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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP João Batista Cesário Do coração da Igreja Elementos histórico-pastorais da Universidade Católica: reflexões sobre a ação da Igreja na PUC-Campinas MESTRADO EM TEOLOGIA São Paulo 2011 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP João Batista Cesário Do coração da Igreja Elementos histórico-pastorais da Universidade Católica: reflexões sobre a ação da Igreja na PUC-Campinas MESTRADO EM TEOLOGIA Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Teologia sob a orientação do Professor Doutor Tarcísio Justino Loro. São Paulo 2011 BANCA EXAMINADORA ___________________________ ___________________________ ___________________________ AGRADECIMENTOS A Deus, doador de todos os dons, por me ter permitido aprofundar os estudos para servir mais e melhor o Reino, a Igreja e os irmãos. Aos meus pais José e Victalina (in memorian), pela vida que me comunicaram e pelos valores que me ensinaram para bem viver. Ao Pe. Benedito Malvestiti (in memorian), formador do Seminário e amigo, pelo testemunho de amor ao estudo e dedicação à Igreja que segue me animando. À Arquidiocese de Campinas e seu Arcebispo Dom Bruno Gamberini, pelo estímulo e apoio. Aos dedicados professores e estimados colegas de estudos da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, agora integrada à PUC- SP, pelas profundas e edificantes discussões ao longo do Curso. Ao Prof. Doutor Tarcísio Justino Loro, orientador e amigo, pela delicadeza de acompanhar a elaboração deste trabalho; pela competência acadêmica na orientação; pelo diálogo franco e sincero; pela acolhida generosa em seu coração e em sua casa; pelas inestimáveis sugestões e correções. SIGLAS E ABREVIAÇÕES ABESC Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas ABRUC Associação Nacional das Universidades Comunitárias ACB Ação Católica Brasileira ANEC Associação Nacional de Educação Católica do Brasil APARECIDA V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (2007) ARQCAMP Arquidiocese de Campinas Art. Artigo BAC Biblioteca de Autores Cristianos (Espanha) CCP Coordenação Colegiada de Pastoral da Arquidiocese de Campinas CDC Código de Direito Canônico CELAM Conselho Episcopal Latino-Americano CEPAL Comissão Econômica para a América Latina CF Campanha da Fraternidade CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CONSUN Conselho Universitário CRUB Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras DGAE Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil DPU Departamento da Pastoral Universitária (PUC-Campinas) ECE Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae sobre as Universidades Católicas EUA Estados Unidos da América FIUC Federação Internacional das Universidades Católicas GAS Grupo de Ação Solidária GE Declaração Gravissimum Educacionis sobre a educação cristã do Concílio Vaticano II GS Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje do Concílio Vaticano II HISTEDBR Grupo de estudos e pesquisas ‘História, Sociedade e Educação no Brasil’ (Faculdade de Educação – Unicamp) ICES Instituto Católico de Estudos Superiores IES Instituição/Instituições de Ensino Superior IESC Instituição de Ensino Superior Católica IESCs Instituições de Ensino Superior Católicas JAC Juventude Agrária Católica JEC Juventude Estudantil Católica JIC Juventude Independente Católica Jo Evangelho de João JOC Juventude Operária Católica JUC Juventude Universitária Católica Lc Evangelho de Lucas LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil) LG Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja do Concílio Vaticano II Mc Evangelho de Marcos MEDELLÍN II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (1968) Mt Evangelho de Mateus PUEBLA III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (1979) PdU Pastoral da Universidade PPO Plano de Pastoral Orgânica da Arquidiocese de Campinas PU Pastoral Universitária PUC Pontifícia Universidade Católica PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas RA Revisão Ampla da Arquidiocese de Campinas REB Revista Eclesiástica Brasileira RIO DE JANEIRO I Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (1955) SANTO DOMINGO IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (1992) UC Universidade Católica UCG Universidade Católica de Goiás UCP Universidade Católica de Petrópolis UNE União Nacional dos Estudantes RESUMO O presente trabalho reflete a Universidade Católica como espaço de ação evangelizadora da Igreja e como essa ação se desenvolve concretamente no interior de uma Instituição de Ensino Superior Católica, explicitando suas potencialidades, limites e contradições. A metodologia utilizada é a abordagem qualitativa enfocando a pesquisa bibliográfica. Percorrendo a história da Universidade procuramos demonstrar como essa Instituição nasceu do coração da Igreja e sempre participou do múnus educativo da Igreja e de sua missão evangelizadora. Buscamos igualmente revelar o longo caminho percorrido até o nascimento da Universidade no Brasil e os interesses conflitantes em torno desse nascimento. Em seguida, percorrendo documentos do magistério pontifício, do Concílio Vaticano II, do Conselho Episcopal Latino Americano – CELAM e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB investigamos como o pensamento oficial da Igreja enfocou a Universidade em diferentes períodos da história e quais suas expectativas sobre a mesma. Finalmente, refletimos sobre alguns aspectos da ação da Igreja numa Instituição de Ensino Superior Católica (PUC-Campinas), avaliando seus limites e potencialidades e acenando com novas perspectivas de presença e ação pastoral no complexo meio universitário. Palavras-chave: Pastoral Pastoral Universitária Universidade Católica Teologia Pastoral História da Universidade ABSTRACT The objective of this work is to show how a Catholic University is effectively a place of evangelization in the Church and how this action desenvolves concretely in a University Catholic Institution, explicitly showing its potencials, limits and contradictions. The methodology used is a qualitative approach emphasizing a bibliographic research. Through the history of the University the researcher aims to demonstrate how this Institution was born at the heart of the Church and had always participated in the educative múnus of the Church in her mission of evangelization. The researcher also wants to show the long process that transpired until the birth of the University in Brazil and the conflicting interests sorrounding this birth. Then browsing through the documents of the Pontifical Magistrate, of the Vatican II Council, of the Episcopal Council of Latin America (CELAM) and the National Conference of the Bishops in Brazil( CNBB), the researcher investigates how the official pronouncements of the Church emphasizes the University in the diferent periods of history and the expectations about it. Finally, the researcherreflects about some aspects of the action of the Church in an Institution such as a Catholic University (PUC-Campinas), evaluating its limits, potencials and looking for new perspectives of presence and pastoral work in a complex university setting. Key words: Pastoral Pastoral Work in the University Catholic University History of the University Pastoral Theology SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................... 12 CAPÍTULO I – A UNIVERSIDADE CATÓLICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E SUA PRESENÇA NO CONTEXTO SÓCIO-EDUCIONAL BRASILEIRO 1.1 O Ensino Superior antes do surgimento das Universidades........ 15 1.2 Origens da Universidade Católica............................................... 17 1.2.1 A Igreja e a educação: dos primórdios à Idade Média....... 17 1.2.2 As escolas na Idade Média................................................ 19 1.2.3 Escolas Monacais.............................................................. 20 1.2.4 Escolas Presbiterais........................................................... 21 1.2.5 Escolas Palatinas............................................................... 22 1.2.6 Escolas Episcopais............................................................ 23 1.2.7 O nascimento da Universidade.......................................... 24 1.3 A Universidade Católica no Brasil............................................... 28 1.3.1 Período Colonial: primeiras tentativas............................... 28 1.3.2 Período Imperial: escolas superiores profissionalizantes e isoladas.............................................................................. 40 1.3.3 Período Republicano: enfim, a Universidade brasileira!.... 45 1.3.3.1 A separação Estado-Igreja.................................... 50 1.3.3.2 A Reação Católica................................................. 57 1.3.3.3 A Universidade Católica: instrumento da Reação 63 1.4 A Pontifícia Universidade Católica de Campinas......................... 68 1.5 A Universidade confessional-comunitária e os desafios do ‘mercado educacional’ brasileiro.................................................. 76 CAPÍTULO II – EVANGELIZAÇÃO E PASTORAL NA UNIVERSIDADE CATÓLICA 2.1 Crise e renascimento da Universidade Católica (sec. XVI-XIX)... 