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8, 4 BRANDING Alvaro Guillermo ._ Copyright" 2007 Alvaro Guillerrno Título Original: Branding: design e estratatégias de marcas Design gráfico e capa: Arte in arquitetura, design e comunicação Itda Equipe de pesquisa e leitura: Lidiani Minoda e Lídia Gomes Revisão: João Marinho 1a. Edição (2007) G958a Guillermo, Alvaro Branding: design e estratégias de marcas Alvaro Guillermo. São Paulo: Demais Editora, 2007. 102p. ISBN 978-85-60078-01-1 1. Marcas 2. Branding 3. Design I. Título CDD 658.827 2007 Direitos exclusivos de publicação Demais Editora Av. Morumbi 7938 04703-001 - Brooklin - São Paulo (11) 5042-3428 www.demaiseditora.com.br www.maisgrupo.com.br Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas \ À chegada de Martín Alvaro Guillerrno - Branding: design e estratégias de marcas / Agradecimentos MeireVibiano, Mônica Moura, Cláudio Ferlauto, Lidiani Minada, Lídia Gomes, pelas leituras. Adriana Valese e Rachei Zuanon, pelas oportunidade de pesquisa nos cursos de gra- duação e pós-graduação. A todos nossos clientes e parceiros pela confiança em nosso trabalho, em especial a Glorinha Baumgart, Gabriela Baumgart e losé Carlos Manzini do departamento de Marketing do grupo Shopping Center Norte; William Nacked, do Institu- to Brasil Leitor: Walter Correa, José Roberto Babler, Nelson Kazuhiro Sasaki, Douglas Lorca e João Carlos Mazza da diretoria do Pólo de Decoração do ABC; Márcio Passerini; Ivonete Kurten, da Edições Paulinas (revista Família Cristã); André Bruzadin Nunes, Corporate Marketign - LatAm Philips e Acácia Caetano, da Philips por permitirem o registro e compartilhamento, com os leitores, de nossasexperiências. Aos colegas e amigos do Mais Grupo pelo apoio e dedica- ção, e a todos os colegas, professores e alunos, que sempre contribuíram com sugestões ampliando e lapidando nossa pesquisa. 7 Introdução Cláudio Ferlauto Marcas para identificar produtos e suas origens existem des- de tempos imemoriais, mas como ferramenta poderosa e cen- tral para o desenvolvimento das sociedades, é fenômeno his- toricamente recente- coisa de um século ou um pouco menos. Elas se tomaram o "cuore" de todos os negócios, subju- gando o próprio objeto que representam e obliterando suas características formais. Hoje, o produto tende ao virtual, fe- nômeno identificado por Philippe Starck na expressão "cada vez mais, desenharemos coisas imateriais" - e as marcas se tomaram palpáveis, reais. Isso significa que não é mais a utilidade, função ou qua- lidade que muitos consumidores almejam de um objeto: o mais importante é sua marca. E de que maneira empresários e designers devem projetar e administrar as marcas? Pergun- tas como essa tem respostas neste livro, Branding Design e Estratégias de Marcas. Uma obra concisa, que não se confunde com manuais de ajuda e não chama logotipo de "Iogomarca"; que instrui so- bre nome, símbolo e as outras - e novas - formas da marca. Mais importante: indica procedimentos, especialmente para as empresas empreendedoras que pretendem valorizar Alvaro Guillermo . Branding: design e estratégias de marcas e lucrar com marcas novas ou já amplamente reconheci- das pelo mercado, pois, no final das contas, muitas marcas já provaram que podem ter vida muito longa, ou mesmo mais de sete vidas. Entretanto, esse poder de sobreviver e influenciar precisa ser construído por meio de projetos, de planejamento e do uso de estratégias adequadas. / Cláudio Ferlauto é arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS, com pós-graduação em Desenho Industrial pela FAU/USP. Vive em São Paulo desde 1972. É editor das coleções de design das Edições Rosari e autor dos livros O Livro da Gráfica, O Tipo da Gráfica, B de Bodoni e A Forma e Fórma. É crítico da revista Abigraf, na qual escreve sobre design na coluna "Olhar Gráfico", e professor na Anhembi-Morumbi em cursos de pós-graduação e de graduação; e no Centro Universitário Belas Artes e na Unifacs-Bahia, em pós-graduação. Com Cristina Burger, dirige o escritório QU4TRO Arquitetos SP. Tem portfólios publicados no Brasil e no exterior - Idea/Japão, Novuml Alemanha - e trabalhos nas revistas Print e na Communication Arts, dos Estados Unidos, e também em livros no Brasil, Equador, Japão e Cingapura. É colaborador regular da revista Tupigrafia e sócio da Oficina Tipográfica São Paulo. Introdução Ap rese ntação Mônica Moura Algumas pessoas são tão envolvidas com sua área de atua- ção que a vivem em todos os sentidos - na prática profissi- onal, na pesquisa e no ensino -, de forma a partilhar gene- rosamente aquilo que sabem, construindo e ajudando a dar corpo a uma profissão e a formar novos profissionais. Entre essas pessoas, há aquelas que, além de tudo isso, escre- vem, registram e constroem a história de uma profissão e de um campo de atuação. A área de design, por ser um campo recente e repleto de possibilidades, especialmente no Brasil, necessita des- sas pessoas. Alvaro Guillermo é uma delas. Um profissional apaixonado pelo que faz, um designer que, nos vários pa- péis que assume (designer, empresário, professor, escritor), sabe partilhar ,e escrever a história do design brasileiro c~n- temporâneo. E um papel essencial para nossos dias: pensa .. e refletir sobre as realizações e os caminhos dessa profi são tão múltipla e tão fundamental. Por todos esses motivos, foi um grande prazer receber o convite para escrever esta apresentação e também um gran- de desafio, devido ao papel de destaque e importância que Alvaro Guillermo representa no meio do design brasileiro. O livro ora apresentado, Branding Oesign e Estratégias de Marcas, traz à tona a discussão e os exemplos vividos e realizados pelo escritório Arte in na criação, desenvolvi- Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas mento e implementação de marcas, produtos e projetos no mercado global. As marcas, a cada dia, ganham mais importância. Cons- truí-Ias e cuidar delas não é tarefa fácil, mas é trabalho para um designer, pois este é o profissional da concepção, planejamento, desenvolvimento, implantação, que pensa e desenha o futuro. A marca não é apenas um nome e um logotipo, como o design não se destina apenas a aspectos visuais e decorati- vos. A marca carrega relações com o universo cultural e tecnológico, com todas as formas de linguagem, comuni- cação e informação. É relacionada a produtos e serviços. É algo que surge para dar vida a um ou vários aspectos de um mercado ou segmento - e, por ser viva, deve ser atualiza- da, repensada e acompan hada. No texto simples e acessível, repleto de exemplos coti- dianos, Guillermo relaciona as marcas com o branding (es- tratégias de marcas), com os tipos de empresas, com os objetivos e com a questão da atualização. Apresenta metodologias de trabalho com as marcas e fala sobre a importância da equipe interdisciplinar. Ainda, de forma inovadora, relaciona a marca aos espaços comer- ciais, destacando a importância de se conceber e projetar estes espaços - o design do espaço comercial-, ampliando essa relação para a importância dos ambientes multissensoriais. Este é um livro sobre design que tem uma qualidade especial: é destinado aos empresários da pequena à grande empresa, e o autor partilha suas experiências e conheci- mento dando "dicas" de como fazer para fortalecer as mar- cas das empresas. Nesse sentido, Branding Oesign e Estratégias de Marcas também divulga e reafirma a importância e o papel do designer nesse processo - mas o livro não é só para empre- sários. Destina-se a todos que querem entender o processo de uma marca, enfim, àqueles que se interessam pelo design contemporâneo. Apresentação Dicas 89 Além disso, é uma leitura para os que precisam acom- panhar asmudançasque ocorrem nosambientescorporativos e para os que desejam inovar, nortear e prospectaro futuro, o que Guillermo define muito bem: isto é design estratégico! Sumário Mônica Moura é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP:Design de Hipermídia, artista visual, designer, professora e pesquisadora. Foi responsável pela fundação da área de Design da Universidade Anhembi- Morumbi: Centro de Design e Moda, Centro de Pesquisa em Design e Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Design - Mestrado. Diretora do Campus Morumbi e do Centro de Pesquisa em Design, é também professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Design da PUC-Rio. Estratégias de marcas 15 As marcas e o varejo 23 Para iniciar uma estratégia de marca 27 Atualização da marca 33 Objetivos da estratégia de marca 3~ O que se pretende atingir com as estratégias de marca? 