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Renovação, Regeneração e Reparo Tecidual ➝ Introdução e Definições • Regeneração: resulta na restituição completa do tecido perdido ou lesado. O reparo pode restaurar alguns estruturas originais, mas pode causar desarranjas estruturais. Ocorre em tecidos de alta capacidade proliferativa (hematopoiético, epitélio da pele e do TGI) se regeneram após lesões, já que as células-tronco desses tecidos não são destruídas. • Reparo: consiste em mais frequentemente uma combinação de regeneração e formação de cicatriz pela disposição de colágeno. A regeneração e cicatrização no reparo do tecido depende da habilidade do tecido em regenerar e da extensão da lesão. Obs.: o termo fibrose é usado para descrever uma extensa deposição de colágeno. ➝ Controle de Proliferação Celular Normal e do Crescimento Tecidual Nos tecidos adultos, o tamanho das populações celulares é determinado pelas taxas de proliferação celular, diferenciação e morte por apoptose e o aumento do número de células pode resultar de um aumento na proliferação ou diminuição da morte celular. As células diferenciadas incapazes de proliferar são denominadas células terminalmente diferenciadas. Essas células, em alguns tecidos, não são substituídas (miócitos cardíacos), enquanto, em outros, elas morrem, mas são continuamente substituídas por novas outras células (epitélio cutâneo) partir das células tronco. A proliferação celular pode ser estimulada por condições fisiológicas e patológicas. Dentro das fisiológicas há estimulação hormonal (TSH/ Tireoide, estrógeno/células endometriais). Já os estímulos patológicos acontecem quando um estímulo se torna excessivo (lesões ou TSH/ bócio). Além disso, a prol iferação celu lar e a diferenciação, são controlados, em grande parte, por sinais (solúveis ou dependente de contato) do macroambiente em que estimulam ou inibem esses mecanismos. Um excesso de estimuladores ou uma deficiência de inibidores resulta em crescimento, e , no caso do câncer , em cresc imento descontrolado. ➝ Atividade Proliferativa do Tecido Os tecidos do corpo são divididos em 3 grupos baseado na atividade proliferativa de suas células: - Tecidos em Divisão Contínua (Lábeis): as células proliferam por toda a vida, substituindo aquelas que são destruídas. Esses tecidos incluem os epitélios superficiais, como o Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG estratificado escamoso da pele, cavidade oral, vagina e colo uterino. - Tecidos Quiescentes (Estáveis): possuem um baixo nível de replicação. Entretanto, as células desse tecido podem sofrer rápida divisão em resposta a estímulos e, portanto, são capazes de reconstituir o tecido de origem. Esses tecidos incluem as células parenquimatosas do fígado, rins, pâncreas, células mesenquimais como os fibroblastos e de músculo liso, células endoteliais vasculares, linfócitos e outros leucócitos. - Tecidos Não Divisores (Permanente): contêm células que deixara, o ciclo celular e não podem sofrer divisão mitótico na vida pós-natal. A esse grupo pertencem os neurônios e células muscu lares cardíacas e esquelét icas . Resultados mostram que uma neurogênese limitada pode ocorrer, mesmo assim, em cérebros adultos. Além disso, células musculares esqueléticas possuem a capacidade de regeneração a partir de diferenciação das cé lu l as -saté l i te ader idas às ba inhas endomisiais e o músculo cardíaco tem capacidade regenerativa quase inexistente e, quando sofre lesão (IAM), é seguida por formação de cicatrização. ➝ Células-Tronco (CT) As células-tronco são caracterizadas por suas propriedades de autorrenovação ( as células mantêm sua pluripotencialidade) e por sua capacidade de gerar linhagens celulares diferenciadas (diferenciação em diversos tecidos). Para conseguir essas linhagens, as CTs precisam ser mantidas durante toda a vida do organismo. Essa manutenção é feita através de dois mecanismos: 1. Replicação Assimétrica Obrigatória: cada divisão da célula-tronco uma das células-filhas retém sua capacidade de autorrenovação e outra entra em uma via de diferenciação. 