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Joao Batista Cesario

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA 
DE SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Batista Cesário 
 
 
 
 
 
 
 
Do coração da Igreja 
Elementos histórico-pastorais da Universidade Católica: 
reflexões sobre a ação da Igreja na PUC-Campinas 
 
 
 
 
 
 
 
 
MESTRADO EM TEOLOGIA 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2011 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE 
SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Batista Cesário 
 
 
 
 
 
 
 
 
Do coração da Igreja 
Elementos histórico-pastorais da Universidade Católica: 
reflexões sobre a ação da Igreja na PUC-Campinas 
 
 
 
 
 
 
 
MESTRADO EM TEOLOGIA 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora 
da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, como exigência parcial para obtenção do 
título de Mestre em Teologia sob a orientação 
do Professor Doutor Tarcísio Justino Loro. 
 
 
 
São Paulo 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
___________________________
___________________________
___________________________ 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus, doador de todos os dons, por me ter permitido aprofundar os estudos 
para servir mais e melhor o Reino, a Igreja e os irmãos. 
 
 
Aos meus pais José e Victalina (in memorian), pela vida que me comunicaram 
e pelos valores que me ensinaram para bem viver. 
 
 
Ao Pe. Benedito Malvestiti (in memorian), formador do Seminário e amigo, pelo 
testemunho de amor ao estudo e dedicação à Igreja que segue me animando. 
 
 
À Arquidiocese de Campinas e seu Arcebispo Dom Bruno Gamberini, pelo 
estímulo e apoio. 
 
 
Aos dedicados professores e estimados colegas de estudos da Pontifícia 
Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, agora integrada à PUC-
SP, pelas profundas e edificantes discussões ao longo do Curso. 
 
 
Ao Prof. Doutor Tarcísio Justino Loro, orientador e amigo, pela delicadeza de 
acompanhar a elaboração deste trabalho; pela competência acadêmica na 
orientação; pelo diálogo franco e sincero; pela acolhida generosa em seu 
coração e em sua casa; pelas inestimáveis sugestões e correções. 
 
 
 
SIGLAS E ABREVIAÇÕES 
 
ABESC Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas 
ABRUC Associação Nacional das Universidades Comunitárias 
ACB Ação Católica Brasileira 
ANEC Associação Nacional de Educação Católica do Brasil 
APARECIDA V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano 
 (2007) 
ARQCAMP Arquidiocese de Campinas 
Art. Artigo 
BAC Biblioteca de Autores Cristianos (Espanha) 
CCP Coordenação Colegiada de Pastoral da Arquidiocese de 
Campinas 
CDC Código de Direito Canônico 
CELAM Conselho Episcopal Latino-Americano 
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina 
CF Campanha da Fraternidade 
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 
CONSUN Conselho Universitário 
CRUB Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras 
DGAE Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no 
Brasil 
DPU Departamento da Pastoral Universitária (PUC-Campinas) 
ECE Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae sobre as 
Universidades Católicas 
EUA Estados Unidos da América 
FIUC Federação Internacional das Universidades Católicas 
GAS Grupo de Ação Solidária 
GE Declaração Gravissimum Educacionis sobre a educação 
cristã do Concílio Vaticano II 
GS Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no 
mundo de hoje do Concílio Vaticano II 
HISTEDBR Grupo de estudos e pesquisas ‘História, Sociedade e 
Educação no Brasil’ (Faculdade de Educação – Unicamp) 
ICES Instituto Católico de Estudos Superiores 
IES Instituição/Instituições de Ensino Superior 
IESC Instituição de Ensino Superior Católica 
IESCs Instituições de Ensino Superior Católicas 
JAC Juventude Agrária Católica 
JEC Juventude Estudantil Católica 
JIC Juventude Independente Católica 
Jo Evangelho de João 
JOC Juventude Operária Católica 
JUC Juventude Universitária Católica 
Lc Evangelho de Lucas 
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil) 
LG Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja do 
Concílio Vaticano II 
Mc Evangelho de Marcos 
MEDELLÍN II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano 
 (1968) 
Mt Evangelho de Mateus 
PUEBLA III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano 
 (1979) 
PdU Pastoral da Universidade 
PPO Plano de Pastoral Orgânica da Arquidiocese de Campinas 
PU Pastoral Universitária 
PUC Pontifícia Universidade Católica 
PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas 
RA Revisão Ampla da Arquidiocese de Campinas 
REB Revista Eclesiástica Brasileira 
RIO DE JANEIRO I Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano 
 (1955) 
SANTO DOMINGO IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano 
 (1992) 
UC Universidade Católica 
UCG Universidade Católica de Goiás 
UCP Universidade Católica de Petrópolis 
UNE União Nacional dos Estudantes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
O presente trabalho reflete a Universidade Católica como espaço de ação 
evangelizadora da Igreja e como essa ação se desenvolve concretamente no 
interior de uma Instituição de Ensino Superior Católica, explicitando suas 
potencialidades, limites e contradições. A metodologia utilizada é a abordagem 
qualitativa enfocando a pesquisa bibliográfica. Percorrendo a história da 
Universidade procuramos demonstrar como essa Instituição nasceu do coração 
da Igreja e sempre participou do múnus educativo da Igreja e de sua missão 
evangelizadora. Buscamos igualmente revelar o longo caminho percorrido até o 
nascimento da Universidade no Brasil e os interesses conflitantes em torno 
desse nascimento. Em seguida, percorrendo documentos do magistério 
pontifício, do Concílio Vaticano II, do Conselho Episcopal Latino Americano – 
CELAM e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB investigamos 
como o pensamento oficial da Igreja enfocou a Universidade em diferentes 
períodos da história e quais suas expectativas sobre a mesma. Finalmente, 
refletimos sobre alguns aspectos da ação da Igreja numa Instituição de Ensino 
Superior Católica (PUC-Campinas), avaliando seus limites e potencialidades e 
acenando com novas perspectivas de presença e ação pastoral no complexo 
meio universitário. 
 
 
Palavras-chave: 
 
Pastoral 
Pastoral Universitária 
Universidade Católica 
Teologia Pastoral 
História da Universidade 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The objective of this work is to show how a Catholic University is effectively a 
place of evangelization in the Church and how this action desenvolves 
concretely in a University Catholic Institution, explicitly showing its potencials, 
limits and contradictions. The methodology used is a qualitative approach 
emphasizing a bibliographic research. Through the history of the University the 
researcher aims to demonstrate how this Institution was born at the heart of the 
Church and had always participated in the educative múnus of the Church in 
her mission of evangelization. The researcher also wants to show the long 
process that transpired until the birth of the University in Brazil and the 
conflicting interests sorrounding this birth. Then browsing through the 
documents of the Pontifical Magistrate, of the Vatican II Council, of the 
Episcopal Council of Latin America (CELAM) and the National Conference of 
the Bishops in Brazil( CNBB), the researcher investigates how the official 
pronouncements of the Church emphasizes the University in the diferent 
periods of history and the expectations about it. Finally, the researcherreflects 
about some aspects of the action of the Church in an Institution such as a 
Catholic University (PUC-Campinas), evaluating its limits, potencials and 
looking for new perspectives of presence and pastoral work in a complex 
university setting. 
 
Key words: 
 
Pastoral 
Pastoral Work in the University 
Catholic University 
History of the University 
Pastoral Theology 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO.................................................................................... 12 
 
CAPÍTULO I – A UNIVERSIDADE CATÓLICA: ASPECTOS HISTÓRICOS 
 E SUA PRESENÇA NO CONTEXTO SÓCIO-EDUCIONAL 
 BRASILEIRO 
 
1.1 O Ensino Superior antes do surgimento das Universidades........ 15 
1.2 Origens da Universidade Católica............................................... 17 
 1.2.1 A Igreja e a educação: dos primórdios à Idade Média....... 17 
 1.2.2 As escolas na Idade Média................................................ 19 
 1.2.3 Escolas Monacais.............................................................. 20 
 1.2.4 Escolas Presbiterais........................................................... 21 
 1.2.5 Escolas Palatinas............................................................... 22 
 1.2.6 Escolas Episcopais............................................................ 23 
 1.2.7 O nascimento da Universidade.......................................... 24 
1.3 A Universidade Católica no Brasil............................................... 28 
 1.3.1 Período Colonial: primeiras tentativas............................... 28 
 1.3.2 Período Imperial: escolas superiores profissionalizantes e 
 isoladas.............................................................................. 40 
 1.3.3 Período Republicano: enfim, a Universidade brasileira!.... 45 
 1.3.3.1 A separação Estado-Igreja.................................... 50 
 1.3.3.2 A Reação Católica................................................. 57 
 1.3.3.3 A Universidade Católica: instrumento da Reação 63 
1.4 A Pontifícia Universidade Católica de Campinas......................... 68 
1.5 A Universidade confessional-comunitária e os desafios do 
 ‘mercado educacional’ brasileiro.................................................. 76 
 
CAPÍTULO II – EVANGELIZAÇÃO E PASTORAL NA UNIVERSIDADE 
 CATÓLICA 
 
2.1 Crise e renascimento da Universidade Católica (sec. XVI-XIX)... 81 
2.2 A Universidade Católica no pensamento da Igreja antes do 
 Concílio Vaticano II...................................................................... 84 
2.3 A Universidade Católica e sua missão no Concílio Vaticano II... 92 
2.4 A Universidade Católica e sua missão nos Documentos Pontifícios 
 pós-conciliares.................................................................................. 102 
2.5 A Universidade Católica e sua missão nas Conferências Gerais do 
 Episcopado Latino-Americano.......................................................... 110 
 2.5.1 A Conferência do Rio de Janeiro............................................ 111 
 2.5.2 A Conferência de Medellín..................................................... 115 
 2.5.3 A Conferência de Puebla....................................................... 126 
 2.5.4 A Conferência de Santo Domingo.......................................... 131 
 2.5.5 A Conferência de Aparecida.................................................. 137 
2.6 A Universidade Católica e sua missão nos Documentos da CNBB 146 
2.7 A Universidade Católica na Igreja Particular de Campinas.............. 150 
 
