre a evicção quando o adquirente do bem perde a posse e a propriedade da coisa por ato judicial ou administrativo, em virtude do reconhecimento do direito anterior de outrem.” Pablo Stolze Ex : A é parado na Blitz onde se constatou que o carro era roubado e pertencia, na verdade, a um terceiro. Neste caso A perde o carro por evicção. Na evicção temos três personagens: 1 – O alienante – aquele que aliena; 2 – O evicto – aquele que adquire e é vencido na ação movida por terceiro; 3 – O evictor - é o terceiro reivindicante e vencedor da ação. A responsabilidade neste caso decorre da lei, não importando se o contrato é omisso em relação e evicção, conforme interpretação do art. 447 e 448, ambos do CC, vejamos: Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. Para que a responsabilidade se manifeste é necessário três requisitos, a saber: 1 – aquisição do bem; 2 – perda da posse ou da propriedade; 3 – prolação da sentença judicial ou execução de ato administrativo. EXCLUSÃO, DIMINUIÇÃO OU AUMENTO DA GARANTIA DECORRENTE DA EVICÇÃO O art. 448 do CC prevê a hipótese das partes acordarem excluir, aumentar ou diminuir a responsabilidade pela evicção, mas é claro que esse acordo tem que estar expresso, não cabendo interpretação implícita no contrato. No caso previsto no artigo acima, as partes podem aumentar a garantia prevendo uma multa no caso de perda da coisa, podem diminuir prevendo abater a garantia de indenização pelos eventuais frutos restituídos ou até mesmo excluindo totalmente a responsabilidade, este somente no caso do art. 457 se o adquirente sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. Porém, ainda que haja uma cláusula de exclusão convencional da garantia, se a evicção se operar, o evicto terá direito de receber, pelo menos, o preço que pagou pela coisa evicta, salvo se sabia dos riscos da evicção ou dele informados os assumiu, coisa difícil de se provar. Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. EXTINÇÃO DO CONTRATO A extinção ocorre em regra pela execução do contrato, art. 320 do CC. Porém, em alguns casos, o contrato se extingue sem o cumprimento de suas obrigações, vejamos o quadro a seguir do CARLOS ROBERTO GONÇALVES: Extinção do contrato sem cumprimento Causas anteriores ou contemporâneas Nulidade absoluta e relativa Cláusula resolutiva Direito de arrependimento Causas supervenientes Resilição Morte de um dos contratantes Rescisão Inexecução voluntária Inexecução involuntária Onerosidade excessiva Bilateral Unilateral AS CAUSAS ANTERIORES OU CONTEMPORÂNEAS À FORMAÇÃO DO CONTRATO SÃO: Defeitos – estudados no segundo período estes podem gerar a nulidade ou anulabilidade, vejamos: Nulidade – Ocorre quando há ausência de elemento essencial do ato com a transgressão de um preceito de ordem pública que impede o contrato de produzir efeitos – ex tunc (retroage); Anulabilidade – Ocorre da imperfeição da vontade, pode ser por incapacidade relativa ou por conter um vício do consentimento (erro, dolo, coação etc.) e tem efeitos ex nunc (não retroage). Cláusula resolutiva – é uma das formas de extinção do contrato, onde as partes estipulam no contrato o término pela inexecução por uma das partes. Em outras palavras, durante o contrato, cada parte tem o direito de pleitear a resolução se o outro não tiver cumprido as obrigações pactuadas e esta vontade pode resultar de: Convenção: quando houver cláusula resolutiva expressa; Presunção legal: quando houver cláusula resolutiva tácita ou implícita. Dispõe o art. 475 do CC que o contratante pontual tem o direito de pleitear, diante do inadimplemento da outra parte: Resolver o contrato ou; Exigir o cumprimento mediante execução específica – art. 497 CPC. ATENÇÃO: em qualquer das hipóteses a parte terá direito a indenização por perdas e danos!!! ATENÇÃO 2: A cláusula resolutiva que estiver expressa no contrato possui eficácia plena e a implícita depende de interpelação judicial – art. 474 CC. Isso não quer dizer que a expressa não necessite de pronunciamento judicial, ambas necessitam, contudo a expressa a sentença tem efeito declaratório e ex tunc, pois a resolução ocorre automaticamente no momento do inadimplemento da outra parte, na implícita a sentença tem efeito desconstitutivo. Direito ao arrependimento – Autoriza a outra parte rescindir o contrato mediante declaração unilateral, sujeitando-se à perda do sinal ou devolução em dobro, sem contudo pagar indenização suplementar, são as arras penitenciais. O direito ao arrependimento deve ser exercido no prazo convencionado entre as partes, ou antes, da execução do contrato. CAUSAS SUPERVENIENTES À FORMAÇÃO DO CONTRATO Contudo, o objeto do nosso estudo é a dissolução de um contrato válido, ou seja, com causas supervenientes à formação do contrato. Essa dissolução pode se dar de três maneiras