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UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PSICODIAGNÓSTICO ATRAVÉS DO MÉTODO DE RORSCHACH: PROJEÇÃO E INTERVENÇÃO Karla Alves Carlos (1) , Clênia Maria Toledo de Santana Gonçalves (3) , Joseildes Farias Fonseca (2) Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes/ Departamento de Psicologia/ Monitoria RESUMO O Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos, um processo que visa identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, investigando se há ou não a presença de uma psicopatologia no sujeito. Toda atuação psicológica é uma ação de intervenção cujo significado é dado pelas partes que estabelecem um relacionamento específico àquela relação e momento. Todavia, o psicodiagnóstico não é sempre considerado como prática de intervenção, na maioria dos casos por se executar em um número reduzido de encontros e ser entendido como uma prática investigativa ou seletiva, como no caso do uso do teste de Rorschach, um método projetivo. Neste trabalho é apresentado um estudo de caso em que a avaliação psicológica foi feita através do método de Rorschach e os resultados obtidos através de uma postura interventiva que diferenciou o processo de avaliação psicológica neste caso. PalavrasChave: Rorschach, Projeção, Intervenção. INTRODUÇÃO A avaliação psicológica é entendida como a busca sistemática de conhecimento a respeito do funcionamento psicológico em situações específicas, que possa ser útil para orientação das ações e decisões futuras. Ela é referente a um processo de busca de dados, agrupando diferentes informações com três objetivos principais: conhecer o sujeito, identificar o problema e programar uma intervenção (PRIMI, 2005). O Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos, um processo que visa identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, focando se há ou não a presença de uma psicopatologia no sujeito (CUNHA, 2000). É uma atividade que vem se desenvolvendo de forma paralela à psicologia, utilizando praticas nas diversas teorias que têm como intuito a compreensão do ser humano. OCampo (1999) considera o psicodiagnóstico como uma situação bipessoal (psicólogopaciente e/ou grupo familiar), de tempo limitado, e objetiva uma descrição e compreensão, a mais profunda e completa possível, da personalidade total do paciente ou do grupo familiar, enfatizando os aspectos adaptativos e patológicos. Toda atuação psicológica é uma ação de intervenção cujo significado é dado pelas partes que estabelecem um relacionamento específico àquela relação e momento. Todavia, o psicodiagnóstico não é considerado como prática de intervenção, na maioria dos casos por se executar em um número reduzido de encontros e ser entendido como uma prática investigativa ou seletiva, (ANCONALOPEZ, 1995). O Rorschach, uma técnica individual, de caráter clínico (ADRADOS, 1980), é um método situado no campo da percepção e projeção, que por sua vez, cumpre bem este papel por ser um instrumento bastante complexo, sensível a variações dentro do quadro clínico (CUNHA, 2000). O examinando durante a aplicação do teste manifesta suas respostas através de uma palavra ou expressões verbais que indicam a percepção mais ou menos definida de um objeto, percebido em função de sua forma, de seus efeitos cromáticos, acromáticos, cinestésicos e/ou esfumaçado. Nessa avaliação quantitativa segundo Gonçalves & Pereira (2001), resposta é toda interpretação que satisfaça os parâmetros de localização, determinantes e conteúdos. Já as respostas qualitativas são exclamações, impressões, comentários intelectuais, simetrias, embelezamentos, críticas ou divagações em torno da qualidade dos estímulos apresentados nas diferentes pranchas. O Rorschach é uma das técnicas projetivas mais sistematizadas e utilizadas na Psicologia Científica. Podese avaliar neste processo de psicodiagnóstico os afetos, as emoções, as condições de relacionamento humano, o nível de ansiedade, o controle da agressividade, o poder de controle de uma pessoa, não apenas tomados isoladamente, mas considerando um todo estrutural, dinâmico e funcional, como é a personalidade. Assim sendo, 6CCHLADPMT07 ______________________________________________________________________________________________ (1) Monitor(a) Bolsista), (2)( Monitor(a) Voluntário(a), (3) Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a) UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA por ser um teste de grande prestígio, que também tem contribuições de cunho quantitativo (Vaz, 1986). No Rorschach são obrigatórias duas fases de aplicação. A primeira de associação livre é feita a partir do momento em que o examinador estabelece o rapport com o examinando. Não se deve dizer que as manchas são borrões, mas sim lâminas. O examinador segura a lâmina e a entrega para o examinando que deve anotar a posição em que o examinando manipule as lâminas. Terminada esta parte da aplicação, seguese para a o