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Desafios e possibilidades da igualdade de gênero no espaço escolar

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Desafios e possibilidades da igualdade de gênero no espaço escolar.
No espaço escolar há o preconceito em várias formas em relação à desigualdade entre os gêneros. A principal “briga”, geralmente entre os colegas é relacionada ao esporte, assim como a professora Alessandra notou que era mais comum na escola um time de futebol masculino, e deixavam as meninas excluídas desse esporte, como se o mesmo fosse prioridade apenas para os meninos poderem aproveitar a atividade.
Mas a indiferença entre os gêneros não fica somente na área esportiva. Há também disputas e discussões de que os meninos são inferiores às meninas em relação ao intelecto, como se o sexo feminino fosse de nível superior aos meninos em algumas matérias, como matemática, por exemplo. Outro motivo de desigualdade é quando começa a diferenciar os alunos e alunas por meio de organização, trazendo as meninas como mais organizadas, letra bonita, caderno em dia, bom comportamento em sala de aula e etc.. Enquanto mostra os meninos como irresponsáveis, letras “garranchos”, mau comportamento em sala, brigas. Mas já é notável que isso é uma característica pessoal de cada individuo, sendo o mesmo do sexo feminino ou masculino, assim como é comum ver um menino mais comportado, também há aquelas meninas que não seguem o padrão de “mocinha”. Assim como já dito, é uma característica individual.
O pensamento mais machista é mais comum dado desde a infância onde os meninos crescem com mais liberdade em relação às meninas. Sendo que geralmente as meninas são pressionadas a serem boas esposas, donas de casa, obrigadas a aprenderem à cozinhar, lavar, e cuidar de afazeres com a casa e a família. Enquanto os meninos têm mais liberdade, se preocupam apenas com o trabalho, pois são ensinados desde cedo que ao chegar em casa terá tudo em suas mãos.
Tudo bem que é comum a esposa fazer tudo, pois o marido está trabalhando para manter a casa, mas também não há problema nenhum em ensinar os meninos desde cedo à também terem compromisso com os serviços domésticos, isso não o fará menos homem, pelo contrário, o tornará uma pessoa independente, e pode até mesmo ajudar sua esposa por exemplo, assim como também é fundamental ensinar as meninas a primeiramente pensar no seu futuro, estudos, não depender de um homem, principalmente financeiramente. 
Questão de gênero na escola e a influência da sociedade 
Questão de gênero na escola surgiu no nosso cotidiano dentro das próprias escolas, agora cabe aos profissionais capacitados reverter esse análise de forma construtiva e bem elaborado possibilitando relacionamento entre homem e mulher 
Porque existem diferenças e competições de gênero no espaço escolar?
A escola é o espaço que aborda valores, crenças, relações e etc...
Saemento (2004) apresenta que: as interações sociais são processos de relação comunicação e identificação que não só permitem a negociação das definições da realidade de cada indivíduo como facilitam a criação de entendimentos comuns acerca do significado e sentido de símbolos e ações e a torna bem sucedida ação cooperativa (sarmento 2004 p60)
Como a desigualdade de gênero começou
A educação das crianças é guiada pelo conhecimento, pelos costumes, tradição, cultura, etnia, entre outros, e pela relação de gênero definida socialmente que os pais seguem e passam para elas. Os adultos educam as crianças com marcações bem pontuais quanto ao que é de menino e o que pertence à menina.
A educação diferenciada dá bola e caminhãozinho para os meninos e fogãozinho para as meninas, exige formas diferentes de vestir, conta estórias em que os papéis dos personagens homens e mulheres são sempre muito diferentes (SÃO PAULO, 2003, p.29)
Educados desta forma as crianças vão assumindo papéis com características específicas sobre o que é de menino e o que é de menina. Ou seja, as crianças são induzidas a assumirem papéis que posteriormente ocuparão lugares específicos na sociedade. Os papéis femininos, por exemplo, são diferentes dos papéis masculinos, pois são desvalorizados e submissos. O que leva à verificação da desigualdade entre homens e mulheres.
Compreender essa construção social, não significa desconsiderar que ela se dá em corpos sexuados. Compreendemos que há uma estreita imbricação entre o social e o biológico. [...] Assim, mulheres e homens imprimem no corpo, gestos, posturas, e disposições, as relações de poder vividas partir das relações de gênero (SÃO PAULO, 2003, p.30).
A desigualdade entre homens e mulheres é uma construção social e não biológica, isto é, tal desigualdade não é determinada pelas diferenças biológicas e sim pela construção social e as relações que nela se desenvolvem.
Das mulheres esperam-se papéis mais dóceis e bons e quando tais papéis são postos a prova os modelos são desconstruídos acarretando culpas e depreciações a estas.
