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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITO A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA: O ATUAL ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES BLUMENAU 2014 ANGÉLICA GREUL ANGÉLICA GREUL A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA: O ATUAL ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade Regional de Blumenau Prof. Esp. Rodrigo Fernando Novelli – Orientador BLUEMANAU 2014 ANGÉLICA GREUL A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA: O ATUAL ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES Trabalho de Conclusão de Curso aprovado com nota ___ como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, tendo sido julgado pela Banca Examinadora formada pelos professores: ____________________________________________________________ Presidente: Prof. Esp. Rodrigo Fernando Novelli – Orientador, FURB ____________________________________________________________ Membro: Prof. Esp. André Amarantes, FURB Blumenau, 09 de dezembro de 2014. DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSÁBILIDADE Por meio deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de qualquer responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho. ____________________________________________________________ ANGÉLICA GREUL AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus por me dar a oportunidade de aprender e ter perseverança para ir até o fim, com determinação e coragem. À minha mãe Aurita, que está ao meu lado todos os dias, me dando força e tendo paciência comigo durante o período do desenvolvimento desse trabalho e ao meu pai Ivanaldo, que mesmo longe sempre esteve presente, meu muito obrigado, principalmente por tornar possível a realização de um sonho. Obrigada ao meu professor e orientador Rodrigo Fernando Novelli que, sempre muito prestativo, esclareceu minhas dúvidas e fez com esse trabalho fosse realizado da maneira mais correta possível. À Leila, que foi quem fez surgir a ideia do tema e me ajudou com algumas correções e dicas, além de ser uma amiga muito querida, obrigada! A todos os meus amigos, por fazerem parte da minha vida e por me apoiaram, ainda que indiretamente, em especial à Joseana, que me faz companhia todos os dias e sempre me incentivou para que chegasse ao fim, à Dalva pela ajuda e, ainda, à Jéssica N., à Andria e à Lohanne por todos os bons momentos e pelo apoio prestado. Ao meu namorado, Felipe, por todo amor, carinho e atenção, além da motivação e paciência que teve comigo durante todo o desenvolvimento desse trabalho. À minha madrinha Laurita, que teve um papel importante, não só nesse trabalho, mas como em toda minha vida, E por fim, a toda minha família que torce pelo meu sucesso e minha felicidade. Obrigada! A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê (Arthur Schopenhauer). RESUMO A legislação penal especial é bastante vasta, principalmente no tocante aos crimes contra ordem tributária. Desde a entrada em vigor do Código Penal de 1940, que não tratou da matéria, diversas leis foram editadas a fim de regular os crimes dessa natureza. Muitas vezes o legislador não se ateve as normas já existentes, criando outras, cujo conteúdo era semelhante, senão idêntico aquele já em vigor, ou, ainda, divergente em alguns aspectos. Diante disso, o presente trabalho, utilizando-se do método indutivo e através da análise de doutrinas e jurisprudências, busca demonstrar os efeitos trazidos pela edição dos inúmeros textos legais, elencando-os e apontando suas principais características e, também, apresentar as omissões do legislador em determinadas situações. Além disso, o desenvolvimento dessa pesquisa tem por objeto central, a exposição das divergências em relação ao momento do pagamento do tributo como forma de extinção da punibilidade, haja vista que a última lei que versa sobre o tema, qual seja, Lei n. 10.864/03, não estabeleceu um marco temporal para o pagamento do tributo como forma de extinção da punibilidade nos crimes contra ordem tributária, dando margem a dois entendimentos contrários, fazendo com que surja no ordenamento jurídico uma insegurança quanto ao poder/dever do Estado de punir quem comete um ato ilícito, previamente estabelecido em lei. Palavras-chave: Direito Penal. Direito Tributário. Crimes Fiscais. Extinção da Punibilidade. ABSTRACT The special penal legislation is fairly wide, mainly about the crime against tax order. Since the begging of application of the Penal Code of 1941, which did not approach this subject, several laws was edited in order to regulate this crimes from this type. So many times, the legislator did not adhered to the rules already existed, creating another ones, which tenor was similar, or identical to this one that was applied, or, even that, different in some aspects. Before addition, the present work is used of inductive methods and through the doctrines and jurisprudence, searching to demonstrate the effects bring from the edition of several legal texts, enumerated and indicated them principals characteristics and, also, presenting the omission from the legislator in specifics situations. Besides that, the development from this searching has the central aim, the exposition divergence related to the moment of the taxes payment as form of criminal liability extinction, considering the last law says about the theme, namely, Law n. 10.864/03, did not established a temporal mark to the taxes payment as criminal liability extinction in the crimes against the tax order, giving the comprehension of two contradictory understanding, making with that emerging in legal planning an insecurity as the power/duty of the State of punishing who commit an illicit act, previously established by the law. Key-words: Penal Law. Tax Law. Tax Crime. Criminal Liability Extinction. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Art. Artigo AgRg Agravo Regimental CF Constituição Federal CP Código Penal CTN Código Tributário Nacional Des. Desembargador DJe Diário de Justiça Eletrônico HC Habeas Corpus ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IRPF Imposto de Renda Sobre Pessoa Física Min. Ministro Rel. Relator REsp Recurso Especial STJ Superior Tribunal de Justiça STF Supremo Tribunal Federal TJDF Tribunal de Justiça do Distrito Federal TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11 2 DIREITO PENAL TRIBUTÁRIO .......................................................................... 13 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 13 2.1.1 O Direito Penal Tributário e o Direito Tributário Penal ............................................. 13 2.1.2 Limites Aplicáveis ao Poder Sancionador do Estado nos Crimes de Natureza Fiscal 15 2.2 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA .................................................................................... 16 2.2.1 Dos Crimes Tributários no Código Penal ................................................................... 16 2.2.2Lei n. 4.729/1965 – Crimes de Sonegação Fiscal ....................................................... 17 2.2.3 Lei n. 8.137/1990 – Crimes Contra Ordem Tributária ................................................ 18 2.3 CARACTERISTICAS DOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBITÁRIA ............... 20 2.3.1 Exaurimento da Via Administrativa ............................................................................ 20 2.3.2 Necessidade do Lançamento Tributário para a Caracterização do Crime................... 22 2.3.3 O Simples Inadimplemento do Tributário como Constituição do Crime Contra Ordem Tributária ..................................................................................................................... 23 3 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE .......................................................................... 28 3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS ............................................................................................ 28 3.1.1 Conceito ...................................................................................................................... 28 3.1.2 O Momento e os Efeitos da Extinção da Punibilidade ................................................ 29 3.1.3 Não Exaurimento das Causas de Extinção da Punibilidade no Código Penal ............ 30 3.2 A EXTINÇÃO PUBINILIDADE NO CÓDIGO PENAL .......................................... 31 3.2.1 Incido I – Pela Morte do Agente ................................................................................. 31 3.2.2 Inciso II - Pela Anistia, Graça ou Indulto .................................................................... 31 3.2.3 Inciso III - Pela Retroatividade de Lei que Não Mais Considera o Fato como Criminoso .................................................................................................................... 32 3.2.4 Inciso IV - Pela Prescrição, Decadência ou Perempção .............................................. 33 3.2.5 Inciso V - Pela Renúncia do Direito de Queixa ou Pelo Perdão Aceito, nos Crimes de Ação Privada ............................................................................................................... 33 3.2.6 Inciso VI - Pela Retratação do Agente, nos Casos em que a Lei a Admite ................ 34 3.2.7 Inciso IX - Pelo Perdão Judicial, nos Casos Previstos em Lei .................................... 