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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE DEVASTAÇÃO - ES
A Associação de Proteção dos Pescadores de Devastação (APPD), da comarca de xxx, com fundamento no artigo 5º, I da Lei 7347/85, vem por meio da presença de Vossa Excelência, propor o presente:
RECURSO DE APELAÇÃO
Com base nos arts. 1.009 a 1.014, ambos do CPC/2015, requerendo, na oportunidade, que o recorrido seja intimado para, querendo, ofereça as contrarrazões e, ato continuo, sejam os autos, com as razões anexas, remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco para os fins de mister.
Termos em que se pede e espera deferimento.
local, data.
ASSINATURA DO ADVOGADO
OAB
RAZÕES RECURSAIS
Apelante: Associação De Proteção Dos Pescadores De Devastação (APPD)
Apelado: União Federal e Monte do Rio Sujo
Origem: processo nº xxx
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE DEVASTAÇÃO - ES
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO – ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
Eméritos Desembargadores,
I – DOS FATOS 
Ocorre que a cidade de Devastação foi destruída pelos dejetos provenientes do colapso da barragem de uma mineradora localizada no próprio município, a empresa Montanha do Rio Sujo. Ficou constatado que, apesar de diversas denúncias e reclamações a respeito da manutenção da barragem e mesmo após a notificação de seus órgãos fiscalizadores, a União Federal nada fez. A falta de cuidado da mineradora e a negligência da União quanto à fiscalização causaram a destruição de grande parte do meio ambiente local e também de um rio que percorre dois estados da federação, chegando, inclusive, a poluir as praias do litoral do Espírito Santo e a ocasionar, consequentemente, a morte de milhares de peixes e animais marinhos. Além de perderem suas casas, muitas famílias de pescadores perderam entes queridos, que morreram na lama de dejetos, e absolutamente todos os associados estão impedidos de praticar a pesca (única fonte de sobrevivência) em razão do grande dano causado pela mineradora. Não bastasse isso, a empresa não tomou nenhuma providência para evitar novos vazamentos de material tóxico, o que tornou permanentes os danos ambientais sofridos por aquela população, e a União nada fez para impedir esse resultado devastador. No papel de advogada da APPD, foi interposta a inicial de Ação Civil Pública (ACP) e liminarmente pediu a imediata cessação dos danos ambientais e a indenização dos associados na exata medida dos danos por eles sofridos. Como pedido liminar, foi requerido que fossem depositados, imediatamente, a quantia equivalente a dez salários mínimos mensais para cada um dos associados como medida de prover o seu sustento em razão da perda de suas moradias e meio de sobrevivência diante dos danos ambientais que causaram a impossibilidade do exercício da atividade de pesca. A liminar não foi concedida, o que fez com que foi interposto o recurso de Agravo de Instrumento, cuja tutela de urgência foi concedida pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região – estado do Espirito Santo. Contudo, após a decisão do agravo, o juiz de primeiro grau julgou improvidos os pedidos da ação, extinguindo-a sob o fundamento de que não houve a comprovação da negligência, da imprudência ou da imperícia da empresa ré, afastando o cabimento das indenizações requeridas, de modo que não poderia haver o estabelecimento de indenização e que não haveria, assim, o dever de cessar os danos ambientais experimentados na região. 
II– DO CABIMENTO
Há adequação do presente recurso com a espécie de decisão proferida, visto que tem seu cabimento delineado pelo artigo 994 do Código de Processo Civil.
Como a decisão recorrida consiste em sentença com fundamento no art. 487, inc. I, CPC (Lei nº 13.105/2015), comporta recurso de apelação nos termos dos arts. 994, inc. I e 1.009 (“da sentença cabe apelação”) do CPC (Lei nº 13.105/2015).
A Lei 7347/85 que trata da Ação Civil Pública, em seu artigo 1º estabelece que:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I – ao meio ambiente
[...]
IV – a qualquer outro interesse difuso e coletivo.
Como já exposto nos fatos, o processo de mineração da empresa ré verificou-se a contaminação do meio ambiente, que é um direito difuso, de acordo com os ensinamentos de Marcelo Abelha (2004, p. 43).
“O interesse difuso é assim entendido porque, objetivamente estrutura-se como interesse pertencente a todos e a cada um dos componentes da pluralidade indeterminada de que se trate. Não é um simples interesse individual, reconhecedor de uma esfera pessoal e própria, exclusiva de domínio. O interesse difuso é o interesse de todos e de cada um ou, por outras palavras, é o interesse que cada indivíduo possui pelo fato de pertencer à pluralidade de sujeitos a que se refere à norma em questão”[1]
Como bem pontua Marcelo Abelha, direito difuso é aquele que pertence a todos abrangendo uma totalidade abstrata e indeterminada. Neste viés, percebe-se, que a agressão ao meio ambiente atinge a todos e, ainda, no que tange acerca dos direitos individuais homogêneos das cem famílias que foram prejudicadas pela contaminação da lagoa impossibilitando a pesca, sua maior fonte de renda.
