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AULA 3 MODELOS DE NEGÓCIOS INOVADORES Profª Anelise Jensen 2 CONVERSA INICIAL Nas aulas anteriores vimos que o destino de organizações que não inovarem está praticamente selado: elas tendem ao desaparecimento num futuro não tão distante. Vimos, também, que a inovação deve ser um processo contínuo e que precisa ser gerenciado pelas empresas por meio de métodos e técnicas específicas; afinal, não se pode esperar que uma nova ideia seja simplesmente gerada do “nada”. Além disso, o processo de inovação precisa ser realizado em um contexto adequado, uma vez que a ideia certa nas condições impróprias ao seu desenvolvimento pode não vingar, ocasionando perda de tempo e de recursos valiosos da organização. É essencial lembrar-se sempre de selecionar as opções de inovação que se mostrarem – e comprovarem – mais promissoras. Nesta aula, vamos ter contato com princípios importantes para que efetivamente ocorra a inovação nos modelos de negócios, além de conhecer alguns dos modelos de negócios inovadores que estão sendo implementados na atualidade, com suas características e especificidades. CONTEXTUALIZANDO Quando uma empresa define suas estratégias de atuação e recursos que vão conduzi-la e dar suporte nas operações do dia a dia, define, também, como consequência, um padrão de valor único que contribui para torná-la e mantê-la competitiva e singular no mercado. São essas definições de orientação estratégica (e a condução delas) que possibilitam ser um destaque no mundo dos negócios. É essa reflexão sobre como gerar e entregar valor que dá sentido e descreve então um modelo de negócios, lembrando de que, para isso, é necessário realizar uma análise que considere tanto o ambiente interno quanto o externo à empresa, assim como forças e oportunidades. E é nesse intuito que os conhecimentos sobre inovação permitirão às empresas fazer a construção de modelos de negócios que expressem concretamente um modo mais representativo da atualidade e de como as empresas tem buscado gerar valor, bem como da forma como conseguem transformar o seu trabalho em ganhos financeiros. 3 TEMA 1 – INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL – PRINCÍPIOS PARA INOVAÇÃO EM MODELOS DE NEGÓCIOS Tudo começa há muito tempo, com o economista austríaco Joseph Schumpeter, que apresenta uma teoria (chamada de destruição criativa), na qual propõe que a inovação é o principal indutor do crescimento econômico. Schumpeter defende que a concorrência aguça de desejo do empreendedor de buscar novas formas de incrementar a tecnologia, novas maneiras de fazer negócios e outros tipos de vantagens competitivas que poderiam incrementar as margens de lucro e impactar diretamente padrão de vida do empreendedor. (Ferreira, 2015) Para Scherer e Carlomagno (2016, p. 15), “Schumpeter criou uma linha divisória entre dois tipos de descoberta: a invenção e a inovação, estabelecendo que a inovação se diferenciava por estar vinculada a um ganho econômico.” Muitos autores deram vida a novos conceitos sobre inovação com base nas ideias de Schumpeter, o que fez com que vários outros conceitos de inovação fossem apresentados na sequência: “É pela adoção da inovação que qualquer empresa passa a estar em condições de redefinir os setores em que atua, de criar novas indústrias, e de conquistar uma liderança que venha a estabelecer as regras da concorrência – em seu próprio benefício, é lógico” (Davila; Epstein; Shelton, 2009, p. 46). Em suma, “inovação não é simplesmente algo novo. É algo novo que traz resultados para a empresa. A inovação é a exploração de uma nova ideia com sucesso, resultando em grande retorno” (Davila; Epstein; Shelton, 2009, p. 16). Ou seja, a maneira como uma empresa inova dependerá de como suas diversas áreas e componentes interagem, formando assim processos de inovação que são únicos e, portanto, exclusivos. Algumas empresas já estão preparadas para as mudanças que estão em andamento; outras tantas estão se preparando com o passar dos anos. Muitos executivos com