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Pessoas Jurídicas: Conceito, Teorias e Espécies

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Aula12 - Luciano Masson - Das Pessoas Jurídicas, Conceito, Teorias, Espécies. Dos Entes Não Personalizados
1. PESSOAS JURÍDICAS
A pessoa jurídica é uma reunião de pessoas ou de patrimônios objetivando uma finalidade específica. A união de pessoas é chamada de universitas personarum e a reunião de bens, universitas bonorum, objetivando uma determinada finalidade.
O que são?
Unidade de pessoas naturais ou patrimônios que visa à consecução de certos fins, reconhecidas como sujeito de direito e de obrigações. POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA PRÓPRIA e também RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL PRÓPRIA.
A partir do momento que a pessoa jurídica é constituída, ela possui personalidade jurídica distinta dos seus sócios, administradores e diretores. Esta personalidade conduz a responsabilidade patrimonial também distinta das pessoas físicas que a compõe.
Em que momento há a constituição da pessoa jurídica?
A partir do registro do seu ato constitutivo, na junta comercial ou no cartório, ou da publicação da lei que a criou.
São requisitos para a constituição de pessoas jurídicas:
a) organização de pessoas;
b) licitude de propósitos;
c) capacidade jurídica reconhecida pelo direito.
1.1 TEORIAS QUE EXPLICAM A NATUREZA JURÍDICA DAS PESSOAS JURÍDICAS
Três teorias objetivam explicar a natureza jurídica das pessoas jurídicas:
i. Teoria da ficção (Savigny): declara que a pessoa jurídica é uma ficção criada por lei. Há uma crítica a esta teoria porque o Estado é uma pessoa jurídica de direito público, e este não pode ser pensado como uma ficção, tampouco as normas que dele derivam.
ii. Teoria da realidade objetiva ou orgânica (Gierke e Zitelmann): estabelece que a pessoa jurídica possui existência e vontade própria, porém, o equívoco encontrado nela é que a vontade, exteriorização do querer, é inerente à pessoa física. A pessoa jurídica, por si só, é um ente inanimado, a manifestação de vontade ocorre por meio do diretor, sócio, associado.
iii. Teoria da realidade das instituições jurídicas/realidade técnica (Hauriou): é a melhor aceita pela doutrina, que entende ser a adotada pelo CC/02. A pessoa jurídica é uma realidade criada por lei, cujo inicio da capacidade é editada também por lei.
1.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS
Da classificação das pessoas jurídicas:
I. Quanto à nacionalidade:
a) Pessoa jurídica nacional - organizada conforme a legislação brasileira, tendo sede no país (artigos 1.126 a 1.133, CC);
b) Pessoa jurídica estrangeira - organizada conforme a lei estrangeira, tendo sede no exterior. Depende de autorização do Poder Executivo para atuar no Brasil (artigos 1.134 a 1.141, CC), ou seja, ato de soberania nacional. O Decreto 5.664/06 havia delegado a competência ao Ministro do Estado e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para autorizar que sociedades estrangeiras funcionassem no país. Contudo, o decreto nº. 8.803 de 6 de julho de 2016 superou o decreto 5.664/06, e delegou a competência para autorizar que sociedades estrangeiras funcionem no país ao Ministro de Estado Chefe da Casa Civil.
II. Quanto à estrutura:
a) Universitas personarum: conjunto de pessoas que goza de direitos coletivamente, por meio de vontade única. Ex: associações.
b) Universitas bonorum: patrimônio com personalidade, destinado a uma finalidade. Ex: fundações.
Quem são as pessoas jurídicas de direito público interno ou externo e de direito privado?
Pessoas jurídicas de direito público: Art. 41, CC, são pessoas jurídicas de direito público interno: União, Estados, Distrito Federal e os Territórios; Municípios; as autarquias (Ex.: INSS, INCRA, USP), inclusive as associações públicas, bem como as demais entidades de caráter público criadas por lei (Ex.: Fundações públicas- FAPESP; agências reguladoras- ANEEL, ANATEL). No art. 42, CC, são pessoas jurídicas de direito público externo, os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público (Ex.: Mercosul, União Europeia, ONU, FMI).
