Buscar

Artigo 1 Processo Coletivo - REVISÃO FORMAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO 
CENTRO CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
 
 
 
 
JOÃO PEDRO ALCANTARA DA SILVA; PEDRO LUIZ TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
PROCESSO COLETIVO: MODELO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2015 
 
 
 
 
 
 
JOÃO PEDRO ALCANTARA DA SILVA; PEDRO LUIZ TEIXEIRA 
 
 
 
 
 
Processo Coletivo: Modelo Brasileiro 
 
 
 
Trabalho apresentado ao 
Departamento de Direito da 
Universidade Federal do Espírito 
Santo, como requisito parcial para 
aprovação na Disciplina de 
Processual Civil VI. 
Orientador: Professor Pós-Doutor 
Hermes Zanetti Júnior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2015 
 
 
 
 
RESUMO 
A tutela dos direitos coletivos pelo ordenamento jurídico brasileiro reúne características o que 
diferencia dos modelos de tutelas destes direitos em outros países. As ações coletivas 
revelam-se como um meio célere e eficaz de acesso à justiça. O interesse existente nas ações 
coletivas ultrapassa a barreira do proveito individual para alcançar o anseio das comunidades 
e da sociedade. Este artigo pretende analisar características deste modelo de tutela. 
 
PALAVRAS-CHAVE 
Ação coletiva. Direitos coletivos. class actions. Padronização decisória. Resolução coletiva 
de conflitos. 
 
 
ABSTRACT 
The guardianship of the collective rights by the Brazilian legal order combines unique 
characteristics which differentiates it from other guardianships of these same rights in other 
countries. The collective actions are revealed as a fast and effective means of access to justice. 
The interest in the class actions goes beyond the barrier of the individual advantage to achieve 
the communities and society wishes. This article analyses features of this tutelage model. 
 KEYWORDS 
Collective suits. Collective rights. Class actions. Standardization of decisions. Collective 
conflict resolution. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. Introdução - 2. Características processo coletivo - 2.1. Interesse público primário - 2.2. 
Legitimação distinta - 2.3. Direitos Coletivos Lato Sensu 2.4. Coisa julgada - 2.4.1. Limites 
subjetivos - 2.4.2. Coisa julgada nas ações que tratam de direitos difusos - 2.4.3. Coisa 
julgada nas ações que tratam de direitos coletivos strictu sensu - 2.4.4. Coisa julgada nas 
ações que tratam de direitos individuais homogêneos - 2.4.5. Transporte in utilibus do 
conteúdo da sentença - 2.5. Maior Amplitude de Cognição - 3. As diferenças entre a tutela dos 
direitos coletivos no Brasil e nos modelos das Class Actions estadunidenses e Verbandsklagen 
(Ações Associativas) - 3.1. Tutela de direitos coletivos nas Class Actions estadunidenses e o 
modelo brasileiro - 3.1.1 Tutelas atípicas e não taxativas - 3.1.2. Legitimidade ope iudicis - 
3.1.3. Coisa julgada pro et contra - 3.1.4. Adequada notificação - 3.1.5. - Amplo controle do 
juiz na condução do processo - 3.2. Verbandsklagen (ações associativas alemãs) - 3.2.1. 
Legitimação ativa exclusiva - 3.2.2. Distanciamento da tutela dos direitos individuais - 3.2.3. 
Formas de tutela - 3.2.4. Tutela inibitória ou injuncional - 4. Incidente de resolução de 
demandas repetitivas - 5. Incidente de conversão da ação individual em coletiva - 6. O 
procedimento trifásico dos direitos individuais homogêneos - 7. Conclusão - 8. Referências 
bibliográficas 
 
 
4 
 
1. Introdução 
Estamos entrando em um novo tempo na tutela dos direitos no Brasil, transitando da 
perspectiva individual do processo para uma visão cada vez mais coletiva, sendo, esta visão, 
inclusive, abordada pelo Novo Código de Processo Civil, um diploma historicamente 
marcado pelo seu cariz individualista. Considerando a relevância e atualidade do tema em 
questão, o presente trabalho acadêmico tem por finalidade examinar a tutela dos direitos 
coletivos pelas ações coletivas no ordenamento jurídico brasileiro, apresentando suas 
principais características e realizando uma breve incursão sobre as class actions 
estadunidenses e sobre as ações associativas alemãs (verbandsklagen). Também intenta 
abordar dois institutos do Novo Código de Processo Civil que tratam da solução coletiva de 
litígios, o incidente de resolução de demandas repetitivas e o incidente de conversão da ação 
individual em coletiva (vetado). 
 
2. Características processo coletivo 
Segundo Didier e Zanetti, o processo coletivo brasileiro é marcado pelas as seguintes 
características, são elas: “o interesse público primário; a legitimação para agir; a afirmação de 
uma situação jurídica coletiva: direito coletivo lato sensu, no pólo ativo (ação coletiva ativa), 
ou dever ou estado de sujeição coletivo lato sensu, no pólo passivo (ação coletiva passiva); 
extensão subjetiva da coisa julgada”
 1
, e maior amplitude de cognição
2
. Iremos examiná-las 
brevemente: 
2.1. Interesse público primário 
O interesse público é uma das bases constitucionais da atuação de todo aparato estatal, trata-se 
de um conceito de arriscada definição, cuja simplória conceituação em “sobreposição do 
interesse da coletividade ao interesse individual” se mostra assaz inseguro, sujeito às mais 
variáveis considerações, o administrativista José dos Santos Carvalho Filho aponta o seguinte 
norte para determinação do objeto: “A despeito de não ser um conceito exato, aspecto que 
leva a doutrina em geral a configurá-lo como conceito jurídico indeterminado, a verdade é 
que, dentro da análise específica das situações administrativas, é possível ao intérprete, à luz 
 
1
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. vol. 4. p.44. 
2
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. vol. 4. p.392. 
 
 
5 
 
de todos os elementos do fato, identificar o que é e o que não é interesse público. Ou seja: é 
possível encontrar as balizas do que seja interesse público dentro de suas zonas de certeza 
negativa e de certeza positiva. Portanto, cuida-se de conceito determinável”
3
. 
A definição de Carvalho Filho nos ajuda a compreender melhor este amplíssimo interesse 
público, o qual pode ser mais bem caracterizado quando lançamos mão da distinção entre o 
que seria o interesse público primário que deriva do interesse coletivo/social (finalidade) e 
aquele interesse público secundário (instrumental). 
Seguindo o raciocínio, o interesse coletivo primário é aquele caracterizado como o próprio 
interesse do coletivo, social, é o interesse que se abstrai dos anseios da coletividade, “Num 
primeiro significado temos o interesse público propriamente dito, ou interesse público 
primário, que é normalmente definido como sendo o interesse geral da sociedade, o bem 
comum da coletividade. Nessa acepção, o interesse público é sinônimo de interesse geral e de 
interesse social”
4
. 
Do outro lado temos o interesse da Administração Pública, o interesse público secundário, 
conquanto seja um instrumento da ultima ratio da existência da própria Administração 
Pública, com ela não se confunde, sendo estes interesses restritos “[...] à esfera interna do ente 
estatal” 
5
, agindo a Administração Pública como um sujeito qualquer de direitos podendo 
perquirir em juízo os interesses e direitos que o ordenamento lhe garante. 
Zanetti e Didier ressaltam que o vasto campo abrangido pelo que seria interesse público 
primário, ou interesse social, abarca “[...] os direitos coletivos latu sensu e também os direitos 
individuais indisponíveis caracterizados como interesses de ordem social e pública pela 
legislação ou pela Constituição”
6
. Nesse sentido, Teori Zavascki destaca que o interesse 
público primário é umas das características que anima o processo coletivo, por se cuidar 
efetivamente um direito: “[...] tratando-se de interesses tuteladosjuridicamente, aptos 
inclusive a serem defendidos em juízo, eles, na verdade, se revestem da condição de genuínos 
 
3
 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 
2011. p. 55. 
4
 ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRANDE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos 
esquematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013. p. 38. 
5
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 45. 
6
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v.4. p. 38. 
 