III – DA TEMPESTIVIDADE
O presente recurso de apelação é tempestivo, visto que interposto dentro do prazo de 15 dias determinado pelo artigo 1.003, § 5º do CPC/15 (Lei nº 13.105/2015).
Conforme o artigo 1.003, “caput” do CPC/15 (Lei nº 13.105/2015), a decisão que ora se recorre foi disponibilizada no Diário de Justiça Eletrônico (DJE) em DATA, de modo que considera-se que foi publicada no dia útil imediatamente seguinte, ou seja, em DATA.
Assim, em DATA iniciou-se o prazo para a interposição do recurso de apelação (dies a quo), de modo que o 15º, último dia do prazo, é DATA (dies ad quem).
Portanto, resta demonstrada a tempestividade do presente recurso.
IV – DO PREPARO 
associação em autoria de Ação Civil Pública goza de gratuidade dos atos processuais na persecução das tutelas coletivas e não precisa demonstrar o pagamento de custas de preparo e remessa.
VI – LEGITIMIDADE ATIVA
Associação De Proteção Dos Pescadores De Devastação (APPD) preenche os requisitos do art. 5º da Lei nº 7.347/85, portanto legitima.
A legitimidade se da com fundamento no Art. 5º, V da Lei 7347/85, senão vejamos:
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 
V - a associação que, concomitantemente: 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
 b) inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. 
Além disso vale trazer o art. 5º, inciso XXI, da Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
Dessa forma, possui interesse social da parte autora, ficando demonstrado, inclusive, que pela dimensão do dano provocado, por meio de laudo pericial, a contaminação existente na lagoa em questão.
Fica demonstrado, então, a legitimidade ativa da Associação de Pescadores da Lagoa para ingressar como polo ativo nesta ação civil pública.
VI – LEGITIMIDADE PASSIVA
Qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, pode figurar no polo passivo de uma ação civil público, desde que atente contra qualquer dos bens juridicamente tutelados na ação civil pública, de acordo com as sumulas 283 do STF e 7 do STJ.
Para José Maria Tesheiner,
[...] Em relação à legitimação passiva nas ações coletivas, se considerada a generalidade dos casos, não se encontram maiores discussõessobre quem deva figurar no polo passivo. Em princípio, as mesmas pessoas (físicas ou jurídicas) podem ser apontadas como parte passiva tanto nas ações individuais quanto nas coletivas.[2]
Resta afirmar, que todos aqueles que causaram prejuízo ao meio ambiente, podem, ser sujeitos passivos numa Ação Civil Pública.
VII – FUNDAMENTOS DE MÉRITO.
De acordo com caput do ART. 225 CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”.
De acordo com o ART. 14 § 1º da lei 6938/81 o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
VIII - DA NECESSIDADE DE PROVER O EFEITO SUSPENSIVO
Com fulcro no artigo 1.019, inciso I, do Código de Processo Civil, requer a atribuição de efeito suspensivo ao agravo de instrumento, haja vista que,
Consoante a existência da possibilidade para expedir EFEITO SUSPENSIVO da decisão de primeira instancia, considera-se, necessário que se conceda para que, a empresa Ré tome as devidas providências para que cesse a contaminação do meio ambiente e imediatas medidas de reparação.
Visto que configura o “Fumus Boni Iuris” e também se configura o “Periculum In Mora.
Enseja-se com o pedido de efeito suspensivo em razão da ameaça ao meio ambiente, qual seja, a destruição de grande parte do meio ambiente local e também de um rio que percorre dois estados da federação, chegando a poluir, inclusive, as praias do litoral do Espírito Santo e a provocar, consequentemente, a morte de milhares de peixes e animais marinhos.
IX - MÉRITO RECURSAL
O princípio do poluidor pagador é um dos pilares do moderno direito ambiental e traz a concepção de que, quem polui, deve responder pelo prejuízo que causa ao meio ambiente. E a sua responsabilização se dá em forma de pagamento que, por sua vez, pode consistir em uma prestação em dinheiro mesmo, ou em atos do poluidor, com fundamento no art.14, § 1º da Lei nº 6.938/81, se não vejamos:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Vale trazer o fundamento constitucional a respeito do tema previsto no art. 225 da carta magna, vejamos:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;       
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;        
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;         
 VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
X – PEDIDOS
Em virtude do exposto, requer se:
a) reforma da decisão de primeiro grau que julgou improcedentes os pedidos.
b) intimação do Ministério Público Federal. 
c) cessação do dano sob pena de multa.
d) indenização de danos morais e patrimoniais a todos os associados na medida dos danos sofridos.
Termos em que pede e espera deferimento.
Cidade, XX de XXXXX de XXXX.
Mariana ASSINATURA DO ADVOGADO
OAB/UF

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