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AULA 2 MODELOS DE NEGÓCIOS INOVADORES Profª Anelise Jensen 2 CONVERSA INICIAL Em plena onda de economia colaborativa e empreendedora, o contexto empresarial pede cada vez inovações em conceitos, produtos e serviços. Já não adianta mais oferecer “mais do mesmo”. A inovação é um tema complexo e que, por vezes, gera resistência entre as pessoas e as organizações. Assim, perguntamos: o que será que faz com que tantas empresas consigam se manter anos no mercado, enquanto outras desaparecem rapidamente? Quando falamos em modelos inovadores de negócios, estamos nos referindo não somente a ter à disposição tecnologias de última geração na empresa, ou a inovar em produtos e serviços – trata-se também de estabelecer formas diferentes de administrar os negócios, pensando, por exemplo, em maneiras de simplificar processos já executados na organização. Isso inclui poder contar com pessoas dispostas a implementar novidades nos modelos de negócios, chegando assim mais perto da realidade daquilo que muitas organizações estão vivendo e buscando hoje. Existem vários modelos de inovação; neste módulo, iremos percorrer alguns desses principais modelos, conhecendo como funcionam os processos de inovação e quais os aspectos que contribuem para que esses processos tenham maior chance de êxito. CONTEXTUALIZANDO Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, divulgados em 2017, o Brasil figura na 81a posição no Ranking de Competitividade Internacional, depois de uma sequência de quedas desde 2013. Nesse mesmo ano de 2017, a Universidade de Cornell, nos EUA, em parceria com a escola de negócios Insead e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), apontaram o Brasil na 69a posição no Índice Nacional de Inovação (130 economias foram objeto de análise). Apesar do contexto de crise no país e da decorrente redução dos investimentos em inovação, o panorama empresarial conduz as empresas no caminho de inovar sempre, o que é fundamental para manter a competitividade das organizações. É fato que empresas que não acompanharem esses 3 movimentos estarão fadadas ao fracasso. Afinal, inovar não é mais somente uma opção para as empresas, é uma necessidade! Hoje temos muitas possibilidades de marcas e produtos à nossa escolha e, com muita oferta, o consumidor detém o poder de escolha, o que implica na manutenção, por parte das organizações, de seus níveis de competitividade. A partir disso, vimos surgir modelos diferenciados de organizações, com base em um pensamento estratégico mais flexível, no que diz respeito tanto aos conceitos de novos negócios, quanto à maneira de gerenciar as empresas. TEMA 1 – MODELOS INOVADORES DE GESTÃO A inovação surgiu essencialmente por meio das descobertas científicas, como por exemplo a invenção da lâmpada (por Thomas Edison), ou ainda pela absorção de demandas de mercado, como no caso de uma simples capinha para celular. Apesar de existir todo um empenho para que essas duas direções (a ciência e o mercado) possam estar associadas, atendendo de forma mais apurada a demandas sociais, infelizmente em nosso país ainda há uma série de barreiras financeiras, legais e culturais que dificultam essa aproximação. É a partir desse cenário que começam a surgir espaços voltados para a inovação, nos quais são viabilizados modelos de negócios inovadores. As incubadoras são um exemplo claro desse tipo de espaço, destinado ao desenvolvimento de novos projetos e ideias, visando estimular o empreendedorismo. Nas incubadoras, há suporte na parte gerencial, jurídica, contábil e de controle financeiro do negócio; dados de pesquisa são transportados para a realidade da atividade de produção e da gestão de empresas. As incubadoras funcionam principalmente por meio de processos de mentoria ou mentoring (quando um gestor mais experiente, da área de atuação, supervisiona projetos) e consultoria (quando o diagnóstico é feito e acompanhado pelos diversos profissionais habilitados da incubadora). Outro exemplo desse tipo de espaço são os parques tecnológicos, destinados a validar pesquisas em produtos, que aproximam o saber acadêmico elaborado nas universidades dos setores produtivos. A inovação, quando somada à criatividade e à diferenciação, é apontada como uma maneira de sobrevivência das empresas no mercado. O fato é que as 4 pessoas não querem mais produtos idênticos! Elas querem produtos e serviços que tenham a identidade e que ao mesmo tempo resolvam seus problemas. Sendo assim, qualquer modelo de negócios que se proponha a ser inovador – seja no conceito; seja na gestão do negócio - deve, necessariamente, buscar se diferenciar da concorrência. E para isso, é preciso conhecer os gostos e preferências dos clientes, os recursos disponíveis e as formas de comercialização e entrega, oferecendo então uma proposta de valor única. A proposta de valor é um conjunto de benefícios únicos ofertados pela empresa que irão atender as necessidades do mercado; é uma promessa da empresa que deve ser entregue. Se antes todas as entregas eram iguais, através de modelos de negócios inovadores temos novas possibilidades: ter uma geração de ideias mescladas ao design (como é o caso da modelagem de negócios através de protótipos), ter produtos customizados (como um tênis que você possa configurar da cor do cadarço ao material da sola) ou ainda ter serviços flexíveis (como a marcação de exames de laboratório, em que o profissional vai até a casa do cliente para a coleta de material). Isso só é possível hoje por podermos contar com estruturas de gestão com custos de produção menores e tecnologias que permitem oferecer o diferente. Por conta de todas essas possibilidades, muitos modelos de negócios inovadores em conceitos chegaram ao mercado nos últimos tempos. É o caso do Uber (motoristas de carro particulares), do Airbnb (aluguel de casas em qualquer lugar do mundo direto do proprietário), do Netflix (disponibilização de séries e filmes em uma plataforma única) e da Dog Hero (serviço de hospedagem para cães e gatos). É importante destacar que o modelo de gestão dessas empresas está baseado tanto na experiência do usuário quanto na sua colaboração. Essas empresas são consideradas como corporações mais modernas e mais abertas à inovação. Uma outra modalidade são os conceitos de negócios inovadores quanto à forma de gestão: Estratégia do oceano azul: a metodologia proposta por W. Chan Kim e Renée Maubourgne aposta na aplicação de matrizes para encontrar mercados inexplorados, chamados de “oceano azul”, que representam 5 oportunidades de lucro (considera-se que estamos em um oceano vermelho de concorrência acirrada). Design thinking: desenvolvida por David M. Kelley e Tim Brown, esta abordagem de inovação consiste em repassar para os negócios o “pensamento dos designers”, considerando que esse tipo de profissional apreende que é preciso entender o que atrapalha a experiência e o bem- estar das pessoas, e, portanto, das organizações. Forma-se uma equipe com múltiplas especialidades. Modelagem de negócios: a metodologia, criada por Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, trabalha a ideia da geração e entrega de valor em uma empresa por meio de um quadro com nove diferentes campos. Assim, a inovação em modelo de negócios leva em conta a forma como os produtos e serviços chegam ao consumidor. Antigamente, por exemplo, uma pessoa interessada em fazer um financiamento de veículo se dirigia até a loja de carros e efetuava as negociações e trâmites necessários. Hoje, fora as questões burocráticas, é possível realizar o mesmo financiamento de modo que, passado certo período de pagamento contratado, o consumidor tem acesso a um veículo do ano – novinho! Das teorias e experimentação derivam oito modelosde negócios que vêm revolucionando as práticas de mercado, segundo a empresa de soluções no mundo digital GhFly (2017). Vamos a eles. Figura 1 – Modelos Fonte: GH Fly, 2017. 6 O primeiro modelo, modelo de assinatura, se resume ao acesso gratuito por um período determinado a um serviço (que normalmente é pago). Após o tempo estipulado, o usuário escolhe se quer continuar utilizando o serviço, mediante remuneração, ou se quer cancelar o uso. O segundo modelo, modelo freemium, concede acesso a um produto inicial em troca do preenchimento de um cadastro. No modelo gratuito o usuário não paga pelo serviço e a empresa lucra através da comercialização de dados dos usuários. O modelo marketplace é a reunião de diversos vendedores, cada qual com seus produtos, dentro de uma mesma plataforma, o que possibilita atender os mais variados segmentos. Já o modelo de acesso sobre a propriedade cede o acesso a um bem, mediante remuneração e conhecimento das partes. O modelo de hipermercado, por sua vez, se fundamenta no lançamento de produtos próprios de baixo custo. O modelo da pirâmide busca recrutar revendedores, procurando filiar os usuários em troca de mais benefícios na pirâmide. E, por fim, o modelo ecossistema procura comercializar produtos que sejam interligados e interdependentes, criando uma ligação entre as vendas. Devemos considerar que as empresas mais arrojadas do mercado são aquelas que buscam modelar e aperfeiçoar seus