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1 1. Introdução O termo “biopharmaceuticals” foi cunhado na década de 1980 para designar produtos gerados ou produzidos por técnicas da Biotecnologia moderna, por meio de organismos engenheirados, e para diferenciá-los dos produtos biológicos tradicionais (Walsh, 2014), extraídos diretamente a partir de fontes biológicas, tais como proteínas obtidas do plasma ou de plantas. Esta definição foi consolidada em 2002 em um artigo sobre a questão de nomenclaturas na área biofarmacêutica (Walsh, 2002): “A biopharmaceutical is a protein or nucleic acid based pharmaceutical substance used for therapeutic or in vivo diagnostic purposes, which is produced by means other than direct extraction from a native (non-engineered) biological source’’ Como, em termos de mercado, as proteínas recombinantes terapêuticas são largamente dominantes, é comum usar o termo biofármacos como sinônimo para as mesmas. Contudo, quando se fala do “setor biofarmacêutico” ou de “produtos biofarmacêuticos” em geral, estão normalmente - e também no presente texto - incluídas as vacinas baseadas em proteínas recombinantes e as terapias baseadas em ácidos nucleicos (terapias gênicas e oligonucleotídeos antissenso). Além destes produtos, englobam os produtos biotecnológicos aplicados à saúde humana também as terapias celulares (onde células são os produtos voltados para medicina regenerativa e engenharia de tecidos) e os produtos de uso diagnóstico (“in vitro” ou “in vivo”). Até julho de 2014, 246 produtos biofarmacêuticos tinham recebido licença nos EUA ou na União Europeia (UE), sendo que, em termos de princípios ativos, os mesmos continham apenas 166 princípios diferentes. Entre 1995 e 2014, o número de novos produtos biofarmacêuticos aprovados nestas regiões manteve-se aproximadamente constante, entre 50 e 60 a cada quinquênio. Dos 54 produtos aprovados entre 2010 e julho de 2014, cerca de 40% foram produtos não verdadeiramente novos (biossimilares, aprimoramentos de produtos existentes, produtos já comercializados em outras regiões, etc.), ou seja, somente 32 deles, contendo 30 princípios ativos novos, são considerados produtos genuinamente novos. No período 2010-2014, houve vários marcos importantes (Walsh, 2014): a aprovação do primeiro anticorpo monoclonal biossimilar em 2013 na UE (produto infliximabe, de dois fabricantes: Celltrion, com o nome comercial Remsima, e Hospira, de nome comercial Inflectra); a aprovação, pela primeira vez em um dos mercados ditos “altamente regulados”, de uma terapia gênica (UE, 2012, empresa UniQure, produto Glybera – alipogene tiparvovec); 2 a aprovação em 2012, nos EUA, do primeiro biofármaco produzido em células vegetais (empresa Protalix Biotherapeutics/Pfizer, produto glucocerebrosidase/taliglucerase alfa); a aprovação em 2010 na UE e em 2014 nos EUA do segundo biofármaco produzido no leite de animais transgênicos (empresa Pharming, produto Ruconest, produzido em coelhos transgênicos), seguindo-se ao produto Atryn, produzido no leite de cabras transgênicas, que havia sido aprovado em 2009 nos EUA. No Brasil, os gastos com medicamentos saltaram de R$ 1,9 bilhão em 2004 para R$ 12,9 bilhões em 2014 e aproximadamente R$ 14 bilhões em 2015, sendo que os produtos biofarmacêuticos representam cerca de 51% dos gastos do Ministério da Saúde com medicamentos, embora respondam por apenas cerca de 4% das unidades adquiridas, refletindo o alto custo dos produtos biotecnológicos (Ministério da Saúde, 2014; Ministério da Saúde, 2015; Valor Econômico, 2014; ABRADILAN, 2015). Diferentemente das vacinas, que são majoritariamente produzidas no Brasil, embora por meio de pacotes tecnológicos adquiridos de grandes empresas internacionais, ainda não há produção local de princípios ativos de biofármacos. A importação dos princípios ativos e/ou dos produtos acabados aumenta ainda mais os gastos nesta área. Por esta razão, a implementação das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) de produtos biofarmacêuticos e a consequente implementação da manufatura destes produtos no Brasil podem ter um impacto significativo nos gastos governamentais e contribuir para um maior acesso da população aos modernos produtos de origem biotecnológica. O crescimento do mercado farmacêutico está associado, dentre outros fatores, ao aumento da expectativa média de vida da população mundial. Para os produtos biofarmacêuticos, isto se aplica em especial, visto que muitos dos produtos são indicados para doenças mais prevalentes em idades mais avançadas, tais como câncer e doenças inflamatórias. Entre 1980 e 2012, por exemplo, a expectativa média de vida subiu de 75 para 82 anos na Austrália, 65 para 75 anos na China, 73 para 81 anos na Alemanha, de 58 para 73 anos na Turquia, de 67 para 77 no México, e de 61 para 68 anos no mundo como um todo (Kalorama, 2013). No Brasil, a situação não é diferente. A estrutura demográfica brasileira está em significativa modificação, refletindo um envelhecimento da população. Em 2030, estima-se que haverá mais de 41 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 60 anos (IBGE, 2013). Isto, associado à distribuição de renda ocorrida no País na última década, resultou no crescimento do mercado brasileiro de medicamentos. Entre 2003 e 2011, o País passou da décima para a sexta posição no mercado farmacêutico mundial, e estimativas da consultoria IMS Health indicam que o Brasil poderia alcançar a quarta posição em 2016 (PharmExec, 2014), ultrapassando França e Alemanha e ficando atrás apenas dos EUA, China e Japão. 3 Dados da IMS Health (IMS Retail Drug Monitor, março de 2014), citados em EFPIA (2014), mostram que o mercado farmacêutico brasileiro cresceu 14% em 2013, comparado com 3% no caso dos EUA e 1% nas 5 maiores economias europeias. Neste relatório, verifica-se, ainda, que a indústria farmacêutica e de biotecnologia mundial é, dentre os mais diversos setores da economia, o setor mais intensivo em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com cerca de 14,4% de suas vendas líquidas sendo reinvestidos em P&D. Isto se deve, principalmente, ao valor de US$ 1,5 bilhão estimado em 2012 para a pesquisa e o desenvolvimento de uma nova molécula química ou biológica, assim como ao longo tempo (12-13 anos) requerido para um produto que venha a ter êxito em seu desenvolvimento chegar ao mercado (EFPIA, 2014). Dentre os produtos em desenvolvimento em 2012, cerca de 10.000 produtos terapêuticos encontravam-se em etapas de P&D, com cerca de 41.000 ensaios clínicos então em andamento. Destes, cerca de 40% eram produtos biofarmacêuticos e aproximadamente 60% eram pequenas moléculas (Bioplan Associates, 2012). Relatório da empresa McKinsey de dezembro de 2014 indica que o mercado biofarmacêutico, naquele momento, representava US$ 163 bilhões em vendas anuais, ou cerca de 20% do mercado farmacêutico total. Ainda segundo esta fonte, o número de biológicos em ensaios clínicos seria de mais de 1.500, estimativa esta um pouco inferior à de 2.500 citada acima. De qualquer modo, uma “pipeline” de cerca de 2.000 novos produtos indica a continuidade do crescimento do setor biofarmacêutico no futuro. As vendas do setor biofarmacêutico ultrapassam, portanto, o Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 75% das economias do mundo, de acordo com os dados compilados pelo Banco Mundial, que incluem 214 países (Walsh, 2014). Em 2013, um total de 37 produtos biofarmacêuticos ultrapassou o volume de vendas de USD 1 bilhão, sendo considerados drogas “blockbuster” (Walsh, 2014). Dados de 2013 apresentados na Tabela 1 (FirstWord Pharma, 2014) confirmam a importância dos produtos biofarmacêuticos no setor farmacêutico. Os 10 produtos com maior volume de vendas no mundo somaram um total superior a USD 75 bilhões em 2013, sendo que todos, individualmente, superaram a marca de USD 5 bilhões em vendas. Além disso,observa-se que: o produto mais vendido no mundo, com vendas em 2013 superiores a USD 10 bilhões, foi o anticorpo monoclonal Humira (adalimumabe), indicado para o tratamento de artrite reumatoide; dentre os 5 produtos farmacêuticos mais vendidos no mundo, 4 eram biofármacos; dentre os 10 produtos farmacêuticos mais vendidos no mundo, 7 eram biofármacos. 4 Tabela 1 – Produtos farmacêuticos com maior volume de vendas em 2013 no mundo (FirstWord Pharma, 2014). Os biofármacos foram marcados em itálico. Produto Indicação principal Empresa Vendas em 2013 (106 USD) Vendas em 2012 (106 USD) Aumento 2012-2013 (106 USD) Humira Artrite reumatoide AbbVie 10659 9265 1394 Remicade Artrite reumatoide J&J/Merck & Co 8944 8215 729 Rituxan Limfoma non-Hodgkin Biogen Idec/Roche 8583 8266 317 Enbrel Artrite reumatoide Pfizer/Amgen 8325 7973 352 Seretide/Advair Asma/COPD GlaxoSmithKline 8243 7887 356 Lantus Diabete Sanofi 7589 6586 1003 Avastin Câncer colorretal Roche 6746 6217 529 Herceptin Câncer de mama Roche 6557 6352 205 Crestor Dislipidemia AstraZeneca 5622 6253 -631 Abilify Esquizofrenia Otsuka/BMS 5158 5308 -150 Segundo relatório da empresa McKinsey (2014), a taxa anual de crescimento do setor biofarmacêutico estava em 8% (o dobro do setor farmacêutico como um todo), com uma expectativa de manutenção deste crescimento no futuro. Segundo este relatório, o índice de sucesso no desenvolvimento de produtos biofarmacêuticos tem sido o dobro daquele alcançado para pequenas moléculas farmacêuticas, com cerca de 13% dos produtos biofarmacêuticos que entram em fase I de estudos clínicos chegando à comercialização. Isto justificaria os melhores retornos que os investimentos de P&D em biológicos têm tido. Além disso, segundo este mesmo relatório, é esperada uma contínua renovação do “pipeline” de produtos biofarmacêuticos, visto que, desde 