visão de futuro e de mercado já esperam inovação nos próprios modelos de negócios em um curto espaço de tempo (falamos aqui do horizonte de 2020, que está bem próximo). Percebemos, então, que essas corporações não tratam simplesmente de trazer inovação tecnológica, mas sim de inserir inovações que transpassam a organização como um todo. “[...] a inovação é um processo que fornece valor adicionado e um nível de novidade para a organização e para seus fornecedores e clientes através do desenvolvimento de novos 4 procedimentos, soluções, produtos e serviços e também de novos métodos de comercialização” (McFadzean; O'Loughlin; Shaw, 2005, p. 3). Apesar de todo desenvolvimento e avanço que as organizações apresentam no cenário atual, que, diga-se de passagem, têm sido constantes, ainda assim desenvolver modelos de negócios que sejam inovadores (e viáveis!) tem sido um desafio para as organizações do século XXI. Foi pensando nisso que Georg Stampfl, pesquisador, palestrante e consultor da área de inovação, registrou dez princípios considerados essenciais para que possa existir inovação em modelos de negócios (aqui aplicados principalmente às grandes empresas). Esses princípios foram pautados por uma pesquisa sobre inovação em modelos de negócios, que contemplou empresas iniciantes e empresas já experientes neste processo, gerando um conceito denominado “anatomia da inovação do modelo de negócio” (Stampfl, 2015). Vamos conhecer os princípios? 1. Inovação no modelo de negócio é uma questão da alta direção: como mencionamos anteriormente, a inovação é, acima de tudo, uma decisão organizacional e, portanto, precisa vir de “cima para baixo”, ou seja, precisa do apoio e envolvimento da alta gestão para que funcione. Nesse sentido, os lideres precisam demonstrar: Visão estratégica e de longo prazo; Gestão do processo de mudança na empresa e desenvolvimento das estruturas requeridas para novos modelos de negócios (lidando com a existência desses dois modelos ao mesmo tempo); Fortalecer a cultura organizacional, de modo a incentivar funcionários em suas iniciativas; Garantir os investimentos necessários para tal desenvolvimento. 2. Descoberta proativa de novos modelos de negócios: as organizações já atuantes de mercado devem ser estimuladas a buscar, enquanto ainda possuem negócios saudáveis, novos modelos de negócios. Isso se explica pelo fato de que hoje não podemos ter certeza de que nenhum negócio é estável e durará para sempre. 3. Monitoramento dos ambientes do modelo de negócios: é preciso seguir uma metodologia para acompanhar o ambiente de negócios, percebendo como o mercado está mudando, as tendências e que tipo de modelo tem 5 maior chance de sucesso e adaptação. O autor da teoria aponta ser imprescindível entender quais são as forças externas atuantes, para então conhecer seu impacto no desenho do novo modelo de negócio. Para isso, ele utiliza duas ferramentas (que são um apanhado de outras ferramentas já existentes e usadas no mercado), chamadas de “mapa ambiental do modelo de negócios” (Figura 1) e “modelo ambiental do modelo de negócios” (Figura 2), respectivamente: Figura 1 – Mapa ambiental do modelo de negócios Fonte: Stampfl, 2015. Figura 2 – Modelo ambiental do modelo de negócios Fonte: Stampfl, 2015. 6 4. Concentração na aprendizagem organizacional e abordagem interativa: Stampfl aponta que o processo de inovação em modelos de negócio é complexo e de altos custos, dadas suas características específicas, alto grau de incerteza, imprecisão de mercados-alvo e no volume da demanda. Assim, ele propõe que o foco da inovação esteja na aprendizagem organizacional, apoiada numa abordagem de tentativa e erro, que representa a lógica da experimentação. Esse princípio prega o ajuste do protótipo de modelode negócio ao mercado. 5. Novas capacidades e estruturas organizacionais: para implementar um novo modelo de negócios é preciso desenvolver novas capacidades e estruturas organizacionais, estabelecendo relações com novos parceiros e prospectando outros clientes. Cabe entender, aqui, como o novo mercado se impõe, qual a sua linguagem e, a partir disso, de que maneira o novo modelo pode ser eficiente e eficaz. 