CAPÍTULO III – A PASTORAL DA IGREJA NA PONTIFICIA 
 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS 
 
3.1 Pastoral: ação da Igreja no mundo................................................. 161 
 3.1.1 Modelos de ação pastoral na história da Igreja: alguns 
 aspectos............................................................................... 166 
3.2 Pastoral Universitária e Pastoral da Universidade: distinções e 
 abrangências.................................................................................. 175 
3.3 Pastoral Universitária na PUC-Campinas...................................... 187 
3.4 A Paróquia Universitária................................................................. 200 
3.5 Pastoral na Universidade ou Universidade em pastoral: 
 desafios e perspectivas................................................................. 210 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 218 
 
ANEXOS............................................................................................... 223 
 
BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 225 
 
 
 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
 
 No atual contexto histórico, marcado por transformações profundas de 
alcance e repercussões globais que caracterizam verdadeira mudança de 
época, a Instituição Universitária é atingida, como as demais instituições da 
sociedade. Com efeito, mudanças de época são períodos de perplexidade que 
afetam os critérios de compreensão da realidade e atingem os valores mais 
profundos a partir dos quais se definem identidades e se estabelecem ações e 
relações1. 
 
 Ora, a Universidade Católica é desafiada a dar as razões de sua 
identidade e explicitar sua missão nesse cenário cada vez mais complexo e 
dirigido por uma racionalidade econômica perversa que tende a considerar 
todas as coisas como mercadoria, inclusive bens de valor inestimável como 
educação, saúde, lazer, cultura, religião e outros. 
 
 E ainda mais, os mesmos critérios que regem as leis do mercado tendem 
a regular as relações humanas, familiares, sociais e religiosas. No âmbito 
educacional essa onda de mercantilização transforma a educação num 
produto; considera a Universidade uma empresa e seus gestores 
comerciantes; os educadores são reduzidos à categoria de prestadores de 
serviços e os estudantes são reputados como consumidores ou clientes2. 
 
 Na esteira da mercantilização da educação multiplicam-se Instituições de 
Ensino Superior comprometidas tão somente com a preparação de mão-de-
obra profissional para o mercado. Em geral essas IES não têm tradição, não se 
comprometem com a transformação da sociedade e tratam o conhecimento 
apenas como veículo de profissionalização sem preocupação com causas mais 
amplas ou discussões mais profundas acerca da realidade na qual estão 
inseridas. 
 
 
1 Cf. CNBB. DGAE 2011-2015, n. 19-21; Cf. tb. CNBB. DGAE 2008-2010, n. 13. 
2
 Cf. TEIXEIRA, Evilázio F.B; AUDY, Jorge L. N.. Universidade católica: entre a tradição e a 
renovação. Cadernos Centro Coordenador Investigação da FIUC, Paris, v. 3, 2006, p. 113. 
13 
 
 Ocorre que na perspectiva utilitarista do mercado compete à Universidade 
apenas formar indivíduos úteis à sociedade, outorgar-lhes um diploma e 
conformá-los ao círculo vicioso da produção e do consumo em larga escala. 
Por essa via a Universidade renuncia a seu papel de instância crítica da 
sociedade3. Entretanto, seguindo noutra direção, uma Universidade autêntica 
não se limita à geração de profissionais para o mercado. Ao contrário, 
empenha todos seus recursos na árdua tarefa da formação integral de pessoas 
que vão realizar atividades profissionais em diversas áreas de atuação, mas de 
forma consciente e crítica, buscando alcançar níveis de excelência humana, 
pessoal e profissional. 
 
 Nesse cenário, a Universidade Católica, dividida entre a missão e os 
limites impostos pelo‘mercado educacional’, “[...] não sabe exatamente que 
direção seguir: formar para a vida ou para o mercado? Ou será que a vida se 
tornou mercadoria?”4 De fato, a tensão entre missão e mercado é permanente 
e não há como fugir. Daí a contradição se instala tantas vezes entre a ação 
pastoral no meio universitário e os ditames administrativos que regem as 
IESCs. Indaga-se, então, em que medida a Universidade Católica participa da 
ação evangelizadora da Igreja? Bem assim, como a Igreja compreende a 
Universidade Católica e o que espera dela? 
 
 A Universidade, com efeito, ‘nasceu do coração da Igreja’5 no século XII e 
significou a culminância do empenho eclesial no campo educacional. 
Entretanto, em face da complexidade característica da realidade 
contemporânea e do contexto sócio-educacional atual indaga-se: a 
Universidade Católica continua pertinente e relevante para a Igreja? 
Estratégias como a Pastoral Universitária ou instâncias como a Paróquia 
Universitária são pertinentes e eficazes na tarefa da evangelização do mundo 
da cultura superior? 
 
3 Cf. GOERGEN, Pedro. Ciência, sociedade e universidade. Educação e Sociedade, 
Campinas, Unicamp, v. 19, n. 63, p. 53-79, ago./1998. 
4 TEIXEIRA, Evilázio F.B; AUDY, Jorge L. N.. Universidade católica: entre a tradição e a 
renovação, op. cit. p. 112. 
5 Cf. ECE, n. 1 
14 
 
 Movidos por essas interpelações buscamos, neste trabalho, por meio de 
pesquisa bibliográfica, compreender as origens e identidade da Universidade 
Católica, verificar como é sua participação na ação da Igreja e como se 
desenvolve a prática pastoral eclesial no seu interior. Resenhamos alguns 
elementos histórico-pastorais da evolução da Universidade Católica no Brasil e 
no mundo e refletimos como se desenvolve a articulação pastoral numa IESC 
em particular, a PUC-Campinas. 
 
 No primeiro capítulo investigamos a história da Instituição Universitária 
desde suas origens remotas anteriores à configuração da Universidade 
Católica, para em seguida descobrir quais fatores contribuíram para o seu 
nascimento e como efetivamente ela nasceu. Investigamos também o 
desenvolvimento tardio da Universidade no Brasil e como a implantação da 
Universidade Católica no país correspondeu a um plano de reação da Igreja à 
crescente laicização da sociedade brasileira em fins do século XIX e início do 
século XX. 
 
 No segundo capítulo verificamos em alguns documentos do magistério 
pontifício, do Concílio Vaticano II, do Conselho Episcopal Latino-Americano – 
CELAM e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB como se 
desenvolveu o pensamento eclesial sobre a Universidade Católica em diversos 
períodos da história, bem como as perspectivas de evangelização e pastoral no 
ambiente universitário apresentadas por esses textos oficiais da Igreja. E 
observamos como houve uma inflexão nesse pensamento sobre a 
Universidade do período anterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965) para a 
fase pós-conciliar, sobretudo na América Latina. 
 
 No terceiro capítulo, explicitando alguns conceitos como ‘pastoral’, 
‘paróquia’, ‘pastoral universitária’ e ‘pastoral da universidade’ refletimos como 
se desenvolve a ação da Igreja na Universidade Católica avaliando 
concretamente alguns aspectos da prática pastoral desenvolvida na Pontifícia 
Universidade Católica de Campinas, com seus limites, possibilidades e 
algumas perspectivas, em vista do permanente desafio da evangelização do 
mundo da cultura superior. 
15 
 
CAPÍTULO I 
 
A UNIVERSIDADE CATÓLICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E SUA 
PRESENÇA NO CONTEXTO SÓCIO-EDUCACIONAL BRASILEIRO 
 
1. O Ensino Superior antes do surgimento das Universidades 
 
O Ensino Superior não se desenvolveu apenas na Idade Média, com o 
surgimento das universidades. A Antiguidade Clássica já conhecia um tipo de 
Ensino Superior praticado tanto na Grécia quanto em Roma6, e mesmo na 
China e na Índia, por meio de importantes escolas e de grande tradição 
pedagógica que atravessaram séculos formando seguidas gerações. 
 
O Ensino Superior dessa época ‘pré-universidades’ foi realizado, por 
exemplo, pela Escola de Buda (650-550 a.C.) na Índia e pela Escola de 
Confúcio (511-478 a.C.) na China. A escola de Pitágoras (582-500 a.C.), o 
Liceu de Aristóteles (384-322 a.C.) e as Escolas dos Sofistas se encarregaram 
do Ensino Superior na Grécia7. 
 
Em Roma a educação superior foi imitação da experiência grega, 
porquanto “[...] suas primeiras bibliotecas foram tomadas como despojos dos 
gregos, assim como os melhores dos seus primeiros mestres foram escravos 
ou refugiados da Grécia após a conquista romana”8. Horácio (65-8 a.C), grande 
poeta latino, registrou em seus versos que a “Grécia vencida conquistou, por 
sua vez, o rude vencedor, e levou a civilização ao bárbaro Latium”9. 
 
Há alguns registros históricos que apontam a existência de instituições 
denominadas de Universidades na Antiguidade. No entanto, o vocábulo latino 
universitas era então empregado com significado distinto do que o foi na Idade 
Média. 
 
