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COACHING E CARREIRA Bruno de Souza Lessa Coaching na contemporaneidade Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Contextualizar o coaching no Brasil. Explicar a influência do coaching nos atuais desafios da liderança. Dar exemplos de líderes que se destacaram pelo uso de coaching e de outras boas práticas em liderança. Introdução Na contemporaneidade, o coaching passou a ser tanto uma forma de consultoria quanto um ramo de atuação profissional em crescimento. Na maioria dos casos, os coaches são consultores independentes, que ajudam os seus clientes a estabelecerem metas, trabalharem com mais eficiência e conseguirem ter mais foco e motivação, o que costuma resultar em um melhor desempenho na carreira como um todo. Os coaches ajudam os seus coachees a identificarem pontos fortes, pontos fracos, metas e necessidades, normalmente por meio de uma série de sessões previamente planejadas. Um dos principais elementos dos processos que envolvem o coaching é a garantia de que os envolvidos recebam instruções sobre como podem aplicar as suas habilidades com maior eficiência, assim como os conheci- mentos especializados que já possuem. Além disso, o coaching se concentra em resultados, problemas específicos e oportunidades para desenvolver os potenciais intrínsecos dos coachees. O processo de coaching é mais sobre como obter informações, fazer perguntas e examinar detalhes do que sobre dizer às pessoas o que fazer. No Brasil, a prática tem adquirido considerável popularidade no decorrer dos últimos anos, destacando-se em importância nos mais diversos setores dos mais diferentes ramos profissionais. Neste capítulo, você vai aprender sobre o cenário e o mercado brasileiro para profissionais e clientes do coaching. Você também vai avaliar o impacto do coaching nos desafios de liderança no presente. Por fim, você vai analisar exemplos de lideranças que se sobressaíram por meio do emprego do coaching, assim como pela implementação de boas práticas em liderança. Coaching no Brasil e no mundo Sobre o surgimento do coaching, pesquisadores do assunto sugerem que é provável que ele tenha ocorrido entre os séculos XV e XVI, na cidade húngara de Kocs. Na sua concepção, o termo coaching guardava relação com um tipo de transporte — na verdade, uma espécie de carruagem coberta; porém, ao longo dos séculos, o termo passou a ser utilizado no mundo dos esportes. Essa analogia é possível a partir da metáfora de que tanto o meio de transporte (a carruagem) quanto o treinador possibilitam que os indivíduos cheguem a um lugar ou alcancem uma meta. Na contemporaneidade, o coaching foi consideravelmente difundido por meio do trabalho do treinador e tenista profissional Tim Gallwey, inicialmente como uma técnica para o desenvolvimento de atletas. Todavia, a efetividade apresentada levou o trabalho a ser adaptado para outras esferas do mundo organizacional, conforme lecionam Oliveira-Silva et al. (2018). Hoje, o coaching, ainda de caráter emergente e em contínua difusão, possibilita diferentes formas de aplicação. Apesar do seu recentismo no Brasil e na América Latina, a prática do coaching tem adquirido popularidade crescente, irradiando-se para uma gama considerável de setores. O incremento dessa popularidade suscita questiona- mentos sobre no que consiste a atividade, qual é o seu mercado e o que ocorre durante o processo. Em termos gerais, é comum, no Brasil, que as pessoas afirmem que já ouviram falar no assunto ou que conhecem o termo, conforme apontam Ortiz e Santos Neto (2019). Optar pelo coaching costuma ser uma escolha complexa, pois, apesar de a atividade ter se tornado rapidamente conhecida no Brasil, ganhando popularidade e difusão tanto no âmbito da gestão organizacional quanto no alcance de resultados individuais, seus aspectos intrínsecos não são bem conhecidos pelo grande público. Na reportagem disponível no link a seguir, pode-se compreender mais sobre a atividade e seu mercado sob a ótica dos seus potenciais clientes. https://qrgo.page.link/SGtYq Coaching na contemporaneidade2 