2. Diferenciação Aleatória (Estocástica): a manutenção da população de célula-tronco é mantida pelo equilíbrio entre divisões da CT que geram duas filhas autorrenovadoras ou duas células que vão diferenciar-se. Nos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, as CT, conhecidas como células embrionárias ou células ES, são pluripotentes, ou seja, podem gerar todos os tipos de tecidos do corpo. Elas originam células-tronco multipotentes, que possuem um potencial de desenvolvimento mais restrito e, por fim, produzem as células diferenciadas dos 3 folhetos. O termo transdiferenciação indica uma alteração no comprometimento da linhagem de uma CT. Em adultos, as CT (chamadas de CT adultos ou somáticas) com uma capacidade mais restrita de gerar diferentes tipos celulares têm sido identificadas em muito tecidos. ➝ Células-tronco Embrionárias (ES) No início do desenvolvimento embrionário, a massa interna de células do blastocisto contém células-tronco pluripotenciais chamadas de células-tronco embrionárias (ES). As células do blastocisto isoladas podem ser mantidas em cultura como linhagens de células indiferenciadas ou ser induzidas a se diferenciar em linhas específicas. ➝ Reprogramação de Células Diferenciadas Células-tronco Pluripotente Induzidas As células diferenciadas de tecidos adultos podem ser reprogramadas para tornarem-se pluripotentes transferindo seus núcleos para um ovócito cujo núcleo foi previamente retirado (clonagem reprodutiva). Esse procedimento, foi demonstrado com sucesso, em 1997, pela clonagem da ovelha Dolly, quando os ovócitos foram implantados em um mãe de aluguel. Esse experimento trouxe uma grande esperança para que essa técnica possa, brevemente, ser utilizado nas clonagem terapêutica. Nessa técnica, o núcleo de um fibroblasto da pele de um paciente é introduzido dentro de um ovócito humano enucleado (sem núcleo) para gerar células-tronco embrionárias. Por questões éticas Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG e outras, a clonagem reprodutiva e a terapêutica, são ineficientes e com frequência inexata. Uma sér ie de exper imentos marcantes demonstrou que a manutenção da pluripotência das células-tronco embrionárias de camundongos dependem da expressão de 4 fatores de transcrição: Oct3/4, Sox2, c-myc e Klf4. Então, fibroblastos humanos de adultos e recém-nascido têm sido reprogramados em células pluripotentes através da transdução desse 4 genes que codificam os fatores de transcrição. As células programadas são chamadas de células iPS e são capazes de gerar células de origem endodérmica, mesodérmica e ectodérmica. As células iPS podem tornar-se uma fonte de células para terapia de células-tronco específicas para o paciente sem o envolvimento de transferencia nuclear para ovócitos, por meio de ttansfecção de hepatócitos, células gástricas e linfócitos B maduros terminalmente diferenciados de camundongos, com genes para os mesmos 4 fatores - ‘CT embrionárias sem embriões’. ➝ Células-tronco Adultas (Somáticas) Encontram-se presente em tecidos que se dividem continuamente e em tecidos maduros, como a medula óssea, pele, fígado, pâncreas, tecido adiposo e revestimento do TGI. Residem em microambientes (nichos) e regulam sua autorrenovação e geração de progênie . 1 As células-tronco somáticas possuem capacidade limitada de diferenciação, mas geram células que se dividem rapidamente chamadas de células amplificadoras transitórias., que por sua vez perde a capacidade de divisão assimétrica (autoperpetuação) e dão origem a células progenitoras, que possuem um potencial de desenvolvimento restrito. Portanto, as CT somáticas geram células maduras dos tecidos onde residem. Uma alteração na diferenciação de uma célula de um tipo celular (CT) para outro é conhecido como transdiferenciaçãoe a capacidade da célula de se transdiferenciar em diversas linhagens é a plasticidade de desenvolvimento. As células- tronco hematopoiéticas (HSC) são capazes de se transdiferenciar, in vitro, em neurônios, cardiomiócitos, hepatócitos e outros. Porém, essa técnica é algo muito incerto por fatores de detecção das células e frequência baixa. ➝ Células-tronco na Homeostasia Tecidual - Medula Óssea - CT HSC e estromais: possui células HSC e células estromais. As HSC são pluripotentes e geram todos os tipos de l inhagens celulares