6. A falha é a regra; não a exceção: mesmo entre os profissionais de inovação experientes, falhar não é nenhuma novidade. Então, é sabido que um modelo de negócios inovador por vezes não dará lucro por um bom tempo, ou que incluir indicadores de performance cedo demais também pode ser arriscado. Além disso, ainda que implantado um modelo de negócios viável, é preciso ter em mente que o novo modelo sofrerá ajustes, de acordo com as necessidades. 7. Apoio à colaboração em projetos de design do modelo de negócios: os encontros presenciais se mostraram, de acordo com a pesquisa, mais efetivos que outras ferramentas, inclusive tecnológicas. No entanto, o excesso de informação gerado nesses encontros deve ser filtrado com apoio da tecnologia, por meio de plataformas de gestão de processos que organizarão e documentarão o trabalho) e de ambientes de colaboração e arquivo das ideias, que podem ser compartilhadas e lapidadas. 8. Uso de padrões e delimitação das hipóteses relacionadas: a utilização de templates (padrões prontos) para esboçar o novo modelo de negócios contribui para ter uma linha de raciocínio estruturada e simples. Esses padrões são bastante completos e oferecem os principais componentes a serem pensados e avaliados na concepção do modelo. São a representação das hipóteses que mais tarde serão testadas. 7 9. Uso de analogias no modelo de negócios para aprender a partir de padrões comprovados: o uso de modelos já testados e validados pelo mercado permite a geração de novos insights, a partir da inspiração e do pensamento criativo, que se tornam mais soltos. O que acontece aqui é que normalmente serão criadas adaptações ou aperfeiçoamentos de modelos já existentes (como na grande maioria dos casos); e não modelos inteiramente novos. As analogias permitem, então, “emprestar” ideias para desenhar o próprio modelo de negócios. 10. Efeitos colaterais positivos: o desenvolvimento de novos modelos de negócios frequentemente pode fazer com que outras ideias e produtos surjam, ocasionado assim “efeitos colaterais positivos”. Uma vez que modelar desenhos de negócios e produtos estão interligados, a relação é recíproca: tanto os modelos de negócios podem sugerir ideias de produtos como os produtos podem gerar ideias de negócios. Esses princípios traduzem a transformação com que as formas de se fazer negócios vêm sendo impactadas na atualidade. TEMA 2 – STARTUPS No princípio, o conceito de startups referia-se à um grupo de pessoas trabalhando em prol de uma ideia diferente que, em teoria, poderia gerar lucros financeiros. Também se entendiam por startups os processos de se iniciar uma pequena empresa inovadora e colocá-la em funcionamento (Moreira, 2016). Alguns investidores também entendiam startup como sinônimo de qualquer empresa em estágio inicial, tendo como características marcantes os baixos custos de manutenção e as chances de crescimento rápido e expressivo. Para Yuri Gitahy, especialista em startup, a melhor (e mais atual) definição para o tema de startup é de “um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.” Mas o que significa isto? Significa dizer que hoje em dia não há meios de se garantir que uma empresa ou negócio dará certo e funcionará para sempre, dado o elevado grau de incerteza e de concorrência do mercado. De outra forma, significa também que a organização em questão precisa ter condições de gerar repetidas entregas de seu produto ou serviço (em teoria de forma ilimitada), sem grandes repercussões 8 no que diz respeito à customização de produtos para os clientes, sendo, com isso, passível de se atingir escala: crescendo em receita, mas com poucos custos. Uma startup é um modelo de negócio que preconiza a absorção, adaptação e a propagação de novas ideias e novas tecnologias incorporadas aos produtos e serviços. É, portanto, um modelo de negócios que investe na adoção de conceitos e ideias inovadoras nos estágios iniciais de