81 2.2 A Universidade Católica no pensamento da Igreja antes do Concílio Vaticano II...................................................................... 84 2.3 A Universidade Católica e sua missão no Concílio Vaticano II... 92 2.4 A Universidade Católica e sua missão nos Documentos Pontifícios pós-conciliares.................................................................................. 102 2.5 A Universidade Católica e sua missão nas Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano.......................................................... 110 2.5.1 A Conferência do Rio de Janeiro............................................ 111 2.5.2 A Conferência de Medellín..................................................... 115 2.5.3 A Conferência de Puebla....................................................... 126 2.5.4 A Conferência de Santo Domingo.......................................... 131 2.5.5 A Conferência de Aparecida.................................................. 137 2.6 A Universidade Católica e sua missão nos Documentos da CNBB 146 2.7 A Universidade Católica na Igreja Particular de Campinas.............. 150 CAPÍTULO III – A PASTORAL DA IGREJA NA PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS 3.1 Pastoral: ação da Igreja no mundo................................................. 161 3.1.1 Modelos de ação pastoral na história da Igreja: alguns aspectos............................................................................... 166 3.2 Pastoral Universitária e Pastoral da Universidade: distinções e abrangências.................................................................................. 175 3.3 Pastoral Universitária na PUC-Campinas...................................... 187 3.4 A Paróquia Universitária................................................................. 200 3.5 Pastoral na Universidade ou Universidade em pastoral: desafios e perspectivas................................................................. 210 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 218 ANEXOS............................................................................................... 223 BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 225 12 INTRODUÇÃO No atual contexto histórico, marcado por transformações profundas de alcance e repercussões globais que caracterizam verdadeira mudança de época, a Instituição Universitária é atingida, como as demais instituições da sociedade. Com efeito, mudanças de época são períodos de perplexidade que afetam os critérios de compreensão da realidade e atingem os valores mais profundos a partir dos quais se definem identidades e se estabelecem ações e relações1. Ora, a Universidade Católica é desafiada a dar as razões de sua identidade e explicitar sua missão nesse cenário cada vez mais complexo e dirigido por uma racionalidade econômica perversa que tende a considerar todas as coisas como mercadoria, inclusive bens de valor inestimável como educação, saúde, lazer, cultura, religião e outros. E ainda mais, os mesmos critérios que regem as leis do mercado tendem a regular as relações humanas, familiares, sociais e religiosas. No âmbito educacional essa onda de mercantilização transforma a educação num produto; considera a Universidade uma empresa e seus gestores comerciantes; os educadores são reduzidos à categoria de prestadores de serviços e os estudantes são reputados como consumidores ou clientes2. Na esteira da mercantilização da educação multiplicam-se Instituições de Ensino Superior comprometidas tão somente com a preparação de mão-de- obra profissional para o mercado. Em geral essas IES não têm tradição, não se comprometem com a transformação da sociedade e tratam o conhecimento apenas como veículo de profissionalização sem preocupação com causas mais amplas ou discussões mais profundas acerca da realidade na qual estão inseridas. 1 Cf. CNBB. DGAE 2011-2015, n. 19-21; Cf. tb. CNBB. DGAE 2008-2010, n. 13. 2 Cf. TEIXEIRA, Evilázio F.B; AUDY, Jorge L. N.. Universidade católica: entre a tradição e a renovação. Cadernos Centro Coordenador Investigação da FIUC, Paris, v. 3, 2006, p. 113. 13 Ocorre que na perspectiva utilitarista do mercado compete à Universidade apenas formar indivíduos úteis à sociedade, outorgar-lhes um diploma e conformá-los ao círculo vicioso da produção e do consumo em larga escala. Por essa via a Universidade renuncia a seu papel de instância crítica da sociedade3. Entretanto, seguindo noutra direção, uma Universidade autêntica não se limita à geração de profissionais para o mercado. Ao contrário, empenha todos seus recursos na árdua tarefa da formação integral de pessoas que vão realizar atividades profissionais em diversas áreas de atuação, mas de forma consciente e crítica, buscando alcançar níveis de excelência humana, pessoal e profissional. Nesse cenário, a Universidade Católica, dividida entre a missão e os limites impostos pelo‘mercado educacional’, “[...] não sabe exatamente que direção seguir: formar para a vida ou para o mercado? Ou será que a vida se tornou mercadoria?”4 De fato, a tensão entre missão e mercado é permanente e não há como fugir. Daí a contradição se instala tantas vezes entre a ação pastoral no meio universitário e os ditames administrativos que regem as IESCs. Indaga-se, então, em que medida a Universidade Católica participa da ação evangelizadora da Igreja? Bem assim, como a Igreja compreende a Universidade Católica e o que espera dela? A Universidade, com efeito, ‘nasceu do coração da Igreja’5 no século XII e significou a culminância do empenho eclesial no campo educacional. Entretanto, em face da complexidade característica da realidade contemporânea e do contexto sócio-educacional atual indaga-se: a Universidade Católica continua pertinente e relevante para a Igreja? Estratégias como a Pastoral Universitária ou instâncias como a Paróquia Universitária são pertinentes e eficazes na tarefa da evangelização do mundo da cultura superior? 3 Cf. GOERGEN, Pedro. Ciência, sociedade e universidade. Educação e Sociedade, Campinas, Unicamp, v. 19, n. 63, p. 53-79, ago./1998. 4 TEIXEIRA, Evilázio F.B; AUDY, Jorge L. N.. Universidade católica: entre a tradição e a renovação, op. cit. p. 112. 5 Cf. ECE, n. 1 14 Movidos por essas interpelações buscamos, neste trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, compreender as origens e identidade da Universidade Católica, verificar como é sua participação na ação da Igreja e como se desenvolve a prática pastoral eclesial no seu interior. Resenhamos alguns elementos histórico-pastorais da evolução da Universidade Católica no Brasil e no mundo e refletimos como se desenvolve a articulação pastoral numa IESC em particular, a PUC-Campinas. No primeiro capítulo investigamos a história da Instituição Universitária desde suas origens remotas anteriores à configuração da Universidade Católica, para em seguida descobrir quais fatores contribuíram para o seu nascimento e como efetivamente ela nasceu. Investigamos também o desenvolvimento tardio da Universidade no Brasil e como a implantação da Universidade Católica no país correspondeu a um plano de reação da Igreja à crescente laicização da sociedade brasileira em fins do século XIX e início do século XX. No segundo capítulo verificamos em alguns documentos do magistério pontifício, do Concílio Vaticano II, do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB como se desenvolveu o pensamento eclesial sobre a Universidade Católica em diversos períodos da história, bem como as perspectivas de evangelização e pastoral no ambiente universitário apresentadas por esses textos oficiais da Igreja. E observamos como houve uma inflexão nesse pensamento sobre a Universidade do período anterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965) para a fase pós-conciliar, sobretudo na América Latina. No terceiro capítulo, explicitando alguns conceitos como ‘pastoral’, ‘paróquia’, ‘pastoral universitária’ e ‘pastoral da universidade’ refletimos como se desenvolve a ação da Igreja na Universidade Católica avaliando concretamente alguns aspectos da prática pastoral desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com seus limites, possibilidades e algumas perspectivas, em vista do permanente desafio da evangelização do mundo da cultura superior. 15 CAPÍTULO I A UNIVERSIDADE CATÓLICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E SUA PRESENÇA NO CONTEXTO SÓCIO-EDUCACIONAL BRASILEIRO 1. O Ensino Superior antes do surgimento das Universidades O Ensino Superior não se desenvolveu apenas na Idade Média, com o surgimento das universidades. A Antiguidade Clássica já conhecia um tipo de Ensino Superior praticado tanto na Grécia quanto em Roma6, e mesmo na China e na Índia, por meio de importantes escolas e de grande tradição pedagógica que atravessaram séculos formando seguidas gerações. O Ensino Superior dessa época ‘pré-universidades’ foi realizado, por exemplo, pela Escola de Buda (650-550 a.C.) na Índia e pela Escola de Confúcio (511-478 a.C.) na China. A escola de Pitágoras (582-500 a.C.), o Liceu de Aristóteles (384-322 a.C.) e as Escolas dos Sofistas se encarregaram do Ensino Superior na Grécia7. Em Roma a educação superior foi imitação da experiência grega, porquanto “[...] suas primeiras bibliotecas foram tomadas como despojos dos gregos, assim como os melhores dos seus primeiros mestres foram escravos ou refugiados da Grécia após a conquista romana”8. Horácio (65-8 a.C), grande poeta latino, registrou em seus versos que a “Grécia vencida conquistou, por sua vez, o rude vencedor, e levou a civilização ao bárbaro Latium”9. Há alguns registros históricos que apontam a existência de instituições denominadas de Universidades na Antiguidade. No entanto, o vocábulo latino universitas era então empregado com significado distinto do que o foi na Idade Média. 