Nacional e internacionalmente, o coaching tem se expandido do mundo esportivo para áreas relacionadas com a educação, a gestão de empresas e o desenvolvimento de recursos humanos. Esse movimento acontece porque, desde a sua concepção, o coaching é definido como uma maneira de orientar, ensinar e instruir indivíduos. O Quadro 1 apresenta as definições de diferentes teóricos sobre os tipos de coaching. Tipo Definição Fonte Coaching executivo “O coaching executivo é definido como uma relação de ajuda formada entre um cliente que possui autoridade gerencial e responsabilidade em uma organização, e um consultor que utiliza uma variedade de técnicas comportamentais e métodos para auxiliar o cliente a alcançar um conjunto de metas mutuamente identi- ficadas para aprimorar o desempenho e a satisfação pessoal, para consequentemente melhorar a efetivi- dade da organização do cliente através de um acordo de coaching formalmente definido.” Killburg (2000, p. 65) Coaching de vida ou pessoal “O coaching de vida ou pessoal é um processo sistemá- tico, focado em soluções e orientado para resultados, no qual visa-se pelo aprimoramento da experiência de vida e do desempenho do indivíduo em vários domí- nios (como determinado pelo mesmo), conduzindo ao aprendizado autodirecionado e crescimento pessoal.” Grant (2001, p. 8) Coaching no trabalho “Um processo de coaching que se dá no contexto de trabalho, com empregados não executivos. Representa um coaching on-the-job conduzido por gerentes de linha e supervisores, com o objetivo de aumentar a produtividade e o desenvolvimento individual das habilidades dos trabalhadores, além de aprimorar sua compreensão dos requisitos do cargo.” Grant (2005, p. 5) Coaching de carreira “Coaching de carreira representa apenas uma ou uma série de conversas colaborativas com um profissional treinado que opera sob um código de ética. O processo é fundamentado em abordagens de coaching baseadas em evidências, incorporando teorias e ferramentas sobre carreira, visando chegar a um resultado positivo para o cliente em relação a sua realização pessoal e profissional, assim como nas decisões de carreira.” Yates (2014, p. 2) Quadro 1. Tipos de coaching (Continua) 3Coaching na contemporaneidade Um aspecto que permite compreender como o coaching é praticado em diferentes áreas é que ele se apresenta como uma metodologia não diretiva, voltada para o gerenciamento de pessoas ou como forma de facilitação para um determinado aprendizado, de acordo com Ortiz e Santos Neto (2019). Podendo ser indicado para indivíduos ou grupos, as ferramentas e técnicas do coaching passaram a ter protagonismo no cenário organizacional, sendo empregadas por líderes e gestores em diferentes cenários, tendo como foco a maximização do desempenho e a transformação de pessoas e equipes. A importância do coaching para a gestão de pessoas pode ser atestada pela sua crescente presença e pela relevância dos seus processos para ges- tores e líderes em empresas, conforme já sinalizou o renomado psicólogo e professor Daniel Goleman (2000) no seu artigo sobre os estilos de lideranças contemporâneas. O líder que emprega ferramentas do coaching focaliza na boa comunicação com os membros da sua equipe e se desenvolve junto com eles, à medida que fortalece suas próprias capacidades de ouvir críticas, sugestões e demandas dos seus colaboradores. Isso permite que o líder reflita acerca de maneiras de resolver os problemas da equipe, da organização e os seus próprios, concomitantemente, conforme apontam Melo et al. (2015). Enquanto prática, o coaching no Brasil se expandiu consideravelmente no decorrer das últimas décadas, por conta, principalmente, de dois fatores mais imediatos. Primeiro, as transformações ocorridas no mercado de trabalho, que implicam na busca generalizadapela melhoria no desem- Fonte: Adaptado de Oliveira-Silva et al. (2018). Tipo Definição Fonte Coaching de liderança “Relacionamento no qual um cliente se compromete com um coach visando facilitar sua transformação em um líder mais efetivo.” Killburg (1996) Coaching para equipes “Intervenção