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FICHAMENTO DE LEITURA UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DIREITO – Tijucas Disciplina: Filosofia Geral e Jurídica – 9º período Professor: Charles Alexandre Souza Armada Alunas: Bianca da Silva Goulart e Lucas Adriano Fichamento do capítulo 14 do livro “Curso de Filosofia do Direito” - JEAN- JACQUES ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL BITTAR. Eduardo C. B. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2019. Sobre o autor do livro: É Professor Associado do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Brasil - USP). Desenvolveu estágio doutoral-FAPESP junto à Université de Lyon (II e III) e à Université de Paris (Sorbonne-II e Sorbonne-IV), na França. É Doutor (1999) e Livre-Docente (2003) pelo Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 14.1 Rousseau: seu tempo e sua obra “(...) a Revolução Francesa (1789), é que se desenvolveu o pensamento de Jean- Jacques Rousseau (1712- 1778), o filósofo de Genebra (...)” (p. 321) “(...) em meio à proposta de resgate do homem por si mesmo, de seu autoconhecimento, ou seja, de introspecção, ressaltou-se o postulado rousseauniano do bom selvagem (...).” (p. 321) “Os textos de base para (...) o problema da identificação do que seja a justiça na obra de Rousseau, restringir-se-á ao estudo de dois textos fundamentais, (...) este primeiro escrito para responder a uma pergunta formulada pela academia de Dijon, qual seja, “Qual a origem da desigualdade entre os homens, e se ela é autorizada pela lei natural” (...).” (p. 322) “(...) O contrato social, este segundo escrito é, na verdade, um extrato de uma obra maior que Rousseau havia composto, cuja parte publicada ficou conhecida sob este título, procurando, por meio desta, responder à seguinte questão que se põe a si mesmo: “O homem nasceu livre, e por todos os lados ele está preso”.” (p. 322) “Uma das questões primordiais é aquela atinente à noção de contrato social e sua relação com a vontade geral.” (p. 323) “(...) sua proposta é filosófica, e por isso se desdobra no sentido de desenvolver os argumentos que conferem solidez a suas hipóteses.” (p. 323) “Uma das hipóteses desenvolvidas em seu trabalho filosófico é a da formação de um contrato social.” (p. 323) “O contrato social é, portanto, um pacto, ou seja, uma deliberação conjunta no sentido da formação da sociedade civil e do Estado.” (p. 323) “O homem poderia optar por continuar em sua situação inicial, ou seja, em seu estado de natureza, ou, então, por meio de uma convenção, fundar uma associação tendente à realização de seu estado social.” (p. 323 - 324) “Em poucas palavras, a partir da união de muitos em torno de um objetivo comum (...).” (p. 324) “Forma-se mesmo (...) uma pessoa pública (personne publique), um corpo moral ou coletivo (corps moral ou collectif), diferente dos membros particulares que compõem sua estrutura, e isto em função do ato de união que se chama pacto social.” (p. 324) “A noção de contrato social está governada pela ideia de bem comum (...).” (p. 325) “(...) deve-se esclarecer que a vontade geral não está lastreada na ideia de unanimidade; ela não é geral por ser unânime, por não haver discordância, mas porque nela estarão contadas todas as ideias (...).” (p. 325) “O interesse particular agrega-se de tal forma ao interesse geral, que se torna difícil identificar um atentado a um que não represente, ao mesmo tempo, um atentado ao outro.” (p. 326) “Assim, a punição que o corpo social, atingido por um ato ilícito, pode aplicar sobre um particular facilmente justifica-se, e isso à medida que a violação, seja ao todo, seja a um particular, é um problema sempre do todo.” (p. 326) “O direito de punir encontra aí sua justificação e seu fundamento.” (p. 326) “Ocorre (...) que a convenção não é o fim dos males humanos, pelo contrário, é o início das tormentas humanas.” (p. 326) “Enfim, o que é contrato social? A fonte dos males da sociedade, ou o pacto tendente à realização de uma utilidade geral? Surge, aqui, um impasse que parece macular a obra de Rousseau pela contradição interna.” (p. 326) “(...) de um lado, o contrato representa a chave para a conservação do homem, mas, de outro lado, é a chave que aprisiona o homem à sociedade civil, fontes de fortes iniquidades.” (p. 326) “(...)a contradição se dá como uma condição natural do que se vislumbra como deve ser (ou deveria ser) o contrato social e do que efetivamente é (o que ocorre) o contrato social (...).” (p. 326) “(...) na descrição de uma realidade que, à sua época, era flagrantemente