 
6 
 
direitos”
7
, deflui-se do pensamento do autor aí reside a natureza dos interesses sociais que, 
“[...] constituem categoria jurídica suscetível de defesa jurisdicional própria [...]”
8
. 
2.2. Legitimação distinta 
A legitimação é o atributo conferido a determinado sujeito para que pleiteie um direito em 
juízo (legitimação ad causam), é a legitimação para agir. Cássio Scarpinella Bueno nos 
adverte que “[...] a noção de legitimidade para a causa deve ser extraída do plano material, 
transformando a titularidade da relação de direito material em realidade processual e os 
envolvidos em uma dada relação jurídica material em parte, entendida, pela doutrina 
dominante, como aquela que pede ou em face de quem se pede algo em juízo”
9
. Desta feita, 
em geral temos que a parte detentora do direito subjetivo é a mesma que o demanda em juízo, 
este é o paradigma geral da legitimação ad causam ordinária disciplinada pelo Código de 
Processo Civil
10
, o qual dispõe que: “Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome 
próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico”
11
. 
Em grande parte das ocasiões temos a coincidência de identidade entre o detentor do direito 
material com a da parte que o pleiteia em juízo, contudo, o próprio ordenamento, autoriza que 
o direito material seja perquirido por um sujeito que não é seu detentor, trata-se da 
legitimação extraordinária (ou substituição processual). 
No que tange à legitimação para processo coletivo, Didier e Zanetti entendem que esta é “[...] 
extraordinária: autoriza-se um ente a defender, em juízo, situação jurídica de que é titular um 
grupo ou uma coletividade. Não há coincidência entre o legitimado e o titular da situação 
jurídica discutida. Quando não há essa coincidência, há legitimação extraordinária - esta é a 
posição adotada por este Curso, que de resto parece ser a majoritária na jurisprudência 
brasileira, muito embora ainda não tenha sido pacificada na doutrina”
12
. 
 
7
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 47. 
8
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 44. 
9
 BUENO, Cassio Scarpinella, Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual 
civil. 8ª ed. São Paulo : Saraiva, 2014. v. 3. p. 381. 
10
As remissões feitas ao CPC sem ressalvas estão relacionadas ao Código de Processo Civil de 2015, Lei nº 
13.105/2015. As referências ao Código de Processo Civil de 1973 serão expressas. 
11
 Art. 18 do CPC. 
12
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 205. 
 
 
7 
 
Seguindo as linhas gerais traçadas nos parágrafos anteriores, a legitimação ativa para os 
processos coletivos advém de expressa previsão legal
13
, pois: “Tratando-se de direitos difusos 
ou coletivos (= sem titular determinado), a legitimação ativa é exercida invariavelmente, em 
regime de substituição processual: o autor da ação defende, em nome próprio, direito de que 
não é titular”
14
. Decorre, então, que a legitimação coletiva ad causam será concedida na forma 
de substituição processual, devendo a lei explicitar os casos em que se admita que um sujeito 
discuta os direitos de uma coletividade, é a legitimação ope legis. Antonio do Passo Cabral 
explicita as diretrizes que levam o legislador a eleger determinados substitutos processuais 
nas relações jurídicas: “Essa sistemática leva em consideração valores como a celeridade, 
eficiência e amplitude ao acesso à justiça, ao mesmo tempo em que pratica e promove a 
igualdade entre pequenos litigantes e grandes réus. De fato, especialmente quando se trata de 
coletividades carentes e de baixo nível de instrução, freqüentemente os membros da classe 
não estariam preparados financeira e culturalmente para ingressar em juízo, chegando alguns 
autores a apontar o formato das regras tradicionais de legitimidade ordinária como opressor e 
elitista, e a técnica da substituição processual como libertária”
15
 . 
O ordenamento Pátrio atribuiu a legitimidade coletiva ativa a entes públicos e pessoas 
jurídicas de direito privado e cidadãos: “Conclui-se, portanto, que nosso sistema é misto ou 
pluralista, em que tanto entes públicos como privados (associações) estão legitimados a 
agir”
16
. Exemplos dessa política eclética que preza pela diversidade de legitimados podem ser 
encontrados na Lei de Ação Civil Pública que estatui em seu artigo 5º: “Têm legitimidade 
para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria 
Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, 
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação”. Também é 
representante desta ampla gama de legitimados para ação coletiva a autorização dada ao 
cidadão para ajuizamento de ação popular (Lei nº 4.717/1965). 
 
13
 Art. 18 do CPC: “Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo 
ordenamento jurídico”. 
14
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 64. 
15
 CABRAL, Antonio do Passo. O Novo Procedimento-Modelo (Musterverfahren) Alemão: Uma Alternativa Às 
Ações Coletivas. In:____ Revista de Processo. Vol. 147. São Paulo: Ed. RT, jun. 2007. p.2. 
16
 ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRANDE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos 
esquematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013. p. 81. 
 
 
8 
 
Apesar da opção pela substituição processual no processo coletivo, por si só essa 
característica não trazia a segurança e cautela necessárias a garantir uma eficaz escolha do 
substituto processual, tendo em vista essa questão, o legislador permitiu que os legitimados 
pudessem agir de modo concorrente
17
, sendo assim, qualquer dos entes autorizados pode 
propor a ação, não há exclusividade nem ordem de preferência entre eles. Também é 
garantido à autonomia entre os entes, cada um deles podem conduzir o processo de acordo 
com suas próprias diretrizes, estando autorizados a facultativamente a “[...] habilitar-se como 
litisconsortes de qualquer das partes”
18
. Os professores Zanetti e Didier também ressaltam o 
caráter autônomo e exclusivo da legitimação por substituição processual. 
No que tange ao cariz autônomo da legitimação extraordinária no processo coletivo, Geovana 
Specht Vital da Costa aponta que “Ocorre a legitimação subordinada, quando a presença do 
legitimado extraordinário está subordinada à presença do legitimado ordinário. Em outras 
palavras, há a obrigatoriedade da presença do titular do direito material em juízo para validar 
a legitimação da parte”
19
, contrario sensu, a legitimação autônoma deflui da prescindibilidade 
do ingresso do titular do direito subjetivo na ação para autorizamento do substitutoprocessual. 
Quanto ao aspecto da exclusividade do legitimado extraordinário, este deriva da 
impossibilidade da impossibilidade do titular do direito material ingressar no processo. 
Segundo Didier e Zanetti, o litisconsórcio entre o titular individual e substituto processual 
somente “[...] é possível quando estiverem sendo discutidos direitos individuais homogêneos 
(art. 94 do CDC) [...]”
20
, deste modo, a regra é a impossibilidade de litisconsórcio entre titular 
do direito individual e o substituto processual tratando-se de direitos difusos e coletivos. 
Por fim cabe ressaltar que, apesar de toda a construção ope legis feita acerca da legitimação 
extraordinária, Zanetti e Didier defende que a utilização exclusiva deste modelo não coaduna 
com o princípio da adequada representação, tão caro ao processo coletivo. Por conseguinte, os 
 
17
 Art. 82 do Código de Defesa do Consumidor: “Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados 
concorrente”. Grifo Nosso. 
18
 Art. 5º da Lei de Ação Civil Pública. 
19
 COSTA, Geovana Specht Vital da. Das espécies de legitimidade ativa na tutela dos interesses difusos. 
Processos Coletivos. Porto Alegre, vol. 4, n. 1, 01 jan. 2012. Disponível em: 
<http://www.processoscoletivos.net/1184-das-especies-de-legitimidade-ativa-na-tutela-dos-interesses-difusos>. 
Acesso em: 23 mar. 2015. 
20
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p.211. 
 
 
9 
 
autores se posicionam em favor do controle ope iudicis da legitimação, a “legitimação 
conglobante”. 
De acordo com este pensamento, a análise da legitimação (mais especificamente da 
legitimação conglobante) deve ser feita levando em consideração se a representação está em 
conformidade com os preceitos do ordenamento jurídico e a com finalidade da tutela 
coletiva
21
. Como exemplo da aplicação da legitimação conglobante Zanetti e Didier admitem 
a legitimação ad causam do Ministério Público para ajuizamento de mandado de segurança 
coletivo. “A legitimidade é uma capacidade que se atribui a um sujeito de direito tendo em 
vista a relação que ele mantém com o objeto litigioso do processo (a situação jurídica 
afirmada na demanda). Para que se saiba se a parte é legítima, é preciso investigar o objeto 
litigioso do processo, a situação concretamente deduzida pela demanda. Não se pode 
examinar a legitimidade a priori, independentemente da situação concreta que foi submetida 
ao Judiciário [...]Assim, o texto constitucional não cuida, nem poderia cuidar, de legitimidade 
ad causam para o mandado de segurança coletivo. A legitimidade para o mandado de 
segurança coletivo será aferida a partir da situação litigiosa nele afirmada, ou seja, ope 
judicis”
22
. 
2.3. Direitos Coletivos Lato Sensu 
A doutrina considera os direitos coletivos são direitos que pertencem a uma coletividade cujos 
titulares não são determinados (daí serem chamados de transindividuais), é também 
característica dos direitos coletivos a indivisibilidade. Segundo Teori Zavascki, são direitos 
“[...] tutelados em juízo invariavelmente em regime de substituição processual”
23
, justamente 
em função dessa indeterminabilidade e indivisibilidade. 
Dentro desse espectro de direitos pertencentes a uma coletividade, direitos coletivos lato 
sensu, há três espécies, quais sejam: a dos direitos difusos, e dos direitos coletivos strictu 
sensu e dos direitos individuais homogêneos. 
2.3.1. Direitos difusos 
 
21
 ZANETTI, Hermes Júnior. A Legitimação Conglobante Nas Ações Coletivas: A Substituição Processual 
Decorrente Do Ordenamento Jurídico. In:____ VIDERE, v. 2, n. 3, p. 101-116, 2010. p.113. 
22
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 226. 
23
 RE 631.111/GO, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Plenário do STF, Repercussão Geral. 
 