1995, o número de patentes depositadas nesta área tem crescido em torno de 25% ao ano. Apesar do cenário otimista, as tecnologias adotadas para o desenvolvimento e manufatura destes produtos são complexas, ainda não atingiram a maturidade e muitos desafios ainda se colocam, no que diz respeito a diferentes aspectos: demanda para redução de custos e maior acessibilidade; complexidade da cadeia de fornecedores e das operações; novas plataformas tecnológicas de manufatura; requerimentos de qualidade e regulatórios. Muitas reformulações são previstas para este setor industrial (McKinsey, 2014). As empresas inovadoras globais terão que focar na inovação de produtos e se manter na fronteira tecnológica, explorando novos desenhos operacionais. Os produtores de 5 biossimilares terão que focar em custo, qualidade e escala, visto que, para eles, a velocidade, a inovação em processos produtivos e a excelência operacional são fatores de sobrevivência. Empresas prestadoras de serviços de manufatura (“contract manufacturing organizations” - CMOs) terão que se manter na fronteira da eficiência operacional e da inovação em processos produtivos, garantindo elevada reputação em termos de serviços e desempenho. Verdadeiras evoluções nas tecnologias de produção e na capacidade operacional serão requeridas no futuro, pois simples melhorias tecnológicas e operacionais não serão suficientes para elevar a produtividade e a qualidade e reduzir os custos. Considerações que terão que ser abordadas pelas empresas incluirão, dentre outros aspectos, as seguintes (McKinsey, 2014): redução de custos relacionados ao processo de produção e às questões de qualidade, passando por melhorias na tecnologia adotada, desde os sistemas de expressão das proteínas até as etapas de purificação do produto; aumento da agilidade operacional que permita, sem perda de qualidade, otimizar a eficiência de utilização de equipamentos, eliminar gargalos, produzir múltiplos produtos em poucas instalações e responder rapidamente às demandas de um mercado volátil; expansão de capacidade produtiva e adoção de novas tecnologias, incluindo-se a adoção de plantas flexíveis baseadas em equipamentos fixos de aço inoxidável, em equipamentos que operam com elementos descartáveis ou em modelos híbridos destes; decisão sobre quais devem ser as suas capacidades centrais a serem implementadas na própria empresa e quais atividades devem ser terceirizadas para CMOs, garantindo-se custo e qualidade; estabelecimento e/ou aquisição de uma rede de fornecedores, plantas produtivas e capacidades de distribuição, cogitando a presença em mercados emergentes; aceleração da introdução de novos produtos e novas tecnologias, para alavancar um número bem maior de moléculas através do processo de desenvolvimento tecnológico e lançamento no mercado; transformação em uma organização de alto desempenho, com talentos capazes de se adequarem aos desafios presentes e futuros, inerentes a este setor em rápida evolução. 2. Contextualização dos produtos biotecnológicos para a saúde humana 6 Embora o presente texto enfoque os biofármacos e apresente algumas considerações também sobre proteínas recombinantes de uso vacinal, é interessante contextualizar brevemente todos os diferentes tipos de produtos biológicos para a saúde humana (inclusive aqueles abordados nos panoramas tecnológicos de outras agendas tecnológicas setoriais - ATS da área da saúde), a saber: proteínas recombinantes de uso terapêutico, comumente denominadas biofármacos; terapias baseadas em ácidos nucleicos (terapias gênicas e terapias antissenso); terapias celulares; vacinas; produtos para uso diagnóstico “in vitro” ou “in vivo”. Os biofármacos, vacinas e produtos de uso diagnóstico são os produtos de desenvolvimento mais consolidado no setor biofarmacêutico. Dentre os produtos menos consolidados, encontravam-se em fase de ensaios clínicos (fases I a III) 245 projetos de terapias celulares e 226 projetos de terapias baseadas em ácidos nucleicos, sendo, destes, 99 de terapias gênicas e 127 de terapias antissenso (PhRMA, 2013). É interessante, ainda, observar que, segundo esta mesma fonte, apenas 4 projetos relacionados a produtos transgênicos encontravam-se em desenvolvimento clínico, sendo 3 deles em fase I e 1 deles em fase II. 2.1. Proteínas recombinantes de uso terapêutico (biofármacos) Ao longo do século XX, os avanços no entendimento da base molecular das doenças revelaram que muitas enfermidades eram causadas pela deficiência em uma determinada proteína. Como os níveis fisiológicos destas proteínas geralmente são muito baixos, a produção comercial das mesmas por meio do seu isolamento a partir de material biológico de doadores sadios se mostrou quase sempre inviável. Contudo, na década de 1970, com o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante, a produção de virtualmente qualquer proteína humana, na forma recombinante, se tornou possível, por meio da clonagem e expressão do gene humano codificante da proteína de interesse em uma célula hospedeira adequada, passível de cultivo em maior escala. Walsh (2004) propôs a classificação das proteínas recombinantes terapêuticas em biofármacos de primeira e de segunda geração. Os de primeira geração consistiriam de proteínas com sequência de aminoácidos idêntica às proteínas nativas presentes em organismos sadios, para simples reposição ou aumento de nível circulante em pacientes com deficiência das mesmas. Já os biofármacos de segunda geração seriam versões 7 modificadas por meio de técnicas de engenharia de proteínas, para obter moléculas com propriedades terapêuticas planejadas/melhoradas, tais como: geração de um produto de ação mais rápida ou mais lenta; alteração do tempo de meia vida do produto; alteração da imunogenicidade do produto; desenvolvimento de proteínas terapêuticas híbridas ou de fusão.As alterações obtidas por engenharia de proteínas para desenvolver biofármacos de segunda geração podem envolver diferentes estratégias: alteração da sequência de resíduos de aminoácidos (ex.: insulina e t-PA); remoção de domínios da proteína (ex.: Fator VIII com domínio B deletado e t- PA); obtenção de moléculas híbridas (anticorpos) e proteínas de fusão (ex.: anticorpos humanizados, anticorpos biespecíficos, proteínas de fusão a IgG ou albumina); engenharia pós-traducional (criação de sítios extra de glicosilação, como por exemplo na eritropoietina hiperglicosilada Aranesp, ou conjugação a polietilenoglicol, como no caso do interferon peguilado). As proteínas recombinantes terapêuticas ou biofármacos costumavam ser divididos em sete grupos distintos (Mellado e Castilho, 2008). Nos últimos anos, contudo, vem se consolidando uma tendência crescente de desenvolvimento de proteínas de fusão, com vários produtos já aprovados para uso humano, constituindo, portanto, um oitavo grupo: 1. citocinas recombinantes; 2. fatores de crescimento hematopoiético recombinantes; 3. outros fatores de crescimento recombinantes; 4. hormônios recombinantes; 5. fatores sanguíneos recombinantes; 6. enzimas recombinantes; 7. anticorpos monoclonais e anticorpos conjugados a drogas; 8. proteínas de fusão. Dentre a ampla gama de produtos, alguns, tais como agentes trombolíticos, anticoagulantes, interleucinas e eritropoetinas, parecem ter atingido a saturação em termos de relação oferta-demanda, uma vez que nenhum novo produto deste tipo foi aprovado no período 2010-2014 (Walsh, 2014). Por outro lado, os anticorpos monoclonais terapêuticos (MABs, do inglês “monoclonal antibodies”) se destacam em novas aprovações, número de produtos em comercialização, volume de produção e valor de mercado. O primeiro MAB de uso 8 terapêutico a ser aprovado para uso humano foi o OKT3 (muronomab, nome comercial Orthoclone), em 1986. Trata-se de um anticorpo anti-CD3, indicado para evitar rejeição a transplante de rim. No Brasil, o Instituto Butantan desenvolveu um MAB anti-CD3, que apresentou resultados promissores na profilaxia e tratamento de rejeições graves a transplante de rim, quando avaliado em 25 pacientes (Lemos et al., 2006), e que deu origem a uma versão humanizada que foi expressa em células CHO (Serpieri et al., 2010). Dentre os MABs de desenvolvimento mais recente, se destacam aqueles que são humanizados ou totalmente humanos. As suas principais indicações terapêuticas são diferentes tipos de câncer e enfermidades inflamatórias/autoimunes, tais como artrite reumatoide e lúpus. No período de 2010 a julho de 2014, os MABs representaram 26,5% dos novos produtos biofarmacêuticos aprovados. Suas vendas alcançaram em 2013 cerca de USD 63 bilhões, representando cerca de 40% das vendas de biofármacos. Como são produtos em geral administrados em altas doses e de grande mercado, o volume de produção também é significativo em relação aos demais biofármacos: estima-se que, em 2010, a produção mundial de ingredientes ativos de MABs tenha sido de aproximadamente 7 toneladas e que, em 2016, vá ser de cerca de 13,4 toneladas (Walsh, 2014). Tendências prováveis na área de MABs incluem a exploração de fragmentos de anticorpos ou anticorpos de estrutura mais simples (ex. de camelídeos), modificações na sequência Fc e/ou na porção glicídica para aprimorar as propriedades dos anticorpos (funções efetoras imunes dependentes de receptores, propriedades farmacocinéticas, etc.), assim como o isolamento e desenvolvimento de anticorpos totalmente humanos derivados diretamente de indivíduos cujo sistema imune respondeu de forma eficiente a determinadas doenças (Simpson, 2015). Dentre os anticorpos monoclonais aprovados e em desenvolvimento, uma pequena fração consiste de anticorpos conjugados a drogas (ADCs, do inglês “antibody-drug conjugates”) (Feng et al., 2014). No período de 2010 a 2014, dois novos produtos deste tipo foram aprovados: Kadcyla (trastuzumab emtansine), da empresa Roche, aprovado na EU e EUA em 2013, e Adcetris (brentuximab vedotin), da empresa Takeda, aprovado nos EUA em 2011 e na EU em 2012 (Walsh, 2014). Proteínas de fusão são proteínas não-nativas, obtidas pela combinação, a nível gênico, das sequências codificantes de dois ou mais componentes proteicos (proteínas, fragmentos de proteínas ou peptídeos), com o objetivo de conferir maior tempo de meia vida, proporcionar maior citotoxidade ou facilitar o direcionamento ao alvo ou a administração do produto (Schmidt, 2009). Geralmente é usada uma molécula (por exemplo, um peptídeo espaçador) para auxiliar no dobramento das proteínas ou na manutenção de suas atividades biológicas (Belsey e Somers, 2013). 