iníqua, fonte de desigualdades e desmandos, desordem e proteção de interesses pessoais.” (p. 326-327) “Trata-se, em suma, de uma oposição entre o que a teoria oferece (theoría) e o que a prática social demonstra (práxis).” (p. 327) “(...) Rousseau (...) conclui que a causa de todos os males humanos são as próprias invenções humanas, e que a forma de se corrigir todo tipo de desvio seria a manutenção do estado de natureza do homem.” (p. 327) “(...) fundada a sociedade civil, o homem comprou sua própria escravização.” (p. 327) 14.3 Direitos naturais e direitos civis “Os direitos civis somente surgem após o advento do contrato social. Os direitos naturais, por sua vez, são anteriores aos direitos civis, preexistindo a qualquer convenção social.” (p. 328) “ Para que se possa discutir, portanto, a existência de direitos naturais e de direitos civis, como duas categorias distintas de direitos na teoria de Rousseau, há que se partir de um pressuposto, a saber, aquele segundo o qual, entre um estado primeiro e um estado segundo, existe uma mudança substancial de qualidade de convívio e organização social para o homem. Nesse sentido, a ruptura entre um estado primeiro, chamado de natureza (status naturae), e um estado segundo, chamado cívico (status civitatis), se dá com a cessão das liberdades individuais ao Estado, o que é feito por meio do contrato social.” (p. 328) “Perceba-se que o pressuposto de partida para a elaboração dessas afirmações teóricas é o de que a natureza é boa, no sentido de que suas leis (naturais) são mais perfeitas que as humanas. Contudo, Rousseau não está desavisado quanto aos perigos da definição do que seja a lei natural; ele mesmo incumbe-se de dizer que a expressão é equívoca, e, assim sendo, é de difícil definição.” (p. 328-329) “Os direitos civis, para representarem uma ordem justa, legítima, fundada na igualdade e no respeito do status (naturae), devem encarnar os chamados direitos naturais; devem ser seu prolongamento vital.” “Enfim, o que se vê da história humana, diz Rousseau é que os direitos civis se fizeram distanciar dos direitos naturais, de modo que o direito civil converteu- se em direito arbitrário, e a lei natural remanesceu apenas como lei comum aos povos, ou seja, como direito das gentes.” (p. 328) 14.4 Leis e justiça “Rousseau é o último grande jusnaturalista de sua época, sendo sua noção de direitos naturais inspiradora das ideias da Revolução Francesa e da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, essa ideia de direitos naturais oponíveis ao Estado e ao soberano tomaram amplo reflexo na sociedade de seu tempo.” (p. 334) “O que aguardava Rousseau, efetivamente, do contrato social era uma ordem justa, de fato correspondente ao estado de natureza, respeitante da vontade geral, que jamais falha e está sempre retamente constituída.” (p. 335) “Falsear a justiça, e implantar o governo da injustiça, é dar espaço para o crescimento, ou para o florescimento proliferado, de vontades particulares, de interesses egoísticos em meio à maioria. A vontade geral possui compromisso direto com o interesse comum, e não com o interesse individual, de modo que seuprevalecimento, sua constância, sua manutenção são sinônimos de estabilidade no governo das coisas comuns.” (p. 337) “A lei só pode ser identificada com ordem à medida que é ela a orientação racional de todos para todos, ou seja, expressão maior da vontade geral, concretização do que o pacto quer ver acontecer orgânica e harmoniosamente em sociedade. Nesse sentido, a lei só pode ser a representação das vontades, em que cada indivíduo vê cristalizado também seu interesse; em que residem todos os interesses, na lei reside o interesse de cada indivíduo e de todos os indivíduos.” (p. 337) Conclusão A teoria de Rousseau da justiça é uma grande crítica aos desvios do poder, aos desmandos da política, ao desgoverno das leis, enfim, às instituições humanas em geral. Sua proposta, por um só ato, mantém a ordem do Estado, renuncia ao caos e à desordem implantados, institui o culto do estado de natureza, privilegia a liberdade e enaltece os fins sociais. A justiça, no que tange ao proposto, reside no respeito pelo que da natureza humana deflui, não se podendo ultrapassar os limites que são ditados pelo ato de concessão de poder quando do perfazimento do contrato. A injustiça, neste caso, representa o próprio entrelaçamento do poder com fins que não correspondem à vontade geral dos contratantes, mas com outras propostas e seduções ditadas pelos interesses particulares.
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