Inquérito, onde devem ser utilizados os lápis hidrocor e as folhas de localização. O Examinador neste momento irá perguntar ao examinando onde foi que ele viu e como chegou a esta resposta (ADRADOS, 1983, GONÇALVES & PERAIRA 2001). A projeção é utilizada em diversos métodos de psicodiagnóstico, como o HTP, TAT, CAT, Desenho da Família, Rorschach (ANZIEU, 1978; CHABERT, 2004). E é vidente que as metodologias qualitativas, como o estudo de caso são as metodologias sugeridas como alternativas para o estabelecimento do caso na pesquisa psicanalítica, presentes tanto na discussão das análises terapêuticas quanto no processo diagnóstico através de instrumentos projetivos. Com relação à projeção, o próprio termo foi introduzido por Freud em 1894, em seu trabalho “Neuroses de Angústia”, onde afirmava que as neuroses psíquicas se desenvolvem quando não se sente em condições de realizar a tarefa de controlar a excitação que surge endogenamente. Isso quer dizer que atua como se o sujeito estivesse projetado essa excitação no mundo exterior (ABT & BELLACK, 1967). Em outras palavras, projeção é a operação em que o sujeito expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos, e mesmo ‘objetos’, que ele desdenha ou recusa de si (CHABERT, 2004). Já o termo intervenção é mais conhecido pelo sentido de algo autoritário e impeditivo de livre expressão. Porém se investigado a partir do termo em latim interventio, onis, significa abono, confiança, garantia, ou até mesmo, estar entre, sobrevir, assistir. Este antigo significado de intervenção deve ser apontado para a necessidade de estabelecer uma relação de confiança entre os participantes do processo, neste caso o examinador e o examinando, principalmente se está e resposta a uma demanda de indivíduos ou grupos, (SZYMANSKI & CURY, 2004). O Psicodiagnóstico interventivo possui diferentes níveis de intervenção, dependendo das diferentes atitudes tomadas por parte do psicólogo, sua postura teórica ou filosófica. Este profissional deve estar atento para compreender a demanda que chega para o atendimento com a ajuda de seus conhecimentos prévios (ANCONALOPEZ, 1995). A intervenção no processo da avaliação psicologia aparece como a possibilidade de novas mudanças positivas para cliente, de promoção de saúde que é um dos âmbitos de atuação da psicologia clínica, além disso, a própria idéia de intervenção está ligada ao processo terapêutico (ANCONA LOPEZ, 1995; GIOVANETTI & SANT’ANNA, 2005). O processo psicodiagnóstico interventivoconfirmouse em pesquisas como a de Giovanetti & Sant’anna (2005) e em estudos acerca da intervenção como em Spinillo, 2002; Padovani & Williams, 2002, como um facilitador da promoção de saúde e qualidade de vida, pois proporciona uma nova avaliação por parte do examinando de suas experiências, vivências e atitudes. Neste intuito, este estudo, de natureza clínicoqualitativa, objetivou e propôs por meio do psicodiagnóstico interventivo através do método de Rorschach verificar a vivência e as necessidades psicológicas, assim como o psicodinamismo do sujeito estudado, neste trabalho foram evidenciadas as interações entre os fatores psicossociais, recursos psicológicos e as intervenções de apoio. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA O presente trabalho é um estudo de caso que teve como objetivo conhecer os psicodinamismos de B. um adolescente de 13 anos. O psicodiagnóstico foi solicitado por um psiquiatra, considerando que a avaliação psicológica em ambientes médicos pode ser uma ferramenta importante na apropriação de decisões a respeito do diagnóstico diferencial, tipo de tratamento necessário e prognóstico (CAPITÃO, SCORTEGAGNA & BAPTISTA, 2005). Foi justificada esta solicitação para exame por motivo de B. ter realizado várias fugas de casa e de UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA instituições, apresentar desinteresse pelos estudos e um histórico de não colaboração a qualquer tipo de atendimento, seja médico ou psicológico. No primeiro momento, utilizouse uma escuta inicial e entrevista semidirigida realizada com os pais do adolescente a respeito de aspectos importante com relação ao desenvolvimento de B., e recebida autorização através de um termo livreesclarecido dos pais para o processo de avaliação psicológica, de acordo com os princípios éticos por se tratar de um menor de idade. B. Posteriormente, o mesmo procedimento de escuta e entrevista foi feito com B. em ambiente reservado para o atendimento psicológico na Clínica Escola de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba; no segundo momento o adolescente não colaborou com a realização do desenho livre, mostrandose resistente em produzir qualquer tipo de desenho, sua justificativa era de que não realizava nenhum desenho a muito tempo; no terceiro momento aplicouse a Técnica Projetiva do Rorschach. O procedimento utilizado para a aplicação e análise das respostas como a condução do inquérito, classificação dos determinantes