sanguíneas, podem reconstituir a medula óssea após depleção patológica e são amplamente utilizadas para doenças hematológicas. Elas podem ser colhidas diretamente na medula óssea. Já as células estromais da medula, são multipotentes e podem, potencialmente, possuir aplicações terapêuticas importantes porque podem originar condrócitos, osteoblastos, adipócitos, mioblastos e precursores endotel ia is , dependendo do tecido para a qual elas migram. Elas migram para tecidos lesados. - Fígado - CT e Progenitoras Hepáticas: o fígado possui células-tronco/progenitoras nos canais de Hering. As células desse nicho Conjunto de descendentes.1 Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG podem originar células precursoras chamadas cé l u l a s ova i s , q ue s ão p rogen i toras bipotenciais, podendo diferenciar-se em hepatócitos e células biliares. Já as células- tronco hepáticas, funciona como secundárias. São ativadas somente quando a proliferação dos hepatócitos é bloqueada. - Cérebro - CT neurais (NSC): a neurogênese acontece, no cérebro, a partir de NSC. São capazes de originais neurônios, astrócitos e oligodendrócitos. Elas são identificadas na zona subventricular e no giro denteado do hipocampo. *Ainda não é esclarecido se os neurôn ios gerados recentemente são integrados aos circuitos neurais pré-existentes ou não.* - Pele: as células-tronco da pele estão localizadas em 3 áreas: bulbo do folículo piloso, áreas interfoliculares da epiderme superficial e glândulas sebáceas. O nicho do bulbo do folículo piloso possui células que produzem todas as linhagens celulares do folículo piloso. As CT interfoliculares são dispersas individualmente pela epiderme e não possuem nicho. - Epitélio Intestinal: no intestino delgados, as criptas são estruturas monoclonais devrivadas de CT únicas. O vilo contêm células de múltiplas criptas. Essas CT, regeneram a cripta em 3-5 dias. CT, ainda, podem estar acima das células de Paneth (no ID) e na base da cripta (no cólon). - Músculos Esqueléticos e Cardíacos: os miócitos da musculatura esquelética não se dividem, mesmo após lesão. O crescimento e a regeneração do músculo esquelético lesado ocorrem através da replicação das células- satélites (estão abaixo das lâmina basal dos miócitos). Já no coração, a presença de CT ainda é debatida. - Córnea: a transparência da córnea depende da integridade do seu epitélio, o qual é mantido pelas CT do limbo (LSCs). Essas células estão na junção entre o epitélio da córnea e a conjuntiva. ➝ Ciclo Celular e Regulação da Replicação Celular A pro l i feração ce l u l ar é um processo estreitamente regulado que envolve um grande número de moléculas e vias inter-relacionadas. A proliferação/replicação das células é estimulada por fatores de crescimento solúveis ou por sinalização dos componentes da MEC, através das interinas. Para chegar na replicação e divisão do DNA, a célula passa por uma sequência de eventos, conhecidos como ciclo celular. - Fase G₁: fase de pré-sintese. - Fase S: fase de síntese do DNA. - Fase G₂: fase de pré-mitótica. - Fase M: fase de mitose. As células podem entrar em G₁ a partir de G₀ (células quiescentes - estado especial) ou após completarem a mitose (células que se dividem Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG continuamente). As células quiescente devem, primeiramente, passar pela transição de G₀ para G₁, a primeira etapa de decisão, que funciona como uma entrada para o ciclo celular. O ciclo possui múltiplos controles, principalmente durante a transição de G₁ para S. Esses controles são ativadores, inibidores e sensores de dano molecular. OS pontos de controle verificam a integridade do DNA antes da replicação e possuem mecanismos de reparou ou apoptose (p53). Cada fase do ciclo é dependente da ativação apropriada e finalização da fase anterior e o ciclo se interrompe no local onde a função de um gene essencial é deficiente. As células em G₁ progridem através do ciclo e alcançam um estágio crítico na transição G₁/S, chamado ponto de restrição, uma etapa de limitação da velocidade de replicação e é regulada por proteínas ciclínas e enzimas cinase ciclinas— dependentes (CDK). Fatores de Crescimento São polipeptídeos conhecidos que