 
10 
 
O conceito de direitos difusos pode ser extraído do Código de Defesa do Consumidor, que os 
define em seu art. 82, parágrafo único, I, como sendo direitos “[...] transindividuais, de 
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por 
circunstâncias de fato”, de acordo com o CDC, são características básicas
24
 dos direitos 
coletivos difusos: a) transindividualidade: “[...] pois pertencem não a indivíduos, mas a 
grupos, a categorias ou a classes pessoas”
25
, podemos afirmar que os direitos difusos não são 
pertencidos por titulares individualmente considerados; b) indivisibilidade: são direitos que 
devem ser observados como um todo, não se admite o tratamento fracionário do direito 
difuso, decorrendo desse aspecto a oponibilidade erga omnes da coisa julgada na tutela dessa 
espécie; c) ligados por circunstâncias de fato: o elemento que une os indivíduos e os torna 
coletividade nesse caso são fatos que os atingem, não havendo reclamo de que haja uma 
relação jurídica entre os indivíduos desta coletividade, basta que exista uma norma de direito 
material que preveja este direito
26
. 
2.3.2. Direitos coletivos strictu sensu 
A grande diferença entre os direitos difusos e os direitos coletivos strictu sensu
27
 reside na 
existência de relação jurídica base entre os integrantes desta coletividade ou com a parte 
adversa, os direitos coletivos em sentido estrito também possuem os distintivos da 
transindividualidade e indivisibilidade, assim como os direitos difusos. 
 
24
 A professora Geisa de Assis Rodrigues acrescenta as seguintes características aos direitos difusos: “[...] a) a 
indeterminação de seus titulares; b) a ausência de vínculo jurídico que ligue os detentores do direito; c) a sua 
incindibilidade objetiva, pois não se pode separar parcelas do interesse difuso; d) a sua indisponibilidade, 
corolário lógico da indeterminação subjetiva e da sua natureza indivisível; e) a sua natureza extrapatrimonial, 
uma vez que os direitos difusos não podem ser expressos em medida monetária, o que origina, quando 
impossível a restituição ao estado anterior, a sua ressarcibilidade indireta; f) a sua tutela pode representar uma 
conflituallità massima, ou seja, os direitos difusos concorrem com outros direitos difusos e a prevalência de um 
deles, ou quando possível a composição entre os mesmos, ocorre pela ponderação de bens no caso concreto, 
como por exemplo no caso de manutenção do funcionamento de uma fábrica poluente, que gera milhares de 
empregos e torna pujante a economia local, em uma área que tenha novas exigências ambientais”. 
RODRIGUES, Geisa de Assis. Ação civil pública e termo de ajustamento de conduta : teoria e prática. 3ª ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 54. 
25
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 37. 
26
 ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRANDE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos 
esquematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013. p. 44. 
27
 O art. 81, parágrafo único, II, do Código de Defesa do Consumidor dispõe que são direitos coletivos strictu 
sensu: “ II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de 
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica base” 
 
 
11 
 
A relação jurídica base deve se dar entre os membros da coletividade ou com a parte 
contrária, no primeiro caso estamos falando de uma situação de fato que liga os membros de 
um grupo, categoria ou classes de pessoas entre si, como, por exemplo, uma cooperativa de 
professores. Já na segunda hipótese, tratamos, e.g., dealunos de uma determinada escola que 
aumenta abusivamente as mensalidades, ou seja, a relação se dá entre multiplicidade de 
sujeitos lesados e parte oposta. O professor Arnaldo Rizzardo afirma que a determinabilidade 
dos direitos coletivos strictu sensu é originada pela “[...] relação jurídica-base que associa ou 
vincula um grupo de indivíduos, distinguindo-os dos demais, levando a concluir que são 
determináveis os interesses, e viabilizando a individuação. Forma-se um grupo de pessoas 
marcado por uma relação comum, que as vincula ou une numa aspiração idêntica, ou num 
propósito igual”
28
. 
Tendo em vista traço do determinabilidade dos grupos, não faz sentido que a coisa julgada 
seja erga omnes, atingindo indivíduos além do grupo, categoria ou classe litigante. Desta 
feita, o legislador, limitou a irradiação dos efeitos da coisa julgada à coletividade determinada 
que participasse do processo (grupo, categoria ou classe de pessoas), sendo assim, podemos 
afirmar que, no caso de direitos coletivos strictu sensu, a coisa julgada será ultra partes. 
Característica que não deve ser olvidada no que tange aos direitos coletivos strictu sensu, é a 
precedência da relação jurídica base ao fato objeto, Didier e Zanetti exemplificam: “A 
relação-base forma-se entre os associados de uma determinada associação, os acionistas da 
sociedade ou ainda os advogados, enquanto membros de uma classe, quando unidos entre si 
(affectio societatis, elemento subjetivo que os une entre si em busca de objetivos comuns); ou, 
pelo vínculo jurídico que os liga a parte contrária, e.g. , contribuintes de um mesmo tributo, 
estudantes de uma mesma escola, contratantes de seguro com um mesmo tipo de seguro 
etc”
29
. 
2.3.3. Direitos individuais homogêneos 
Parte da doutrina propugna: quanto aos direitos difusos e aos direitos coletivos strictu sensu 
há a coincidência de dois caracteres chaves de suas definições, a transindividualidade e a 
indivisibilidade, sendo os direitos individuais homogêneos meramente direito subjetivos 
 
28
 RIZZARDO, Arnaldo. Ação civil pública e ação de improbidade administrativa. 3ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2014. p. 113. 
29
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 79. 
 
 
12 
 
individuais tratados coletivamente
30
, portanto divisíveis e individuais. Outra vertente aponta 
que “[...] os direitos individuais homogêneos são indivisíveis e indisponíveis até o momento 
de sua liquidação e execução, voltando a ser indivisíveis se não ocorrer a tutela integral do 
ilícito. Trata-se de procedimento trifásico de efetivação da tutela jurisdicional”
31
. 
Entendemos a definição mais acertada está com a corrente doutrinária que entende serem 
indivisíveis os direitos individuais homogêneos (até o momento de sua liquidação e 
execução), porquanto, seria um entendimento que foge à órbita do microssistema do processo 
coletivo concebê-los como meramente um litisconsórcio multitudinário, e que a mera 
precedência de um direito individual não desnaturaria o instituto, uma vez o mesmo a 
precedência do direito individual também ocorre quanto aos direitos difusos e aos coletivos 
strictu sensu, mesmo que de forma abstrata e não identificável, não impedindo sua tutela 
coletiva de forma indivisível, da igual maneira “[...] caracteriza-se a ação coletiva por 
interesses individuais homogêneos exatamente porque a pretensão do legitimado concentra-se 
no acolhimento de uma tese jurídica geral, referente a determinados fatos, que pode 
aproveitar a muitas pessoas”
32
. 
O Código de Defesa do Consumidor conceitua esses direitos como sendo: “[...] os decorridos 
de origem comum”, Daniel Amorim Assunção Neves, esclarece que “em termos processuais, 
a origem comum decorre dos dois elementos que compõem a causa de pedir: fato e 
fundamento jurídico”
33
, o autor entende que a origem comum da lesão não é o único requisito 
para tutela dessa espécie de direito coletivo, ao qual se soma a homogeneidade, que “[...] 
dependerá da prevalência da dimensão coletiva sobre a individual. Significa que, havendo tal 
prevalência, os direitos, além de terem origem comum, serão homogêneos e poderão ser 
tutelados pelo microssistema coletivo. Por outro lado, se, apesar de terem uma origem 
comum, a dimensão individual se sobrepor à coletiva, os direitos serão heterogêneos e não 
poderão ser tratados à luz da tutela coletiva”
34
. Seria, por exemplo, o caso em que os 
consumidores de determinados produto fossem lesados em centavos, mas pela proporção de 
 
30
 Nesse sentido: Hugo Nigro Mazzilli, Teori Zavascki, Daniel Amorim Assumpção Neves. 
31
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 82. 
32
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 82. 
33
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2012. p. 130. 
34
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2012. p. 130. 
 