padrões de gestão, tanto quanto seus produtos e serviços. Sendo assim, inovar é um dos aspectos essenciais para qualquer organização que deseja se manter saudável no mercado. Em geral, modelos de negócios que procuram contemplar inovações em gestão acabam por conquistar vantagens competitivas que os fortalecem e os tornam mais resilientes para enfrentar a forte concorrência. TEMA 2 – PROCESSOS DE INOVAÇÃO Se o objetivo da organização é se destacar em um mercado que é altamente competitivo, é preciso permitir a presença do pensamento criativo e é preciso inovar, apresentando, para isso, uma proposta de valor que contenha em si um diferencial (que faça a empresa ou serviço serem vistos como singulares e únicos frente à concorrência). Geralmente, processos de inovação começam pequenos, passo a passo, levando em conta o tamanho do mercado atendido, os recursos financeiros disponíveis e a equipe de pessoas envolvida. Para Davila, Epstein e Shelton 7 (2009, p. 134), em empresas pequenas isso “normalmente é um fato natural decorrente do insight, talento e interação de um pequeno grupo de pessoas.” Contudo, quando as organizações começam a crescer, isso já não acontece mais dessa maneira, muitas vezes culminando em setores (Produção, Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento, Finanças etc.) que não “conversam” dentro da empresa para a mesma inovação. E é muitas vezes nesse sentido que empresas e empreendedores se questionam: “Se era tão evidente, por que não pensei nisso antes?!”. Mas, para que se realize de maneira adequada, o processo de inovação precisa ser administrado, de acordo com o seguinte fluxo. Figura 2 – Fluxo de inovação Fonte: Elaborado com base em Scherer e Carlomagno, 2016, p. 53. O fluxo segue a ordem exposta na figura: na fase da idealização, contém em si o espaço para a geração das ideias, oportunidades e negócios; a partir da análise de tendências, são ideias dadas por clientes ou a adaptação de velhas ideias. Feito isso, temos a apropriação e o aprimoramento do conceito, quando ele é claramente definido. A experimentação serve, na sequência, para fazer os ajustes no conceito agora aplicado, buscando diminuir incertezas. É então que ocorre a implementação da ideia: ela ganha volume de produção e avaliação posterior. Lembramos que, para chegar nesse processo, a empresa precisa definir os critérios para que se prossiga de um estágio ao outro. Há ainda um outro modelo teórico que traz pontos complementares, no qual o processo de inovação é comparado a um funil, que inicialmente é maior para acomodar um volume grande de ideias, e depois vai ficando estreito à medida que fiquem apenas as ideias passíveis de comercialização. Idealização Conceituação Experimentação Implementação 8 Figura 3 – O processo de inovação Fonte: Elaborado com base em Davila; Epstein; Shelton, 2009, p. 139 A inovação representa, dessa maneira, a forma pela qual as mudanças podem acontecer nas organizações. A inovação é, afinal, um processo de reinvenção contínua do negócio, ao mesmo tempo em que cria novos conceitos de negócio (Hamel, 2001). Logo, os processos de inovação devem ser pensados para o presente (e não apenas para o futuro), pois os impactos, decorrentes das escolhas nessas fases, deverão ser sentidos e irão guiar a organização. TEMA 3 – FATORES CRÍTICOS PARA O PROCESSO DE INOVAÇÃO Como comentamos, inovação exige administração. Nesse sentido, precisa estar apoiada em um trabalho estruturado e em um ambiente propício. Drucker (1986, p.190) estabelece que “uma inovação para ser eficaz precisa ser simples e tem que ser concentrada”. Levando em conta as mudanças na sociedade e na economia, temos que que, “com o passar do tempo, os modelos de negócios e as estratégias se tornam antiquados em nossa economia de rápido avanço, e as estratégias chegam a sua data-limite de validade mais depressa do que antes” (Davila; Epstein; Shelton, 2009, p. 93). Então, com base na concepção de Davila, Epstein e Shelton (2009, p. 93), temos que os fatores críticos para o processo de inovação estão divididos basicamente em fatores internos e fatores externos. Os fatores internos contemplam: 9 Condições técnicas; Condições organizacionais; Sucesso do atual modelo de negócios; Financiamento; Visão da alta administração/ direção. Os fatores externos, por sua vez, contemplam: Capacidade da rede externa; Estrutura da indústria; Concorrência; Índice de mudança tecnológica. Como cada organização é diferente uma da outra, com condições e recursos distintos, será sempre necessário acompanhar tais fatores, pois o que para uma empresa pode representar uma