A partir da consolidação do capitalismo, existe a ideia de que ocorre uma divisão entre esferas pública e privada, sendo que a esfera privada é considerada como o lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetividade, do cuidado. A esfera pública é considerada como o espaço dos homens, dos iguais, da liberdade, do direito. (SÃO PAULO, 2003, p.30).
O papel da mulher nessa perspectiva é cuidar dos filhos, zelar pela família, e ser feliz nessa posição (enfadonha) que lhe cabe na sociedade. Em contrapartida, o papel do homem é do provedor, aquele que suprirá as necessidades básicas da família, da representação do forte, do racional. Cabe ressaltar que trabalhar fora de casa não era exatamente uma tarefa apenas masculina. Na atualidade, por exemplo, muitas mulheres trabalham fora de casa exercendo variadas funções.
As mulheres negras [...] sempre trabalharam fora de casa, primeiro como escrava, e depois na prestação de serviços domésticos ou como vendedoras ambulantes por muitos espaços públicos. Para as mulheres camponesas, o que é chamado de cuidar da casa esconde o trabalho na roça, a produção de artesanato, o cultivo da horta e a criação de animais, trabalhos que produzem mercadorias, cuja venda contribui para o sustento da família. (SÃO PAULO, 2003, p.30).
Hoje em dia, muitas mulheres, além de trabalhar fora, dividem as despesas da casa, isso quando não são responsáveis pelo sustento familiar. Analisando a divisão sexual do trabalho, pode-se afirmar que o homem fica com o trabalho produtivo enquanto a mulher fica incumbida da reprodução que consiste em fazer o núcleo familiar funcionar bem, cuidando de todos, criando os filhos e cuidando da casa. Mas não é uma regra inquebrável, e sim uma condição social tão enraizada que se apresenta como natural. O trabalho feminino concentra-se em atividades caracteristicamente femininas “[...] como o serviço doméstico, professoras, enfermeiras, assistentes sociais” (SÃO PAULO, 2003, p. 31).
Apesar de na atualidade as mulheres ocuparem diferentes cargos e terem conquistado respeito por meio de muitas lutas em prol de seus direitos e dignidade, ainda enfrentam diferenças salariais, cargos inferiores só porque são mulheres, assédio, entre outros.
Na análise mencionada a pouco, neste estudo, as atividades produtivas femininas são limitadas, visto que são atividades voltadas exclusivamente às mulheres. Por exemplo, a escolha pelo magistério (lecionar para o Ensino Fundamental) está próxima da relação criança/mãe. Ou seja, a melhor pessoa para ensinar as “primeiras letras”2seria a mulher, seguindo a mesma linha de raciocínio, pois essa ação lembra a relação do filho com sua mãe, o cuidado, a instrução, e o direcionamento fazem parte da responsabilidade feminina.
Na indústria, as mulheres são embaladoras, montadoras e costureiras, funções que exigem habilidade manual, coordenação motora fina, paciência. As habilidades para exercer essas profissões foram sendo desenvolvidas no processo de educação das meninas: brincando de casinha, cuidando dos irmãos, bordando, ajudando a mãe no trabalho doméstico (SÃO PAULO, 2003, p. 31).
Como já exposto anteriormente, as atividades produtivas exercidas pelas mulheres estavam (e de certa formaainda continuam) voltadas às habilidades exclusivamente femininas. No entanto, cabe lembrar, para que as mulheres desenvolvam determinadas atividades precisam ser treinadas para aprenderem. Afinal, no útero materno não há possibilidade de selecionar quais aptidões a criança poderá ter após o nascimento.
A pesquisadora Maria Inês Paulilo, comparando as etapas do trabalho agrícola na cana-de-açúcar, em diferentes regiões do Nordeste, pôde perceber uma diferença significativa. Carpir, no sertão nordestino, era uma tarefa dos homens e era considerada um trabalho pesado. Carpir, no Brejo Paraibano, era tarefa das mulheres e era considerado trabalho leve. Como se vê, no cultivo da cana o que caracterizava um trabalho como leve ou pesado não era a força física necessária para executá-lo, mas o valor social de quem o fazia (SÃO PAULO, 2003, p. 32).
Essa comparação é absurda visto que se baseia na diferença de sexo para averiguar qual tarefa era mais pesada. Contudo, a desigualdade de gênero não se encerra por aí. As atividades desenvolvidas pelas mulheres são vistas sempre como segunda opção. O que significa que estão sempre complementando suas responsabilidades do lar. Como se a mulher viesse com conhecimento nato sobre filhos, casa, limpeza, etc. E é compartilhando tal linha de raciocínio que a negatividade relacionada à atividade produtiva permanece enraizada na sociedade.
