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Apostila de Processo Coletivo

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Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
1 
 
DIREITO 
PROCESSUAL 
CIVIL 
 
PROCESSO 
COLETIVO 
 
 
 
 
LÚCIO FLÁVIO SIQUEIRA DE PAIVA 
ADVOGADO. MESTRE EM DIREITO PELA PUC/GO. 
PROFESSOR DE PROCESSO CIVIL NA PUC/GO, ESCOLA DA MAGISTRATURA DE GOIÁS E CURSOS 
PREPARATÓRIOS PARA CONCURSOS PÚBLICOS 
 
Atualizada até abril de 2012. 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
2 
 
 
ROTEIRO 01 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
01. ANTECEDENTES HISTÓRICOS 
 
- As fases metodológicas do processo: (i) imanentista ou sincretista; (ii) 
autonomista; (iii) instrumentalista: processo coletivo como vertente do 
instrumentalismo substancial. 
- A ação popular romana como antecedente histórico das ações coletivas. 
- A “summa divisio” romana: divisão do direito em público e privado, de acordo 
com os possíveis titulares de direitos, ou seja, o indivíduo ou o Estado. 
- Necessidade de superação conceitual, ante a tomada de consciência de uma 
classe de direitos que transcendem tanto a esfera do indivíduo, por um lado, 
quanto a esfera do Estado, por outro. Exemplo: a consciência ecológica e o 
despertar valores ambientais, os direitos do consumidor. 
- A experiência norte-americana das class action: importância do estudo de 
mecanismos que inspiraram o legislador brasileiro, a saber: (i) o right to opt out; 
(ii) o sistema de fair notice ; (iii) a adequacy of representantion; (iv) o binding 
efect decorrente da coisa julgada. 
- A evolução do processo coletivo no Brasil: (i) a ação popular prevista no artigo 
113, inciso XXXVIII da Constituição de 1934; (ii) A lei 4.717/65; (iii) a década de 
70 e a “revolução dos professores”, inspirada no movimento de ACESSO À 
JUSTIÇA, comandado por CAPPELLETTI e BRYANT GARTH. 
 
02. FUNDAMENTOS OU OBJETIVOS DAS AÇÕES COLETIVAS: 
 
- Acesso à Justiça. 
- Economia Processual. 
- Segurança Jurícia. 
- Isonomia. 
- Celeridade. 
- Prevenção de decisões conflitantes. 
 
03. CONCEITO DE PROCESSO COLETIVO: 
 
- Para Didier e Zanetti Jr., “ conceitua-se processo coletivo como aquele instaurado 
por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula um direito coletivo 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
3 
 
lato sensu ou se postula um direito em face de um titular de um direito coletivo lato 
sensu, com o fito de obter uma providência jurisdicional que atingirá uma 
coletividade ou um número determinado de pessoas”. 
 
3.1. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO COLETIVO 
 
- A especial legitimação para agir. 
- A afirmação em juízo de um direito coletivo lato sensu. 
- A extensão subjetiva da coisa julgada. 
 
04. PROCESSO COLETIVO E MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA 
 
- O sistema de tutela coletiva é formado por diversas leis que se comunicam entre 
si, em verdadeiro diálogo de fontes, e que formam um verdadeiro microssistema do 
processo coletivo. 
- Principais Leis: Lei de Ação Popular (Lei n◦ 4.717/65); Lei da Política Nacional do 
Meio Ambiente (Lei n◦ 6.938/81); Lei de Ação Civil Pública (Lei n◦ 7.347/85); 
CF/88; Código de Defesa do Consumidor (Lei n◦ 9.078/90); Lei do Mandado de 
Segurança (Coletivo) (Lei n◦ 12.016/09) e outros. 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
4 
 
ROTEIRO 02 
OS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU 
 
01. INTRODUÇÃO 
 
- Direitos coletivos “lato sensu”: difusos, coletivos e individuais homogêneos. 
 
02. A CONCEITUAÇÃO LEGAL 
 
- CDC, Artigo 81, parágrafo único. 
- Interesses ou direitos difusos: os transindividuais, de natureza indivisível, de que 
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. 
- Interesses ou direitos coletivos: os transindividuais, de natureza indivisível, de 
que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas, ligadas ente si ou com a 
parte contrária por uma relação jurídica base. 
- Interesses ou direitos individuais homogêneos: assim entendidos os decorrentes 
de origem comum. 
- IMPORTANTE: apesar de conceituados no CDC, não se aplicam apenas às relações 
de consumo. 
 
2.1. DIREITOS OU INTERESSES? 
 
- A doutrina amplamente majoritária afirma que o CDC não fez distinção entre as 
duas expressões. KAZUO WATANABE (Comentários ao CDC) afirma serem 
expressões sinônimas, na medida em que o interesse, quando amparado pelo 
ordenamento, adquire o status de direito. ELPÍDIO DONIZETI e MARCELO 
CERQUEIRA (Curso de Processo Coletivo) afirmam se tratar de distinção incabível, 
pois que os direitos coletivos são titularizados por coletividades, dispensando que 
se recorra ao conceito da doutrina italiana de interesse para permitir a sua tutela 
jurisdicional. 
 
03. OS DIREITOS DIFUSOS: 
 
- Características principais: 
a) Titularidade: coletividade composta por indivíduos indeterminados e 
indetermináveis; 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
5 
 
b) Divisibilidade: ausente, pois que o direito difuso é essencialmente indivisível1; 
c) Origem: mesma situação de fato. 
 
- Exemplos típicos: meio ambiente, direitos do consumidor, patrimônio histórico, 
moralidade administrativa. 
 
04. OS DIREITOS COLETIVOS STRICTO SENSU 
 
- Características principais: 
a) Titularidade: coletividade composta de indivíduos indeterminados mas 
determináveis; 
 
b) Divisibilidade: ausente, pois também são essencialmente coletivos; 
c) Origem: prévia relação jurídica base, mantida entre si ou com a parte contrária. 
 
- Exemplos típicos: OAB ou sindicato, na defesa dos interesses de seus associados; 
contribuintes de um determinado imposto. 
 
05. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
 
- Características principais: 
a) Titularidade: grupo de indivíduos determinável; 
b)Divisibilidade: presente, pois se trata de direito essencialmente individual; 
c) Origem: situações de fato ou de direito equivalentes. 
 
- Exemplos clássicos: adquirentes de modelo de veículo com defeito; consumidores 
de um produto nocivo à saúde que buscam indenização. 
 
- IMPORTANTE: trata-se de direitos tipicamente individuais, que por poderem 
ensejar conflitos de massa (mass torts), receberam do legislador a tratativa na 
forma coletiva. 
- OBS 1: inspiração nas class action for damages do direito norte-americano. CASO 
CLÁSSICO: agent Orange case, no qual veteranos da guerra do Vietnã, por 
intermédio de um representante adequado, moveram uma ação coletiva (class 
 
1 Ricardo de Barros Leonel, em MANUAL DO PROCESSO COLETIVO, observa (pag. 91), dando como 
exemplo de direito difuso o meio ambiente: “O objeto do seu interesse é indivisível, pois não se pode 
repartir o proveito, e tampouco o prejuízo, visto que a lesão atinge a todos indiscriminadamente, assim 
como a preservação a todos aproveita”. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
6 
 
action for damages) e processaram várias indústrias químicas americanas que 
manipularam esse agente químico. 
- Sobreleva, nesses casos, a questão do acesso à justiça e paridade de armas. 
 
06. A QUESTÃO DA TITULARIDADE DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU 
 
- Ao contrário do que afirma parcela da doutrina, a titularidade não é 
indeterminada, mas determinada: a coletividade, que se faz presente em juízo por 
intermédio de um representante adequado. 
 
07. QUADRO COMPARATIVO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU 
 
ESPÉCIE TITULARIDADE DIVISIBILIDADE ORIGEM CLASSIFICAÇÃO 
DIFUSO Coletividade de 
indivíduos 
indeterminados 
e 
indetermináveis 
Indivisível Fato lesivoEssencialmente 
coletivo 
COLETIVO Coletividade de 
indivíduos 
indeterminados 
mas 
determináveis 
Indivisível Relação 
jurídica base 
anterior entre 
si ou com a 
parte 
contrária 
Essencialmente 
coletivo 
INDIVIDUAL 
HOMOGÊNEO 
Coletividade de 
indivíduos em 
situação jurídica 
homogênea 
Divisível Fato lesivo Acidentalmente 
coletivo 
 
 
08. METODOLOGIA PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS LATO 
SENSU (PROPOSTOS POR ELPÍDIO DONIZETE E MARCELO CERQUEIRA) 
 
Primeira pergunta: a tutela jurisdicional é postulada em benefício de quem? De um 
indivíduo ou de uma massa de indivíduos? 
 
Segunda pergunta: em se dirigindo a um conjunto de indivíduos, há divisibilidade 
do direito coletivo pleiteado? Ou seja, poderia o direito ser postulado por cada 
indivíduo integrante do todo em ação própria? 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
7 
 
Terceira pergunta: Qual a origem do direito coletivo postulado? Havia prévia 
relação jurídica entre os membros da coletividade ou entre eles e a parte contrária? 
 