oportunidade, para outra, nas mesmas condições, pode representar uma ameaça. Acima de tudo, os objetivos de inovação estabelecidos pela organização precisam atender a alguns aspectos: em primeiro lugar, devem ser relevantes para a própria organização (que “comprará” a ideia), com uma orientação voltada ao atendimento das demandas de mercado, tendo para isso um adequado sistema de gerenciamento. É preciso ainda ter um clima corporativo que permita inovar, no qual as resistências são contornadas e as experiências em relação às taxas de implantação das inovações sejam positivas, contando com o comprometimento da direção. TEMA 4 – INOVAÇÃO ABERTA Quantas e quantas empresas nós conseguimos nos lembrar que tiveram muito sucesso no passado e que hoje não existem mais porque algum item ou ideia mais inovador chegou ao mercado? Os fabricantes de CDs (aqueles pequenos discos portáteis que a maioria de nós ouviu durante um bom tempo_ não desapareceram porque surgiram os serviços de streaming (serviços em que é possível comprar ou baixar gratuitamente arquivos de músicas)? Os fabricantes de máquinas de escrever ou das máquinas fotográficas, idem. Eles desapareceram porque não encontraram maneiras para se adaptar ao mercado. Certamente faltaram ideias inovadoras. 10 Muitas organizações possuem algum tipo de projeto ou programa ligado à inovação. No entanto, poucas são aquelas com departamentos dedicados a coletar ideias dos stakeholders (que são os diversos públicos interessados no seu negócio, como clientes, governo, fornecedores etc.). Então, como uma forma de promover o diálogo com públicos externos à organização (importante justamente para encontrar essas novasideias), a busca por ideias originais ultrapassa os limites das empresas, resultando, por exemplo, em espaços para sugestões e reclamações que podem trazer novas e diferentes oportunidades de negócios. Assim teve início o conceito de inovação aberta, também conhecida pelo termo open innovation, criado por um pesquisador da Universidade de Berkeley (em 2003 – portanto, recentemente), professor Henry Chesbrough. O conceito parte do princípio de que boas ideias podem brotar em espaços que vão além somente da empresa. Enquanto ferramenta que procura agilizar os processos de inovação, o que importa realmente aqui é poder decompor ideias em melhorias para a empresa e seus clientes. “A Inovação Aberta vem somar às empresas mais uma fonte de ideias para a solução criativa de problemas, desenvolvimento de novos produtos e em muitas outras áreas de gestão. Inclusive ideias para otimizar modelos de negócio” (Silva, 2010, p.167). A inovação aberta não é exclusividade de nenhum perfil específico de organização, sendo aplicável tanto às pequenas empresas quanto às multinacionais, em maior ou menor grau de complexidade, como já fizeram Procter&Gamble, Electrolux e LG, por exemplo. Uma grande vantagem da adoção dessa metodologia é permitir o acesso a um volume muito maior e expressivo de novas ideias, em um reduzido espaço de tempo e com um custo muito menor para as organizações. Considerada por muitos como a inovação dentro da inovação, uma das suas principais características é ser democrática, já que ideias podem vir de diferentes espaços: universidades, laboratórios, estudantes, institutos de pesquisa e assim por diante. Mas afinal, como podemos fazer isso na prática? Podemos colocar em prática a inovação aberta de algumas maneiras. Uma delas consiste em criar um espaço para contribuir com ideias, como uma simples caixa de sugestões deixada 11 no ambiente da loja ou dentro da fábrica, nos setores que não sejam os setores de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Uma outra forma seria disponibilizar um site com essa finalidade, que deve estar aberto a quem queira contribuir; além de páginas corporativas com essa finalidade em redes sociais, apoiando a ação. Vejamos um exemplo. A Coca-Cola é uma empresa que está sempre em busca de inovações e, para isso, conta com a valiosa colaboração de seus consumidores. Em 2015, a empresa lançou o desafio Abra Ideias, convocando o público a responder como ter sua Coca-Cola sempre gelada, a qualquer momento. Como recompensa, a empresa oferecia prêmios1. É importante deixar claro que nem todas as ideias dadas serão necessariamente implementadas. Elas poderão ser objeto de uma avaliação prévia, a partir de critérios que a organização estabeleça, sendo colocadas em prática na medida em que a necessidade e a oportunidade adequadas apareçam. Para ilustrar, traremos um exemplo de uma empresa que já teve em suas estratégias um site destinado