[...] os serviços públicos não se organizam para assegurar às mulheres condições de trabalhar fora. Não existem serviços de apoio, como creches, abrigos para idosos, lavanderias coletivas. Os postos de saúde e as escolas têm horários restritos, como se todas as mães estivessem o tempo todo em casa, à disposição da família, prontas para levar crianças e outras pessoas à escola e ao médico somente nesses horários (SÃO PAULO, 2003, p. 32).
Infelizmente, as opções por atividades/ cargos que possibilitem flexibilidade para cumprir com tais responsabilidades impostas como femininas estão presentes ainda na atualidade. O que contribui e configura expressiva desigualdade na distribuição dos recursos sociais. “Segundo a ONU, as mulheres executam 2/3 dos salários e são proprietárias de 1% dos bens imóveis. Dos quase 1,3 bilhão de miseráveis do mundo, 70% são mulheres” (SÃO PAULO, 2003, p. 32). No Brasil a situação não é diferente as mulheres ainda ganham menos que os homens, assim como, as mulheres negras ganham, em média, menos que as mulheres brancas.
A mulher é podada até na sua sexualidade. Tem vivido sua sexualidade conforme os padrões sociais. Ora sendo a esposa fiel, honesta e dedicada, ora sendo ousada e indesejável socialmente.
Para os homens, a idéia de virilidade é sinônimo de muitas relações sexuais, de preferência com muitas mulheres diferentes. As mulheres, ao contrário, devem viver a sexualidade em função da reprodução, negando o prazer. A repressão à sexualidade feminina em boa parte se dá pelo desconhecimento do corpo e pela imposição de regras rígidas do que significa ser uma mulher “honesta” (SÃO PAULO, 2003, p. 32).
Ainda na atualidade, apesar de a mulher não mais viver sua sexualidade em função somente do casamento ainda não a vivencia em sua plenitude. No entanto, quando se fala em sexualidade não se está fazendo alusão à quantidade de parceiros sexuais, tampouco a uma disputa entre homens e mulheres e respectivas quantidades de coito. Mas, ao direito de sentir prazer independente das categorias impostas socialmente. Todavia, cabe lembrar que o prazer para homens e mulheres não pode aniquilar o valor humano, pois corpos não são mercadorias descartáveis.
Assim como a sexualidade masculina é aceita socialmente como natural, as relações heterossexuais são consideradas como a forma adequada de se viver a sexualidade. “Desta forma, a homossexualidade a bissexualidade são consideradas como desvios e, historicamente, há a tentativa da ciência de provar que estas outras orientações não são “normais” e que ocorrem por algum problema biológico [...]” (SÃO PAULO, 2003, p. 34).
As crianças desde pequenas são influenciadas a aceitar a heterossexualidade como via única de uma relação adulta. Desde os contos de fadas, da separação das brincadeiras de meninos e meninas as crianças são influenciadas pelos padrões de família e relações de gênero que se estabelecem na sociedade. No entanto,
[...] não se deve imaginar um mundo dividido entre o discurso admitido e o discurso excluído, ou entre o discurso dominante e o dominado; mas, ao contrário, como uma multiplicidade de elementos discursivos que podem entrar em estratégias diferentes (FOUCAULT, 1998, p.96 apud LOURO, 2003, p. 42).
São nas relações que as identidades de gênero e identidades sexuais são construídas. De acordo com Louro (2003) as variadas formas de sexualidade e de gênero se afetam, pois convivem juntas no mesmo arcabouço social.
“Em nossa sociedade, devido à hegemonia branca, masculina, heterossexual e cristã, têm sido nomeados e nomeadas como diferentes aqueles e aquelas que não compartilham desses atributos” (LOURO, 2003, p. 50). Cabem algumas dúvidas: se os sujeitos se constituem em variadas identidades como indicar uma identidade universal? Será que há uma identidade matriz? Como normalizar as identidades de forma a abranger a todos? Ou talvez, a intenção seja não envolver todos nesse processo forçando aquele que é gauche a se encaixar no esquema estabelecido socialmente, caso contrário a exclusão seria a alternativa mais viável, além de ser vista como algo natural.
O papel do educador nas questões de gênero
Enquanto a escola continuar representando as estruturas de poder de um sexo sobre o outro as reivindicações em prol de uma equiparação sexista continuará latente. No entanto, de forma enfadonha e insuperável, visto que não haverá o apoio necessário para que a desigualdade entre homens e mulheres/ meninos e meninas seja sanada. Por que será que é tão difícil romper com este paradigma?