CASO HIPOTÉTICO INTERESSANTE: 
(proposto por DONIZETTI e CERQUEIRA) 
- Fabricante de iogurte que, buscando aumentar suas vendas, divulga, mediante 
propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas 
científicas demonstram, porém, que na verdade o consumo daquele iogurte 
aumentos os níveis de colesterol ruim. 
- 3 ações judiciais são propostas em decorrência desse fato: 
 
Ação X: busca a parte autora indenização pelos danos materiais e morais sofridos, 
decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis 
de colesterol. 
 
Ação Y: entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais 
sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto. 
 
Ação Z: entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do 
consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do 
mercado. 
 
IDENTIFIQUE O DIREITO EM CADA CASO. 
 
- CONCLUSÃO: o direito coletivo deve ser identificado no caso concreto, de acordo 
com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar 
pretensões difusas, coletivas e individuais homogêneas. 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
8 
 
ROTEIRO 03 
PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO 
 
01. NOÇÕES GERAIS SOBRE TUTELA JURISDICIONAL 
 
- Classificação de acordo com a pretensão submetida à apreciação jurisdicional: 
tutela cognitiva, executiva ou cautelar. 
- Noção de crise jurídica. 
- Tipos de tutela cognitiva: declaratória, constitutiva/desconstitutiva e 
condenatória. 
 
02. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO COLETIVO 
 
2.1. Aplicação Residual do CPC: 
- O CPC, por seu caráter eminentemente individualista, terá aplicação meramente 
residual aos processos coletivos e desde que obedecidas as seguintes regras: (i) no 
microssistema de tutela coletiva haja omissão; (ii) a regra processual do CPC seja 
compatível com o processo coletivo, na medida em que não pode comprometer a 
eficácia da proteção aos direitos coletivos lato sensu. 
 
2.2. Representatividade Adequada 
- Os substitutos processuais da coletividade atuam em nome desta e, por isso, 
devem ser representantes adequados. Os sistemas conhecidos são o de controle 
judicial (ope iudices) da representação adequada, como ocorre nos Estados Unidos, 
e o sistema de controle da representatividade adequada pela lei (ope legis), como 
ocorre no Brasil, eis que entre nós é a lei quem indica os representantes, prévia e 
abstratamente. 
 
DONIZETTI e CERQUERIA criticam a terminologia representante por se confundir 
com o instituto da representação no processo individual. Pensamos que a crítica 
não faz sentido, bastando lembrar que a expressão representante adequado é já 
tradicional na doutrina do processo coletivo e usada em um contexto que não 
permite confusão com a representação do processo individual. 
 
DIDIER e ZANETI JR., ao comentarem o princípio da representação adequada 
pontuam que cresce a necessidade de que seja feito, pelo juiz e no caso concreto, o 
controle da representação adequada, com vistas à segurança jurídica e garantia de 
efetiva proteção ao direito coletivo postulado em juízo. 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
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Se essa opinião prevalecer – e já há muitos juízes que fazem esse controle – o 
Brasil passaria a ter, na prática, um critério misto ou híbrido: a lei, prévia e 
abstratamente, aponta os legitimados extraordinários; o juiz, no caso concreto, 
analisa se aquele legitimado extraordinário é, naquele específico caso, um 
representante adequado. 
 
2.3. Não-taxatividade ou Atipicidade da Tutela Coletiva: 
 
- Decorrência direta de que de nenhuma lesão ou ameaça a direito pode ser 
excluída da análise do Poder Judiciário, a doutrina ensina que a ausência de 
procedimento próprio para a tutela de determinado direito coletivo não pode ser 
óbice à propositura da ação coletiva. DONIZETTI e CERQUEIRA chegam a afirmar 
que “nada impede, portanto, a propositura de uma ação coletiva inominada”. Essa 
idéia é anunciada no artigo 83 do CDC. 
 
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são 
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua efetiva e adequada 
tutela. 
 
2.4. Princípio da Ampla Divulgação da Demanda Coletiva e Princípio da Informação 
aos Órgãos Competentes: 
 
- O princípio da ampla divulgação decorre, diretamente, do artigo 94 do CDC. 
 
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os 
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de 
ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de 
defesa do consumidor. 
 
A doutrina ressalta que o princípio da ampla divulgação da demanda coletiva visa 
possibilitar: (i) que os autores individuais possam requerer a suspensão de seus 
processos; (ii) a propositura de uma única demanda coletiva, evitando casos de 
litispendência e coisa julgada; (iii) a intervenção de amicus curiae; (iv) a execução 
individual da sentença coletiva; (v) o controle da atuação adequada do legitimado 
extraordinário. 
DIDIER e ZANETTI JR. pontuam que se trata de princípio de encontra raízes na fair 
notice do direito norte-americano. 
 
- A seu turno, o princípio da informação aos órgãos competentes decorre dos arts. 
6◦ e 7◦ da Lei de Ação Civil Pública: 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
10 
 
Art. 6◦. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do 
Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto 
da ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção. 
 
Art. 7◦. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem tiverem 
conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão 
peças ao Ministério Público para as providências cabíveis. 
 
2.5. Princípio da Indisponibilidade Temperada e da Continuidade da Demanda 
Coletiva: 
 
- O princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva liga-se, sobretudo, ao 
Ministério Público, por ter o dever institucional de atuar na defesa dos direitos 
coletivos em sentido lato. Assim, ao contrário do processo individual, em que a 
propositura ou não da ação encontra-se no âmbito da faculdade do indivíduo, no 
processo coletivo, constatada a lesão a um direito coletivo lato sensu, a propositura 
da ação coletiva é uma imposição. Todavia, essa obrigatoriedadede propositura da 
ação coletiva deve ser considerada temperada, justamente porque o MP deverá 
fazer um exame de oportunidade e conveniência quanto ao seu manejo. 
Um bom exemplo do princípio da indisponibilidade da ação coletiva encontra-se 
tratado no artigo 9◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85): 
 
Art. 9◦. Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se 
convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, 
promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, 
fazendo-o fundamentadamente. 
§1◦. Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão 
remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao 
Conselho Superior do Ministério Público. 
§2◦. Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja 
homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações 
legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos 
autos do inquérito ou anexados às peças de informação. 
§3◦. A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do 
Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu regimento. 
§4◦. Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, 
designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da 
ação. 
 
Ainda sobre o princípio da indisponibilidade temperada da ação coletiva, merece 
destaque a opinião de DONIZETTI e CERQUEIRA no sentido de aplicá-lo não só ao 
Ministério Público, mas também às defensorias públicas e à advocacia pública, forte 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
11 
 
no argumento de que estes também são essenciais à Justiça e incumbindo-lhes 
igualmente velar pelos direitos coletivos em sentido lato. 
 
- Por sua vez, o princípio da continuidade da demanda coletiva encontra-se 
positivado no §3◦ do artigo 5◦ da Lei de Ação Civil Pública (lei 7.347/85): 
 
Art. 5◦. (...) 
§3◦. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação 
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. 
 
Sobre o dispositivo, duas observações: (i) não se trata de abandono da demanda 
coletiva apenas por associação, mas por qualquer legitimado; (ii) a continuidade 
também é temperada, pois não pode obrigar o Ministério Público ou outro 
legitimado extraordinário a dar prosseguimento a uma demanda infundada. 
 
2.6. Princípio da Obrigatoriedade da Execução da Sentença coletiva: 
 
- Esse princípio decorre, primordialmente, do artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública 
(lei 7.347/85), que reza: 
 
 
Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença 
condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo 
o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. 
 
No mesmo sentido, o artigo 100 do Código de Defesa do Consumidor: 
 
Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número 
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a 
liquidação e execução da indenização devida. 
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o Fundo criado 
pela Lei n◦ 7.347, de 24 de julho de 1985. 
 
O artigo 15 da LACP deixa claro que, se a propositura da ação coletiva comporta 
algum temperamento, a execução da sentença de procedência é absolutamente 
obrigatória, sem exceção. Logicamente, qualquer legitimado que não promova a 
execução da sentença coletiva poderá ser substituído por outro, a fim de assegurar 
a efetiva execução da sentença de procedência. 
O artigo 100 do CDC, por sua vez, trata das sentenças proferidas em ações 
coletivas que buscam a tutela de direitos individuais homogêneos: nesse caso, o 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
12 
 
legitimado extraordinário busca uma sentença condenatória genérica, que será 
posteriormente liquidada e executada pelos substituídos, ou seja, pelos legitimados 
individuais. Ocorre que, não raro, tais legitimados individuais não comparecem para 
realizar a devida liquidação/execução, quer por não terem conhecimento da ação 
coletiva e da sentença condenatória (daí a importância do princípio da máxima 
divulgação), quer por falta de interesse econômico. Nesses casos, decorrido um ano 
sem o comparecimento significativo desses substituídos, deverá o Ministério Público 
ou qualquer outro legitimado promover a execução do julgado, que agora será em 
caráter coletivo e a fim de beneficiar toda a coletividade, pois que os valores 
apurados devem ser depositados nos fundos estatais de proteção aos direitos 
coletivos lato sensu. Trata-se do instituto que hoje é conhecido como fluid recovery 
ou reparação fluida. 
 