diferentes, são elas: Resolução Rescisão Resilição Morte de um dos contratantes Resolução – Trata-seda dissolução do contrato por: Inadimplemento voluntário; Inadimplemento involuntário ou; Por onerosidade excessiva. Segundo Orlando Gomes “é um remédio concedido à parte para romper o vínculo obrigacional mediante ação judicial.” (arts. 474 e 475 CC)”. RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA – Ocorre diante do comportamento culposo de um dos contratantes, prejudicando a outra parte e possui efeitos ex tunc, porém se o contrato for de trato sucessivo (locação de imóvel) não ocorrerá a restituição das prestações já cumpridas, gerando portanto, o efeito ex nunc. Sempre que a obrigação do contrato foi descumprida utilizamos a nomenclatura resolver o contrato através da ação resolução de contrato. Não é obrigatório que em todo contrato haja uma cláusula prevendo a resolução em caso de descumprimento da obrigação, contudo, a vantagem de o contrato já conter uma cláusula assim, é que, em caso de descumprimento, o contrato é automaticamente resolvido. Não precisa o credor interpelar o devedor para comunicar a ele que o contrato se resolveu. Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA – Ocorre diante de fato não imputável às partes, pode ser por ação de terceiro ou de acontecimentos inevitáveis – caso fortuito ou força maior, impossibilitando o cumprimento da obrigação. Requisitos: Objetiva – Não participação das partes; Impossibilidade total; Definitiva, pois no caso de impossibilidade temporária ocorrerá a suspensão, exceto no caso do cumprimento fora do tempo acarretar na falta de interesse das partes. ATENÇÃO: O inadimplente não fica responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo no caso de ter assumido expressamente esta responsabilidade. Gera efeito retroativo a diferença está no pagamento de perdas e danos. RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA – Ocorre diante de acontecimento superveniente e imprevisível que permite a revisão ou resolução do contrato. TEORIA DA IMPREVISÃO A raiz histórica da teoria da imprevisão está na lei 48, do Código de Hamurabi: Lei 48 do Código de Hamurabi . Se alguém tiver um débito de empréstimo e uma tempestade prostrar os grãos ou a colheita for ruim ou os grãos não crescerem por falta d'água, naquele ano a pessoa não precisa dar ao seu credor dinheiro algum, ele devendo lavar sua tábua de débito na água e não pagar aluguel naquele ano. Conceito: “A teoria da imprevisão é a doutrina que justifica a revisão ou a resolução do contrato, caso acontecimento superveniente e imprevisível desequilibre a base econômica do negócio, impondo a uma das partes obrigação excessivamente onerosa.” PABLO STOLZE ATENÇÃO: A teoria da imprevisão só tem aplicação nos contratos de execução de médio ou longo prazo, pois os de execução imediata, não há o que se invocar a teoria da imprevisão. LESÃO X TEORIA DA IMPREVISÃO Existe uma semelhança entre a teoria da imprevisão e a lesão? Sim, em ambos existe desequilíbrio entre as prestações, porém, a lesão é um vício invalidante do negócio jurídico que nasce com o próprio contrato, contudo, a teoria da imprevisão pressupõe um contrato válido que se desiquilibra posteriormente por um fato superveniente e que não invalida o negócio jurídico, apenas permite sua revisão ou resolução. ATENÇÃO: A lesão, um dos vícios do negócio jurídico já estudado no segundo semestre, se caracteriza quando o negócio é celebrado de forma que uma das partes é vítima de abuso ou da sua necessidade ou da sua inexperiência assumindo obrigação excessivamente onerosa. INADIMPLEMENTO FORTUITO X TEORIA DA IMPREVISÃO Existe ainda semelhanças entre o inadimplemento fortuito (caso fortuito ou força maior) da teoria da imprevisão, pois ambos possuem o fato estranho à vontade das partes, inevitável e imprevisível, contudo, a diferença reside no fato de que “na teoria da imprevisão ocorre apenas um desiquilíbrio econômico, que não impede a execução do contrato; e na força maior, verifica-se a impossibilidade absoluta de dar prosseguimento ao contrato.” MARIA SYLVIA DI PIETRO ELEMENTOS PARA APLICABILIDADE DA TEORIA DA IMPREVISÃO Fundamentalmente, três são os elementos da Teoria da Imprevisão: Superveniência de acontecimento imprevisível; Alteração da base econômica do negócio; Onerosidade excessiva experimentada por uma das partes ATENÇÃO: Para aplicação da teoria da imprevisão é necessário que uma das partes sofra uma onerosidade excessiva, porém não significa que obrigatoriamente a outra parte experimente uma vantagem exagerada. Vejamos o caso do apagão: Um acontecimento tipicamente superveniente e imprevisível que obrigou as empresas a adquirirem geradores, fazendo com que houvesse um enorme incremento no custo de produção. A peça produzida por