6 Cf. RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais In TUBINO, Manoel J. 
G. (org.) A universidade ontem e hoje. São Paulo: IBRASA, 1984, p. 15 
7 Cf. ULMANN, R.; BOHNEN, A. A universidade das origens à Renascença. São Leopoldo: 
UNISINOS, 1994, p. 57-64. 
8 MONROE, Paul. História da educação. 13ª ed. São Paulo: Nacional, 1978, p. 88 apud 
RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais, op. cit. 16. 
9 GILLES, T. R. História da educação. São Paulo: EPU, 1987, p. 61. 
16 
 
Entre os romanos o termo universitas designava um colégio, 
uma associação. Na Idade Média aplicou-se a um conjunto de 
pessoas, usou-se como fórmula de tratamento no início das 
cartas, universitas vestra, ‘a todos vós’, que soava como a 
nossa fórmula ‘prezados senhores’, e também serviu para 
designar uma pessoa jurídica tal como universitas mercatorum, 
a corporação dos comerciantes. Desde o fim do século XII, à 
imitação das guildas dos mercadores, passou-se a falar das 
corporações de mestres e estudantes, universitas magistrorum 
et scholarium, que eram, com efeito, autênticos trabalhadores 
intelectuais.10 
 
 
Houve, no entanto, algumas instituições de educação superior na 
Antiguidade que, por suas características, muito se aproximaram do conceito 
de universidade medieval. Uma delas foi o famoso Mouseion (Museu) de 
Alexandria11, uma instituição científica voltada para a investigação, na qual os 
sábios que eram pagos para fazer pesquisas também se dedicavam ao ensino. 
 
No segundo e terceiro séculos da era cristã outra instituição escolar de 
Alexandria se igualou à universidade medieval. Trata-se da “Escola 
Catequética denominada Didaskaleion12, onde brilharam luminares, como 
Panteno, Clemente de Alexandria e Orígenes, defensores da doutrina do 
Evangelho”13. Nessa Escola a filosofia grega serviu de propedêutica para a 
teologia, “[...] tomada como guia dos pagãos para Cristo”14. 
 
Um estreito enlace entre a filosofia e o cristianismo se 
estabelece na Escola Catequética de Alexandria [...], na qual 
os ensinamentos do platonismo, do estoicismo e os de Fílon 
 
10 NUNES, Ruy A.C. História da educação na Idade Média. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979, p. 
212 apud RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais, op. cit. p. 20 
11 Fundado por Ptolomeu I (323-385 a.C.), o “[...] Mouseion (reunião de musas) apresentava-se 
suntuoso, a ponto de fazer inveja a muitos estabelecimentos de ensino modernos: tinha 
galerias cobertas, amplos corredores, sala de reuniões e conferências públicas, além de um 
grande refeitório. Nada lhe faltava como centro de investigação científica, pois contava com um 
observatório, um zoológico, jardins para aclimatar plantas, salas de dissecação e museus. 
Filólogos, homens de letras,humanistas e cientistas compunham o quadro docente. Os 
estudantes procuravam, de preferência, as escolas de medicina e matemática. Em três 
séculos, duas bibliotecas acumularam um acervo de setecentos mil volumes” ULMANN, R.; 
BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 64-65. 
12 “Por volta de 180, em Alexandria, um estóico que se converteu ao cristianismo, Panteno, 
fundou uma escola catequética, que estava destinada a encontrar seu máximo esplendor com 
Clemente e Orígenes” REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: antiguidade e Idade 
Média, Tomo I. São Paulo: Paulinas, 1990, p. 411-417. 
13 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 
14 GRABMANN, M. Filosofia medieval. Buenos Aires: Editorial Labor, 1928, p. 9 apud ULMANN, 
R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 
17 
 
encontraram cordial estima e utilização abundante, com vistas 
aos fundamentos da especulação e sistemática teológicas.15 
 
Outra dessas instituições da Antiguidade, com traços característicos de 
Universidade, é a chamada ‘Universidade’ de Constantinopla, fundada no ano 
425 da era cristã pelo imperador Teodósio II (401-450) para enfrentar a 
influência pagã. Em trinta e uma cátedras distribuídas em diferentes cursos se 
estudava gramática, filosofia, teologia, retórica e direito. 
 
Pouco lembrada é a ‘Universidade’ de Al-Azhar16 no Cairo, fundada em 
988, na Idade Média, portanto. Essa foi uma instituição de Ensino Superior de 
grande importância em sua época, sobretudo no mundo muçulmano. 
Entretanto, por lhe faltar a agremiação de estudantes e mestres não é 
reconhecida como autêntica Universidade Medieval. O mesmo critério se aplica 
às outras instituições de Educação Superior da Antiguidade para não lhes 
atribuir o caráter de Universidade. 
 
1.2 – Origens da Universidade Católica 
1.2.1 – A Igreja e a educação: dos primórdios à Idade Média 
 
Desde os primórdios “os cristãos valorizaram a educação como meio de 
preservar e transmitir com fidelidade a herança cristã”17. As casas das famílias 
e as comunidades de fé foram seus primeiros espaços educativos. Com o 
passar do tempo foi-se organizando a catequese para aqueles que desejavam 
receber o batismo18. Após a celebração do batismo havia nova etapa de 
 
15 GRABMAN, M. Filosofia medieval. Buenos Aires: Editorial Labor, 1928, p. 9 apud ULMANN, 
R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 
16 “Em 988, o vizir Yakub persuadiu o califa Aziz de que ministrasse instrução e alimentação a 
trinta e cinco estudantes da mesquita de Al-Azhar. Assim começou a mais antiga universidade, 
que foi crescendo sem cessar, atraindo mestres e alunos de todo o mundo muçulmano” 
GALINO, Maria Angeles. História de la educacion. vol. I. Madri: Gredos,1960, p. 461 apud 
ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 67. 
17 MATOS, Alderi S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, Fides 
Reformata, São Paulo, vol. XIII, n. 2, jul-dez./2008, p. 13. 
18 Nessa época, “[...] em vários lugares surgiram classes para catecúmenos, cuja instrução 
podia se estender até por três anos. Era um período de treinamento e de teste antes da 
aceitação plena na Igreja. Os candidatos deviam passar por três estágios: ‘ouvintes’ 
(interessados), ‘ajoelhados’ (aqueles que permaneciam para as orações depois que os 
ouvintes se retiravam) e ‘escolhidos’ (candidatos efetivos ao batismo)” MATOS, A. S. Breve 
história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit., p. 13. 
18 
 
instrução sobre os sacramentos e aprofundamento sobre outros elementos da 
fé cristã. 
 
A partir do século II essas escolas de catequese foram se expandindo, 
com currículos mais elaborados que incluíam a interpretação das Escrituras, 
regras de fé organizadas em forma de credo e instruções morais como as 
constantes na Didaquè19. Nesse período, 
 
[...] surgiram estruturas educacionais mais complexas, para 
pessoas de maior nível intelectual que queriam integrar o 
cristianismo com a tradição filosófica grega. [...] Um alvo 
importante era equipar os cristãos para compartilharem o 
evangelho com pagãos cultos.20 
 
 
Como se pode notar, desde muito cedo a Igreja preocupou-se com a 
educação, envidando esforços para criar escolas e formar mestres 
competentes para o ensino, pois, 
 
[...] para poder propagar-se e manter-se, para poder assegurar 
não apenas seu ensino, mas o simples exercício do culto, a 
religião cristã exige, imperiosamente, ao menos um mínimo de 
cultura de letras. O cristianismo é uma religião douta, e não 
poderia existir num contexto de barbárie.21 
 
 Bem por isso, alguns expoentes da Igreja Antiga empenharam-se no 
ensino, como Gregório de Nissa (331-394), João Crisóstomo (344-407) e 
especialmente Santo Agostinho (354-430), que produziu obras muito 
importantes no campo da educação. De catechizandis rudibus (A instrução dos 
principiantes), De doctrina christiana (O ensino cristão) e De magistro (O 
 
19 Didaqué significa ‘doutrina’ ou ‘Instrução’ dos apóstolos. De autor desconhecido teria sido 
redigida por volta do final do século I e “[...] contém instruções sobre o batismo (em caso de 
necessidade, o batismo por aspersão – em lugar da imersão – era autorizado), a oração (é 
preciso rezar o Pai-nosso três vezes por dia), o jejum (às quartas e sextas-feiras) e orações 
eucarísticas” FROHLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja, 2ª. ed. São Paulo: 
Paulinas, 1987, p. 19. 
20 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 14 
21 MARROU, Henri Irénée. Historia da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, Brasília: INL, 
1975, p. 481-482. 
19 
 
mestre) são alguns dos textos nos quais Agostinho apresenta um projeto de 
sociedade para sua época, fundamentado na educação22. 
 
 Do século IV em diante o cristianismo foi assumindo um papel cada vez 
mais destacado na sociedade. A partir da queda do Império Romano, na 
segunda metade do século V, a Igreja se tornou “a força dominante na cultura 
ocidental e passou a assumir todas as atividades educacionais”23. 
 
1.2.2 – As escolas da Idade Média 
 
A Idade Média é o período em que “[...] germinam e crescem a cultura e a 
civilização européias, nascidas da matriz cristã”24. Alguns elementos 
constitutivos da civilização ocidental, como o direito internacional, hospitais, 
previdência, princípios fundamentais do sistema jurídico e outros devem ao 
cristianismo e à Igreja a sua origem e desenvolvimento25. A organização do 
ensino na Idade Média, e mais tarde do sistema universitário, são igualmente 
obras da Igreja. 
 
No período compreendido entre os anos 500 e 1.000 d.C. as escolas da 
Igreja – monacais, presbiterais, palatinas e episcopais – foram os espaços mais 
destacados de educação formal, constituindo-se nos “[...] principais centros de 
atividade intelectual, reservados em especial para os jovens que ingressavam 
nas ordens [religiosas]”26. A maioria analfabeta da população, por sua vez, era 
instruída por meio do simbolismo religioso nas inúmeras festas e solenidades 
litúrgicas distribuídas ao longo do ano. 
 