especificamente à inovação aberta, e permanece aprimorando este relacionamento com o consumidor através dessa ideia. Trata-se da Tecnisa. Um formato diferenciado dessa abordagem pode ser visto no mercado desde 2011, através da campanha Tecnisa Fast Dating: trata- se de um convite para empresas ou startups que tenham em seu portfólio algum produto ou serviço que considerem diferenciado. Os interessados devem apresentar um vídeo de 10 minutos (chamado de pitch, em inglês). As ideias selecionadas recebem investimento da construtora (que se torna um cliente-anjo). TEMA 5 – ESTRATÉGIAS: INCREMENTAL, DISRUPTIVA E RADICAL Existem diversos conceitos e linhas de pensamento quando tratamos de inovação. Desse modo, é preciso entender qual é o tipo de inovação escolhida, pois cada tipo oferece certos riscos – e, portanto, também benefícios variados. Embora existam outros modelos, para efeitos de estudo optamos por trabalhar três grandes tipos de inovação existentes: a inovação incremental, a inovação disruptiva e a inovação radical. A inovação incremental normalmente não realiza mudanças profundas; por outro lado, segundo Scherer e Carlogmano (2016, p. 23) “uma inovação 1 Os resultados podem ser vistos em ABRAIDEIAS. Disponível em: <http://abraideias.com.br/>. Acesso em: 28 ago. 2018 12 incremental se caracteriza por um grau moderado de novidade e por ganhos significativos nos resultados”. Esse tipo de inovação é caracterizado por fazer melhorias ou incluir algum tópico novo, sem com isso mudar as características básicas do produto. O impacto desse tipo de inovação é significativo para a empresa e permite uma vantagem de médio e longo prazo para a organização dentro do mercado em que atua. Em outras palavras, trata-se de melhoria contínua, aquela busca por soluções de problemas, oportunidades de melhoria e desafios, cujo objetivo final sempre está focado na eterna jornada pela perfeição de serviços, produtos e processos, para chegar à qualidade otimizada e à satisfação de clientes e stakeholders. Podemos observar exemplos dessa estratégia quando uma montadora lança uma nova cartela de cores de determinado carro, sem, no entanto, alterar o modelo; quando a fabricante de escovas de dentes coloca no mercado um modelo de escova com uma proposta mais ergonômica ou de material mais macio; ou ainda um fabricante de pilhas que oferece um produto que atesta durar mais horas que os produtos anteriores. A inovação disruptiva já apresenta outra proposta: espera encontrar novos mercados e impactar a concorrência, encontrando assim seu “oceano azul” (conceito que vimos lá atrás). A ideia aqui é quebrar padrões, apresentando itens até então nunca ofertados. São inovações simples, baratas e práticas. O relatório “Inovações Disruptivas”, apresentado pelo banco CITI em 2016, aponta alguns dos itens que poderão trazer grandes contribuições. Estão dentro dessa lista a imunoterapia (que agora está sendo bastante comentada), a impressão 3D (usada em algumas áreas), os carros autônomos (já em testes), os tratamentos de vista que utilizam nanopartículas (isentando assim a necessidade de gotas ou injeções), os objetos dobráveis (baseados na tecnologia díodo orgânico emissor de luz ou OLED), a internet das coisas, o comércio contextual (em que a tendência de aquisição a partir de sugestões cruzadas da tecnologia ganha força), e assim por diante. Há ainda a inovação radical (breakthrought innovation). Segundo Davila, Epstein e Shelton (2009, p. 69) é “aquela mudança significativa que afeta simultaneamente tanto o modelo de negócios quanto a tecnologia de uma empresa”. Então, trata-se da inserção de um produto ou atividade inteiramente nova. Para o instituto Radical Innovation Group, referência no assunto, para ser radical uma inovação precisa oferecer uma melhoria de 5 a 10 vezes na 13 performance, ou uma redução de 30 a 50% nos custos. Mohr et al. (2011, p. 19), apontam que as inovações radicais “empregam novas tecnologias e criam novos mercados”. Ou seja, não se comparam a nada do que já existiu no mercado. O lançamento das fraldas descartáveis, na década de 70, foi um grande exemplo desse tipo de inovação. As fitas cassete e os discos de vinil também estão dentro dessa linha. Quer um caso mais recente? A migração dos CDs (discos portáteis) para arquivos de música digitais (chamados de MP3). Observe também (Mohr et al., 2011, p. 20): Em outros casos, as inovações radicais são desenvolvidas como uma nova maneira de servir a uma necessidade preexistente ou em resposta à identificação de uma necessidade emergente. Independentemente de a inovação ter se originado