41 \ Metodologia de trabalho com marcas 47A importância de uma equipe multidisciplinar 59 A marca e os espaços comerciais 67 Design do espaço comercial 75 Conclusões 99 Bibl iografia sugerida 102 Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas Estratégias de marcas A marca é um dos primeiros passospara iniciar legalmente uma empresa. Estacomeça a ser definida junto com a es- colha dos sócios e de todos os documentos exigidos legal- mente para a abertura do negócio. Toda empresa tem um nome e, conseqüentemente, um logotipo. Muitas empresas deixam de cuidar do seu nome, sem atentar para a importância do investimento na marca e quando adquirem amadurecimento suficiente para enten- der essa importância, os esforços com os cuidados de uma marca tornam-se maiores. A idéia deste livro é orientar os que lidam com marcas ~ obtenção de melhores resultados nasestratégiasque pro- põem seu uso. É um percurso que leva aos pontos mais importantes: da criação de um nome, passando pela orientação às estraté- gias possíveis com marcas, até os espaços comerciais. Este é um momento especial para esta publicação. Passadoo choque cultural provocado pela globalização, compreendemos melhor os mercados, já temos como ava- liar as soluções, e sabemos que estamos em um período importante da história da cultura. Os produtos asiáticos continuam derrubando mercados que dependem apenas de preço e, de certa forma, as em- presascomeçam a entender que "mais vale um pássaro na Estratégias de marca 15 I Adam Smith é um dos filósofos do chamado "lluminismo Escocês", Conhecido por seu trabalho sobre a Divisão do trabalho. A publicação "Riqueza das Nações" de 1776, trata sobre a divisão do trabalho que gera a especialização e a destreza nos fu ncio nários. mão do que dois voando", ou seja, cuidar de clientes fiéis, mesmo que em número menor que o desejado, é melhor do que arriscar grandes investimentos sem retorno. Nesse sentido, estratégias de marcas minimizam os in- vestimentos de marketing e de comunicação e contribuem para fidelizar clientes. Como tudo que é novo, o branding, ou design de mar- cas, ainda não foi compreendido pela sociedade. Vinte anos atrás, quando iniciei minha empresa nesse segmento, era quase impossível encontrar um ouvinte que compreendes- se a importância do trabalho. Hoje, esse ambiente mudou, e espero que, com este livro; os leitores encontrem exem- plos que demonstrem a importância da marca, e de uma boa assessoria profissional na área. comprar qualquer produto, de qualquer lugar do mundo, por meio de novas mídias, como a internei. As mídias também mudaram. Como informar ao nosso possível comprador o que vendemos e saber onde encontrá- lo? Com as mídias digitais fica muito difícil investir apenas em publicidade para comunicar quem somos, o que faze- mos, o que vendemos, quanto vendemos, etc. Assim, ações de marcas ajudam a construir novos cená- rios para as empresas. No Brasil, um exemplo recente foi o caso Parmalat. Por problemas financeiros e administrativos, a Parmalat, maior fornecedora de leite em "caixinhas", retirou-se do mercado de um dia para o outro e este se viu, em pouco tempo, sem ter como atender o consumidor. A Parmalat realizou um trabalho de marca bem sucedi- do: fabricava cada vez menos produtos, e a maior parte dos itens oferecidos, como o leite, era terceirizada. Com a saí- da repentina da Parmalat do mercado, as empresas, até então terceirizadas, foram obrigadas a implantar uma ação emergencial e passaram a embalar o leite nas mesmas cai- xas, mas com nomes e logotipos novos. Assim, de repente, o consumidor encontrou muitas marcas novas e, na falta da conhecida marca de leite e de seus concorrentes diretos, teve de comprar uma delas. O mesmo leite que era emba- lado pela Parmalat, agora era embalado sob um novo nome. Surpresa! O consumidor, que não sabia desta história, não gostou. Achou o gosto diferente. Mas, como o gosto podia ser diferente, se o produto era o mesmo? O que mudou foi o nome, não o produto! Pois é, mas esse caso é tão importante e conhecido por quem estuda branding, que talvez o Brasil seja um dos pou- cos países - ou o único - onde a Parmalat voltou a investir , pois aqui a marca permaneceu viva. Atualmente, estamos acompanhando um dos melhores exemplos brasileiros de valor de marca nos mercados inter- nacionais. Uma empresa falida e com dívidas, encontra a marca como um dos maiores valores entre seus ativos. Branding: o design de marcas Podemos traduzir a palavra branding como estratégias e gestão de marcas. Apesar de já ser estudada há tempos, a atividade que cuida das marcas é recente n.o mundo da administração e do designo Se pensarmos no mercado a partir dos estudos de Adam Smith, as análises de marca são muito recentes, pois não têm mais que 30 anos. Se pensarmos nos mercados globais, principalmente a partir dos mercados comuns e da queda do muro de Berlim (1989,) esses estudos e~o sendo realizados há mais tempo e vêm alertando para a im~rtân- cia do trabalho de marcas junto às empresas para que estas se mantenham competitivas neste novo século. Muitas marcas são bem recebidas em determinadas re- giões, principalmente se nasceram ali. As marcas conhe- cem bem a cultura local, e a sociedade as reconhece e sabe o que significam. Os mercados mudaram. Atualmente não vendemos ou compramos mais somente de nossos vizinhos, já que a rela- ção de vizinhança ou de proximidade não é mais estabelecida pelo espaço, mas pelo tempo. Assim, podemos vender e Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas Estratégias de marca 17 I A negociação da Varig envolveu não somente os bens ma- teriais, como linhas aéreas, aviões, etc., mas também a marca, considerada seu maior patrimônio. Outro caso atual e bem interessante de analisar é do presidente Lula. Lula se transformou em uma marca de su- cesso, mesmo tendo perdido a maior parte das eleições que disputou Lula, a marca, representa valores com os quais grande parte da população se identifica. O problema dessa identificação é que as pessoas vêem a marca distante da figura do presidente e próxima de si mesmas, ou seja, apesar de forte não existe associação do Lula marca com o Lula presidente. Essa é uma das razões pela qual a imagem do presidente não ficou abalada, mes- mo com tantas CPls e denúncias. As pesquisas o apontaram sempre na liderança, e ele foi reeleito. A seguir veremos que tipos de empresas podem investir em estratégias de marcas, por que investir esse trabalho, o que significa esse investimento, quais os objetivos e que benefícios podem ser obtidos. Para iniciar é importante que cada empresário se faça algumas perguntas: - O que minha empresa vende? - Para quem vendemos? - Meu consumidor retoma? Ele é fiel? - Meu consumidor lembra que minha empresa existe? - Meu consumidor aguarda lançamentos de meus produtos? - Indica a minha empresa ou produtos para outros? - Estou satisfeito com os resultados da minha empresa? - Pretendo crescer ou franquear? Se alguma dessas perguntas o incomodou, é bom come- çar a estudar a possibilidade de iniciar um trabalho de es- tratégia de marca, mas para isso, é necessário conceituar o que é uma estratégia de marca. Na origem, o conceito de estratégia está associado à arte militar dos exércitos, que preparam táticas, ou seja, ações para atingiro objetivo definido na estratégia. Para atingir o alvo, os exércitos treinavam táticas inú- meras vezes - daí a origem do termo exercitar. Ao pensarmos dessa forma compreendemos que a estra- tégia não pode depender de uma única pessoa. Existem várias pessoas, cargos, departamentos e hierarquias envol- vidos, cada qual com seu papel. Quando esse conceito é assumido pela empresa, por todos os envolvidos, então tor- na-se um princípio filosófico que norteará decisões e os futuros passos da companhia. Uma empresa que pensa em iniciar ações de marca deve contribuir para o crescimento e desenvolvimento des- se princípio filosófico de estratégia. Só depois que o princí- pio for incorporado será possível iniciar o planejamento ne- cessário para desenvolver as ações que permitirão atingir o objetivo definido. Outros planejamentos também podem ser desenvolvidos em hierarquia, como o planejamento de marketing e, dentro dele, o de comunicação e, dentro dele, o de mídia - e assim por diante. Estratégias de marca, no entanto, representam o todo. A quem interessam as estratégias de marca? Empresas com acionistas e franquias Estratégias de marcas geram credibilidade às ações de futu- ro pensadas pelas empresas e também atraem investidores de mercados futuros, ou seja, quem investe em ações ou em nova franquia deseja obter lucro com aquela marca. Por esse motivo, muitas empresas apresentam suas estratégias para o público no interesse de que acreditem no seu futuro: "invista hoje na nossa marca, porque amanhã vai valer mais". Estra- tégias de marca permitem preservar a identidade, mesmo com proprietários e administradores de perfis diferentes. Empresas familiares Estratégias de marcas também são fundamentais para em- presas familiares, principalmente aquelas com mais de 20 Alvaro. Guulermo - Branding: design e estratégias de marcas Estratégias de marca 19 I anos de vida, que se iniciaram pelo esforço de alguns mem- bros da família, cresceram, conquistaram mercado, e obti- veram sucesso,mas agora o empresário começa a perceber que seu filho adolescente e herdeiro tem de definir a carrei- ra. Vejamos algumas situações possíveis: Tipo 1 - O filho não tem o mínimo interesseem seguir na empresa do pai, pois depois de ter visto seu pai trabalhar e suar tanto, ele não quer para seu futuro o passado do pai; Tipo 2 - O filho até tem interessede continuar na empre- sa, mas como todo jovem, está cheio de idéias e o pai começa a ficar preocupado que essas idéias transfigurem totalmente sua empresa; Tipo 3 - O filho é tão apático que vai continuar na em- presa do pai na impossibilidade de tomar outra atitude. E, o~viamente, o pai está mais preocupado ainda, pois terá qu~ manter o filho pelos próximos vinte anos e talvez adie a a~sentadoria. Estratégias de marcas ajudam a proíissionalizar em- presas familiares, estabelecem ações de médio e longo prazo, contribuindo no planejamento para a sucessão e, principalmente, na aquisição de conhecimento para a ad- ministração futura, ou seja, há tempo para a formação da nova administração. Assim, o filho "tipo 1", saberácom antecedência que seu futuro não serácomo o do pai, seráalgo novo que ele poderá ajudar a construir.O pai do filho "tipo 2" saberáque asnovas idéiasestãodentro de um planejamento, que garantiráe pre- servaráa identidade e sobrevida da marca, e o pai do fi lho "tipo 3" saberá que terá tempo para preparar sua sucessão e que na medida que existem metas e estratégias tudo pode ser preparado com o menor trauma possível. A empresa deixa de ter a "cara" do dono ou do chefe para ter "cara" própria No mundo contemporâneo, não há mais espaço para que ações isoladas de algumas pessoas,que estejam mo- mentaneamente no poder, possam mudar totalmente a iden- tidade de uma empresa em que a marca é o valor central. Ações desse tipo podem modificar a própria marca, e de- vem ser avaliadas até que ponto serão benéficas para o futuro da mesma. Empresascom ações voltadas para o futuro São empresas que acreditam na sua longevidade, e