2.7. Princípio da Extensão Subjetiva da Coisa Julgada e do Transporte in utilibus 
 
- Pela extensão subjetiva da coisa julgada, a decisão do processo coletivo se 
estende ou erga omnes ou ultra parts, beneficiando os membros da coletividade. 
Essa extensão subjetiva da coisa julgada (ou de seus efeitos, como oportunamente 
se estudará) é inerente ao processo coletivo, sendo um de seus elementos 
caracterizadores. 
- Já o transporte in utilibus permite que uma sentença, proferida em ação coletiva 
para a defesa de direitos essencialmente coletivos possa ser transportada para uma 
ação individual, originada, por exemplo, daquele mesmo fato. 
 
2.8. Princípio da Intervenção Obrigatória do Ministério Público: 
 
- Esse princípio decorre do artigo 5◦, §1◦ da Lei de Ação Civil Pública, que reza: 
 
Art. 5◦. (...) 
§1◦. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará 
obrigatoriamente como fiscal da lei. 
 
A intervenção do Ministério Público em uma demanda coletiva se dá de duas 
formas: na qualidade de autor e na qualidade de custos legis. Ora, quando atua na 
qualidade de Autor qualquer dúvida há, pois que o MP será parte na demanda. 
Surge o questionamento naqueles outros casos, em que não propôs a ação e, a 
nosso ver, sempre que houver uma ação coletiva não proposta pelo MP, esse 
deverá atuar como fiscal da lei, sendo intimado dos atos processuais. 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
13 
 
2.9. Princípio do Interesse Jurisdicional no Conhecimento do Mérito do Processo 
Coletivo: 
 
- De acordo com esse princípio, visto por alguns como um subprincípio da 
instrumentalidade das formas, deve o juiz flexibilizar ao máximo as regras de 
procedimento, a fim de assegurar o direito da sociedade em ver apreciado o mérito 
da ação coletiva. Na seara, pois, da tutela dos direitos coletivos, o processo deve 
ser visto, mais do que nunca, como mero instrumento de viabilização da prestação 
da tutela jurisdicional. 
 
- Por fim, cita a doutrina ainda dois princípios: certificação da demanda coletiva e 
competência adequada. O primeiro não nos parece aplicável ao sistema brasileiro, e 
o segundo ainda carece de aprofundamento doutrinário, pelo que não serão 
comentados. 
 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
14 
 
ROTEIRO 04 
A LEGITIMIDADE NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 
01. NATUREZA JURÍDICA DA LEGITIMIDADE ATIVA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 Basicamente, três são as teorias que buscam explicar a natureza 
jurídica da legitimidade ativa nas ações coletivas: (i) legitimidade ordinária; (ii) 
legitimidade extraordinária e (iii) legitimidade autônoma para a condução do 
processo. 
 A primeira corrente defende se tratar de legitimidade ordinária das 
formações sociais para a defesa dosdireitos coletivos e os entes que representam 
essas formações sociais estariam em juízo a defender direito que efetivamente 
titularizam. ARAKEN DE ASSIS, citado por DONIZETTI e CERQUEIRA (pag. 134), 
explica que, 
 
É questão em aberto, no direito pátrio, a natureza da legitimidade do Ministério 
Público, e a fortiori, das associações civis e dos partidos políticos, tratando-se de 
interesses difusos e coletivos [...]. Parece mais consentâneo à realidade qualificar a 
legitimidade de ordinária nessas situações. 
[...] a transmigração do individual para o coletivo, a qual alude Dinamarco, [...] 
implica uma transformação mais profunda e intensa do que a simples substituição, 
outorgando a titularidade do direito coletivo e do difuso a uma pessoa diferente dos 
titulares da situação individual incluída no conjunto. 
Em outras palavras, o Ministério Público, a associação ou o cidadão, conforme o 
caso, legitimam-se, ativamente, porque se mostram titulares do direito posto em 
causa, sem embargo de existirem outros titulares dos direitos parciais que, 
coletivamente, formam o objeto litigioso. Por essa linha de raciocínio, a soma das 
partes adquire identidade própria e nova, substancialmente diversa das frações de 
que é titular pessoa também diferente, graças à indivisibilidade. E tal legitimação se 
revela ordinária. 
 
 A segunda corrente, amplamente majoritária na doutrina 
brasileira, defende tratar-se de legitimidade extraordinária, visto que o autor 
coletivo vai a juízo em nome próprio, defender direito de outrem, ou seja, defender 
o direito metaindividual que é titularizado pela coletividade, caso em que atua como 
verdadeiro substituto processual. Essa a teoria adotada por DIDIER e ZANETI JR., 
DONIZETTI e CERQUEIRA, bem como pelo autor do presente trabalho. 
 A terceira corrente tem em NELSON NERY seu principal defensor. 
Inspirada no direito alemão, pugna por um abandono da tradicional divisão em 
legitimação ordinária e extraordinária, pois que se trataria de conceituação 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
15 
 
insuficiente para explicar o fenômeno da legitimidade no processo coletivo. 
Defende, assim, que os entes legitimados à propositura da ação coletiva seriam 
dotados, pela lei, de uma legitimação autônoma para a condução do processo. 
Também RICARDO DE BARROS LEONEL defende tal concepção, partindo da 
premissa que os esquemas de raciocínio típico do processo individual não servem 
adequadamente ao processo coletivo. Faz, porém, uma ressalva: na seara dos 
direitos individuais homogêneos, que são apenas acidentalmente coletivos, a 
legitimação é extraordinária por substituição processual, dado que o Autor coletivo 
vai a juízo em nome próprio defender, realmente, direito alheio. 
 
02. CARACTERÍSTICAS DA LEGITIMAÇÃO COLETIVA ATIVA 
 
 A legitimação extraordinária por substituição processual possui as 
seguintes características: (i) autônoma, (ii) exclusiva, (iii) concorrente e (iv) 
disjuntiva. 
 É autônoma, pois o legitimado extraordinário está autorizado a 
conduzir o processo independentemente do titular do direito litigioso, ou seja, 
independente da autorização da coletividade titular do direito metaindividual. 
 É exclusiva, pois o só o legitimado extraordinário está autorizado a 
propor a ação coletiva na defesa dos direitos coletivos lato sensu. 
 É concorrente, pois há mais de um legitimado extraordinário à 
propositura da ação coletiva e qualquer um deles, sem ordem de preferência, pode 
propor a ação coletiva. 
 E, finalmente, é disjuntiva, pois, apesar de concorrente, cada um 
dos legitimados atua independentemente da vontade e da autorização dos demais 
co-legitimados. 
 
03. OS LEGITIMADOS COLETIVOS ATIVOS: 
 
 O rol dos legitimados coletivos ativos encontra-se, basicamente, 
nos artigos 5º da Lei de Ação Civil Pública e art. 82 do CDC. 
 
LACP, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 
I – o Ministério Público; 
II – a Defensoria Pública; 
III – a união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; 
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; 
V – a associação que, concomitantemente: 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; 
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16 
 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao 
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, 
estético, histórico, turístico e paisagístico. 
 
 
CDC, art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados 
concorrentemente: 
 
I – o Ministério Público; 
II – a união, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; 
III – as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que 
sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e 
direitos protegidos por este Código; 
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que 
incluam entre sues fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos 
por este Código, dispensada a autorização assemblear. 
 
3.1. A LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
 
 É da Constituição Federal que se extrai, primordialmente, a 
legitimidade do Ministério Público para a propositura de ações coletivas. 
 
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime 
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 
 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
(...) 
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio 
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; 
 
3.2.1. PRINCIPAIS POLÊMICAS 
 
 a) a legitimidade do Ministério Público para a proteção de 
direitos individuais homogêneos: 
 Esse é um dos temas mais polêmicos, atualmente, em termos de 
legitimidade do Ministério Público. Com efeito, se não se discute a legitimidade do 
M.P. para a defesa dos direitos essencialmente coletivos, quanto aos direitos 
individuais homogêneos (acidentalmente coletivos), a controvérsia é aceso. 
 Sobre o tema existem três posições doutrinárias: 
(i) Teoria restritiva, que entende que o M.P. não tem 
legitimidade para a defesa de direitos individuais 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
17 
 
homogêneos, ainda que presente o requisito do interesse 
social. 
(ii) Teoria mista: reconhece que o interesse social não se 
encontra presente em toda e qualquer demanda coletiva, 
mas, nos casos em que se faça presente, a legitimação do 
M.P. é inafastável. Ainda de acordo com essa visão, o 
interesse social se manifestaria em casos que envolvessem 
danos vultosos, que atingem número elevado de pessoas, 
ou em razão da dispersão dos eventuais titulares do direito 
individual. Ainda, o M.P. poderia atuar na defesa dos 
direitos individuais homogêneos indisponíveis. Trata-se da 
corrente majoritária. 
(iii) Teoria ampliativa, que considera que toda e qualquer ação 
coletiva, justamente por coletiva ser, tem presente o 
requisito do interesse social, que seria, portanto, in re ipsa. 
 