34 3.3 A APLICAÇÃO DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA PUBINIBILIDADO DO CÓDIGO PENAL NOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA .................... 35 3.3.1 Preceitos Comuns ........................................................................................................ 35 3.3.2 Os Incisos Aplicáveis aos Crimes Contra Ordem Tributária ...................................... 36 3.3.3 A Não Incidência dos Incisos V, VI, e IX ................................................................... 39 4 A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PREVISTA AOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ........................................................................................... 40 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 40 4.1.1 Histórico Legislativo ................................................................................................... 40 4.1.2 O Pagamento e Outras Causas de Extinção da Punibilidade Específicas dos Crimes Contra Ordem Tributária ............................................................................................. 44 4.2 DECISÕES ACERCA DO MOMENTO DO PAGAMENTO E A ENTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ......................................................................................................... 47 4.2.1 Julgados de Alguns Tribunais de Justiça Estaduais .................................................... 47 4.2.2 Julgados do Superior Tribunal de Justiça .................................................................... 51 4.2.3 Julgados do Supremo Tribunal Federal ....................................................................... 53 4.3 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DAS ATUAIS DECISÕES ................................. 56 4.3.1 Da existência e da inexistência do marco final para o pagamento do tributo, como causa de extinção da punibilidade. .............................................................................. 56 4.3.2 Da Insegurança Jurídica – Isonomia Entre os Tribunais ............................................. 57 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 63 11 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho terá como principal objetivo a exposição dos principais julgados proferidos pelos Tribunais de Justiça Estaduais, pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Superior Tribunal Federal, a fim de serem demonstradas os divergentes entendimentos e decisões acerca do tempo do pagamento do tributo como forma de extinção da punibilidade nos crimes contra ordem tributária. Segundo Andrade Filho e Silva, no direito penal tributário são inúmeras as leis que regularam os crimes dessa natureza, bem como a extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo, algumas delas prevendo e outras revogando tal possibilidade. Atualmente, esse tema que causa bastante discussão, tendo em vista que a Lei n. 10.864/03, que disciplinou a matéria, foi omissa quanto ao tempo final do pagamento, gerando assim entendimentos opostos e causando instabilidade nas decisões dos Tribunais, sejam de segunda instância, ou dos Tribunais Superiores. Assim, considerando o objeto da pesquisa, será utilizado o método indutivo, com técnicas de pesquisas em doutrinas, artigos científicos, legislações vigentes e já revogadas, além de pesquisa de jurisprudências. Por conseguinte, no segundo capítulo, serão exibidas as características do Direito Penal Tributário, como seus elementos e conceitos, e conforme muito bem ensina Andrade Filho, esclarecer-se-á que não se trata de um ramo autônomo do Direito e sim uma continuidade do Direito Penal. Em seguida, buscará a apresentação das leis editadas que trataram da matéria e tipificaram as condutas praticadas contra o Fisco. Igualmente, procurando demonstrar quais as hipóteses de configuração dos crimes contra ordem tributária. Por outro enfoque, o terceiro capítulo, externará a extinção da punibilidade através da exposição dos conceitos e das causas elencadas no Código Penal, individualizando-as, segundo disciplina Capez, Nucci e Greco, além de outros doutrinadores. Contudo, nem todas as possibilidades do art. 107 do CP têm aplicabilidade nos crimes contra ordem tributária, razão pela qual serão elencadas as causas que se aplicam e de que forma se procedem, bem assim mencionadas as que não têm utilidade nos crimes dessa natureza. O quarto capítulo, terá a finalidade de expor, conforme Machado, que além do pagamento existem outras hipóteses de extinção da punibilidade nos crimes contra ordem tributária. Em seguida, serão enumeradas as leis que versaram sobre a extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo e destacar-se-ão as partes relevantes de cada uma delas. 12 Ainda neste capítulo, se transcreverá as partes dos julgados acerca desse tema, extraídas de alguns Tribunais Estaduais, especialmente do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Diante disso, tem-se como finalidade demonstrar que existem duas correntes distintas acerca da matéria e há a ausência de regulação. A presente pesquisa buscará apresentar a necessidade de serem uniformizadas as decisões. 13 2 DIREITO PENAL TRIBUTÁRIO 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 2.1.1 O Direito Penal Tributário e o Direito Tributário Penal Em um primeiro momento, faz-se necessária a diferenciaçãoentre o Direito Penal Tributário e o Direito Tributário Penal, a fim de traçar uma linha de entendimento para melhor elucidação do tema tratado nesta pesquisa. É consabido, bem como enuncia Edmar Oliveira Andrade Filho, que são diversas as Leis, tanto em âmbito federal, estadual ou municipal, que disciplinam as formas e prazos para o recolhimento de determinado tributo em favor do Erário. Entretanto, levando em consideração que o fato do pagamento do tributo implica na redução do patrimônio do particular em favor do Estado, não se questiona o fato de que, caso não houvesse uma sanção para o inadimplemento, grande seria o prejuízo do Ente beneficiário do tributo, em razão do não pagamento por quem o deveria fazer (ANDRADE FILHO, 2004). Ainda, Andrade Filho, explica que: As normas tributárias, por imporem obrigações cujo cumprimento implica desfalque no patrimônio do particular em favor do Estado, revestem-se da característica de norma de rejeição social, cujo o cumprimento só é logrado em decorrência da previsibilidade da imposição de sanções por seu descumprimento (ANDRADE FILHO, 2004, p. 30). Portanto, a questão que está sendo alinhavada neste tópico, tem como objetivo “punir” o descumprimento da obrigação de arcar com os tributos que são devidos, fazendo com que os indivíduos recolham o tributo no prazo e na forma estabelecida por lei, quando estes tiverem que ser adimplidos. Deste modo, cabe agora, distinguir a natureza da sanção atribuída, podendo ser administrativa ou penal, aí então, verifica-se a diferenciação estabelecida pela doutrina, entre Direito Penal Tributário e Direito Tributário Penal. Conforme bem sustentado pelo doutrinador Andrade Filho, são muitos os doutrinadores que seguem o princípio de que o direito é uno e indivisível, e que os ramos que 14 os compõe são genéricos, como por exemplo, o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito Tributário, etc. (ANDRADE FILHO, 2004). Nesse sentido, alguns dos ramos do direito necessitam de edição de leis especiais, por não tratarem de temas específicos, contudo, essas leis não criam um novo ramo do direito, mas atribuem ao ramo já existente características especiais e individuais. Em analise a obra de Juary C. Silva, e reproduzindo-a de forma sucinta, observa-se que o Direito Penal Tributário não é nada mais do que o Direito Penal, especificando os crimes, definidos por lei especial, como tributário, mas sem deixar de tratar de direito penal, ou seja, não se cria um novo ramo do direito. Da mesma forma, o Direito Tributário Penal é a matéria delimitada pelo Direito Tributário, acrescidas das sanções administrativas, previstas no próprio Código Tributário Nacional (SILVA,1998). Silva demonstra em sua obra as diferenças entre o Direito Penal Tributário e Direito Tributário Penal, porém frisando que essa distinção é somente para fins didáticos, senão vejamos: É nessa acepção que empregamos a locução “Direito Penal Tributário”, vale dizer, apenas como um rótulo ou envoltório verbal para designar uma série de infrações penais e sua sistemática jurídica, sem que se lhe atribua o status de um lídimo ramo do Direito. [...] Por outro lado, a expressão “Direito Tributário Penal” não seria hábil para sinalar a mesma área normativa em análise, por ser imprecisa, abraçando um campo legislativo muito mais amplo. Com efeito, ela denota a sistematização das penalidades previstas no interior do Direito Tributário, de qualquer ordem que sejam, criminais ou não. Cuida-se, pois, de dicção imprecisa, inábil para distinguir com a exatidão as sanções tributárias não-criminais daquelas passiveis de sanção penal stricto sensu (SILVA, 1998, p. 14) Assim, observa-se que o divisor é estabelecido unicamente com a finalidade de delimitar os tipos de sanções previstas em lei, podendo ser administrativas ou penais, ou ainda, ambas aplicadas ao mesmo caso, quando assim for previsto em Lei. Portanto, estabelecendo um divisor, e apresentadas as suas características, torna-se claro que o objeto principal desta pesquisa é o estudo do Direito Penal Tributário, porém, sem deixar de lado aquilo que for relevante quando tratar-se de matéria de cunho administrativo, mantendo o direito como sendo uno e indivisível, porém, aqui, tratando-se de uma matéria de caráter especial. 