isso é extremamente importante, pois é sinal que esseempresário já, é por natureza, um visionário. É um empresário que sabe que, nos próximos anos, o mundo mudará muito e se ele mantiver a empresa como está ficará ultrapassado. Dessa forma, ações de marca não existem apenas para melhorar a empresa: podem ser necessáriaspara que não piorem, e essesempresários já estão acostumados a preparar o cami- nho que será trilhado. Ações culturais Identidades Por esses motivos, ações de marca são ações culturais. O que são ações cuIturais? Ações que têm o momento certo para acontecer. Os resultados levam tempo para aparecer e dependem da efi- cácia de cada etapa intermediária, pois seránecessáriauma série de etapas e processos para atingir os resultados. Se você quer frutos na colheita, não deve se esquecer de regar as sementes.Quem regaa plantação sabeque os frutos não surgem da noite para o dia. Têm o tempo certo. Issoé uma ação da cultura da terra, a agricultura. Se cada etapa intermediária - arar a terra, semear, regar, ete. - não for realizada, a probabilidade de não haver frutos no fi nal é grande, mas também é bom lembrar que, mesmo Em empresascom acionistas, franquias e empresasfamilia- res, percebemos algumas similaridades que nos permitem verificar a importância das ações de marca. Alvaro Guillermo . Branding: design e estratégias de marcas Estratégias de marca As marcas e o varejocumprindo todas as etapas, sempre há o risco de não obter- mos o resultado desejado. Quanto maior o risco de não colher frutos, mesmo cumprindo todas as etapas antecessoras, maior o risco do negócio. Projetos culturais, por tanto, levam um tempo certo. A diferença entre o exemplo da agricultura e os projetos de design estratégicos de marca (branding) é que o design não pára na colheita do fruto, o mínimo que se espera é obter o fruto. As ações vão além, como, por exemplo, o que fazer com o fruto, o que fazer com o descarte, como fazer para que o consumidor acredite que o produto é bom, como fazer com que a marca conte toda essa história para que os consumido- res também compreendam que é um processo complexo. Projetos estratégicos de marcas são de longo prazo, e é .t h d - I .preqso con ecer o passa o, ter açoes c aras para agir no pre- I senf e preparar os cenários para colher resultados no futuro. !Os projetos culturais são eficientes para a fidelização e conquista de clientes. Diferentemente de ações eventuais ou pontuais, são desenvolvidos com o cliente e dentro da própria empresa, onde recebem informações ligadas ao de- senvolvimento cultural, mostrando o interesse em preservar essas relações por um longo tempo. Isso é visão de futuro. As marcas no varejo tradicional e varejo atual No varejo tradicional, há um percurso claro, que vai da fábrica até o consumidor. Cada uma das etapas define as ações seguintes, influenciando o produto final. Basicamen- te, o que a fábrica produz é vendido da forma como foi pensado na produção, e as etapas seguintes foram criadas para propiciar a chegada daquele produto nas mãos do con- sumidàr. Isso é uma conseqüência do conceito de linha de produção propagado pelo fordismo no início do século xx. No varejo atual, há uma mudança significativa desse percurso da linha de fabricação à venda e que é importante para o processo de estratégia de marcas. A~ respostas que o consumidor começa a emitir sobre o produto vão influenciar a definição deste ~a fábrica e, con- ~i.ien!e.mente, todos os processos intermediários. É pratica- mente uma "ré-engenharia", mas o conceito linear do fordismo está preservado. Apesar de haver um novo sentido, um novo fluxo, foi preciso rever todas as etapas envolvidas. Parece óbvio, mas a maioria das fábricas ainda não in- verteu o sentido dessa linha. Por isso, sofre tanto na venda de seus produtos. Outras, que simplesmente inverteram o sentido sem aplicar uma estratégia clara e bem definida, sofrem mais ainda, pois estão "nas "mãos" de seus consu-Alvaro Guillermo • Branding: design e estratégias de marcas As marcas e o varejo 23 I varejo tradicional .1I varejo atual Consumidor Empresa Varejo focado na marca midores - e, na maior parte das vezes, o consumidor não tem como expressar seus desejos claramente. É aí que en- tra o trabalho de design estratégico tentando antecipar es- ses anseios e desejos. Tudo issoocorre porque, em comparação com o proces- so histórico, essasmudanças aconteceram numa velocida- de nunca vista, em um curto espaço de tempo. As certificações passam a serconhecida como ISO. Para cada qual ificação, a ISO é acompanhada de uma numera- ção, como, por exemplo, ISO 9000. Em grego, coinciden- temente, a palavra iso significa igual. Foi o que aconteceu. Em pouco tempo, os produtos ficaram praticamente iguais, muito parecidos e com preços muito próximos. Nesse mo- mento, coube ao design fazer a diferença, fosse no produto, fosse na marca. Em pouco tempo, tivemos acesso aos mais diversos ti- pos de produtos, com características regionais e culturais dos mais diferentes lugares do mundo. Isso acelerou a im- portância de os produtos apresentarem suas identidades de origem e incentivou dois modelos: o das marcas que devi- am se adaptar às identidades globais, como a Coca-Cola e a Nike, por exemplo; o das marcas com características re- gionais, que deviam incentivar suasraízes, como os produ- tos de artesanato ou os produtos regionais como o guaraná, e a cachaça entre os brasileiros. Enfim, .íli estratégias de marcas estão totalmente liga:- das aos mercados em ue vivem.- . A "desmaterialização" e a impossibilidade de visualizar o processo têm relação com a tecnologia digital, que, a meu ver, é a que determina essemomento contemporâneo. Se,do ponto de vista socioeconômico, estamos certamente num período pós-industrial, este começa a se definir por uma mudança paradigmática de base tecnológica, ou seja, digital, e que define nosso modo de vida. Quando utilizamos a tecnologia digital, não temos co- nhecimento do que de fato acontece dentro do equipamen- to, ou de como a informação é processadapara que tenha- mos determinados resultados. Isso não interessa. O que in- teressaé chegar ao resultado. Essetipo de interação, que, de certa forma, parece superficial, determina a relação do ser humano com a tecnologia digital e é, também, o que determina hoje os relacionamentos humanos. Com as marcas, o processo é similar. Varejo focado namarca , No varejo focado na marca, essa linha de fabricação vai se "desmaterializar". É como se não houvesse claramente ou visivelmente um fluxo das etapas. Quanto maior a relação do consumidor com a marca, menor é a importância de saber onde o produto foi fabricado. Muitas fábricas que focaS9rh suas estr~tégiasem bra~ding e obtiveram sucesso siry-plesmente deixaram de fabricar, como fOI o caso da Nlke. A empresa fabricava material espo~, principal- mente tênis, mas deixou de fabricá-Ios para expor sua mar- ca nos mais diversos produtos. A Nike não tem Limafábrica de CO player, mas é possí- vel encontrar essesprodutos com sua marca. O consumidor não sabe disso e não se interessaem saber,mesmo quando há acusações de utilização de mão-de-obra politicamente incorreta, como supõe-se que ocorra em algumas fábricas da Ásia que utilizam trabalho escravo e infantil. Essemomento coincide com o processode global ização, que foi potencializado nos anos 90, depois da queda do muro de Berlim. Alguns teóricos, como De Masi (2000), afirmam que não vivemos mais na era industrial, ou seja, facada na indústria mas, como não sabemos ainda, qual é o foco desta nova era, nós a chamamos de pós-industrial. O processo de globalização também trouxe algumas novidades que ajudaram a criar a cultura da marca. Entre eles destacamos os programas de qualidade e produtivida- de, principalmente as certificações que creditam às empre- saso atendimento a dessasqualidades. Alvaro Guütermo - Branding: design e estratégias de marcas As marcas e o varejo International Organization for Standardization 25 I I o usuário não sabe o que está por trás daquele produto, e não se interessa em saber. O que ele busca é a relação final com a marca. É por isso que a relação entre a marca e o consumidor se estreita, como se todas as outras etapas (fábricas, trans- porte, depósitos, etc.) não existissem. É aqui que o varejista e o ponto de venda têm importância, já que é nesse espaço que a relação se estabelece. Essa relação, no entanto, não se estabelece da forma linear como conhecemos, mas em uma nova forma, mais próxima da digital. Cria-se uma nova realidade (virtual), e estabelece-se uma relação holística, mais completa e que permitirá criar novos futuros. Isso permitirá promover constantemente a inovação e trazer a marca (produtos e serviços) para junto do ser huma- no, gerando novas experiências, mais sensoriais. Trata-se da humanização criativa da marca. Para iniciar uma estratégia de marca O projeto de identidade é o conjunto sistematizado de ele- mentos visuais, sonoros, aromáticos, entre outros, que iden- tificam a marca e que podem ser constituídos por logotipo (forma gráfica específica da palavra com o nome da em- presa), símbolo (figura, forma não verbal e visual), tipogra- fia (desenho de letras do alfabeto, símbolos e caracteres usados isoladamente ou em conjunto para criar textos), o conjunto de cores estabelecido para os sistemas de impres- são, eletrônicos e digitais, entre outros. A aplicação desses elementos em diversos suportes (car- tões de visita, veículos, uniformes, sites, etc.) é apresentado no Programa de Identidade de Marca. Como nossa empresa tem desenvolvido inúmeros proje- tos nessa área, desde a criação do próprio nome da empresa até a inserção e o gerenciamento da marca no mercado, sempre orientamos nossos clientes a seguir algumas etapas. O primeiro passo é escolher um bom nome, o que está cada vez mais difícil, já que é grande a quantidade de em- presas que surgem a cada dia e que acabam registrando os melhores nomes. Muitas