Pessoas jurídicas de direito privado: (Art. 44, CC) associações, sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI- CC, art. 980-A), que são as pessoas jurídicas com um único sócio.
O art. 44 do CC estabelece um rol taxativo ou exemplificativo?
A doutrina mais tradicional diz que o rol do art. 44 é taxativo, assim sendo, o condomínio edilício não possuiria personalidade jurídica. Todavia, doutrina moderna entende que o rol do art. 44 é exemplificativo, razão pela qual o condomínio possuiria personalidade jurídica própria, independente dos condôminos. Uma terceira posição, intermediária, fala em personalidade anômala ou restrita.
QUESTÃO
2016 - CESPE - INSTITUTO RIO BRANCO - DIPLOMATA- PROVA 2
Acerca da personalidade jurídica, da hierarquia das normas e dos princípios, direitos e garantias fundamentais constantes da Constituição Federal de 1988, julgue (C ou E) o item que se segue.
Ao adquirir personalidade jurídica, a pessoa jurídica torna-se suscetível de direitos e obrigações e passa a ter existência própria, independentemente da pessoa de seus sócios, instituidores e administradores.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO
Assertiva Correta. (CC, art. 45) Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Art. 985: A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).
A pessoa física inicia a sua personalidade a partir do nascimento com vida, ressalvado os direitos do nascituro (art. 2º do CC/02), quanto às pessoas jurídicas a existência inicia-se com a inscrição dos atos constitutivos no registro próprio, no cartório de registro das pessoas jurídicas ou na junta comercial.
1.3 ARTIGOS IMPORTANTES
Atenção aos artigos citados:
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
ATENÇÃO: Este artigo trata da responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de direito público interno, assim como o art. 37, §6º da CF/88.
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações; IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos.VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. § 1 São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. § 2 As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.§ 3 Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica.
ATENÇÃO: O Estado é laico, sem intervenções indevidas nas organizações religiosas
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
1.4 DOS ENTES NÃO PERSONALIZADOS/PERSONIFICADOS
Entes despersonalizados são coletividades de seres humanos ou de bens que não possuem personalidade jurídica própria.
Quem são?
Massa falida, herança jacente ou vacante, grupos de consórcio, grupos de convênio médico, sociedade de fato (ainda não foram constituídas) e sociedade irregular.
Essascoletividades não tem personalidade própria porque o seu objetivo é atender meramente a necessidades internas de organização dos seus integrantes.
O condomínio edilício tem personalidade jurídica?
1ª posição (Washington de Barros Monteiro): condomínio edilício não tem personalidade jurídica própria, pois o rol do art. 44 CC é taxativo, bem como por não haver affectio societatis. Pode ter CNPJ apenas para facilitar a organização interna, e não confere personalidade jurídica.
2ª posição (Silvio Venosa): o condomínio edilício possui uma “personalidade anômala” ou restrita. Não é personalidade propriamente dita, já que não há affectio. O que ocorre é que, em algumas hipóteses, há outorga de personalidade para uma finalidade específica. Ex.: art. 63, §3º da Lei 4591/64 (lei do condomínio edilício e incorporações)- condomínio edilício tem preferência na aquisição da propriedade.
3ª posição (Flávio Tartuce): o condomínio possui personalidade própria, pois o rol do art. 44 é apenas exemplificativo, conforme Enunciado 144 CJF. Isso se dá em razão do contorno que o condomínio edilício assumiu atualmente, deixando de ter objetivo apenas de organização interna no âmbito dos seus integrantes, passando a praticar atos externos. É o posicionamento mais atual, além de ser adotado CJF.
Enunciado 144 CJF: art. 44- a relação das pessoas jurídicas de Direito Provado, constante do art. 44, insc I a V, do Código Civil, não é exaustiva.
Enunciado 90 CJF: Art. 1331- Deve ser reconhecida a personalidade jurídica ao condomínio edilício nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse. (Alterado pelo Em. 246 da III Jornada).
Enunciado 246 CJF: Art. 1.331- Fica alterado o Enunciado n. 90, com supressão da parte final: “nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse”. Prevalece o texto: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício.”
Material Complementar
Documento
40018_Aula12_D. Civil_Das pessoas jurídicas,conceito, teorias, espécies. Dos entes não personalizados.pdf
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Direito Civil
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