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APOSTILA 5 - BIOETICA E ABORTO

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AP5 - BIOÉTICA E ABORTO
 
O Tema aborto tem ampla discussão na disciplina de Bioética. No Brasil é considerado crime, de acordo com os artigos 124 a 128 do Código Penal Brasileiro (com exceções em caso de estupro,  risco de vida para a gestante e anencefalia do feto).
Do latim aboriri, abortar significa a interrupção prematura do desenvolvimento e expulsão do concepto do útero,  antes de se tornar viável, ou seja, capaz de viver fora do útero,  com a consequente destruição do produto da concepção e a eliminação da vida intrauterina.
O aborto pode ocorrer entre a concepção e o início do parto. Depois disso não é considerado aborto, mas sim avistam-se as figuras típicas do homicídio ou do infanticídio.
Na literatura existem muitos tipos de aborto, abaixo estarão relacionados alguns deles:
1 -  Aborto atípico ( não estão previstos na lei e não são puníveis)
a) Ameaça de aborto: Neste caso ocorre um sangramento com possibilidade de aborto oriundo  de uma complicação que ocorre em cerca de 25% das gestações. Apesar do esforço clínico realizado na prevenção do aborto, o índice de acontecidos ainda é alto: cerca de metade dos conceptos é abortada.
b) Aborto natural ou espontâneo: É o aborto oriundo de causas patológicas decorrentes de um processo fisiológico espontâneo do organismo feminino.
c) Aborto acidental: Deriva de causas exteriores e traumáticas. Exemplo: escorregão.
d) Aborto culposo: É o aborto que resulta de culpa, de uma conduta imprudente, negligente ou imperita.
 
2 -  Aborto típico e jurídico (estão previstos em lei e não são puníveis)
a) Aborto terapêutico (artigo 128, inciso I): É realizado quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
b) Aborto sentimental e humanitário (artigo 128, inciso II): É o aborto autorizado quando a gravidez é resultante de estupro.
 
3 -  Aborto típico, antijurídico e culpável (estão previstos em lei e são puníveis):
a) Aborto doloso: é realizado pela própria gestante, ou por terceiro com ou sem seu consentimento (artigos 124 a 126). O dolo é a vontade livre e consciente de interromper a gravidez com a eliminação do produto da concepção ou com a assunção do risco de provocá-lo.
b) Aborto eugênico/eugenésio: aborto realizado quando o feto apresenta graves e irreversíveis defeitos genéticos. Exemplo: feto anencefálico.
c) Aborto econômico/social: aborto realizado para que não se agrave a situação de miséria da gestante, que não terá condições socioeconômicas para criar o filho.
d) Aborto honoris causa: aborto realizado para ocultar desonra própria. Exemplo: ficar grávida do amante.
 
O Código Penal visa  proteger principalmente   a vida intrauterina. Secundariamente, conforme os artigos 125 e 126, a tutela é a vida, a integridade física e a saúde da gestante.
A rigor, não se trata de crime contra a pessoa, mas contra a vida do ser humano em formação que tem seus direitos garantidos.
É indispensável a prova da eliminação da vida intrauterina por conduta do agente.
O aborto em todas as suas figuras típicas é crime material, de resultado naturalístico, exteriorizado, perceptível aos sentidos, de modo que, se exige o exame de corpo de delito.
Sujeito ativo: As 4 formas típicas de aborto são crimes unissubjetivos, ou seja, não é necessário a prática por mais de uma pessoa.
Sujeito passivo: é o produto da concepção (óvulo fecundado, embrião ou feto).
Nas figuras do autoaborto e do consentimento para abortar (artigo 124), o sujeito ativo é a gestante. Trata-se de crimes próprios, pois exigem especial atributo do agente, ou seja, SÓ a gestante pode praticar.
O terceiro que induz, instiga ou auxilia a gestante ao autoaborto é participe (artigo 124, 1ª parte). Portanto, admite concurso eventual de agentes, exclusivamente na modalidade participação. Exemplo: fornecer medicamento de efeito abortivo.
A figura do consentimento para abortar (artigo 124, parte final) não admite o concurso de pessoas, por se tratar de crime de mão própria.
Nas figuras típicas do aborto praticado por terceiro, sem ou com o consentimento da gestante (artigos 125 e 126) o sujeito ativo é qualquer pessoa, exceto a gestante.
Trata-se de uma exceção Pluralística à Teoria Unitária ou Monista adotada pelo código quando terceiro provoca o aborto com o consentimento da gestante. O terceiro responderá pelo artigo 126 enquanto a gestante pelo artigo 124, parte final.
Qual a consequencia legal e com a gestante que realiza um aborto?
Reportagem abaixo disponível no link http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2010/01/22/o-aborto-e-a-lei-segundo-uma-promotora/
 