22 “[...], para Santo Agostinho, a leitura, a matemática, a natureza, a música, o conhecimento 
das línguas e a memória tornam-se condição primeira para a conversão do cristão. O cristão 
deve ser antes de tudo um ser que consegue entender e interpretar os escritos sagrados pelo 
conhecimento e não somente pela fé. [...] o conhecimento torna-se elemento essencial do 
cristianismo. [...] Em síntese, o programa agostiniano tem como finalidade ensinar as palavras 
sagradas, mas para se conhecê-las e interpretá-las é necessário conhecer o saber produzido 
pelos homens ao longo da sua história. A história e a ciência produzidaspelo homem tornam-
se instrumentos vitais para a conversão” OLIVEIRA, Terezinha. Agostinho e a educação cristã: 
um olhar da história da educação. Notandum, São Paulo, FE-USP, n. XVII, jul-dez./2008, p.12. 
23 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 14. 
24 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 23 
25 Cf. WOODS JR. T. E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. 2ª. ed. São 
Paulo: Quadrante, 2008. 
26 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 15. 
20 
 
1.2.3 – Escolas monacais 
 
A partir do século IV surgiram as escolas monacais, fundadas por 
monges, nas quais a educação era destinada quase exclusivamente aos 
noviços, futuros membros da vida monástica. Enquanto no Oriente a formação 
oferecida por essas escolas era mais espiritual que intelectual, no Ocidente a 
preocupação não era tanto a acesse, mas a cultura geral através da 
educação27. 
 
 Com São Bento (480-543), “[...] o movimento monástico atingiu a 
culminância”28. Itália, França, Irlanda, Alemanha, Espanha e Hungria viram 
surgir diversos mosteiros, nos quais os monges dedicavam-se à vida religiosa 
austera e, ao mesmo tempo, tinham ao seu cuidado inúmeras escolas “[...] para 
educação literária e religiosa dos jovens”29. Nesse período, os mosteiros e as 
escolas monásticas tornaram-se verdadeiros centros de ensino, que 
influenciaram em larga medida a vida, a cultura, o pensamento político e 
religioso da civilização ocidental30. “Mesmo nos dias mais sombrios o mosteiro 
ocidental permaneceu como um foco de cultura”31. 
 
De fato, sob diversos aspectos, 
 
[...] a contribuição monástica para a civilização ocidental foi 
imensa. Os monges ensinaram as técnicas da metalurgia, 
introduziram novos plantios, copiaram textos antigos, 
preservaram a educação, foram pioneiros em tecnologia, 
inventaram o champanhe, mudaram a paisagem européia, 
acudiram aos viajantes, resgataram extraviados e náufragos.32 
 
 
27 São Pacômio (292-342), São Basílio (330-379) e São Jerônimo (347-419) destacaram-se na 
organização da educação no Oriente, enquanto Santo Agostinho (354-430), São Martinho, São 
Patrício (+465) e São Bento (480-543) o fizeram no Ocidente. Cf. ULMANN, R.; BOHNE, A. A 
universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 24-26. 
28 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 26. 
29 Ibid. p. 27. 
30 “Conquanto São Bento não tivesse em mente fundar uma Ordem de sábios, de fato os 
mosteiros se converteram em portos, onde se salvaram do naufrágio os restos das letras 
romanas e de muitos Santos Padres, que, de outro modo, ter-se-iam perdido, 
irremediavelmente, para sempre. Até o século XII, os beneditinos têm em suas mãos o ensino 
da Europa, quase com exclusividade” ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à 
Renascença, op.cit. p. 26, nota 13. 
31 MARROU, H. I. Historia da educação na antiguidade, op. cit. p. 508. 
32 WOODS JR. T. E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental, op. cit. p. 44. 
21 
 
 E, além disso, somente graças ao trabalho hábil e persistente de 
incansáveis monges copistas foi possível a preservação da Bíblia ao longo dos 
séculos. 
 
1.2.4 – Escolas presbiterais 
 
 Das escolas presbiterais ou paroquiais há poucos registros históricos. 
Sabe-se, no entanto, que o II Concílio de Vaison, convocado por São Cesário 
de Arles (470-543), no ano de 529, determinou que 
 
[...] todos os párocos rurais eram obrigados a receber meninos 
em sua casa canônica, a fim de educá-los cristãmente e 
ensinar-lhes os Salmos e as Escrituras, com o objetivo de 
serem dignos sucessores no trabalho paroquial.33 
 
 Isso significa que essas escolas nasceram para formar os futuros 
sacerdotes, uma vez que ainda não havia seminários constituídos para essa 
finalidade na Igreja. Ao longo do tempo, no entanto, essas escolas passaram a 
admitir também alunos que não tivessem necessariamente vocação para o 
sacerdócio, especialmente filhos de nobres cujos pais desejavam vê-los bem 
preparados para o cuidado da administração temporal. 
 
 A educação nessas escolas consistia, fundamentalmente, no 
conhecimento da Sagrada Escritura em vista do ministério pastoral a ser 
exercido no futuro. Aos alunos bastava saber “[...] ler, escrever, contar, 
conhecer a Bíblia, saber de cor os Salmos (se possível), um pouco de erudição 
doutrinal canônica e litúrgica”34. Essas escolas resolveram de maneira bem 
prática a questão da formação dos futuros clérigos. 
 
 Nos anos seguintes, outros concílios regionais seguiram disciplinando o 
estabelecimento de escolas paroquiais para garantir a conveniente formação 
do clero e a continuidade dos serviços do ministério presbiteral na Igreja. Assim 
 
33 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 29-30. 
34 Ibid. 
22 
 
foram, por exemplo, o II Concilio de Toledo35 em 527 e o Concílio de Mérida36 
em 666. 
 
1.2.5 – Escolas Palatinas 
 
 As escolas nascidas no palácio, também chamadas palatinas, “[...] tinham 
esse nome por se localizarem junto às cortes, onde estudavam os filhos dos 
nobres”37. Foram criadas pelos reis merovíngios38, a partir do final do século V, 
para educação dos nobres francos. 
 
 O imperador Carlos Magno (768-814), restaurou as escolas palatinas, no 
conjunto de iniciativas promovidas para unificação da Europa contra a ameaça 
constante de invasões de outros povos. A dinastia carolíngia promoveu o 
chamado ‘renascimento carolíngio’, uma profunda reforma intelectual que, 
inclusive, atingiu a Igreja e sua liturgia. 
 
Para deter a decadência da liturgia dos países da antiga Gália, 
Carlos Magno introduz e impõe em seu reino os livros da 
liturgia romana [...] Para os fiéis, que não compreendem mais o 
latim, a missa se transformou num espetáculo misterioso e 
sagrado. [...] O padre passa a celebrar a missa de costas para 
as pessoas e recita o cânon em voz baixa. As missas privadas 
se multiplicam.39 
 
 
35 Em Toledo “[...] a primeira decisão conciliar diz respeito à educação dos candidatos ao 
sacerdócio e determina: ‘Aqueles que, desde a infância, foram destinados por seus pais ao 
estudo eclesiástico, logo depois de terem recebido a tonsura ou o ministério de leitor, devem 
ser educados por um preposto numa residência da Igreja sob a vigilância do bispo” NUNES, 
Rui A. C. História da educação na Idade Média. 2006. Disponível em: 
<htt://documentacatholicaomnia.eu/> Acesso em: 13.out.2009 
36 “O cânon XVIII [do Concílio de Mérida ou Concilium Emeritense] dirige-se diretamente aos 
párocos, lembrando-lhes que, [...] por estarem preocupados com o recrutamento de clérigos 
que lhes servissem de coadjutores, o santo sínodo havia resolvido que todos os párocos, 
parochitani presbyteri, escolhessem na localidade os clérigos que passariam a viver na sua 
igreja e os educassem com toda boa vontade, de tal modo que pudessem cumprir dignamente 
o santo ministério e dispusessem das habilidades imprescindíveis ao serviço paroquial." 
NUNES, Rui A.C. História da educação na Idade Média, op. cit. 
37 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 34. 
38 Da dinastia merovíngia, cujo nome deriva do rei Meroveu (420-457), antepassado de Clóvis 
(481-511), o chefe bárbaro que se fez batizar cristão juntamente com três mil guerreiros no ano 
de 496 e que unificou o povo franco no século V, antes dividido em tribos. 
39 COMBY, Jean. Para ler a história da Igreja: das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 
1993, p. 125. 
23 
 
 Além disso, o imperador Carlos Magno ressaltou a autoridade dos bispos 
– considerados como altos funcionários do império – e indicou caminhos para 
uma formação mais consistente do clero, num período em queas paróquias 
estavam praticamente nas mãos dos senhores feudais. Em seu empenho de 
reformas, Carlos Magno mandou construir escolas nos mosteiros, nas catedrais 
e na sua própria corte, impulsionando grande desenvolvimento cultural na 
Europa. As escolas palatinas, confiadas a eclesiásticos, admitiam 
indistintamente clérigos e leigos, filhos da nobreza. 
 
1.2.6 – Escolas episcopais 
 
 Também chamadas de ‘escolas catedrais’ ou ‘catedralícias’ as escolas 
episcopais, cujo início remonta ao século VI, “[...] situavam-se junto às sedes 
episcopais e visavam, sobretudo, à formação de padres”40, pois 
 
[...] para assegurar o recrutamento normal de seu clero, tornou-
se realmente necessário que os próprios bispos tomassem a 
responsabilidade não apenas de sua formação técnica, mas 
também de sua instrução literária elementar: foi assim que 
nasceu e se generalizou a escola episcopal [...].41 
 
 
No período carolíngio essas escolas conheceram grande 
desenvolvimento, mas foi no século XII que atingiram o auge, constituindo-se 
na “[...] ante-sala para o surgimento das universidades”42. É consenso entre os 
historiadores apontar que o surgimento da Universidade – propriamente 
considerada como instituição de Ensino Superior reconhecida na sociedade –, 
se deu somente nos séculos XII e XIII, a partir dessas escolas episcopais ou 
catedralícias da Idade Média, que se multiplicaram na Europa desde os últimos 
anos do século XI. 
 