6 Cf. RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais In TUBINO, Manoel J. G. (org.) A universidade ontem e hoje. São Paulo: IBRASA, 1984, p. 15 7 Cf. ULMANN, R.; BOHNEN, A. A universidade das origens à Renascença. São Leopoldo: UNISINOS, 1994, p. 57-64. 8 MONROE, Paul. História da educação. 13ª ed. São Paulo: Nacional, 1978, p. 88 apud RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais, op. cit. 16. 9 GILLES, T. R. História da educação. São Paulo: EPU, 1987, p. 61. 16 Entre os romanos o termo universitas designava um colégio, uma associação. Na Idade Média aplicou-se a um conjunto de pessoas, usou-se como fórmula de tratamento no início das cartas, universitas vestra, ‘a todos vós’, que soava como a nossa fórmula ‘prezados senhores’, e também serviu para designar uma pessoa jurídica tal como universitas mercatorum, a corporação dos comerciantes. Desde o fim do século XII, à imitação das guildas dos mercadores, passou-se a falar das corporações de mestres e estudantes, universitas magistrorum et scholarium, que eram, com efeito, autênticos trabalhadores intelectuais.10 Houve, no entanto, algumas instituições de educação superior na Antiguidade que, por suas características, muito se aproximaram do conceito de universidade medieval. Uma delas foi o famoso Mouseion (Museu) de Alexandria11, uma instituição científica voltada para a investigação, na qual os sábios que eram pagos para fazer pesquisas também se dedicavam ao ensino. No segundo e terceiro séculos da era cristã outra instituição escolar de Alexandria se igualou à universidade medieval. Trata-se da “Escola Catequética denominada Didaskaleion12, onde brilharam luminares, como Panteno, Clemente de Alexandria e Orígenes, defensores da doutrina do Evangelho”13. Nessa Escola a filosofia grega serviu de propedêutica para a teologia, “[...] tomada como guia dos pagãos para Cristo”14. Um estreito enlace entre a filosofia e o cristianismo se estabelece na Escola Catequética de Alexandria [...], na qual os ensinamentos do platonismo, do estoicismo e os de Fílon 10 NUNES, Ruy A.C. História da educação na Idade Média. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979, p. 212 apud RIBEIRO DE CASTRO, J. S. Universidade, suas origens medievais, op. cit. p. 20 11 Fundado por Ptolomeu I (323-385 a.C.), o “[...] Mouseion (reunião de musas) apresentava-se suntuoso, a ponto de fazer inveja a muitos estabelecimentos de ensino modernos: tinha galerias cobertas, amplos corredores, sala de reuniões e conferências públicas, além de um grande refeitório. Nada lhe faltava como centro de investigação científica, pois contava com um observatório, um zoológico, jardins para aclimatar plantas, salas de dissecação e museus. Filólogos, homens de letras,humanistas e cientistas compunham o quadro docente. Os estudantes procuravam, de preferência, as escolas de medicina e matemática. Em três séculos, duas bibliotecas acumularam um acervo de setecentos mil volumes” ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 64-65. 12 “Por volta de 180, em Alexandria, um estóico que se converteu ao cristianismo, Panteno, fundou uma escola catequética, que estava destinada a encontrar seu máximo esplendor com Clemente e Orígenes” REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: antiguidade e Idade Média, Tomo I. São Paulo: Paulinas, 1990, p. 411-417. 13 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 14 GRABMANN, M. Filosofia medieval. Buenos Aires: Editorial Labor, 1928, p. 9 apud ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 17 encontraram cordial estima e utilização abundante, com vistas aos fundamentos da especulação e sistemática teológicas.15 Outra dessas instituições da Antiguidade, com traços característicos de Universidade, é a chamada ‘Universidade’ de Constantinopla, fundada no ano 425 da era cristã pelo imperador Teodósio II (401-450) para enfrentar a influência pagã. Em trinta e uma cátedras distribuídas em diferentes cursos se estudava gramática, filosofia, teologia, retórica e direito. Pouco lembrada é a ‘Universidade’ de Al-Azhar16 no Cairo, fundada em 988, na Idade Média, portanto. Essa foi uma instituição de Ensino Superior de grande importância em sua época, sobretudo no mundo muçulmano. Entretanto, por lhe faltar a agremiação de estudantes e mestres não é reconhecida como autêntica Universidade Medieval. O mesmo critério se aplica às outras instituições de Educação Superior da Antiguidade para não lhes atribuir o caráter de Universidade. 1.2 – Origens da Universidade Católica 1.2.1 – A Igreja e a educação: dos primórdios à Idade Média Desde os primórdios “os cristãos valorizaram a educação como meio de preservar e transmitir com fidelidade a herança cristã”17. As casas das famílias e as comunidades de fé foram seus primeiros espaços educativos. Com o passar do tempo foi-se organizando a catequese para aqueles que desejavam receber o batismo18. Após a celebração do batismo havia nova etapa de 15 GRABMAN, M. Filosofia medieval. Buenos Aires: Editorial Labor, 1928, p. 9 apud ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 65. 16 “Em 988, o vizir Yakub persuadiu o califa Aziz de que ministrasse instrução e alimentação a trinta e cinco estudantes da mesquita de Al-Azhar. Assim começou a mais antiga universidade, que foi crescendo sem cessar, atraindo mestres e alunos de todo o mundo muçulmano” GALINO, Maria Angeles. História de la educacion. vol. I. Madri: Gredos,1960, p. 461 apud ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p. 67. 17 MATOS, Alderi S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, Fides Reformata, São Paulo, vol. XIII, n. 2, jul-dez./2008, p. 13. 18 Nessa época, “[...] em vários lugares surgiram classes para catecúmenos, cuja instrução podia se estender até por três anos. Era um período de treinamento e de teste antes da aceitação plena na Igreja. Os candidatos deviam passar por três estágios: ‘ouvintes’ (interessados), ‘ajoelhados’ (aqueles que permaneciam para as orações depois que os ouvintes se retiravam) e ‘escolhidos’ (candidatos efetivos ao batismo)” MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit., p. 13. 18 instrução sobre os sacramentos e aprofundamento sobre outros elementos da fé cristã. A partir do século II essas escolas de catequese foram se expandindo, com currículos mais elaborados que incluíam a interpretação das Escrituras, regras de fé organizadas em forma de credo e instruções morais como as constantes na Didaquè19. Nesse período, [...] surgiram estruturas educacionais mais complexas, para pessoas de maior nível intelectual que queriam integrar o cristianismo com a tradição filosófica grega. [...] Um alvo importante era equipar os cristãos para compartilharem o evangelho com pagãos cultos.20 Como se pode notar, desde muito cedo a Igreja preocupou-se com a educação, envidando esforços para criar escolas e formar mestres competentes para o ensino, pois, [...] para poder propagar-se e manter-se, para poder assegurar não apenas seu ensino, mas o simples exercício do culto, a religião cristã exige, imperiosamente, ao menos um mínimo de cultura de letras. O cristianismo é uma religião douta, e não poderia existir num contexto de barbárie.21 Bem por isso, alguns expoentes da Igreja Antiga empenharam-se no ensino, como Gregório de Nissa (331-394), João Crisóstomo (344-407) e especialmente Santo Agostinho (354-430), que produziu obras muito importantes no campo da educação. De catechizandis rudibus (A instrução dos principiantes), De doctrina christiana (O ensino cristão) e De magistro (O 19 Didaqué significa ‘doutrina’ ou ‘Instrução’ dos apóstolos. De autor desconhecido teria sido redigida por volta do final do século I e “[...] contém instruções sobre o batismo (em caso de necessidade, o batismo por aspersão – em lugar da imersão – era autorizado), a oração (é preciso rezar o Pai-nosso três vezes por dia), o jejum (às quartas e sextas-feiras) e orações eucarísticas” FROHLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja, 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 19. 20 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 14 21 MARROU, Henri Irénée. Historia da educação na antiguidade. São Paulo: EPU, Brasília: INL, 1975, p. 481-482. 19 mestre) são alguns dos textos nos quais Agostinho apresenta um projeto de sociedade para sua época, fundamentado na educação22. Do século IV em diante o cristianismo foi assumindo um papel cada vez mais destacado na sociedade. A partir da queda do Império Romano, na segunda metade do século V, a Igreja se tornou “a força dominante na cultura ocidental e passou a assumir todas as atividades educacionais”23. 