vezes, a lei permite que um nome já existente possa ser utilizado por outra empresa em outro segmento, mas será que isso vale a pena? Até que ponto escolher um nome já utilizado por outra empresa, mesmo que de outro Alvaro Guillerrno . Branding: design e estratégias de marcas Para iniciar uma estratégia de marca "se a identidade de uma marca não for bem definida pode-se obter visibilidade mas nenhuma personalidade." Marc Gobé 27 I segmento, contribui ou não para o sucesso da marca? Por esse motivo, cada vez mais, recorre-se a empresas de design para definir nomes. O serviço de design vai des- de a criação do nome até a inserção e o cuidado da ima- gem no mercado. Nem sempre a melhor solução para inici- ar uma estratégia de marca de empresas ou produtos é uti- lizar o nome do proprietário. Essepode ser o caminho mais fácil para resolver a dificuldade de escolher um nome, mas pode ser um problema futuro. As empresas de design uti Ii- zam diversas metodologias que permitem definir alguns nomes e alguns cenários possíveis para o uso deles. Esse trabalho, por vezes, é denominado com pela palavra ingle- sa de "naming", ou seja, nomear. Com o nome definido, o passo seguinte é verificar le- galmente a possibilidade de usá-Io. Essaé a parte mais complicada e demorada do ponto de vista burocrático, pois, / no Brasil, existem muitas instâncias. Conseguir o registro !final de marcas e patentes demora, e necessitamosdo auxí-I lio de empresasde acompanhamento do processo, o que o torna oneroso. De qualquer forma, sempre é mais barato pagar e garantir a marca do que arriscar usá-Ia e deixá-Ia legalmente livre no mercado - uma espécie de suicídio. Nesse momento, devemos, pelo menos, checar rapida- mente três instâncias: pesquisar junto à prefeitura e ao seg- mento em que a empresa vai atuar, busca que pode ser feita pelo contador, que é o responsável pela abertura da empresa ou que cuidará da própria empresa; pesquisarjun- to a marcas e patentes; e finalmente,junto ao registro da FAPESP(Fundação de Amparo à Pesquisado Estadode São Paulo),a fim de checar a possibilidade de um endereço na Web utilizar o mesmo nome. Após essasconsultas, inicia-se o processo do Projeto de Identidade Visual. Primeiro o logotipo. Toda marca tem um nome e, conseqüentemente, um logotipo, que é o desenho das letras que compõem essenome. Na seqüência, a agência de design vai avaliar a impor- tância e a possibilidade de a marca ter um símbolo Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas também. A utilização de um símbolo não é obrigatória, mas, conforme o caso - e na grande maioria -, o símbolo é um elemento de forte apelo visual, que ajuda na identifica- ção da marca. Para o processo de obtenção do registro de marcas e patentes, esseselementos são obrigatórios. Por isso, meu conselho é que contratem uma agência de design para de- senvolver o processo desde o início, pois é comum que empresasrecorram àsagênciasdepois de ter problemas com a marca, ou seja, as agências de design geralmente são chamadas paraapagar incêndios, atépelo desconhecimento da importância do processo. Com essespontos definidos, desenvolve-se um Progra- ma de Identidade de Marca, que é um roteiro através do qual se define o uso de cada um dos elementos que, no seu conjunto, constituem a identidade visual. Dentre eles, cabe destacar alguns aspectos importan- tes, como as cores. Muito antes de lermos o nome de algu- mas marcas, ou seja, antes de ler seu logotipo ou de inter- pretar seu símbolo, é a cor que estabelece a comunicação. Pensevocê numa avenida com uma série de postos de gasolina e seu tanque na reserva: é a cor que permite a você visualizar o posto de longe ou, no caso dos refrigeran- tes, quantas vezes a cor definiu a marca? Em muitos casos, a cor será um forte elemento de co- municação. Imagine a fachada da sua loja com uma cor, e o impresso e o site com outra. A possibilidade de estabele- cer uma forte identidade de marca ficará difícil, motivo pelo qual as empresas de design desenvolvem um progra- ma de identidade, que contempla todos os elementos utili- zados para gerar a identidade da marca e que a tornarão mais forte. Esseselementos são cada vez mais diversos, e ele- mentos sonoros e musicais, cada vez mais, fazem parte de identidade de marcas. Imagine sua marca inserida na tecnologia digital (softwares, hipermídia, internet, entre outros) utilizando sons como forma de comunicação. Para iniciar uma estratégia de marca 29 ! É o "plim-plim" da Rede Globo. O Programa de Identidade de Marca entregue pela agên- cia de design deverá conter todos os elementos em que a marca será aplicada e que serão importantes para o início das atividades da empresa, como, por exemplo, cartões de visita, documentos internos e externos, design do ambien- te, site, uniformes, entre outros. O valor da criação, do desenvolvimento da marca e da elaboração do manual está atrelado à quantidade de ele- mentos a serem desenvolvidos. Por isso, é importante ela- borar um briefing e listar todos os itens necessários antes de fechar o contrato. As agências idôneas esclarecem todos esses itens a seus clientes. A compreensão do Programa de Identidade de Marca é básica, ou seja, é o mínimo que uma empresa que perce- beu a necessidade de investir em marca precisa. No entan- to, o ideal é incluir nesse programa uma visão de futuro orientada ao usuário e, com isso, agregar valores emocio- nais. Dessa maneira, o programa permitirá à empresa criar compromissos que poderão ser compartilhados por todos os funcionários, compromissos estes que nortearão ações e con- tribuirão para que essas ações ocorram de forma integrada. As marcas não são estáticas. É preciso lembrar disso sempre, pois, cientes de que ocorrerão mudanças, as em- presas devem utilizar esses programas visionários para atu- alizar e ajustar as marcas na medida do necessário. Freqüentemente nós nos deparamos com empresas que investiram em um Programa de Identidade de Marca, mas abandonaram os estudos e a visão de futuro por algum tem- po, só retomando o projeto quando perceberam que a mar- ca ficou ultrapassada. O esforço para reposicionar essa marca é maior e mais caro que manter o estudo vivo. Hoje, a noção de futuro é calculada. Muito do que ocor- rerá nos próximos anos já é conhecido, permitindo que pre- paremos ações planejadas. A geração dos anos 70 e 80, que são os atuais consumidores de 20 a 30 anos, não estu- dou com computadores. Para os nascidos na era digital, no entanto, esse contexto é totalmente diferente. Todo o apren- dizado está baseado em realidade virtual. Daqui a 20 ou 30 anos, serão eles os consumidores potenciais do mercado de marcas - e as marcas que quiserem atender esse público deverão estar preparadas para isso, deverão compreender os desejos e anseios de um público com esse perfil. Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas 31 IPara iniciar uma estratégia de marca Atualização da marca Por trás de um nome ou logotipo, existem valores que repre- sentam a empresa. Portanto, o planejamento de uma marca exige muitas pesquisas para transmitir, de forma atrativa, todo o potencial da empresa para os clientes. Um produto de marca forte é muito mais carodo que seus concorrentes, porque o poder que ela tem é indiscutível nas escolhas dos consumidores. Branding é o gerenciamento da marca em todas as ins- tâncias, ou seja, depois de a identidade ser definida, as estratégias de aplicação da marca devem ser gerenciadas e acompanhadas para garantir essa identidade e para valo- rizar a própria marca. Essas estratégias devem estar presentes no planejamen- to da empresa e são chamadas de estratégias de marca (branding strategies). Em sites de algumas empresas que uti- lizam ações de marca, é possível encontrar uma mostra desse trabalho. Essas ações devem estar presentes também nos ambientes físico e digital, ou seja, na loja e no site, nas embalagens, nos pontos de venda, nos produtos - e devem ser conhecidas pelos funcionários, devem transmitir o espí- rito da empresa em todos os ambientes se possível. Quando alguém vê o produto sem ver o logotipo e consegue reco- nhecer a marca é porque esse trabalho foi bem feito. Ao longo da história, as marcas devem ser atualizadas, Atualização da marca 33 I Um caso recente foi a reformulação da marca Família Cristã. Foram estudados todos os logotipos ao longo dos 70 anos, resgatando-se valores como o símbolo da cruz presente nos anos 50 e inserido junto à letra F. O destaque da palavra cristã foi reforçado por uma linha preta que transmite o conceito do cristianismo como base da família. O projeto acompanhou ainda, um minucioso estudo de aplicação de cores por se tratar de uma revista onde o logotipo seria inserido sobre fotografias. pois precisam acompanhar as constantes mudanças da so- ciedade. Reformulação de marcaspressupõeconsiderar seus valores visuais e históricos, o que torna o trabalho comple- xo, pois está compromissado com conceitos já existentes. Os estudos e estratégias feitos em marcas já existentes definem a importância de atualizar sua imagem, redesenhar o logotipo ou símbolo. Isto não é uma prática constante mas é comum acontecer e depende das estratégiasou das tecnologias envolvidas no processo. Por exemplo, uma marca com mais de cem anos de vida já passou pelo me- nos por cinco reformulaçães. Com certeza, foi desenhada à mão e reproduzida manualmente nos primeiros anosde vida, ou ainda, com a tecnologia gráfica de clichês - que eram peças produzidas em metal, uma espécie de carimbo que, na indústria tipográfica, permitia reproduzir desenhos. A primeira reformulação deve ter ocorrido quando do surgimento dos fotolitos, sistemade reprodução de imagens com base na tecnologia da fotografia que permitia o uso de retículas e linhas mais finas e detalhadas. Nessaprimeira reformulação os desenhos ficaram mais limpos, ganhando qualidade - mas como, até os anos 80, esseprocesso era caro, não só pelo número de filmes ne- cessárioscomo também pelo processo de impressão, as marcas evitavam mexer nos seusdesenhos para aproveitar ao máximo o uso dos fotolitos e, com isso,baratear o inves- timento feito na reformulação. Por causa desse custo gráfico, a maioria das marcas ti- nha uma versão monocromática e uma versão a traço (em branco e preto), pois era uma única impressão e, portanto, mais econômica. Como asgráficas mudaram de tecnologia, mesmo quem não queria mudar sua identidade, teve de atualizar a marca para produzir o material necessário para as novas possibilidades de reprodução gráfica. A segunda reformulação ocorreu a partir dos anos 70, com advento da televisão, principalmente a TV em cores. As marcas começaram a ser expostas numa nova mídia, em que a composição da cor ocorre em um novo sistema. Alvaro Guillarmo - Branding: design e estratégias de marcas E'C.. ;t.tJ\,.;;~.:1.