 De fato, tem prevalecido, tanto na doutrina, quanto na 
jurisprudência, a teoria mista, que aceita a legitimidade do Ministério Público para a 
defesa de direitos individuais homogêneos quando (i) indisponíveis ou (ii) presente 
o requisito do interesse social. Todavia, a jurisprudência dos tribunais superiores já 
fixou entendimento que o M.P. não tem legitimidadepara a tutela de direitos 
individuais homogêneos em matéria tributária e previdenciária. 
 
 b) legitimidade do Ministério Público para a impetração de 
Mandado de Segurança Coletivo: 
 Tanto a CF/88, quanto a lei 12.106/09, não fizeram menção ao 
Ministério Público como um dos legitimados ativos à impetração do mandado de 
segurança coletivo. Tal omissão, proposital ao que tudo indica, conduz a conclusão 
inicial de que o M.P. não teria legitimidade para a propositura do writ sob a forma 
coletiva. 
 Contudo, razões variadas podem colocar em cheque conclusão tal. 
 Ora, tem-se ou não um microssistema de processo coletivo, no 
qual as leis que o compõem comunicam-se entre si, em verdadeiro diálogo de 
fontes? Positiva a resposta, a omissão da lei 12.016/09 seria preenchida pelas 
demais leis, generosas que são quanto à legitimidade do Ministério Público. 
 Ainda: o mandado de segurança não passa de um procedimento 
especial que se notabiliza não propriamente pelo direito postulado em juízo, mas 
sim pela exigência da prova pré-constituída dos fatos alegados e, claro, pela maior 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
18 
 
concentração dos atos processuais; tanto assim o é que o mesmo direito que pode 
ser tutelado pela via mandamental, também poderá sê-lo via ação de cognitiva de 
procedimento ordinário. Nesses termos, no mínimo estranho que o Ministério 
Público tenha legitimidade para tutelar um direito se optar por ação cognitiva 
ordinária, e perca tal legitimação se escolher diferente procedimento. 
 Ademais, pelo princípio da atipicidade da tutela coletiva e da 
máxima eficácia na defesa dos direitos coletivos, qualquer ação é adequada à tutela 
desses mesmos direitos, conforme expressamente dispõe o artigo 83 do Código de 
Defesa do Consumidor. 
 Assim, em que pese a omissão legal, pensamos que não se pode 
negar ao Ministério Público a legitimidade para a impetração de mandado de 
segurança coletivo. 
 
3.2. A LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA 
 
 Até o ano de 2007 a Defensoria Pública não detinha legitimidade 
para propor ação coletiva, quadro que mudou com a edição da lei 11.448/2007, 
que inseriu a defensoria no rol dos legitimados extraordinários do artigo 5 a Lei de 
Ação Civil Pública. 
 A questão que mais se debate, atualmente, sobre a atuação da 
defensoria em sede coletiva é a seguinte: teria ela legitimidade ativa apenas nos 
caos em que a coletividade fosse composta de pessoas hipossuficientes 
economicamente? 
 A questão é bastante controvertida, mas a posição dominante 
defende que basta a existência de algumas pessoas hipossuficientes ou 
necessitados para que já se justifique a atuação da Defensoria Pública, não 
havendo necessidade de todos os integrantes sejam necessitados. DIDIER e 
ZANETI JR. (pág. 219) bem explicam a questão: 
 
Para que a Defensoria seja considerada como “legitimada adequada” para conduzir 
o processo coletivo, é preciso que seja demonstrado o nexo entre a demanda 
coletiva e o interesse da coletividade composta por pessoas “necessitadas”, 
conforme locução tradicional. Assim, por exemplo, não poderia a Defensoria Pública 
promover ação coletiva para a tutela de direitos de um grupo de consumidores de 
PlayStation III ou de Marcedes Benz. Não é necessário, porém, que a coletividade 
seja composta exclusivamente por pessoas necessitadas. Se fosse assim, 
praticamente estaria excluída a legitimação da Defensoria para a tutela de direitos 
difusos, que pertencem a uma coletividade de pessoas indeterminadas. 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
19 
 
3.3. A LEGITIMIDADE ATIVA DA UNIÃO, ESTADOS, D.F. e MUNICÍPIOS, 
AUTARQUIA, FUNDAÇÃO, EMPRESA PÚBLICA, SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA e 
ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta, 
dotados de personalidade jurídica, possuem legitimidade ativa para a propositura 
da ação coletiva. Precisam, porém, demonstrar a pertinência temática (requisito a 
seguir estudado) de sua atuação. 
 Lado outro, importante por em destaque que também órgãos da 
administração pública possuem legitimidade ativa, ainda que desprovidos de 
personalidade jurídica própria, conforme se extrai do artigo 82, III, do CDC. 
 
Art. 82. (...) 
III – as entidades e órgãos da administração direta ou indireta, ainda que sem 
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e 
direitos protegidos por este Código. 
 
 A disposição legal citada destina-se a propiciar que órgãos como o 
PROCON possam igualmente propor ações coletivas. 
 
3.4. ASSOCIAÇÃO E OUTRAS FORMAS DE ASSOCIATIVISMO 
 
 Primeiramente, cumpre destacar, com base na autorizada lição de 
DONIZETTI e CERQUERIA (pág. 147), que a LACP e o CDC previram a legitimação 
ativa de associações, fazendo-o, porém, em sentido lato, de modo a abranger 
qualquer outra forma de associativismo, tais como sindicatos, entidades de classe, 
cooperativas e partidos políticos. 
 A lei erige, porém, nesses casos, dois importantes requisitos: (i) a 
constituição da associação há pelo menos 1 (um) ano, requisito que poderá ser 
dispensado pelo juiz, em casos excepcionais, quando haja manifesto interesse 
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do 
bem jurídico protegido; (ii) inclua a associação, entre suas finalidades 
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, a ordem econômica, à 
livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e 
paisagístico. 
 
3.5. O REQUISITO DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
20 
 
 Como se viu, o processo coletivo brasileiro adotou um regime de 
legitimidade extraordinária em que os substitutos processuais são indicados prévia 
e abstratamente pela lei, daí a se dizer que se trata de uma legitimidade ope legis. 
 Também já se viu que o sistema brasileiro, nesse ponto, distancia-
se do norte-americano, no qual a legitimidade do autor coletivo, lá denominada 
“adequacy of representation” ou “representação adequada” é feita caso a caso. 
 Ocorre que a prática das ações coletivas no Brasil tem revelado 
que a jurisprudência e a doutrina não têm aplicado o sistema de legitimidade ativa 
ope legis de maneira, por assim dizer, pura e automática. Ao contrário, têm exigido 
que entre o substituto processual e matéria discutida em juízo haja um liame, uma 
ligação por afinidade, notadamente com as finalidades institucionais do Autor da 
ação coletiva. 
 E não só doutrina e jurisprudência colocam em relevo esse liame: 
a lei também o faz, bastando ver que a LACP, em seu artigo 5º., V, “b”, quando 
trata da legitimidade das associações, exige que esteja incluído, entre suas 
finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem 
econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, 
turístico e paisagístico. 
 A essa conexão entre as finalidades institucionais do legitimado 
extraordinário e a matéria discutida na ação coletiva dá-se o nome de pertinência 
temática. 
 Cumpre destacar que a pertinência temática e a representação 
adequada são conceitos que não se confundem, pois que este é mais abrangente 
que aquele. Em outras palavras, a falta de pertinência temática fará com que o 
autor coletivo não seja considerado um representante adequado, a comprometer a 
sua legitimidade ativa para atuar naquela específica ação coletiva. 
 Com razão, nesse ponto, FREDIE DIDIER e ZANETI JR. (pág. 213), 
quando pontuam que a legitimidade ativa, no processo coletivo, deve ser aferidaem dois momentos: primeiro, abstratamente, quando se deve verificar se o autor 
coletivo é um daqueles que a lei aponta como legitimado extraordinário; segundo, 
verificada essa legitimidade em tese, deverá o órgão julgador analisá-la em 
concreto, investigando a pertinência temática da atuação daquele legitimado em 
relação ao direito coletivo discutido em juízo. 
 Na prática, portanto, o que se percebe é que o processo coletivo 
brasileiro acaba por adotar um sistema híbrido de aferição de legitimidade, pois 
que, além da prévia autorização legal para a propositura da ação coletiva 
(legitimação ope legis), deve o autor demonstrar a pertinência temática da sua 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
21 
 
atuação, de modo a ser considerado, no caso concreto, um representante 
adequado. 
 
04. AS AÇÕES COLETIVAS PASSIVAS (defendant class action) – BREVE NOTÍCIA 
 
 Um dos mais interessantes temas da atualidade do processo 
coletivo diz respeito às denominadas ações coletivas passivas, ou seja, casos em 
que um autor deduz em juízo uma pretensão em desfavor de uma coletividade. 
 Com a costumeira clareza, DIDIER e ZANETI JR. (pág. 411) 
afirmam que 
 
Há ação coletiva passiva quando um agrupamento humano for colocado no pólo 
passivo de uma relação jurídica afirmada na petição inicial. Formula-se uma 
demanda contra uma coletividade. Os direitos afirmados pelo autor da demanda 
coletiva podem ser individuais ou coletivos (lato sensu) – nessa última hipótese, há 
uma ação duplamente coletiva, pois o conflito de interesses envolve comunidades 
distintas. 
 