1.2.2 – As escolas da Idade Média A Idade Média é o período em que “[...] germinam e crescem a cultura e a civilização européias, nascidas da matriz cristã”24. Alguns elementos constitutivos da civilização ocidental, como o direito internacional, hospitais, previdência, princípios fundamentais do sistema jurídico e outros devem ao cristianismo e à Igreja a sua origem e desenvolvimento25. A organização do ensino na Idade Média, e mais tarde do sistema universitário, são igualmente obras da Igreja. No período compreendido entre os anos 500 e 1.000 d.C. as escolas da Igreja – monacais, presbiterais, palatinas e episcopais – foram os espaços mais destacados de educação formal, constituindo-se nos “[...] principais centros de atividade intelectual, reservados em especial para os jovens que ingressavam nas ordens [religiosas]”26. A maioria analfabeta da população, por sua vez, era instruída por meio do simbolismo religioso nas inúmeras festas e solenidades litúrgicas distribuídas ao longo do ano. 22 “[...], para Santo Agostinho, a leitura, a matemática, a natureza, a música, o conhecimento das línguas e a memória tornam-se condição primeira para a conversão do cristão. O cristão deve ser antes de tudo um ser que consegue entender e interpretar os escritos sagrados pelo conhecimento e não somente pela fé. [...] o conhecimento torna-se elemento essencial do cristianismo. [...] Em síntese, o programa agostiniano tem como finalidade ensinar as palavras sagradas, mas para se conhecê-las e interpretá-las é necessário conhecer o saber produzido pelos homens ao longo da sua história. A história e a ciência produzidaspelo homem tornam- se instrumentos vitais para a conversão” OLIVEIRA, Terezinha. Agostinho e a educação cristã: um olhar da história da educação. Notandum, São Paulo, FE-USP, n. XVII, jul-dez./2008, p.12. 23 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 14. 24 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 23 25 Cf. WOODS JR. T. E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. 2ª. ed. São Paulo: Quadrante, 2008. 26 MATOS, A. S. Breve história da educação cristã: dos primórdios ao século 20, op. cit. p. 15. 20 1.2.3 – Escolas monacais A partir do século IV surgiram as escolas monacais, fundadas por monges, nas quais a educação era destinada quase exclusivamente aos noviços, futuros membros da vida monástica. Enquanto no Oriente a formação oferecida por essas escolas era mais espiritual que intelectual, no Ocidente a preocupação não era tanto a acesse, mas a cultura geral através da educação27. Com São Bento (480-543), “[...] o movimento monástico atingiu a culminância”28. Itália, França, Irlanda, Alemanha, Espanha e Hungria viram surgir diversos mosteiros, nos quais os monges dedicavam-se à vida religiosa austera e, ao mesmo tempo, tinham ao seu cuidado inúmeras escolas “[...] para educação literária e religiosa dos jovens”29. Nesse período, os mosteiros e as escolas monásticas tornaram-se verdadeiros centros de ensino, que influenciaram em larga medida a vida, a cultura, o pensamento político e religioso da civilização ocidental30. “Mesmo nos dias mais sombrios o mosteiro ocidental permaneceu como um foco de cultura”31. De fato, sob diversos aspectos, [...] a contribuição monástica para a civilização ocidental foi imensa. Os monges ensinaram as técnicas da metalurgia, introduziram novos plantios, copiaram textos antigos, preservaram a educação, foram pioneiros em tecnologia, inventaram o champanhe, mudaram a paisagem européia, acudiram aos viajantes, resgataram extraviados e náufragos.32 27 São Pacômio (292-342), São Basílio (330-379) e São Jerônimo (347-419) destacaram-se na organização da educação no Oriente, enquanto Santo Agostinho (354-430), São Martinho, São Patrício (+465) e São Bento (480-543) o fizeram no Ocidente. Cf. ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 24-26. 28 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 26. 29 Ibid. p. 27. 30 “Conquanto São Bento não tivesse em mente fundar uma Ordem de sábios, de fato os mosteiros se converteram em portos, onde se salvaram do naufrágio os restos das letras romanas e de muitos Santos Padres, que, de outro modo, ter-se-iam perdido, irremediavelmente, para sempre. Até o século XII, os beneditinos têm em suas mãos o ensino da Europa, quase com exclusividade” ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 26, nota 13. 31 MARROU, H. I. Historia da educação na antiguidade, op. cit. p. 508. 32 WOODS JR. T. E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental, op. cit. p. 44. 21 E, além disso, somente graças ao trabalho hábil e persistente de incansáveis monges copistas foi possível a preservação da Bíblia ao longo dos séculos. 1.2.4 – Escolas presbiterais Das escolas presbiterais ou paroquiais há poucos registros históricos. Sabe-se, no entanto, que o II Concílio de Vaison, convocado por São Cesário de Arles (470-543), no ano de 529, determinou que [...] todos os párocos rurais eram obrigados a receber meninos em sua casa canônica, a fim de educá-los cristãmente e ensinar-lhes os Salmos e as Escrituras, com o objetivo de serem dignos sucessores no trabalho paroquial.33 Isso significa que essas escolas nasceram para formar os futuros sacerdotes, uma vez que ainda não havia seminários constituídos para essa finalidade na Igreja. Ao longo do tempo, no entanto, essas escolas passaram a admitir também alunos que não tivessem necessariamente vocação para o sacerdócio, especialmente filhos de nobres cujos pais desejavam vê-los bem preparados para o cuidado da administração temporal. A educação nessas escolas consistia, fundamentalmente, no conhecimento da Sagrada Escritura em vista do ministério pastoral a ser exercido no futuro. Aos alunos bastava saber “[...] ler, escrever, contar, conhecer a Bíblia, saber de cor os Salmos (se possível), um pouco de erudição doutrinal canônica e litúrgica”34. Essas escolas resolveram de maneira bem prática a questão da formação dos futuros clérigos. Nos anos seguintes, outros concílios regionais seguiram disciplinando o estabelecimento de escolas paroquiais para garantir a conveniente formação do clero e a continuidade dos serviços do ministério presbiteral na Igreja. Assim 33 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 29-30. 34 Ibid. 22 foram, por exemplo, o II Concilio de Toledo35 em 527 e o Concílio de Mérida36 em 666. 1.2.5 – Escolas Palatinas As escolas nascidas no palácio, também chamadas palatinas, “[...] tinham esse nome por se localizarem junto às cortes, onde estudavam os filhos dos nobres”37. Foram criadas pelos reis merovíngios38, a partir do final do século V, para educação dos nobres francos. O imperador Carlos Magno (768-814), restaurou as escolas palatinas, no conjunto de iniciativas promovidas para unificação da Europa contra a ameaça constante de invasões de outros povos. A dinastia carolíngia promoveu o chamado ‘renascimento carolíngio’, uma profunda reforma intelectual que, inclusive, atingiu a Igreja e sua liturgia. Para deter a decadência da liturgia dos países da antiga Gália, Carlos Magno introduz e impõe em seu reino os livros da liturgia romana [...] Para os fiéis, que não compreendem mais o latim, a missa se transformou num espetáculo misterioso e sagrado. [...] O padre passa a celebrar a missa de costas para as pessoas e recita o cânon em voz baixa. As missas privadas se multiplicam.39 35 Em Toledo “[...] a primeira decisão conciliar diz respeito à educação dos candidatos ao sacerdócio e determina: ‘Aqueles que, desde a infância, foram destinados por seus pais ao estudo eclesiástico, logo depois de terem recebido a tonsura ou o ministério de leitor, devem ser educados por um preposto numa residência da Igreja sob a vigilância do bispo” NUNES, Rui A. C. História da educação na Idade Média. 2006. Disponível em: <htt://documentacatholicaomnia.eu/> Acesso em: 13.out.2009 36 “O cânon XVIII [do Concílio de Mérida ou Concilium Emeritense] dirige-se diretamente aos párocos, lembrando-lhes que, [...] por estarem preocupados com o recrutamento de clérigos que lhes servissem de coadjutores, o santo sínodo havia resolvido que todos os párocos, parochitani presbyteri, escolhessem na localidade os clérigos que passariam a viver na sua igreja e os educassem com toda boa vontade, de tal modo que pudessem cumprir dignamente o santo ministério e dispusessem das habilidades imprescindíveis ao serviço paroquial." NUNES, Rui A.C. História da educação na Idade Média, op. cit. 37 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 34. 38 Da dinastia merovíngia, cujo nome deriva do rei Meroveu (420-457), antepassado de Clóvis (481-511), o chefe bárbaro que se fez batizar cristão juntamente com três mil guerreiros no ano de 496 e que unificou o povo franco no século V, antes dividido em tribos. 39 COMBY, Jean. Para ler a história da Igreja: das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1993, p. 125. 23 Além disso, o imperador Carlos Magno ressaltou a autoridade dos bispos – considerados como altos funcionários do império – e indicou caminhos para uma formação mais consistente do clero, num período em queas paróquias estavam praticamente nas mãos dos senhores feudais. Em seu empenho de reformas, Carlos Magno mandou construir escolas nos mosteiros, nas catedrais e na sua própria corte, impulsionando grande desenvolvimento cultural na Europa. As escolas palatinas, confiadas a eclesiásticos, admitiam indistintamente clérigos e leigos, filhos da nobreza. 