15 2.1.2 Limites Aplicáveis ao Poder Sancionador do Estado nos Crimes de Natureza Fiscal Delimitado o campo a ser explorado nesta pesquisa, verifica-se que outro ponto importante é verificar até onde o Poder/Dever de Punir do Estado exerce influência nos crimes de natureza tributária, bem como de que forma as sanções são aplicadas nos casos concretos. Nesse norte, é pacífico o fato de que são muitas as normas que compõem o direito positivo brasileiro e visam proteger os indivíduos de eventuais abusos por parte dos legisladores, principalmente quanto à possibilidade deste ditar leis que impliquem na obrigação dos cidadãos de recolher tributos em favor da Fazenda Pública. Essa proteção é tão expressiva que o poder constituinte, na Carta Magna de 1988, criou princípios que foram incluídos no seu texto, nos artigos 150 a 152, sob a intitulação “das Limitações do Poder de Tributar”. Entretanto, considerando o grande avanço industrial e econômico ocorridos no Brasil, maior se tornou a tributação exigida pela Fazenda Pública em face de produção e comercialização de bens e serviços, e como consequência, surgiram também inúmeros meios do indivíduo se esquivar da sua obrigação de recolher os valores previstos em lei em favor do Erário. Assevera Silva que, diante de tal circunstância, tornou-se de extrema necessidade a criação de mecanismos no afã de ilidir as fraudes no recolhimento dos tributos, haja vista que somente as penas de caráter administrativo, previstas no Código Tributário Nacional, não eram suficientes para prevenir e punir aqueles que infringiam sua obrigação em prol do Fisco (SILVA,1998). Quanto à necessidade do Estado em criar meios de obrigar os cidadãos a cumprirem com o seu dever de recolher os tributos quando e na forma prevista, Juary C. Silva explica que: O fundamento da incriminação, por conseguinte, é puramente econômico, baseando-se na velha técnica psicológica de induzir certo comportamento por meio da cominação de uma pena. Todavia, como a sistemática do Fisco está longe de ser perfeita e as falhas do mecanismo de arrecadação são grandes, os contribuintes sujeitam-se a muitas arbitrariedades, especialmente se intervier a Polícia na apuração das infrações penais-tributárias (SILVA,1998, p. 23). Assim, vislumbrando a necessidade de criar mecanismos que visem prevenir o Fisco das fraudes dos indivíduos para não cumprirem com seus encargos tributários, porém 16 restringida pela limitação do estado em criar Tributos, bem assim, considerando os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, o legislador teve que usar de meios que garantissem ao Fisco o integral cumprimento do que lhe era devido. Por essa razão, o artigo 97 do Código Tributário Nacional enuncia que: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades (BRASIL, 1966). Data vênia fica claro que o legislador consolidou uma forma de imputar ao agente ativo dos crimestributários uma pena em razão do descumprimento do ônus de recolher em favor do Fisco os tributos devidos, bem como estabelecer formas de instar o cidadão ao pagamento das verbas devidas. Nesse ponto ainda, destaca-se a possibilidade de criação de mecanismo que permita ao agente causador da ação ou omissão que deu origem ao fato penal-tributário, de se ver livre de pena, quando, criadas as formas de extinção de sua punibilidade, o Estado, perca seu poder/dever de punir, o que será estudado com mais afinco posteriormente. 2.2 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA 2.2.1 Dos Crimes Tributários no Código Penal Conforme muito bem salientado por Andrade Filho, na legislação penal em vigor, não há nenhum título ou capítulo que expressamente enuncie os crimes de sonegação fiscal ou contra ordem tributária. Todavia, foram tipificadas diversas condutas que podemos enquadrar nessa classificação, pois denotam prejuízo ao Erário, como o caso do descaminho e contrabando, previsto no art. 334 do Código Penal, ou ainda, considerando a realidade fática e 17 o resultado produzido pelo crime de estelionato, em alguma das hipóteses do seu artigo 171 (ANDRADE FILHO, 2004). Outra hipótese de enquadramento de certa conduta nos crimes contra ordem tributária é o crime de apropriação indébita, que após o advento da Lei n. 4.357/1964, passou a considerar os valores descontados de terceiros pelas fontes pagadoras, sempre que dentro de 90 dias do vencimento não houvesse o recolhimento. Acerca do tema Andrade Filho, em sua obra, afirma que: Criar, na legislação extravagante, mecanismos para reprimir as fraudes fiscais, foi providencia que se revelou necessária em razão de que a jurisprudência daquela época caminhava no sentido de considerar que a utilização de qualquer meio fraudulento para suprimir o tributo ou contribuição social, eram condutas consideradas atípicas, o que reclamaria a edição de lei especial que viesse a reprova-la (ANDRADE FILHO, 2004, p. 52). Pois bem, apesar de alguns doutrinadores aceitarem o fato de que algumas normas previstas pelo Código Penal se enquadram como crimes fiscais, são poucas as tentativas de penalizar as condutas de sonegação fiscal, por enquadramento ao conceito do crime de falsidade ideológica, prevista no art. 299 do CP. Acerca da não aplicação do Código Penal aos crimes de natureza tributária, segundo Hugo de Brito Machado, esta não ocorria muitas vezes por mero desconhecimento pelas autoridades da Administração Pública ou, ainda, quando por razões políticas deixava de acionar o Ministério Público (MACHADO, 2011). Por essa razão, tornou-se imprescindível a criação de Lei especial que tratasse da matéria, a fim de que se estabelecessem parâmetros para a punição nos casos de crimes, que causassem prejuízo ao beneficiário dos Tributos. 2.2.2 Lei n. 4.729/1965 – Crimes de Sonegação Fiscal Diante da necessidade de criação de uma Lei que regulasse os crimes fiscais, foi promulgada a Lei n. 4.729 de 14 de julho de 1965, que tratava dos Crimes de Sonegação Fiscal. Antes do advento da referida Lei, a sonegação fiscal não era tida como figura penal considerada crime ou contravenção penal, mas apenas possuía natureza qualificadora na imposição de e na graduação de penalidades pecuniárias. 18 Pela Lei n. 4.729/65 foram instituídos quatro tipos penais que configurariam crimes de sonegação fiscal: Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal: I - prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei; II - inserir elementos inexatos ou omitir, rendimentos ou operações de qualquer natureza em documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais, com a intenção de exonerar-se do pagamento de tributos devidos à Fazenda Pública; III - alterar faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito de fraudar a Fazenda Pública; IV - fornecer ou emitir documentos graciosos ou alterar despesas, majorando-as, com o objetivo de obter dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis (BRASIL, 1965). Com o advento da Lei n. 5.569/69, foi introduzido ainda outro inciso que dispunha outro tipo penal: V- Exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário da paga, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida do imposto sobre a renda como incentivo fiscal (BRASIL, 1969). Andrade Filho, em sua obra, colaciona que, segundo a Doutrina de Manoel Pedro Pimentel: Os tipos penais descritos na lei que institui os chamados “crimes de sonegação fiscal” já se encontravam inseridos em diversos artigos do Código Penal, sendo que o único traço distintivo é o elemento subjetivo do injusto, contido nas condutas referidas pela Lei 4729/65, que têm como núcleo a intenção e a vontade de causar dano à Fazenda Pública (ANDRADE FILHO, 2004, p. 52). Destaca-se, porém, que a Lei especial tratava os crimes de uma forma mais branda em suas penas do que sua previsão de forma indireta no Código Penal, pois, de acordo com o artigo primeiro, as condutas ali relacionadas possuíam pena de Detenção, de seis meses a dois anos, e multa de duas a cinco vezes o valor do tributo favorecendo, desta forma, o agente causador de prejuízo à Fazendo Pública. A situação somente se alterou após a vigência da Lei n. 8.137/90. 