possuem múltiplos ou restritos alvos celulares. Podem, também, promover a sobrevida celular, locomoção, contratilidade, diferenciação e angiogênese. Todos os fatores de crescimento agem como ligantes que se ligam a receptores específicos, os quais liberam sinais para a célula-alvo. Esse sinais estimula a transcrição de genes que podem estar silenciosos nas células em repouso, incluindo genes que controlam a entrada e progressão do ciclo celular. As fontes típicas são macrófagos, plaquetas e células mesenquimais (endotélio, epitélio e células T). A seguir, na tabela 3-1, estão os principais fatores de crescimentos: *Citoinas - mediadores da resposta imune e inflamatória que muitas vezes podem apresentar respostas promotoras de crescimento. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG ➝ Mecanismo de Sinalização do Crescimento Celular Diferentes classes de moléculas receptores e vias iniciam uma cascata de eventos pela qual a ativação do receptor leva à expressão de genes específicos. Nesse momento, estudaremos o processo de transdução de sinal mediada por receptor que é ativado pela ligação de ligantes, como fatores de crescimento e citocinas. ●Sinalização: é a conversão de estímulos extracelulares em eventos intracelulares através da ligação de um ligante a seu receptor, gerando uma cascata por meio de proteínas cinases incumbidas de ativar a transcrição gênica e promover a entrada da célula no ciclo celular. ●Sinalização Autócrina: as células respondem ás moléculas de sinalização que elas próprias secretam, estabelecendo uma alça autócrina. É presente na regeneração hepática e na proliferação de linfócitos estimulados por antígenos. Aleem disso, célula tumorais que produzem quantidade excessivas de fatores de crescimento estimula sua própria proliferação pela alça autócrina. ●Sinalização Parácrina: uma célula produz o ligante que age em célula-alvo adjacente que expressa o receptor apropriado. As células estão próximas. Essa sinalização é comum no reparo de feridas de tecido conjuntivo, replicação de hepatócito durante regeneração hepática e renovação de tecidos. ●Sinalização Endócrina:hormônios circulantes sintetizados por células de órgãos endócrinos atuam sobre células-alvo distante do seu local de síntese, sendo transportados pelo sangue. Fatores de crescimento e citocinas também podem circular e atuar em locais distantes. Receptores A adesão de um ligante ao seu receptor desencadeia uma série de eventos pelos quais os sinais extracelulares são transluzidos na célula, resultando em alteração na expressão do gene. - Receptores com atividade intrínseca da tirosina-cinase: a maioria dos receptores de fatores de crescimento (EGF, TGF-𝛼, HGF, PDGF, VEGF, FGF, ligante c-KIT e insulina). - Receptores sem atividade intrínseca de tirosina-cinase que recrutam cinases: típicos receptores de citocinas (IL-2, IL-3, IFN alfa, beta e gama), eritropoietina, fator estimulado da colônia de granulócitos, GH e prolactina. Ativam proteína cinases no citosol. - Receptores acoplados à proteínas G: mais de 1.500 identificados.São receptores para quimiocinas, epinefrina e glucagon. - Receptores de hormônio esteroides: geralmente localizados no núcleo e agem como fatores de transcrição dependentes de ligantes. ➝ Mecanismos de Regeneração dos Tecidos e Órgãos Nos mamíferos, a regeneração acontece por hipertrofia, hiperplasia compensatória, rápida resposta fibroproliferativa e formação de Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG cicatriz. O rim, pâncreas, glândulas adrenais, tireoide, e pulmões jovens são capazes de expressar crescimento compensatório, embora de forma menos dramática que o fígado. O fígado humano possui uma notável capacidade de regenerar-se, como demonstrado por seu crescimento após hepatectomia parcial, que pode ser realizada para a ressecção de um tumor ou para um transplante hepático de doador vivo. Quase todos os hepatócitos replicam-se durante a regeneração hepática após hepatectomia parcial. Como os hepatócitos são células quiescentes, eles levam várias horas para entrar no ciclo celular, progredir para G1 e alcançar a fase S de replicação do DNA. A onda de replicação dos hepatócitos é sincronizada e acompanhada