de aprendizado projetada para aprimorar a capacidade coletiva e o desempenho de um grupo ou time através da aplicação de princípios de coaching baseados em reflexão e análise assistida, além de motivação para mudança.” Clutterbuck (2014, p. 271) Quadro 1. Tipos de coaching (Continuação) Coaching na contemporaneidade4 penho. Segundo, pelo aumento da popularidade que a prática adquiriu por conta de seu potencial para a entrega de resultados positivos nos âmbitos individuais e organizacionais. Hoje, as pessoas procuram desenvolver suas capacidades, devido à dinamicidade das mudanças tecnológicas, que levam as organizações nas quais elas estão inseridas a enfrentarem um cenário de maior competitividade. Esse movimento aumenta, por sua vez, a exigência que as organizações têm sobre os indivíduos e sua produtividade, conforme lecionam Melo et al. (2015). Dessa forma, o contexto contemporâneo de dinamicidade se difere do que ocorria no Brasil e no mundo até aproximadamente a década de 1970, quando as carreiras costumavam ser desenvolvidas em poucas empresas ou, muitas vezes, em uma única organização, e a trajetória profissional era mais controlada pela empresa. Na atualidade, os indivíduos passaram a ter autonomia sobre suas carreiras e sobre a gestão dos seus resultados dentro e fora das organizações. Nesse sentido, é possível afirmar que a crescente busca pelo coaching vem na esteira desses movimentos, pois o coaching passa a ser visto como uma ferramenta que permite aos indivíduos ajudarem a si e a outrem a alcançarem os resultados que se esperam deles, conforme definem Ortiz e Santos Neto (2019). Embora o mercado tenha avançado nos últimos anos, ainda falta um le- vantamento recente sobre os números oficiais da atividade de coaching no Brasil. Entretanto, com base em levantamentos realizados em 2011, Ortiz e Santos Neto (2019) apontam que, naquele ano, o coaching havia movimentado em torno de 5 bilhões de reais no mundo. Outra informação relevante é que, na América Latina, naquele ano,182 empresas utilizavam o coaching como estratégia para desenvolvimento dos seus colaboradores, estando 39 dessas empresas no Brasil. Em território nacional, 84% das empresas consideradas de grande porte empregavam o coaching. Assim, segundo os autores, é possível dizer que o coaching se tornou um processo efetivo de melhoria de desem- penho e resultados nos ambientes organizacionais, deixando gradualmente a condição de atividade complementar ou experimental. Ainda sobre o contexto brasileiro, existem duas informações que também são relevantes na atualidade, em especial quando nosso cenário é comparado com o contexto internacional. Primeiro, enquanto na Europa e na América do Norte a proporção de coaches é de 40 profissionais para cada um milhão de habitantes, no Brasil, o número se reduz para quatro coaches por milhão de pessoas, estando consideravelmente abaixo da média mundial. Isso sinaliza que há espaço para o crescimento da atividade. 5Coaching na contemporaneidade O coaching é uma atividade que tem adquirido muita popularidade no Brasil no decorrer dos últimos anos. Essa popularidade traz consigo uma série de dúvidas sobre qual é efetivamente o cenário em que a atividade se encontra e quais são as condições desse mercado em termos nacionais. Na entrevista jornalística disponível no link seguir, um coach apresenta a condição atual do mercado brasileiro para os profissionais de coaching, descrevendo e analisando quais são os potenciais e os desafios do cenário brasileiro para esses profissionais. https://qrgo.page.link/YEXtA Em segundo lugar, o acréscimo de popularidade traz consigo a prolifera- ção de profissionais que atuam como coaches sem as devidas credenciais e certificações, o que traz um risco para os clientes. Ademais, ainda existe uma escassez de informações e fontes seguras sobre o coaching, algo que também alimenta o surgimento de profissionais de origem duvidosa. Ou seja, ainda é difícil para os clientes saberem ao certo quais seriam as responsabilidades do coach, bem como diferenciar um profissional devidamente