2.2.3 Lei n. 8.137/1990 – Crimes Contra Ordem Tributária 19 Embora a Lei n. 8.137/90 não revogasse expressamente a Lei n. 4.729/65, eram inúmeras as semelhanças entre elas, causando dúvida quanto à aplicação das normas sancionadoras dos crimes tributários. Desta feita, observa-se a existência de um conflito de lei penal no tempo, pois muitos dos crimes previstos na Lei de sonegação fiscal, durante sua vigência eram enquadrados como crimes previstos no Código Penal e posteriormente, com o advento da Lei que regulou os crimes contra a ordem tributária, por terem uma redação bastante semelhante, passou-se a aplicar a lei mais recente. Andrade Filho frisa que, a principal diferença, e o que gera grande discussão é o fato de que as penas estabelecidas aos crimes tipificados na Lei n. 8.137/90 são mais rigorosas e perduram por mais tempo, enquanto as penas cominadas pela Lei n. 4.729/65 são mais brandas e menos extensas (ANDRADE FILHO, 2004). Assim, verifica-se que devemos esclarecer alguns pontos. Conforme o artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (BRASIL, 1942), “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”, extrai-se que apesar de não revogar a norma anterior, a Lei que prevê os crimes contra ordem tributária, reproduz aqueles enunciados na lei de sonegação fiscal, acrescentando novos dispositivos. Ainda, no §1º do mesmo artigo está enunciado que “a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior” (BRASIL, 1942). Destarte, resta claro que todos os artigos contrários à nova lei foram revogados, e os que permaneceram inalterados, tem sua vigência formalizada pela Lei n. 8.137/90, conforme coteja Ives Gandra da Silva Martins, in verbis: A resposta, portanto, é de que todos os dispositivos dos diplomas legais anteriores que foram cuidadas de forma diversa pela Lei 8.137/90 foram revogados e aqueles que apenas foram reproduzidos passam a ter sua fonte legal não mais no diploma anterior reproduzido, mas no novo, nestes casos não prevalecendo o principio da retroatividade benigna, em face da manutenção estrutural das situações pretéritas. (MARTINS, 2002, p. 31) Portanto, resta superada essa questão, passando-se então à análiseda lei em face do seu conteúdo, uma vez que a Lei n. 8.137/90 tipificou de forma bastante abrangente os crimes contra a ordem tributária, bem assim, os crimes contra a ordem econômica (artigo 7º), enunciando-os em seus artigos 1º a 7º. 20 Além disso, nos artigos 8º a 10, estabeleceu as penas de multa impostas aos crimes contra ordem tributária e a conversão da pena de detenção em multa nos crimes contra ordem econômica e de relação de consumo. E por fim, os artigos 11 a 27 estabelecem, ainda, as disposições gerais quanto a aplicação da lei nos crimes contra a ordem Tributária. Vale mencionar aqui o art. 34 da Lei n. 9.249/95, o qual enuncia que: Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia (BRASIL, 1995). Tal menção é importante, pois o objeto principal do presente estudo é a interpretação, principalmente deste artigo pelos Tribunais Superiores e, assim, verificar em quais situações o referido artigo é empregado. 2.3 CARACTERISTICAS DOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBITÁRIA 2.3.1 Exaurimento da Via Administrativa Durante um longo período de tempo, discutiu-se os elementos indispensáveis para a caracterização do crime contra ordem tributário, no sentido de identificar se há a necessidade de exaurir inteiramente a via administrativa, para só então deflagrar a ação penal em busca da comprovação da existência do crime tributário e, então a aplicação de uma pena. Conforme muito bem assevera Hugo de Brito Machado, o assunto é ainda divergente na jurisprudência e por essa razão é bastante tratado pelos doutrinadores em suas obas. Acerca do tema, MACHADO, frisa que: O papel fundamental da doutrina jurídica consiste em explicar o sentido e o alcance das normas, com o especial propósito de construir a harmonia, superando suas antinomias, e na formulação de qualquer proposição doutrinária tendente a superar antinomias, o jurista não pode esquecer a supremacia da Constituição, a dizer que as demais normas do sistema são inferiores. Dotadas, assim, de menor força normativa, que se manifesta justamente na incapacidade de estabelecer uma regulamentação que esteja em oposição a regulamentação de uma norma hierarquicamente superior (BOOBIO, 1994, p. 93 apud MACHADO, 2002, p. 152-153). 21 Pois bem, esclarecido o importante papel da doutrina no direito brasileiro, e a aplicação no tocante à necessidade do processo administrativo para apuração de uma infração penal, e sua conclusão para o início da ação penal. Cairon Ribeiro dos Santos, na obra Sanções Penais Tributárias, coordenada por Hugo de Brito Machado, sustenta que não há como suprimir a instância administrativa, uma vez que esta é o instrumento pelo qual se afirma ou não a constituição do crédito tributário. (SANTOS, 2005, p. 137). Na mesma obra, Carlos César Souza Cintra e Ivson Coélho compartilham do mesmo entendimento supra, sustentando que: Por isso, somente se o desfecho do processo administrativo fiscal (decisão definitiva irrecorrível) for no sentido de admitir que a conduto do autuado verdadeiramente constituiu em um descumprimento de dever tributário (obrigação principal ou acessória), violação esta que aponte para a presença de indícios de prática de crime contra ordem tributária, é que os órgãos da Administração Tributária (federal, estadual, distrital ou municipal), de posse de tal informação, deverão adotar as providências necessárias de modo que dita notitia criminis chegue ao conhecimento do Ministério Público, para fins de propositura, se for o casa, da ação penal cabível. (CINTRA; COÉLHO, 2005, p. 163). Diante disso, não se pode deixar de citar os ensinamentos de Hugo de Brito Machado, que em sua obra, colaciona que a supressão da instância administrativa seria obrigar o contribuinte ao pagamento de um tributo do qual não se teria plena certeza que é devido e que foi ocasionado de forma delituosa, in verbis: Admitir-se, portanto, a ação penal, antes de decisão definitiva da autoridade administrativa, afirmando a existência, e determinando o montante, do tributo, é admitir a ação penal como verdadeiro instrumento de coação para compelir o contribuinte ao pagamento do tributo indevido. Todos sabem dos gravames, sobretudo no plano moral, que o envolvimento em uma ação penal representa. Não é difícil concluir-se, portanto, que o contribuinte, em face da ameaça de denúncia criminal contra ele, sentir-se-á coagido a pagar o tributo, ainda que flagrantemente indevido. (BOOBIO, 1994, p. 93 apud MACHADO, 2002, p. 152-153) Posto isso, apesar de haver entendimentos discordantes, os quais são minoritários, a maioria dos doutrinadores entende ser necessário o esgotamento da via administrativa, para só então ter início a ação penal correspondente, garantindo assim o direito constitucional da ampla defesa e do contraditório, bem como assegurando uma estabilidade jurídica, elidindo assim prejuízos que o contribuinte futuramente poderá alegar ter sofrido. 22 2.3.2 Necessidade do Lançamento Tributário para a Caracterização do Crime Seguindo a mesma linha do ponto supra, bem como esclarecido que, por maior segurança e respeito aos princípios constitucionais o processo administrativo é indispensável para propositura da ação penal, da mesma forma, o lançamento do tributo é indispensável para a constituição do tipo penal. Da mesma forma que havia divergência quanto à indisponibilidade do encerramento do procedimento administrativo para deflagração da ação penal, muito se discutia quanto à necessidade do lançamento tributário para consumação do crime contra ordem tributária. Entretanto, apesar da divergência, a grande maioria entendia por bem, seguindo o mesmo princípio utilizado para caracterizar a necessidade da via administrativa, que o lançamento tributário é indispensável para a constituição do crédito tributário. Sobre o tema, Andrade Filho faz uma ligação entre o lançamento tributário e o esgotamento das vias administrativas para constituição do tributo, a saber: Decorre do exposto que: a exigibilidade do crédito tributário, de forma definitiva, surge quando o lançamento tributário se considera definitivo, isto é, após, percorrido todos os caminhos de que dispõem a administração ou o sujeito passivo demonstrar a existência ou a inexistência da relação jurídico tributária. Por tais razões, é livre de dúvidas que a consumação dos crimes contra ordem tributária só se pode ser afirmada depois de esgotadas todas as instâncias administrativas de que dispõe o sujeito passivo para discutir a exação. Isso porque o lançamento tributário, como vimos, pode perfeitamente ser desconstituído, hipótese em que desapareceria o núcleo do tipo penal; a supressão ou redução ilegal do tributo ou contribuição. (ANDRADE FILHO, 2004, p. 30) Em contrapartida, levando em conta o posicionamento elucidado acima, Andreas Eisele diverge do exposto, sustentando para tanto que: Portanto, o momento da consumação do crime (a ocorrência do evento configurador da evasão tributária criminalmente tipificada) é anterior ao lançamento que constituiu a exigibilidade do crédito (o qual institui o poder de cobrança, do credor), e independe deste, pois a constituição ou não da exigibilidade do crédito tributário, cuja ocorrência é um pressuposto necessário ao lançamento (EISELE, 2007, p. 109). Contudo, a fim de pacificar o momento da consumação dos crimes contra ordem tributária o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante n. 24, a qual enuncia que “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a 23 IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo” (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 2010).Assim, tem-se que para haver a consumação do crime contra ordem tributária é necessário o devido lançamento do tributo de forma definitiva, o que de certa forma, pacifica as discussões quanto a necessidade do esgotamento de todos os meios administrativos a disposição do contribuinte. 