desenvolvimento. Em geral possuem grande potencial de crescimento, mas, ao mesmo tempo, recursos escassos, principalmente no começo das operações. No geral, os empreendedores têm grande dificuldade para levantar os recursos necessários ao seu pleno desenvolvimento. Para superar os desafios impostos e seguir no mercado, os empreendedores devem superar alguns obstáculos, de acordo com o site da consultoria Locus (S.d.): Figura 3 – Obstáculos a serem superados pelas startups Fonte: Locus, S.d. Uma startup que se proponha a ser bem-sucedida precisa, antes de tudo, de líderes que vão trabalhar muito, e trabalhar duro. Devem ser líderes que delegam, contratem as pessoas certas e saibam como lidar com elas, de modo a agregar na empresa. Esse modelo de negócio será considerado mais um em uma selva competitiva. Por isso, é importante buscar a diferenciação e focar nas necessidades do consumidor, o que contribui para enfrentar pequenos e grandes concorrentes. Nesse sentido, ter cautela é continuamente um ponto importante, uma vez que os negócios não têm crescimento ininterrupto, ou seja, não para sempre. 9 Cuidar do fluxo de caixa e do planejamento financeiro também é obrigatório, pois nem sempre as vendas representam entradas de dinheiro no mesmo momento de tempo. Essa gestão é tão essencial quanto ter clareza de qual é o produto oferecido pela empresa e para quem, escolhendo o público a empresa vai dedicar seus esforços de venda. No Brasil, o mercado de startups teve início em meados dos anos 1990 (Scalzaretto, 2017) e, de acordo com recente pesquisa realizada pela ABCStartups, em parceria com a Accenture (2017), encontra-se assim distribuído: Figura 4 – Distribuição do mercado de startups no Brasil Fonte: Matos, 2017. É possível notar, por intermédio do gráfico, que São Paulo é o estado que concentra o maior número de startups, seguido por Santa Catarina e Minas Gerais. Uma pesquisa realizada pelo Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços revelou que cerca de 30% das startups têm dificuldade para se manter no mercado, sendo as principais causas para fechamento justamente a falta de acesso ao capital financeiro (40%), entraves para entrar no mercado (16%), seguido de divergências entre os sócios (12%). Curiosidade Como forma de dar apoio à manutenção das startups, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços criou o programa Inovativa Brasil, que promove ações de assistência às startups. Conheça-o em INOVATIVA Brasil. Disponível em: <https://www.inovativabrasil.com.br>. Acesso em: 9 set. 2018. 10 A perspectiva para as startups é de crescimento, mas um de seus maiores desafios continua sendo a busca por investidores que tenham interesse e condições financeiras para suportar os empreendimentos. TEMA 3 – COWORKING O cenário atual de organização do trabalho vem mudando. Nessa direção, existe uma busca cada vez maior pela troca de experiências, consideradas cruciais para o desenvolvimento profissional neste novo paradigma (Heckler, 2012). O coworking, enquanto espaço de colaboração, refere-se, assim, a um formato de trabalho e ambiente em que diferentes empresas e profissionais (normalmente autônomos) compartilham o mesmo espaço, serviços e infraestrutura, com o objetivo de reduzir custos do que seriaa manutenção de um escritório físico, além das possibilidades de ampliação dos contatos e interação. Os coworking são espaços físicos que reúnem profissionais que trabalham em escritórios não convencionais, como freelancers, empresários, autônomos em busca de interação. O termo foi criado em 1999 por Bernie DeKoven, entendido à época como uma extensão do trabalho realizado no sistema home office; um trabalho on-line – via internet – realizado da casa do profissional (Leforestier, 2009). Trata-se, de maneira simplificada, de uma forma de organização do trabalho, traduzida num espaço de escritório não convencional, em que o empreendedor abre mão da administração do local físico, de correr comprar móveis, de pagar água, luz, telefone e todos os aspectos que são inerentes