 
13 
 
consumidores (milhares ou até milhões deles), o dano toma proporção tão ampla que passa a 
atingir coletividade de forma una, não só levando em consideração os prejuízos individuais, 
mas o alcance coletivo da ação deletéria. 
2.4. Coisa julgada 
A coisa julgada pode ser conceituada como o impedimento a alteração da sentença, o referido 
instituto tem o objetivo de tornar a decisão estável, não a sujeitando a novas discussões nem 
mudanças posteriores, o Código de Processo Civil a define em seu art. 502: "Denomina-se 
coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não 
mais sujeita a recurso", o eminente doutrinador Humberto Theodoro Júnior, define coisa 
julgada com a seguinte precisão: "A res iudicata, por sua vez, apresenta-se com uma 
qualidade da sentença, assumida em determinado momento processual. Não é efeito da 
sentença, mas a qualidade dela representada pela 'imutabilidade' do julgado e de seus efeitos, 
depois que não seja mais possível impugná-los por meio de recurso” 
35
. 
2.4.1. Limites subjetivos 
Em se tratando de limites subjetivos da coisa julgada, isto é, de quem são as partes vinculadas 
a res iudicata, podemos afirmar que no processo individual a coisa julgada tem como regra a 
vinculação de seus efeitos somente entre as partes que participaram do processo (inter partes), 
o art. 506 do Código de Processo Civil é claro ao estatuir que: "A sentença faz coisa julgada 
às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros", o raciocínio que nos leva a essa 
conclusão é simples, não é natural que num sistema processual primado pela ampla defesa e 
contraditório, um terceiro que não participou do processo seja abarcado pelos efeitos da 
sentença. 
Contudo, no que diz que respeito aos limites subjetivos da coisa julgada cabe uma ressalva 
que nos interessa muito e que será mais bem explicada logo adiante, é a seguinte: apesar de, 
em regra, os efeitos da coisa julgada estarem limitados ao autor e a parte adversa, o sistema 
abre exceção no que toca aos substituídos processuais, pois estes não participaram da 
condução do processo e mesmo assim serão submetidos aos efeitos da coisa julgada. "Os 
substituídos são representados na demanda por sujeito que a lei ou o sistema considera apto à 
defesa do direito em juízo, sendo que nessa excepcional hipótese admite-se que a coisa 
 
35
 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual 
civil e processo de conhecimento.Rio de Janeiro: Forense, 2014. Vol. 1. p. 767. 
 
 
14 
 
julgada atinja titulares do direito que não participaram como parte no processo”
36
. Essa 
consideração é importante para que tenhamos toda a dimensão do processo coletivo e como 
seus institutos devem comunicar-se entre si, nesse caso, uma vez admitida a possibilidade de 
legitimação extraordinária por substituição processual, não faria sentido limitar o alcance dos 
efeitos da coisa julgada ao âmbito inter partes. Hugo Nigro Mazzilli pondera a respeito do 
tema: "A solução do problema da coisa julgada foi uma das grandes dificuldades para instituir 
a defesa coletiva em juízo. De acordo com a teoria clássica, a coisa julgada significa a 
imutabilidade do que foi definitivamente decidido, limitadamente às partes do processo. Se a 
coisa julgada fica, porém, circunscrita às partes, então de que adiantariam as ações civis 
públicas e coletivas? Se a coisa julgada no processo coletivo ficasse classicamente limitadas 
às partes formais do processo onde foi proferida, então qualquer colegitimado, que não tivesse 
participado do processo, poderia propor novamente a mesma ação, discutindo os mesmo fatos 
e fazendo o mesmo pedido... Se a coisa julgada no processo coletivo não ultrapassa as 
barreiras formas pelas próprias partes formais do processo de conhecimento, de que adiantaria 
forma-se um título executivo que não iria sequer beneficiar os lesados individuais, que não 
foram parte no processo?"
37
. Como se depreende do exposto acima para que seja útil a tutela 
dos direitos coletivos é necessário que a mesma não fique aos sujeitos que tomaram parte no 
processo. 
Como apresentado acima, os limites subjetivos da coisa julgada no processo coletivo 
divergem dos limites inter partes estabelecido pelo processo individual, desta feita, o 
processo coletivo apresenta diferentes contornos ao estabelecer a coisa julgada referente a 
direitos difusos (erga omnes), direitos coletivos strictu sensu (ultra partes), e direitos 
individuais homogêneos (erga omnes). 
2.4.2. Coisa julgada nas ações que tratam de direitos difusos 
No primeiro caso, o que se relaciona aos direitos difusos, a coisa julgada estende seus efeitos 
à perante todos, é a coisa julgada erga omnes, trata-se da indivisibilidade do direito coletivo, e 
consequentemente de sua tutela, é aquela que se impõem de forma ampla e irrestrita, todos 
 
36 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São 
Paulo: Método, 2014. p. 643. 
37
 MAZZILLI, Hugo Nigro. Defesa dos interesses difusos em juízo. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 602. 
 
 
15 
 
ficam vinculados à decisão, "[...] exceto se o pedido for julgado improcedente por 
insuficiência de provas"
38
. 
Podemos observar que a coisa julgada nas ações que tratam de direitos difusos opera de 
acordo com a regra secundum eventum probationis, dependem de que o juiz não decida 
improcedente o pedido por falta de elementos probatórios que o permitam aprofundar no 
mérito do processo para decidi-lo. Didier e Zanetti ressaltam que "A opção pela coisa julgada 
secundum eventum probationis revela o objetivo de prestigiar o valor justiça em detrimento 
do valor segurança, bem como preservar os processos coletivos do conluio e da fraude 
processual”
39
. Os autores ressalvam que não é necessário (ainda que desejável) que o juiz 
decida expressamente que o pedido é improcedente por falta de provas, mas que essa 
deficiência probatória seja a causa da improcedência e que isso decorra logicamente da 
decisão. 
2.4.3. Coisa julgada nas ações que tratam de direitos coletivos strictu sensu 
Nos casos de ações coletivas que tratam de direitos coletivos strictu sensu, a sentença se torna 
estável de forma ultra partes, o que significa que a coisa julgada se estenderá além das partes, 
“[...] mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência 
de provas”
40
. A regra trazida pelo Código de Defesa de Consumidor agora limita a incidência 
da coisa julgada a um grupo restrito, não mais de forma ampla, perante todos (erga omnes). 
Cabe não olvidar que a coisa julgada ultra partes, nas decisões que se referem a direitos 
coletivos strictu sensu, se forma secundum eventum probationis, permitindo que a ação seja 
reproposta por qualquer legitimado, inclusive o mesmo fundamento, porém, valendo de nova 
prova
41
, “[...] desde que demonstre ao juiz que essa nova prova mostra-se suficiente para 
eventualmente resultar na procedência do pedido. Aprova suficiente é um requisito específico 
das ações coletivas”
42
. 
O art. 103, §1º, do Código de Defesa do Consumidor ressalva que “Os efeitos da coisa julgada 
previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da 
 
38
 Art. 103, I, do Código de Defesa do Consumidor. 
39
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 389. 
40
 Art. 103, II, do Código de Defesa do Consumidor. 
41
 Art. 103, I, do Código de Defesa do Consumidor. 
42
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 389. 
 
 
16 
 
coletividade, do grupo, categoria ou classe”, quer dizer, nas decisões que tratam de direitos 
transindividuais, a eventual improcedência da ação, mesmo por outro motivo que não seja a 
falta de provas, não irá vincular os titulares dos direitos individuais, que poderão livremente 
repropor a ação. 
2.4.4. Coisa julgada nas ações que tratam de direitos individuais homogêneos 
No que concerne às ações que tratam de direitos individuais homogêneos, o art. 103, III, do 
Código de Defesa do Consumidor, determina sua incidência erga omnes, apenas na hipótese 
de procedência do pedido, quer dizer, a coisa julgada só irá vincular dos titulares de direitos 
individuais para beneficiá-los, contudo, isso não significa que a coisa julgada não se forma 
pro et contra, mas somente que, no caso de sentença favorável aos lesados individuais, haverá 
a extensão da coisa julgada para o plano individual, não ocorrendo óbice para que a ação seja 
reproposta individualmente nos casos de improcedência
43
, exceção àqueles que 
voluntariamente tiverem intervindo no processo como litisconsortes, os quais obviamente não 
serão beneficiado, em virtude da característica unitária deste litisconsórcio. 
Uma interpretação literal do art. 103, III, do CDC pode nos levar ao entendimento de que a 
coisa julgada nos casos dos direitos individuais homogêneos se formaria secundum eventum 
litis, o qual privilegiaria os interesses coletivos em detrimento da não exposição do réu a 
reiteradas demandas idênticas em juízo, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes pontua: “[...] o 
julgamento contrário à parte que efetuou a defesa coletiva não produzirá efeitos erga omnes, o 
que merece ser criticado, pois viola o princípio da isonomia [...] O processo coletivo torna-se, 
assim, instrumento unilateral, na medida em que só encontrará utilidade em benefício de uma 
das partes”
44
. Sérgio Cruz Arenhart na mesma linha se posiciona: “Não obstante o nítido 
interesse em proteger a situação dos indivíduos, o sistema gera manifesto desequilíbrio entre 
as partes do processo. Como se vê da estrutura desenhada, o réu de uma ação coletiva sobre 
interesses individuais homogêneos nunca pode considerar-se, de fato, „vencedor‟ na demanda; 
ele apenas deixou de „perder‟ o litígio na sua dimensão coletiva, permanecendo, porém, 
sujeito a enfrentar a mesma discussão no plano individual. Para o réu, portanto, a ação 
 
43
 Art. 103, §2º do Código de Defesa do Consumidor, sobre a possibilidadede ajuizamento de nova ação em 
relação à tutela de direitos individuais homogêneos: “Na hipótese prevista no inciso III, em caso de 
improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão 
propor ação de indenização a título individual”. 
44
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p.277. 
 