Porque há muitos anos esse modelo binário existe e vem sendo mantido porque representa poder. As ações pedagógicas lutam contra os preconceitos de gênero, mas em contrapartida reafirma-os quando em suas ações não percebe o caráter “neutro” do sexo, o reforço dado aos meninos nas atividades voltadas ao raciocínio, nas atividades decorativas destinadas às meninas. Os professores por sua vez reafirmam o preconceito de gênero quando não percebem ou ignoram tais ações, como segue:
O ambiente escolar pode reproduzir imagens negativas e preconceituosas, por exemplo, quando professores relacionam o rendimento de suas alunas ao esforço e ao bom comportamento, ou quando as tratam apenas como esforçadas e quase nunca como potencialmente brilhantes, capazes de ousadia e lideranças (AQUINO, 1998, p. 102-103).
A desigualdade de gênero na sala de aula é tão explícita que se anula tornando-se algo inexistente e naturalizado. As meninas continuam sendo enquadradas em atividades manuais que reforçam a antiga idéia da maternidade, cuidado com o lar, família, etc. Os meninos continuam representando o poder, liderança e inteligência. E continua:
O mesmo ocorre com os alunos quando estes não correspondem a um modelo masculino predeterminado. Essa situação pode ser ampliada para professores e professoras. Daqueles se espera um comportamento mais energético, fruto da qualificação positiva atribuída à relação entre masculinidade/agressividade; já as professoras são tidas como afetivas e ternas, e quando expressam agressividade são taxadas de pouco femininas ou com problemas hormonais. (AQUINO, 1998, p. 103).
Não existe apenas a desigualdade entre o sexo masculino e feminino, existe também a desigualdade de tratamento dos padrões de comportamento esperados e aceitos socialmente por homens e mulheres. Quando seus intérpretes não correspondem aos seus devidos papéis pagam um alto preço por serem diferentes, seja nas atitudes ou na escolha sexual. Ao mesmo tempo em que a escola reproduz preconceitos e estereótipos ela também produz “[...] resistências, novos valores e atitude. [...] A escola não só recria em seuinterior preconceitos de gênero como também prepara as garotas/ mulheres para posições mais competitivas no mercado de trabalho, bem como estimula garotos/ homens para assumirem funções de provedores de cuidado (ROSEMBERG, 1997 apud AQUINO, 1998, p. 103).
Segundo Aquino (1998) é diante dessa relação contraditória que a escola ora se apresenta como vilã ora como agente social de transformação. Urge a necessidade da ressignificação dos valores masculinos e femininos das relações escolares caminharem juntas em prol da superação das desigualdades e subordinação de gênero.
Dessa maneira, as práticas educativas ‘poderiam ser questionadas de um modo novo, possivelmente mais subversivo. Talvez assim fôssemos mais capazes de descobrir relações até então não percebidas ou rever processos ‘generificados’ [...] de produção de sujeitos’ (LOURO, 1995, p. 127 apud AQUINO, 1998, p. 104).
É imprescindível refletir sobre algumas ações realizadas na escola para que se exercite o não preconceito de gênero durante as atividades escolares. Por exemplo: Será que é necessário escolher os brinquedos de acordo com o sexo da criança? Os meninos jamais podem brincar de bonecas? E as meninas nunca podem brincar com os brinquedos destinados aos meninos? Meninos e meninas podem brincar juntos? As aptidões dos alunos correspondem aos gêneros? Existem realmente aptidões masculinas e femininas? Por que os meninos são aceitos como “naturalmente” agitados? Qual o problema quando a menina prefere brincadeiras mais agressivas (aquelas típicas dos meninos)? As meninas não podem ser agressivas? Existem problemas se o menino der preferência a brinquedos e brincadeiras tipicamente femininos? Esse “desvio” de comportamento é preocupante? Por quê?
Currículos, normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagens, materiais didáticos, processos de avaliação, são, seguramente, loci das diferenças de gênero, sexualidade, etnia, classe - são constituídos por essas distinções e, ao mesmo tempo, seus produtores(LOURO, 2003, p. 64).
Essas posições precisam ser questionadas a fim de não normalizar o que já está posto como preconceito, tratamento desigual, desnecessário, vexatório, machista, etc. De acordo com Louro (2003) é necessário se perceber enquanto professor/a. É importante identificar quais palavras expressadas transmitem ideia de sexíssimo, racismo, etnocentrismo. É imprescindível questionar o que se é ensinado, tal qual, o modo como se ensina, desmistificando aprendizagens sólidas e verdades tidas como absolutas.
A escola sendo uma esfera de aprendizagem de diferentes âmbitos, precisa se dispor a proporcionar ambientes que possibilite a prática de valores como respeito e igualdade, desmistificando esse preconceito construído por uma sociedade patriarcal.

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