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Seção 1 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CONSTITUCIONAL Olá, querido aluno! Você já identificou que a ação proposta será uma Ação Popular, não foi mesmo? Essa ação pode ser proposta por qualquer cidadão para anular ato lesivo ao patrimônio público e à moralidade administrativa, conforme a previsão do art. 5º, LXXIII, da CF/88. Ela deve ser endereçada ao juiz de primeiro grau da Justiça Estadual. O objeto dela é o decreto editado pelo Prefeito de São Caetano, transferindo o serviço de estacionamento público “Zona Azul” para uma associação sem o devido procedimento licitatório. Questão muito importante da Ação Popular é que a Lei nº 4.717/65 exige que o autor preencha os requisitos legais, devendo, obrigatoriamente, juntar aos autos a cópia do seu título de eleitor. No polo passivo (art. 6º, § 2º, Lei nº 4.717/65) deverão estar arrolados o prefeito, o Município de São Caetano e a Associação dos Comerciantes de São Caetano, em razão de haver a necessidade de devolução dos valores irregularmente recebidos pela associação. Nos pedidos, deve ser requerida a intimação do Ministério Público, para que atue como fiscal da lei, o chamado custos legis (art. 7º, I). Vamos conferir o espelho da peça elaborada? Seção 1 DIREITO CONSTITUCIONAL Na prática! EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA COMARCA DE SÃO CAETANO – ESTADO DE PERNAMBUCO LUIZ AUGUSTO, cidadão em pleno gozo dos direitos políticos, brasileiro, comerciante, inscrito no CPF sob o nº, RG sob o nº SSP/PE, Título de Eleitor nº 12345 (documento anexo), residente e domiciliado (endereço completo), por meio de seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem propor a presente: AÇÃO POPULAR em face de ato administrativo ilícito e imoral praticado pelo Exmo. Sr. Prefeito do Município de São Caetano, Senhor Jacinto Jacaré, com CPF nº, RG nº, endereço comercial (endereço completo), do Município de São Caetano/PE, pessoa jurídica de direito público, CNPJ nº, situada (endereço completo), no estado de Pernambuco, que deverá ser citada na pessoa de seu prefeito e de seu órgão formal de advocacia pública e da Associação Comercial de São Caetano, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ nº, situada (endereço completo), pelo seu representante legal. Da comprovação da condição de cidadão Salienta o autor que, em cumprimento ao disposto no § 3º do art. 1º da Lei nº 4.717/65, junta aos autos a cópia de seu título de eleitor e do comprovante de quitação eleitoral, fazendo prova de sua cidadania, que o autoriza a propor a presente demanda judicial. Das custas Não há nos presentes autos o pagamento de custas e preparo, em razão da isenção prevista no art. 5º, LXXIII, parte final, da CF/88, e que, em caso de má-fé, o que não se configura nos presentes autos, estes somente serão exigidos ao final (art. 10, Lei nº 4.717/65). Dos fatos Por meio de um decreto (Decreto Municipal nº 01/2019), o prefeito, Sr. Jacinto Jacaré, transferiu a cobrança do serviço de estacionamento em locais públicos, denominado “Zona Azul”, para uma Questão de ordem! associação de comerciantes locais (ACSC-PE), cujo presidente, Sr. Sombra, é seu amigo pessoal e principal colaborador de sua campanha eleitoral. Ocorre que ele transferiu o serviço sem que fosse realizada a devida licitação, modalidade imposta aos entes públicos para realizar a denominada concessão de serviços públicos. Agindo assim, o prefeito violou diversos princípios da administração pública previstos na Constituição Federal, o que se configura como ato lesivo à moralidade administrativa, consoante os fatos e fundamentos de direito que se passa a expor: Da legitimidade passiva – do litisconsórcio passivo e as vantagens indevidas No que diz respeito à condição de legitimado passivo para responder à presente ação, a Lei nº 4.717/65 dispõe o seguinte em seu art. 6º: Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo. (BRASIL, 1965, [s.p.]) É evidente, portanto, a legitimidade passiva que compõe o litisconsórcio passivo necessário aqui apontado, uma vez que o ato lesivo ao patrimônio público foi produzido pelo réu, por meio de ato administrativo da municipalidade, e que os benefícios indevidos diretos caberão à Associação dos Comerciante de São Caetano (ACSC-PE). Diante do recebimento irregular de dinheiro público, essa associação deve apresentar