9 A primeira proteína de fusão a ser aprovada para uso humano, em 1998, foi o produto Enbrel (etanercept), que consiste de duas moléculas do fragmento de 75 kDa do receptor do fator de necrose tumoral (TNF-r) fusionadas à porção Fc de uma imunoglobulina IgG1, a qual permite estender a meia vida do produto resultante. Por ligar-se reversivelmente ao TNF, o etanercept é usado no tratamento de doenças inflamatórias dependentes de TNF. O Enbrel apresentou um sucesso surpreendente após a sua entrada no mercado em 1998, levando, em um primeiro momento, a dificuldades de capacidade produtiva para atender a inesperada demanda. Até hoje, ele se mantém como um dos biofármacos de maior volume de vendas (quarto produto farmacêutico mais vendido no mundo), tendo apresentado, em 2013, vendas superiores a USD 8,3 bilhões (FirstWord Pharma, 2014). De acordo com Belsey e Somers (2013), de 43 projetos envolvendo proteínas de fusão identificados, 19% estavam em análise por agências regulatórias ou já no mercado, 53% estavam em fase I/II ou fase II de desenvolvimento e 28% estavam em fase II/III ou fase III. Em relação à indicação terapêutica, 63% destes projetos focavam em oncologia e desordens autoimunes. Mellado e Castilho (2008) compilaram as proteínas recombinantes terapêuticas até então aprovadas para uso humano, indicando, também, informações referentes às tecnologias empregadas, tais como o tipo de célula produtora (sistema de expressão) e sobre o tipo de processo (biorreator, modo de operação, etc). Uma compilação atualizada até julho de 2014 pode ser encontrada em Walsh (2014), porém não contém dados sobre as tecnologias empregadas. 2.2. Terapias baseadas em ácidos nucleicos As terapias baseadas em ácidos nucleicos podem ser terapias gênicas ou terapias antissenso. As doenças-alvo em ambos os casos são principalmente diferentes tipos de câncer e desordens monogênicas, ou seja, aquelas causadas por defeito em um único gene. Em ambos os casos, o objetivo é modular a expressão de um determinado gene que esteja associado à enfermidade. A terapia gênica atua modificando o material genético das células do paciente, podendo bloquear um gene ativado indevidamente, corrigir ou substituir um gene defeituoso, ou introduzir um gene heterólogo que confira à célula a capacidade de produzir algo que não lhe é intrínseco (Lima et al., 2008). A terapia gênica pode ser realizada “ex vivo” ou “in vivo”. No primeiro caso, são recolhidas células do paciente, as quais são manipuladas geneticamente em laboratório, expandidas e posteriormente reinseridas no paciente de origem. No caso da terapia “in vivo”, o material genético é diretamente introduzido no indivíduo por via sistêmica ou, quando possível, sítio-específica. Os desafios que se 10 colocam, neste caso, são o direcionamento adequado do material genético para as células ou tecido-alvo e a expressão efetiva do gene em questão. Geralmente, utilizam- se vetores virais para carrear o material genético de interesse, visando uma expressão eficiente e estável. A primeira terapia gênica foi aprovada para uso humano na China, em2003. O produto, de nome Gendicine, produzido pela empresa Shenzhen Sibiono GeneTech, é baseado em um vetor adenoviral, no qual foi introduzido o gene supressor de tumor p53, o qual é mutado em 40-70% dos tumores humanos. A mutação da proteína p53 pode ter efeitos oncogênicos, de modo que a expressão da proteína p53 heteróloga leva ao controle ou eliminação do tumor. Este produto é produzido em células HEK293 cultivadas em biorreator de leito empacotado, usando pequenos discos como suporte. Após um longo intervalo de tempo, em 2012 foi aprovada pela primeira vez uma terapia gênica nos mercados ditos “altamente regulados”. A UE concedeu, em 2012, licença de comercialização ao produto Glybera (alipogene tiparvovec), o qual é baseado em um vetor de vírus adenoassociado do tipo 1 (AAV1) contendo um gene que codifica uma lipoproteína lipase, cuja deficiência causa a rara desordem conhecida como LPLD (“lipoprotein lipase deficiency”). A deficiência desta enzima, chave no metabolismo de lipoproteínas ricas em triglicerídeos, causa o aumento do nível destas lipoproteínas, levando a pancreatites recorrentes e podendo ser letal. Considerando que, desde 1989, foram autorizados cerca de 2.000 ensaios clínicos de terapia gênica, sendo 64% deles baseados nos EUA e 26% baseados na UE (Walsh, 2014), a aprovação do produto Glybera na UE é um marco. Contudo, o custo de EUR 53.000 por frasco ou EUR 1,1 milhão (USD 1,4 milhão) por tratamento (com 21 frascos por paciente) coloca em dúvida se o produto terá êxito e, portanto, não necessariamente significa um marco na direção de aumento de produtos de terapia gênica aprovados (Ylä-Herttuala, 2015). Por outro lado, as terapias antissenso, embora tenham o objetivo de bloquear a expressão de um determinado gene associado a uma desordem, atuam com base em um mecanismo diferente, que não envolve a manipulação do material genético do paciente. As terapias antissenso se baseiam no uso de moléculas de ácido nucleico para bloquear as moléculas de RNA mensageiro, portanto evitando a produção, em nível de tradução, da proteína codificada pelo referido gene. As moléculas usadas podem ser oligonucleotídeos de fita simples, pequenos RNAs interferentes (siRNAs), micro RNAs (miRNAs), ribozimas e outros compostos antissenso que bloqueiem a expressão, por exemplo no caso de câncer, de um oncogene (Tekewe, 2012). Em 2013, foi aprovada nos EUA a primeira terapia antissenso administrada de forma sistêmica e a primeira para tratamento pela vida toda de uma desordem crônica. O princípio ativo é um oligonucleotídeo antissenso e a indicação terapêutica é a rara 11 desordem conhecida por HoFH (“homozygous familial hypercholesterolemia”), uma condição que leva a níveis elevados de colesterol, podendo causar ataques cardíacos e até mesmo a morte em pacientes jovens (por exemplo, com 30 anos de idade). O produto, de nome comercial Kynamro, comercializado pelas empresas Isis e Genzyme, bloqueia a produção de apolipoproteína B, uma proteína aterogênica que transporta colesterol pela corrente sanguínea (Isis Pharmaceuticals, 2013). Embora o Kynamro consista de um oligonucleotídeo de fita simples com 20 nucleotídeos, sendo produzido por síntese química e não pela tecnologia do DNA recombinante, as terapias antissenso têm sido historicamente tratadas como produtos biofarmacêuticos (Walsh, 2014). Vários outros produtos baseados em terapias antissenso estão em desenvolvimento clínico e pode-se antever um aumento no número de produtos aprovados no futuro. Cabe observar que, sendo a área de terapias baseadas em ácidos nucleicos uma área de crescente importância no mundo, a mesma é objeto de estudo de uma outra Agenda Tecnológica Setorial (ATS) específica, que tratará deste sub-setor mais a fundo. 2.3. Terapias celulares As terapias celulares representam um procedimento médico que visa restabelecer a estrutura e a função de um tecido por meio da utilização de uma célula ou de um grupo de populações celulares. Assim sendo, neste caso as células são o produto. A terapia celular se aplica em tratamentos de disfunções causadas por trauma, doenças, processos degenerativos precoces ou próprios do envelhecimento. Algumas terapias já são aplicadas com sucesso há bastante tempo, por exemplo em doenças cardíacas, eliminando necessidade de transplante; em queimaduras graves e extensas, reduzindo o tempo de internação e a morbidade; em casos de AVC, diminuindo seqüelas e tempo de internação; e no transplante autólogo de medula óssea. Muitos dos avanços na área de terapia celular estão intrinsicamente ligados aos progressos na área de células-tronco. Embora a origem das terapias com células-tronco adultas remonte à década de 1950, quando foi realizado o primeiro transplante de células da medula óssea (Appelbaum, 2007), foi a derivação, em 1981, de células-tronco embrionárias de camundongos (Evans et al., 1981) e, em 1998, de células-tronco embrionárias humanas (Thomson et al., 1998), que despertou um incomparável interesse científico, clínico e do público em geral em relação ao potencial de uso destas células para medicina regenerativa e engenharia de tecidos, uma vez que, por serem pluripotentes, as mesmas podem dar origem a qualquer tipo celular do organismo. Em 2006, o desenvolvimento da técnica de reprogramação celular por Takahashi e Yamanaka (2006, 2007), permitindo a obtenção de células-tronco de pluripotência 12 induzida (iPS) por meio da manipulação genética de células adultas de um paciente, representou um marco adicional importantíssimo. Contudo, até o momento, não há terapias celulares baseadas no uso de células-tronco pluripotentes aprovadas pelo FDA (FDA, 2015). O único ensaio clínico com células derivadas de células-tronco pluripotentes, aprovado em 2009 pelo FDA, foi cancelado pela empresa patrocinadora (Geron) em 2011 (Lukovic et al., 2014). Cabe aqui também observar que, sendo a área de terapias celulares uma área de crescente importância no mundo, a mesma é objeto de estudo de uma outra Agenda Tecnológica Setorial (ATS) específica, que tratará deste sub-setor mais a fundo. 