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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO E DIREITO PREVIDENCIÁRIO Resenha do artigo: “Sem acordo, ônibus voltam a parar nesta terça-feira” CRISTIANE ALVES DA SILVA Trabalho da Disciplina Direito e Processo Coletivo do Trabalho Tutora: Claudia Abbass Correa Dias PORTO ALEGRE - RS ABRIL 2020 REFERÊNCIA: Sem acordo, ônibus voltam a parar nesta terça-feira. Motoristas e cobradores decidiram iniciar greve de 48 horas após audiência com representantes do sindicato patronal. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/sem-acordo-onibus- voltam-a-parar-nesta-terca-feira-no-rio-de- janeiro. Acesso em: 10 de abril de 2020. O presente trabalho tem por finalidade refletir acerca da legitimidade e representatividade de classe nos dissídios coletivos de greve. Em 12 de maio de 2014, os rodoviários do estado do Rio de Janeiro realizaram paralisação no transporte público da cidade à revelia do sindicato da categoria (Sintraturb) com as empresas de ônibus, por discordarem do dissídio coletivo assinado. Os motoristas e cobradores, pleiteavam reajuste salarial de 40% e um aumento no valor da cesta báscia de R$ 150,00 para R$ 400,00. Após isso, a comissão de trabalhadores participou de uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ), onde estavam presentes a desembargadora Maria das Graças Paranhos, representantes do Rio Ônibus e sindicato das empresas da capital, da qual não aceitaram negociar com os obreiros, por haver falta de legitimidade e representatividade por parte de sua categoria. Em ação ajuizada pela Rio Ônibus contra a Sintraturb, o desembargador Nelson Tomaz Braga indeferiu pedido de liminar contra o movimento dos rodoviários. Mesmo o sindicato sendo contrário a greve e não tendo poder de mediação com os obreiros favoráveis à paralisação, foi determinado pelo TRT prazo de 5 (cinco) dias para a Sintraturb oferecer sua defesa. O problema, no entanto, é que a ação, impetrada pela Rio Ônibus, é direcionada ao Sintraturb, que não só discorda da greve, como não tem o poder de conciliação com os rodoviários favoráveis à paralisação. Importante destacarmos, que não há dúvidas que a greve é a demonstração máxima de resistência operária coletiva, tanto na busca por melhores condições de trabalho, quanto pela inserção de uma sociedade hipoteticamente justa e mais igualitária. É uma garantia constitucional, considerada um direito social dos trabalhadores, tratando-se de uma garantia fundamental. O direito de greve não é absoluto, existem limitações estabelecidas. Para que haja harmonia até mesmo em meio a manifestações pleiteadas. A Constituição brasileira de 1988, considera a greve um dispositivo democrático, que assegura ao trabalhador esse direito em seu artigo 9º, que diz: “competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devem por meio dele defender”. E, ainda: “definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre as necessidades enadiáveis da comunidade, assim como os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei”. A conceituação oficial ficou a cargo da Lei nº 7.783 de 1989, para o qual só se considera legítimo o exercício de direito de greve, quando comportar uma “suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador”. No tocante à participação dos sindicatos, o artigo 4º deixa claro que compete às referidas entidades de classe, na forma estabelecida pelo estatuto (§1º), a convocação de assembleia geral para deliberação quanto à paralisação. Somente na falta de sindicato representativo da categoria é que o rigor legal autoriza a formação da comissão de trabalhadores para comandar o movimento grevista. A titularidade do direito de greve é uma faculdade do trabalhador, sendo incumbido a eles decidir o exercício do direito e os interesses que por meio dele devam defender. Porém, para que haja legitimidade na instauração da greve, os legitimados para o mesmo são as organizações sindicais dos trabalhadores, em vista do direito em ênfase ser de natureza coletiva. Sendo importante salientar, que o momento escolhido para deflagração da greve é decisão que deve ser tomada pelos trabalhadores. Havendo acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa em vigor, em regra, não há prerrogativas para instauração de greve (artigo 14, Lei nº 7.783 de 1989). Em síntese, a paralisação espontânea ocorrida no Rio de Janeiro pela comissão de empregados (rodoviários) foi abusiva e ilegítima, visto que estavam devidamente representados pelo sindicato de sua categoria, e que já havia ocorrido uma audiência para negociação coletiva, inclusive com acordo assinado. No que se refere a entidade,esta deveria ter buscado maior proximidade com a categoria, afim de dirimir dúvidas e insatisfações, na busca por melhores negociações para ambos os lados. Todavia, faz-se imprescindível entender que este fenômeno pode ser compreendido como consequência da crise de representatividade enfrentada pelo sindicalismo brasileiro, tanto em virtude da sua origem corporativista, como em razão da desestruturação produtiva na modernidade pós-industrial. Faz-se necessário pensar, que tais movimentos espontâneos tenham se dado porque os trabalhadores de hoje não se veem mais representados por seus sindicatos. O sindicato, que deveria ser umas das instituições mais próximas e entranhadas ao seio dos trabalhadores, mostra-se mais distante que nunca de seus favorecidos.
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