 
17 
 
coletiva (sobre direitos individuais homogêneos) é sempre um risco desproporcional e inútil, 
pois as suas consequências são ou a sucumbência ou a postergação da discussão para 
instâncias individuais”
45
. 
Não obstante o posicionamento dos doutrinadores acima, Zanetti e Didier entendem que o art. 
103, III, do CDC não disciplinou o modo de produção da coisa julgada, mas somente sua 
extensão (no caso, secundum eventum litis), deixando uma lacuna normativa sobre o tema. 
Isto posto, deve a comaltação da lacuna referente ao modo de produção da coisa julgada ser 
buscada no próprio microssistema de tutela dos direitos coletivos e, sendo a ação para tutela 
dos direitos individuais homogêneos também uma ação coletiva, a ela deve ser aplicada os 
mesmo modo de produção da res iudicata previsto para os direitos difusos e coletivos em 
sentido estrito, o qual seria a formação da coisa julgada secundum eventum probationis, 
evitando uma reexposição desmedida do réu à posteriores ações e protegendo os direitos da 
coletividade de forma justa. 
2.4.5. Transporte in utilibus do conteúdo da sentença 
Em relação à extensão erga omnes nos casos de procedência das ações que versam sobre 
direitos individuais homogêneos, conforme já dito, ela somente ocorrerá nos casos de 
procedência do pedido, e nessa situação a extensão erga omnes advém da possibilidade de que 
indivíduo que não ingressou no processo, possa utilizar da sentença de procedência do pedido 
da ação coletiva em seu favor: “[...] o indivíduo, poderá valer-se da coisa julgada coletiva para 
proceder à liquidação dos seus prejuízos e promover a execução da sentença”
46
. 
O transporte in utilibus da coisa julgada pode advir tanto das sentenças cíveis quanto das 
penais
47
 e estará sempre limitado aos contornos do pedido da ação coletiva
48
. Aluisio 
Gonçalves de Castro Mendes esmiúça o tema: “[...] semelhante ao que passa com a sentença 
penal condenatória [...] se formaria também um título judicial executivo, em favor da(s) 
vítima(s), a ser liquidado e executado, no caso em concreto, em benefício dos interesses 
 
45
 ARENHART, Sérgio Cruz. Coisa julgada e coletivização de interesses individuais. Processos Coletivos, Porto 
Alegre, vol. 4, n. 4, 01 out. 2013. Disponível em: <http://www.processoscoletivos.net/index.php/revista-
eletronica/59-volume-4-numero-4-trimestre-01-10-2013-a-31-12-2013/1401-coisa-julgada-e-coletivizacao-de-
interesses-individuais>. Acesso em: 26 abr. 2015. 
46
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 392. 
47
 ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRANDE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos 
esquematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013. p. 81. 
48
 MAZZILLI, Hugo Nigro. Defesa dos interesses difusos em juízo. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 607. 
 
 
18 
 
individuais homogêneos reflexamente afetados em razão do dano individualmente 
considerado e objeto do processo originário”
49
. 
O transporte in utilibus da coisa julgada das sentenças condenatórias (em direitos difusos e 
coletivos em sentido estrito) “[...] segue o padrão da liquidação da sentença genérica 
envolvendo direitos individuais homogêneos, com a necessidade de identificação do valor a 
ser executado e o titular do crédito”
50
 para que se possa efetivar execução individual. 
2.5. Maior Amplitude de Cognição 
Outra característica do processo coletivo é que atividade cognitiva pode estender-se para além 
do processo matriz (coletivo), conforme explicado acima, o transporte in utilibus da sentença, 
prevista no art. 103,§3º do Código de Defesa do Consumidor, “[...] é a possibilidade de 
aproveitar os efeitos de uma sentença transitada em julgado em favor de uma pretensão que 
não fora deduzida no mesmo processo, bastando, para tanto, que o titular da pretensão a 
invoque, proceda à sua liquidação e à execução do respectivo crédito”
51
. 
Também em homenagem à maior amplitude de cognição dos processos coletivos, Teori 
Zavascki afirma que a sentença de procedência no processo coletivo tem o mesmo efeito da 
sentença penal condenatória, já que faz “certa a obrigação do réu de indenizar os danos 
individuais decorrentes do ilícito civil objeto da demanda, permitindo aos respectivos titulares 
do direito à reparação (vítimas e seus sucessores) a imediata liquidação e execução, 
independentemente de nova sentença condenatória”
52
, é o efeito secundário da sentença e 
resultado da ampla cognição à que estão submetidos os processos coletivos, estendendo os 
efeitos da sentença de procedência para fora do processo. 
3. As diferenças entre a tutela dos direitos coletivos no Brasil e nos modelos das Class 
Actions estadunidenses e Verbandsklagen (Ações Associativas) 
 
49
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 287. 
50
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4., p. 409. 
51
 ANDRADE, Adriano; MASSON, Cleber; ANDRANDE, Landolfo. Interesses difusos e coletivos 
esquematizado. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013, p. 38. 
52
 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos. 6ª. 
ed. São Paulo: RT, 2014. p. 67. 
 
 
19 
 
Com o intuito de enriquecer os estudos dos instrumentos de tutela dos direitos coletivos 
faremos uma breve análise das diferenças entre a tutela de direitos coletivos no Brasileiro e 
nos modelos das Class Actions estadunidenses e Verbandsklagen (Ações Associativas). 
3.1. Tutela de direitos coletivos nas Class Actions estadunidenses e o modelo brasileiro 
O sistema jurídico estadunidense tem origem na common law, e por ele é predominantemente 
regido nos dias atuais, “[...] estando, por conseguinte, bastante calcado nos precedentes 
judiciais, embora o direito escrito, assim como em outros países, venha assumindo 
paulatinamente um papel de crescente relevância”
53
, neste sentido, é assaz complexa a 
tradução dos institutos das class actions, para o direito brasileiro, cuja matriz remonta à 
tradição romano-germânica. 
De acordo com Zanetti, além de sua matriz na common law, também podem ser observadas 
as seguintes
54
 característica na tutela de direitos coletivos nas class actions: a) tutelas atípicas 
e não-taxativas; b) legitimidade ope iudicis; c) formação da coisa julgada pro et contra; d) 
adequada notificação do grupo; e) amplo controle do juiz na condução do processo. 
Examinemos brevemente cada item. 
3.1.1. Tutelas atípicas e não taxativas 
Segundo o autor Antônio Gidi, a tutela de direitos coletivos pelas class actions está 
fundamentada em três pilares principais que orientam o objetivo da aplicação das regras que 
decorrem da observação destes preceitos, são eles: “a economia processual, o acesso à justiça 
e aplicação voluntária e autoritativa do direito material”
55
, como observa Gidi, o direito norte 
americano está menos preocupado com as elucubrações técnicas do que com a tutela efetiva 
dos direitos. 
Aponta Zanetti que as class actions são direcionadas para “[...] fins pragmáticos, sem a 
necessidade de umconceito de direitos subjetivos (remedies precede rights), com tutelas 
atípicas e não-taxativas, no qual o direito subjetivo do cidadão em face da administração 
 
53
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 65. 
54
 ZANETI JR, Hermes. “Três Modelos de Processo Coletivo no Direito Comparado: Class Actions, Ações 
Associativas/Litígios Agregados e o 'Processo Coletivo: Modelo Brasileiro'”. Processos Coletivos, v. 5, p. 1, 
2014. <http://www.processoscoletivos.net/revista-eletronica/63-volume-4-numero-3-trimestre-01-07-2014-a-30-
09-2014/1460-tres-modelos-de-processo-coletivo-no-direito-comparado-class-actions-acoooes-associativas-
litigios-agregados-e-o-processo-coletivo-modelo-brasileiro> Acesso em: 18 mar. 2015. 
55
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 25. 
 