capacitado e habilitado de outro que não apresenta as competências adequadas para a prática, conforme apontam Oliveira-Silva et al. (2018). Tanto no Brasil quanto em outros lugares do mundo, o coaching tem se desenvolvido enquanto prática e mercado profissional, apresentando-se como uma metodologia efetiva para a entrega de resultados e para a melhoria da performance, seja para o desenvolvimento pessoal ou profissional. Outro aspecto que contribui para a expansão da atividade é a busca e a criação de soluções criativas para a resolução de problemas, o reforço do engajamento de equipes, o aprimoramento da comunicação e a maior celeridade na consecução de objetivos individuais ou organizacionais. Nos espaços organizacionais, o coaching passou a ter as funções de de- senvolvimento das capacidades de liderança, de aprimoramento do trabalho em equipe, de alinhamento de objetivos entre profissionais e organização e de estratégia para alavancar a produtividade e, simultaneamente, a qualidade de vida dos envolvidos no processo. Nesse sentido, a cooperação entre os envolvidos tem um papel fundamental, podendo ser aplicada em diversos cenários, por exemplo, em processos sucessórios em empresas ou na gestão de pessoas em organizações. Coaching na contemporaneidade6 Além disso, o coaching tem como base dos seus processos o desen- volvimento de capacidades orientado à potencialização de resultados, podendo ser aplicado de diversas maneiras, que devem ser articuladas de forma integrada e focalizada nos resultados desejados. Para isso, é impe- rativo que o processo fortaleça redes de relacionamentos interdependentes, pois as práticas do coaching são baseadas na articulação de interrelações que permitam construções conjuntas entre os envolvidos. O coach não tem um papel diretivo, como se fosse um comandante do processo, mas, sim, o papel de conduzir e fomentar reflexões que levem seus clientes a alcançarem seus objetivos. Atualmente, no Brasil, com a difusão e o aumento da popularidade da atividade de coaching, o coach pode ser definido como o profissional devidamente treinado e certi- ficado, que utiliza ferramentas e técnicas vindas de diferentes ramos do conhecimento no auxílio dos seus clientes, para que estes alcancem as suas metas. A consecução dos resultados se dá de maneira prática, objetiva e mensurável. Metaforicamente, o coaching pode ser descrito como uma ponte, que permite a um indivíduo ir de um estado presente para outro, no qual se almeja chegar. Em outras palavras, com o auxílio do coach, é possível definir com clareza e precisão um determinado propósito pessoal ou organizacional, bem como identificar e controlar comportamentos limitantes e crenças sabotadoras. Por fim, o coaching habilita a incorporação de novas atitudes guiadas pelo anseio por aprimoramento. A influência do coaching e os desafios contemporâneos para a liderança Em termos gerais, o processo de coaching consiste em gerar uma conexão positiva entre os envolvidos no processo como um todo. Normalmente, coach e coachee costumam ser os principais participantes. Ambos devem estar conscientes de que sua participação signifi ca, inevitavelmente, que eles vão representar outros elementos que, indiretamente, os infl uenciam e que in- fl uenciam o relacionamento que se estabelece no coaching. Esses elementos podem ser outros colaboradores ou mesmo as diretrizes da organização. Na contemporaneidade, os papéis de coaches e coachees podem assumir várias 7Coaching na contemporaneidade formas, incluindo um líder ou gestor quetrabalha com um subordinado di- reto, um líder com sua equipe, ou mesmo um colaborador com seus colegas, conforme aponta Brewer (2014). Nesse sentido, o coaching implica em abrir espaços para reflexões e aprendizados por meio de questionamentos, que habilitam aos envolvidos estabelecer uma relação positiva consigo e com o processo. Apesar de também serem elementos importantes no coaching, o processo deve ter menor ênfase sobre as técnicas em si e mais sobre a transformação pessoal, a mudança de mentalidade e a maximização de potenciais. O coaching