ao funcionamento de um local de trabalho. Cada usuário paga uma quantia pelo uso do espaço e recebe como contrapartida uma série de comodidades com as quais não precisa se preocupar. Trata-se, também, da opção e da adoção por um estilo de trabalho e de vida diferentes, que antes nem eram possíveis de se imaginar. Veja, a seguir, um exemplo de espaço de coworking (observe inclusive que a disposição dos espaços e do próprio mobiliário é inusitada!), que o Google abriu em São Paulo em 2016. Podemos observar, também, por meio da imagem, que os coworking têm em sua concepção a adoção de espaços diferenciados. No exemplo, podemos ver o que a empresa chamou de sala de silêncio, improvável em muitas grandes 11 corporações. Ou seja, para muitos profissionais da atualidade, a atmosfera do ambiente de trabalho é um ponto muito importante. Outro aspecto que chama a atenção é que, nesses recintos, reúnem-se profissionais das mais diversas especialidades (no geral de empresas de menor porte), caracterizando um espaço que incita à inovação, à criatividade, ao espírito de comunidade e, acima de tudo, ao aspecto colaborativo. Além da economia na parte financeira, a autonomia de tempo e de trabalho é certamente um fator muito valorizado pela nova geração de profissionais. Esse panorama é muito bem explicado pelo conceito de “modernidade líquida” cunhado por Bauman, citado por Gama (2017), no qual ele afirma que a modernidade transborda tempo e lugares, e que o indivíduo é livre para buscar sua autorrealização, o que demonstra claramente o contexto dos coworking e os elementos que orbitam ao seu redor. Figura 5 – Capa do livro Modernidade líquida Crédito: Editora Zahar/Sérgio Campante. Temos, então, uma modalidade de trabalho que é mais flexível em muitos aspectos, favorável inclusive às startups que comentamos no tema anterior, uma vez que é mais procurado por empreendedores e profissionais que querem economizar com custos de manutenção de um ponto físico, ao mesmo tempo que têm a possibilidade de articular novas relações e contatos de trabalho. TEMA 4 – ECONOMIA COLABORATIVA É notório dizer que o modo como as pessoas se comunicam, interagem, consomem e se relacionam mudou (e continua mudando) com as transformações 12 sociais e tecnológicas que temos acompanhado. Essas alterações trouxeram à tona um horizonte de consumidores que não tolera e não deseja mais ter experiências e produtos desenvolvidos sem identidade e sem personalidade; ou seja, criados de forma massificada. Tendo esse cenário como ponto de partida, certa insatisfação (por parte dos consumidores) com o modelo de consumo vigente abriu espaço para outro modelo, baseado no compartilhamento. Foi assim que economia colaborativa, economia em rede ou economia compartilhada passaram a ser expressões que definem a mesma ideia: um modelo de negócio amparado no compartilhamento, trocas e na colaboração. [...] a economia colaborativa é um movimento originado a partir do surgimento de novas tecnologias da informação e comunicação. É uma nova forma de pensar e agir. Busca a diminuição dos desperdícios, do aumento da eficiência, eficácia e produtividade. Sobremaneira, o uso consciente e racional dos recursos que o planeta nos oferta. (Lapenda, 2016) Conhecido em inglês pela expressão sharing economy, esse é, sem dúvida, um movimento de transformação econômica, no qual há espaço para repensar os formatos de modelos de negócios. Isso se explica ao observarmos que, hoje, as pessoas compartilham desde a venda de seu automóvel, aos produtos caseiros que fazem para comercialização; tanto quanto de espaços de trabalho ou objetos usados. Ou seja, engloba praticamente tudo o que possamos imaginar. No centro desse conceito está o que se chama de compartilhamento peer- to-peer, ou seja, o compartilhamento pessoa a pessoa. Segundo o site Consumo Colaborativo: A cadeia de valor da Economia Colaborativa mostra como empresas podem repensar seus modelos de negócios tornando-se “Prestadoras de Serviços”, “Fomentadoras de Mercado” ou “Provedoras de Plataformas”. As