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Conduta e Nexo de Causalidade na Responsabilidade Civil

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Aula33 - Cesar Rosalino - Conduta e Nexo de Causalidade
1. RESPONSABILIDADE CIVIL
Nesta aula, serão estudados os tópicos atinentes à conduta e ao nexo de causalidade.
1.1 CONDUTA
Consoante afirmado anteriormente, na responsabilidade civil subjetiva ou clássica, há conduta, dano, nexo de causalidade (liame entre conduta e dano) e culpa.
A conduta corresponde ao comportamento humano voluntário que se exterioriza por meio de uma ação ou omissão, de modo que é possível afirmar que possui dois aspectos: um físico, outro psicológico.
O aspecto físico atinente à ação ou à omissão, a um fazer ou a um não fazer com relevância jurídica e que gera um fato no mundo fenomênico. Verifica-se quando ocorre a exteriorização da conduta. Afinal, enquanto no plano mental, não tem nenhuma consequência jurídica.
O aspecto psicológico, por sua vez, liga-se à voluntariedade do agente, isto é, a liberdade para agir com o discernimento necessário, com consciência do que se está fazendo.
Deve haver conduta e voluntariedade: sem conduta, não há ação humana; sem voluntariedade, não é possível imputar a responsabilidade a um agente.
Desprovido de voluntariedade, o agente não compreende a sua conduta. Desprovido de discernimento, não age com liberdade. Por esse motivo, na responsabilidade civil, não há responsabilidade nos atos involuntários, tais como hipnose ou sonambulismo. Se o sonâmbulo provoca um dano, não pode ser responsabilizado, porque lhe falta voluntariedade. No momento da ação, não tinha como prever o resultado.
Nos atos reflexos, não há voluntariedade. Como consequência, não há conduta, não há responsabilização.
A teoria da actio libera in causa[1] interfere na responsabilidade civil?
Não, salvo em se tratando de relativamente incapaz, nos termos do art. 4º, II, do Código Civil:
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Nesse caso, há incapacidade decorrente de patologia (alcoolismo), e não mera situação caracterizadora de embriaguez. Se o sujeito é considerado incapaz ou portador de patologia, não responderá. A simples ingestão de bebida alcoólica ou substância entorpecente, porém, não afasta a responsabilidade civil. Ademais, se há responsabilidade no campo penal, haverá no civil.
1.2 NEXO CAUSAL
Nexo causal consiste no liame que liga a conduta do agente ao resultado. Trata-se do nexo de imputação, a relação de causa e efeito, o elemento imaterial ou virtual. Segundo Flávio Tartuce, é o “cano virtual” que liga a conduta do agente ao dano, isto é, o vínculo jurídico necessário entre o fato imputado e o prejuízo.
Trata-se da primeira questão a ser enfrentada na solução de uma situação de responsabilidade civil, pois em ambos os tipos de responsabilidade (subjetiva o objetiva), requer-se a presença do nexo causal.
Existe a possibilidade de flexibilização do nexo causal. Em uma das primeiras aulas, afirmou-se que a jurisprudência vem não só flexibilizando, mas, em algumas situações, inclusive desconsiderando-a, a fim de que a vítima não fique sem ressarcimento (ideia de solidarismo social). Disso decorre: em algumas situações específicas, é possível a flexibilização ou ampliação do nexo causal; em outras, a sua desconsideração, para evitar que algum dano reste sem ressarcimento.
1.2.1 CAUSALIDADE ALTERNATIVA
Correspondendo a uma das situações em que o nexo de causalidade foi flexibilizado, abarca hipóteses de responsabilidade civil por ato de terceiro ou por fato da coisa ou do animal. Exemplo: na queda de objeto de um edifício, não sendo possível identificar a sua origem, responderá o condomínio.
Em algumas situações, é impossível identificar o indivíduo que causou o dano, sabendo-se tão somente que a ação partiu de um determinado grupo. Com base na causalidade alternativa, permite-se a imposição da obrigação de reparar o dano a todos os membros desse grupo, de forma solidária.
No exemplo acima, o ato lesivo parte de um grupo, qual seja, o condomínio. A vítima, desse modo, não ficará irressarcida: pelo princípio da causalidade alternativa, imputar-se-á a responsabilidade ao grupo, de forma solidária.
Outro exemplo atine às torcidas de futebol. Muitas vezes, ocorrem danos patrimoniais a particulares ou são realizados atos de vandalismo em vias públicas. Não sabendo a quem responsabilizar individualizadamente, imputa-se a responsabilidade à totalidade da torcida organizada.
1.2.2 TEORIAS DO NEXO CAUSAL
O tema é importante para a compreensão do surgimento do nexo causal. Ao longo da evolução do instituto da responsabilidade civil, surgiram várias teorias perquirindo de que modo imputar um resultado lesivo a alguém.
A primeira teoria, estudada também no Direito Penal, surgiu por volta de 1860, com Von Buri: a teoria da equivalência dos antecedentes ou conditio sine que non. Impõe que todas as condições se equivalem, isto é, tudo o que concorrer para o evento será considerado causa, sendo irrelevante averiguar a maior ou menor distância entre a conduta do agente e o evento danoso.
Por exemplo, em um acidente de carro. A, passando o sinal vermelho, provoca um acidente. Nesse caso, pode-se regredir: se o sujeito não tivesse pegado o carro emprestado, não estaria dirigindo, nem teria provocado o acidente. Do mesmo modo, se o seu amigo não tivesse comprado o carro, não teria emprestado o veículo. Se a montadora não tivesse fabricado o veículo, ele não teria sido comprado.