 A premissa para bem se compreender a ação coletiva passiva 
passa pelo reconhecimento de que, assim como uma coletividade pode ser titular 
de um direito, pode também estar em situação de sujeição ao direito do autor, seja 
esse direito coletivo ou não. 
 A experiência forense brasileira já se deparou com interessantes 
casos de ações coletivas passivas (ver DIDIER e ZANETI JR, pág. 415 e seguintes): 
 
1) Litígios coletivos trabalhistas, em que em cada um dos pólos se 
encontra o sindicato (representante adequado) das respectivas 
categorias – empregados e empregadores. 
2) Ação proposta em face de categoria de servidores públicos, em 
casos de greve, com a pretensão de voltem ao trabalho. 
Noticia-se que a ação pioneira ocorreu em 2004, quando a 
categoria dos policiais federais entrou em greve. Naquela 
oportunidade, a União ingressou com ação em face da 
Federação nacional dos Policiais Federais e o Sindicato dos 
Policiais Federais do Distrito Federal, pleiteando o retorno das 
atividades; 
3) Exemplo citado em doutrina, o caso de uma empresa que 
ingressa com ação a fim de ver declarado que seu projeto é 
ambientalmente correto, ou ação proposta por empresa que se 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
22 
 
vale de contratos de adesão, a fim de ver declarada a 
legalidade das cláusulas desse mesmo contrato. 
 
 Percebe-se que o conceito de representatividade adequada nas 
ações coletivas passivas ganha importância extrema, na medida em que só é 
aceitável que demanda tal seja proposta em face daquele legitimado passivo que 
efetivamente seja o representante adequado daquela categoria. 
 A doutrina subdivide as ações coletivas passivas em originárias ou 
derivadas. Serão originárias quando surgem sem que lhes preceda uma demanda 
coletiva ativa; são derivadas quando surgem em decorrência de uma ação coletiva 
ativa, tal como ocorre com a ação rescisória de sentença proferida em ação coletiva 
ativa, ou cautelares incidentais a ações coletivas ativas. 
 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
23 
 
ROTEIRO 05 
A COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 
01. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
- Jurisdição e competência. 
- Critérios determinadores da competência: (i) matéria; (ii) função; (iii) pessoa; 
(iv) valor da causa; (v) território. 
- Regime processual da competência absoluta e relativa. 
 
02. A COMPETÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO 
 
 Em processo coletivo, as regras de competência são ditadas por 
dois principais dispositivos, quais sejam, o artigo 2º. da Lei de Ação Civil Pública, e 
o artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor: 
 
Lei 7.347/85 
Art. 2º. As ações previstas nesta lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o 
dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. 
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as 
ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o 
mesmo objeto. 
 
Código de Defesa do Consumidor 
Art. 93. Ressalvada a competência da justiça federal, é competente para a causa a 
justiça local: 
I – no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; 
II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito 
nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos 
de competência concorrente. 
 
2.1. A COMPETÊNCIA PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA TERRITORIAL 
ABSOLUTA 
 
 Como visto, a regra básica de competência para a Ação Civil 
Pública encontra-se no artigo 2º. da lei 7.347/85. 
 Apesar da lei falar em competência funcional, a doutrina mais 
recente tem firmado entendimento de que se trata de competência territorial 
absoluta, em moldes bem parecidos com a tradicional regra do artigo 95 do CPC. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
24 
 
Assim, o local onde o dano ocorreu ou deva ocorrer será competente, em caráter 
absoluto, para processar a julgar e Ação Civil Pública. 
 Pode ocorrer, porém, de o dano ocorrer em mais de uma 
localidade. Em casos tais, o foro de qualquer dessas localidades é competente para 
a ACP (um caso excepcional de competência territorial absoluta concorrente) e, 
sendo a demanda proposta no foro de qualquer deles, este terá sua prevenção 
firmada para quaisquer outras demandas que tenham a mesma causa de pedir ou 
pedido, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2º. da lei 7.347/85. 
 Cumpre destacar, porém, que essa regra de foros concorrentes 
quando o dano se estender por mais de uma localidade não deve ter aplicação nos 
casos em que a dimensão do dano chegue a ser regional, estadual ou nacional, pois 
que nessas hipóteses o CDC reserva regra específica, conforme a seguir se verá. 
 
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR NACIONAL 
 
 Como exposto, o artigo 93 do CDC indicou, para as hipóteses em 
que o dano seja nacional, a competência das capitais dos Estados ou o Distrito 
Federal para processar e julgar a ação civil pública. 
 De início, discutia-se em doutrina e jurisprudência se mencionada 
regra tratava de uma competência concorrente entre as capitais e o DF. O STJ, ao 
julgar o Conflito de Competência n. 26.842-DF, firmou entendimento nesse sentido, 
afirmando que em casos de dano de dimensão nacional são concorrentemente 
competentes os foros das capitais dos Estados e o do Distrito Federal. 
 
2.2. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR ESTADUAL 
 
 Em se tratando de dano de abrangência estadual, a despeito da 
omissão legislativa, será competente o foro da capital do respectivo Estado, em 
aplicação analógica do artigo 93 do CDC. 
 
2.3. COMPETÊNCIA QUANDO O DANO FOR DE ABRANGÊNCIA REGIONAL 
 
 A legislação não define o que seja dano regional. Aliás, não define 
o que seja dano nacional ou estadual, o que causa alta dose de insegurança quando 
se deve definir, no caso concreto, o juízo competente para uma ação coletiva. 
 Segundo as lições doutrinárias, pode-seconceber o dano regional 
sob dois aspectos: dano que se estenda por mais de um Estado da Federação (sem 
que se possa chegar a considerar esse dano nacional), ou dano que se estenda por 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
25 
 
mais de uma comarca do mesmo Estado, sem que chegue a configurar dano 
regional. 
 Nesses casos, por aplicação do artigo 93 do CDC, deve-se 
considerar como competente, quando o dano se estender por mais de um Estado, o 
da capital de qualquer deles; quando o dano for regional e se estender por mais de 
uma comarca, sem, contudo, chegar a ser um dano estadual, a regra do artigo 2º. 
da Lei de Ação Civil Pública deverá ter aplicação, ditando-se a competência em 
razão do local onde o dano ocorreu ou deva ocorrer. 
 
03. COMENTÁRIO AO ARTIGO 16 DA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA E ARTIGO 2º.-A 
DA LEI 9.494/97 
 
 Conforme estudado em capítulo anterior, a ação coletiva tem por 
finalidade (ou objetivo) a obtenção de economia processual, a garantia de acesso à 
justiça, a preservação da segurança jurídica, mediante a prevenção de prolação de 
decisões judiciais conflitantes etc, finalidades estas alcançáveis mediante a 
propositura de uma única ação coletiva, evitando a propositura de diversas ações 
substancialmente idênticas, colocando em risco todos aqueles objetivos antes 
mencionados. 
 Nada obstante, polêmicas alterações realizadas nas leis que regem 
o sistema processual coletivo brasileiro acabaram por colocar em cheque a própria 
efetividade da tutela coletiva. Trata-se das alterações veiculadas pelo artigo 16 da 
lei 7.347/85 e artigo 2º.- A da lei 9.494/97, assim redigidos: 
 
Lei 7.347/85 
Artigo 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes nos limites da 
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado 
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado 
pode intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. 
 
Lei 9.494/97 
Art. 2º.-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por 
entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, 
abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, 
domicílio no âmbito de competência territorial do órgão prolator. 
 
 A reação da doutrina a esses dispositivos, que limitam, 
territorialmente, os efeitos das decisões proferidas em ações coletivas, foi imediata 
e veemente. Os argumentos contrários são bem resumidos por DONIZETTI e 
CERQUERIA (pag. 210/211): primeiramente, as alterações promovidas seriam 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
26 
 
inconstitucionais por ofenderem (i) o princípio da razoabilidade, na medida em que 
imporiam uma restrição absurda e despropositada à eficácia das decisões das ações 
coletivas; (ii) o princípio da igualdade, pois acaba ensejando a propositura de 
diversas ações coletivas substancialmente idênticas, com a conseqüente prolação, 
ao menos em tese, de decisões conflitantes; (iii) o princípio do acesso à justiça, 
pois deixa à margem da proteção jurisdicional coletividades que estejam fora dos 
limites de competência territorial do órgão prolator da decisão. 
 Além disso, a doutrina também sustenta a ineficácia da alteração 
legislativa, visto que: (i) qualquer decisão judicial tem eficácia além dos limites 
territoriais de competência do órgão prolator: por exemplo, uma sentença de 
divórcio prolatada por juiz de São Paulo não pode valer apenas nesta cidade, 
permanecendo, no Rio de Janeiro, casadas aquelas partes. (exemplo citado por 
Nelson Nery); (ii) os direitos coletivos, por ontologicamente indivisíveis, não 
poderiam ser cindidos por um critério de competência territorial do órgão prolator 
da decisão judicial; (iii) finalmente, o artigo 93 do CDC define a competência para a 
ação coletiva de acordo com a extensão do dano. Assim, em caso de dano nacional, 
por exemplo, o juízo da capital do Estado ou do Distrito Federal terá, em tese, 
jurisdição nacional, e os efeitos de sua decisão atingiriam, naturalmente, todo o 
Brasil. 
 A posição atual dos tribunais, notadamente do STJ, é pela 
aplicação literal desses dispositivos. 
 