2.3.3 O Simples Inadimplemento do Tributário como Constituição do Crime Contra Ordem Tributária Ainda, cinge esclarecer um ponto bastante importante para o objeto principal dessa pesquisa, que se refere ao fato da discussão quanto à inadimplência do contribuinte: se é ou não crime contra ordem tributária. Nesse sentido, muito se discute tal situação se enquadra no art. 2º da Lei n. 8.137/90 ou não. Tal questão é bastante controvertida, haja vista que no Brasil o devedor de obrigações entre particulares não poderá ser punível por tal conduta, ao passo que o devedor do tributo seria enquadrado dentro do tipo previsto na lei penal especial, e sofreria as sanções de uma sentença condenatória. Diante do tema, aplicando-se por analogia aos demais tributos, em relação ao ICMS, Ives Gandra da Silva Martins nos ensina que só haverá crime se houver a intenção em sonegar o imposto, em prejuízo ao erário, senão vejamos: Para mim, o crime só se configura se houver deliberada intenção de não pagar. Uma empresa em dificuldades, que não recebe de seus clientes – principalmente do mais “caloteiro” deles que é o Poder Público – e que deve manter empregos, pagar juros bancários, salários, fornecedores e deixar de recolher, sem que a falta de recolhimento implique em crime, nesta hipótese. Terá de arcar com as penalidade pecuniárias referentes, desde que não sejam confiscatórias, porque se o for (tributo e penalidade) serão inconstitucionais, podendo, todavia, ressarcir-se junto ao Poder Público pelo fato de a imposição das mesmas ter decorrido da inadimplência do próprio Estado, nos termos do §6º do art. 37 da CF. À evidência , nesta hipótese, em que há a intenção de pagar e não há recursos para o pagamento, nenhuma intenção de sonegar ocorreu, não havendo crime, portanto (MARTINS, 2002, p. 49). 24 No mesmo sentido, Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini, na obra “Sanções Tributárias”, coordenada por Hugo de Brito Machado, afirmam que para a configuração do crime previsto no artigo 2º, inciso I, da Lei n. 8.137/90, é necessário que haja um dolo específico de sonegar o imposto, in verbis: O tipo penal previsto no art. 2°, I, da Lei 8.137/90, consoante clássica diferenciação, pertence à categoria denominada delito formal, isto é, descreve o resultado naturalístico (supressão do pagamento) mas não o exige para a consumação formal do delito. Com isso, do ponto de vista da imputação subjetiva, não há dúvida de que se trata de um delito de intenção ou de intenção especial. Para além do dolo, que ilumina o desvalor da conduta (fazer declaração falsa ou omitir declaração de rendas), o tipo ainda exige um requisito subjetivo especial, isto é, a intenção de eximir-se do pagamento do tributo. É essa intenção especial que distingue o crime tributário acima mencionado do delito de falsidade ideológica do Código Penal (GOMES; BIANCHINI, 2005, p. 513). Quanto ao presente ponto, destaca-se ainda que o Superior Tribunal de Justiça, em um dos seus julgados, frisou que o simples inadimplemento da obrigação tributária, por si só, não caracteriza o crime de sonegação fiscal, conforme se extrai da ementa que segue: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO COMPROVADA. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE REJEITADA. DESNECESSÁRIA SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL. NULIDADE DO PROCEDIMENTO FISCAL AFASTADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. VEDAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. MOVIMENTAÇÕES FINANCEIRAS NÃO INFORMADAS NA DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. CARACTERIZAÇÃO DO DELITO PREVISTO NO ART. 1º DA LEI Nº 8.137/90. CONSUBSTANCIADA FRAUDE E NÃO MERO INADIMPLEMENTO. COMPROVAÇÃO DA ORIGEM DOS RECURSOS. ART. 42 DA LEI Nº 9.430/93. INOCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO AO ART. 59 DO CP. DOSIMETRIA. IMPRESCINDIBILIDADE DE EXAME DO ARCABOUÇO PROBATÓRIO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. VEDAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. SONEGAÇÃO DE VULTOSA QUANTIA. APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DO ART. 12, I, DA LEI Nº 8.137/90. POSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1- O Plenário do Supremo Tribunal Federal ao julgar o habeas corpus nº 81.611/DF, de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence (DJU de 13/05/2005), firmou o entendimento, que posteriormente veio a ser seguido também nesta Corte, de que, nos crimes contra a ordem tributária, a constituição definitiva do crédito 25 tributário e consequente reconhecimento de sua exigibilidade e valor devido configura uma condição objetiva de punibilidade, ou seja, se apresenta como um requisito cuja existência condiciona a punibilidade do injusto penal. 2- In casu, o crédito tributário no qual se baseou a ação penal já foi devidamente lançado pela autoridade fiscal, estando atualmente sendo executado pela Procuradoria da Fazenda Nacional por meio de Execução Fiscal nº 0005812-53.2006.4.2.5001 (Número antigo 2006.50.01.005812-4), razão pela qual integralmente preenchidos os requisitos para a propositura e prosseguimento da ação criminal. 3- Exige-se para a propositura da ação penal o lançamento definitivo do crédito tributário, condição que não pode ser confundida com a ausência de discussão sobre o débito fiscal. 4- A impugnação do débito na seara cível, embora possa ter consequências sobre o julgamento da lide penal, não obsta automaticamente a persecutio criminis, haja vista a independência da esfera cível e penal. [...] 7- Esta Corte tem firme jurisprudência segundo a qual a incompatibilidade entre os rendimentos informados na declaração de ajuste anual e os valores movimentados no ano-calendário em conta bancária caracterizam presunção relativa de omissão de receita. 8- Consta dos autos, que o recorrido teria, no ano-calendário de 2000, realizado movimentação financeira da ordem de R$3.000.000,00 (três milhões de reais), sendo que na declaração de ajuste anual apresentada constava um total de R$28.223,12 (vinte e oito mil, duzentos e vinte e três reais e doze centavos) de rendimentos tributáveis.9- Não identificados os valores creditados na conta bancária do contribuinte, há uma presunção legal, no sentido de que estes valores lhe pertencem, sujeitos, portanto, à incidência do IRPF. 10- A conduta de deixar de pagar tributo, por si só não constitui crime. Assim, se o contribuinte declara todos os fatos geradores à repartição fazendária, de acordo com a periodicidade exigida em lei, mas não paga o tributo, não comete crime, mas mero inadimplemento. O crime contra a ordem tributária pressupõe, além do inadimplemento, alguma forma de fraude, que na espécie, consubstanciou-se em omissão de receitas na declaração de renda firmada pelo agravante. 11-É assente que cabe ao aplicador da lei, em instância ordinária, fazer um cotejo fático e probatório a fim de analisar a adequada pena-base a ser aplicada ao réu, bem como a ocorrência ou não do fato típico. Incidência do enunciado nº 7 da Súmula desta Corte. 12. Resta motivada a majoração da pena, nos termos do art. 12, I da Lei 8.137/90., em razão do grave dano a coletividade, compreendido na sonegação de vultosa quantia aos cofres públicos. Precedentes. Incidência do enunciado 83 da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça. 13. Agravo regimental a que se nega provimento (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2013). [grifo nosso] Em contrapartida, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, já se posicionou pelo reconhecimento do delito, pelo simples fato da inadimplência, uma vez que, dependendo do tributo não há o repasse e quem paga é o contribuinte final, a saber: 26 APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA(LEI N. 8.137/90, ART. 2º, II) - PRELIMINARES - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (LEI N. 10.684/2003, ART. 9º) - INVIABILIDADE - PAGAMENTO INTEGRAL NÃO PROVADO - PRESCRIÇÃO - INOCORRÊNCIA - LAPSO TEMPORAL PRÓPRIO NÃO TRANSCORRIDO - MÉRITO - ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA - SONEGAÇÃO FISCAL PASSÍVEL DE CRIMINALIZAÇÃO - TESE PACIFICAMENTE ADOTADA NESTA CORTE - CRIME FORMAL - INEXIGÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO - CONSUMAÇÃO OPERADA COM A FALTA DO RECOLHIMENTO DO TRIBUTO - CONTINUIDADE DELITIVA - LAPSO ENTRE OS DELITOS SUPERIOR A TRINTA DIAS - CRIME DE CONSUMAÇÃO MENSAL - PRAZO QUE DEVE SER OBSERVADO DE ACORDO COM TAL PARTICULARIDADE - REQUISITOS DO ART. 71 DO CP PREENCHIDOS - DOSIMETRIA - PRIMEIRA FASE - MAUS ANTECEDENTES - EQUÍVOCO VERIFICADO - AFASTAMENTO - CULPABILIDADE, PERSONALIDADE E CONSEQUÊNCIAS NORMAIS À ESPÉCIE - PENA BASE REDUZIDA PARA O MÍNIMO LEGAL - RECURSO DA DEFESA PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO. I - O §2º do art. 9º da Lei n. 10.684/2003 prevê a hipótese de extinção da punibilidade somente nas hipóteses de pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. Ressalva-se que, segundo a jurisprudência, a comprovação do pagamento e consequente extinção da punibilidade pode se dar a qualquer tempo, inclusive após o trânsito em julgado. [...] III - A jurisprudência dessa corte, de forma pacífica, entende como criminosa a conduta de não repassar o ICMS cobrado do consumidor final aos cofres públicos, hipóteses que supera a mera inadimplência fiscal e que não configura prisão civil por dívida. IV - Do mesmo modo, é remansoso o entendimento de que, para a configuração do crime previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/90, não é necessário o dolo específico de burlar o fisco, bastando que se deixe recolher, no prazo legal, o tributo ou contribuição social. V - Entende-se que, para o reconhecimento da continuidade delitiva, embora não haja previsão temporal no art. 71 do CP, o lapso entre os crimes não pode superar trinta dias. Contudo, em se tratando de não recolhimento de ICMS, sua consumação de só pode ser atestada mensalmente, do modo que o requisito temporal da continuidade delitiva deve ser enfocado tendo em vista esta particularidade. Com efeito, "há de se reconhecer a continuidade quando o agente deixa de recolher tributos de forma não contínua, qual seja, quando este pratique as condutas tipificadas, em meses alternados. O que interessa é a homogeneidade objetiva das circunstâncias todas que albergam o fato criminoso, e não o fato de o agente praticar todo mês a mesma conduta. Se, num determinado período de tempo, por exemplo de seis meses, o agente deixar de recolher três vezes um 27 determinado tributo em períodos mensais alternados, as condições objetivas de tempo, lugar, maneira de execução e outras forem absolutamente semelhantes, deverá ser aplicado o art. 71, caput" (LOPES, Rodrigo Fernando de Freitas. Crime de sonegação fiscal. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2005, p. 155-156). [...] (SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça, 2014). [grifo nosso] Portanto, não obstante ao isolado entendimento da Corte Catarinense, prevalece que o simples inadimplemento da obrigação tributária não configura crime contra ordem tributária se não vier acompanhado do dolo especial de sonega-lo, ou seja, não haver a intenção clara do contribuinte em causar prejuízo ao Erário, deixando de recolher o tributo. 28 3 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS 3.1.1 Conceito Nessa pesquisa, mostra-se indispensável relacionar as causas de extinção da punibilidade, haja vista que tal instituto é o objeto central do presente trabalho, ligado à lei especial que trata dos crimes tributários. Desta feita, não podemos tratar dos institutos da extinção da punibilidade, sem antes, conceitua-la. Fernando Capez, em sua obra, conceitua as causas de extinção da punibilidade como “aquelas que extinguem o direito de punir do Estado”. (CAPEZ, 2012, p. 596) Na mesma esteira, Rogério Greco explica as formas de punição do Estado e elenca as razões pelas quais este perde ou deixa de fazer valer o seu dever/poder de punir, in verbis: [...] também é certo que o Estado, em determinadas situações previstas expressamente em seus diplomas legais, pode abrir mão ou mesmo perder esse direito de punir. Mesmo que, em tese, tenha ocorrido uma infração penal, por questão de política criminal, o Estado pode, em algumas situações por ele previstas expressamente, entender por bem em não fazer valer o seu ius puniendi, razão pela qual haverá aquilo que o Código Penal denominou de extinção da punibilidade. (GRECO, 2009, p 710) [grifo do autor] E, ainda, Nucci, faz a distinção entre a extinção da punibilidade, a condição objetiva de punibilidade, a condição negativa da punibilidade e com a condição de procedibilidade. Ele explica que: Em verdade, a extinção da punibilidade é o gênero do qual se pode extrair como espécie a condição negativa de punibilidade. A prescrição, por exemplo, é uma causa de extinção da punibilidade, considerada genérica, por não se prender a motivações de ordem utilitária ou sentimental de preservação de laços familiares. Se falarmos, entretanto, do perdão judicial (vide art. 121, § 5º, CP), ingressamos no contexto das razões de ordem utilitária ou sentimental, logo, no universo das condições negativas de punibilidade (escusas) (NUCCI, 2011, p. 594) Pois bem, diante dos conceitos supra, conclui-se de maneira bem genérica que a extinção da punibilidade nada mais é do que a perda do dever/poder de punir, do qual o 29 Estado é o único titular, o agente que comete um ato tipificado como crime. 3.1.2 O Momento e os Efeitos da Extinção da Punibilidade A partir da análise do conceito acima apresentado, importante agora expor o momento e os efeitos trazidos pelo instituto da extinção da punibilidade. É de conhecimento geral que a extinção da punibilidade pode acontecer em dois momentos, dependendo da forma em que é aplicado, de acordo com o que ensina Guilherme Nucci, senão vejamos: Concretizando-se a causa de extinção da punibilidade antes do trânsito em julgado da sentença, atinge-se o direito de punir (jus puniendi) do Estado, não persistindo qualquer efeito do processo ou da sentença condenatória eventualmente proferida. Ex.: prescrição da pretensão punitiva, decadência, renúncia. Quando a extinção da punibilidade ocorrer após o trânsito em julgado, extingue-se a pretensão executória do Estado – imposição de pena –, remanescendo, no entanto, os efeitos secundários da sentença condenatória, tais como lançamento do nome do condenado no rol dos culpados, possibilidade de gerar reincidência e maus antecedentes, entre outros. Ex.: Indulto. (NUCCI, 2011, p. 595-596). Posto isso, fica claro que os efeitos gerados pela extinção da punibilidade dependem do momento processual em que ocorrem, podendo ser antes ou depois do trânsito em julgado da sentença. Contudo, faz-se necessário elencar quais são esses efeitos. Nesse sentido, Cleber Masson, em sua obra, traz quais os efeitos, da extinção da punibilidade da pretensão punitiva ou executória, a saber: As causas da extinção da punibilidade que atingem a pretensão punitiva eliminam todos os efeitos penais de eventual sentença condenatória já proferida. Destarte, esse ato judicial não serve como pressuposto da reincidência, nem pode ser usado como título executivo judicial na área cível. Por sua vez, as causas extintivas que afetam a pretensão executória, salvo nas hipóteses de abolitio criminis e anistia, apagam unicamente o efeito principal da condenação, é dizer, a pena. Subsistem os efeitos secundários da sentença condenatória: pressuposto da reincidência e constituição do título executivo judicial no campo civil (MASSON 2009, p. 935-936). 30 Posto isso, observa-seque o principal efeito da extinção da punibilidade antes da sentença penal condenatória transitada em julgado é o fato de não gerar reincidência, ou ainda, maus antecedentes, fazendo com que o agente permaneça como primário, sem qual prejuízo em outro processo futuro que venha sofrer em razão de outro ato ilícito. Em se tratando de extinção da pretensão executória do Estado, esta garante ao agente condenado, esteja livre do cumprimento da pena anteriormente imposta. 3.1.3 Não Exaurimento das Causas de Extinção da Punibilidade no Código Penal Elucidado o conceito de extinção da punibilidade, observa-se que o elenco de possibilidade está enunciado no artigo 107 do Código Penal, que será mais bem particularizado em momento oportuno. Assim, neste momento, cabe explicar, conforme pacificado na doutrina e na jurisprudência, que o rol constante do referido artigo não é taxativo e sim exemplificativo, podendo existir outras causas, determinadas em leis especiais. Nesse norte, Nucci ensina que “o rol do art. 107 do Código Penal, que cuida das causas de extinção da punibilidade, é meramente exemplificativo, uma vez que existem várias outras previstas na Parte Especial e também em Leis Penais Especiais” (NUCCI, 2011 , p. 594). Também Cleber Masson, da mesma forma colaciona que: É unânime o entendimento doutrinário no sentido de ser exemplificativo o rol do art. 107 do Código Penal, o qual contém em seu interior algumas causas da extinção da punibilidade admitidas pelo Direito Penal brasileiro. Em verdade, diversas outras causas extintivas podem ser encontradas no Código Penal e na legislação especial [...] (MASSON, 2009, p. 934). Diante disso, resta evidenciado que existem diversas outras possibilidades de o Estado perder seu direito de punir, ou seja, o agente ter extinta sua punibilidade diante da ocorrência de alguma das hipóteses previstas em lei. Tal conclusão é de grande importância para o presente estudo, uma vez que o assunto que será abordado no próximo capítulo são as hipóteses de extinção da punibilidade nos crimes contra a ordem tributária e seus efeitos. 31 3.2 A EXTINÇÃO PUBINILIDADE NO CÓDIGO PENAL Não obstante ao fato de que o rol do art. 107 Código Penal (BRASIL, 1940) é meramente exemplificativo, importante frisar cada uma das hipóteses, a fim de promover sua aplicação nos crimes contra ordem tributária. Assim, passamos a analisar separadamente cada um dos incisos do artigo 107 do Código Penal. 3.2.1 Incido I – Pela Morte do Agente Tal instituto foi criado visando a proteção de dois princípios, conforme ensina Fernando Capez: A extinção da punibilidade no caso de morte do agente decorre de dois princípios básicos: mors omnia solvit (a morte tudo apaga) e o de que nenhuma pena passará da pessoa do deliquente (art. 5º, XLV, 1ª parte, da CF) (CAPEZ, 2012, p. 596) Igualmente MASSON leciona de acordo com o exposto acima, senão vejamos: Essa opção legislativa tem dois fundamentos: (1) princípio da personalidade da pena: a pena não passará da pessoa do condenado (CF, art. 5º, XLV, 1ª parte); e (2) o brocado de justiça pelo qual a morte tudo apaga (mors omnia solvit). (MASSON, 2009, p. 934). De tal sorte, frisa-se que não seria racional dar seguimento ao processo diante do falecimento do agente, pois a punição não pode passar da pessoa deste e, portanto, o Estado perde o seu objetivo do Estado, qual seja, punir o autor da infração pela conduta tipificada como crime. 