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Ivina Marcella C. Santos Tutoria 6- Fechamento Objetivo 1: Elucidar os principais disturbios alimentares na adolescência. Os transtornos alimentares (TAs) são caracterizados pela insatisfação com o corpo relacionada à supervalorização de um corpo magro ideal associado a padrões disfuncionais de cognição e comportamentos de controle de peso que resultam em complicações biológicas, psicológicas e sociais significativas. Embora os transtornos alimentares em grande parte afetem meninas brancas adolescentes, eles também afetam meninos e cruzam todas as fronteiras raciais, étnicas e culturais. A intervenção precoce nos TAs melhora a evolução. Uma breve contextualização A anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN) são transtornos alimentares (TA) de difícil tratamento e de alta morbidade1 . Caracterizam-se por um padrão de comportamento alimentar gravemente perturbado, distúrbios da percepção do formato corporal e consequente controle patológico do peso2 . As taxas de prevalência desses transtornos no cenário internacional demonstram sua relevância. Nos Estados Unidos, a AN atinge de 2% a 5% das meninas adolescentes3 , e, para a BN, os valores são de 1% a 0,1% em jovens do sexo feminino e masculino, respectivamente4 . Dados epidemiológicos similares são desconhecidos para a população brasileira, no entanto a experiência clínica demonstra que esses transtornos têm prevalência significativa. Os fatores de risco para os TA desdobram-se em mais de 30 condições, que podem ser classificadas de acordo com os seguintes subgrupos: °características demográficas (sexo, etnia, entre outras); °psicológicas (avaliação do peso corporal, imagem corporal negativa, baixa autoestima, entre outras); °biológicas (peso corporal, entre outras) . Morgan, et al8 avaliaram os riscos de acordo com os fatores predisponentes (aqueles que aumentam a chance do aparecimento dos TA - traços de personalidade, história de transtornos psiquiátricos, tendência à obesidade, alterações da neurotransmissão, eventos adversos); precipitantes (aqueles que marcam o aparecimento dos sintomas dos TA – dieta e eventos estressores); e mantenedores (aqueles que determinam se os TA vão se perpetuar ou não – características fisiológicas, psicológicas e culturais). DEFINIÇÕES Anorexia “Anorexia”, que remete a ausência de orexis, apetite, descreve, na clínica, um comportamento em que uma exagerada restrição alimentar é adotada no sentido de atingir-se um peso e uma forma corporal suficientemente magra segundo padrões que discordam do senso comum e das variáveis propostas pela medicina. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), ela seria definida, inicialmente, por um emagrecimento com duas possibilidades de avaliação: uma perda de peso superior a 15% ou um índice de massa corporal igual ou abaixo de 17,5 (OMS, 1998). Esta perda de peso seria autoinduzida por restrição a alimentos baseada numa distorção da imagem corporal, e associada a um ou mais dos seguintes componentes: vômitos auto- induzidos, purgação auto-induzida, exercí- cio excessivo, anorexígenos ou laxantes. Isso levaria a um transtorno endócrino resultando em amenorréia ou perda da libido em homens e, surgindo antes da puberdade, retardaria a seqüência de eventos que lhe é característica. Ao mesmo tempo, os manuais classificatórios são claros quanto à necessidade de se rever o diagnóstico se esses traços forem secundários a outra patologia vigente. A anorexia nervosa (AN) envolve significativa superestimação do tamanho e da forma corporal, com incansável busca pelo emagrecimento que, normalmente, combina dieta excessiva e exercícios compulsivos no subtipo restritivo; no subtipo de excesso e purga (binge-purge), os pacientes podem comer em demasia intermitentemente e depois tentar livrar-se das calorias por vômitos ou tomando laxantes, ainda com forte busca pela magreza. A bulimia nervosa (BN) é caracterizada por episódios em que se come grande quantidade de comida em breve período, seguido de vômitos compensatórios, uso de laxantes e exercício ou jejum para livrar o corpo dos efeitos de comer em demasia, em um esforço para evitar a obesidade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O QUADRO CLÍNICO Suspeita- se de Bulimia nervosa • Crônica inflamada e dor de garganta; • Problemas nas glândulas salivares, como inchaço na região do pescoço e da mandíbula; • Erosão do esmalte dentário devido ao ácido do estômago, em decorrência dos vômitos; • Descomodidade intestinal e irritação devido ao abuso de laxante; • Desidratação grave da purga de fluidos; • Desequilíbrio de eletrólitos (níveis muito altos ou muito baixos de sódio, cálcio, potássio, entre outros); • Sangramento retal, quando utilizado laxantes Suspeita-se de uma anorexia nervosa a partir da confluência de quatro fatores: adolescência, conduta alimentar restritiva, emagrecimento Amenorréia. Mesmo após a síndrome já estar em curso, durante algum tempo ela consegue ser dissimulada por trás de justificativas que não despertam tanta atenção, sendo, hoje em dia, a mais característica o início de um regime alimentar banal, com a conseqüente limitação quantitativa e qualitativa