por replicação sincrônica de células não parenquimatosas (células de Kupffer, células endoteliais e células estreladas).Existem evidências substanciais de que a proliferação do hepatócito, no fígado que está se regenerando, seja desencadeada por ações combinadas de citocinas e fatores de crescimento polipeptídicos. Descrição do Esquema da Regeneração Hepática após Hepatectomia Parcial: A) Lobos de um fígado de rato (M, lobo médio; LD e LE, lobos lateral direito e lateral esquerdo, respect i v amente ; C , l obo caudado ) . A hepatectomia removeu dois terços do fígado (lobos médio e lateral esquerdo). Após 3 semanas, os lobos lateral direito e caudado crescem e alcançam uma massa equivalente à do fígado original, sem ter ocorrido um novo cresci- mento dos lobos médio e lateral esquerdo. B) Entrada e progressão dos hepatócitos no ciclo celular (veja o texto para detalhes). C) Regeneração do fígado humano em um transplante de doador vivo. ➝ Matriz Extracelular e Interações Célula- matriz A M E C é c o m p o s t a p o r 3 g r u p o s d e macromoléculas: proteínas estruturais fibrosas (colágeno e elastina - força tênsil e recuo), glicoproteínas adesivas (conectam elementos da MEC entre si e às células) e proteoglicanos (elasticidade e lubrificação). A regeneração e o reparo dos tecidos dependem não somente da atividade de fatores solúveis, mas também das interações entre as células e os componentes da matriz extracelular (MEC). A MEC regula o crescimento, a proliferação, o movimento e a diferenciação das células que vivem no seu interior. Ela está em constante remodelamento e sua síntese e degradação acompanham a morfogênese, a regeneração, a cura de feridas, os processos fibróticos crônicos, a invasão e a metástase de tumores. Dentre as funções da MEC, estão: suporte mecânico, controle do crescimento celular, manutenção da diferenciação celular, arcabouço para renovação tecidual, estabelecimento de microambientes teciduais e armazenamento e apresentação de moléculas reguladoras. Imagem: Principais Componentes da MEC Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG ➝ Cura por Reparo, Formação de Cicatriz e Fibrose Quando a lesão ao tecido é grave ou crônica e resulta em lesão das células parenquimatosas e do arcabouço de estroma, a cura não pode ser efetuada por regeneração. Nessa condição, o principal processo de cura ocorre por deposição de colágeno e outros elementos da MEC, promovendo a formação de uma cicatriz. Ao contrário da regeneração , o reparo é uma resposta fibroproliferariva que ‘remeda’.o tecido. O reparo pela deposição de tecido conjuntivo inclui - sequência de cura: ● Inflamação ➝ eliminar estímulo inicial e remover tecido lesionado. ●Angiogênese ●Migração e proliferação de células conjuntivas (fibroblastos) e parênquimatosas ●Formação de cicatriz ➝ síntese e deposição da MEC. ●Remodelamento do tecido conjuntivo A reação inflamatória induzida pela lesão contém a lesão, remove o tecido lesado e promove a deposição de componentes da MEC na área, ao mesmo tempo em que a angiogênese é estimulada. Contudo, se a lesão persiste, a inflamação torna- se crônica levando a uma excessiva deposição de tecido conjuntivo conhecido como fibrose. Na maioria dos processos de cura, ocorre uma combinação de regeneração e reparo. As relativas contribuições do reparo e da regeneração são influenciadas por: 1. Capacidade de proliferação do tecido afetado 2. Integridade da MEC 3. Cronicidade da inflamação associada Cura de Feridas Cutêneas É dividida em 3 fases: inflamação, proliferação e matuação. Essas fases se sobrepõem e sua separação é arbitrária, porém ajudam a entender a sequência de eventos que ocorrem na cura de feridas da pele. A lesão inicial provoca adesão e agregação de plaquetas, formando um coágulo na superfície ferida, levando à inflamação. Na fase proliferativa, há a formação do tecido de granulação, proliferação e migração de células do tecido conjuntivo e reepitelização da superfície da ferida. A maturação envolve a deposição de MEC, remodelamento do tecido e a contração da ferida. O tipo mais simples de reparo de ferida cutânea é o reparo de uma incisão cirúrgica limpa não infectada, aproximada por suturas cirúrgicas. Esse