3.2.2 Inciso II - Pela Anistia, Graça ou Indulto Esses institutos são aplicados diante de ordem soberana, vinda dos entes federais, podendo ser aplicado individualmente ou de forma coletiva. Rogério Greco cita em sua obra os ensinamentos de Giuseppe Maggiore, o qual colaciona que: Uma das mais antigas formas de extinção da pretensão é a indulgência do príncipe, que se expressa em três instituições: a anistia, o indulto e a graça. A indulgentia principis se justifica como uma medida equitativa endereçada a suavizar a aspereza da justiça (supplementum 32 iustitiae), quando particulares circunstâncias políticas , econômicas e sociais, fariam esse rigor aberrante e iníquo. Desse modo, atua como um ótimo meio de pacificação social, depois de períodos turbulentos que transformam a vida nacional e são ocasião inevitável de delitos (MAGGIORE, 1972, p. 358 apud GRECO, 2009, p. 713-714). Na mesma linha, Nucci conceitua de maneira louvável as três espécies de indulgências adotadas no Direito Penal Brasileiro, a saber: (a)Anistia “é a declaração, pelo Poder Público, de que determinados fatos se tornam impuníveis por motivo de utilidade social. O instituto da anistia volta-se a fatos e não a pessoas”; (b) Graça, ou indulto individual “é a clemência destinada a uma pessoa determinada, não dizendo respeito a fatos criminosos”; e (c) Indulto coletivo “é a clemência destinada a um grupo de sentenciados, tendo em vista a duração das penas aplicadas, podendo exigir requisitos subjetivos (tais como primariedade, comportamento carcerário, antecedentes) e objetivos (por exemplo, o cumprimento de certo montante da pena, a exclusão de certos tipos de crime) (NUCCI, 2011, p. 598-600). Diante disso, verifica-se que este instituto não depende da vontade do agente, e sim de circunstâncias vindas dos Poderes Públicos. 3.2.3 Inciso III - Pela Retroatividade de Lei que Não Mais Considera o Fato como Criminoso Este inciso trata de atender o determinado pela Constituição Federal, que em seu artigo 5º, inciso XL enuncia e “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (BRASIL, 1988). Ou seja, vigorando lei que disciplina que determinado crime se torne conduta atípica, todos os agentes que foram condenados ou estão sendo processados por tal delito, será extinta sua punibilidade. Acerca do assunto nos ensina MASSON, se não vejamos: É a nova lei que exclui do âmbito do Direito Penal um fato até considerado criminoso. Encontra previsão legal no art. 2º, caput, do Código Penal, e tem natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade (art 107, III). Alcança a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, não servindo como pressuposto da reincidência, nem configurando maus antecedentes. Sobrevivem, entretanto, os efeitos civis de eventual condenação, isto é, a obrigação de reparar o dano provocado pela infração penal e a constituição de título executivo judicial (MASSON, 2009, p. 945). 33 3.2.4 Inciso IV - Pela Prescrição, Decadência ou Perempção Seguindo a mesma linha do elucidado acima, estes três institutos, apesar de diferentes, confundem-se entre si, por possuírem em comum o decurso do lapso temporal, contudo, aplicando-se cada um de seu modo. Nesse sentido, Masson, com maestria, diferencia os institutos conceituando-os: A Decadência é a perda do direito de queixa ou representação em face da inércia de seu titular durante o prazo legalmente previsto. [...] Perempção é a perda do direito da ação, que acarreta na extinção da punibilidade, provocada pela inércia processual do querelante. [...] Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou da pretensão executória em face da omissão, da inércia do Estado durante determinado tempo legalmente previsto (MASSON, 2009, p. 946-947 e 969). Destarte, evidenciado está que os institutos aplicam-se em casos bastante específicos, não podendo confundi-los na análise do caso concreto. 3.2.5 Inciso V - Pela Renúncia do Direito de Queixa ou Pelo Perdão Aceito, nos Crimes de Ação Privada Pois bem, neste inciso é preciso dividir os dois núcleos presentes, quais sejam: (1) pela renúncia ao direito de queixa; e (2) pelo perdão do ofendido, aceito pelo autor do fato. Visando a caracterização dos dois institutos, Capez, conceituou cada um deles: Renúncia ao direito de queixa: abdicação do deito de promover a ação penal privada, pelo ofendido ou seu representante legal. Perdão doofendido: é a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou do seu representante legal, no sentido de desistir da ação penal privada já iniciada, ou seja, é a desistência manifestada após o oferecimento da queixa (CAPEZ, 2012, p. 604-606). Diante de tal exposição, nota-se que a extinção da punibilidade do agente, neste caso, depende da vontade do ofendido, e na última hipótese, da concordância do querelado. 34 3.2.6 Inciso VI - Pela Retratação do Agente, nos Casos em que a Lei a Admite Em análise a este inciso, vislumbra-se que a extinção da punibilidade pelo instituto da retratação depende da vontade do agente, ou seja, da sua intenção de voltar atrás no ato ilícito cometido. Sobre o tema, Rogério Sanches, conceitua da seguinte maneira, in verbis: Retratar-se não significa, simplesmente, negar ou confessar o fato. É mais: é retirar totalmente o que disse. É admitida nos casos expressamente previstos em lei, a saber: calúnia (art. 138), difamação (art. 139), falso testemunho (art. 342, §2º) e a falsa perícia (art. 342, §2º) (SANCHES, 2012, p. 190). De acordo com o expendido acima, fica evidenciada a principal diferença entre este instituto e os demais já elencados, uma vez que este é o único que depende apenas da vontade do agente, sem a concordância da vítima, contudo, somente nos casos previstos em lei. 3.2.7 Inciso IX - Pelo Perdão Judicial, nos Casos Previstos em Lei E, por fim, o último inciso de que trata o artigo 107 do Código Penal estabelece que poderá ser concedido o perdão judicial, nos casos previstos em lei. No tocante ao perdão judicial, Rogério Sanches Cunha, conceitua o instituto de maneira bastante objetiva, afirmando que: Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar, nas hipóteses taxativamente previstas em lei, o preceito sancionador cabível, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento. Em casos tais, o Estado perde o interesse de punir (CUNHA, 2012, p. 212). Levando em conta o conceito supra, o exemplo mais comum é o previsto no §5º do art. 121 do Código Penal, o qual estabelece que “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária” (BRASIL, 1940). Todavia, várias outras hipóteses podem ser consideradas, porém, conforme exposto no conceito supra, somente nos casos em que a lei expressamente prever tal instituto. 35 3.3 A APLICAÇÃO DAS CAUSAS EXTINTIVAS DA PUBINIBILIDADO DO CÓDIGO PENAL NOS CRIMES CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA 3.3.1 Preceitos Comuns Diante de todo o exposto até o momento, mostra-se indispensável que começamos a estabelecer um vínculo entre os crimes contra ordem tributária e a aplicação da parte geral do Código Penal, para que então, possamos entender as causas específicas da extinção da punibilidade, previstas na Lei Especial. Posto isso, é importante destacar que não será integralmente aplicado o Código Penal aos crimes tributários, existindo limitações impostas pelo próprio legislador, quando da edição da Lei. Acerca do assunto, em sua obra, Juary C. Silva, explica que: Quando o legislador extravagante edita uma norma incriminadora e abstém-se de regular quanto à sua aplicação, passam a incidir automaticamente na hipótese as regras da Parte Geral do Código Penal. É o que preceitua o art. 12 desse diploma, norma básica de aplicação da lei penal não codificada, que assim se enuncia: “As regras gerais desse código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso” (SILVA, 1998 p. 59). E mais, relaciona o conceito supra ao direito material dos crimes tributários afirmando que: Assente esse tópico, fica evidenciado que o Direito Penal Tributário não pode representar ramo jurídico autônomo, a uma, porque não possuí individualização legislativa; a duas, porque não está dotado de sistemática de normas e princípios gerais, valendo-se daqueles alterados no Direito Penal comum; a três, porque, inexistindo normas genéricas baixadas pelo legislador penal tributário, aplicam-se as do Código Penal, tal como se as infrações de natureza tributária, estivessem contidas na própria codificação penal (SILVA, 1998 p. 61). Destarte, fica demonstrada a subsidiariedade do direito penal tributário, bem como a confirmação de todo o elucidado no capítulo anterior, no qual, de forma bastante sucinta, demonstramos que o direito penal tributário não é um ramo autônomo do direito, e sim, uma “continuação” do direito penal. 36 Por outro enfoque, porém, não menos importante, destaca-se que apesar de ser subsidiário o direito penal tributário, as normas contidas na Parte Geral do Código Penal não são, num todo aplicáveis aos crimes cometidos contra ordem Tributária, por possuírem ou não, especificidades relacionadas a esta espécie de crime. No que se refere aos institutos que extinguem a punibilidade do agente, Silva afirma que nem todos se aplicam no Direito Penal tributário, sendo os demais irrelevantes. (SILVA, 1998). No mais, vale mencionar ainda, de forma genérica, o que nos ensina Alecio Adão Lovatto, que em sua obra colaciona: O Código Penal, em seu art. 107, prevê não só as causas temporais, como outras causas extintivas da punibilidade. Tais causas se aplicam não só aos crimes em geral, como a todos os crimes, mesmo aqueles previstos em normas especiais, desde que haja compatibilidade (não se concebe aplicar causa extintiva dependente da vontade da vítima para crimes de ação pública), bem como aos crimes contra ordem tributária. O Código Penal prevê hipóteses como causas gerais de extinção da punibilidade. Além delas, existe causa específica prevista na legislação relativa aos crimes fiscais e outros conexos com a ordem tributária, consistente ela no pagamento do tributo antes do recebimento da denúncia (LOVATTO, 2003, p. 161). Posto isso, verifica-se que as causas de extinção da punibilidade previstas no Código Penal se aplicam aos crimes previstos na Lei n. 8.137/90, contudo, respeitando aquilo que for divergente, ou não tiver aplicabilidade legal. 