da ciência “pura” ou em resposta a uma necessidade, a nova tecnologia cria para si um novo mercado. Mas muitos casos de inovações radicais não são desenvolvidos com objetivos comerciais. Por serem em sua maioria originadosem laboratórios, centros de pesquisa e universidades, são simplesmente criados, não se pensando em aplicação de uso, pelo menos a princípio (Mohr et al., 2011, p. 19). O caso do bloquinho de papel Post It ilustra bem esse conceito: um cientista da 3M (fabricante do bloco) chamado Art Fry, era integrante de um coral e marcava suas partituras de música com marcadores de livro, que normalmente caíam. Um dia ele observou um adesivo, criado por um colega cientista, que era capaz de ser colocado em outro local, tendo a ideia de usar esse adesivo em notas de papel. Surge então um novo conceito de bloco de papel, o Post It. FINALIZANDO Sabemos que ainda existem muitas restrições aos processos de inovação dentro das empresas; mas, ao mesmo tempo, temos notado um aumento de modelos de negócios inovadores chegando ao mercado. Isso é fruto de uma aproximação entre academia e mercado, que abriu espaços propícios para a inovação e disponibilizou profissionais para isto. É também fruto da inter-relação entre teorias de diversos autores e ideias criativas. Existem por aí milhares de indivíduos com capacidade de criar – dentro e fora das empresas –, em um cenário em que os empresários precisam de ideias inovadoras para gerar seus diferenciais de mercado e assim também encontrar uma proposta de valor única. Lembramos, nesse sentido, que o processo de inovação apresenta ligação direta com as estratégias definidas pelas 14 organizações, na mesma medida que diz respeito ao tipo de inovação a ser adotado. Modelos de negócios inovadores podem se diferenciar com base em quatro dimensões principais: a oferta, os consumidores, os processos e os canais de entrega. Portanto, para ter sucesso é necessário ter uma boa equipe, com ambiente e cultura que geram estímulos para tal fim, além de estrutura e processo de inovação bem definidos e desenhados. A mudança no modelo de negócios começa, assim, primeiro pela mudança no raciocínio estratégico, considerando a ótica e as necessidades do consumidor. A introdução de novidades nos modelos de negócios permanece sendo um desafio para muitas empresas. Se o futuro é incerto, isso é algo que mantém a empresa em permanente movimento, desafiando-a a manter sua competitividade e encontrar novos caminhos. Se o mercado é rápido e muda constantemente, é por meio de ideias e novas soluções que a inovação pode aparecer! LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica DESIGN Thinking, Modelo de Negócio Canvas e o Processo de Criação de Novos Negócios. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO CONHECIMENTO E INOVAÇÃO, 5., 2015, Florianópolis. Anais... Disponível em: <http://via.ufsc.br/wp- content/uploads/2017/02/Artigo-CIKI-2015_Design-Thinking-Modelo-de- Neg%C3%B3cio-Canvas-e-o-Processo-de-Cria%C3%A7%C3%A3o-de-Novos- Neg%C3%B3cios-1.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2018. Texto de abordagem prática HASHIMOTO, M. Inovação através do modelo de negócio. Pequenas Empresas & Grandes Negócios, 2011. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI239920-17141,00- INOVACAO+ATRAVES+DO+MODELO+DE+NEGOCIO.html>. Acesso em: 28 ago. 2018. 15 Saiba mais GOVINDARAJAN, V. As dimensões da inovação. HSM Experience, 21 fev. 2014. Entrevista. Disponível em: <https://experience.hsm.com.br/posts/as-dimensoes- da-inovacao>. Acesso em: 28 ago. 2018. 16 REFERÊNCIAS 8 MODELOS de negócios inovadores que impactaram o mercado. GhFly, 22 maio 2017. Disponível em: <http://blog.ghfly.com/8-modelos-de-negocios-inovadores- que-impactaram-o-mercado/>. Acesso em: 28 ago. 2018. DAVILA, T.; EPSTEIN, M. J.; SHELTON, R. As regras da inovação: como gerenciar, como medir e como lucrar. 2. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2009. DRUCKER, P. Inovação e espírito empreendedor: práticas e princípios. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1986. HAMEL, G. Liderando a revolução. Exame, n. 737, p. 88-98, 2001. Entrevista. MOHR, J. et al. Marketing para mercados de alta tecnologia e de inovações. São Paulo: Pearson, 2011. SCHERER, F. O.; CARLOMAGNO, M. S. Gestão da inovação na prática: como aplicar conceitos e ferramentas para alavancar a inovação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. SILVA, A. C. T. Inovação: como criar ideias que geram resultados. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010.
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