1.2.6 – Escolas episcopais Também chamadas de ‘escolas catedrais’ ou ‘catedralícias’ as escolas episcopais, cujo início remonta ao século VI, “[...] situavam-se junto às sedes episcopais e visavam, sobretudo, à formação de padres”40, pois [...] para assegurar o recrutamento normal de seu clero, tornou- se realmente necessário que os próprios bispos tomassem a responsabilidade não apenas de sua formação técnica, mas também de sua instrução literária elementar: foi assim que nasceu e se generalizou a escola episcopal [...].41 No período carolíngio essas escolas conheceram grande desenvolvimento, mas foi no século XII que atingiram o auge, constituindo-se na “[...] ante-sala para o surgimento das universidades”42. É consenso entre os historiadores apontar que o surgimento da Universidade – propriamente considerada como instituição de Ensino Superior reconhecida na sociedade –, se deu somente nos séculos XII e XIII, a partir dessas escolas episcopais ou catedralícias da Idade Média, que se multiplicaram na Europa desde os últimos anos do século XI. Os prelados mais eruditos e mais eficientes que a reforma da Igreja designou para as inúmeras sedes episcopais dedicaram- se a dotar suas catedrais de escolas ativas para formar os clérigos instruídos de que tinham necessidade; na direção dessas escolas foram colocados escoliastas competentes e ativos. Foi assim que, desde a primeira metade do século XII, a 40 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p.31. 41 MARROU, H. I. Historia da educação na antiguidade, op. cit. p. 510. 42 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op. cit. p.31. 24 maioria das catedrais do norte da França [...] possuíram uma escola permanente de bom nível onde eram ensinadas as Artes Liberais e a Sagrada Escritura.43 Aos poucos, essas escolas episcopais receberam, também, entre seus alunos, leigos das classes superiores ou profissionais e se multiplicaram pela Itália, França, Inglaterra, Alemanha e Espanha. Nessas escolas, “[...] o ensino se compunha do trivium e do quadrivium, isto é, de matérias realistas e humanistas, e dos Evangelhos ou teologia”44. Trivium (retórica, dialética e gramática latina) e Quadrivium (geometria, música, astronomia e aritmética) eram as chamadas Sete Artes Liberais45 que formavam o currículo básico de todas as áreas do conhecimento, completado com estudos adequados à especificidade de cada área. 1.2.7 – O nascimento da Universidade Ao longo dos séculos XII e XIII um complexo de fatores sócio- econômicos, políticos e culturais, inter-relacionados, concorreram para o nascimento da Universidade como instituição de Ensino Superior. No século XII houve significativo renascimento das cidades, impulsionado, sobretudo, pela expansão do comércio. Havia muito tempo que uma nova força social se organizava no interior da sociedade medieval, constituída pelos habitantes dos burgos, as fortificações que deram origem às cidades medievais. No início do século XII os termos mercador e burguês eram usados para identificar tanto o comerciante quanto o habitante das cidades46. 43 CHARLE, Christophe; VERGER, Jacques. História das universidades. São Paulo: UNESP, 1996, p. 14. 44 LUZURIAGA Y MEDINA, Lorenzo. Historia da educação e da pedagogia. 2ª ed São Paulo: Nacional,1963, p. 81. 45 As Artes Liberais “[...] representam nas escolas medievais o grau literário [trivium] e o grau científico [quadrivium]. Denominam-se artes liberales, porque dizem respeito aos homens livres, cultores do espírito, em oposição às artes illiberales, típicas do labor físico, corporal. [...] Nelas, resumia-se, até o século VII, todo o ensino da literatura e das ciências. Depois, gradativamente, foram introduzidos elementos de filosofia, teologia e direito” ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 36. 46 Cf. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986, p.27. 25 O desenvolvimento das cidades no período medieval está diretamente relacionado com a atividade comercial desses mercadores que, a partir do século XII, foram intensificando sua ação, sobretudo nas grandes feiras que então se realizavam. As Cruzadas – incursões militares na Terra Santa com motivação religiosa, econômica e política – serviram de grande impulso ao comércio da época47 ao liberar o Mediterrâneo do poder muçulmano. Além disso, as Cruzadas possibilitaram contato direto com a cultura oriental, despertando a curiosidade pelo estudo científico e estimulando o gosto pela universalidade do conhecimento. Um dos efeitos mais importantes da expansão do comércio foi o crescimento das cidades. Nesse período, “[...] surgiam cidades nos locais em que duas estradas se encontravam, ou na embocadura de um rio, ou ainda onde a terra apresentava um declive adequado”48. Nesses lugares os mercadores procuravam se estabelecer e, paulatinamente, viram crescer sua organização e influência no interior da sociedade feudal, até transformá-la totalmente. Sem dúvida, havia certo tipo de cidades antes desse aumento no comércio, os centros militares e judiciais do país, onde se realizavam os julgamentos e onde havia bastante movimento. Eram realmente cidades rurais, sem privilégios especiais ou governo que as diferenciassem. Mas as novas cidades que se desenvolveram com a intensificação do comércio, ou as antigas cidades que adotaram uma vida nova sob tal estímulo, adquiriram um aspecto diferente.49 Nessas novas cidades as relações estabelecidas entre seus habitantes eram distintas daquelas havidas entre suseranos e vassalos, senhores e servos, características da hierarquia feudal. Nelas a população queria liberdade de ir e vir, de praticar a justiça, elaborar suas próprias leis, estabelecer seus próprios impostos e comerciar seus produtos. 47 No período compreendido entre os séculos VIII e X foram realizadas 34 peregrinações ou incursões à Terra Santa; somente no século XI foram 117 incursões, motivadas por interesses religiosos sinceros, no entanto, mesclados com interesses econômicos como a posse da terra, despojos de guerra e outros bens. Cf. HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p.16-25. 48 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 26. 49 Ibid. 26 O renascimento urbano, decorrente da expansão das relações comerciais, suscitou novos padrões de comportamento, bem como propiciou ao homem medieval o desenvolvimento de uma nova cosmovisão. “O século XI viu o comércio evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transformar-se em conseqüência disso”50. Nesse contexto, as escolas monacais, típicas do ambiente agrário medieval, perderam espaço para as escolas episcopais ou catedralícias, situadas na cidade. No entanto, elas também não conseguiram satisfazer a demanda de conhecimento que o momento exigia. Em face dos novos contributos para a ciência, trazidos pelos árabes e, depois, pelas cruzadas, nos campos da matemática, astronomia, filosofia e medicina, o corpus das artes liberais mostrava-se muito pequeno. Urgia criar novas escolas, de pretensões mais amplas, que serão as universidades. [...] as artes liberales, transformadas em programas de nível secundário, passaram à categoria de propedêuticaspara o nível superior.51 Se os mosteiros e as catedrais, com suas escolas, “[...] são as duas colunas sobre as quais se apóiam os arcos da cultura na Idade Média”52, a Universidade ocupará esse lugar na Baixa Idade Média, a partir dos séculos XII e XIII. Formando a elite cultural, os conselheiros dos reis e dos príncipes, os educadores, os Papas, Bispos e sacerdotes, os responsáveis pelo exercício da justiça e pela ordem pública, a Universidade exerceu na história do Ocidente, desde os seus inícios, a missão de dirigir intelectualmente os espíritos, criando ao mesmo tempo as condições para o desenvolvimento humano em todos os domínios da vida política, artística e social.53 Na Baixa Idade Média, período compreendido entre os séculos XIII e XV, ocorreram profundas mudanças econômicas, religiosas, políticas e culturais, que propiciaram o nascimento da Universidade. Os fundamentos da sociedade 50 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 18 51 ULMANN, R.; BOHNE, A. A universidade das origens à Renascença, op.cit. p. 37. 52 Ibid. p. 38. 53 CRIPPA, Adolpho. O problema da Universidade. São Paulo: Convívio, 1966, p. 59-60. 27 medieval estavam em transição. O regime feudal, característico da Alta Idade Média, fundado nas relações de poder entre suseranos e vassalos, baseado na agricultura e que não permitia a mobilidade social, estava em crise. Os comerciantes – que ao lado de cambistas e banqueiros formavam o grupo dos emergentes – representavam nova configuração social e econômica e se organizaram em poderosas corporações ou ligas para se contrapor às “[...] restrições feudais que os asfixiavam [...], a fim de conquistar para suas cidades a liberdade necessária à expansão contínua”54. [...] o renascimento das cidades e, com ele, o aparecimento de uma nova classe social, a burguesia, realizaram profundas modificações na organização da vida política, espiritual, social e econômica. As cidades se tornaram lugares de concentração, não somente para a troca internacional de mercadorias, mas também para as comunicações intelectuais e a discussão de idéias que irão repercutir na vida escolar.55 A Universidade surgiu nesse cenário como universitas magistrorum et scholarium, ou seja, associação ou corporação de professores e estudantes, como “[...] uma comunidade de vida e de interesses”56, realizando no campo da educação e da cultura o que outras categorias já realizavam em suas áreas de atuação. Nas escolas da Igreja, dependentes dos bispos, havia muitos conflitos entre chanceleres (delegados dos bispos), professores e alunos. [...] as divergências entre mestres e alunos, de um lado, e o chanceler, do outro, são inúmeras, provocadas por questões relativas às horas de aulas, exames escolares, férias, habitação. Nada mais natural que mestres e alunos se reunissem numa grande corporação capaz de representar seus interesses57. 