Leia com atenção:
"Uma grávida, maior de 18 anos, provoca aborto em si mesma ou consente que alguém o provoque. É crime, segundo o artigo 124 do Código Penal Brasileiro. A pena mínima prevista no código é de um ano de detenção e a pena máxima pode chegar a três anos de detenção. Isso significa que uma mulher, processada por aborto que provocou ou consentiu, será mesmo condenada e presa?
Vejamos:
- quando ocorre um crime, o delegado de polícia instaura inquérito policial para investigar. No caso do aborto, ele é obrigado a colher indícios de que a grávida provocou intencionalmente ou permitiu que alguém realizasse o aborto. Aborto natural, logicamente, não é crime. E nem aborto culposo, na hipótese da grávida imprudente que não se cuidou e abortou. Aborto é crime que deixa vestígios, então, para ser provado, necessário o exame do cadáver do feto.
Geralmente, abortos ocorrem clandestinamente, em casa ou em clínicas ilegais. Ou então, para serem descobertos pela polícia, dependem de notícia dada por médicos ou pessoas próximas da grávida. Essas circunstâncias (necessidade de delação, de preservação do cadáver do feto e até mesmo de apreensão de instrumentos ou medicamentos que indiquem a efetiva intenção de abortar) contribuem para que o número de inquéritos policiais instaurados para apuração de aborto provocado ou com consentimento da gestante sejam reduzidos.
- concluída a investigação, o inquérito é analisado pelo promotor de justiça, que fará a "denúncia": ou seja, a acusação formal e escrita, dirigida ao juiz, narrando a prática do crime e pedindo a instauração de processo criminal contra a denunciada. Mesmo que, na denúncia, o promotor conclua a acusação pedindo a futura condenação da denunciada, esse pedido não o vincula até o final do processo. Se, futuramente, colhidas as provas, o promotor se convencer da inocência da ré, ou de que não há provas suficientes para considerá-la culpada, pode pedir sua absolvição.
- no caso de uma mulher ser denunciada (acusada) por aborto provocado ou que consentiu, pode ser que o processo não seja julgado. Isso porque existe uma lei processual, a Lei n. 9099/95, que dispõe que, nos crimes nos quais a pena mínima não for superior a um ano de prisão, o promotor de justiça pode oferecer para a pessoa acusada uma proposta de suspensão do processo. O aborto entra nessa possibilidade. Mas a ré não pode estar sendo processada pela prática de outro crime, nem ter sido condenada anteriormente por crime.
Se a acusada aceitar a proposta do promotor, o processo ficará suspenso por dois anos. Nesse tempo, ela terá que comparecer no fórum uma vez por mês, para assinar uma ficha no cartório judicial. Também só vai poder sair da cidade onde corre o processo para viajar, com autorização do juiz. Terminados os dois anos, se ela cumpriu as condições e não cometeu outros crimes, o processo é extinto e arquivado, sem sentença de julgamento, ou seja, sem a acusada ter sido julgada culpada ou inocente.
- se a acusada não tiver direito à proposta de suspensão (por exemplo: ela está sendo processada por outro crime. "Processada" é diferente de "investigada" em inquérito policial. Apenas denúncia, que significa acusação, recebida por um juiz gera processo) ou se não a aceitar, o processo se inicia e serão colhidas as provas orais em audiência judicial, com juntada de documentos, laudos no processo etc. Só que não será o juiz que irá julgar a acusada de aborto.
Aborto, segundo oCódigo Penal, é crime doloso (intencional) contra a vida. A Constituição Federal diz que os crimes dolosos contra a vida (homicídio, infanticídio, aborto, instigação a suicídio) serão obrigatoriamente julgados pelo júri popular.
Então, sete pessoas da sociedade, os jurados, vão decidir se uma acusada levada a julgamento será condenada ou absolvida. O veredicto se dará pela maioria de votos, com os jurados depositando, em uma urna, cédulas com a palavra "sim", para condenação, ou "não", para absolvição. A votação é secreta, cada jurado não pode revelar seu voto e nem se comunicar com os demais jurados. Sendo a votação secreta, os jurados votam conforme sua consciência e convicção, baseados nas provas expostas pela acusação e defesa.
Não podem justificar oralmente ou por escrito o porquê de seu voto. Se a maioria de votos concluir pela condenação, o juiz se limitará a calcular a pena a ser aplicada para a condenada. Se primária e de bons antecedentes, provavelmente receberá pena mínima, um ano de detenção.
 
Independente do rito penal, o Aborto traz graves consequencias físicas e emocionais para a mulher, e a decisão de ser realizado deve obedecer os princípios legais e éticos, devendo cada caso ser analisado individualmente. 
 
Referências:
MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N. The developing human: clinically oriented embryology. 7ª ed. Elsevier. USA, 2013.
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