~\,:~~.~1El~ "::~';~I#J/"- ~ ~ •.~ i. ~'. .-''''''1' '''''''' - ~., .-J>-li", !; ••... ,I'..- •• n,t_,., ··t· Não eram mais as compo;ç6es "~j;~q~~tro'-cores gráficas: ciano, magenta, amarelo e preto, conhecidas como CMYK (Cian, Magenta, Yel/ow and 8Iack), e sim os três feixes lumi- nosos:vermelho, verde e azul ou RGB (Red, Creen and 8Iue). Além das questões tecnológicas que obrigaram a ajus- tes na marca para uma melhor visualização pela televisão, ocorreu também o desenvolvimento da cultura da observa- ção da imagem colorida. Das revistas, cada vez com mais imagens e mais coloridas, até os jornais, que inicialmente eram em preto e branco, preto da tinta e branco do papel. A terceira reformulação ocorreu a partir dos anos 90, por causa do incremento dos microcomputadores de uso pesso- al. Nessa nova mídia, por questões tecnológicas, são ne- cessáriosajustes para que as imagens não percam qualida- de e, principalmente com a internet, inicia-se uma leitura internacional das mesmas, o que torna necessário repensar a forma de apresentá-Ias. Com os softwares de linguagem com interfaces baseadasem ícones, as cores passam a ser reestudadas. Conseqüência da tecnologia digital, a quarta e última reformulação está acontecendo hoje, ou acontecerá nos próximos anos. A televisão digital terá um novo formato, com proporções retangulares na horizontal, e estará em novos lugares e objetos, muitos, inclusive, que ainda nem foram fabricados, mas que já sabemos que existirão. Das mais significativas mudanças destacam-se a reali- dade virtual e a holografia que permitem perceber e acre- ditar no espaço em três dimensões, motivo pelo qual mui- tas marcas já reformularam seus símbolos e logotipos de maneira que ganhassemvolume, tornando-se 3-D. Há empresasque vendem produtos em diversos segmen- tos ou para públicos diferentes. Nessescasos, algumas de- las optam por estratégiasde marca em que se definem um logotipo e um símbolo para atender cada segmento. Nessa situação, a proximidade visual e a semelhança gráfica en- tre eles preservam a identidade da marca corporativa, ou seja, existe um logotipo e um símbolo principal que repre- Atualização da marca 35 I sentam a corporação, a empresa como um todo. É a cha- mada de identidade visual corporativa. Depois, em alguns segmentos, muda-se o logotipo, a cor ou o símbolo. Por exemplo, uma empresa de alimentos pode utilizar na linha de chocolates, o logotipo na cor ver- melha e, na linha de laticínios um logotipo muito similar na cor branca. Outra solução comum é preservar o logotipo e alterar a área de proteção, que é a forma de fundo que envolve o logotipo ou símbolo. Enfim, o importante nessescasos, é preservar sempre a identidade entre eles. São diferentes entre si, mas muito próximos no conjunto, o que permite que o observador final perceba que fazem parte da mesma família de produtos, que por sua vez, pertencem à mesma instituição. Alvaro Guillermc - Branding: design e estratégias de marcas Objetivos da estratégia de marca Segundo Aaker (2000), cabe destacar os cinco principais objetivos para uma estratégia de marca: "lS 1. Medir a eficiência da rela~ar- ~dca e o consumi oro Essaação permite verificar pontos emocionais que ge- ralmente não aparecem nas pesquisas de mercado. Com essaavaliação, pode-se entender quais são os hábitos e as atitudes que o consumidor estabelece na relação com a marca. 2. Entender o valoc...dopreço nessarelação. A noção de "caro ou barato" em relações de marca passatambém por valores emocionais. Essetipo de estudo permite que se estabeleçam preços com maior flexibilida- de e faixas de oscilação sem comprometer o negócio. 'X. 3. Com as pesquisas realizadas e os dados bem tabula- dos e armazenados, é possível acompanhar essa relação dos consumidores. Pode-sesupervisionar e entender astendências dos con- sumidores e a evolução econômica dos mesmos. É comum empresas oferecerem produtos sempre ao mesmo tipo de consumidor. Por exemplo, trabalhar sempre com determi- nado público infantil - e não acompanhar o consumidor quando ele "teoricamente" muda de faixa. Se esseconsu- midor tem uma relação com a marca e não só com o produ- Objetivos da estratégia de marca AAKER, David A. Marcas. Brand Equity, São Paulo: Ed Negócio, 2000, 37 I to, pode-se verificar a possibilidade de dar continuidade a esse atendimento. Muitos consumidores, em determinado momento da vida, mudam de marca pela falta de oferta de atendimento da marca, e não por vontade própria. ){ 4. Também é importante acompanhar como seu consu- midor se relaciona com outras marcas, mesmo que estas não sejam suas concorrentes. Para as empresas de pequeno porte e para aquelas que têm dificuldade de realizar pesquisas com sua marca e acom- panhar as marcas concorrentes, existe uma opção que cos- tumamos utilizar muito com nossos clientes, as ações com marcas intrusas. São ações mais baratas, com resultados mais fáceis de verificar. Costumo dar essa dica àquelas empresas que têm dúvi- da em iniciar um trabalho de marca. Organize um ponto dentro da sua loja para fazer o teste. Pode ser a vitrina ou uma estante. Deixe o resto da loja como está e trabalhe apenas esse ponto escolhido. Organize seus produtos e co- loque junto deles alguns produtos que combinem, mas de outras marcas, de preferência, de marcas fortes e conheci- das. Se você vende óculos esportivos, organize seu espaço colocando junto uma bola ou um boné, por exemplo. Man- tenha ao lado e no restante da loja seus produtos como estavam. Estude o que acontece, verifique se o seu produ- to, com destaque de outra marca, é mais solicitado. Verifi- que como o consumidor se comporta, se mexe e toca mais nesse produto. Você conhece seu negócio e logo perceberá se houve alguma mudança. Provavelmente, em pouco tempo, você já terá dados, pelo menos, para saber se deve investir num projeto de marca. y, 5. Outra ação necessária é medir qual é, de fato, a efi- ciência dos investimentos que sua empresa têm feito em propaganda e comunicação. No mundo contemporâneo, é muito difícil saber com certeza onde encontrar seu público. Ações de propaganda feitas até cinco anos atrás já não produzem os mesmos re- Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas sultados. Esse tipo de estudo permite, de início, determinar verbas para iniciar projetos de marca. Verifique quais ações de publicidade e propaganda não deram o resultado espe- rado. Tenha esses dados sempre por perto. Separe a verba que utilizou nessas ações e utilize-a para iniciar um projeto de marca. Assim não será necessário determinar uma nova verba para iniciar um projeto de branding. E como medir a eficiência dos investimentos em comu- nicação? Alguns levantamentos de dados são necessários, mas podem ser feitos num curto espaço de tempo. Verifi~e quem de fato sãe~ntes ..•. E, como já vimos, isso não pode ser feito de forma gené- rica. Tente aprofundar esse olhar sobre o cliente. Defina claramente quem compra sua marca. Por exemplo, podem ser definidos por gênero? São solteiros? E assim por diante. Depois verifique quem utiliza sua marca, mas lembre- se: quem compra (shopper)nem sempre e é quem utiliza. Com esses dados definidos, tente verificar quem tem o poder de decisão sobre a marca, ou seja, quem compra define ao usuário que marca utilizar? Ou, ao contrário, quem usa define ao comprador que marca adquirir? O próximo passo é descobrir como seu cliente tomou contato com sua marca. Estava próximo à loja? Foi buscan- do preço? Não conhecia a marca? Viu alguma peça publi- citária? Foi através do site? Indicação de alguém? Não te- nha receio de questionar sobre isso. Treine sua equipe, e um bom vendedor saberá fazer desse questionamento argumen- tos para uma conversa durante a compra. Levante os investimentos de comunicação já elabora- dos para poder cruzar çom esses novos dados sobre seu cli- ente. Com esses dados, já será possível verificar qual ação foi mais eficaz e qual não trouxe resultados. Se quiser aprofundar um pouco mais a pesquisa, tam- bém poderá perceber se o cI iente retorna ou se, na maioria das vezes, seu comprador entra em contato uma única vez. Esse tipo de avaliação é apenas para checar a eficácia Objetivos da estratégia de marca 39 I Por que os clientes não retomam 68% por falta de atendimento /,2: 14% -, qualidade 9% "- preço 5% novos hábitos )% mudam a residência t% morre das ações de comunicação. É lógico que, caso você opte por iniciar um projeto de marca, essas avaliações serão ampl iadas e reestudadas, como, por exemplo, saber por que seu consumidor não retoma e outros pontos que serão abor- dados mais adiante. A dica, portanto, é selecionar, dentre essas ações, aque- las que não trouxeram resultados ou trouxeram resultados insignificantes. Defina o valor desses investimentos e dedi- que esse mesmo valor para iniciar ações de estratégias de marca. Dessa forma, você estará utilizando a mesma verba que já disponibilizava para a comunicação e marketing, sem ter a necessidade de investir além do que já estava previsto. Em outras palavras, você estará redirecionando os investimentos e dedicando parte desses que não apresenta- ram bons resultados para iniciar um trabalho de marca. É bem provável que, em um curto espaço de tempo, você tenha resultados e no próximo planejamento, já realoque suas verbas ou decida investir mais em ações de marca. o que se pretende atingir com as estratégias de marca? Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas É importante verificar como a qualidade de sua marca é percebida pelo consumidor. Se você é obrigado a colocar um monte de selos indicando que atende a padrões interna- cionais e mesmo assim sua qualidade não é percebida, será necessário um estudo dessa natureza. É mais ou menos como entrar numa sala que foi limpa nesse instante. Provavel mente você nem percebe, pois, para você, ela deveria mesmo estar limpa. Por ser uma condição prévia, esse dado não gera destaque ao usuário. Entretanto, às vezes, ao entrar numa sala você não repara visualmente na limpeza, mas pode sentir um aroma especial que o faz refletir sobre o fato de a sala ter acabado de ser limpa. Investir em padrões de qualidade não garante a escolha de sua marca ou produto. Não oferecer esses padrões, sim, pode influenciar a não escolha de sua marca. Quando uma empresa ou produto recebe certificações de qualidade, significa que atingiu o básico para esses pa- drões internacionais, mas não é através dessascertificações que sua marca será diferente e que encontrará sua identidade. Quando preço e qualidade, que são fundamentais na venda, não fazem mais a diferença entre os produtos con- correntes, é necessário encontrar outras fórmulas - e aí es- tratégias de design e de marca são boas opções. Por isso, é importante compreender o que significa qua- o que se pretende atingir com as estratégias de marca? 41 I \1 lidade para o consumidor e essa compreensão deve ir além da compra. Muitas empresas têm acompanhado a satisfa- ção do cliente até o momento da compra, mas poucas têm acompanhado essa relação no seu dia-a-dia. Muitas vezes, esses são os motivos para que o comprador não retome a sua marca, e aqui já estamos tratando de outro ponto impor- tante, que é a lealdade, e não a fidelidade, à marca. A fidelidade não é mais um item de importância para as novas gerações. Provavelmente seu pai, ao longo da vida;: consumiu uma única marca de automóvel. Hoje, se você já teve três ou quatro carros, é bem provável que cada um tenha sido de uma marca diferente. Partindo desse pressu- posto, cuidar de nosso cliente será algo de extrema impor- tância, e é por isso que, desde o início, estamos dizendo que é importante que sua marca conheça o consumidor. Ações de marca com clientes que são conhecidos tra- zem alguns benefícios, como, por exemplo, ajudar a redu- zir os custos de marketing. Você já sabe onde ele está, o que ele faz e o que ele quer. Estratégias de design conse- guem atender a desejos e anseias desse consumidor que ele mesmo não conhece ou não consegue expressar. Com ações de design estratégico, é possível preparar a empresa para momentos de futuro. Geralmente, são ações que apresentam resultados em curto prazo e podem atrair novos consumidores através dos .. clientes conhecidos. Se sua empresa já tem clientes e os conhece, é impor- tante preparar ações para mantê-Ios por perto, pois é menos oneroso manter um consumidor como cliente do que conquistá-Ia ou reconquistá-Ia. A perda de um cliente pode ter vários motivos, mas seja ele qual for, houve um trauma, um desgaste que precisa ser superado. Portanto, o esforço será maior. Algumas pesquisas mostram que um cliente in- satisfeito convence muito mais pessoas do que um cliente satisfeito consegue convencer. Algumas ações simples podem ajudá-Io, como, por exemplo, avaliar constantemente a satisfação dele em to- Alvaro Guillermo . Branding: design e estratégias de marcas ."0 das as etapas que se relacionem à marca. Crie formas para que o cliente sinta benefícios de estar junto a sua marca. Muitas marcas não dependem de promoções e descontos. Às vezes, outros benefícios são mais bem recebidos. O conhecimento da marca é um dos resultados mais difíceis de serem alcançados, mas toda e qualquer ação de marca deve atingir esse estágio, pois, a partir do momento em que a marca se torna conhecida, outras ações come- çam a se tornar mais viáveis. Os negócios serão diferentes quando a marca for conhecida, pois ela pode ser uma ânco- ra para outras associações e ações de negócios. O conceito de âncora se baseia na idéia de âncora naval, ou seja, é como se outros negócios surgissem como conseqüência do atracamento de determinada marca a um determinado es- paço. Se essa marca âncora não estivesse lá, todos os vizi- nhos atracados à sua volta seriam diferentes. Para saber do grau de conhecimento da marca, é impor- tante também verificar qual o grau de familiaridade que ela representa para o consumidor. (~ Algumas marcas são bastante conhecidas (mundialmen- te), mas transmitem um grau de familiaridade bem distan- te. É o que acontece com os postos de abastecimento de combustível. As pessoas conhecem as marcas, mas essas não geram alto grau de familiaridade. Exatamente por isso, as estratégias dessas marcas têm sido gerar familiaridade. Como a estratégia de instalar lojas de conveniência para presta ão de outros servi os~'" 6IfJá q~ando~~~u de familiaridade é alto, ou seja, o consumidor considera a marca como algo de sua família, estabelecem-se laços emocionais que devem ser conside- rados nas próximas estratégiasl' Em cidades pequenas com pouco comércio, as marcas mais antigas e tradicionais ge- ralmente têm esse valor. Mexer com uma marca dessas sig- nifica mexer em valores socioculturais, valores que incidem sobre os cidadãos. Quando uma marca atinge esse grau, ge- ralmente gera confiança e, conseqüentemente segurança. Com esses exemplos, demonstramos que o grau de familia- o que se pretende atingir com as estratégias de marca? 43 I Monumento em homenagem aos heróis da Revol ução de1932. ridade não está necessariamente relacionado ao tamanho da marca ou da empresa. Depois que uma marca se tornou conhecida, vem o pas- so mais difícil, que é obter o reconhecimento. Uma marca é conhecida quando, vista ou falada, é lembrada pelo consu- midor. No entanto, quando se fala apenas do segmento, de um tipo de produto ou de serviço específico, e o consumidor é capaz de lembrar-se da marca, estamos falando em reco- nhecimento. Para entender esse processo é importante verificar a dis- tinção que Gombrich (1995) faz entre o "reconhecimento" e a "rememoração" da imagem, a fim de compreender a cons- trução da memória. O reconhecimento refere-se à apreensão do visível e às funções sensoriais. Já a rememoração, que é essencial, refere-se à memória e ao intelecto, portanto, às funções de raciocínio. Vamos dar um exemplo desse processo. Quando passa- mos perto do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, vemos alguns monumentos. As pessoas que conhecem o parque, quando vêem um monumento branco que lembra um grande pilar com a ponta piramidal, reconhecem-no e o chamam de Obelisco do Ibirapuera. Isso é reconhecimento, pois nos remete ao monumento (produto) e ao seu redor (contexto), que é o próprio Parque do Ibirapuera. Já algumas pessoas poderão dizer que aquele monumen- to é o Obelisco em homenagem aos Heróis da Revolução de 32, que fica no Parque do Ibirapuera. Isso é rememoração. Além do reconhecimento, há uma lembrança ligada ao seu conteúdo e ao seu repertório. No caso do uso da remem oração, estamos trabalhando com a imagem, e com a codificação e a decodificação da mesma, já que, dentro de seu valor simbólico, ela representa conceitos intelectuais - diferentemente de objetos de nosso cotidiano, para os quais fazemos uso apenas do reconhecimento, mesmo que tenham muitos anos de vida. Logicamente, esse estágio é muito difícil de ser alcançado. Para haver reconhecimento, é preciso estar presente. Alvaro Guillermo . Branding: design e estratéqlas de marcas A permanente exposição contribui para essa associação. Já para ser rememorado, é preciso ter história. Só a exposição não atinge isso. É um processo longo e cultural, fato pelo qual as marcas mais lembradas são geralmente as mais anti- gas ou pioneiras. Essa idéia de "antiga" não é apenas uma relação com o tempo, mas uma relação do tempo com a história da marca. Na área da informática e tecnologia, por exemplo, Microsoft e Apple, apesar de serem marcas jovens, são as mais antigas no seu segmento e, principalmente, pio- neiras no conceito de linguagem de informática à base de ícones. Por tratar de questões culturais, esse resultado é muito difícil de ser alcançado. A discussão é importante, pois aponta níveis de conheci- mentos culturais que passam pela educação atrelados ao uso do intelecto e do raciocínio. Dessa forma, quando se propõe o uso da "memória", define-se claramente o feedback do espectador. É comum ouvirmos falar que somos uma sociedade sem memória. Essa citação se refere ao conceito aqui apontado, motivo que torna os projetos de marca mais difíceis de serem alcançados. Isso explica também o fato de a memória, do ponto de vista da memorização, não se inserir completa- mente no cotidiano social, pois faz uso do intelecto, tornan- do mais "fácil" utilizar o reconhecimento. Design estratégico para marcas A arte de agregar valor ao seu projeto O objetivo desta publicação não é ensinar o desenvolvimen- to de um projeto de design estratégico, mas orientar sobre a importância desse projeto para obter os melhores resultados. Segundo uma pesquisa realizada pela Design in Britain em 2003/2004, cerca de 44% das empresas que utilizaram o design de forma integral tiveram um aumento da competitividade em 2004 e no primeiro semestre de 2005. O design ganhou espaço no mercado por gerar resultados o que se pretende atingir com as estratégias de marca? 