CONTRIBUIÇÃO DO AUTOR DA APOSTILA 
Os dispositivos analisados regulam, sobretudo, a eficácia subjetiva das decisões 
proferidas em ação coletiva. 
Em uma ação coletiva, o que o judiciário define é o acertamento de um direito 
(coletivo) envolvendo a coletividade autora da ação (ali representada pelo 
substituto processual) e o réu. Assim, o que os artigos fazem é limitar essa 
coletividade beneficiada, utilizando como critério dessa limitação a competência 
territorial do órgão prolator. O que se limita, assim, não é a coisa julgada, mas a 
eficácia subjetiva da decisão, que somente será extensível à coletividade abrangida 
pela competência territorial do órgão prolator do decisório. Assim, se o dano for 
nacional e a ação coletiva for corretamente proposta ou no DF ou perante a Capital 
de um dos Estados da Federação, tendo esse juízo competência nacional naquele 
caso, a extensão subjetiva dos efeitos do julgado assim também será. Melhor será 
desenvolvido esse assunto quando tratarmos da coisa julgada coletiva. 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
27 
 
ROTEIRO 06 
CONEXÃO, CONTINÊNCIA E LITISPENDÊNCIA 
NO PROCESSO COLETIVO 
 
 
01. NOÇÕES GERAIS 
 
- O sistema de conexão e continência no processo individual. 
- Prevenção: união das ações conexas perante o juízo prevento ou distribuição da 
ação, por dependência, à ação já proposta. 
- Litispendência: conceito. 
 
02. A CONEXÃO E A CONTINÊNCIA NO PROCESSO COLETIVO 
 
 Aplica-se o sistema base do processo individual, com as seguintes 
peculiaridades: (i) no processo coletivo a aferição da existência de afinidade entre 
processos deve ter em conta, principalmente, o objeto da demanda coletiva; (ii) a 
necessidade de se evitar, ao máximo, em ações coletivas, a prolação de decisões 
conflitantes; (iii) o substituto processual não influencia na determinação da 
existência de conexão, continência ou litispendência, visto que a parte material na 
demanda é a coletividade substituída. 
 
2.1. A POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA POR 
CONEXÃO 
 
 Umas das mais clássicas regras do processo individual com relação 
à competência absoluta é que esta, por ser improrrogável, não comporta 
modificação em razão da conexão e continência. 
 Não é assim, porém, no processo coletivo, pois que a despeito de 
ser absoluta a competência territorial, a sua prorrogação é possível em virtude de 
conexão e continência. 
 Duas particulares disposições legais autorizam essa conclusão: o 
§3° do artigo 5° da Lei de Ação Popular e o parágrafo único do artigo 2° da Lei de 
Ação Civil Pública. Confira-se: 
 
LEI DE AÇÃO POPULAR 
Art. 5°. (...) 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
28 
 
§3°. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações que 
forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos 
fundamentos. 
 
LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
 
Art. 2°. (...) 
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as 
ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o 
mesmo objeto. 
 
 Um exemplo certamente esclarecerá a aplicação dos dispositivos 
citados. Imagine-se um dano ambiental que tenha atingido área de 04 (quatro) 
comarcas de determinado estado. Tal dano, que se pode considerar regional, 
poderá ser objeto de ação coletiva a ser propostaem qualquer uma das 04 (quatro) 
comarcas, por força da regra geral de competência (territorial absoluta) do local do 
dano, ditada pelo artigo 2° da Lei de Ação Civil Pública. Em palavras outras, o juízo 
de qualquer das 04 (quatro) comarcas tem competência concorrente para processar 
e julgar a ação coletiva. Proposta que seja, a ação, perante o juízo da comarca A, 
torna-se ele prevento para qualquer futura demanda que tenha por objeto aquele 
mesmo dano ambiental. 
 Não se trata, ressalte-se, da constituição de um juízo universal, à 
semelhança do juízo falimentar, como chegou a decidir o Superior Tribunal de 
Justiça no Conflito de Competência 19686-DF. Trata-se, de fato, apenas e tão 
somente de prevenção, pois que apenas serão “atraídas” para o juízo prevento as 
ações coletivas conexas com aquela primeiramente deduzida. Caso fosse, 
realmente, um juízo universal, essa “atração” seria exercida sobre toda e qualquer 
demanda, independentemente de vínculo de afinidade ou risco de prolação de 
decisões conflitantes. 
 Outra observação importante: enquanto a prevenção, no processo 
individual, é configurada ou pelo primeiro despacho (mesma competência territorial 
– art. 106 do CPC), ou pela primeira citação válida (competência territorial distinta 
– artigo 219 do CPC), no processo coletivo o que configura a prevenção é a 
propositura da ação coletiva, conforme artigo 2°, parágrafo único da Lei de Ação 
Civil Pública. 
 Confira-se o quadro-resumo proposto por DONIZETTI e 
CERQUERIA (pág. 232): 
 
 
 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
29 
 
 PROCESSO INDIVIDUAL PROCESSO COLETIVO 
COMPETÊNCIA 
TERRITORIAL 
Relativa, em regra. Absoluta. 
CONEXÃO e 
CONTINÊNCIA 
Não provoca a modificação 
em caso de competência 
absoluta 
Provoca a modificação da 
competência, em que pese 
absoluta. 
PREVENÇÃO Determinado pelo 1° 
despacho (art. 106 do CPC) 
ou pela 1ª citação válida 
(art. 219 do CPC) 
Determinada pela propositura 
da ação. 
 
2.2. A CONEXÃO ENTRE AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL 
 
 A possível relação existente entre ação coletiva e ação individual 
encontra-se disciplinada no artigo 104 do Código de Defesa do Consumidor: 
 
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do art. 
81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa 
julgada erga omnes ou ultra parts a que aludem os incisos I e III do artigo anterior 
não beneficiarão os autores das ações individuais, se ao for requerida a sua 
suspensão no prazo de 30 dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da 
ação coletiva. 
 
 Fica claro, portanto, que a propositura da ação coletiva não inibe a 
ação individual. Todavia, não há como negar que entre a ação coletiva e a ação 
individual, quando baseadas no mesmo fato (um acidente ambiental ou uma lesão 
em relação de consumo, por exemplo), serão conexas, exatamente porque revelam 
identidade de causa de pedir. 
 Ocorre que, a despeito de haver a conexão, a sua principal 
conseqüência, que é a reunião das ações perante o juízo prevento não ocorrerá, 
porque o legislador adotou solução diferente no âmbito coletivo: a suspensão das 
ações individuais a requerimento do autor. 
 É de se destacar recente entendimento do STJ, trazido no 
Informativo 413, em que se determinou a suspensão das ações individuais, quando 
proposta ação coletiva versando sobre o mesmo direito coletivo lato sensu. Trata-
se, assim, de uma inovadora suspensão do processo por ordem judicial e, a 
despeito de não expressamente reconhecido nesse precedente, a regra do artigo 
265, IV, do CPC, que versa sobre a suspensão do processo por prejudicialidade 
externa autoriza que se chegue a solução tal. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
30 
 
 
2.3. A LITISPENDÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 Não há regra específica para a litispendência no microssistema do 
processo coletivo. Aplica-se, assim, a princípio, a mesma regulação prevista para o 
processo individual. 
 Algumas questões, entretanto, devem se ponderadas quando se 
fala em litispendência entre ações coletivas. 
 Primeiramente, não se deve exigir identidade de substitutos 
processuais, mas sim identidade da coletividade titular daquele direito e 
representada em juízo pelo legitimado extraordinário. 
 O procedimento adotado para as ações coletivas também é 
indiferente. 
 Assim, é sobretudo à partir da análise da causa de pedir e do 
pedido das ações coletivas que se poderá concluir pela existência ou não de 
litispendência. 
 Há, ainda, que se levar em conta a confusa regra do artigo 16 da 
Lei de Ação Civil Pública, que em muitos casos, por limitar a eficácia subjetiva da 
decisão à competência territorial do órgão prolator, induzirá, ou mesmo obrigará a 
propositura de tantas ações coletivas idênticas quantas sejam necessárias à tutela 
das coletividades excluídas pela limitação subjetiva dos efeitos da decisão. 
 
