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RESENHA CRÍTICA DO TEXTO “RANA PLAZA: SEGURANÇA DO TRABALHO EM BANGLADESH” SALVADOR, BAHIA MAIO, 2020 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO LEGISLAÇÃO E NORMAS TÉCNICAS MÁRIO AUGUSTO DÓRIA LUZ JÚNIOR RESENHA CRÍTICA DO TEXTO “RANA PLAZA: SEGURANÇA DO TRABALHO EM BANGLADESH” Resenha Crítica apresentada ao curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Estácio de Sá, como requisito para aprovação da disciplina Legislação e Normas Técnicas, ministrada pelo Prof. Carlos Alberto. SALVADOR, BAHIA MAIO, 2020 1 INTRODUÇÃO A segurança do trabalho é um conjunto de normas, ações, atividades e medidas preventivas destinadas à melhoria do ambiente de trabalho, prevenção de ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e proteção à integridade e capacidade do trabalhador. A NR-1 estabelece que as Normas Regulamentadoras (NR’s), pertinentes à Saúde e Segurança do Trabalho (SST), sejam exigidas para todas as empresas públicas e privadas, desde que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As NR’s de Segurança, Higiene e Saúde foram promulgadas em 08 de junho de 1978, através da Portaria 3.214 e presentemente existem 36 NR’s vigentes no Brasil. “Acidente de trabalho, conforme dispõe o Artigo 19 da Lei nº 8.213/91, é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. As melhorias contínuas em medidas de segurança podem alavancar os lucros de uma fábrica por exemplo, com o aumento da produtividade, bem como a promoção da qualidade de vida no trabalho (QVT) por parte dos colaboradores e em paralelo, a geração de um nível de confiança deles na empresa. O texto da Escola de Negócios de Havard disponibilizado para análise e interpretação retrata o pior acidente industrial na história do país asiático, Bangladesh, ocorrido em 24 de abril de 2013, quando um edifício de 8 andares da fábrica chamada Rana Plaza, desmoronou no distrito de Savar, na periferia de Daca (capital). Este terrível desastre deixou quase 1.200 vítimas fatais e mais de 2.400 feridas, onde muitas delas foram mutiladas e consequentemente, tiveram as opções de empregos restringidas. Após a tragédia, algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) e proprietários de marcas internacionais juntamente com sindicatos encabeçaram debates sobre medidas preventivas e corretivas para mitigar os riscos e melhorar as condições de segurança dos trabalhadores da indústria têxtil. Com a vigência do Acordo Multifibras (MFA), introduzido em 1974, a política de segurança social permitia baixos custos trabalhistas, fazendo com que Bangladesh mantivesse seu volume satisfatório de exportações, mesmo com o fim do decreto, que ocorreu em 1º de janeiro de 2005, após 30 anos da promulgação. Além disso, por conta das desobrigações com relação as quotas sobre as exportações para os países desenvolvidos, o comércio de têxteis e vestuário o intitulou como segundo maior exportador mundial de vestuário. O setor têxtil viveu um crescimento exponencial na última década em Bangladesh, representando quase 80% das exportações do país (US$ 21,5 bilhões) e mais de 40% da mão de obra industrial (na casa dos 4 milhões de trabalhadores, onde sua grande maioria eram mulheres) para um total de 5,4 mil fábricas. 2 ANÁLISE CRÍTICA DO CASO Com o crescimento extremamente abrupto, foram erguidas rapidamente muitas fábricas onde muitas delas não seguiam os preceitos básicos de construção. O governo, por sua vez, tinha receio de que as empresas multinacionais descobrissem o histórico de acidentes de trabalho que causavam mortes e afastamento de trabalhadores da indústria e sendo assim, passassem a firmar contratos de investimento e exportação com outros países que detinham mão de obra barata e grande capacidade de produção, colocando em risco suas marcas. O embaixador dos Estados Unidos em Bangladesh relatou que durante uma chamada dele com um diretor executivo de um dos maiores clientes de exportação de vestuário, o