54 HUBERMAN, L. História da riqueza do homem, op. cit. p. 28. 55 TOMÉ, Marcia Eliane Fernandes. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais. Horizonte, Belo Horizonte, PUCMG, v. VII, n. 13, p. 169-170, dez./2008. 56 CRIPPA, A. O problema da Universidade, op. cit. p. 53. 57 Ibid. p. 54. 28 1.3- A Universidade Católica no Brasil No Brasil a Universidade nasceu tardiamente. Apesar das inúmeras tentativas de criação de instituições universitárias, ao longo dos primeiros séculos da história nacional, as primeiras Universidades brasileiras surgiram, efetivamente, nos albores do século XX. Embora a educação tenha sido sempre uma das prioridades da Igreja no país, a Universidade no Brasil nasceu laica, estatal e pública. Para uma melhor compreensão das origens da Universidade no Brasil normalmente seu desenvolvimento é apresentado em três períodos distintos: colonial (sec. XVI-XVIII), imperial (sec. XIX) e republicano (sec. XX em diante). 1.3.1 – Período colonial: primeiras tentativas O processo de colonização empreendido por Portugal no Brasil implicava “[...] uma política de controle a toda iniciativa que possibilitasse uma independência cultural da Colônia”58. Na questão do estabelecimento de Universidades as resistências foram muitas e diversas, inclusive por parte de alguns brasileiros que não viam justificativa para a criação de instituições universitárias no país, uma vez que lhes parecia mais apropriado enviar seus filhos para cursar estudos superiores na Europa, especialmente em Coimbra. Ora, “[...] Portugal, através da Universidade de Coimbra, exerceu, até o final do Primeiro Reinado, uma grande influência na formação de nossas elites culturais e políticas”59. Até a primeira metade do século XIX cerca de 2.500 estudantes nascidos no Brasil se graduaram em Coimbra e, por essa razão, eram considerados mais portugueses que brasileiros, pois “[...] o brasileiro da Universidade de Coimbra não era um estrangeiro, mas um português nascido no Brasil, que poderia mesmo se fazer professor da Universidade”60. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), estadista brasileiro cognominado 58 FÁVERO, Maria de Lourdes A. A Universidade brasileira em busca de sua identidade. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 20. 59 Ibid. 60 TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969. Rio de Janeiro: FGV, 1989, p. 65 29 ‘Patriarca da Independência’, que estudou e foi professor em Coimbra, é um bom exemplo dessa ambigüidade, ao qual se somam vários outros brasileiros considerados ‘portugueses nascidos no Brasil’. Outro fator que teria contribuído para a criação tardia de Universidades no Brasil seria o fato de Portugal, à época do descobrimento e durante muito tempo depois, não dispor de recursos docentes para tarefa tão grande. A Espanha, no século XVI, com uma população de nove milhões de pessoas, possuía oito Universidades, sendo a de Salamanca a mais importante delas, considerada uma instituição de grande porte para a época, com seis mil alunos e sessenta cátedras. Portugal, por sua parte, com uma população de um milhão e meio de pessoas, tinha em Coimbra a única Universidade de porte e, em Évora, outra bem menor61. Na raiz das diferenças entre Portugal e Espanha, no tocante ao desenvolvimento da instituição universitária, estaria certo distanciamento cultural de Portugal em relação à Europa. Por estar geograficamente localizado na extrema periferia da Europa Ocidental, Portugal não se comunicava bem com o restante do Continente e isso teria sido uma das causas da inferioridade portuguesa em relação à cultura européia62. Ora, [...] no que concerne à Universidade portuguesa, não encontramos nas origens do movimento universitário português, o renascimento urbano, como condição responsável pela solidariedade que ligou a evolução da vida cultural às transformações da vida social. [...] enquanto o sistema histórico europeu se deixava completamente renovar pelas poderosas influências do urbanismo, Portugal, desgarrado do sistema, insistentemente conservador, continuara comprometido com a arcaica influência do agrarismo. Sua vida econômica era tipicamente rural. Sua vida social se caracterizava como uma associação vasta de lavradores.63 61 Cf. CUNHA, Luiz Antonio. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986, p. 13. 62 Cf. TOMÉ, M. E. F. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais, op. cit. p. 171. 63 Ibid. 30 A Universidade de Coimbra, criada no século XIII, em 1290, cuja história praticamente remonta aos inícios da nação portuguesa64, se ressente das condições sociais que estiveram presentes nas origens das outras Universidadesda Europa, notadamente o renascimento urbano e o renascimento cultural do século XII65, que reconfiguraram as relações sociais da época. Isso a impediu de contribuir efetivamente para a integração de Portugal no mundo da cultura européia nesse rico período histórico. No século XV, “[...] às margens do meio intelectual europeu, Portugal se lança ao mar para a descoberta geográfica do mundo, sem antes ter completado a descoberta cultural da Europa”66. Fatores sociais, econômicos, políticos e religiosos diversos provocaram profundas mudanças no mundo ao longo dos séculos XIV, XV e XVI. Nesse período, a antiga harmonia da ordem medieval entrou em crise e não resistiu. A sociedade medieval, antes organizada de forma “[...] dicotômica, composta por senhores feudais no topo da pirâmide e os servos da gleba na base”67, sucumbiu. O surgimento de nova classe econômica, representada pela burguesia mercantil; o advento da imprensa que ampliou a difusão cultural; o advento de grandes invenções, como a bússola que permitiu longas viagens marítimas com segurança e a conquista do Novo Mundo; bem como a Reforma Protestante que cindiu o mundo religioso, são alguns dos fatores responsáveis pelas grandes transformações do mundo à época. 64 Em 1288 foi elaborada uma Súplica ao Papa Nicolau IV, datada de 17 de novembro, assinada pelos abades dos Mosteiros de Alcobaça, Santa Cruz de Coimbra e São Vicente de Lisboa e pelos superiores de 24 igrejas e conventos do Reino português, solicitando a fundação de um ‘Estudo Geral’ e firmando o compromisso de que aquelas instituições religiosas assumiriam a garantia de seu financiamento. Em 1º de março de 1290, D. Diniz assina o decreto de Criação do ‘Estudo Geral Português’, confirmado a 9 de agosto do mesmo ano pelo Papa Nicolau IV. Com os cursos de Artes, Direito Canônico, Direito Civil e Medicina o ‘Estudo Geral’ começou a funcionar em Lisboa. Em 1308 transferiu-se para Coimbra; em 1338 voltou para Lisboa; em 1354 transferiu-se novamente para Coimbra; em 1377 voltou novamente para Lisboa; por fim, em 1537, foi definitivamente instalado em Coimbra. Cf. UNIVERSIDADE DE COIMBRA. História da Universidade de Coimbra (secs. XIII-XVI). Disponível em: <http://www.uc.pt/informacoessobre/universidadecoimbra/historiauniversidade/> Acesso em: 02.fevereiro.2010. 65 Cf. TOMÉ, M. E. F. Universidade brasileira: um legado dos tempos medievais, op. cit. p. 171. 66 Ibid. p. 172. 67 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas. Santa Maria/RS: UFSM, 1989, p.38. 31 A burguesia mercantilista, imbuída de uma mentalidade pré-capitalista, acumulava capital na expansão do comércio e subsidiava a empreitada das grandes viagens marítimas e dos descobrimentos ultramarinos, almejando o controle do comércio nesses novos lugares. Assim é que, em 1500, os portugueses aportaram no Brasil, com uma proposta colonizadora muito clara em relação às terras e populações encontradas. Tratava-se de transferir para o Novo Mundo sua cultura, instituições, religião, idiossincrasias, modo de vida, sistema educacional, entre outros valores. Com a aliança entre a emergente burguesia mercantilista portuguesa, a monarquia e a Igreja, [...] o descobrimento terá uma dupla finalidade: conquistar e converter. [...] Conquista-se para o reino de Portugal e converte-se para o catolicismo. É a união entre a Cruz e a espada. O Estado conquista. A Igreja converte. [...] No Novo Mundo deve-se recuperar para a Igreja Católica as perdas sofridas no continente Europeu.68 Aos jesuítas – membros da então recém-criada Companhia de Jesus –, caberá a tarefa da evangelização e da educação na nova possessão portuguesa na América. Criada por Inácio de Loyola (1491-1556), juntamente com alguns companheiros estudantes, essa ordem religiosa nasceu em Paris, na Capela de Montmartre, em 1534, e recebeu a aprovação do Papa Paulo III (1534-1549) em 27 de setembro de 1540. Pouco tempo depois, Dom João III (1521-1557), rei de Portugal, convidou a Companhia de Jesus para se estabelecer no país e enviar missionários para a nova colônia. Em 1549, juntamente com o primeiro Governador Geral, Tomé de Souza (1515-1579), chegaram os primeiros seis missionários jesuítas ao Brasil, liderados pelo padre Manuel da Nóbrega (1517-1570). “Antes mesmo de passada a primeira quinzena após sua chegada, abriam os jesuítas a primeira ‘escola de ler e escrever’ de que se tem notícia [no Brasil]”69. No ano seguinte, vieram mais quatro missionários “[...] trazendo consigo sete meninos órfãos, recolhidos em Lisboa e já doutrinados, para auxiliarem os missionários na obra 68 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas, op. cit. p.39. 