sete, passou para dezoito!!!! Esse acontecimento imprevisível, que impôs a empresa obrigação excessivamente onerosa, que foi a contratação de geradores, gerou algum enriquecimento exagerado? Nenhum. Ou seja, o fato de você mencionar que um acontecimento superveniente e imprevisível, desequilibrando as bases do contrato, não significa que, obrigatoriamente a outra parte tenha experimentado vantagem exagerada. O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º, V, ao tratar desta teoria, para facilitar a defesa do consumidor, dispensou o requisito da imprevisibilidade, por isso, denomina-se apenas, Teoria da Onerosidade Excessiva. O Código Civil, mantendo o requisito da imprevisibilidade do acontecimento, regula a matéria nos arts. 317 e 478 e seguintes. Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Visando aprimorar a interpretação o art. 478, o Enunciado 365 da IV Jornada sustenta que o requisito da extrema vantagem é meramente acidental, vejamos: Enunciado 365 – Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração de circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena. À luz do art. 478, a parte que sofreu onerosidade excessiva pode pedir a resolução, porém seria mais plausível requerer a revisão como no caso do pagamento da casa própria, vejamos o artigo seguinte: Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. Um artigo extremamente criticado, pois não é justo dar essa opção ao réu que, em geral, é a parte credora. “À luz do princípio da função social do contrato, o juiz não está adstrito ou condicionado à vontade do réu, nos termos do art. 479, para efeito de revisar o contrato.” PABLO STOLZE Vejamos o Enunciado 367 do Conselho Federal da Justiça Federal “Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo eqüitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada sua vontade e observado o contraditório.” Rescisão - Significa invalidação do contrato em caso de lesão ou estado de perigo (ambos estudados no segundo período). Lesão: Ocorre quando o agente, valendo-se da inexperiência ou da situação de necessidade do outro, celebra com ela negócio em que as vantagens são desproporcionais, ou seja, uma das partes se aproveita da outra, a fim de levar vantagem. Estado de perigo: O agente age em estado de necessidade, perigo. Uma pessoa para ser salva de um naufrágio,paga uma quantia absurda. Resilição - Significa, simplesmente, o desfazimento do contrato por simples manifestação de vontade da parte e não tem relação com inadimplemento ou invalidade do contrato. Pode se dar por ambas as partes – bilateral (através do distrato) ou por uma das partes – unilateral (através da denúncia, revogação/renúncia ou resgate). RESILIÇÃO BILATERAL - Distrato – “é a declaração de vontade das partes contratantes, no sentido oposto ao que havia gerado o vínculo ... também chamado de mútuo dissenso.” Caio Mário. Atenção: É necessário que os efeitos ainda não tenham sido exauridos, pois contrato cumprido não pode ser dissolvido. Atenção 2: Seus efeitos são ex nunc. Atenção3: Apesar do art. 472 mencionar que o distrato deve seguir a mesma forma do contrato, sua interpretação não se dá de forma literal, aplicando-se apenas nos contratos que possuem legalmente uma forma especial, nos demais, como por exemplo o contrato de locação, seu distrato pode ser escrito tendo sido o contrato verbal, pois a lei não exige forma especial para os contratos de locação. RESILIÇÃO UNILATERAL – DENÚNCIA, REVOGAÇÃO, RENÚNCIA E RESGATE A extinção unilateral do contrato por mera manifestação de vontade admite-se somente com autorização legal expressa ou implícita (pela natureza do contrato) e SEMPRE com prévia comunicação à outra parte. Vejamos o art. 473 do CC: Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. Portanto, o ato pelo qual se opera a resilição unilateral é a denúncia. Algumas modalidades contratuais permitem a resilição unilateral, possuindo assim, nomenclatura específica, são elas: REVOGAÇÃO, RENÚNCIA E RESGATE. Vejamos cada uma delas: REVOGAÇÃO OU RENÚNCIA: Ocorrem nos contratos de mandato (arts. 682 a 687 CC) e de doação (arts. 555 a 564 do CC) que serão estudados posteriormente. A principal diferença está em quem pratica, pois a revogação é o ato do sujeito ativo da relação obrigacional e a renúncia do sujeito passivo desta relação. RESGATE – Utilizado nos contratos de compra e venda de bens imóveis, no exercício da retrovenda, dando direito ao retorno do bem ao vendedor, arts. 505 e 506 do CC. Veremos posteriormente. MORTE DE UM DOS CONTRATANTES – Só ocorrerá a extinção do contrato por causa superveniente (evento morte) no caso de contrato personalíssimo, aqueles que são pactuados em virtude da pessoa que irá executar (já estudado nos slides anteriores).
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