2.4. Vacinas As vacinas são consideradas as melhores ferramentas de saúde pública, principalmente se for considerada a relação custo-benefício. Nem mesmo os antibióticos tiveram um efeito tão pronunciado sobre a redução da mortalidade da população mundial quanto as vacinas. Através de vacinação foi possível controlar nove das principais doenças em várias regiões do mundo: difteria, tétano, febre amarela, coqueluche (pertussis), poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e varíola, tendo a última sido erradicada a nível mundial em 1979 devido a um cuidadoso trabalho desenvolvido pela OMS - Organização Mundial da Saúde. Adicionalmente, grandes progressos têm sido feitos através da vacinação contra a gripe (influenza), hepatite B, pneumococos e Haemophilus influenzae tipo B. A origem do desenvolvimento de vacinas remonta ao final do século XVIII, quando Jenner verificou que ordenhadoras de vacas que entravam em contato com o vírus da varíola bovina, que não causa doença em humanos, se tornavam imunes à infecção com o vírus da varíola humana. As vacinas tradicionais, desenvolvidas desde então, em especial ao longo do século XX, podem ser voltadas para a prevenção de doenças bacterianas ou virais e geralmente têm como princípio ativo o patógeno atenuado ou inativado, de modo a causar resposta imune e geração de anticorpos nos indivíduos vacinados, porém sem risco de contração da enfermidade. Nas últimas décadas, porém, têm sido desenvolvidas vacinas recombinantes, baseadas na expressão de proteínas recombinantes do patógeno. O primeiro produto vacinal recombinante a ser aprovado para uso humano foi a vacina contra a hepatite B em 1986. Ela contém a proteína conhecida como antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg), oqual forma multímeros de cerca de 85 a 155 moléculas do antígeno, resultando em partículas pseudo-virais (PPVs) tridimensionais que mimetizam o vírus e são imunogênicas (Roldão et al., 2010). 13 Mais recentemente, foram aprovadas duas vacinas recombinantes contra o papiloma vírus humano - HPV (Cervarix e Gardasil), produzidas pelas empresas GSK e Merck & Co, respectivamente. As mesmas contêm a principal proteína do capsídeo do vírus, denominada L1, na forma recombinante. Esta proteína forma “in vitro” partículas pseudo-virais tridimensionais que consistem de 72 pentâmeros de L1. Estas PPVs são imunogênicas, quando administradas em humanos. No período de 2010 a 2015, foram aprovadas outras vacinas recombinantes: Bexsero (Novartis), uma vacina multicomponente do tipo sub-unidade contra meningite B, produzida em E. coli, aprovada na UE em 2013; Flublok (Protein Sciences), uma vacina baseada em PPVs de hemaglutinina recombinante de 3 cepas de vírus influenza, produzida em células de insetos e aprovada nos EUA em 2013; Provenge (sipuleucel-T, Dendreon), uma vacina aprovada em 2010 nos EUA e 2013 na EU, composta por células do sangue periférico autólogo combinadas com fosfatase ácida prostática e fator estimulante de colônias de granulócitos e macrófagos recombinante produzido em células de insetos; Dengvaxia (Sanofi Pasteur), uma vacina recombinante quimérica primeiramente aprovada no México, Brasil e Filipinas em dezembro de 2015, composta por 4 versões do vírus atenuado da febre amarela, cada uma modificada geneticamente por meio da substituição dos genes codificantes das proteínas estruturais de envelope e de membrana do vírus da febre amarela pelos equivalentes de cada um dos 4 sorotipos do vírus da dengue. As cepas virais são produzidas em células Vero (OMS, 2009). Cumulativamente, as vacinas recombinantes representam cerca de 10% dos produtos biofarmacêuticos aprovados até 2014 para uso humano (Walsh, 2014). 2.5. Produtos para diagnóstico “in vitro” e “in vivo” A tecnologia de hibridomas, desenvolvida por Köhler e Milstein em 1975, permitiu a obtenção de anticorpos com especificidade única e planejada, denominados anticorpos monoclonais. Além de sua utilização para fins terapêuticos, já discutida anteriormente, estes anticorpos são muito usados para fins de diagnóstico “in vitro” e “in vivo”. O uso “in vitro” consiste no emprego de anticorpos em imunoensaios realizados em laboratório, tais como ensaios imunoenzimáticos do tipo ELISA, “blots” e outros, sendo muito populares, por exemplo, em análises clínicas. Por serem usados em diminutas quantidades em cada ensaio, a escala de produção destes anticorpos é muito menor do que daqueles de fim terapêutico, e seus requerimentos de pureza, embora elevados, são ainda bem menores do que no caso dos MABs terapêuticos. Além disso, estes 14 produtos não requerem a condução de ensaios clínicos, com requerimentos regulatórios bastante abreviados e simplificados em comparação com os produtos de uso terapêutico. O uso “in vivo” consiste no desenvolvimento de anticorpos marcados (por exemplo, radiomarcados) para injeção em pacientes, com vistas ao diagnóstico “in situ” de tumores e outros. Neste último caso, por tratar-se de administração por via injetável em humanos, os requerimentos tecnológicos, de qualidade e regulatórios se assemelham àqueles que se aplicam aos MABs terapêuticos. Por não serem utilizados no paciente por repetidas vezes, pode não ser necessário o desenvolvimento de formas quiméricas ou humanizadas dos mesmos. Os produtos para diagnóstico “in vivo” aprovados são em pequeno número. Exemplos de produtos atualmente em comercialização são (Smith, 2012): ProstaScint, aprovado em 1996 nos EUA, que é um MAB radiomarcado com In- 111, utilizado em pacientes diagnosticados por biópsia com câncer de próstata que estejam sob risco de metástase; LeukoScan, aprovado em 1997 na UE, que é um MAB radiomarcado com Tc-99m que reconhece um antígeno de superfície presente em granulócitos ativados (NCA-90) e é indicado para localizar infecções e inflamações em pacientes com suspeita de osteomielite. 3. Sistemas de produção empregados As proteínas recombinantes de uso terapêutico e vacinal são frequentemente glicoproteínas e, em geral, são moléculas grandes e complexas, em cujas cadeias polipeptídicas ocorrem modificações pós-tradução, sendo as principais delas as seguintes: glicosilação: adição de oligossacarídeos a determinados aminoácidos, resultando na formação da parte glicídica de glicoproteínas; -carboxilação; -hidroxilação; sulfatação; fosforilação; acetilação; metilação; 15 clivagem de peptídeos. Estas modificações pós-tradução são muito importantes, pois têm impacto na atividade biológica, na estabilidade e na imunogenicidade dos produtos recombinantes. Modificações pós-tradução não realizadas ou realizadas com padrões diferentes dos padrões característicos das células humanas podem resultar em baixa atividade biológica, reduzida estabilidade e alta imunogenicidade, o que inviabilizaria o seu uso comercial. A glicosilação pode afetar, ainda, o dobramento proteico, o transporte da proteína e seu direcionamento ao alvo, assim como o reconhecimento e ligação ao seu alvo. Por estas razões, para a produção de uma proteína recombinante, o conhecimento prévio de sua estrutura e a escolha do sistema de expressão do gene de interesse são cruciais. 3.1. O sistema de expressão A escolha de uma célula hospedeira apropriada para clonagem do gene de interesse, ou seja, a escolha de um sistema de expressão adequado, é fundamental. Bactérias em sua quase totalidade não realizam a glicosilação e, por isso, só podem ser empregadas para a expressão de proteínas não glicosiladas, tais como a insulina, ou de proteínas glicosiladas cuja atividade biológica não seja fortemente afetada pela falta da porção glicídica, tais como o fator estimulante de colônias de granulócitos (G-CSF). Dentre as células eucarióticas, capazes de realizar a glicosilação, a estrutura dos oligossacarídeos ligados à cadeia de resíduos de aminoácidos pode variar muito, devido à potencialmente enorme diversidade de estruturas possíveis, resultante de: sequência de monossacarídeos; posição das ligações glicosídicas; configuração alfa ou beta da ligação glicosídica; número de pontos de ramificação; posição das ramificações. As glicoproteínas humanas em geral possuem porções glicídicas de estrutura denominada complexa, com várias ramificações, que resultam em moléculas “multiantenárias”, sendo que o núcleo inicial rico em manose recebe outros açúcares e as ramificações terminam em ácido N-acetil neuramínico (NANA), também conhecido como ácido siálico. Quando se produz uma proteína humana recombinante para fins de terapia de reposição, geralmente o objetivo é produzir uma cópia o mais fidedigna possível da proteína nativa presente em organismos saudáveis, portanto com padrão de 16 glicosilação o mais próximo possível do padrão característico de proteínas sintetizadas por células humanas. A estrutura glicídica resultante é determinada pelo repertório de glicosidases e glicosiltransferases presentes na célula hospedeira (não há um “molde”, como na síntese da cadeia de resíduos de aminoácidos), assim como pela disponibilidade de açúcares precursores no meio e pelas condições de cultivo (composição do meio de cultivo, temperatura, pH, concentração de determinados metabólitos, etc.). Células de mamíferos apresentam padrão de glicosilação semelhante ao conferido por células humanas e, por isso, consistem no sistema de expressão mais empregado para a produção de biofármacos. Por outro lado, leveduras, células de insetos e células vegetais têm como característica produzirem estruturas glicosiladas ricas em manose,que costumam ser