e conteúdos, assim como a interpretação orientaramse pelos princípios do sistema de cotação da Escola Francesa (GONÇALVES & PEREIRA, 2001). Já no que tange ao uso de Atlas de localizações de respostas, foram seguidas pelo sistema de ADRADOS (1983). RESULTADOS B. é o segundo filho do casal, filho do meio. Possui um irmão mais velho de 16 anos e uma irmã mais nova de 8 anos. Pai alcoólatra, sóbrio há dois anos. A mãe fez terapia durante dois anos por causa de problemas de relacionamento com o esposo e por motivo do alcoolismo do esposo e dificuldade com os filhos e doença de seu avô. B. já foi levado para atendimento psicológico antes por não querer fazer nenhuma prova na escola e parou de estudar na 4ª. Série do Ensino Fundamental. Durante a entrevista demonstrouse desinteressado pelos estudos, não estando em seus planos retornar à escola. B. tem dificuldades de relacionamento com seus pais e com o irmão mais velho, descrito uma pessoa antagônica a ele. Estes que são fatores psicossociais que estão relacionados com a crise de adaptação do sujeito com relação a sua entrada na adolescência, a suas questões familiares e desenvolvimentais (GIOVANETTI & SANT’ANNA, 2005). Na aplicação do método de Rorschach, o examinando apresentou um número baixo de respostas durante o exame (R<10), o que indica uma acentuada inibição, resistência à tarefa, pobreza intelectual e cultural. Há uma lentificação psicopatológica do pensamento indicada pelo tempo prolongado para resposta, em presença de ansiedade durante o exame. O tipo de resposta dada por B. indica um comportamento alheio à realidade, fuga aos detalhes significantes em termo de um problema, inadaptação ao meio, o que se correlaciona ao elevado número de fugas em sua vida, de casa e de instituições de tratamento. O examinando possui um intenso controle de sua vida psíquica, porém de má qualidade, com bloqueio da afetividade, da vida interior, com poucas emoções. Seus pensamentos são feitos sem reflexão, com indicativos de relação anormal com o espaço, tempo e valores. Também é percebido um bom nível adaptativo, com bom ajustamento a nível social, contudo os relacionamentos estabelecidos são superficiais. CONCLUSÃO O Examinando é uma pessoa que se isola do mundo exterior, com repressão da afetividade e que evita relações que envolvam afeto, com índice de empobrecimento emocional, que pode ser agravado por um sentimento de inadequação diante dos modelos de seus irmãos, principalmente o mais velho, descrito como o oposto de B. Há indícios de ansiedade que podem ser movidos pelas mudanças ocorridas em sua vida atualmente, como retorno a sua casa e decisão de não cometer mais furtos, vontade de adaptarse melhor ao meio, somadas a entrada na adolescência. B. busca para si nas coisas materiais o que deseja para não necessitar da relação afetiva dentro de sua casa, e competir com os seus irmãos. Foge dos problemas e de si mesmo, principalmente das imposições. A partir das conclusões acerca do caso expostas, foi Indicado então acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico para a B. e orientação para os pais. UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA Durante o processo de avaliação psicológica o examinando mostrou um comportamento tímido, falando muito pouco, porém, à medida que foi mudada a postura de atendimento para uma forma mais ativa, acreditandose no potencial do examinando, houve uma ruptura desta não predisposição à colaboração à avaliação, momento no qual avaliação psicológica tornouse interventiva. Garantiuse a singularidade do seu atendimento, desmontandose a maneira habitual a qual ele havia sido acompanhado até o momento, possibilitando a ele um momento de reorganização e possibilidade de novas escolhas. Ao final do processo de avaliação psicológica houve uma mudança na vida deste adolescente que demonstrou interesse em retornar aos estudos e iniciando uma prática esportiva. As crises adaptativas, como a passagem da infância para a adolescência advém de uma necessidade de que o sujeito se adapte diante de situações que o perturbem ou de fazes de mudança e desenvolvimento (GIOVANETTI & SANT’ANNA, 2005), como a que B. está vivenciando. Além disso, as novas escolhas de B. indicam que o processo psicodiagnóstico interventivo pode auxilialo em suas reflexões e perspectivas para o futuro, isso muito se deve a postura de momento da escuta não se interpretar a fala do examinando, mas sim dar sentido a ela (ANCONALOPEZ, 1995). Com relações ás intervenções de apoio feitas durante o processo de avaliação, vale ressaltar que estas não visaram encontrar soluções para os problemas identificados, e sim proporcionar a experiência destes como um processo de desenvolvimento (GIOVANETTI & SANT’ANNA, 2005). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABT, L. E. & BELLACK, L. Psicología Proyectiva. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1967. ADRADOS, I. 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