3.3.2 Os Incisos Aplicáveis aos Crimes Contra Ordem Tributária Considerando o elucidado no ponto anterior, não podemos deixar de apresentar quais as causas previstas no Código Penal, que extinguem a punibilidade do agente que comete um ato definido como crime contra ordem tributária. Conforme pacífico na doutrina somente se aplica nos crimes contra ordem tributaria as causas previstas nos incisos I a IV, por não terem objeção legal. Posto isso, analisaremos cada uma das possibilidades, levando em conta os conceitos apresentados anteriormente e a legislação correspondente aos crimes contra ordem tributária. a) Morte do agente: No Código Penal, a morte do agente extingue o poder/dever de punir do Estado, uma vez que a pena não poderá passar da pessoa do condenado. 37 Assim, se o agente, que está sendo processado criminalmente pelo cometimento de algum fato tipificado como crime contra ordem tributário, vier a falecer, não há mais razão de punir por parte do Estado. A responsabilidade Tributaria, por outro lado permanece, conforme nos ensina, Lovatto: [...] Se a responsabilidade tributária se transfere para os sucessores, na empresa, dentro do limite da herança, a responsabilidade penal se extingue com a morte, limitada à pessoa de quem praticou, como autor, coautor, ou autor mediato, o fato ou teve nele participação. Consigne-se também, que a morte de um agente não produz extinção da punibilidade dos demais. Inexiste a comunicabilidade do benefício. (LOVATTO 2003, p. 161). Posto isso, está claro que a morte extingue a punibilidade, porém, a responsabilidadetributária permanece até os limites da herança deixada pelo de cujus. b) Anistia, graça ou indulto: Por esse inciso, observa-se que sua aplicabilidade, como já mencionado anteriormente, depende da emissão de Lei pela União, a quem compete tal atribuição. No tocante à anistia, Lovatto ensina que: A anistia que interessa à extinção da punibilidade, relacionada com o artigo do Código Penal, surge quando o Estado renuncia ao direito de punir. Sua concessão é de competência exclusiva da União (art. 21, inc. XVII, da CF), com atribuição do Congresso Nacional e sanção do Presidente da República (art. 48, VIII, da CF), motivo por que há necessidade de lei específica. Segundo Damásio de Jesus “tem caráter da generalidade, abrangendo fatos e não pessoas”. Não se projeta para o futuro, mas “opera ex tunc”, isto é, para o passado, apagando o crime, extinguindo a punibilidade e demais consequências de natureza penal. Se a lei, portanto, abranger fatos capitulados como crimes contra ordem triubutária, quer em razão da natureza, quer pela quantidade de pena, extinta fica a punibilidade, se antes da condenação; ou extingue-se a punição se o agente já fora condenado (LOVATTO 2003, p. 162). Quanto ao indulto e à graça, LOVATTO os explica de maneira conjunta, se não vejamos: O indulto é de atribuição exclusiva do Presidente da República (art. 84, XII, da CF). É benefício de ordem geral, enquanto a graça é individual. Ambos “são providências de ordem administrativa, deixadas a relativo poder discricionário do Presidente da República, para extinguir ou comutar penas”, conforme José Frederico Marques. Se for concedido o indulto para o agente que tenha sido condenando por crime contra a ordem tributária, cuja situação fática se enquadre 38 na prevista em lei, aplica-se o indulto, podendo ser total ou parcial (LOVATTO, 2003, p. 162). Assim, a anistia, a graça ou o indulto poderão gerar a extinção da punibilidade nos crimes contra ordem tributária, desde que as referidas Lei emitidas com esse fim abranjam os crimes previstos na lei 8.137/90, ou conexos a este. c) Retroatividade da lei que não considera mais o fato criminoso: Quanto a retroatividade da lei, é consabido e pacificado que a lei poderá retroagir, desde que benéfica ao réu e nunca ao contrário. Assim, sobrevindo lei que deixa de considerar crime um fato anteriormente tipificado, todos os agentes condenados ou processados terão extinta a sua punibilidade. Quanto a esse ponto, importante mencionar a explicação e considerações feitas por Juary C. Silva, quanto à aplicação deste inciso nos crimes contra ordem tributária, a saber: No direito penal Tributário a hipótese mais frequente de extinção da punibilidade pela retrooperância da lei pertence exatamente ao campo das normas penais em branco, mutáveis por excelência em sede tributária e/ou administrativa. Dessa forma, toda vez que norma não penal desconstituir preceito, ou modificá-lo, de sorte a beneficiar o réu, incidirá sobre os fatos pretéritos. Isso acontecerá meso que a norma não penal emane de outra pessoa política (estados e municípios), no âmbito de sua competência legislativa, pois qualquer uma delas legisla sobre os tributos que se inserem na sua competência. Logo, em sede tributário-penal o vocábulo “lei”, utilizado no art. 107, III, do Código Penal, não significa tão somente lei penal, nem tampouco “lei federal”, dependendo da lei da regência do tributo em causa, que pode ser estadual ou municipal (SILVA, 1998, P. 152-153). Feitas as observações, fica evidenciado que este artigo se aplica nos crimes contra ordem tributária, de maneira até mais abrangente em determinadas situações, do que no próprio Código Penal, uma vez que a matéria penal só poderá ser tratada pela União, enquanto certos tributos de natureza estadual ou municipal, que também são protegidos pela Lei n. 8.137/90, podem alterar o tipo penal com sua alteração. d) Prescrição: Por fim, o último instituto que se aplica aos crimes contra ordem tributária, previsto no art. 107 do Código Penal é o do inciso IV, que diz respeito à prescrição, decadência e perempção. Considerando que os crimes contra a ordem tributária se procede mediante ação penal pública incondicionada, não há que se falar em decadência ou perempção, razão pela qual vamos nos ater a estudar apenas a prescrição em relação aos crimes contra ordem tributária. 39 Lovatto, de uma forma bastante breve, porém muito explicativa, faz uma diferenciação da prescrição que gera a extinção da punibilidade e da prescrição do crédito tributário, afirmando que: A prescrição, como causa extintiva geral, não se confunde com a prescrição do crédito tributário. Primeiramente, este tem prazo de 5 anos, enquanto a prescrição penal se regula, pelos crimes dos arts. 1º e 3º, em abstrato, em doze anos. Já os do art. 2º prescrevem em 4 anos. Nos demais crimes, aplica-se o art. 109 do CP, tendo em vista o máximo da pena cominada para o delito. Já a pretensão executória prescreve de conformidade com a pena aplicada. A causa geral extintiva da punibilidade, diz respeito ao crime, não tendo relevância aqui, a prescrição do débito tributário (LOVATTO, 2003, p. 164). Feitas as ponderações e diferenciações necessárias, resta claro que o crime não se confunde com o crédito tributário, razão pela qual o instituto da prescrição é adotado de maneira distinta nos dois casos. Outrossim, mostram-se elencadas e explicadas as causas de extinção da punibilidade que se emprega aos crimes contra ordem tributária e as formas que ocorrem, com suas particularidades, que devem ser atentadas pelo aplicador do direito. 3.3.3 A Não Incidência dos Incisos V, VI, e IX Por fim, no tocante às hipóteses de extinção da punibilidade, observa-se que não são aplicadas aos crimes contra ordem tributária as causas previstas nos incisos V (pela renúncia ao direito de queixa ou perdão do ofendido), VI (retratação do agente) e IX (perdão judicial). No que se refere ao inciso V, é de fácil compreensão uma vez que a ação penal nos crimes contra ordem tributária é incondicionada, não há que se falar em renúncia do direito de representação ou queixa, ou ainda perdão do ofendido, uma vez que a vítima, nos referidos tipos penais é o Erário, ou seja, de interesse público. Quanto à retratação do agente é necessária algumas ponderações. No Código Penal é expressamente prevista nos crimes em que é cabível tal instituto. No que concerne os crimes tributários, como muito bem assevera Lovatto, a retratação se confunde com a extinção da punibilidade pelo pagamento do tributo, ou seja, por si só, a retratação não extingue a punibilidade (LOVATTO, 2003, p. 165). E por fim, referente ao perdão judicial, conforme também Lovatto faz menção, não há qualquer previsão legal que admita tal instituto nos crimes contra a ordem tributária, razão pela qual não há sua aplicabilidade nesses crimes específicos. 40 4 A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PREVISTA AOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Esclarecidos os pontos relevantes acerca dos crimes contra ordem tributaria, bem assim em relação às causas de extinção da punibilidade previstas no Código Penal, deve-se então partir para o desenvolvimento do ponto central desta pesquisa, qual seja, a extinção da punibilidade nos crimes contra ordem tributária. Tal assunto já foi deveras debatido, haja vista que não devemos desprezar as inúmeras leis que trataram deste tema, estabelecendo principalmente as formas e o tempo e que se dão as causas da extinção da punibilidade. Cinge esclarecer que a principal celeuma é em face da extinção da punibilidade pelo pagamento e o momento em que deve ocorrer, que gera grandes discussões, inclusive nos dias atuais, conforme será demonstrado em seguida. 4.1.1 Histórico Legislativo A primeira lei a tratar do tema foi a que instituiu os crimes
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