69 MATTOS, Luiz Alves de. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570). Rio de Janeiro: Aurora, 1958, p. 45. 32 incipiente da catequese”70. Durante os dois séculos que se seguiram, os jesuítas foram os principais educadores do Brasil e grandes responsáveis pela formação cultural da nação brasileira. El-Rei Dom João III confiava a esses primeiros dez missionários jesuítas o êxito de sua nova empresa colonizadora no tocante à conversão dos gentios, naturais da terra. Por essa razão, eram eles objeto de sua especial solicitude; provia-os de alimento, vestuário e de tudo o mais que solicitassem [...].71 A partir de 1564, com a criação do chamado Padrão de Redízima, a Coroa Portuguesa passou a subsidiar intensamente o trabalho da Companhia de Jesus. A partir daí, “[...] dez por cento de toda arrecadação dos dízimos [ou impostos] reais em todas as capitanias da colônia e seus povoados ficariam, in perpetuum, vinculados à manutenção e sustento dos colégios da Companhia de Jesus”72. Com isso, ficava garantida aos colégios uma condição econômica segura e estável, com vistas ao seu amplo desenvolvimento, possibilitando aos missionários que se dedicassem exclusivamente à tarefa do apostolado e do ensino. Ora, no período colonial, educação, cultura e catequese estavam imbricadas, de forma que se catequizava e se educava a um só tempo, cuidando de inserir todos na cultura e nos valores vigentes em Portugal. Nessa perspectiva, o processo civilizatório cabia à educação, pois, “[...] civilizar o índio significava fazer dele um cidadão europeu: convertê-lo para os valores da civilização européia”73, apresentada como paradigma para os povos colonizados. Os Regimentos do rei D. João III, entregues a Tomé de Souza, contendo as instruções e as diretrizes básicas sobre a política de colonização a ser implantada no Brasil, se referiam explicitamente à necessidade da conversão dos indígenas à fé cristã e sua inserção na cultura portuguesa por meio da 70 MATTOS, L. A. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 35. 71 Ibid. p. 36. 72 Ibid. p. 134. 73 ROSSATO, Ricardo. Universidade: reflexões críticas, op. cit. p. 42. 33 ação catequética e educativa. Disso dependeria, fundamentalmente, o êxito da empresa colonizadora, [...] pois que, somente pela aculturação sistemática e intensiva do elemento indígena aos valores espirituais e morais da civilização ocidental e cristã é que a colonização portuguesa poderia lançar raízes definitivas no solo fecundo [...] do novo mundo.74 Além dos indígenas também os filhos dos colonos foram alvos da ação pedagógico-educacional dos jesuítas, afinal, eles eram os únicos educadores disponíveis na Colônia. A política educacional do Pe. Manuel da Nóbrega contemplava a fundação de Recolhimentos para a educação dos mamelucos, órfãos e filhos dos chefes indígenas. Esses Recolhimentos funcionavam como externados para os filhos dos colonos brancos que, neles, participavam das mesmas aulas que os curumins e mamelucos,mas não moravam ali. No entanto, não demorou a educação jesuítica a se bifurcar em dois seguimentos, reservando aos indígenas o aprendizado profissional e agrícola, enquanto os filhos dos colonos recebiam aulas de gramática e eram preparados para prosseguir os estudos na Europa. Enquanto os indígenas eram catequizados, os filhos dos colonizadores eram instruídos, de forma que os colégios jesuíticos foram importante instrumento na formação da elite colonial75. Com o tempo, a educação jesuítica se transformou num símbolo distintivo de classe, almejado por quantos desejavam adquirir status, um “[...] processo para assegurar os privilégios de uma ordem social fechada, imóvel e rígida”76, de maneira que [...] já não era somente pela propriedade da terra e pelo número de escravos que se media a importância ou se avaliava a situação social dos colonos: os graus de bacharel e os de mestre em artes (dados pelos colégios) passaram a exercer papel de escada ou de ascensor, na hierarquia social da 74 MATTOS, L. A. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 31. 75 Cf. RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a organização escolar. 19ª ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2003, p. 21-23. 76 TEIXEIRA, Anísio. Ensino Superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969, op. cit., p. 58. 34 Colônia, onde se constituiu uma pequena aristocracia de letrados, futuros teólogos, padres-mestres, juízes e magistrados.77 Ora, do século XVI ao XVIII, ao longo de 210 anos, os jesuítas foram os grandes responsáveis pela educação formal que se produziu no Brasil. Desde a constituição da primeira escola oficial no país, o Colégio dos Meninos de Jesus78, no final de 1549, até a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias pelo Marquês de Pombal, em 1759, a Companhia de Jesus desenvolveu uma vasta obra educativa no Brasil. Apenas duas décadas após sua chegada os jesuítas já contabilizavam cinco escolas de instrução elementar localizadas em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, além de três colégios, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e na Bahia. Em 1759, quando de sua expulsão do Brasil, eram cerca de 670 religiosos, padres e irmãos, que detinham um vasto patrimônio educacional e religioso, incluindo 25 residências, 36 missões indígenas, 17 colégios e seminários, além de escolas elementares instaladas em todas as cidades onde houvesse casas da Companhia de Jesus79. O êxito do trabalho educacional jesuítico no Brasil Colônia se deve, sobretudo, à chamada Ratio Studiorum, promulgada em 1599, que consistia basicamente num “[...] conjunto de normas criado para regulamentar o ensino nos colégios jesuíticos [...] [e que] tinha por finalidade ordenar as atividades, 77 AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira. Tomo II. São Paulo: Melhoramentos, 1953, p. 31 apud ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930/1973). 27ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 36. 78 “O movimento e matrículas dessa primeira instituição escolar do norte do Brasil era restrito devido à estreiteza das acomodações. Desde a construção do Colégio em fins de 1549, nunca contou com mais de vinte e cinco alunos internos entre órfãos, índios e mamelucos. Estes recolhidos eram criteriosamente selecionados entre os melhores [...] Além dos alunos internos, freqüentavam também as aulas de ler e escrever alguns externos, filhos dos colonos portugueses. [...] O Colégio dos Meninos de Jesus da Bahia era assim, pela altura de 1552, um centro de jovens e ardorosos catequistas que, pelo estudo, pela pregação da doutrina e pelo exemplo da auto-flagelação, procuravam difundir a fé católica e a piedade cristã não somente entre os índios, mas também entre os colonos portugueses.” MATTOS, L. A. Primórdios da educação no Brasil: o período heróico (1549-1570), op. cit. p. 51-52. 79 Cf. NASCIMENTO, Maria Isabel Moura et. al. Instituições escolares no Brasil colonial e imperial in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. ; NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela história da educação brasileira. Campinas/SP: FE-Unicamp/HISTEDBR, 2006. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_075.html> Acesso em: 10.fev.2010. 35 funções e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas”80. De acordo com a Ratio Studiorum os estudos dividiam-se em dois graus: studia inferiora (estudos inferiores) que compreendiam aulas de gramática latina e grega, entre outras disciplinas, distribuídas por até sete anos de ensino e studia superiora (estudos superiores) que correspondiam aos cursos de filosofia, com duração de três anos, e de teologia, com quatro anos. No Brasil, esses níveis de estudo se desdobravam em quatro graus de ensino, configurados como curso elementar, curso de humanidades, curso de artes e curso de teologia, oferecidos nos colégios e nos seminários administrados pela Companhia81, de acordo com a pedagogia da Ratio Studiorum, baseada na unidade de professor, unidade de método e unidade de matéria82. De posse de método tão eficiente como a Ratio Studiorum e, em face dos resultados obtidos em seus propósitos educacionais na Colônia, os jesuítas solicitaram diversas vezes ao Papa e ao Rei de Portugal a criação de uma Universidade no Brasil. Desejavam, na verdade, equiparar o ensino administrado nos seus colégios brasileiros aos estudos idênticos realizados na metrópole portuguesa, conferindo os mesmos títulos e direitos outorgados aos alunos que se formavam em Portugal aos que se formassem no Brasil. A partir da segunda metade do século XVII, sobretudo, se iniciou um continuado processo de reivindicação visando obter para o Colégio da Bahia os mesmos privilégios do Colégio de Évora e, até mesmo, os da Universidade de Coimbra. A partir de 1662 a Câmara Municipal da Bahia assumiu as 80 TOLEDO, Cezar A. A. et. al. Ratio Studiorum in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela história da educação brasileira. Campinas-SP: FE-Unicamp/Histedbr, 2006. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_ratio_studiorum.htm> Acesso em: 17.fev.2010. 81 Cf. CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 24-29. 82 “O princípio de unidade de professor determinava que um mesmo mestre acompanhasse um grupo de alunos no estudo de cada matéria, do início ao fim. Todos os professores deveriam seguir o mesmo método de ensino, completando-se esse princípio com o da organização das matérias de modo a explorar, ao máximo, o pensamento de poucos autores (principalmente Aristóteles e Tomás de Aquino) preferivelmente ao de muitos.” CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 26. 36 reivindicações em favor da equiparação de graus conferidos no Brasil àqueles conferidos em Portugal, tendo enviado diversas solicitações ao rei: Representamos a Vossa Alteza [...] as conveniências que se seguiriam a seu real serviço em haver neste Estado do Brasil uma Universidade de Évora ou, ao menos, a confirmação do grau de licenciado e mestre em artes que os reverendos padres da Companhia de Jesus dão por concessão de Sua Santidade.83 No entanto, nem os jesuítas nem a Câmara lograram êxito em suas demandas84. Ocorre que, nesse período, vários fatores se antepunham à pretensão da instituição do ensino universitário no Brasil, entre eles a histórica rivalidade entre os jesuítas e a Universidade de Coimbra85 e a ‘questão dos moços pardos’86. Mais tarde, a Universidade de Coimbra foi confiada aos jesuítas, encerrando o conflito. A questão dos estudantes pardos, no entanto, marcou o início de séria disputa entre o Estadoportuguês e a Companhia de Jesus. Entretanto, na metade do século XVIII a educação escolar em Portugal e em suas colônias era quase totalmente controlada pelos jesuítas. Estavam sob sua responsabilidade quase todas as escolas secundárias, além da orientação pedagógica da Universidade de Coimbra. Nesse momento, foram atingidos 83 LACOMBE, Américo Jacobina. Para a história das origens da Universidade Católica. Verbum, Rio de Janeiro, PUC-RJ, vol. XXXII, n. 2, 1976, p.74. 84 Cf. CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 32-33. 85 “A rivalidade entre a Companhia de Jesus e a Universidade de Coimbra vinha de longe. Os jesuítas fundaram um Colégio em Évora, em 1551, como alternativa e em oposição aos estudos de Coimbra que, por sua vez, impediu que ele surgisse logo como Universidade. Apesar da bula papal de 1558, instituindo o Colégio de Évora como Universidade de direito pontifício, foi só em 1573 que ele foi equiparado à Universidade de Coimbra, por determinação real. As razões da rivalidade não se prendiam apenas à competição pelo monopólio dos estudos superiores, mas à luta da burocracia coimbrã pela sobrevivência, pois simultaneamente ao reconhecimento real da universidade dos jesuítas [...], o rei entregou à administração da Companhia de Jesus o Colégio das Artes de Coimbra, vestíbulo da Universidade local.” CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. nota 21, p. 32-33. 86 “[...] apesar dos jesuítas catequizarem também os negros, no ano de 1688 o Colégio dos jesuítas em Salvador recusou a admissão de moços pardos, considerados demasiado irrequietos e numerosos. Nas Universidades de Coimbra e Évora todos podiam cursar, então os moços pardos recorreram ao rei e, a 9 de fevereiro de 1689, D. Pedro II, [...] mandou admitir os moços pardos por se tratar de uma escola pública, mantida pela Coroa, através da redízima das rendas da Coroa [...].” NUNES, Antonietta d´Aguiar. Educação jesuítica na Bahia colonial: colégio urbano, internato em seminário, noviciado, Mneme Rev de Humanidades, Caicó, UFRN, v. 9, n. 24, set-out./2008, p. 10-11. 37 pelas reformas introduzidas pelo poderoso primeiro-ministro do rei D. José I (1714-1777), Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), conhecido na história como Marquês de Pombal, responsável pela expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias. À frente do Estado português desde 1750, Pombal tratou logo de implementar uma política reformista, que consistiu, basicamente, [...] num conjunto de medidas que visavam criar condições para que ocorresse em Portugal a industrialização que se processava na Inglaterra, de modo que se pudesse dispor dos requisitos econômicos para a quebra da subordinação [portuguesa em relação ao império inglês]. Era, em suma, uma tentativa de superar a dominação, tornando-se igual ao dominador, assimilando aquilo que lhe dava força para dominar: o poderio econômico.87 Por força de sucessivos e malfadados acordos, celebrados ao longo de várias décadas, Portugal havia concedido à Inglaterra diversos privilégios econômicos em troca de proteção política e militar. Dessa forma, quase todo o ouro extraído em grande quantidade do Brasil durante o ciclo da mineração, em fins do século XVII e início do século XVIII, serviu para financiar a revolução industrial inglesa88. Assim, sob influência do espírito iluminista, as reformas pombalinas visavam realizar a modernização capitalista de Portugal, sobretudo, por meio do incentivo à industria manufatureira na metrópole, da acumulação de capital público e privado e de uma reforma ideológica, substituindo a antiga mentalidade da organização feudal da sociedade por outra moderna, inclinada a uma sociedade capitalista. Para a consecução desses objetivos era imprescindível o fortalecimento do poder do Estado. Daí, a política regalista do Marquês de Pombal, que queria 87 CUNHA, L. A. A Universidade temporã: da Colônia à era de Vargas, op. cit. p. 40-41. 88 “[...] em seu auge a corrida do ouro brasileira revolucionou o mundo. Quase todo o metal arrancado das entranhas das Minas Gerais cruzou Lisboa apenas de passagem: as artimanhas do Tratado de Methuen, assinado em 1703, fizeram com que o minério brasileiro fosse parar na Inglaterra – e lá financiasse a Revolução Industrial da mesma forma como, um século antes, o ouro e a prata saqueados aos astecas e incas ajudaram a incrementar a revolução mercantilista. [...] calcula-se que se extraíram cerca de 840 toneladas do metal – sem auxilio mecânico – entre 1700 e 1799 [...].” BUENO, Eduardo. História do Brasil. 2ª. ed. São Paulo: Publifolha, 1997, p. 65; Cf. RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a organização escolar, op. cit. p. 29. 38 submeter todas as instâncias de poder à autoridade do Estado, personificado na figura do rei. Os jesuítas, subordinados diretamente ao Papa, com freqüência conflitavam com bispos submissos ao rei e não se adequavam ao regalismo pombalino. Além disso, a Companhia de Jesus era detentora de grande patrimônio econômico e, segundo o Marquês, educava o cidadão mais a serviço da ordem religiosa que dos interesses do Estado, sendo, portanto, responsável pela decadência cultural e educacional da sociedade portuguesa89. Assim é que, alegando razões de estado, Pombal expulsou os jesuítas de Portugal e de suas colônias em 1759; seus bens foram confiscados e seus colégios extintos. A saída dos jesuítas desestruturou profundamente o sistema educacional português e, por extensão, do Brasil, pois, naquele momento não havia nenhuma instância do Estado, bem como nenhuma outra congregação religiosa com condições de assumir o trabalho educacional com o gênio e a articulação com que fizera a Companhia de Jesus por mais de dois séculos. Em substituição ao sistema jesuítico de ensino, Pombal instituiu as chamadas aulas régias ou avulsas de latim, grego, filosofia e retórica, e para fiscalizar a ação dos professores, criou a figura do ‘diretor geral de estudos’90. Entre outras coisas, a Reforma Pombalina forjou o surgimento de um ensino público e laico propriamente dito em Portugal e no Brasil, “[...] não mais aquele financiado pelo Estado, mas que formava o indivíduo para a Igreja, e sim o financiado pelo Estado e para o Estado”91. Entre as várias mudanças promovidas por Pombal está a Reforma da Universidade de Coimbra, em 1770, que marcou a introdução do Iluminismo em Portugal92. Segundo o modelo pombalino, o ensino universitário dividia-se 89 Cf. MACIEL, L. S. B.; SHIGUNOV NETO, A. A educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas pombalinas do ensino, Educação e Pesquisa, São Paulo, USP, v. 32, n. 3, set./dez.2006, p. 469. 90 Cf. SECO, Ana P.; AMARAL, Tânia C. I. Marquês de Pombal e a reforma educacional brasileira in LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. ; NASCIMENTO, M. I. M. (orgs.) Navegando pela história da educação brasileira, op. cit.; Cf. MACIEL, L. S. B.; SHIGUNOV NETO, A. A educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas pombalinas do ensino, op. cit. p. 470. 91 RIBEIRO, Maria L. S. História da educação brasileira: a organização escolar, op.cit. p. 33. 92 “[...] o Iluminismo foi a filosofia hegemônica na Europa do século XVIII. Ele consistia em um articulado movimento filosófico, pedagógico e político, que conquistou progressivamente as 39 em ciências teológicas (cânones e leis) e ciências naturais e filosóficas (medicina, matemática e filosofia). Para Pombal, [...] as ciências naturais [...] constituíam o cerne da Universidade. Cuidou-se [por isso] que seu ensino estivesse voltado para a aplicação. [...] As novas faculdades foram dotadas de observatório, gabinete
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