também pode ser considerado uma forma prática, metodológica e especializada de comunicação para a gestão de pessoas e construção de liderança entre elas. O coaching pode ter um impacto significativo e positivo sobre os liderados por um gestor, pois os benefícios dos resultados para o coachee podem se estender a todos no grupo. Assim, todos podem desfrutar da vantagem desse efeito, segundo Brewer (2014). Na contemporaneidade, determinadas questões atravessam o processo de coaching quando este é aplicado por líderes, ou mesmo com eles, aos seus liderados, conforme aponta Kets de Vries (2014). Por exemplo, como os coaches podem influenciar nos processos de liderança para lidar com as preocupações dos líderes? Como os coaches podem gerenciar a convergência entre os objetivos dos líderes e as metas de suas organizações? Como os coaches podem trabalhar com os líderes para modificar suas mentalidades, de modo que possam ajudá-los a maximizar seus resultados e expandir os potenciais das suas equipes? Em outras palavras, como os coaches podem causar impactos positivos no universo contemporâneo da liderança? Para responder esses questionamentos, em primeiro lugar, é importante entender que o coaching deve ser um processo centrado nos coachees, to- mando como perspectiva seus potenciais e suas expectativas, mas também as de outras pessoas, levando em consideração fatores do contexto externo. Embora esses elementos sejam parte de qualquer processo de coaching, eles terão uma ênfase especial nos casos em que os coachees exercem o papel de líderes. Isso ocorre porque os líderes, muitas vezes, sentem que não podem satisfazer essas expectativas, sejam elas autoimpostas ou não. Nesse sentido, os líderes precisam ter uma noção ampla de seus contextos externos, bem como de suas capacidades. Logo, os líderes também buscam e precisam de uma orientação robusta. Os líderes precisam se sentir conectados consigo próprios, assim como com os outros, segundo Kets de Vries (2014). Ademais, o coaching para lideranças ocorre na atualidade baseado em abor- dagens mais positivas. Coaching na contemporaneidade8 É preciso lembrar também que, para muitos executivos, ter um coach passou a ser símbolo de status. Esse fenômeno deve ser tratado com o devido cuidado, pois, para um gestor que entra no processo de coaching com essa mentalidade, o processo de mudança que está na base do coaching é secundário, e o que acaba importando, de fato, é uma imagem incongruente de sucesso. Para ele, o principal não é o fato de que a organização está investindo na melhoria tanto do líder quanto de sua equipe, por exemplo. Além disso, o coaching não pode ser visto como um processo reativo, uma vez que os líderes e gestores da atualidade costumam buscar proativamente soluções que os permitam superar os desafios contemporâneos da gestão de equipes, conforme apontam Korotov et al. (2012). Uma das razões para a atual popularidade do coaching é que se difundiu a percepção de que os coaches podem oferecer conhecimentos que não são necessariamente encontrados dentro da empresa, no universo das lideranças organizacionais. Outra razão a ser apontada é que determinados gestores estão mais propensos a confiar na objetividade de um membro externo à organização na qual trabalham. Em outras palavras, esses líderes creem ser mais provável que os coaches possam oferecer confidencialidade, a qual permite a esses executivos discutir livremente questões delicadas, reduzir suas defesas e explorar pontos cegos, preconceitos e falhas, segundo Brewer (2014). Coaches de liderança eficazes planejam e implementam seus processos, tendo como objetivo não apenas melhorar o desempenho de seus coachees, mas também de guiá-los em uma espécie de jornada rumo à transformação pessoal e à reinvenção. Os coaches podem ajudar seus clientes a se libertarem de uma mentalidade insatisfatória ou conflituosa, assim como estabelecer novas formas de encarar suas realidades. Os coaches podem auxiliar na expansão do horizonte de possibilidades de seus clientes, provocando novos compromissos e transformando a visão que