tipo de cicatrização é chamado de cura por união primária ou por primeira intenção. A incisão provoca a morte de um número limitado de células epiteliais e células do tecido conjuntivo, bem como a ruptura da continuidade da membrana basal. Já o processo de rapado em feridas de excisão que criam grandes defeitos na superfície da pele, provocando perda excessiva de células e tecidos, é mais complicado. A cura dessas feridas envolve uma reação inflamatória mais intensa, formação de abundante tecido de granulação e extensa deposição de colágeno, levando à formação de cicatriz substancial que geralmente se contrai. Essa forma de cura é denominada união secundária ou cura por segunda intenção. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG O termo cicatriz é mais frequentemente associado à cura de feridas na pele, porém é usado também para descrever a substituição de células parenquimatosas de qualquer órgão, por colágeno, como ocorre no coração após IAM. Eventos da Cicatrização ●Formação do Coágulo Sanguíneo: a lesão provoca rápida ativação das vias de coagulação que formam um coágulo sanguíneo na superfície da ferida. O coágulo estanca o sangramento e funciona como arcabouço para células em migração que são atraídas por fatores de crescimento, citocinas e quimicionas que são liberadas na área. Dentro de 24h, neutrófilos aparecem nas bordas da ferida e migram para o coágulo, onde liberam enzimas proteolíticas que esteriliza e remove restos necróticos e bactérias. ●Formação do Tecido de Granulação: Nas primeiras 24-72h (1 a 3 dias) do processo de reparo, os fibroblastos e células endoteliais vasculares proliferam e formam o tecido de granulação, que é o ponto de referência do reparo tecidual. Ele possui aparência granular, rósea e macia. Histologicamente, apresenta n o v o s e p e q u e n o s v a s o s s a n g u í n e o s (angiogênese) e proliferação de fibroblastos para formação de tecido conjuntivo frouxo. E s s e t e c i d o d e g r a n u l a ç ã o e x i b e frequentemente edema e a quantidade de tecido que é formado depende do tamanho do defeito no tecido criado pela ferida e da intensidade da inflamação. Por volta de 5 a 7 dias, o tecido de granulação preenche a área da ferida e a neovascularização atinge seu ponto máximo. Imagem:Tecido de granulação mostrando numerosos vasos sanguíneos, edema e MEC frouxa contendo algumas células inflamatórias. O colágeno está corado em azul pelo corante tricrômico; neste ponto, pode ser vistauma quantidade mínima de colágeno maduro. ●Proliferação Celular e Deposição de Colágeno: Cerca de 48-96h (2 a 4 dias), os neutrófilos são amplamente substituídos p o r m a c r ó f a g o s . O s m a c r ó f a g o s representam os constituintes celulares- chave do reparo tecidual, removendo resíduos extracelulares, fibrina e outros materiais estranhos do local de reparo e promovendo angiogênese e deposição da MEC. ●Formação da Cicatriz: o infiltrado leucocitário, o edema e o aumento da vascularização desaparecem, em grande parte, durante a segunda semana. Há o início do empalidecimento, por causa do aumento de colágeno e a regressão dos canais vasculares. Por fim, o arcabouço de tecido de granulação original é convertido em cicatriz avascular e pálida, composta de fibroblastos fusiformes, colágeno denso, f r a g m e n t o s d e t e c i d o e l á s t i c o e componentes da MEC. No fim do primeiro mês, a cicatriz consiste em tecido conjuntivo acelular destituído de infiltrado inflamatório e recoberto por epiderme intacta. ●Contração da Fer ida: e la ocorre geralmente em grandes feridas de superfície. Ajuda a fechar a ferida pela redução das lacunas entre suas margens dérmicas e reduzindo a área de superfície. Por isso, é uma característica importante na cura por união secundária. ●Remodelamento do Tecido Conjuntivo: A substituição do tecido de granulação por uma cicatriz envolve alterações na composição da MEC. O equilíbrio entre síntese e degradação da MEC resulta no remodelamento da trama de tecido conjuntivo, uma característica importante do reparo tecidual. Alguns fatores de crescimento que estimulam a síntese de colágeno e de outras moléculas do tecido conjuntivo modulam também a síntese e ativação das