dados contábeis que comprovem detalhadamente as operações realizadas em nome da prestação do serviço de “Zona Azul” nesta municipalidade, bem como que todos os valores recebidos sejam devolvidos com a devida correção monetária e juros, desde a citação na presente ação, o que será objeto de futura liquidação de sentença. Do cabimento da Ação Popular A Constituição Federal, em seu art. 5º, LXXIII, prevê que qualquer cidadão é parte legítima para propor Ação Popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Dessa forma, cabível a presente ação, eis que tem por finalidade a preservação da moralidade administrativa, a impessoalidade e a não realização de procedimento licitatório. Ferimento à moralidade administrativa O ato do prefeito é dotado de evidente má-fé, falta de ética e de zelo com a coisa pública, visto que transferiu à associação dos comerciantes, cuja presidência quem assume é seu amigo íntimo e colaborador de sua campanha eleitoral, um serviço que constitui fonte de renda ao próprio município sem que, por outro lado, constitua despesa para essa mesma entidade. Ferimento à impessoalidade administrativa É fato notório que o presidente da associação é, além de amigo pessoal íntimo do prefeito, o seu maior contribuinte da campanha eleitoral. Sem qualquer especialização notória na área do serviço concedido (estacionamento em vagas públicas), ele foi agraciado com a concessão do serviço à associação que preside. Ferimento ao princípio da obrigatoriedade de licitação Como dito, a concessão do serviço municipal de estacionamento “Zona Azul” foi transferida à associação comercial sem que houvesse qualquer tipo de procedimento administrativo licitatório, assim como não há sequer justificativa devidamente fundamentada de dispensa ou inexigibilidade de licitação. Patente, portanto, o ferimento ao art. 37, caput, da Constituição da República: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte” (BRASIL, 1988, [s.p.]); e o seu inciso XXI: Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. (BRASIL, 1988, [s.p.]) Dos requerimentos e pedidos a) Requer a citação do Prefeito de São Caetano, da Municipalidade de São Caetano, bem como da Associação Comercial de São Caetano (ACSC-PE), por meio de seu representante legal, para que, no prazo legal, contestem a presente ação. b) A intimação do representante do MinistérioPúblico, para acompanhar a presente ação como custos legis, conforme o art. 7º, I, a), da Lei nº 4.717/65. c) Requer que seja declarado nulo o Decreto nº 123456, de concessão do serviço público de estacionamento em local público “Zona Azul” à Associação Comercial de São Caetano (ACSC-PE), bem como esta pessoa jurídica de direito público seja intimada a fornecer seus documentos contábeis referentes à prestação do serviço indicado e a devolver aos cofres municipais todos os valores indevidamente recebidos em decorrência deste serviço. d) Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, inclusive testemunhal, contábeis e periciais, sem exceção. Requer, assim, a integral procedência da ação e a condenação dos réus ao pagamento, ao autor, das custas e demais despesas, judiciais e extrajudiciais, relacionadas com a ação, bem como os honorários advocatícios na forma do art. 12, da Lei nº 4.717/65. Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) para fins fiscais. Termos em que pede deferimento. São Caetano, Pernambuco, dia, mês e ano. Nome e assinatura do advogado Nº da OAB 1. Por que, no presente caso, é cabível a Ação Popular, e não a Ação Civil Pública? 2. Por que é necessário demonstrar a condição de cidadão na Ação Popular? Qual é a noção de cidadania para essa finalidade? 3. Quais são os principais princípios constitucionais da administração pública? Há outros princípios administrativos não previstos na Constituição? 4. A moralidade administrativa se confunde com a moralidade do particular? 5. O princípio da legalidade é igual para a administração pública e para o particular? Referências BRASIL. Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação popular. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4717.htm. Acesso em: 22 dez. 2019. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 dez. 2019. Resolução comentada http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4717.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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