 
20 
 
pública não necessariamente é objeto de class actions, mas podem ser igualmente veiculados 
através de uma mais ampla gama de civil actions e outras formas de litígios complexos, como 
a citzen action e a parens patrie doctrine”
56
. 
Pode-se constatar que o modelo brasileiro também protege os direitos coletivos de forma não 
taxativa, almejando alcançar a maior amplitude possível para tutela dos direitos coletivos, de 
forma similar à feita pelas class actions, como se depreende do disposto no art. 1º, I, da Lei de 
Ação Civil Pública, que dispõe que ação coletiva poderá tutelar “a qualquer outro interesse 
difuso ou coletivo”. 
No o art. 83, do Código de Defesa do Consumidor, o legislador dirige-se para 
disponibilização de todos os tipos de tutela para a proteção dos direitos coletivos, dispondo 
que “Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas 
as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”. Nesse ponto também 
há uma aproximação do modelo brasileiro com as class actions, permitindo a aplicação dos 
diversos tipos de tutela jurisdicionais cabíveis em nosso sistema: “[...] o princípio da não 
taxatividade também deve abranger as diferentes espécies de tutela jurisdicional, sendo 
possível por meio do processo coletivo a obtenção de tutelas condenatórias – de fazer, não 
fazer, entregar, pagar –, constitutivas, meramente declaratórias, executivas, cautelares, 
executivas lato sensu e mandamentais. E dizer que todas essas espécies de tutela jurisdicional 
podem ser obtidas no processo coletivo significa que todas as diferentes espécies de ação, 
veiculando os mais diversificados pedidos, serão admitidas no plano do processo coletivo”
57
. 
3.1.2. Legitimidade ope iudicis 
Característica sensível da class action é a espécie de legitimação conferida para o processo 
coletivo, trata-se de um conceito de legitimidade extraído do ordenamento estadunidense que 
confere a autorização para ajuizamento das ações de classe para qualquer membro do grupo 
que preencha os requisitos de uma adequada representação (adequacy of representation) dos 
demais integrantes deste grupo, segundo Jay Tidmarsh estes requisitos buscam solucionar 
 
56
 ZANETI JR, Hermes. “Três Modelos de Processo Coletivo no Direito Comparado: Class Actions, Ações 
Associativas/Litígios Agregados e o 'Processo Coletivo: Modelo Brasileiro'”. Processos Coletivos, v. 5, p. 1, 
2014. <http://www.processoscoletivos.net/revista-eletronica/63-volume-4-numero-3-trimestre-01-07-2014-a-30-
09-2014/1460-tres-modelos-de-processo-coletivo-no-direito-comparado-class-actions-acoooes-associativas-
litigios-agregados-e-o-processo-coletivo-modelo-brasileiro> Acesso em: 18 mar. 2015. 
57
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2012. p.120. 
 
 
21 
 
dois problemas, um referente à qualidade do advogado representante da classe e outro de 
indiferença, relativo a uma conflitualidade de interesses dentro do grupo: ―‗Incompetence‘ 
concerns class representatives and class counsel who sincerely (whether for virtuous, 
deontological, altruistic, or utilitarian reasons) want to represent the interests of class 
members, but are incapable of effectively doing so because of insufficient financing, 
experience, talent, probity, or mental capacity. ‗Indifference‘ concerns egoist class 
representatives and class counsel who are willing to represent the interests of class members 
only to the extent that such representations serve their own interests”
58
. 
Contraposto ao sistema das class actions, o modelo brasileiro, confere a legitimação exclusiva 
a determinados sujeitos, “[...] o legislador teria estabelecido um rol legal taxativo de 
legitimados, firmando uma presunção absoluta de que seriam "representantes adequados", não 
cabendo ao magistrado fazer essa avaliação caso a caso. A verificação da adequacy of 
representation seria tarefa do legislador”
59
. 
Pode-se observar que o sistema brasileiro de tutela dos direitos coletivos está calcado num 
controle legislativo acerca da legitimidade ad causam, Antônio Gidi comenta: “[...] os entes 
legitimados para agir nas ações coletivas brasileiras são determinados previamente pela lei, 
através de critério independente da existência pessoal de interesse na controvérsia. Assim o 
legitimado não precisa ser, e em regra geral, não é, membro atingido pela conduta ilícita do 
réu”
60
. Por outro lado, a disciplina seguida pelas class actions cinge-se ao controle, feito pelo 
juiz, da exigência da representação adequada: “[...] os tribunais costumam aferir vários 
fatores. Mais do que a quantidade de litigantes presentes, para a certificação importa a 
qualidade da defesa dos interesses da classe. Em relação às partes representativas, são 
considerados o comprometimento com a causa, a motivação e o vigor na condução do feito, o 
interesse em jogo, as disponibilidades de tempo e a capacidade financeira, o conhecimento do 
litígio, honestidade, qualidade de caráter, credibilidade e, com especial relevo, a ausência de 
conflito de interesses”
61
. Vemos que no modelo brasileiro a legitimidade é conferida a entes 
 
58
 TIDMARSH, Jay. Rethinking Adequacy of Representation. Texas Law Review, Texas, 2009. Disponível em: 
<http://scholarship.law.nd.edu/law_faculty_scholarship/531>. Acesso em: 10 abr. 2015. 
59
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 215. 
60
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 99. 
61
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p 82. 
 
 
22 
 
estatais e particulares (associações), os quais podem ter ou não o real empenho na causa, que, 
por conseguinte, pode levar a uma verdadeira não representação dos substituídos. 
3.1.3. Coisa julgada pro et contra 
Quanto ao tratamento da coisa julgada nas class actions norte americanas, a res iudicata 
ocorre para todo o grupo, vinculando-o independentemente do resultado do processo, é a 
formação da coisa julgada pro et contra, Antônio Gidi aponta que “[...] o efeito vinculante da 
sentença coletiva em face das pretensões individuais dos membros do grupo independe da 
demanda ou da suficiência do material probatório disponível ao grupo. Seja a sentença 
favorável ou contrária aos interesses do grupo (wheter favorable or adverse), ela estará 
revestida pelo manto da imutabilidade do seu comando em face dos direitos individuais e 
coletivos de todos os membros ausentes do grupo”
62
. 
O legislador brasileiro foi mais garantistaque o norte-americano neste quesito, procurando 
resguardar amplamente os direitos coletivos e individuais, impedindo formação da coisa 
julgada nos processos sobre direitos difusos e coletivos nos casos improcedência da ação por 
insuficiência de provas (coisa julgada secundum eventum probationis), tendo o aspecto 
ampliativo nos casos de procedência da demanda: “A extensão dos efeitos foi regulada, em 
parte, secundum eventum litis, ou seja, dependendo do resultado do julgamento. No caso de o 
pedido ser julgado procedente, haverá sempre a ampliação subjetiva da demanda”
63
. 
A modelo dos EUA prevê a possibilidade de auto-exclusão do indivíduo integrante do grupo, 
para que este não seja antigido pelos efeitos da class actions: “The 1966 amendments 
introduced a new procedure—the so-called ―opt out‖ class action authorized by Rule 
23(b)(3)—which reversed the operative presumption of the original Rule by requiring class 
members to affirmatively request exclusion from the class in order to avoid being bound to 
the class judgment”
64
. 
Cabe ressalvar que a coisa julgada no ordenamento norte americano pode parecer mais rígida, 
contudo, para chegar-se a essa imutabilidade da decisão devem ser respeitados os diversos 
 
62
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 
271-272. 
63
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 277. 
64
 Ryan C.. WILLIAMS. Due Process, Class Action Opt Outs, and the Right Not to Sue. Columbia Law Review, 
Nova Iorque, 2015. Disponível em: <http://columbialawreview.org/due-process-class-action-opt-outs-and-the-
right-not-to-sue/>. Acesso em: 20 abr. 2015. 
 
 
23 
 
requisitos impostos e eloquentes para o deslinde da ação de classe, o professor Gidi conclui 
que, ainda assim “[...] o ordenamento americano dispõe de técnicas e instrumentos que tornam 
o processo coletivo mais adequado e flexibilizam a incidência da coisa julgada coletiva, se 
tais normais não forem respeitadas”
65
. 
3.1.4. Adequada notificação 
As class actions norte americana, conforme dito acima, têm consequências muito graves e 
estáveis sobre a classe representada, e, com o intuito de não fazer pesar os efeitos da coisa 
jugada sobre pessoas que não se manifestaram e/ou tiveram a oportunidade de influenciar no 
julgamento do processo coletivo. De acordo com Rubenstein, o direito estadunidense utiliza-
se do instrumento da notificação (notice) para que os membros do grupo possam decidir se 
ingressam no processo (opt in) ou se esquivam dos efeitos da coisa julgada por meio do right 
to opt out: “The due process clause not only governs whether notice is required, but it also 
imposes several requirements on the form and content of the notice […] At a minimum, the 
notice must provide putative class members with enough details about the case to allow them 
to evaluate whether to participate or opt out”
66
. 
No direito pátrio tal mecanismo também é previsto, conforme se observa no art. 94 do Código 
de Defesa do Consumidor: “Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de 
que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla 
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do 
consumidor”. Todavia, Antônio Gidi, pensa que a mera publicação por edital é insuficiente e 
não passa de uma simples ficção, não promovendo a efetiva notificação dos membros 
propugnada pela doutrina. O próprio autor admite que as características do modelo brasileiro 
de tutela dos direitos coletivos acaba por diminuir os riscos do grupo
67
 em relação aos efeitos 
do processo, dispensando que haja uma citação pessoal de cada interessado, porém a tutela 
coletiva em si poderá ser fulminada por uma ação que não cuja notificação dos membros do 
grupo envolvido não foi adequadamente realizada. 
 