metaloproteinases, enzimas que degradam esses componentes da MEC. A degradação do colágeno e de outras Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG proteínas da matriz é realizada pelas metaloproteinases de matriz (MMP). ● Recuperação da Força Tênsil: os colágenos fibrilares (principalmente colágeno tipo I) formam a principal porção do tecido conjuntivo nos locais de reparo e são essenciais para o desenvolvimento da força tênsil nas feridas em cicatrização. Contudo, o acúmulo final de colágeno depende não apenas do aumento de síntese, mas também da diminuição de degradação. A resistência da ferida aumenta rapidamente durante as 4 semanas seguintes, mas esse aumento reduz- se aproximadamente no terceiro mês após a incisão e alcança um platô de cerca de 70% a 80% da força tênsil da pele intacta. A menor força tênsil na área da ferida curada pode persistir pelo resto da vida. A recuperação da força tênsil resulta do excesso da síntese de colágeno que ultrapassa a sua degradação d u r a n t e o s p r i m e i r o s 2 m e s e s e , posteriormente, de modificações estruturais das fibras colágenas (ligação cruzada e aumento do tamanho das fibras) quando a síntese de colágeno cessa posteriormente. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Fato re s L o ca i s e S i s t êm i c o s q ue Influenciam a Cura de Feridas Fatores Sistêmicos ●Estado nutricional ➝ a deficiência de proteínas e de vitamina C inibem a síntese de colágeno e retardam a cicatrização. ●Estado metabólico ➝ o diabetes melito está associado ao atraso da cicatrização, como consequência de microangiopatia. ●Estado circulatório ➝ o suprimento sangu íneo inadequado causado por arterioesclero ou anomalias venosas r e t a r d a m a d r e n a g e m v e n o s a e comprometem a cura. ●Hormônios ➝ os glicocorticoides possuem efeitos anti-inflamatórios que influencia componentes da inflamação. Esses agentes inibem a síntese de colágeno. Fatores Locais ● Infecção ➝ resulta em lesão e inflamação persistentes, retardando a cura. ●Fatores mecânicos ➝ o movimento precoce das feridas, podem retardar a cura por compressão dos vasos e separação das margens. ● C o r p o s e s t r a n h o s ➝ s u t u r a s desnecessárias ou fragmentos de aço, vidro ou osso podem impedir o processo de cura. ●Tamanho, localização e tipo ➝ feridas em áreas ricamente vascularizadas (face) cicatrizam mais rápido, do que as em locais menos vascularizados (pé). Aspectos Patológicos do Reparo As complicações na cura de feridas podem surgir de anormalida- des em qualquer um dos componentes básicos do processo de reparo. Podem ser classificados em 3 categorias: formação deficiente de cicatriz, formação excessiva dos componentes do reparo e formação de contraturas. A formação inadequada do tecido de granulação ou organização da cicatrização pode levar a deiscência da ferida e ulceração. A formação excessiva dos componentes do processo de reparo pode originar cicatrizes hipertróficas e queloides. Quantidades excessivas de colágeno pode gerar uma cicatriz saliente conhecida como cicatriz hipertrófica e quando a cicatriz cresce além das margens da ferida original, sem regredir, é chamada de queloide. A formação de queloides pode ser uma predisposição individual, por motivos não conhecidos, e são mais comuns em negros. Já as cicatrizes hipertróficas, geralmente, desenvolvem-se após lesão traumática ou térmica, envolvendo as camadas mais profundas da derme. Imagem: Queloide. Imagem: Deposição de tecido conjuntivo na derme - histologia do queloide. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG A contração no tamanho de uma ferida constitui uma parte importante do processo normal de cicatrização. Um exagero desse processo origina a contratura e resulta em deformidades da ferida e dos tecidos circundantes. As contraturas são particularmente propensas a desenvolver-se nas palmas das mãos, plantas dos pés e face anterior do tórax. As contraturas são comumente observadas após queimaduras graves e podem comprometer o movimento das articulações Imagem: Contratura da ferida após lesão por queimadura profunda. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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