imunogênicas em humanos. Um exemplo de proteína altamente glicosilada é a eritropoietina (EPO), onde cerca de 40% da massa molecular se refere à porção glicídica e apenas cerca de 60% se refere à porção polipeptídica. A alteração do padrão de glicosilação tem um impacto muito forte sobre o ponto isoelétrico das moléculas de EPO e sobre a sua atividade biológica e estabilidade, de modo que as farmacopeias mundiais estabelecem qual a faixa de glicoformas da EPO, caracterizadas por seu ponto isoelétrico, que pode estar contida no produto final destinado ao paciente. As glicoformas não desejadas devem ser minimizadas durante o processo de cultivo celular e aquelas remanescentes têm que ser necessariamente removidas durante o processo de purificação. Apenas em casos específicos, onde excepcionalmente a proteína nativa é rica em glicanos com manoses expostas, como ocorre no caso do biofármaco glucocerebrosidase, é interessante expressar uma proteína glicosilada em sistemas de expressão que sintetizam estruturas glicosiladas ricas em manose. No caso da glucocerebrosidase, o produto da Genzyme, produzido em células de mamíferos da linhagem CHO (“Chinese hamster ovary cells”), necessita passar por uma etapa adicional de processamento, após a purificação, para remoção parcial da porção glicídica, de modo a expor as manoses da estrutura central dos glicanos. Por isto, recentemente a Protalix desenvolveu a glucocerebrosidase expressa em células de cenoura, a qual já é biossintetizada com manoses expostas. Contudo, cabe ressaltar que esta é uma situação de exceção, visto que a quase totalidade das glicoproteínas humanas apresenta glicosilação do tipo complexo, com ácidos siálicos terminais. Os efeitos da glicosilação podem ser também explorados para melhorar as propriedades do produto, por exemplo usando técnicas de engenharia de proteínas para gerar moléculas hiperglicosiladas. A empresa Amgen desenvolveu, sem perda de atividade biológica nem aumento de imunogenicidade, uma EPO hiperglicosilada, com 2 sítios de glicosilação extras em adição aos 4 sítios presentes na molécula nativa, e com isto 17 obteve uma maior estabilidade, resultando em uma meia vida três vezes superior à da EPO recombinante tradicional e tornando menos frequente a necessidade de administração do biofármaco no paciente. Outros aspectos relevantes na escolha do sistema de expressão são: se a célula hospedeira secreta a proteína recombinante ou a acumula intracelularmente; se a célula apresenta crescimento robusto em biorreatores agitados em grande escala; se a célula apresenta características que aumentam a segurança contra possíveis contaminações, por exemplo virais. As células de mamíferos se consolidaram como o principal sistema de expressão na indústria biofarmacêutica e atualmente são responsáveis pela produção de 52% dos biofármacos aprovados. Bactérias representam 19%, leveduras 16,5%, células humanas 4% e outros 8,5% (Walsh, 2014). Dentre as células de mamíferos, a linhagem CHO é a predominante, respondendo sozinha por 35,5% dos biofármacos aprovados (ou 68,2% dos produtos produzidos em células de mamíferos). Isto se deve ao fato de que as células de mamíferos secretam as proteínas recombinantes para o meio de cultivo, facilitando e barateando os processos de purificação do produto, e que as células CHO especificamente podem ser cultivadas de forma robusta em suspensão em grandes biorreatores e são um mau substrato para a replicação de vírus que causam doenças em humanos, conferindo maior segurança diante de possíveis contaminações virais do processo. 3.2. O processo de cultivo celular Apesar dos requerimentos mais sofisticados de bioprocessos baseados em células animais, incluindo a necessidade de meios de cultivo que são caros e, tipicamente, possuem da ordem de 50 diferentes componentes, cerca de 60%-65% de todas as proteínas recombinantes terapêuticas vêm sendo produzidas em células animais (de mamíferos, humanas e de insetos) geneticamente modificadas (Jesus e Wurm, 2011; Walsh, 2014). Devido à demanda crescente por biofármacos, são grandes os esforços para aprimorar a tecnologia dos bioprocessos baseados em cultivos de células de mamíferos, visando a um aumento de produtividade dos processos produtivos e a uma redução de custos (Bhattacharyya et al., 2003; Butler, 2005; Meeks e Josephson, 2006; Jesus e Wurm, 2011). Para proteínas robustas, de difícil degradação, tais como anticorpos monoclonais e algumas outras glicoproteínas, a batelada alimentada representa uma alternativa de menor nível de complexidade que, quando adequadamente estabelecida, permite a 18 obtenção de elevadas concentrações de células e produtos. Já no caso de proteínas mais sensíveis, como enzimas e alguns dos fatores sanguíneos, a adoção de processos contínuos se faz necessária. Quando operados sob condições otimizadas, os processos contínuos permitem produzir a molécula de interesse com alta qualidade e elevada produtividade volumétrica, fornecendo as maiores quantidades de produto por tempo a partir de reatores de volume relativamente reduzido. O cultivo celular em biorreatores Células de mamíferos vêm sendo cultivadas “in vitro” em laboratório há mais de 100 anos, porém foi apenas na segunda metade do século XX que a pesquisa voltada para aspectos tecnológicos e ampliação de escala foi intensificada, motivada pelos avanços na área de vacinas virais produzidas em cultivos celulares (Merten, 2006; Kretzmer, 2002). Diferentes tipos de biorreatores podem ser utilizados para o cultivo de células animais, tais como garrafas rotatórias (“roller bottles”), reatores do tipo coluna de bolhas (“air lift”) e reatores de fibras ocas. Contudo, os biorreatores do tipo tanque agitado para o cultivo de linhagens celulares adaptadas ao crescimento em suspensão têm se mostrado os mais vantajosos, permitindo a obtenção de elevadas concentrações de produto, superiores a 5 g/L (Jayapal et al., 2007; Jesus e Wurm, 2011). Os modos de operação de biorreatores A nível industrial, os processos de cultivo celular com biorreatores agitados são, em sua maioria, operados em modo batelada ou batelada alimentada (Figura 1). Proteínas estáveis, como por exemplo anticorpos monoclonais, vêm sendo obtidas em larga escala em processos em batelada alimentada, uma vez que soluções de alimentação de nutrientes de composição otimizada, aliadas a estratégias otimizadas de adição das mesmas ao biorreator, têm permitido alcançar altas concentrações celulares (da ordem de 30x106 células/mL) e altas concentrações de produto (da ordem de várias g/L). Cultivos contínuos simples, contudo, são primordialmente utilizados para estudos fisiológicos (Griffiths, 1992) e não representam uma boa alternativa para processos produtivos, pois, devido à baixa taxa específica de crescimento das células, a taxa de diluição mediante a qual se pode operar é limitada e a concentração máxima de células que se pode obter é relativamente baixa. Por outro lado, processos contínuos com reciclo celular, mais conhecidos na área biofarmacêutica como processos em perfusão, são capazes de superar esta limitação. A retenção das células no biorreator, através do uso de equipamentos adequados de separação sólido-líquido, permite a remoção 19 contínua de metabólitos tóxicos e a renovação contínua do meio de cultivo, a taxas crescentes, de modo a prover com nutrientes a concentração crescente de células (Chico et al., 2008). A partir de uma dada concentração celular, pode-se realizar uma remoção controlada de células, alcançando-se um estado estacionário, no qual pode-se operar a altas densidades celulares por períodos de semanas ou meses (Wurm, 2004; Woodside et al., 1998; Castilho e Medronho, 2008). Desta forma, são obtidas altas concentrações de produto no biorreator e nasua corrente de saída, resultando em elevadas produtividades volumétricas e baixo tempo de residência do produto no interior do biorreator. A alta densidade celular alcançada no processo em perfusão permite, ainda, que o meio de cultivo contenha menos suplementos nutricionais, pois as células produzem e secretam fatores de crescimento e outras proteínas (Woodside et al., 1998; Castilho e Medronho, 2008). Contudo, a manutenção por um longo período de um processo contínuo, portanto um sistema aberto, acoplado a um sistema de separação sólido-líquido geralmente externo, eleva o nível de complexidade operacional e aumenta os riscos de contaminação (Shukla et al., 2010). Por esta razão, a adoção de processos em perfusão em escala industrial inicialmente permaneceu restrita a proteínas sensíveis, que necessitam ser removidas rapidamente do biorreator para manterem sua funcionalidade, tais como o Fator VIII da coagulação sanguínea e diversas enzimas. Contudo, nos últimos anos, diante da necessidade de intensificação dos processos de produção de biofármacos e de redução de custos dos mesmos, tem se verificado uma tendência crescente de adoção de processos em perfusão para a obtenção de proteínas tanto sensíveis quanto estáveis. Figura 1 – Vista esquemática dos diferentes modos de operação de biorreatores em suspensão: batelada, batelada alimentada, contínuo simples e perfusão. 