Os prelados mais eruditos e mais eficientes que a reforma da 
Igreja designou para as inúmeras sedes episcopais dedicaram-
se a dotar suas catedrais de escolas ativas para formar os 
clérigos instruídos de que tinham necessidade; na direção 
dessas escolas foram colocados escoliastas competentes e 
ativos. Foi assim que, desde a primeira metade do século XII, a 
 
40 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p.31. 
41 MARROU, H. I. Historia da educação na antiguidade, op. cit. p. 510. 
42 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p.31. 
24 
 
maioria das catedrais do norte da França [...] possuíram uma 
escola permanente de bom nível onde eram ensinadas as 
Artes Liberais e a Sagrada Escritura.43 
 
 
 Aos poucos, essas escolas episcopais receberam, também, entre seus 
alunos, leigos das classes superiores ou profissionais e se multiplicaram pela 
Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Espanha. Nessas escolas, “[...] o ensino 
se compunha do trivium e do quadrivium, isto é, de matérias realistas e 
humanistas, e dos Evangelhos ou teologia”44. Trivium (retórica, dialética e 
gramática latina) e Quadrivium (geometria, música, astronomia e aritmética) 
eram as chamadas Sete Artes Liberais45 que formavam o currículo básico de 
todas as áreas do conhecimento, completado com estudos adequados à 
especificidade de cada área. 
 
1.2.7 – O nascimento da Universidade 
 
 Ao longo dos séculos XII e XIII um complexo de fatores sócio-
econômicos, políticos e culturais, inter-relacionados, concorreram para o 
nascimento da Universidade como instituição de Ensino Superior. 
 
 No século XII houve significativo renascimento das cidades, impulsionado, 
sobretudo, pela expansão do comércio. Havia muito tempo que uma nova força 
social se organizava no interior da sociedade medieval, constituída pelos 
habitantes dos burgos, as fortificações que deram origem às cidades 
medievais. No início do século XII os termos mercador e burguês eram usados 
para identificar tanto o comerciante quanto o habitante das cidades46. 
 
43 CHARLE, Christophe; VERGER, Jacques. História das universidades. São Paulo: UNESP, 
1996, p. 14. 
44 LUZURIAGA Y MEDINA, Lorenzo. Historia da educação e da pedagogia. 2ª ed São Paulo: 
Nacional,1963, p. 81. 
45 As Artes Liberais “[...] representam nas escolas medievais o grau literário [trivium] e o grau 
científico [quadrivium]. Denominam-se artes liberales, porque dizem respeito aos homens 
livres, cultores do espírito, em oposição às artes illiberales, típicas do labor físico, corporal. [...] 
Nelas, resumia-se, até o século VII, todo o ensino da literatura e das ciências. Depois, 
gradativamente, foram introduzidos elementos de filosofia, teologia e direito” ULMANN, R.; 
BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 36. 
46 Cf. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 
1986, p.27. 
25 
 
O desenvolvimento das cidades no período medieval está diretamente 
relacionado com a atividade comercial desses mercadores que, a partir do 
século XII, foram intensificando sua ação, sobretudo nas grandes feiras que 
então se realizavam. As Cruzadas – incursões militares na Terra Santa com 
motivação religiosa, econômica e política – serviram de grande impulso ao 
comércio da época47 ao liberar o Mediterrâneo do poder muçulmano. Além 
disso, as Cruzadas possibilitaram contato direto com a cultura oriental, 
despertando a curiosidade pelo estudo científico e estimulando o gosto pela 
universalidade do conhecimento. 
 
 Um dos efeitos mais importantes da expansão do comércio foi o 
crescimento das cidades. Nesse período, “[...] surgiam cidades nos locais em 
que duas estradas se encontravam, ou na embocadura de um rio, ou ainda 
onde a terra apresentava um declive adequado”48. Nesses lugares os 
mercadores procuravam se estabelecer e, paulatinamente, viram crescer sua 
organização e influência no interior da sociedade feudal, até transformá-la 
totalmente. 
 
Sem dúvida, havia certo tipo de cidades antes desse aumento 
no comércio, os centros militares e judiciais do país, onde se 
realizavam os julgamentos e onde havia bastante movimento. 
Eram realmente cidades rurais, sem privilégios especiais ou 
governo que as diferenciassem. Mas as novas cidades que se 
desenvolveram com a intensificação do comércio, ou as 
antigas cidades que adotaram uma vida nova sob tal estímulo, 
adquiriram um aspecto diferente.49 
 
 Nessas novas cidades as relações estabelecidas entre seus habitantes 
eram distintas daquelas havidas entre suseranos e vassalos, senhores e 
servos, características da hierarquia feudal. Nelas a população queria liberdade 
de ir e vir, de praticar a justiça, elaborar suas próprias leis, estabelecer seus 
próprios impostos e comerciar seus produtos. 
 
47 No período compreendido entre os séculos VIII e X foram realizadas 34 peregrinações ou 
incursões à Terra Santa; somente no século XI foram 117 incursões, motivadas por interesses 
religiosos sinceros, no entanto, mesclados com interesses econômicos como a posse da terra, 
despojos de guerra e outros bens. Cf. HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. 
p.16-25. 
48 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 26. 
49 Ibid. 
26 
 
 O renascimento urbano, decorrente da expansão das relações 
comerciais, suscitou novos padrões de comportamento, bem como propiciou ao 
homem medieval o desenvolvimento de uma nova cosmovisão. “O século XI 
viu o comércio evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental 
transformar-se em conseqüência disso”50. 
 
 Nesse contexto, as escolas monacais, típicas do ambiente agrário 
medieval, perderam espaço para as escolas episcopais ou catedralícias, 
situadas na cidade. No entanto, elas também não conseguiram satisfazer a 
demanda de conhecimento que o momento exigia. 
 
Em face dos novos contributos para a ciência, trazidos pelos 
árabes e, depois, pelas cruzadas, nos campos da matemática, 
astronomia, filosofia e medicina, o corpus das artes liberais 
mostrava-se muito pequeno. Urgia criar novas escolas, de 
pretensões mais amplas, que serão as universidades. [...] as 
artes liberales, transformadas em programas de nível 
secundário, passaram à categoria de propedêuticaspara o 
nível superior.51 
 
 Se os mosteiros e as catedrais, com suas escolas, “[...] são as duas 
colunas sobre as quais se apóiam os arcos da cultura na Idade Média”52, a 
Universidade ocupará esse lugar na Baixa Idade Média, a partir dos séculos XII 
e XIII. 
 
Formando a elite cultural, os conselheiros dos reis e dos 
príncipes, os educadores, os Papas, Bispos e sacerdotes, os 
responsáveis pelo exercício da justiça e pela ordem pública, a 
Universidade exerceu na história do Ocidente, desde os seus 
inícios, a missão de dirigir intelectualmente os espíritos, criando 
ao mesmo tempo as condições para o desenvolvimento 
humano em todos os domínios da vida política, artística e 
social.53 
 
 Na Baixa Idade Média, período compreendido entre os séculos XIII e XV, 
ocorreram profundas mudanças econômicas, religiosas, políticas e culturais, 
que propiciaram o nascimento da Universidade. Os fundamentos da sociedade 
 
50 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 18 
51 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 37. 
52 Ibid. p. 38. 
53 CRIPPA, Adolpho. O problema da Universidade. São Paulo: Convívio, 1966, p. 59-60. 
27 
 
medieval estavam em transição. O regime feudal, característico da Alta Idade 
Média, fundado nas relações de poder entre suseranos e vassalos, baseado na 
agricultura e que não permitia a mobilidade social, estava em crise. Os 
comerciantes – que ao lado de cambistas e banqueiros formavam o grupo dos 
emergentes – representavam nova configuração social e econômica e se 
organizaram em poderosas corporações ou ligas para se contrapor às “[...] 
restrições feudais que os asfixiavam [...], a fim de conquistar para suas cidades 
a liberdade necessária à expansão contínua”54. 
 
[...] o renascimento das cidades e, com ele, o aparecimento de 
uma nova classe social, a burguesia, realizaram profundas 
modificações na organização da vida política, espiritual, social 
e econômica. As cidades se tornaram lugares de concentração, 
não somente para a troca internacional de mercadorias, mas 
também para as comunicações intelectuais e a discussão de 
idéias que irão repercutir na vida escolar.55 
 
 A Universidade surgiu nesse cenário como universitas magistrorum et 
scholarium, ou seja, associação ou corporação de professores e estudantes, 
como “[...] uma comunidade de vida e de interesses”56, realizando no campo da 
educação e da cultura o que outras categorias já realizavam em suas áreas de 
atuação. Nas escolas da Igreja, dependentes dos bispos, havia muitos conflitos 
entre chanceleres (delegados dos bispos), professores e alunos. 
 
[...] as divergências entre mestres e alunos, de um lado, e o 
chanceler, do outro, são inúmeras, provocadas por questões 
relativas às horas de aulas, exames escolares, férias, 
habitação. Nada mais natural que mestres e alunos se 
reunissem numa grande corporação capaz de representar seus 
interesses57. 
 