65
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 
287. 
66
 CHORBA, Christopher; EVANSON, Blaine H.. Other Due Process Challenges To The Class Device. 
American Bar Association's: A Practitioner's Guide to Class Actions. 2011. Disponível em: < 
http://www.gibsondunn.com/publications/Documents/ChorbaEvanson-DueProcessChallenges.pdf>. Acesso em: 
30 abr. 2015. 
67
GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 
241. 
 
 
24 
 
3.1.5. Amplo controle do juiz na condução do processo 
Considerando que as class actions norte americanas tem por escopo o resguardo dos 
interesses dos membros do grupo, os quais muitas vezes não oportunidade de serem ouvidos 
durante o processo, se “atribui ao juiz da causa certos deveres de controle e de proteção dos 
interesses dos membros ausentes”
68
, Antonio Gidi conclui que “[...] o juiz é considerado o 
guardião dos interesses do grupo, e sua responsabilidade perante os membros ausentes é 
substancial, devendo protegê-los da realização de um acordo inadequado por parte do 
representante”
69
, é a chamada defining function do juiz, decorrente o interesse primário em 
jogo
70
. 
Podem ser considerados exemplos desse amplo controle do juiz na condução do processo: a) 
juiz pode decidir de ofício sobre a certificação do grupo para a ação, ainda que não haja a 
motion for certification
71
; b) atribuição ao juiz para aprovação da extinção do processo; c) 
controle da adequada representação, feita pelo juiz que está autorizada a tomar diversas 
medidas com o escopo de evitar a extinção da class action por falta de uma efetiva 
representação da classe; d) “[...] possibilidade de flexibilização procedimental para adaptá-lo 
de forma mais eficaz às necessidades do caso concreto e a suspensão dos processos 
individuais à espera do resultado do processo coletivo”
72
. 
O modelo brasileiro de processo coletivo adotou uma mais suavizada da defining function, 
sendo exemplos desse ativismo: a) previsão da remessa de peças ao Ministério Público no 
caso de conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura de ação civil pública (art. 7º 
da Lei de Ação Civil Pública), sendo que seu conteúdo é reproduzido tanto pelo Estatuto do 
Idoso em seu art. 90 e pelo Estatuto da Criança e Adolescente em seu art. 221
73
; b) a 
 
68
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 
310. 
69
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 
310. 
70
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p.134. 
71
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p. 94. 
72
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de processo coletivo. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: 
Método, 2012. p.96. 
73
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p.95. 
 
 
25 
 
certificação pelo juiz da natureza coletiva da ação
74
; c) “[...] a possibilidade de flexibilização 
procedimental para adaptá-lo de forma mais eficaz às necessidades do caso concreto”
75
. 
Os autores Didier e Zanetti, pontuam que a defining function do juiz não fica restrita ao 
âmbito processual, desdobrando-se também “[...] no controle judicial das políticas públicas”
76
, 
chancelando ao judiciário atuar “[...] quando existe um direito assegurado na Constituição e 
na lei infraconstitucional, que regulamente a escolha do administrador”, nesse sentido, o 
ativismo judicial é um instrumento que visa suprir a omissão do Poder Públicono 
cumprimento das próprias diretrizes e políticas públicas normatizadas. 
3.2. Verbandsklagen (ações associativas alemãs) 
As verbandsklagen é um dos meios de defesa dos interesses coletivos no direito alemão, esse 
modelo de ação encontra-se disperso em várias leis, não se adota um tratamento sistemático 
da disciplina na Alemanha, sua importância se dá “[...] principalmente no campo da luta 
contra a concorrência desleal das cláusulas gerais dos negócios”
77
, Mendes, observa que “[...] 
característica comum e básica da ação associativa alemã (Verbandsklage) é sua 
imprestabilidade para persecução de indenizações decorrentes de perdas e danos”
78
. 
São distintivos das Verbandsklagen, em relação ao modelo de tutela de direitos coletivos no 
Brasil, os seguintes caracteres, de acordo com Didier e Zanetti: a)legitimação ativa exclusiva 
das associações; b) “distanciamento da tutela dos direitos individuais”; “[...] c) duas formas de 
tutela são previstas para as associações, c‟) através da delegação da tarefa de representar o 
indivíduo, agindo a associação apenas mediante a autorização do titular da relação jurídica 
individual, método que mais do que uma tutela coletiva constitui apenas modalidade 
específica através da qual se faz valer um direito individual, c‟‟)hipóteses em que realmente a 
ação faz valer um direito supraindividual”; d) “[...] tutela inibitória ou injuncional”
 79
. 
Examinemos: 
 
74
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p.96. 
75
 GIDI, Antonio. A Class Action como Instrumento de Tutela Coletiva dos Direitos. São Paulo: RT, 2007. p.96. 
76
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 135. 
77
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p.116. 
78
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p.117. 
79
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p.58. 
 
 
26 
 
3.2.1. Legitimação ativa exclusiva 
O modelo de tutela dos direitos coletivos alemão é um modelo que adota a legitimação 
singular ad causam, ativa e exclusiva. Para atuação nas Verbandsklagen é necessário a “[...] 
escolha de um sujeito „supraindividual‟ para tutelar em nome próprio o direito passa a ser 
considerado como próprio”
80
, é uma modelo oposto ao do sistema brasileiro que adota a 
legitimação plúrima (mista ou eclética). 
3.2.2. Distanciamento da tutela dos direitos individuais 
Os doutrinadores Zanetti e Didier afirmam que as Verbandsklagen se distanciam da tutela dos 
direitos individuais, pois “[...] toda a responsabilidade do dano volta-se para a reparação ao 
Estado”, nesse sentido, as ações associativas procuram tutelar o interesse público das 
instituições, não dos associados, afastando-se do âmbito de proteção individual do direito
81
. 
Os autores acrescentam que a autorização depende da constituição da associação nos moldes 
preconizados pelo Ministério da Administração Pública, que atendendo estes requisitos “[...] 
estarão aptas para o ajuizamento das Verbandsklagen, no âmbito interno, e de outras ações 
coletivas, perante o Poder Judiciário de outros Estados-membros”
82
, fica demonstrado uma 
forte presença do estado no controle das ações associativas, que acabam por afastá-la da tutela 
dos direitos individuais. 
3.2.3. Formas de tutela 
As ações coletivas brasileiras tem por escopo a tutela de forma integral dos direitos coletivos 
lato sensu, o modelo alemão, no entanto é divido em duas espécies de tutela, uma que seria o 
equivalente a tutela coletiva de direitos individuais (num sentido semelhante ao proposto por 
Zavascki), e outra é a tutela de direitos supraindividuais, os quais ultrapassam o direito a 
simples soma dos vários direitos individuais. 
O professor Zanetti explicita que parte dos entraves na aplicação do processo e tutela coletiva 
no Velho Continente “[...] está ligada ao modelo constitucional adotado pelos países 
 
80
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p.58.. 
81
 SILVA, Larissa Clare Pochmann da. Uma análise do ´estar em juízo´ na lei da Ação Civil Pública. Processos 
Coletivos, Porto Alegre, vol. 2, n. 3, 01 jul. 2011. Disponível em: 
<http://www.processoscoletivos.net/index.php/revista-eletronica/25-volume-2-numero-3-trimestre-01-07-2011-
a-30-09-2011/130-uma-analise-do-estar-em-juizo-na-lei-da-acao-civil-publica>. Acesso em: 14 mar. 2015. 
82
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 121. 
 
 
27 
 
europeus, no qual se identifica uma radical separação de poderes e a defesa de direitos 
individuais como elementos do paradigma da propriedade privada”
83
. 
3.2.4. Tutela inibitória ou injuncional 
O direito brasileiro prevê no art. 83 do Código de Defesa do Consumidor que “Para a defesa 
dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ação 
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”. Extrai-se da norma que a tutela é ampla e 
são cabíveis todos os tipos de espécie de tutela jurisdicional: condenatórias, declaratórias, 
constitutivas, autoexecutáveis e mandamentais. 
O modelo alemão optou por uma abordagem bem mais contida, limitando-se a prever as 
tutelas inibitórias ou injuncionais, “A doutrina alemã classifica, como condenatória, do tipo 
fazer ou não fazer, a espécie de pretensão objeto da ação associativa”
84
, destaca Mendes. 
Denota-se então que as Verbansklagen estão sujeitas a um espectro bem mais restrito de 
tutela, Didier e Zanetti consideram essa característica como um sério déficit do modelo 
alemão de tutela dos direitos coletivos
85
, a qual gera “[...] uma situação absolutamente 
desconforme já que o titular do direito individual faz valer o seu direito ao ressarcimento do 
dano na via absolutamente individual com uma ação individual, ou não obtém nenhuma 
tutela”
86
. 
4. Incidente de resolução de demandas repetitivas 
Trata-se de um novo instituto, previsto no Novo Código de Processo Civil, nos arts. 976-987, 
notadamente influenciado pelo seu precursor alemão, o Musterverfahren (processos modelo). 
O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) é um instrumento que tem como 
 