eles têm acerca de si mesmos, promovendo novas formas de ser e agir, conforme apontam Korotov et al. (2012). O coach também pode ter um papel na construção de um entendimento compartilhado entre os líderes e seus colaboradores, fazendo-os aprender a pensar e a interagir melhor no ambiente de trabalho, por meio de conver- sas reflexivas, ajudando-os também a dar feedbacks construtivos uns para os outros. Sendo assim, os coaches podem ajudar os executivos a criarem equipes que funcionam melhor e a constituírem culturas organizacionais que conseguem alcançar um desempenho mais alinhado com as expectativas de seus colaboradores, segundo Korotov et al. (2012). Sob o ponto de vista profissional, existem duas características particular- mente interessantes de uma carreira como coach executivo. Primeiro, a entrada 9Coaching na contemporaneidade nesse campo profissional não é possível sem uma quantidade substancial de preparação prévia. Segundo, é uma opção de carreira muito atraente para indivíduos vivenciando transições nas suas carreiras. De acordo com o levantamento feito por Oliveira-Silva et al. (2018), foi constatado que, entre os anos de 2005 e 2011, o número de profissionais certificados atuando no coaching teve um acréscimo quantitativo de 752 para 2.310 — ou seja, houve um crescimento de 207%. Líderes de destaque, suas práticas e o coaching Liderar é uma habilidade que conjuga competências intrínsecas aos indivíduos e outras que podem ser adquiridas e aprimoradas no decorrer de suas traje- tórias biográfi cas. Uma forma de melhorar as competências necessárias para a liderança efetiva é a modelagem de exemplos funcionais. Ou seja, pode-se tomar como exemplo um conjunto de ações que foi empregado por uma pessoa em um determinado momento, adequá-lo e aplicar os movimentos e processos que aquela pessoa utilizou na realidade na qual se está inserido. Dessa forma, esta seção descortina exemplos de líderes que utilizaram ferramentas análogas àquelas que o coaching emprega para terem sucesso nas suas trajetórias. Algumas dessas lideranças pertencem ao mundo empresarial, outras não. Isso denota tanto a versatilidade das estratégias que eles utilizaram quanto à necessidade de adaptação dessas estratégias ao contexto que se está vivenciando. Em outras palavras, algo que foi realizado na década de 1990, nos Estados Unidos, pode ser feito no Brasil do século XXI, desde que a realidade nacional contemporânea seja considerada e a estratégia em questão se torne apropriada à conjuntura. Nesse sentido, observemos os exemplos apresentados a seguir. O primeiro exemplo é o do empreendedor e empresário Bill Gates. Ele costuma figurar nas listas de líderes empresariais mais admirados dos Estados Unidos com frequência. Quando se aposentou da Microsoft, em 2008, Gates deixou um legado como chefe exigente e, às vezes, autoritário. No entanto, ele encorajava a criatividade e a inovação dos seus colaboradores e fazia questão de reconhecer as conquistas dos outros, conforme aponta Wasylyshyn (2014). Coaching na contemporaneidade10 Os programadores, engenheiros e designers que participavam regularmente das reuniões de desenvolvimento de Gates costumavam dizer que ele frequen- temente os interrompia para questionar e desafiar suposições. Dados essesdetalhes, há pouca dúvida de que Gates utilizava, eventualmente, um estilo de liderança autoritário. Sempre que necessário, ele assumia determinadas posturas assertivas, para que os outros soubessem que ele estava no comando. No entanto, como tantas outras pessoas de sucesso, ele contou com uma mistura de outros estilos de liderança. Ele estava ciente de que o seu estilo autoritário não fomentava a inovação e a criatividade, pois o excesso de controle mina a criatividade. Dessa forma, Gates utilizava também técnicas como a liderança pelo exemplo, a escuta atenta aos seus colaboradores e, assim como um bom coach, fazia perguntas-chave que conduzissem os seus colaboradores à re- flexão, ainda de acordo com Wasylyshyn (2014). Mary Kay Ash, fundadora da Mary Kay Cosmetics, que criou uma geração diferenciada