O regresso, no entanto, é perigoso: há risco de regresso infinito, responsabilizando pessoas e agentes que não tiveram nenhuma conexão com o dano. Por esse motivo, a teoria não é utilizada. No campo penal, sofre o filtro da culpabilidade, por meio do qual se discute quem agiu com culpa.
A segunda teoria, de Von Kries, corresponde à teoria da causalidade adequada, segundo a qual causa é apenas o antecedente que contribuiu de maneira mais relevante para a produção do resultado da forma como ocorreu. No caso concreto, deve-se analisar a causa mais relevante/imprescindível à ocorrência do dano, de modo que envolve a noção de previsibilidade do comportamento.
A teoria, impende sinalizar, também incorre em problemas. Afinal, deixa-se na mão do intérprete aferir qual seria a causa mais relevante para a causação do resultado. De forma apriorística, não há como saber qual seria a causa mais relevante, impondo-se a casuística, à qual se atrela o risco da insegurança jurídica decorrente de interpretações arbitrárias ou inadequadas.
Outra teoria consiste na teoria da causalidade direta ou imediata, isto é, a teoria do dano direto e imediato ou a teoria da interrupção do nexo causal. Nos seus termos, causa é apenas o antecedente fático que se liga, por um vínculo de necessidade, ao resultado, determinando-o tal como ocorreu.
Assim, se a causa consiste em um antecedente fático lógico e ligado por um vínculo de necessidade (se não tivesse acontecido, o dano não teria ocorrido) ao resultado, é o fato ou o ato ligado direta e imediatamente ao dano, isto é, sem interrupções causais ou temporais. Não se fala em causa sem a qual o resultado não teria ocorrido, nem na causa mais relevante, porque não há definição a respeito. Trata-se do fato necessário.
No exemplo do acidente de carro, é simples: o sujeito que atravessou o sinal vermelho causou o dano ao agir de forma ilícita. Não importa quem era proprietário do veículo ou quem o produziu. A causa do acontecimento danoso foi a conduta do agente, o atravessar o sinal vermelho, antecedente necessário, direto e sem interrupção para que o resultado ocorresse: não tivesse passado o sinalvermelho, o acidente não teria ocorrido.
Diferentemente, se o veículo A tivesse colidido no de B em razão de ter sido deslocado por um caminhão. Nesse caso, haverá interrupção do nexo causal, pois o ato deve estar ligado de forma direta, imediata e imprescindível ao ato lesivo.
Qual é a conduta adotada pelo Código?
A doutrina, a respeito, não é unânime. Para alguns doutrinadores, a teoria da causalidade adequada, de Von Kries, seria a adotada pelo Código; para outros, a direta ou imediata. De qualquer modo, prevalece o entendimento que a teoria da causalidade direta e imediata teria sido adotada pelo art. 403 do Código Civil:
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual
O artigo supracitado, embora topograficamente localizado na parte referente aos contratos, aplica-se à responsabilidade civil de um modo geral.
A jurisprudência vacila na aplicação das duas últimas teorias (adequada e direta ou imediata), conforme o caso concreto. Prevalece, no entanto, a última. O STJ, no julgamento do REsp 1198829/MS, pronunciou-se sobre isso:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. REGISTRO DE IMÓVEL INEXISTENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DO TABELIÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. NEXO CAUSAL. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS INFRINGENTES. DEVOLUTIVIDADE.
1. Em embargos infringentes (CPC, art. 530): (a) o desacordo entre votos vencedores e vencido(s) é estabelecido pela conclusão dos votos e não pelos seus fundamentos (que até podem ser diferentes em cada voto); (b) nos limites dessa divergência, o órgão julgador pode acolher uma das conclusões ou pode adotar solução intermediária; em qualquer caso (c) o tribunal não fica vinculado aos fundamentos do acórdão recorrido ? seja dos votos vencedores, seja do(s) vencido(s) ? podendo, se for o caso, adotar fundamentos novos. Precedentes.
2. A imputação de responsabilidade civil ? contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva ? supõe a presença de dois elementos de fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico-normativo, o nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação de pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e limites impostos pelo sistema de direito)
3. Relativamente ao elemento normativo do nexo causal em matéria de responsabilidade civil, vigora, no direito brasileiro, o princípio de causalidade adequada (ou do dano direto e imediato), cujo enunciado pode ser decomposto em duas partes: a primeira (que decorre, a contrario sensu, do art. 159 do CC/16 e do art 927 do CC/2002, que fixa a indispensabilidade do nexo causal), segundo a qual ninguém pode ser responsabilizado por aquilo a que não tiver dado causa; e a outra (que decorre do art. 1.060 do CC/16 e do art. 403 do CC/2002, que fixa o conteúdo e os limites do nexo causal) segundo a qual somente se considera causa o evento que produziu direta e concretamente o resultado danoso.
4. No caso, o evento danoso não decorreu direta e imediatamente do registro de imóvel inexistente, e, sim, do comportamento da contratante, que não cumpriu o que foi acordado com a demandante.
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. (REsp 1198829/MS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 25/11/2010)
Lendo a parte em destaque, o professor pontua que não é qualquer evento que pode ser imputado como causa do ato ilícito e gerador da responsabilidade civil. Somente se considera causa o evento que produziu direta e concretamente o evento danoso.
[1] Teoria do Direito Penal que abrange o caso do sujeito que se embriagada para cometer um ilícito. Não poderá, nesse caso, arguir, como defesa, a embriaguez. Afinal, quando ingeriu bebida alcoólica, era livre na causa.
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