83
 ZANETI JR, Hermes. “Três Modelos de Processo Coletivo no Direito Comparado: Class Actions, Ações 
Associativas/Litígios Agregados e o 'Processo Coletivo: Modelo Brasileiro'”. Processos Coletivos, v. 5, p. 1, 
2014. <http://www.processoscoletivos.net/revista-eletronica/63-volume-4-numero-3-trimestre-01-07-2014-a-30-
09-2014/1460-tres-modelos-de-processo-coletivo-no-direito-comparado-class-actions-acoooes-associativas-
litigios-agregados-e-o-processo-coletivo-modelo-brasileiro> Acesso em: 18 mar. 2015. 
84
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p. 120. 
85
 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. Processo coletivo. 8ª ed. 
Salvador: Jus Podivm, 2013. v. 4. p. 59. 
86
 ZANETI JR, Hermes. “Três Modelos de Processo Coletivo no Direito Comparado: Class Actions, Ações 
Associativas/Litígios Agregados e o 'Processo Coletivo: Modelo Brasileiro'”. Processos Coletivos, v. 5, p. 1, 
2014. <http://www.processoscoletivos.net/revista-eletronica/63-volume-4-numero-3-trimestre-01-07-2014-a-30-09-2014/1460-tres-modelos-de-processo-coletivo-no-direito-comparado-class-actions-acoooes-associativas-
litigios-agregados-e-o-processo-coletivo-modelo-brasileiro> Acesso em: 18 mar. 2015. 
 
 
28 
 
propósito evitar a proliferação em massa de ações com o mesmo teor e que poderiam ser 
decididas adotando-se uma tese padrão em homenagem aos princípios da efetividade e 
segurança jurídica, evitando-se a proliferação de decisões contraditórias e tratamentos 
processuais distintos para causas idênticas. Humberto Theodoro Júnior destaca os fins 
perseguidos pelo Musterverfahren, “O objetivo da lei alemã foi resolver de modo idêntico e 
vinculante questões controversas em causas paralelas, mediante decisão-modelo dos aspectos 
comuns pelo Tribunal Regional (Oberlandesgericht), com possibilidade de participação dos 
interessados. A partir dessa decisão, julgar-se-ão as especificidades de cada caso”
87
 
O autor Guilherme Rizzo Amaral registra que o cenário brasileiro atual é extremamente 
propício para a multiplicação das ações massa, “Somadas as causas repetitivas em todo o país, 
o número chega à casa dos milhões. O fato de elas serem analisadas individualmente – e não 
em bloco – atenta seriamente contra a economia processual, valor inserido no complexo 
valorativo da efetividade. Ora, se a economia processual pressupõe „obter o maior resultado 
com o mínimo de esforço‟, e se ela pode ser analisada sob a vertente da „eficiência da 
administração judiciária‟, então não se pode analisá-la com o foco apenas na causa individual, 
devendo-se, pelo contrário, focar o sistema como um todo sob o ponto de vista da sua 
logicidade e economicidade”
88
. 
Para que seja possível a instauração do IRDR, o art. 976 do CPC requer que haja, 
simultaneamente, a “efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a 
mesma questão unicamente de direito” e “risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica”, 
o primeiro requisito trata da reincidência de processos que tratem da mesma questão de 
direito, material ou processual
89
, como, por exemplo, no caso de milhares de ações que 
discutam a validade de uma cláusula num contrato de adesão de uma grande operadora de 
telefonia. A segunda condição estabelecida é que essa multiplicidade ofereça risco à isonomia 
e a segurança jurídica, conforme exemplo acima, é uma grave ofensa que se julgue os 
diversos processos sobre a mesma questão de forma desigual, admitindo a tal cláusula 
contratual como válida para determinados consumidores e para outros não, nessa perspectiva 
“o tribunal irá considerar a existência de controvérsia que esteja ensejando a multiplicação de 
 
87
 THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco Bahia; PEDRON, 
Flávio Quinaud Pedron. Novo CPC – Fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 304. 
88
 AMARAL, Guilherme Rizzo. Efetividade, Segurança, Massificação e a Proposta De Um "Incidente De 
Resolução De Demandas Repetitivas”. In:___ Revista de Processo. Vol. 196. São Paulo: Ed. RT, jun. 2011. p.8. 
89
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p.299. 
 
 
29 
 
processos fundados em idêntica questão de direito e capaz de causar grave insegurança 
jurídica, decorrente de coexistência de decisões conflitantes, bem como a conveniência de 
adotar decisão paradigmática”
90
. 
A solução é de grande praticidade, já que permite que as questões de direito tenham 
tratamento isonômico dentro do sistema jurídico, Antônio do Passo Cabral, esmiúça o 
pensamento por traz do IRDR: “É a idéia de resolver coletivamente questões comuns a 
inúmeros processos em que se discutam pretensões isomórficas, evitando-se os problemas de 
mecanismos representativos de tutela coletiva como a legitimidade extraordinária e as ficções 
de extensão da coisa julgada. Mantêm-se os princípios e instrumentos do processo civil 
individual, assegurando o respeito às singularidades. Preservam-se a garantia do devido 
processo legal e o princípio dispositivo em sua plenitude
91
”. 
A grande diferença entre o IRDR e ações coletivas é que o primeiro trata conjuntamente de 
várias ações individuais, resolvendo as questões comuns de direito de forma coletiva por 
questões de isonomia e segurança jurídica, já o segundo, busca tutelar um direito coletivo lato 
sensu em essência por meio de uma ficção jurídico representativa. 
Por fim, o Código de Processo Civil estabelece em seu art. 985, que após o julgamento do 
incidente, sua tese jurídica terá aplicação obrigatória nos processos individuais ou coletivos 
que tratem da mesma questão de direito na jurisdição do tribunal prolator da decisão, 
inclusive para casos futuros. 
5. Incidente de conversão da ação individual em coletiva 
O inovador incidente de conversão da ação individual em coletiva estava previsto no art. 333 
do Projeto do Novo Código de Processo Civil, porém o referido artigo foi vetado pela 
Presidente da República, contudo, tendo em mira o alcance inovador do instituto iremos 
abordá-lo. 
Conforme ressalta o professor Artur César de Souza, trata-se de mais um mecanismo trazido 
pelo novo CPC com o intuito de desafogar o judiciário de forma efetiva, prezando pela 
isonomia e segurança jurídica, “O legislador, ciente e consciente dos prejuízos que podem 
 
90
 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas e Meios de Resolução Coletiva de Conflitos no 
Direito Comparado e Nacional. 4ª. ed. São Paulo: RT, 2014. p.302. 
91
 CABRAL, Antonio do Passo. O Novo Procedimento-Modelo (Musterverfahren) Alemão: Uma Alternativa Às 
Ações Coletivas. In:____ Revista de Processo. Vol. 147. São Paulo: Ed. RT, jun. 2007. p.4. 
 
 
30 
 
gerar as demandas repetitivas, procurou introduzir no novo CPC institutos jurídicos que 
impeçam a proliferação de processos similares, seja mediante a conversão de demandas, seja 
mediante a instituição de institutos que unificam todas essas demandas em uma só resolução 
de conflitos”
92
. 
O vetado art. 333 do CPC enumera dois requisitos para conversão da ação individual em 
coletiva, são eles: a) relevância social, e; b)dificuldade do litisconsórcio. 
O primeiro requisito diz respeito à evidência do um presumido interesse público primário na 
conversão da ação, que é um interesse próprio e inerente às ações coletivas, que conjectura 
uma situação de proveito social amplo, “A „relevância social‟ decorre dos efeitos que poderão 
ser produzidos pela tutela jurisdicional individual, ou seja, a amplitude de seu circulo de 
abrangência nas esferas sociais, na promoção geral (social) de certos valores, como, por 
exemplo, efetividade da tutela jurisdicional, celeridade processual, congestionamento 
importuno dos órgãos jurisdicionais, isonomia de conteúdo jurídico à coletividade, segurança 
jurídica etc”
93
, Artur César de Souza, entende que para que a demanda seja relevante para 
sociedade ela deve atender algum ou alguns dos valores citados, o autor ainda esclarece que 
determinados valores podem ser preciso para um grupo determinado e não gozar do mesmo 
status perante a sociedade como um todo. 
A segunda condição é a “dificuldade de formação do litisconsórcio”, tal requisito tem raízes 
nas class actions estadunidenses, especificamente na Rule 23 (a) (1), sendo que sua 
interpretação aqui dever feita orientada tanto pela numerosidade (numerosity) quanto pela 
impraticabilidade da formação do litisconsórcio, ou seja, não basta que o seja simplesmente 
numeroso a ponto de ensejar a aplicação do art. 113, §1º do CPC
94
, mas que ele também 
quando apresente “[...] dificuldade ou inconveniência de se administrar um processo com a 
presença de todos os interessados, em que se deve manejar um número muito grande de

Continue navegando