45 I comprovados na qualidade, no custo e no fortalecimento da marca, produtos e serviços. Desde a década de 60, a deman- da por projetos de design cresceu muito, pois as empresas entenderam que a marca, os produtos e os serviços podem ser muito mais fortes e lucrativos com uma boa estratégia, que somente o design oferece. O estudo detalhado da maté- ria-prima, das necessidades do consumidor e do custo, por exemplo, tornaram-se fundamentais para qualquer empresa ser altamente competitiva. Design estratégico se refere a estabelecer uma visão de futuro, norteadora e inovadora. Design permite visualizar desejos e anseios e agregar valor aos produtos, à imagem e aos serviços da empresa, que pesquisas de mercado e o pla- nejamento sobre essas pesquisas não refletem. Por muito tempo - e por questões históricas e culturais - nós nos acostumamos a traçar nossos caminhos e os de nossas empresas, num rotei- ro de descobertas e desbravamento do mercado. Com o ad- vento da informática passamos a calcular melhor esses traje- tos e mensurar esses mercados. O design, porém, permite que, além desses percursos, pensemos o futuro de uma forma mais desenhada. As ações que realizamos no presente são os primeiros passos para colher os frutos no futuro, e o que o design nos permite é desenhar já o que podemos fazer com esses frutos, algo que vai além do suco previamente espera- do. Trata-se, portanto, de superar expectativas. Como, na maioria das vezes, o resultado de um projeto de design é visualmente forte, muitos acreditam que o pro- cesso se limita ao desenvolvimento de desenhos, mas, para chegar a esses resultados, muitas fases anteriores, principal- mente de pesquisa, são realizadas. Nesse processo definem- se conceitos que orientarão todos os trabalhos seguintes. Es- ses conceitos não podem ser definidos pelo gosto do proprie- tário da marca ou pelo designer. São criados em conjunto, a partir das pesquisas, que não se baseiam somente em estatís- ticas, motivo pelo qual é preciso entender o processo. Estudos e análises de dados Alvaro Guillermo . Branding: design e estratégias de marcas Metodologia de trabalho com marcas Para começar, é bom perceber que obter dados e analisá- Ias sob a óptica da marca requer um novo olhar. Estamos acostumados a medir nossos dados a partir de nossos produ- tos, do volume de vendas e dos compradores, mas uma análise de dados de marca é diferente. É muito comum recebermos informações com o seguin- te teor: "consumidor classe 8". Esse tipo de informação é muito vaga para uma estratégia de marca. Mesmo quando detalhado faz-se necessário um outro olhar. Por exemplo, poderíamos afirmar: público feminino, entre 30 e 40 anos, classe 8, renda familiar X, fala três idiomas, morou no exte- rior, etc. Mesmo com esses dados, não é possível definir concretamente ações de marca. Sempre dou um exemplo de dentro de casa. Meu irmão e eu estamos na mesma faixa. Se utilizarmos tais princípios estatísticos, como ex- plicar que, mesmo assim, usemos marcas totalmente dife- rentes - as que me atraem não atraem meu irmão, e vice- versa. Ora, isso ocorre porque existem valores que não estão quantificados nessas pesquisas. Há valores que são emoci- onais e muitos deles são mutáveis e se ajustam ao tempo de vida da própria marca. Uma marca que hoje vende inovação, amanhã pode vender experiência, motivo pelo qual literalmente criamos, Metodologia de trabalho com marcas 47 I LarCenter o SHOPPING DA SUA CASA como filhos, as marcas. Criar é preparar para o futuro, para o novo, cuidar ao longo do tempo, para que sofram o míni- mo possível e acompanhar seu crescimento, suas identida- des e suas relações com a sociedade. Por isso, é preciso ficar atento aos dados que apontam situações de futuro. Estratégias de marca sempre apontam para o futuro, e os planos devem ser pensados para cinco ou dez anos à frente. Por exemplo, inúmeros estudos apontam para o envelhecimento e aumento da expectativa de vida da sociedade brasileira nos próximos anos. Qualquer estra- tégia de futuro deve levar esse dado em consideração. Dez anos atrás, uma pessoade 50 anos tinha um papel na soci- edade totalmente diferente do que terá daqui a dez anos. Todo o nosso trabalho se baseia em pesquisas, que têm demonstrado ser a melhor forma de obter bons resultados e causar prejuízos menores. Recentemente, elaboramos um estudo para um grande shopping center temático de São Pau10: o Shopping Lar Center. O grupo Center Norte já tem como característica o in- vestimento em ações de futuro: investiu e implantou um dos maiores empreendimentos da cidade numa região que, há mais de 20 anos, não despertava interesse comercial, tampouco especulação imobiliária. Passados esses anos, o projeto visionário foi culturalmente incorporado pela em- presa e é administrado com o objetivo de construir experi- ências para o futuro. Dessa forma, surgiu o Lar Center, o primeiro centro co- mercial temático de decoração do Brasil. Nosso trabalho é focado em ações e estudos que ajudam a construir e nortear as diretrizes para o futuro do empreendimento. Enquanto a maioria dos vizinhos e novos empreendimentos chegados à região usufrui, nesse momento, do sucesso do shopping, o grupo já está investindo para os próximos 20 anos. Uma das ações desenvolvidas foi estudar como o clien- te final se comporta no espaço comercial do shopping e das lojas. Foi possível verificar quem é o usuário que consome, quem é o usuário que decide e quem é o usuário que efetua Alvaro Guillermc • Branding: design e estratêgias de marcas a compra. Sabemos como cada um deles exerce influência o processo de compra e estamos acompanhando as conse- qüências disso para os próximos anos. Não é mais possível colocar um produto nas prateleiras das lojas e ficar esperan- do que alguém entre para comprá-Io. Para manter este pro- cesso ativo de forma contínua foram desenvolvidos proje- tos criativos e inovadores que auxiliam no atendimento e satisfação do cliente, preservando o conceito do shopping de estar sempre à frente em seu segmento. Para que isso fosse possível, desenvolvemos uma metodologia própria de pesquisa em designo Com esse re- curso, pretende-se obter dados para projetos que não são verificados nas pesquisas tradicionais de mercado e tentar, assim, atender aos desejos não expressos pelos clientes. Nossas pesquisas não perguntam ao cliente e aos usuários o que eles querem, mas identificam desejos. Os usuários, em sua maioria, não são capazes de projetar seus desejos ou de expressá-Ios claramente. Assim nosso trabalho consiste em interpretar esses dados para atender a esses anseias. Como nosso foco é no ser humano e no design, nosso desafio é encontrar as ligações emocionais que podem ser despertadas através de novos produtos e serviços, geralmente esquecidas. Para obter bons resultados, é importante que o cliente passe a atuar como parceiro, envolvendo-se em todas as etapas e contribuindo significativamente nos resultados. O que sempre reforçamos com nossos clientes é que, além do investimento nesse tipo de serviço ser bem mais acessí- vel do que a contratação de equipes internas, o resultado do trabalho pode ser verificado num prazo curto. Já tivemos casos em que os resultados apareceram em questão de meses, como foi registrado pelo programa Pequenas Empre- sas, Grandes Negócios da Rede Globo e o que é melhor: nosso trabalho resultou em economia para a empresa, res- gatando também os valores investidos na nossa contratação. O Pequenas Empresas, Grandes Negócios, fez um pro- grama especial sobre como as empresas focadas em design Metodologia de trabalho com marcas Programa especial sobre design, exibido pelo programa Pequenas Empresas Grandes Negócios, Rede Globo. 49 I Fruteira desenvolvida pela Arte In a parti r de sobras industriais para a empresa Passerini obtêm resultados com estratégias de designo O programa, que foi ao ar no dia 29 de maio de 2005, apresentou dois cases da Arte In. No primeiro caso, uma empresa de mó- veis de madeira, Immense, dá uma virada com móveis di- ferenciados, com desenhos totalmente inovadores centrados no ser humano e explorando as curvas e a relação do objeto com o usuário. Nesse caso, além dos novos projetos, a Arte I n cuidou de toda a inserção da marca no mercado, reapresentando a empresa no novo segmento e os novos produtos. O sucesso foi total, com o crescimento de 30% nas vendas, logo no primeiro ano. No segundo caso, a empresa Passerini de aramados es- tava se reestruturando. Aproveitando os 30 anos de existên- cia, a Arte In renovou o logotipo e o símbolo, refez o site, lançou novos produtos, desenvolveu o novo design de em- balagens e catálogos e fez a apresentação da empresa na GiftFair, com estande e ambientação. Em apenas seis me- ses já era sucesso. Clientes e fornecedores elogiaram as mudanças. O investimento da diretoria com design foi bai- xo, e ainda se obteve retorno com economias obtidas no processo de produção. Interpretação Essaspesquisas verificam como os consumidores vivem com esses produtos e serviços e se estes detectam anseios não- expressos, que ajudariam o consumidor a viver melhor com o produto, a função ou o serviço. Quando questionado o consumidor não sabe o que poderia ser, mas sabe o que não é ou o que não quer mais. Exemplos interessantes foram as pesquisas. real izadas no fim dos anos 80 com os videocassetes. As pesquisas de marketing apontavam basicamente para a necessidade de rebobinar mais rapidamente a fita. Muitas marcas apresen- taram inúmeras idéias e aumentaram o número de cabe- ças, agilizando o processo. Uma outra marca lançou um novo aparelho, apenas para rebobinar. Enquanto isso, a Sony 150 Alvaro Guillermo - Branding: design e estratégias de marcas realizou pesquisas de design e lançou o OVO, produto que, além de atender à questão do "rebobinar a" fita", trouxe outras inovações e destronou todas as outras marcas, pondo um fim ao videocassete. Isso é design, e, com esse exem- plo, ilustramos também, o que já foi citado anteriormente: um projeto de design não é necessariamente só um bom resultado estético e visual. Acompanhamento de