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PRATICA PENAL - CASO 04 - ALEGAÇÕES FINAIS

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CASO CONCRETO 4 – INGRID PEREIRA DO NASCIMENTO - 201602567859
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE CURITIBA/PR
Processo nº
 JORGE, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, vem, por meio de seu advogado abaixo assinado, nos termos do art. 57, caput da lei 11.343 c/c art. 403, §3° do CPP, tempestivamente, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
pelos fatos e fundamentos que passa a expor: 
I. DOS FATOS
Jorge, com 21 anos de idade, conheceu Analisa em um bar e, após um bate-papo informal, decidiram ir para um local mais reservado aonde trocaram carícias. Analisa, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Jorge. Ambos trocaram telefone e contato de redes sociais. 
Ocorre que, no dia seguinte, ao visitar o perfil de Analisa, Jorge descobriu que, embora a aparência de adulta, Analisa é menor de idade, tem apenas 13 anos, razão pela qual, recebeu uma notícia da denúncia movida pelo Ministério Público, tendo em vista que o pai de Analisa descobriu o ocorrido.
Em suas alegações finais, o Ministério Público pede a condenação do réu nos termos da exordial, porém, os fatos alegados não devem prosperar.
II. DO DIREITO
1. DA ABSOLVIÇÃO – ERRO DE TIPO
Após a instrução probatória, por qualquer perspectiva que se analise o caso em tela pode-se afirmar que não há consciência e vontade em praticar ato sexual com menor de 14 anos. Vejamos: a própria ofendida em suas declarações afirma que costuma frequentar bares de adultos. Trata-se a hipótese de inegável erro de tipo, que exclui o dolo.
A prova testemunhal de defesa, no mesmo sentido, é firme em comprovar que a suposta vítima se vestia e se portava como pessoa adulta, incompatível com menor de 14 anos. Ademais, igualmente firme informaram que qualquer pessoa acreditaria ser pessoa maior de 14 anos.
Por fim, no interrogatório o acusado lembrou que não desconfiou da idade da vítima justamente porque no local só é permitida a entrada de maiores de 18 anos.
		Ainda, uma parte da doutrina entende que a vulnerabilidade pode ser relativizada, quando as circunstâncias do caso concreto indicarem que não houve violação (ou ameaça de lesão) ao bem jurídico tutelado – a dignidade sexual da vítima, aplicando-se, portanto, o princípio da ofensividade e da lesividade.
Para essa doutrina, circunstâncias como a maturidade da vítima, seu consentimento, sua experiência sexual anterior ou mesmo sua promiscuidade ou prostituição poderiam relativizar a vulnerabilidade. Como também poderia relativizar a vulnerabilidade a prática de relações sexuais ou atos libidinosos decorrentes de relacionamentos amorosos entre o agente e a vítima, aqui se valendo do princípio da adequação social, pois no mundo atual os jovens iniciam seus relacionamentos de forma cada vez mais precoce.
Cezar Roberto Bitencourt é defensor da possibilidade de relativização. Da mesma forma, Guilherme de Souza Nucci, admite a relativização tão somente quando a vítima menor de 14 anos for adolescente (12 ou 13 anos).
Em nosso sistema processual penal acusatório, cabe ao Ministério Público, com provas robustas. Corroborando a tese, segue, vejamos julgamento de caso idêntico:
“PENAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ART. 217-A DO CP. ERRO DE TIPO. ART. 20, § 1º, DO CP. MENORIDADE DA VÍTIMA. DESCONHECIMENTO PELO AGENTE. COMPLEIÇÃO FÍSICA E COMPORTAMENTO SOCIAL. PERCEPÇÃO DE MAIOR IDADE. AMPARO EM SATISFATÓRIO CONJUNTO PROBATÓRIO. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. A negativa de conhecimento da menoridade da vítima, amparada em satisfatório conjunto probatório demonstrativo de que a compleição física e o comportamento social da vítima inspiravam a percepção de maior idade, caracteriza o erro sobre elementar constitutiva do tipo previsto no artigo 217-A do Código Penal, apto a evidenciar a ausência do dolo necessário à configuração do delito de estupro de vulnerável, quando ausente ameaça ou violência e presente o consentimento da menor. Precedentes deste eg. Tribunal. 2. Não provimento do recurso.” (TJ-DF - APR: 20120510030227 DF 0002914-36.2012.8.07.0005, Relator: HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, Data de Julgamento: 18/09/2014, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE: 23/09/2014. Pág.: 276)
2. AUSÊNCIA DE CONCURSO DE CRIMES
Cuida-se tal crime de tipo penal misto alternativo ou crime de ação múltipla. Dessa forma, ainda que praticada mais de uma conduta no mesmo contexto fático - o que ocorreu no caso em comento - o agente deve responder por um único crime. 
Não há que se falar em dupla responsabilidade penal pelo estupro de vulnerável. Equivocou-se a acusação na inicial acusatória ao imputar duas vezes o crime de estupro de vulnerável.
3. RECONHECIMENTO DO CRIME CONTINUADO
Na improvável hipótese de ser reconhecido o concurso de crimes, deve-se aplicar a regra da exasperação diante da evidente presença da ficção jurídica do crime continuado.
 Estão presentes todos os requisitos do art. 71 do CP. Cuidam-se de crimes da mesma espécie, praticados na mesma circunstância de tempo, lugar e modo de execução. A pena, caso imposta, deve ser majorada no mínimo legal, ¼.
4. AUSÊNCIA DE EMBRIAGUEZ
Não há que se falar em embriaguez pré-ordenada, posto que Jorge, no momento em que conheceu Analisa, não ostentava tal condição. 
As testemunhas de acusação não viram os fatos e não comprovação que naquele momento Jorge estava de fato embriagado.
 Logo, é justo o entendimento de medida que afasta a agravante, caso não seja reconhecida a atipicidade da conduta.
5. APLICAÇÃO DO REGIME SEMIABERTO
O STF declarou a inconstitucionalidade do art. 2°, § 1° da lei 8.072/90 (Lei dos crimes hediondos), informando em sua decisão que, para a fixação do regime inicial fechado deve-se primeiro analisar o caso concreto e não somente a pena em abstrato. 
Sabe-se que o crime descrito no art. 217-A do CP é hediondo, no entanto, segundo o supracitado entendimento da corte superior, é necessário averiguar-se cada caso para a aplicação ou não do regime inicial fechado.
 No caso em tela, temos o réu, primário e de bons antecedentes, empregado, residência fixa não se mostrará razoável a aplicação do referido regime inicial, tendo em vista que, diante do reconhecimento de crime único, a pena deverá ser fixada em 8 anos de prisão.
III. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, vem requerer:
a) a absolvição do réu, com base no art. 386, III, do CPP por ausência de tipicidade;
b) caso não seja esse o entendimento para absolvição, que seja concedido o afastamento do concurso material de crimes, sendo reconhecida a existência de crime único;
c) Fixação da pena-base no mínimo legal, o afastamento da agravante de embriaguez preordenada e a incidência da atenuante da menoridade;
d) fixação do regime semiaberto para início do cumprimento de pena, com base no art. 33, §2°, alínea “b”do CP, diante da inconstitucionalidade do art. 2°, § 1° da lei 8.072/90.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local, xx de xxxx de xxx.
ADVOGADO
OAB/UF XXXX

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