A visão do autor da apostila não é essa. A despeito dos entendimentos de que o 
artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública seria inconstitucional, a solução que propomos 
para o tema não passa por essa seara. A nosso ver, o artigo 16 da LACP deve ser 
interpretado em consonância com o artigo 93 do CDC, de modo que, tratando-se de 
dano estadual, regional ou nacional, caso a ação coletiva seja corretamente 
proposta perante uma das capitais dos estados ou no Distrito Federal, o juízo 
perante o qual se desenvolver a demanda terá competência para a toda a extensão 
do dano, ou seja, nacional, estadual ou regionalmente. Assim, esse será o limite de 
sua competência, permitindo-se a extensão subjetiva dos efeitos da decisão nessa 
mesma proporção. 
Imagine-se, por exemplo, o caso de um concurso da aeronáutica que insira em seu 
edital exigências discriminatórias e desproporcionais quanto à idade e altura dos 
candidatos. É proposta, pelo MPF, ação civil pública perante a Seção Judiciária de 
Goiânia, com pedido de liminar para suspender as cláusulas editalícias impugnadas. 
Concedida a liminar, pergunta-se: terá ela eficácia em todo o Brasil ou apenas no 
estado de Goiás? A nosso ver, sendo esse um dano nacional, o juízo (no caso 
federal) de qualquer das capitais dos estados é competente para processar e julgar 
a causa e, sendo proposta a demanda coletiva terá o juízo competência territorial 
em toda a extensão do dano, de modo que sua liminar terá eficácia em todo o 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
31 
 
Brasil, dado que e é justamente esse o limite de sua competência territorial naquele 
caso concreto. 
A se aplicar o artigo 16 da Lei de Ação Civil Pública sem se observar essa critério, 
ou seja, ignorando a regra de competência do artigo 93 do CDC (como muitos 
fazem, inclusive os tribunais), a decisão liminar, voltando ao exemplo, terá eficácia 
apenas no Estado de Goiás, forçando a repetição de ações coletivas idênticas em 
outros estados da federação, o que é desaconselhável e nada razoável. 
 
 Em tempo: discute-se em doutrina se a litispendência deveria 
importar na extinção ação da ação coletiva que possua esse “vício” ou na reunião 
com a anteriormente ajuizada. Pela reunião, DIDIER e ZANETI; pela extinção, 
DONIZETTI e CERQUEIRA. Adotamos a segunda posição. 
 
 
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32 
 
ROTEIRO 07 
LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE 
 TERCEIROS NO PROCESSO COLETIVO 
 
 
01. LITISCONSÓRCIO: NOÇÕES GERAIS 
 
 Pode-se conceituar o litisconsórcio como a existência de uma 
pluralidade de partes, tanto no pólo ativo, comono pólo passivo, litigando em um 
mesmo processo. Trata-se de instituto processual voltado à proteção da 
uniformidade das decisões judiciais, bem como à celeridade e economia processual. 
 Classifica-se da forma seguinte: 
(i) Quanto ao pólo: ativo, passivo ou misto (quando se forma 
em ambos os pólos da relação jurídica processual); 
(ii) Quanto ao momento de formação: originário, quando se 
forma desde o início da demanda, e ulterior, quando se 
forma ao longo desta; 
(iii) Quanto à obrigatoriedade de sua formação: necessário, 
quando a lei ou a relação jurídica, por indivisível, 
impuserem a sua formação; ou facultativo, nos demais 
casos; 
(iv) Quanto ao modo de julgar: simples, quando o juiz puder 
decidir a lide de maneira distinta para cada um dos 
litisconsortes, ou unitário, quando o magistrado tiver que 
decidir a lide de maneira uniforme para todos os 
litisconsortes. 
 
1.1. O LITISCONSÓRCIO NO PROCESSO COLETIVO 
 
 Dada a característica da legitimidade no processo coletivo, que é 
extraordinária (por substituição processual), concorrente e disjuntiva, torna-se 
possível a coligação de vários colegitimados para a propositura da ação coletiva, ou 
mesmo sua coligação no pólo passivo. 
 Diferencia-se, porém, do litisconsórcio no plano individual em um 
ponto relevante: enquanto no processo individual os litisconsortes são partes em 
sentido material, defendendo em juízo cada um o seu direito, no âmbito coletivo a 
formação do litisconsórcio terá conotação e estrutura puramente processual, pois 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
33 
 
que a coletividade substituída por cada um dos colegitimados é exatamente a 
mesma. 
 Trata-se de um litisconsórcio sempre facultativo, exatamente 
porque a legitimidade é disjuntiva. 
 Pode ser originário, quando se forma desde o início da demanda 
coletiva, ou ulterior, quando se forma após a propositura da ação. É bem verdade 
que existe em doutrina certa divisão quanto à intervenção do colegitimado em 
momento posterior à propositura da ação coletiva. Para alguns, trata-se de 
litisconsórcio ulterior, enquanto para outros, assistência litisconsorcial. Sobre essa 
controvérsia, ver com mais detalhes o item 2.2.1 infra, dedicado ao estudo da 
assistência nas ações coletivas. 
 Prosseguindo, ainda segundo a doutrina trata-se de litisconsórcio 
unitário, pois que a decisão a ser proferida deverá ser exatamente a mesma para 
todos os litisconsortes. DONIZETTI e CERQUEIRA ponderam, não sem razão, que 
justamente pelo sistema de substituição processual, típico do processo coletivo, a 
decisão da ação coletiva não é prolatada em razão da parte processual (substituto), 
mas em razão da coletividade substituída. Assim, ponderam que perderia o sentido 
classificar o litisconsórcio em simples ou unitário, até porque no plano do direito 
material existe um único titular. Concordamos com a perspicaz ponderação, mas 
entendemos que a classificação é útil sobretudo sob o ponto de vista didático, na 
medida em que reafirma a impossibilidade de serem adotadas decisões divergentes 
para cada um dos legitimados extraordinários. 
 
1.2. O LITISCONSÓRCIO ENTRE RAMOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU DA 
DEFENSORIA PÚBLICA 
 
 Dispõe o art. 5°, §5°, da Lei de Ação Civil Pública: 
 
§5°. Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, 
do Distrito Federal e dos Estados, na defesa dos interesses e direitos de que cuida 
esta lei. 
 
 Sobre a regra, uma primeira observação importante: entende a 
doutrina que se deve aplicar a mesma disposição, por analogia, aos ramos da 
Defensoria Pública. 
 A regra legal, nesses termos, é clara, sendo cogitável, por 
exemplo, a propositura de uma ação civil pública pelo Ministério Público Estadual 
em litisconsórcio com o Ministério Público Federal. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
34 
 
 A grande e tormentosa questão que se coloca nesses casos é: 
perante qual justiça deverá tramitar essa ação: justiça estadual ou justiça federal? 
Outra: podem os ramos do Ministério Público demandar perante qualquer justiça? 
 DIDIER e ZANETI JR. (pág. 342) ponderam que se trata de 
questão de difícil resolução, notadamente porque a legislação vigente não fornece 
respostas. Apontam, assim, a existência de duas correntes doutrinárias que 
enfrentaram essa polêmica: uma que defende que cada Ministério Público deve ter 
sua atuação limitada à “sua justiça”; a segunda, apontada como majoritária, 
entende que o Ministério Público poderia atuar perante qualquer justiça, desde que 
a matéria discutida em juízo seja de sua atribuição. 
 De fato, parece ter razão a segunda corrente doutrinária, tendo 
em conta os seguintes fundamentos: (i) a delimitação das funções de cada 
Ministério Público não está constitucionalmente adstrita a essa ou aquela justiça; 
(ii) não pode equiparar o Ministério Público Federal à União, de modo que a sua 
simples presença na lide imponha a competência de justiça federal; (iii) a expressa 
autorização, contida na lei, para a formação do litisconsórcio entre Ministérios 
Públicos já revela a possibilidade de sua atuação perante uma justiça que não lhe 
seria correspondente; (iv) o Ministério Público Estadual não poderia ficar submetido 
à vontade do Ministério Público Federal. Imagine-se um dano causado por um ente 
público federal: se o Ministério Público Federal não propusesse a demanda coletiva, 
o Ministério Público Estadual não poderia fazê-lo, por não poder pleitear perante a 
justiça federal. 
 É bem verdade que há um precedente do STJ (REsp 440-002-SE, 
de 2004, Relatoria Ministro Teori Albino Zavascky), em que se decidiu que “para 
fixar a competência da justiça federal, basta que a ação civil pública seja proposta 
pelo Ministério Público Federal”. 
 Pelos fundamentos antes expostos, não é essa a posição que 
adotamos no presente curso. 
 