de vendedores. Ela começou sua carreira vendendo livros de porta em porta e, em 1963, saiu da empresa depois de ter sido preterida para uma promoção em favor de um homem que ela mesma havia treinado. Para mostrar o seu valor, Mary Kay teve uma ideia, montou um plano de negócios e criou uma empresa para mulheres trabalhadoras, com a missão de garantir que elas fossem tratadas com igualdade e promovidas com base no seu mérito. O sucesso do negócio veio de incentivar os seus vendedores a se concentrarem em produtos que não eram necessariamente os mais lucrativos, mas que eles achavam que poderiam vender bem, conforme aponta Hawkins (2011). O principal objetivo era encorajar tanto o pessoal corporativo quanto o de vendas independentes a agirem como se cada pessoa para quem vendessem fosse a mais importante do planeta. Como líder e coach, ela apresentou uma forte mentalidade de liderança durante toda a sua trajetória, demonstrando que acreditava tanto em si mesma quanto nos seus colaboradores. Ela colocou o sucesso individual de cada membro da sua equipe de vendas em primeiro lugar, pois acreditou que o sucesso da organização viria como fruto do sucesso individual. Mary Kay Ash acreditava também que era importante recompensar os trabalhadores esforçados; então, ela dava férias, joias e carros cor-de-rosa para os seus melhores colaboradores. O êxito da sua empresa foi resultado de membros bem treinados e confiantes, conforme afirma Hawkins (2011). Outro líder coach exemplar é Marc Russell Benioff, fundador, presidente e CEO da Salesforce, Inc. Ele transformou a indústria de software com a sua empresa sediada em São Francisco, chamada simplesmente de salesforce.com, que possui operações em computação em nuvem no mundo inteiro. A revista Forbes apontou a Salesforce, Inc. a empresa mais inovadora da América todos 11Coaching na contemporaneidade os anos, desde 2011. Ela oferece uma ampla gama de serviços de relacionamento com clientes e gerenciamento de software baseados na Internet. Embora ele seja considerado um líder exigente, Benioff relata uma paixão genuína por seu trabalho. Com o seu software, a sua equipe inovou ao de- monstrar que empresas não precisariam mais comprar o seu próprio software ou, em muitos casos, ter uma infraestrutura de tecnologia da informação. Por um determinado preço, você simplesmente se conecta à nuvem da salesforce. com e tudo é feito e personalizado para você, conforme explicam Hart e Waisman (2011). Benioff foi elogiado como uma das 50 pessoas mais inteligentes do ramo de tecnologia, bem como uma das 50 pessoas mais importantes do mundo dos negócios, em parte porque a Salesforce alcançou os seus maiores avanços em crescimento enquanto a economia mundial estava passando por uma de suas recessões mais difíceis. Benioff credita esses resultados ao incentivo à criatividade e à liberdade de imaginação que ele sempre deu às suas equipes, por meio do fortalecimento do trabalho em equipe e da proatividade, conforme apontam Hart e Waisman (2011). Outro exemplo de liderança é o do advogado e pastor Martin Luther King Jr. Esse líder utilizou uma variedade de estilos de liderança para dar visibilidade e protagonismo ao movimento que foi fundamental para o fim da segregação de raça nos Estados Unidos. Ele foi um líder e, ao mesmo tempo, um cola- borador, assim como um coach e um mentor, por conta da sua experiência e perspicácia. O seu foco era conquistar tanto os corações quanto as mentes do público americano, agregando aceitação para sua causa, conforme aponta Wasylyshyn (2014). O seu discurso “Eu tenho um sonho” ajudou a disseminar a conscientização sobre a luta nacional por direitos civis. Uma lição importante para líderes em geral é que esse discurso não foi feito para conquistar os corações e mentes dos seus seguidores, pois eles já haviam sido conquistados. O que esse dis- curso fez — com um poder que ainda reverbera até hoje — foi conquistar os corações e as mentes da opinião pública. Nesse sentido, um líder deve se comunicar pensando não apenas naqueles que já concordam com a sua ideia, mas também