3.3. O processo de purificação Os níveis de pureza requeridos para produtos injetáveis de uso humano são elevadíssimos. Regras rígidas, estabelecidas pelas agências regulatórias, têm que ser atendidas, para que contaminantes críticos, tais como DNA e proteínas residuais da Batelada Batelada alimentada Contínuo simples Perfusão Alimentação Suspens de células ão Perfundido Equipamento de retenção celular Alimentação Alimen- tação 20 célula hospedeira, presentes em diminutas concentrações, sejam removidos. Por conta disto, os processos de purificação de biofármacos consistem de inúmeras etapas sequenciais, incluindo vários estágios sofisticados de cromatografia, para alcançar o grau de pureza requerido para o produto. A necessidade de adoção de inúmeras etapas de separação e purificação, explorando diferentes propriedades das proteínas e demais biomoléculas presentes (tais como carga elétrica, tamanho, afinidade bioespecífica e hidrofobicidade superficial), acarreta em perdas de produto que se acumulam ao longo das etapas. Assim, ao mesmo tempo em que o grau de pureza vai se elevando, a recuperação (ou rendimento) vai decaindo. Em produtos biofarmacêuticos produzidos em bactérias, as quais geralmente acumulam o produto como agregados insolúveis intracelulares (corpos de inclusão), são necessárias etapas adicionais de rompimento celular, separação sólido-líquido, reenovelamento proteico e remoção de contaminantes intracelulares liberados na etapa de rompimento. Em função disto, os rendimentos globais ao final das etapas de purificação podem ser tão baixos quanto 10%, ou seja, com perdas acumuladas de produto de até 90%. Mesmo quando são empregadas células de mamíferos, que secretam a proteína recombinante para o meio extracelular, portanto sem haver contaminação com inúmeras proteínas intracelulares, os rendimentos globais não são elevados, podendo estar na faixa de 30% a 70%. Os níveis de recuperação global alcançados no processamento “downstream” têm impacto direto sobre a escala do cultivo celular e o dimensionamento dos primeiros equipamentos de separação, impactando tanto em custos operacionais quanto em investimento capital. É por estas razões que, considerando o processo produtivo como um todo, os processos de produção de proteínas terapêuticas recombinantes são caracterizados por etapas de recuperação e purificação (“downstream processing”) que são responsáveis por até 80% dos custos de produção. A fração do custo devido à recuperação do produto está fortemente relacionada ao número de etapas envolvidas, uma vez que o tempo de processamento cresce e o rendimento do produto decresce com o aumento do número de etapas. Uma forma de reduzir o número de etapas de recuperação e purificação do produto é buscar integrar etapas, substituindo várias etapas de menor seletividade por uma etapa mais seletiva, tal como a cromatografia de afinidade, atingindo o mesmo resultado final. A adsorção por afinidade tem como base a seletividade e a reversibilidade das interações entre a proteína de interesse e o ligante, podendo resultar em elevadíssimos fatores de purificação e elevada recuperação do produto. No entanto, os ligantes de afinidade são geralmente moléculas caras e sujeitas à degradação, razão pela qual os adsorventes de afinidade geralmente têm vida útil limitada. 21 Por outro lado, a adsorção baseada em troca iônica ou em interação hidrofóbica é realizada utilizando adsorventes de menor custo e maior estabilidade, com maior vida útil, contribuindo, portanto, para a redução dos custos associados às etapas de “downstream processing”. Estas técnicas se baseiam, respectivamente, na diferença de carga elétrica ou de hidrofobicidade superficial das proteínas de uma mistura para promover a separação das mesmas. Embora apresentem menor seletividade, sua combinação com etapas de afinidade pode resultar em processos eficientes de purificação, satisfatórios tanto em termos de desempenho quanto de custo. 4. Tecnologias envolvidas na produção de biofármacos Para o desenvolvimento de novos produtos biofarmacêuticos e de seus respectivos processos produtivos, um grande número de etapas tem que ser trilhado, envolvendo múltiplas tecnologias e requerendo “expertises” e recursos humanos especializados oriundos de diferentes áreas do conhecimento. Para desenvolver uma molécula totalmente nova, são requeridas etapas de descoberta, identificação e validação de novos alvos. Já para aprimoramentos de produtos existentes (“biobetters”) passa-se diretamente a uma etapa posterior, de modificação e desenvolvimento da molécula, enquanto para produtos biossimilares, que devem necessariamente ser comparáveis a produtos de referência cuja patente tenha expirado, inicia-se o desenvolvimento do produto com o desenvolvimento de uma linhagem celular produtora da proteína de referência. 4.1. Descoberta, identificação e validação de novos alvos Na área de biofármacos, as descobertas das ciências biomédicas básicas são de fundamental utilidade para o desenvolvimento de novos produtos. Conhecer a base molecular de uma doença pode ser a chave para identificar uma biomolécula que possa ser usada para o tratamento da mesma. Um exemplo muito atual é uma descoberta da área básica, realizada em 2003, que resultou na aprovação em 2015, portanto 12 anos depois, de dois produtos de uma nova classe de drogas contra o colesterol (MABs anti-PCSK9). O desenvolvimento destes produtos foi possível devido à descoberta de que uma serina protease, denominada pró- proteína convertase subtilisina/kexina tipo 9 (PCSK9), se liga ao receptor de colesterol LDL, induzindo a degradação desse receptor e resultando em um aumento no nível de 22 LDL circulante (Abifadel et al., 2003). Anticorpos monoclonais capazes de inibir a PCSK9 permitem, portanto, que mais receptores de LDL estejam disponíveis e possibilitam, assim, uma redução dos níveis de colesterol circulante (Ferreira et al., 2012; Lambert et al., 2012). Os dois primeiros produtos desta classe, alirocumab (Sanofi e Regeneron) e evolocumab (Amgen), foram aprovados pelo FDA em julho e agosto de 2015, respectivamente. Para acelerar e-ou facilitar a identificação de novos alvos, antígenos e outras moléculas visando à descoberta de novas moléculas, ferramentas ômicas (genômica, proteômica, etc.), bibliotecas aleatórias de moléculas (ex. “phage display” de Fab ou peptídeos, “yeast display”, “ribosome display”,etc.), bancos de tumores e de órgãos e tecidos doentes e ferramentas de alta capacidade (“high throughput”) podem ser empregadas. Além disso, RNA de interferência e RNA anti-senso podem ser usados no estudo de vias de sinalização e de fenótipos decorrentes de perda de função, enquanto animais transgênicos “knock-in” e “knock-out” podem ser empregados no estudo de fenótipos decorrentes da não expressão ou hiperexpressão de determinados genes, visando à descoberta de novos alvos. 4.2. Desenvolvimento de novas moléculas Técnicas de “protein engineering” ou engenharia de proteínas (ex. deleção de domínios, alterações projetadas em sequências, etc.) podem ser aplicadas no desenvolvimento planejado de proteínas com estrutura modificada, visando à obtenção de moléculas com propriedades melhoradas (estabilidade, atividade biológica, etc.). Uma vez planejadas as modificações desejadas nas proteínas, as alterações necessárias para alcançar as mesmas são realizadas a nível dos genes que as codificam. Em especial na área de anticorpos, um grande número de tecnologias foi desenvolvido nos últimos anos, tais como: uso de tecnologias baseadas em bibliotecas aleatórias de moléculas (ex. “phage display” de Fab ou peptídeos, “yeast display”, “ribosome display”, etc.), aplicadas na identificação de pares receptor-ligante, para desenvolvimento de novos anticorpos com especificidade desejada; uso de ferramentas computacionais baseadas na estrutura do antígeno para desenho “in silico”, aplicadas no desenvolvimento de anticorpos com interações moleculares aperfeiçoadas; uso de técnicas de glicoengenharia de anticorpos, aplicadas na modulação da afinidade de ligação da região Fc de anticorpos terapêuticos a diferentes receptores (FcγRs), visando a aumentar as funções efetoras imunes dependentes desses receptores; 23 uso de ferramentas de “antibody engineering” ou engenharia de anticorpos, aplicadas na realização de modificações na sequência Fc, visando a melhorar as propriedades farmacocinéticas do produto. uso de técnicas “in vitro” (ex. baseadas em “display” de mRNA/cDNA), aplicadas na produção de anticorpos de domínio único (“nanobodies”), para o desenvolvimento de moléculas ligantes menores e mais estáveis; uso de técnicas para obtenção de sequências codificantes de anticorpos totalmente humanos obtidos diretamente de indivíduos cujo sistema imunológico tenha respondido com sucesso a diferentes doenças, para o desenvolvimento de novos anticorpos terapêuticos com especificidade desejada que já tenham passado por uma seleção natural pelo sistema imunológico humano em resposta a doenças; uso de animais transgênicos de pequeno porte (ex. ratos e camundongos) portando genes de imunoglobulinas humanas, aplicados no desenvolvimento de novos anticorpos monoclonais humanos (“fully human”), visando à obtenção de anticorpos humanos com especificidade desejada; uso de ferramentas de manipulação de anticorpos, aplicadas no desenvolvimento de fragmentos de anticorpos (ex. Fab, scFv e fragmentos de terceira geração), visando à obtenção de moléculas com propriedades desejadas (ex. afinidade e avidez pelo antígeno, meia-vida e distribuição, valência, penetração em tecidos e bioatividade); uso de técnicas para desenvolvimento de anticorpos de outras espécies (ex. camelídeos) ou seus fragmentos, aplicadas na obtenção de anticorpos compostos por cadeias idênticas, visando ao desenvolvimento de anticorpos funcionais cujo processo de expressão/produção seja simplificado; desenvolvimento de anticorpos biespecíficos por meio do uso de ferramentas de engenharia de proteínas para obtenção de anticorpos que reconheçam dois alvos. Adicionalmente, a conjugação ou fusão de diferentes moléculas pode levar ao desenvolvimento de novos produtos. Técnicas de fusão de sequências gênicas, voltadas para o desenvolvimento de proteínas compostas por dois ou mais componentes peptídicos ou proteicos combinados, podem ser usadas para obter proteínas de fusão não nativas com propriedades melhoradas e/ou diferenciadas. Um exemplo foi o desenvolvimento da corifolitropina alfa, que consiste no hormônio folículo estimulante (FSH) fusionado, em sua região C-terminal, ao peptídeo C-terminal de 28 aminoácidos da gonadotrofina coriônica humana (hCG), o qual possui 4 sítios de O-glicosilação. A fusão do peptídeo aproximadamente dobrou o tempo de meia vida em comparação com o FSH recombinante convencional, possibilitando substituir injeções de FSH diárias por uma injeção semanal de corifolitropina alfa (Binder e Skerra, 2015). 