empresas com visão de futuro empregam um modelo, enquanto as mais inovadoras empregam todos os três, com a corporação no centro, abandonando assim a fórmula de preço, praça, produto e promoção. (Krupinsk, S.d.) A proposta da economia colaborativa é, a partir disso, de viabilizar projetos individuais, conectar desconhecidos, reduzir custos e também gerar lucro, tendo se desenvolvido em grande medida por meio da internet e redes sociais. Vamos conhecer um exemplo: O aplicativo GetNinjas nasceu da busca do engenheiro da Computação e empreendedor Eduardo L’Hotellier para contratar prestadores de serviços que fossem de confiança, pois, além de demorar para encontrar profissionais específicos, quando encontrava o serviço ficava bem 13 abaixo do esperado. O propósito do aplicativo é conectar quem sabem com quem sabe fazer, proporcionando a possibilidade de renda extra para autônomos, aumento de clientes para pequenas empresas e contratar profissionais avaliados e verificados para clientes. Hoje o aplicativo é um sucesso, com investimento de 47 milhões de reais e mais de 450 mil profissionais cadastrados, entre eletricistas, professores, diaristas e mais 200 outros tipos de serviços, recebe cerca de 3 milhões de pedidos ao ano e já está presente em mais de 3 mil cidades do Brasil. (GetNinjas, S.d.) A economia colaborativa também pode ser encontrada como economia mesh (Gansky, 2010) ou consumo conectado (Dubois; Schor; Carfagna, 2014). Outra denominação é o consumo colaborativo (Botsman; Rogers, 2009), ou crowdsourcing, que retrata a reunião de diversas pessoas, que podem ser remuneradas ou voluntárias (Afinal..., 2014), tendo como objetivos: resolução de problemas em produtos, criação de conteúdos, desenvolvimento de produtos, opinião sobre produtos ou teste de produtos. Certamente, o consumo colaborativo é uma solução mais barata, que conta com opiniões reais de consumidores, evitando fracassos retumbantes de mercado. Conheça outro exemplo de aplicação. O aplicativo TEM AÇÚCAR? é uma plataforma que conecta pessoas dispostas a compartilhar objetos e bens entre a vizinhança. Trata-se de um estímulo ao consumo consciente na troca de produtos e serviços, além de trabalhar a questão da economia nas famílias. Criado em 2014 por uma ex-modelo que resolveu empreender, hoje o aplicativo é a maior rede de colaboração entre vizinhos da América Latina. São mais de 150 mil pessoas espalhadas pelo Brasil. (Tem Açúcar?, S.d.) Apesar de ainda ser considerado um fenômeno novo, não podemos ignorar o fato de que a economia colaborativa se apresenta como uma opção aos padrões de negócios tradicionalmente disponíveis. Definido pela Revista Galileu, este é um “modelo em que a experiência vale mais do que a posse” (Pinelli, 2017). A tecnologia teve um papel de destaque para a economia colaborativa e continuará tendo, permitindo que essa transformação se consolide cada vez mais e se torne integre nas estratégias das empresas de nível mundial. TEMA5 – ESTUDO DE CASO Leia o trecho a seguir e responda às questões: A ideia do TruckPad nasceu em 2011, depois que Carlos Mira, fundador e CEO da empresa, fez uma visita ao Vale do Silício. “Fiquei convencido de que havia uma clara oportunidade de utilizar smartphones para aumentar a produtividade dos caminhoneiros aqui no Brasil”, explica o executivo. O modelo de negócio contribui diretamente para o aumento no lucro de profissionais e empresas, pois elimina a figura do 14 atravessador, que cobra uma porcentagem sobre o valor da carga transportada. Por meio do aplicativo TruckPad, companhias podem contratar caminhoneiros com maior facilidade. Outro detalhe é que essa prática evita que caminhões rodem vazios pelas estradas, contribuindo assim para a sustentabilidade do meio ambiente. Atualmente, a empresa conta com 450 mil motoristas cadastrados e oito mil empresas contratantes de fretes. (Pinelli, 2017) 1. Que aspectos da tecnologia podem ser vistos nesse caso de economia colaborativa e que papel exercem neste modelo? 