naqueles que precisam ser conquistados, para criar consenso em torno dessa ideia e, assim, fortalecê-la, conforme expõe Wasylyshyn (2014). Além disso, um fato não muito conhecido sobre a sua biografia é que King nasceu em uma família estável e financeiramente confortável de classe média. Ele não foi exatamente pressionado a ocupar um papel de liderança — na verdade, ele a escolheu. Por conta dessa escolha, durante a sua luta pela igualdade, ele foi preso mais de 25 vezes e agredido pelo menos quatro, Coaching na contemporaneidade12 além de ter sofrido um atentado a tiros que o levou a morte. Entretanto, a sua vida foi, metaforicamente, um livro de muitas lições para aqueles que aspiram à liderança. Uma das maiores lições da biografia de King foi que romper com o status quo é essencial para a mudança, conforme salienta Wasylyshyn (2014). Oliveira-Silva et al. (2018, p. 367) apresentam como o coaching é classificado na contem- poraneidade, tendo como base as abordagens mais difusas utilizadas para classificar a atividade, conforme descrito abaixo. Humanista: o coaching é, acima de tudo, sobre crescimento e mudança humana. Existencial: abordagem baseada nos três princípios da condição humana — necessidade de relacionamento, incerteza e ansiedade existencial. Seu foco é primariamente na exploração descritiva da visão de mundo do indivíduo, considerando suas preocupações atuais. Ontológica: o coaching ontológico consiste em uma forma de trabalho com indiví- duos baseada no engajamento de três esferas da existência humana — linguagem, emoções e fisiologia (postura corporal). Transpessoal: nessa perspectiva, o coaching visa a aprimorar a conscientização da dimensão transpessoal da vida e facilitar a experiência de se conectar com os outros, de forma a gerar sentimentos de alegria e completude. Análise transacional: abordagem interacional baseada em diversas noções, como os estados do ego, os roteiros de vida e os padrões interacionais. Comportamental: o propósito do coaching é a mudança de comportamento. Desenvolvimento adulto: coaching é sobre ajudar clientes a amadurecer. Cognitivismo: o coaching é, principalmente, sobre o desenvolvimento de pen- samentos adaptativos. Orientação para metas: coaching é um processo orientado para metas e soluções. Psicologia positiva: desviar a atenção do que causa dor para o que energiza e impulsiona as pessoas a seguirem adiante. Centrada na pessoa: abordagem baseada na tendência das pessoas a se desenvolve- rem de forma positiva e construtiva quando as condições apropriadas estão presentes. Gestalt: enfatiza a necessidade da consciência momento-a-momento em relação às experiências, ao mundo externo e aos bloqueios à consciência do indivíduo, ressaltando a importância da experiência subjetiva. Aprendizagem adulta: uma abordagem de aprendizado que permite que apren- dizes autodirecionados possam re�etir e crescer com suas experiências. Cognitivo-comportamental: essa abordagem visa à melhora da qualidade dopensamento do indivíduo, com a ajuda de intervenções habilidosas. Enfatiza a importância de identificar metas realistas e facilitar a autoconsciência de barreiras cognitivas e emocionais subjacentes em relação ao alcance de metas. 13Coaching na contemporaneidade Neurolinguística: a abordagem neurolinguística do coaching tem como objetivo ajudar os clientes a explorarem sua realidade. Por meio da programação neurolin- guística (PNL), é possível identificar padrões que representam a forma pela qual os indivíduos constroem sua realidade, controlando sua experiência interior em vários contextos ambientais. Foco em soluções: abordagem baseada na premissa de que saber como um problema surgiu não necessariamente indica como resolvê-lo. Visa a auxiliar o cliente a definir um estudo futuro desejado e construir uma trilha de pensamento e ação que o conduza a tal estado. Sistêmica: o coaching é uma jornada pela busca de padrões. BREWER, A. M. Leadership, coaching and followership: an important equation. Heidel- berg: Springer, 2014. CLUTTERBUCK, D. 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