consumidores Outro método de pesquisa muito utilizado no design é o acompanhamento de consumidores (análises etnográficas). Esse processo pode ser realizado de várias formas: uma de- las é a formação de grupos de consumidores, que são convi- dados a conversar com a equipe de designo Os encontros são registrados (gravados e fotografados) e, dependendo do gru- po, podem ser declarados ou ocultos. Muitas vezes, para deixar os consumidores mais à vontade os encontros são fil- mados através de espelhos conhecidos como "espelhos espi- ões", pois, do lado do grupo há um espelho e, do lado dos observadores, uma janela de vidro. Os "espiões" são muito utilizados em clínicas de psicologia e de fonoaudiologia, ou em delegacias de polícia. Já se for importante para a pesqui- sa verificar o comportamento frente às câmeras, isso se faz em frente ao grupo de consumidores. Entretanto, o método mais importante e eficaz que utili- zamos é fazer a mesma experiência do consumidor. Passar pelos mesmos caminhos, nos mesmos ambientes. Esse tipo de estudo permite avaliar não só o envolvimento do consu- midor com a marca, mas vai além, permite verificar todos os fatores envolvidos no processo de compra, desde a loca- lização da loja, seu ambiente e atendimento até relações interpessoais, interferências externas ao negócio, ponto de venda e produtos. Em recente pesquisa realizada por nossa empresa para o Pólo de Decoração do ABC, uma associação de lojistas do segmento de móveis e decoração das cidades do ABC Metodologia de trabalho com marcas 51 I IC PÓ LO O E DECORAÇÃO paulista, percebemos e identificamos fatores que contribu- íram para auxiliar a associação a definir estratégiasde futu- ro. O grupo é formado por 50 empresários bem organiza- dos, o que ajudou muito a configurar a ação de pesquisa. No entanto, trata-sede 50 lojas de grande porte, que ofere- cem os mais variados produtos para o mesmo segmento. Como garantirque os investimentos e estratégiasda associ- ação sejam benéficos para todas as empresas associadas? Até que ponto o resultado da ação de uma loja interfere na imagem do grupo e vice-versa? Até que ponto interessaao consumidor final adquirir produtos de uma empresaque faz parte do grupo? Finalmente entre muitas outras coisas que esseestudo proporciona, está saber como de fato se com- porta o consumidor na loja, como se comporta o lojista e seus funcionários, ou seja, como é de fato o dia-a-dia, ob- servado e analisado criteriosamente. É comum, no Brasil, e em empresas familiares, que a rotina da empresa mude com a presença do proprietário ou chefe, e este, na maior parte das vezes, desconhece a realidade de sua empresa, já que sua presença altera o comportamento da equipe. Consumidor oculto Outra forma é conhecida como consumidor oculto. Nesse caso, uma pessoa treinada para esse fim vai fazer todo o processo que o consumidor faria até usufruir o produto. Sai de casa, vai à loja, busca o produto, efetua a compra, pede informações, volta para casa e utiliza o produto. Todo esse processo é registrado e avaliado. Muitas vezes, o problema pode não estarno produto, mas na loja, no ponto de venda, no atendimento, na embalagem ou no peso para transportá- 10. Enfim, os resultados podem serencontrados ao longo do processo. Uma vez, durante uma consultoria ao Governo do Ceará, visando a tornar o artesanato um produto para o mercado de turismo, realizamos esseestudo. Em uma loja comprei uma galinha de barro l,5m de altura. Depois de efetuar o pagamento, esperei para ver o que a atendente Alvaro Guillermo . Branding: design e estratégias de marcas - faria. Ela me olhou, olhou de novo e ficou pensando o que eu estaria esperando. Aí, perguntei: "Como vou fazer para levar o produto? Vocês enviam para meu endereço?" - "Não senhor. Isso agora é um problema seu". E foi. Demorei mais de um ano para receber a tal galinha. Na primeira tentativa, chegou em cacos, toda destruída. Na segunda, sem saber ainda como, foi parar em Aldeia da Serra.Até que, por fim, depois de um ano, voltando várias vezes a Fortaleza, consegui receber o produto. Ah!, sim! Chegou com o rabo quebrado, mas preferi colar. Como uma loja coloca um produto à venda para turis- tas, se esses não conseguem transportá-Ios? No entanto, exemplos desse tipo não faltam ... Varredura visual Outro processo é o da varredura visual. Nessapesquisa, os designers registram e documentam o olhar, a postura e as ações dos consumidores em todo o processo, desde a com- pra até o uso. Com ela é possível verificar aspectos psíqui- cos que não aparecem em outras pesquisas. Por exemplo, pesquisasmostram que mulheres de 30 a 40 anos, de classe média, com ensino superior e que falam dois idiomas, fre- qüentam certo local, mas pesquisas de varredura visual podem mostrar se essasmulheres estão tristes ou alegres. Sãodados possíveisde detectar somente após essaobserva- ção. Um caso conhecido foi a análise feita para a Associa- ção de Boliches dos EstadosUnidos. Nela, percebeu-se que havia um espírito de festa e alegria explícito nesseesporte. Não só por parte dos jogadores, mastambém de seusacom- panhantes. É só nos lembrarmos do desenho animado de Hanna Barbera, "Os Flinstones", e do ambiente que girava em torno da ida ao boliche: era uma alegria! Depois dessa análise, os boliches mudaram totalmente, tornando-se lo- cais mais alegres, mais iluminados, com bolas coloridas e Metodologia de trabalho com marcas 53 I São Desidério, Bahia. possibilitando que todos participassem, mesmo os acompa- nhantes. Foi uma mudança marcante que popularizou no- vamente o esporte. Mapeamento 3600 Nesse método, são levantados todos os caminhos, como se pegássemos um compasso e marcássemos tudo que está ao redor do ponto focal. Essa análise 3600 deve ser elaborada em todos os planos, do pedido ao descarte, com todas as interações envolvidas. Empresas costumam ir se desenvol- vendo por um único caminho. À medida que o tempo pas- sa, vão se distanciando do ponto central, e pode ser que esse caminho não seja a única solução, ou a mais viável. Em um projeto recente de design estratégico para a cidade de São Desidério, do interior da Bahia, essa metodologia nos possibilitou encontrar soluções inovadoras. A cidade nasceu e cresceu a partir de sua relação com a capital, Salvador, que fica a 900 km de distância. Até aquele mo- mento, vivia dessa relação, dependia dos turistas vindos da capital e, portanto, fazia publicidade em veículos da capi- tal, mas, o maior empecilho para o negócio era a distância, que não permitia ampliar o turismo. Fazendo um círculo a partir dessa distância entre São Desidério e Salvador, descobrimos vários pontos importan- tes. Várias cidades estavam mais próximas, entre elas Brasília que fica a 480 km de distância, quase metade da distância até Salvador. Só que nenhuma dessas cidades ti- nham ouvido falar de São Desidério, que, por toda a sua existência, dedicou a verba publicitária aos veículos da capital baiana. AMontanha A metodologia que batizamos de "a montanha" remete ao provérbio "se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé". Nesse tipo de análise, verificamos as ações que Alvaro Guillermo Branding: design e estratégias de marcas são difíceis de atingir e que, por seu porte parecem uma "montanha". A princípio parece mais fácil e prático continuar in- sistindo na ida de Maomé à montanha, mas, com esse estudo, percebemos que pouca coisa vai mudar e que insistir nesse processo é dedicar verba e tempo a uma ação que não trará o resultado esperado. A mesma anál i- se nos permite apostar na mudança do sentido, e mesmo sendo árduo e difícil, podemos atingir esse resultado le- vando a montanha a Maomé. Um desses casos é o Projeto Embarque na Leitura no Metrô, realizado conjuntamente com o IBL (Instituto Brasil Leitor). Basicamente, esse projeto leva bibl iotecas às esta- ções de metrô. Em vez de continuar tentando levar pes- soas às bibl iotecas, resolveu-se levar as bibl iotecas até as pessoas - e onde estão as pessoas que têm um tempo para ler? No metrô! A primeira biblioteca foi inaugurada na Estação Para- íso, em São Paulo, e o sucesso foi tanto que, em menos de três anos já foram inauguradas bibliotecas, nas esta- ções Tatuapé e Luz, ainda na cidade de São Paulo e nos metrôs do Rio de Janeiro e do Recife. Pela iniciativa, o projeto recebeu o Prêmio Iniciativa à Cultura, da Rede Globo, e o Prêmio Mário Covas, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Nessas bibliotecas a população tem a oportunidade de levar li- vros atraentes para casa. São mais de 3 mil títulos que podem ser consultados por meio de um sistema de pes- quisa automatizado. É um projeto que mostra a total sintonia de nossa em- presa com nossos clientes e parceiros, nesse caso, o IBL. Bibliotecas Embarque na Leitura, Metrô, São Paulo. 55 I Tempo Essas pesquisas determinam ações de curto, médio e longo prazo. É importante que o planejamento seja bem gerenciado. Quando as ações forem determinadas, já esta- Metodologia de trabalho com marcas Brasão da CBF depois de conquistar o pentacampeonato da Copa de 2002 de futebol. Xícara São Paulo, criada em comemoração dos 450 anos da cidade. rão atreladas a momentos precisos que as potencializarão - e, em determinados casos, se não acontecerem naquele momento, não haverá mais razão para acontecer. Em ações sazonais, isso é mais evidente, como vender ovo de chocolate fora da Páscoaou comemorar 25 anos de existência com 26. Em outros casos, as ações não são tão evidentes, mas esse tipo de pesquisa e projeto permite prepará-Ias. Um caso que perdeu o tempo certo foi a con- quista do pentacampeonato do Brasil no futebol. Cada vez que um país conquista um campeonato, ele coloca uma estrela junto ao símbolo. Hoje, o Brasil é o único país que detém cinco estrelas. Nós sabemos, simbolicamente, o que significa ser cin- co estrelas. Significa ser superior, ter alta qualidade. Sim- bolicamente,
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