 
 
 
 
 
54 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 28. 
55 TOMÉ, Marcia Eliane Fernandes. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais. 
Horizonte, Belo Horizonte, PUCMG, v. VII, n. 13, p. 169-170, dez./2008. 
56 CRIPPA, A. O problema da Universidade, op. cit. p. 53. 
57 Ibid. p. 54. 
28 
 
1.3- A Universidade Católica no Brasil 
 
 No Brasil a Universidade nasceu tardiamente. Apesar das inúmeras 
tentativas de criação de instituições universitárias, ao longo dos primeiros 
séculos da história nacional, as primeiras Universidades brasileiras surgiram, 
efetivamente, nos albores do século XX. Embora a educação tenha sido 
sempre uma das prioridades da Igreja no país, a Universidade no Brasil nasceu 
laica, estatal e pública. Para uma melhor compreensão das origens da 
Universidade no Brasil normalmente seu desenvolvimento é apresentado em 
três períodos distintos: colonial (sec. XVI-XVIII), imperial (sec. XIX) e 
republicano (sec. XX em diante). 
 
1.3.1 – Período colonial: primeiras tentativas 
 
O processo de colonização empreendido por Portugal no Brasil implicava 
“[...] uma política de controle a toda iniciativa que possibilitasse uma 
independência cultural da Colônia”58. Na questão do estabelecimento de 
Universidades as resistências foram muitas e diversas, inclusive por parte de 
alguns brasileiros que não viam justificativa para a criação de instituições 
universitárias no país, uma vez que lhes parecia mais apropriado enviar seus 
filhos para cursar estudos superiores na Europa, especialmente em Coimbra. 
 
Ora, “[...] Portugal, através da Universidade de Coimbra, exerceu, até o 
final do Primeiro Reinado, uma grande influência na formação de nossas elites 
culturais e políticas”59. Até a primeira metade do século XIX cerca de 2.500 
estudantes nascidos no Brasil se graduaram em Coimbra e, por essa razão, 
eram considerados mais portugueses que brasileiros, pois “[...] o brasileiro da 
Universidade de Coimbra não era um estrangeiro, mas um português nascido 
no Brasil, que poderia mesmo se fazer professor da Universidade”60. José 
Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), estadista brasileiro cognominado 
 
58 FÁVERO, Maria de Lourdes A. A Universidade brasileira em busca de sua identidade. 
Petrópolis: Vozes, 1977, p. 20. 
59 Ibid. 
60 TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 
1969. Rio de Janeiro: FGV, 1989, p. 65 
29 
 
‘Patriarca da Independência’, que estudou e foi professor em Coimbra, é um 
bom exemplo dessa ambigüidade, ao qual se somam vários outros brasileiros 
considerados ‘portugueses nascidos no Brasil’. 
 
Outro fator que teria contribuído para a criação tardia de Universidades no 
Brasil seria o fato de Portugal, à época do descobrimento e durante muito 
tempo depois, não dispor de recursos docentes para tarefa tão grande. A 
Espanha, no século XVI, com uma população de nove milhões de pessoas, 
possuía oito Universidades, sendo a de Salamanca a mais importante delas, 
considerada uma instituição de grande porte para a época, com seis mil alunos 
e sessenta cátedras. Portugal, por sua parte, com uma população de um 
milhão e meio de pessoas, tinha em Coimbra a única Universidade de porte e, 
em Évora, outra bem menor61. 
 
Na raiz das diferenças entre Portugal e Espanha, no tocante ao 
desenvolvimento da instituição universitária, estaria certo distanciamento 
cultural de Portugal em relação à Europa. Por estar geograficamente localizado 
na extrema periferia da Europa Ocidental, Portugal não se comunicava bem 
com o restante do Continente e isso teria sido uma das causas da inferioridade 
portuguesa em relação à cultura européia62. Ora, 
 
[...] no que concerne à Universidade portuguesa, não 
encontramos nas origens do movimento universitário 
português, o renascimento urbano, como condição responsável 
pela solidariedade que ligou a evolução da vida cultural às 
transformações da vida social. [...] enquanto o sistema histórico 
europeu se deixava completamente renovar pelas poderosas 
influências do urbanismo, Portugal, desgarrado do sistema, 
insistentemente conservador, continuara comprometido com a 
arcaica influência do agrarismo. Sua vida econômica era 
tipicamente rural. Sua vida social se caracterizava como uma 
associação vasta de lavradores.63 
 
 
61 Cf. CUNHA, Luiz Antonio. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas. 2ª. ed. Rio 
de Janeiro: Francisco Alves, 1986, p. 13. 
62 Cf. TOMÉ, M. E. F. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais, op. cit. p. 171. 
63 Ibid. 
30 
 
A Universidade de Coimbra, criada no século XIII, em 1290, cuja história 
praticamente remonta aos inícios da nação portuguesa64, se ressente das 
condições sociais que estiveram presentes nas origens das outras 
Universidadesda Europa, notadamente o renascimento urbano e o 
renascimento cultural do século XII65, que reconfiguraram as relações sociais 
da época. Isso a impediu de contribuir efetivamente para a integração de 
Portugal no mundo da cultura européia nesse rico período histórico. No século 
XV, “[...] às margens do meio intelectual europeu, Portugal se lança ao mar 
para a descoberta geográfica do mundo, sem antes ter completado a 
descoberta cultural da Europa”66. 
 
Fatores sociais, econômicos, políticos e religiosos diversos provocaram 
profundas mudanças no mundo ao longo dos séculos XIV, XV e XVI. Nesse 
período, a antiga harmonia da ordem medieval entrou em crise e não resistiu. A 
sociedade medieval, antes organizada de forma “[...] dicotômica, composta por 
senhores feudais no topo da pirâmide e os servos da gleba na base”67, 
sucumbiu. O surgimento de nova classe econômica, representada pela 
burguesia mercantil; o advento da imprensa que ampliou a difusão cultural; o 
advento de grandes invenções, como a bússola que permitiu longas viagens 
marítimas com segurança e a conquista do Novo Mundo; bem como a Reforma 
Protestante que cindiu o mundo religioso, são alguns dos fatores responsáveis 
pelas grandes transformações do mundo à época. 
 
 
64 Em 1288 foi elaborada uma Súplica ao Papa Nicolau IV, datada de 17 de novembro, 
assinada pelos abades dos Mosteiros de Alcobaça, Santa Cruz de Coimbra e São Vicente de 
Lisboa e pelos superiores de 24 igrejas e conventos do Reino português, solicitando a 
fundação de um ‘Estudo Geral’ e firmando o compromisso de que aquelas instituições 
religiosas assumiriam a garantia de seu financiamento. Em 1º de março de 1290, D. Diniz 
assina o decreto de Criação do ‘Estudo Geral Português’, confirmado a 9 de agosto do mesmo 
ano pelo Papa Nicolau IV. Com os cursos de Artes, Direito Canônico, Direito Civil e Medicina o 
‘Estudo Geral’ começou a funcionar em Lisboa. Em 1308 transferiu-se para Coimbra; em 1338 
voltou para Lisboa; em 1354 transferiu-se novamente para Coimbra; em 1377 voltou 
novamente para Lisboa; por fim, em 1537, foi definitivamente instalado em Coimbra. Cf. 
UNIVERSIDADE DE COIMBRA. História da Universidade de Coimbra (secs. XIII-XVI). 
Disponível em: <http://www.uc.pt/informacoessobre/universidadecoimbra/historiauniversidade/> 
Acesso em: 02.fevereiro.2010. 
65 Cf. TOMÉ, M. E. F. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais, op. cit. p. 171. 
66 Ibid. p. 172. 
67 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas. Santa Maria/RS: UFSM, 1989, p.38. 
31 
 
A burguesia mercantilista, imbuída de uma mentalidade pré-capitalista, 
acumulava capital na expansão do comércio e subsidiava a empreitada das 
grandes viagens marítimas e dos descobrimentos ultramarinos, almejando o 
controle do comércio nesses novos lugares. Assim é que, em 1500, os 
portugueses aportaram no Brasil, com uma proposta colonizadora muito clara 
em relação às terras e populações encontradas. Tratava-se de transferir para o 
Novo Mundo sua cultura, instituições, religião, idiossincrasias, modo de vida, 
sistema educacional, entre outros valores. Com a aliança entre a emergente 
burguesia mercantilista portuguesa, a monarquia e a Igreja, 
 
[...] o descobrimento terá uma dupla finalidade: conquistar e 
converter. [...] Conquista-se para o reino de Portugal e 
converte-se para o catolicismo. É a união entre a Cruz e a 
espada. O Estado conquista. A Igreja converte. [...] No Novo 
Mundo deve-se recuperar para a Igreja Católica as perdas 
sofridas no continente Europeu.68 
 
 Aos jesuítas – membros da então recém-criada Companhia de Jesus –, 
caberá a tarefa da evangelização e da educação na nova possessão 
portuguesa na América. Criada por Inácio de Loyola (1491-1556), juntamente 
com alguns companheiros estudantes, essa ordem religiosa nasceu em Paris, 
na Capela de Montmartre, em 1534, e recebeu a aprovação do Papa Paulo III 
(1534-1549) em 27 de setembro de 1540. Pouco tempo depois, Dom João III 
(1521-1557), rei de Portugal, convidou a Companhia de Jesus para se 
estabelecer no país e enviar missionários para a nova colônia. 
 