2. Partindo da premissa de um consumo que seja mais consciente no futuro, é possível notar, por parte da empresa, uma preocupação com o meio ambiente e práticas sustentáveis? Comente. 3. Do ponto de vista da gestão de empresa, qual é (ou quais são) os impactos da economia colaborativa neste modelo de negócio? FINALIZANDO O sucesso de muitas empresas fez com que diversos empreendedores se animassem com a possibilidade de abrir seu negócio. Em muitos casos, acredita- se que ter uma boa ideia bastava. Exemplos como o Facebook inspiraram muita gente. Contudo, o caminho dos modelos de negócio inovadores nem sempre é simples e tampouco é fácil. Vemos, por meio das estatísticas, o alto índice de empresas que não consegue se manter no mercado, demonstrando a importância de se atentar para os princípios de inovação nos modelos de negócio. Observamos, nesses novos modelos, uma necessidade premente de compartilhar e de se relacionar, em um ciclo de relações econômicas e financeiras que abrange as transformações sociais e de consumo que vivenciamos hoje. Afinal de contas, consumir sempre fez parte das nossas vidas e continuará fazendo, mas certamente de uma maneira mais consciente e sustentável. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica COSTA, R. B. Economia colaborativa: por uma compreensão processual. 38º Encontro Anual da Anpocs. Disponível em: <https://www.anpocs.com >. https://www.anpocs.com 15 Acesso em: 9 set. 2018. Texto de abordagem prática SCALZARETTO, N. Ecossistema para startups se fortalece no Brasil, mas obstáculos permanecem. Época Negócios, 13 out. 2017. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2017/10/epoca- negocios-ecossistema-para-startups-se-fortalece-no-brasil-mas-obstaculos- permanecem.html>. Acesso em: 9 set. 2018. Saiba mais O QUE é economia compartilhada? Arthur Igreja, 16 mar. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=32&v=sUi5_u8dZog>. Acesso em: 9 set. 2018. Is coworking really the future? CNBC International, 31 ago. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HYlwYjRPbPo>. Acesso em: 9 set. 2018. 16 REFERÊNCIAS 5 OBSTÁCULOS que toda startup deve superar para alcançar o sucesso. Locus, 19 dez. 2017. Disponível em: <https://www.locusbc.com.br/5-obstaculos-que- toda-startup-deve-superar-para-alcancar-o-sucesso/>. Acesso em: 9 set. 2018. AFINAL, o que é crowdsourcing? Crowdtask, 15 maio 2014. Disponível em: <http://crowdtask.me/conteudo/afinal-o-que-e-crowdsourcing>. Acesso em: 9 set. 2018. BOTSMAN, R; ROGERS, R. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo. Porto Alegre: Bookmann, 2009. DAVILA, T.; EPSTEIN, M. J.; SHELTON, R. As regras da inovação: como gerenciar, como medir e como lucrar. 2. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2009 DUBOIS, E.; SCHOR, J.; CARFAGNA, L. Connected consumption: a sharing economy takes hold. Rotman Management, p. 50-55, 2014. FERREIRA, D. Joseph Schumpeter: teoria e obra. Perítia Econômica, 17 mar. 2015. Disponível em: <http://peritiaeconomica.com.br/schumpeter-inovacao/>. Acesso em: 9 set. 2018. GAMA, Z. A quem serve a modernidade líquida de Bauman? Justificando, 11 jan. 2017. 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Acesso em: 9 set. 2018. 19 GABARITO 1) Uma vez que a economia colaborativa teve início a partir do uso da tecnologia, especialmente da internet e redes sociais, os aspectos tecnológicos que podem ser observados no caso são o uso de smartphones como ferramenta do modelo de negócio e o uso do aplicativo como meio para que o negócio funcione. 2) Sim, é possível notar que através do uso do aplicativo da TruckPad os caminhoneiros otimizam suas viagens, uma vez que rodam quando são contratados, sem andar com cargas vazias. Isto está embutido no modelo de negócio desta empresa, configurando uma preocupação com o meio ambiente. 3) Os impactos da economia colaborativa percebidosno modelo da TruckPad são a questão da capacidade produtiva, do planejamento, da redução de custos, do controle e previsão de entregas, processos logísticos etc.
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