24 Técnicas de glicoengenharia para obtenção de formas hiperglicosiladas e fusão com polietilenoglicol (PEG) são outras alternativas para o desenvolvimento de proteínas aprimoradas, com maior tempo de meia vida circulante. Além disso, é importante ressaltar as técnicas de conjugação química de pequenas moléculas a anticorpos, adotadas para desenvolver os anticorpos conjugados a drogas (“antibody-drug conjugates”, ADCs), que são capazes de direcionar as drogas (ex. radioisótopos oncológicos) às células tumorais alvo, reduzindo, portanto, efeitos adversos decorrentes da ação da droga sobre células normais (não tumorais). 4.3. Escolha da plataforma de expressão e desenvolvimento de linhagens ou organismos produtores de proteínas recombinantes Como discutido anteriormente, em função das características da molécula de interesse, deve ser escolhido um sistema de expressão adequado, que proporcione corretamente a síntese da proteína e a realização das modificações pós-tradução necessárias. Uma vez escolhido o sistema de expressão dentre as diversas opções (células microbianas, de mamíferos, de insetos ou vegetais, ou plantas e animais transgênicos), torna-se necessário realizar a modificação genética no mesmo, para que o produto de interesse passe a ser produzido. Para tal, é necessário dominar tecnologias relacionadas à: otimização de sequências de DNA para aumento do nível de expressão na célula hospedeira; síntese do gene e construção do vetor recombinante; uso de linhagens hospedeiras consolidadas ou novas e sua transformação- transfecção para inserção do DNA heterólogo; emprego de tecnologias “high throughput” para isolamento e seleção de clones celulares; preparação de bancos celulares sob condições de BPF e sua caracterização- certificação sob condições de BPL. 4.4. Etapa de produção da proteína recombinante Uma vez desenvolvido o organismo produtor da proteína de interesse, é preciso desenvolver a tecnologia de propagação da célula ou organismo transgênico (“upstream processing”), de modo a propiciar a produção da proteína. É importante determinar se as células devem ser adaptadas ao crescimento em suspensão ou se devem ser propagadas aderidas a superfícies. 25 Ferramentas ômicas (ex. metabolômica, glicômica, etc.) podem ser empregadas para a comparação de células em suspensão ou aderidas, de diferentes clones e de meios de cultivo, assim como para a compreensão e aprimoramento do processo de cultivo celular. Técnicas de engenharia bioquímica podem ser utilizadas para a avaliação de diferentes meios de cultivo e otimização dos processos de cultivo, os quais podem ser conduzidos em diferentes tipos de biorreatores (do tipo tanque agitado, do tipo “Wave”, etc.), com ou sem bolsas descartáveis, operados em diferentes modos de operação (batelada, batelada alimentada ou perfusão). A seleção destes (meio de cultivo, tipo e modo de operação do biorreator, etc.) é crucial para garantir a produtividade do processo e a qualidade do produto. Plataformas de mini-biorreatores podem ser usadas para permitir o desenvolvimento dos processos com maior rapidez e menores custos. A automação dos processos traz benefícios e robustez e deve ser investigada. Após desenvolvido o processo, deve-seproceder à ampliação de escala do mesmo. Embora os biorreatores do tipo tanque agitado largamente dominem a indústria biofarmacêutica e não se vejam muitos estudos voltados para novas geometrias de biorreatores, há uma tendência forte atualmente na indústria biofarmacêutica pelo uso de biorreatores com bolsas descartáveis, devido à flexibilidade que os mesmos proporcionam e aos menores requerimentos de validação dos procedimentos de limpeza e esterilização dos equipamentos entre corridas sucessivas. Existem hoje, no mercado, diferentes modelos de biorreatores do tipo tanque agitado com bolsas descartáveis, e estes tendem a predominar nos próximos anos. Adicionalmente, há também uma tendência no setor industrial hoje de migração para os processos contínuos com reciclo celular (perfusão), devido às elevadas produtividades volumétricas que os mesmos proporcionam, à possibilidade de operação em estado estacionário, com ganhos em termos da consistência do produto e da automação do processo, e ao menor tempo de residência do produto no biorreator, permitindo o uso contínuo dos equipamentos de separação e purificação. 4.5. Etapas de separação de células e purificação da proteína recombinante Os processos de recuperação e purificação (“downstream processing”) na indústria biofarmacêutica têm sido tradicionalmente baseados fortemente em técnicas de cromatografia líquida de proteínas e conduzidos em batelada. Contudo, em decorrência dos avanços ocorridos no desenvolvimento de linhagens celulares e no processo “upstream”, que permitiram o aumento das concentrações de produto alcançadas no biorreator, o uso de sistemas não cromatográficos de purificação, tais como 26 precipitação fracionada de proteínas e extração em duas fases aquosas, tem passado a ser estudado para a purificação de biofármacos. Estes processos não cromatográficos, assim como novas configurações multicolunas de processos cromatográficos, podem ser operados em modo contínuo, o que vem sendo investigado por várias grandes empresas biofarmacêuticas, com o objetivo de desenvolver uma plataforma tecnológica contínua e com “upstream” e “downstream” integrados. Dentre os processos cromatográficos, novos adsorventes baseados em suportes convectivos (como membranas microporosas e monolitos), assim como resinas multimodais, que combinam dois princípios de separação em uma só etapa, têm sido bastante estudados e devem ser incorporados em processos de novos produtos que se encontram em desenvolvimento. Finalmente, considerando os cada vez mais rígidos requerimentos regulatórios referentes a contaminantes críticos relacionados ao processo (DNA, “host-cell protein”/HCP, endotoxinas, vírus, etc.) ou ao produto (agregados, isoformas oxidadas, glicoformas indesejadas, etc.), torna-se muito importante o estudo de novas técnicas e novas estratégias de remoção de contaminantes críticos. 4.6. Ferramentas analíticas e de caracterização da proteína recombinante Para o desenvolvimento de um biofármaco, seja ele inovador ou biossimilar, é necessário ter bem estabelecidas e validadas ferramentas analíticas de determinação de concentração e atividade biológica/potência do produto, assim como empregar técnicas avançadas de caracterização bioquímica e físico-química são requeridas para determinar propriedades como estrutura proteica, pureza, padrão de glicosilação e outras modificações pós-tradução. Durante o desenvolvimento, é possível que a caracterização seja terceirizada junto a laboratórios prestadores de serviços. Contudo, uma parte destas técnicas analíticas será empregada posteriormente, durante a produção comercial do biofármaco, no controle de qualidade dos lotes produzidos. Portanto, o suprimento dos inúmeros reagentes e equipamentos requeridos, geralmente importados (e, no caso dos reagentes, perecíveis), assim como a disponibilidade de peças de reposição e de serviços de manutenção dos equipamentos, é de suma importância para o bom funcionamento do setor. Para desenvolvimento do processo, é necessário também confeccionar os bancos celulares sob condições de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e certificá-los sob 27 condições de Boas Práticas de Laboratório (BPL) quanto à identidade, ausência de contaminantes e aspectos genéticos das células. Estas são atividades que podem ser realizadas externamente à empresa. O processo de purificação também precisa ser certificado em relação à sua capacidade de remoção de eventuais vírus que possam vir a contaminar o processo. Os testes para validação da remoção viral requerem Boas Práticas de Laboratório e envolvem a montagem de modelos “scale-down” do processo “downstream”, procedendo-se à injeção deliberada de grandes quantidades de diferentes vírus modelo indicados pelas agências regulatórias (por ex., conforme a norma Q5A do ICH) e à quantificação da carga viral remanescente ao longo das diferentes etapas do processo de purificação. Como a manipulação e quantificação de vírus são atividades muito especializadas, é comum que esta atividade seja realizada externamente à empresa. 