1.3. POSSIBILIDADE ALTERAÇÃO DOS ELEMENTOS OBJETIVAS DA DEMANDA 
FORMULADA PELO LITISCONSORTE ATIVO ULTERIOR 
 
 Conforme se afirmou em passagem anterior, é admissível que um 
colegitimado extraordinário ingresse na ação coletiva em momento posterior à sua 
propositura, o que configura a formação de um litisconsórcio ativo, facultativo, 
ulterior e unitário. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
35 
 
 Debate-se em doutrina se, em casos tais, seria dado a esse 
litisconsorte tardio formular novos pedidos na ação coletiva, ou alterar-lhe de 
algum modo a causa de pedir. 
 Prevalece em doutrina a opinião de que tais alterações seria 
possíveis. 
 Doutrinadores muitas vezes citados em nosso curso, DONIZETTI e 
CERQUEIRA (pag. 263) entende que se deve admitir que o litisconsorte ulterior 
possa alterar a causa de pedir e o pedido, desde que isso não provoque prejuízo 
injustificado para o réu ou viole a garantia do contraditório. DIDIER e ZANETI Jr. 
parecem trilhar caminho semelhante. 
 De nossa parte, pensamos que a possibilidade de alteração do 
pedido ou da causa de pedir, fora das regras limitadoras já previstas no CPC (art. 
264), colocam o réu da ação coletiva em situação de insegurança e total 
instabilidade processual, com óbvio comprometimento do contraditório e da ampla 
defesa. 
 Assim, posicionamo-nos contra essa possibilidade de ampliação, 
em que pese assumindo com isso posicionamento claramente minoritário. 
 
02. AS INTERVENÇÕES DE TERCEIRO NO PROCESSO COLETIVO 
 
2.1. AS INTERVENÇÕES NO PROCESSO INDIVIDUAL – BREVE NOTA 
 
 O processo individual prevê as seguintes modalidades de 
intervenção de terceiros: assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciaçãoda lide e chamamento ao processo. 
 Em brevíssima síntese, a assistência tem lugar quando o terceiro 
(denominado assistente), que tem interesse jurídico em que algum dos litigantes 
seja vencedor de uma demanda, nela intervém justamente para auxiliar essa parte 
(assistido) a atingir tal objetivo, qual seja, sagrar-se vencedor naquela demanda. 
Classifica-se em assistência simples e assistência litisconsorcial, a depender se 
assistente tem ou não relação jurídica com o adversário do assistido. 
 Na oposição, o terceiro ingressa na demanda porque pretende para 
si, no todo ou em parte, o bem ou direito litigado. 
 Na nomeação à autoria tem-se uma verdadeira tentativa de 
correção do vício da ilegitimidade passiva, visto que aquele que foi demandado em 
nome próprio por direito alheiro pode, no prazo da resposta, apontar o verdadeiro 
legitimado. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
36 
 
 A denunciação da lide, a seu turno, consiste numa verdadeira ação 
de regresso que uma das partes exerce contra o terceiro para, caso seja 
sucumbente na demanda, ver seu direito de regresso ser reconhecido pelo juiz na 
mesma sentença, sendo assim indenizado dos prejuízos que a sucumbência no 
processo principal vier a lhe acarretar. 
 Finamente, o chamamento ao processo é a intervenção típica das 
obrigações solidárias, em que um réu chama ao processo aqueles que devem tanto 
ou mais do que ele. 
 Vejamos, agora, quais dentre estas intervenções podem ocorrer no 
processo coletivo e suas principais características e regras. 
 
2.2. A ASSISTÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS 
 
 No processo coletivo é plenamente possível a intervenção de 
terceiros na modalidade assistência, sendo mesmo, na prática, a mais usual. 
Vejamos, pois, como as diversas hipóteses em que a assistência poderá ocorrer no 
processo coletivo. 
 
2.2.1. INTERVENÇÃO DE COLEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM AÇÃO COLETIVA: 
ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL OU LITISCONSÓRCIO ATIVO ULTERIOR? 
 
 Como já destacado em passagem anterior, quando tratamos do 
litisconsórcio, não se discute que é dado a qualquer colegitimado à propositura da 
ação coletiva intervir, no curso do processo, em uma demanda já proposta por 
outro colegitimado. A questão que divide a doutrina é: trata-se, tal intervenção, de 
uma assistência litisconsorcial ou de um litisconsórcio facultativo ulterior? 
 Para DIDIER e ZANETI JR (pág. 252), considerando que o 
colegitimado teria legitimidade para a própria propositura da ação coletiva, sua 
intervenção neste em momento posterior configura assistência litisconsorcial, 
passando o colegitimado a figurar como verdadeiro litisconsorte unitário do autor, 
recebendo o processo no estado em que se encontra, mas exercendo seus exatos 
mesmos poderes. Perceba-se que os afamados autores qualificam essa intervenção 
como assistência litisconsorcial e a equiparam ao litisconsórcio ulterior. 
 DONIZETTI e CERQUEIRA (pág. 266), por sua vez, consideram que 
a assistência litisconsorcial e o litisconsórcio facultativo ulterior são fenômenos 
distintos, pelo que não afiguraria correto equiparar e igualar tais fenômenos. 
Defendem que o assistente litisconsorcial auxilia o assistido pois defende direito 
que também é seu e que será influenciado pela sentença. Já o litisconsorte integra 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
37 
 
a mesma situação jurídica sustentada por uma das partes no processo. Concluem, 
assim, que o colegitimado que ingressa no feito após a sua instauração, justamente 
por defender a mesma situação jurídica do autor da demanda, o faz como autêntico 
litisconsorte ativo ulterior. 
 A nosso ver, a diferença prática entre qualificar o ingresso de um 
colegitimado no curso na ação coletiva em litisconsórcio facultativo ulterior ou 
assistência litisconsorcial é quase nenhuma, pois que o legitimado extraordinário 
que ingressar terá basicamente os mesmos poderes, quer se trate de litisconsorte, 
quer se trate de assistente litisconsorcial. Consideramos, contudo, que a posição 
adotada por DONIZETTI e CERQUEIRA é mais adequada, devendo-se, assim, 
qualificar a intervenção do colegitimado no curso da ação coletiva como 
litisconsórcio ativo ulterior. 
 
2.2.2. INTERVENÇÃO DO INDIVÍDUO EM AÇÃO COLETIVA: VEDAÇÃO GERAL E 
POSSÍVEIS EXCEÇÕES 
 
 Em regra, o indivíduo não pode intervir em ação coletiva, quer na 
qualidade de assistente, quer na qualidade litisconsorte. E assim o é porque, em 
primeiro plano, não tem legitimidade para tutelar em nome próprio direitos 
coletivos, o que tecnicamente o impede de ingressar como litisconsorte ou 
assistente; em segundo plano, a se permitir referida intervenção, ainda que como 
assistente, comprometido estaria um dos principais objetivos da tutela coletiva, 
justamente a celeridade processual, vez que, em tese, dezenas, centenas ou 
milhares de indivíduos poderiam requerer seu ingresso na ação coletiva, 
transformando o processo em verdadeiro caos. 
 Existem, porém, duas importantes exceções. 
 A primeira delas é a intervenção prevista no artigo 94 do Código 
de Defesa do Consumidor, que dispõe: 
 
Art. 94. Proposta a ação, será publicado no órgão oficial, a fim de que os 
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de 
ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de 
defesa do consumidor. 
 
 A regra do dispositivo transcrito, é preciso destacar, não tem 
cabimento em qualquer ação coletiva, mas apenas naquelas em que o legitimado 
extraordinário defenda direitos individuais homogêneos. Ou seja, não á cabível a 
intervenção do indivíduo em ações coletivas para a tutela de direitos difusos ou 
coletivos stricto sensu. 
Processo Coletivo – Prof. Lúcio Flávio Siqueira de Paiva 
 
38 
 
 Por outro lado, nada obstante tenha a lei se utilizado da expressão 
litisconsortes, trata-se, conforme aponta a doutrina, de assistência litisconsorcial. 
Não pode o indivíduo ser considerado litisconsorte ulterior pois não detém ele 
legitimidade para tutelar coletivamente direitos individuais homogêneos; 
entretanto, o direito individual coletivamente tutelado na ação é também dele, pelo 
que a sua intervenção se dá na condição de assistente litisconsorcial. 
 A segunda hipótese de intervenção do indivíduo como assistente 
em ação coletiva é bastante peculiar e liga-se à ação popular. Como se sabe, a lei 
defere ao cidadão-eleitor a legitimidade para, em nome próprio, tutelar direito 
verdadeiramente difuso, consistente na moralidade administrativa amplamente 
considerada. Nesses casos, não há dúvida, o cidadão-eleitor atua, em nome 
próprio, na defesa de direito alheio, em verdadeira legitimidade extraordinária. 
 Por outro lado, é cogitável que qualquer outro legitimado 
extraordinário busque, mediante ação coletiva que não a ação popular, a tutela do 
exato mesmo direito difuso, como a moralidade administrativa antes citada. 
 Nesses casos, defende a doutrina, e com razão, que justamente 
por ser o cidadão-eleitor colegitimado à tutela do mesmo direito via ação popular, 
possa ele intervir na ação coletiva na qualidade de assistente litisconsorcial. 
 
2.2.3. A POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO DO LEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO EM 
AÇÃO INIDIVIDUAL 
 
 Conquanto rara, não se pode afastar a hipótese em que um 
legitimado coletivo tenha interesse em intervir numa ação individual cuja questão 
debatida, normalmente ligada a direito coletivo stricto sensu ou individual 
homogêneo, e a eventual decisão, venha a ter influência em uma ação coletiva a 
ser proposta ou já efetivamente deduzida. 
 Em nossa experiência profissional vivenciamos um caso em

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