CEO expôs sua preocupação quanto à reputação da empresa diante daquele cenário pernicioso. A partir disso, a Associação Nacional de Fabricantes e Exportadores de Vestuário (BGMEA), por intermédio de seus inspetores, passou a fiscalizar periodicamente as fábricas que eram membros dessa agremiação com o intuito de monitorar a gestão da segurança do trabalho nas instalações das mesmas. Porém, durante as inspeções, foram identificadas diversas inconformidades em 4 prédios que pertenciam ao atual presidente da BGMEA, Atiqul Islam, na época. Ou seja, retrato da extrema negligência e hipocrisia, uma vez que o principal objetivo da Associação era justamente acompanhar se as normas de segurança do trabalho estavam sendo cumpridas. O próprio governo de Bangladesh perseguia os sindicatos e grupos de ativistas que tentavam evidenciar as condições precárias no ambiente de trabalho nas indústrias têxtis do país. Porém, o pior estava por vir quando na data anterior do desastre fatal, os colaboradores constataram a presença de fissuras nas paredes do edifício Rana Plaza, totalmente em vão. Isso porque mesmo após a avaliação de um engenheiro, manifestando que a estrutura estava insegura e o mais sensato era evacuar prédio, seu proprietário Sohel Rana juntamente com um funcionário do governo local se reuniram logo em seguida e declararam que o prédio estava “a salvo”, obrigando os trabalhadores a retornarem às atividades no dia seguinte sob ameaça de perderem seus empregos. A tragédia poderia ter sido ainda maior se o BRAC Bank não tivesse liberado seus funcionários, acatando o conselho dado pelo engenheiro. Segundo relatos, Sohel Rana estava em seu escritório localizado exatamente no Rana Plaza e, conseguiu escapar ileso e fugir, logo após o desabamento, mas foi capturado na fronteira do país com a Índia. Muito provavelmente, depois do acidente, foi aberta uma investigação para verificar as causas, identificar as responsabilidades e avaliar os danos materiais e patrimoniais, pois foram apontados problemas estruturais e evidências, como: 4 (superiores) dos 8 andares existentes foram construídos ilegalmente, sendo que um 9º andar estava em construção; os pisos do 5º ao 8º andar foram construídos de maneira irresponsável, uma vez que não tinham pilares de sustentação e não poderiam abrigar máquinas e geradores industriais pesados que eram usados pelas 6 fábricas que funcionavam no prédio; o Rana Plaza foi erguido em cima de uma lagoa que foi aterrada apenas com areia; os resíduos da construção gerados pelo desabamento, revelaram que os materiais utilizados na obra eram de péssima qualidade. Além disso, o colapso resultou que um prédio vizinho de 3 andares, que também estava ocupado, viesse abaixo. Segundo a agência de notícias francesa, AFP, desde o desabamento do edifício, em 24 de abril, vários centros de produção foram vandalizados em sinal de protesto e o desfile de 1º de maio, feriado em que é comemorado o dia do trabalhador, foi seguido por dezenas de milhares de trabalhadores em Daca. Ainda de acordo com o jornal, os funcionários do setor têxtil, que recebiam em sua maioria apenas 40 dólares por mês, pararam de trabalhar após o drama que, mais uma vez, lançou luz sobre a dura realidade dos “ateliês da miséria” e sobre a ausência de condições de segurança. Em novembro de 2012, há exatos 6 meses antes da tragédia de Rana Plaza, um incêndio na fábrica Tazreen Fashion, nas proximidades da capital, matou mais de 120 trabalhadores. A primeira-ministra, SheikhHasina, em entrevista à CNN no dia 30 de abril de 2013, convocou os funcionários a retomarem seu trabalho e criticou os ataques contra vários ateliês. “Em qualquer lugar do mundo, qualquer acidente pode acontecer. Você não pode prever qualquer coisa”, afirmou ela. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O desabamento do edifício Rana Plaza onde funcionavam fábricas de tecidos, um banco e shopping centers, em Bangladesh, revelou não só o amplo descumprimento com normas básicas de segurança no país, mas também o lado obscuro da indústria de roupas internacional. Em paralelo às grandes corporações, dezenas de fábricas ilegais floresceram na Daca, na última década tentando tirar proveito do "boom" de roupas baratas. Inúmeras dessas operações ocorreram à margem do poder governamental e não cumpriam com os requisitos mínimos de segurança, como proteção contra incêndio. Segundo informações, como o acidente teve repercussão internacional, os consumidores que compravam de varejistas britânicos demonstraram preocupação por meios de comunicação social. Muitos deles os condenaram por tirar vantagem dos trabalhadores e oferecem condições sub-humanas. Em contrapartida, os varejistas responsabilizaram seus fornecedores por fazer encomendas dos retalhistas com as fábricas terceirizadas não aprovadas e que tinham práticas inseguras. Além disso, alegaram que menores de idade trabalhavam nas linhas de confecção de roupas. Por outro lado, o governo de Bangladesh, alegou iriam tomar algumas medidas para melhorar a situação dos trabalhadores, mas que se preocupava com as consequências para centenas de milhares de pessoas que dependiam da indústria para garantir a sobrevivência. Ao mesmo tempo, os donos de fábricas ficaram indecisos quanto a investir quantias significativas para aprimorar a segurança, a menos que eles pudessem ter a garantia de que seus clientes estrangeiros não mudariam os contratos de suas fábricas para outros de baixo custo de produção e alternativas de menor segurança. Exercer uma boa gestão de segurança do trabalho traz mais vantagens do que muitos gestores imaginam. Esses proveitos estão diretamente ligados à maior segurança no ambiente de trabalho, mas ainda se desdobram em diferentes impactos positivos para as empresas e seus os funcionários, como a redução de custos, o aumento da qualidade de vida, o aumento da produtividade, a retenção de talentos, a melhoria da imagem da empresa, entre outros. As principais atividades desempenhadas na rotina da empresa deverão estar sob supervisão do setor de segurança do trabalho, onde possuem funções como avaliar os ambientes de trabalho, cuidar da integridade dos colaboradores, determinar os procedimentos e cuidados, garantir o cumprimento das normas regulamentadoras e realizar demais atividades que lhe são competentes. REFERÊNCIAS Indústria têxtil reabre em Bangladesh oito dias após desabamento de prédio. Portal G1, 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/05/industria-textil- reabre-em-bangladesh-oito-dias-apos-tragedia.html>. Acesso em: 01 de maio de 2020 Multi Arranjo Fiber. Wikipédia, a enciclopédia livre, 2005. Disponível em: <https://pt.qwe.wiki/wiki/Multi_Fibre_Arrangement>. Acesso em: 01 de maio de 2020 Incêndio em confecção deixa pelo menos 9 mortos em Bangladesh. Portal G1, 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/incendio-em-confeccao- deixa-pelo-menos-9-mortos-em-bangladesh.html>. Acesso em: 02 de maio de 2020 Desabamento em Bangladesh revela lado obscuro da indústria de roupas. BBC News, 2013. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/04/130428_bangladesh_tragedia_lado_ obscuro>. Acesso em: 02 de maio de 2020 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/05/industria-textil-reabre-em-bangladesh-oito-dias-apos-tragedia.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/05/industria-textil-reabre-em-bangladesh-oito-dias-apos-tragedia.html https://pt.qwe.wiki/wiki/Multi_Fibre_Arrangement http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/incendio-em-confeccao-deixa-pelo-menos-9-mortos-em-bangladesh.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/10/incendio-em-confeccao-deixa-pelo-menos-9-mortos-em-bangladesh.html https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/04/130428_bangladesh_tragedia_lado_obscuro https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/04/130428_bangladesh_tragedia_lado_obscuro
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