Em 1549, juntamente com o primeiro Governador Geral, Tomé de Souza 
(1515-1579), chegaram os primeiros seis missionários jesuítas ao Brasil, 
liderados pelo padre Manuel da Nóbrega (1517-1570). “Antes mesmo de 
passada a primeira quinzena após sua chegada, abriam os jesuítas a primeira 
‘escola de ler e escrever’ de que se tem notícia [no Brasil]”69. No ano seguinte, 
vieram mais quatro missionários “[...] trazendo consigo sete meninos órfãos, 
recolhidos em Lisboa e já doutrinados, para auxiliarem os missionários na obra 
 
68 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas, op. cit. p.39. 
69 MATTOS, Luiz Alves de. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570). 
Rio de Janeiro: Aurora, 1958, p. 45. 
32 
 
incipiente da catequese”70. Durante os dois séculos que se seguiram, os 
jesuítas foram os principais educadores do Brasil e grandes responsáveis pela 
formação cultural da nação brasileira. 
 
El-Rei Dom João III confiava a esses primeiros dez 
missionários jesuítas o êxito de sua nova empresa 
colonizadora no tocante à conversão dos gentios, naturais da 
terra. Por essa razão, eram eles objeto de sua especial 
solicitude; provia-os de alimento, vestuário e de tudo o mais 
que solicitassem [...].71 
 
A partir de 1564, com a criação do chamado Padrão de Redízima, a 
Coroa Portuguesa passou a subsidiar intensamente o trabalho da Companhia 
de Jesus. A partir daí, “[...] dez por cento de toda arrecadação dos dízimos [ou 
impostos] reais em todas as capitanias da colônia e seus povoados ficariam, in 
perpetuum, vinculados à manutenção e sustento dos colégios da Companhia 
de Jesus”72. Com isso, ficava garantida aos colégios uma condição econômica 
segura e estável, com vistas ao seu amplo desenvolvimento, possibilitando aos 
missionários que se dedicassem exclusivamente à tarefa do apostolado e do 
ensino. 
 
Ora, no período colonial, educação, cultura e catequese estavam 
imbricadas, de forma que se catequizava e se educava a um só tempo, 
cuidando de inserir todos na cultura e nos valores vigentes em Portugal. Nessa 
perspectiva, o processo civilizatório cabia à educação, pois, “[...] civilizar o índio 
significava fazer dele um cidadão europeu: convertê-lo para os valores da 
civilização européia”73, apresentada como paradigma para os povos 
colonizados. 
 
Os Regimentos do rei D. João III, entregues a Tomé de Souza, contendo 
as instruções e as diretrizes básicas sobre a política de colonização a ser 
implantada no Brasil, se referiam explicitamente à necessidade da conversão 
dos indígenas à fé cristã e sua inserção na cultura portuguesa por meio da 
 
70 MATTOS, L. A. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 
35. 
71 Ibid. p. 36. 
72 Ibid. p. 134. 
73 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas, op. cit. p. 42. 
33 
 
ação catequética e educativa. Disso dependeria, fundamentalmente, o êxito da 
empresa colonizadora, 
 
[...] pois que, somente pela aculturação sistemática e intensiva 
do elemento indígena aos valores espirituais e morais da 
civilização ocidental e cristã é que a colonização portuguesa 
poderia lançar raízes definitivas no solo fecundo [...] do novo 
mundo.74 
 
Além dos indígenas também os filhos dos colonos foram alvos da ação 
pedagógico-educacional dos jesuítas, afinal, eles eram os únicos educadores 
disponíveis na Colônia. A política educacional do Pe. Manuel da Nóbrega 
contemplava a fundação de Recolhimentos para a educação dos mamelucos, 
órfãos e filhos dos chefes indígenas. Esses Recolhimentos funcionavam como 
externados para os filhos dos colonos brancos que, neles, participavam das 
mesmas aulas que os curumins e mamelucos,mas não moravam ali. No 
entanto, não demorou a educação jesuítica a se bifurcar em dois seguimentos, 
reservando aos indígenas o aprendizado profissional e agrícola, enquanto os 
filhos dos colonos recebiam aulas de gramática e eram preparados para 
prosseguir os estudos na Europa. 
 
Enquanto os indígenas eram catequizados, os filhos dos colonizadores 
eram instruídos, de forma que os colégios jesuíticos foram importante 
instrumento na formação da elite colonial75. Com o tempo, a educação jesuítica 
se transformou num símbolo distintivo de classe, almejado por quantos 
desejavam adquirir status, um “[...] processo para assegurar os privilégios de 
uma ordem social fechada, imóvel e rígida”76, de maneira que 
 
[...] já não era somente pela propriedade da terra e pelo 
número de escravos que se media a importância ou se avaliava 
a situação social dos colonos: os graus de bacharel e os de 
mestre em artes (dados pelos colégios) passaram a exercer 
papel de escada ou de ascensor, na hierarquia social da 
 
74 MATTOS, L. A. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 
31. 
75 Cf. RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a organização escolar. 19ª ed. 
Campinas-SP: Autores Associados, 2003, p. 21-23. 
76 TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 
1969, op. cit., p. 58. 
 
34 
 
Colônia, onde se constituiu uma pequena aristocracia de 
letrados, futuros teólogos, padres-mestres, juízes e 
magistrados.77 
 
Ora, do século XVI ao XVIII, ao longo de 210 anos, os jesuítas foram os 
grandes responsáveis pela educação formal que se produziu no Brasil. Desde 
a constituição da primeira escola oficial no país, o Colégio dos Meninos de 
Jesus78, no final de 1549, até a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas 
colônias pelo Marquês de Pombal, em 1759, a Companhia de Jesus 
desenvolveu uma vasta obra educativa no Brasil. Apenas duas décadas após 
sua chegada os jesuítas já contabilizavam cinco escolas de instrução 
elementar localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e 
São Paulo de Piratininga, além de três colégios, no Rio de Janeiro, em 
Pernambuco e na Bahia. Em 1759, quando de sua expulsão do Brasil, eram 
cerca de 670 religiosos, padres e irmãos, que detinham um vasto patrimônio 
educacional e religioso, incluindo 25 residências, 36 missões indígenas, 17 
colégios e seminários, além de escolas elementares instaladas em todas as 
cidades onde houvesse casas da Companhia de Jesus79. 
 
O êxito do trabalho educacional jesuítico no Brasil Colônia se deve, 
sobretudo, à chamada Ratio Studiorum, promulgada em 1599, que consistia 
basicamente num “[...] conjunto de normas criado para regulamentar o ensino 
nos colégios jesuíticos [...] [e que] tinha por finalidade ordenar as atividades, 
 
77 AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira. Tomo II. São Paulo: Melhoramentos, 1953, p. 31 
apud ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930/1973). 27ª ed. 
Petrópolis: Vozes, 2002, p. 36. 
78 “O movimento e matrículas dessa primeira instituição escolar do norte do Brasil era restrito 
devido à estreiteza das acomodações. Desde a construção do Colégio em fins de 1549, nunca 
contou com mais de vinte e cinco alunos internos entre órfãos, índios e mamelucos. Estes 
recolhidos eram criteriosamente selecionados entre os melhores [...] Além dos alunos internos, 
freqüentavam também as aulas de ler e escrever alguns externos, filhos dos colonos 
portugueses. [...] O Colégio dos Meninos de Jesus da Bahia era assim, pela altura de 1552, um 
centro de jovens e ardorosos catequistas que, pelo estudo, pela pregação da doutrina e pelo 
exemplo da auto-flagelação, procuravam difundir a fé católica e a piedade cristã não somente 
entre os índios, mas também entre os colonos portugueses.” MATTOS, L. A. Primórdios da 
educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 51-52. 
79 Cf. NASCIMENTO, Maria Isabel Moura et. al. Instituições escolares no Brasil colonial e 
imperial in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. ; NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela 
história da educação brasileira. Campinas/SP: FE-Unicamp/HISTEDBR, 2006. Disponível em: 
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_075.html> Acesso em: 
10.fev.2010. 
35 
 
funções e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas”80. De acordo com a 
Ratio Studiorum os estudos dividiam-se em dois graus: studia inferiora (estudos 
inferiores) que compreendiam aulas de gramática latina e grega, entre outras 
disciplinas, distribuídas por até sete anos de ensino e studia superiora (estudos 
superiores) que correspondiam aos cursos de filosofia, com duração de três 
anos, e de teologia, com quatro anos. 
 
No Brasil, esses níveis de estudo se desdobravam em quatro graus de 
ensino, configurados como curso elementar, curso de humanidades, curso de 
artes e curso de teologia, oferecidos nos colégios e nos seminários 
administrados pela Companhia81, de acordo com a pedagogia da Ratio 
Studiorum, baseada na unidade de professor, unidade de método e unidade de 
matéria82. 
 
De posse de método tão eficiente como a Ratio Studiorum e, em face 
dos resultados obtidos em seus propósitos educacionais na Colônia, os 
jesuítas solicitaram diversas vezes ao Papa e ao Rei de Portugal a criação de 
uma Universidade no Brasil. Desejavam, na verdade, equiparar o ensino 
administrado nos seus colégios brasileiros aos estudos idênticos realizados na 
metrópole portuguesa, conferindo os mesmos títulos e direitos outorgados aos 
alunos que se formavam em Portugal aos que se formassem no Brasil. 
 