4.7. Formulação e administração da proteína recombinante A formulação é muito importante para a estabilidade do biofármaco e seu tempo de prateleira, assim como para evitar a formação de agregados do produto, os quais em geral são imunogênicos se injetados em um paciente. A formulação também está fortemente inter-relacionada com a forma de apresentação (por ex., líquida ou liofilizada) do produto. A eliminação, da formulação, de componentes de origem animal e/ou que não sejam quimicamente definidos, preconizada pelas agências regulatórias, tem motivado a busca por novos componentes de formulação, tais como proteínas recombinantes, aminoácidos e açúcares. A redução de custos de proteínas recombinantes (por ex. albumina humana recombinante) é de grande interesse para seu uso em formulação de biofármacos. Nanopartículas também têm sido investigadas para estabilização de biofármacos. A forma de administração é um fator importante na área de biofármacos, já que a adoção da via oral convencional ainda se mostra inviável, devido à baixa permeabilidade intestinal das proteínas e à sua rápida degradação no trato digestivo. Por isto, os biofármacos hoje em dia são injetáveis, porém esforços vêm sendo adotados com diversos objetivos no sentido de desenvolver vias de administração alternativas ou, pelo menos, reduzir o número de injeções requeridas. Em termos de vias de administração alternativas, vem sendo investigada a via por inalação e também o uso de estratégias para viabilizar a adoção da via oral, tais como “coating” com polímeros que previnam a degradação no estômago, uso de inibidores de proteases para reduzir proteólise e formulação com substâncias (por ex., ácidos graxos, fosfolipídeos, etc.) que aumentem a permeabilidade e a absorção do produto. 28 A redução do número de injeções está diretamente associada à estabilidade da molécula e à formulação, e pode ser alcançada por meio de: desenvolvimento de formas hiperglicosiladas mais estáveis por meio de glicoengenharia; fusão a peptídeos (por ex., peptídeo C-terminal glicosilado de hCG) ou a proteínas (por ex., albumina ou região Fc de IgGs) para aumento da estabilidade do produto; peguilação de proteínas para aumento da sua meia vida. Por fim, o emprego de dispositivos de liberação controlada e a escolha do dispositivo médico (seringa, ampola, etc.) também são de fundamental importância e podem ter um impacto no êxito comercial do produto. Dispositivos tais como implantes, injeções livres de agulha e auto-injetoras têm sido investigadas (Konstantinov, 2015). No que diz respeito a formulações, mecanismos de liberação controlada ou direcionada e vias de administração, há muita convergência desta área com a área de Nanotecnologia (que é objeto de umaoutra ATS do setor saúde). Pode-se citar, por exemplo: aptâmeros podem ser utilizados para direcionamento sítio-específico de moléculas; nanopartículas poliméricas, proteicas (ex. Novavax) ou lipídicas podem ser empregadas para aumentar a imunogenicidade de vacinas sistemas nanoestruturados podem ser usados para estabilização, liberação controlada, direcionamento sítio-específico ou redução de efeitos adversos de moléculas. 4.8. Desenvolvimento não-clínico e clínico As últimas etapas a serem trilhadas no desenvolvimento do produto envolvem os ensaios não clínicos (anteriormente conhecidos como pré-clínicos) e clínicos, cujos resultados são determinantes para a aprovação ou não do produto para comercialização. São etapas longas e muito dispendiosas, que devem ser cuidadosamente planejadas e conduzidas. No que concerne aos ensaios não clínicos, busca-se globalmente reduzir o número de animais empregados nos ensaios tradicionais e desenvolver cada vez mais novos ensaios “in vitro” alternativos ao uso de animais de experimentação, que permitam, portanto, reduzir o uso de animais, sem comprometimento dos requisitos de segurança para que se possa prosseguir para os ensaios em humanos. 29 O termo “não-clínico” passou a ser usado em substituição ao termo “pré-clínico”, uma vez que alguns ensaios em animais não necessariamente precisam ser conduzidos previamente aos ensaios em humanos, podendo ser conduzidos em paralelo aos mesmos. No que diz respeito aos ensaios em humanos, uma das estratégias de regulação moderna consiste na realização de estudos clínicos de Fase 0, utilizando doses subterapêuticas em um número reduzido de indivíduos, permitindo avaliar precocemente as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas de uma nova molécula, acelerando sua avaliação clínica (Mares-Guia, 2015). Também tem se buscado adotar protocolos clínicos, metodologias e técnicas analíticas e regulação moderna que permitam, já em estudos clínicos de Fase I, nos quais uma nova molécula é administrada pela primeira vez a um grupo de indivíduos, determinar a dose e periodicidade de administração, além de avaliar sua segurança, toxicidade e farmacocinética. O processamento de grandes números de amostras durante todas as fases de estudos clínicos, mas em especial durante a fase III, é um fator relevante, de modo que é de grande interesse o contínuo desenvolvimento de metodologias e técnicas analíticas e bioanalíticas de alta capacidade, que permitam: identificar e quantificar biofármacos e, se for o caso, seus alvos moleculares; identificar e quantificar anticorpos anti-droga (ADA) e avaliar se estes, quando identificados, são ou não anticorpos neutralizantes (NAB). As ferramentas, protocolos e equipamentos para recebimento, armazenamento seguro e análise estatística de dados oriundos de estudos clínicos também são de crucial importância. Considerando a necessidade de as empresas atuarem também no exterior, é importante o uso de ferramentas e metodologias modernas que permitam a geração de protocolos clínicos inovadores a serem aplicados na condução de estudos clínicos para o desenvolvimento de biofármacos no país e no exterior. 5. A cadeia de desenvolvimento e produção na indústria biofarmacêutica: contratação de atividades de P&D externas 30 Produzir as grandes e complexas moléculas biológicas de forma consistente e reprodutível em escala industrial requer capacidades de manufatura muito mais sofisticadas do que as adotadas pela indústria farmacêutica para a produção dos tradicionais fármacos sintéticos (também conhecidos como “small molecules” ou pequenas moléculas). As etapas do processo discutidas acima têm que ser desenvolvidas, otimizadas, escalonadas e reproduzidas a cada lote. O desenvolvimento do processo produtivo é acompanhado pelas etapas de desenvolvimento do produto, conforme ilustra a Figura 2, e costuma consumir um período superior a 10 anos. Figura 2 – Desenvolvimento concomitante de produto e processo na área biofarmacêutica. A sofisticação dos produtos se reflete em custos. Historicamente, a indústria biotecnológica na área da saúde humana tem requerido maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) proporcionalmente às vendas do que a indústria farmacêutica tradicional (Baras et al., 2012). Uma planta industrial de biológicos pode levar de 4 a 5 anos para ser construída e pode custar cerca de 6 vezes mais do que uma planta farmacêutica para manufatura de pequenas moléculas (McKinsey, 2014). As plantas operam baseadas em processos de relativamente longa duração, com rendimentos relativamente baixos, consumindo matérias-primas sofisticadas e de alto custo e requerendo recursos humanos altamente especializados. Por estas razões, um fator muito importante na indústria biofarmacêutica é a otimização do portfolio e a seleção de projetos de P&D, uma vez que o “pipeline” total, o tempo, os recursos e o investimento capital requeridos para produzir retornos esperados da aprovação de novos produtos estão fortemente relacionados ao portfolio selecionado para investimento em P&D (Baras et al., 2012). Em função da diversidade de produtos e também em decorrência da complexidade e sofisticação dos produtos e processos, um outro fator de destaque é que, na indústria biofarmacêutica internacional, mesmo em empresas de grande porte com numerosa equipe atuando na área de P&D, é muito comum a externalização das atividades de pesquisa e desenvolvimento, seja por meio da interação com laboratórios acadêmicos e 31 pequenas empresas de base tecnológica, como por meio da contratação de empresas prestadoras de serviços (“contract research organizations” – CROs e “contract manufacturing organizations” – CMOs). Atividades acessórias, porém também igualmente importantes, tais como desenvolvimento e validação de métodos analíticos para controle de qualidade, também são comumente realizadas externamente. Nos últimos anos, em especial no mercado voltado para produtos biossimilares, surgiram no mundo empresas que funcionam apenas com base na contratação externa de todas as etapas do processo, sem infra-estrutura interna nem de P&D nem de produção. Os poucos membros da equipe destas empresas costuman ter grande experiência acumulada anteriormente no desenvolvimento de biofármacos e, com base nesta experiência, escolhem os parceiros para a realização de cada etapa do processo, analisam e discutem os resultados e planejam as próximas etapas. Há biossimilares no mercado mundial aprovados por empresas deste tipo, sem infra-estrutura própria, baseadas apenas na externalização das atividades, inclusive da produção comercial por meio de CMOs parceiras. Considerando as etapas indicadas no esquema da Figura 2, é comum que muitas das etapas de P&D até o desenvolvimento do processo e da formulação sejam contratadas externamente pelas empresas junto a pequenas empresas de base biotecnológica ou junto a laboratórios de universidades e acadêmicos em geral. Já empresas do tipo CRO são comumente contratadas para a realização das atividades ligadas ao desenvolvimento do produto, desde sua caracterização até a condução dos ensaios em animais e humanos. As atividades a partir do escalonamento do processo, por sua vez, são frequentemente contratadas junto a empresas do tipo CMO. Múltiplos arranjos são possíveis, combinando etapas de P&D realizadas internamente e externamente junto aos diferentes tipos de “players” – academia, CROs e CMOs (Piza, 2009). A expiração de patentes de biofármacos, que se iniciou com a expiração da patente da eritropoetina recombinante em 2004, causou mudanças significativas no setor biofarmacêutico em termos regulatórios e de mercado na última década. A agência regulatória europeia EMA foi a primeira a lançar uma regulamentação completa dedicada
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