A partir da segunda metade do século XVII, sobretudo, se iniciou um 
continuado processo de reivindicação visando obter para o Colégio da Bahia os 
mesmos privilégios do Colégio de Évora e, até mesmo, os da Universidade de 
Coimbra. A partir de 1662 a Câmara Municipal da Bahia assumiu as 
 
80 TOLEDO, Cezar A. A. et. al. Ratio Studiorum in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; 
NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela história da educação brasileira. Campinas-SP: 
FE-Unicamp/Histedbr, 2006. Disponível em: 
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_ratio_studiorum.htm> Acesso 
em: 17.fev.2010. 
81 Cf. CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 24-29. 
82 “O princípio de unidade de professor determinava que um mesmo mestre acompanhasse um 
grupo de alunos no estudo de cada matéria, do início ao fim. Todos os professores deveriam 
seguir o mesmo método de ensino, completando-se esse princípio com o da organização das 
matérias de modo a explorar, ao máximo, o pensamento de poucos autores (principalmente 
Aristóteles e Tomás de Aquino) preferivelmente ao de muitos.” CUNHA, L. A. A Universidade 
temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 26. 
36 
 
reivindicações em favor da equiparação de graus conferidos no Brasil àqueles 
conferidos em Portugal, tendo enviado diversas solicitações ao rei: 
 
Representamos a Vossa Alteza [...] as conveniências que se 
seguiriam a seu real serviço em haver neste Estado do Brasil 
uma Universidade de Évora ou, ao menos, a confirmação do 
grau de licenciado e mestre em artes que os reverendos 
padres da Companhia de Jesus dão por concessão de Sua 
Santidade.83 
 
No entanto, nem os jesuítas nem a Câmara lograram êxito em suas 
demandas84. Ocorre que, nesse período, vários fatores se antepunham à 
pretensão da instituição do ensino universitário no Brasil, entre eles a histórica 
rivalidade entre os jesuítas e a Universidade de Coimbra85 e a ‘questão dos 
moços pardos’86. Mais tarde, a Universidade de Coimbra foi confiada aos 
jesuítas, encerrando o conflito. A questão dos estudantes pardos, no entanto, 
marcou o início de séria disputa entre o Estadoportuguês e a Companhia de 
Jesus. 
 
Entretanto, na metade do século XVIII a educação escolar em Portugal e 
em suas colônias era quase totalmente controlada pelos jesuítas. Estavam sob 
sua responsabilidade quase todas as escolas secundárias, além da orientação 
pedagógica da Universidade de Coimbra. Nesse momento, foram atingidos 
 
83 LACOMBE, Américo Jacobina. Para a história das origens da Universidade Católica. 
Verbum, Rio de Janeiro, PUC-RJ, vol. XXXII, n. 2, 1976, p.74. 
84 Cf. CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 32-33. 
85 “A rivalidade entre a Companhia de Jesus e a Universidade de Coimbra vinha de longe. Os 
jesuítas fundaram um Colégio em Évora, em 1551, como alternativa e em oposição aos 
estudos de Coimbra que, por sua vez, impediu que ele surgisse logo como Universidade. 
Apesar da bula papal de 1558, instituindo o Colégio de Évora como Universidade de direito 
pontifício, foi só em 1573 que ele foi equiparado à Universidade de Coimbra, por determinação 
real. As razões da rivalidade não se prendiam apenas à competição pelo monopólio dos 
estudos superiores, mas à luta da burocracia coimbrã pela sobrevivência, pois 
simultaneamente ao reconhecimento real da universidade dos jesuítas [...], o rei entregou à 
administração da Companhia de Jesus o Colégio das Artes de Coimbra, vestíbulo da 
Universidade local.” CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. 
nota 21, p. 32-33. 
86 “[...] apesar dos jesuítas catequizarem também os negros, no ano de 1688 o Colégio dos 
jesuítas em Salvador recusou a admissão de moços pardos, considerados demasiado 
irrequietos e numerosos. Nas Universidades de Coimbra e Évora todos podiam cursar, então 
os moços pardos recorreram ao rei e, a 9 de fevereiro de 1689, D. Pedro II, [...] mandou admitir 
os moços pardos por se tratar de uma escola pública, mantida pela Coroa, através da redízima 
das rendas da Coroa [...].” NUNES, Antonietta d´Aguiar. Educação jesuítica na Bahia colonial: 
colégio urbano, internato em seminário, noviciado, Mneme Rev de Humanidades, Caicó, 
UFRN, v. 9, n. 24, set-out./2008, p. 10-11. 
37 
 
pelas reformas introduzidas pelo poderoso primeiro-ministro do rei D. José I 
(1714-1777), Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), conhecido na 
história como Marquês de Pombal, responsável pela expulsão dos jesuítas de 
Portugal e de suas colônias. 
 
À frente do Estado português desde 1750, Pombal tratou logo de 
implementar uma política reformista, que consistiu, basicamente, 
 
[...] num conjunto de medidas que visavam criar condições 
para que ocorresse em Portugal a industrialização que se 
processava na Inglaterra, de modo que se pudesse dispor dos 
requisitos econômicos para a quebra da subordinação 
[portuguesa em relação ao império inglês]. Era, em suma, uma 
tentativa de superar a dominação, tornando-se igual ao 
dominador, assimilando aquilo que lhe dava força para 
dominar: o poderio econômico.87 
 
Por força de sucessivos e malfadados acordos, celebrados ao longo de 
várias décadas, Portugal havia concedido à Inglaterra diversos privilégios 
econômicos em troca de proteção política e militar. Dessa forma, quase todo o 
ouro extraído em grande quantidade do Brasil durante o ciclo da mineração, em 
fins do século XVII e início do século XVIII, serviu para financiar a revolução 
industrial inglesa88. Assim, sob influência do espírito iluminista, as reformas 
pombalinas visavam realizar a modernização capitalista de Portugal, sobretudo, 
por meio do incentivo à industria manufatureira na metrópole, da acumulação 
de capital público e privado e de uma reforma ideológica, substituindo a antiga 
mentalidade da organização feudal da sociedade por outra moderna, inclinada 
a uma sociedade capitalista. 
 
Para a consecução desses objetivos era imprescindível o fortalecimento 
do poder do Estado. Daí, a política regalista do Marquês de Pombal, que queria 
 
87 CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 40-41. 
88 “[...] em seu auge a corrida do ouro brasileira revolucionou o mundo. Quase todo o metal 
arrancado das entranhas das Minas Gerais cruzou Lisboa apenas de passagem: as artimanhas 
do Tratado de Methuen, assinado em 1703, fizeram com que o minério brasileiro fosse parar na 
Inglaterra – e lá financiasse a Revolução Industrial da mesma forma como, um século antes, o 
ouro e a prata saqueados aos astecas e incas ajudaram a incrementar a revolução 
mercantilista. [...] calcula-se que se extraíram cerca de 840 toneladas do metal – sem auxilio 
mecânico – entre 1700 e 1799 [...].” BUENO, Eduardo. História do Brasil. 2ª. ed. São Paulo: 
Publifolha, 1997, p. 65; Cf. RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a 
organização escolar, op. cit. p. 29. 
38 
 
submeter todas as instâncias de poder à autoridade do Estado, personificado 
na figura do rei. Os jesuítas, subordinados diretamente ao Papa, com 
freqüência conflitavam com bispos submissos ao rei e não se adequavam ao 
regalismo pombalino. Além disso, a Companhia de Jesus era detentora de 
grande patrimônio econômico e, segundo o Marquês, educava o cidadão mais 
a serviço da ordem religiosa que dos interesses do Estado, sendo, portanto, 
responsável pela decadência cultural e educacional da sociedade portuguesa89. 
Assim é que, alegando razões de estado, Pombal expulsou os jesuítas de 
Portugal e de suas colônias em 1759; seus bens foram confiscados e seus 
colégios extintos. 
 
A saída dos jesuítas desestruturou profundamente o sistema 
educacional português e, por extensão, do Brasil, pois, naquele momento não 
havia nenhuma instância do Estado, bem como nenhuma outra congregação 
religiosa com condições de assumir o trabalho educacional com o gênio e a 
articulação com que fizera a Companhia de Jesus por mais de dois séculos. 
Em substituição ao sistema jesuítico de ensino, Pombal instituiu as chamadas 
aulas régias ou avulsas de latim, grego, filosofia e retórica, e para fiscalizar a 
ação dos professores, criou a figura do ‘diretor geral de estudos’90. Entre outras 
coisas, a Reforma Pombalina forjou o surgimento de um ensino público e laico 
propriamente dito em Portugal e no Brasil, “[...] não mais aquele financiado pelo 
Estado, mas que formava o indivíduo para a Igreja, e sim o financiado pelo 
Estado e para o Estado”91. 
 
Entre as várias mudanças promovidas por Pombal está a Reforma da 
Universidade de Coimbra, em 1770, que marcou a introdução do Iluminismo 
em Portugal92. Segundo o modelo pombalino, o ensino universitário dividia-se 
 
89 Cf. MACIEL, L. S. B.; SHIGUNOV NETO, A. A educação brasileira no período pombalino: 
uma análise histórica das reformas pombalinas do ensino, Educação e Pesquisa, São Paulo, 
USP, v. 32, n. 3, set./dez.2006, p. 469. 
90 Cf. SECO, Ana P.; AMARAL, Tânia C. I. Marquês de Pombal e a reforma educacional 
brasileira in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. ; NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela 
história da educação brasileira, op. cit.; Cf. MACIEL, L. S. B.; SHIGUNOV NETO, A. A 
educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas pombalinas do 
ensino, op. cit. p. 470. 
91 RIBEIRO, Maria L. S. História da educação brasileira: a organização escolar, op.cit. p. 33. 
92 “[...] o Iluminismo foi a filosofia hegemônica na Europa do século XVIII. Ele consistia em um 
articulado movimento filosófico, pedagógico e político, que conquistou progressivamente as 
39 
 
em ciências teológicas (cânones e leis) e ciências naturais e filosóficas 
(medicina, matemática e filosofia). Para Pombal, 
 
[...] as ciências naturais [...] constituíam o cerne da 
Universidade. Cuidou-se [por isso] que seu ensino estivesse 
voltado para a aplicação. [...] As novas faculdades foram 
dotadas de observatório, gabinete

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