dos alimentos ingeridos. Da mesma forma, as perturbações psicológicas que surgem são inicialmente associadas a elementos próprios da adolescência, seja alguma mudança de caráter, irritabilidade, humor depressivo, tendência ao isolamento, ou ainda um uma hiperatividade. De fato, o mais comum é que passem despercebidas as primeiras manifestações próprias do quadro, tanto alimentares quanto psicológicas. No entanto, mais cedo ou mais tarde, tendo ou não ouvido falar em anore- xia nervosa, os pais começam a se incomodar com o regime da filha, tão severo quanto bizarro, tendo sua preocupação agravada pela “bela indiferença” da jo- vem ante seu progressivo emagrecimento. Para piorar, ao tentarem dissuadi-la de seu propósito, esbarram com uma atitude desafiadora que freqüentemente os surpreende por ser contrastante com um comportamento anterior marcado pela submissão. Ao mesmo tempo em que se tornam alvos de um desprezo indulgente por não partilharem do projeto de redução de peso, os pais vêem o padrão alimentar adquirir um lugar central no cotidiano da jovem, de maneira que os conflitos pré-existentes, tanto individuais quanto familiares, dão lugar a preocupações ou discussões em torno de uma só questão: comer ou não comer. Como já descrevia Charles Lasègue (1874/2001), cria-se um novo modelo de funcionamento familiar, absolutamente centrado na sintomatologia anoréxica, estabelecendo o vínculo entre a paciente e seu público, dado que ele já considerava central na manutenção de qualquer sintoma histérico. Da mesma maneira, a implicação da família na manutenção dos sintomas era destacada por Charcot, para quem a separação entre a paciente e os familiares era condição para qualquer tratamento de sucesso. Na verdade, fica claro para qualquer observador externo que a insistência dos pais aguça a resistência da anoréxica. É comum que a família tente associar o quadro a algum fator causal, do tipo má influência, decepções diversas, crises familiares, entre outros; ou ainda, se esforçarem por banalizar aquela atitude, criticando-a como uma mera rebeldia adolescente. Porém, ante qualquer alegação, a paciente sempre explicará sua ati- tude pelo desejo de emagrecer, ligado a um inconformismo por estar demasiadamente gorda, mesmo quando sua magreza impressiona Até que se instale uma carência protéica importante, o emagrecimento é relativamente bem suportado e permite, durante um longo tempo, o prossegui- mento de uma atividade freqüentemente excessiva. Enquanto isso, as relações sociais tendem a se reduzir, as fantasias empobrecem ou se mostram estereotipadamente centradas no ideal ascético que aanoréxica se impõe; tudo o que se relaciona, ainda que remotamente com a genitalidade ou gravidez é ignorado ou repelido. Compreensivelmente, seus vínculos mais íntimos se restringem a outras anoréxicas de quem ela aceita a assessoria através de sites dedicados às orientações “técnicas” acerca da PRINCÍPIOS QUE GUIAM O TRATAMENTO DE CUIDADOS PRIMÁRIOS A abordagem nos cuidados primários deve facilitar a aceitação pelo paciente (e pais) do diagnóstico e recomendações de tratamento inicial. Uma abordagem carinhosa-autoritária que utiliza o modelo biopsicossocial é útil. Um pediatra que reconhece explicitamente que o paciente pode discordar do diagnóstico e recomendações de tratamento e ser ambivalente sobre a mudança de hábitos alimentares, enquanto ao mesmo tempo reconhecendo que a recuperação exige força, coragem, força de vontade e determinação, demonstra carinho. Os pais acham mais fácil ser carinhosos, uma vez que aprendem que o desenvolvimento de um TA não é uma decisão voluntária do paciente nem reflexo de maus pais. Enquadrar o TA como mecanismo de enfrentamento de uma variedade complexa de problemas com aspectos tanto positivos quanto negativos evita culpar ou se sentir culpado e pode preparar a família para uma ajuda profissional que se concentrará nos pontos fortes e na restauração da saúde, em vez de nos déficits do adolescente ou da família. O aspecto autoritário da função de um médico vem da sua experiência na saúde, no crescimento e no desenvolvimento físico. Uma meta do tratamento de cuidados primários deve ser alcançar e manter a saúde — não apenas o ganho de peso —, embora o ganho de peso seja um meio para o objetivo do bem-estar. Prestadores de serviços que se enquadram como consultores para o paciente com conhecimento de autoridade sobre a saúde podem evitar uma postura autoritária antiterapêutica. Atividades com foco em cuidados primários de saúde incluem o monitoramento do estado físico do paciente, estabelecendo limites para os comportamentos que ameaçam sua saúde, envolvendo especialistas com experiência em TAs na equipe de tratamento, e continuar a prestar cuidados primários de saúde para a manutenção da saúde, doença aguda ou danos pessoais. O modelo biopsicossocial usa uma estrutura ecológica ampla, começando com o comprometimento da saúde física biológica relacionada a práticas disfuncionais de controle de peso, evidenciados por sintomas e sinais. Comportamentos TA explicitamente ligados aos sintomas e sinais podem aumentar a motivação para mudança. Além disso, há geralmente conflitos psicossociais não resolvidos nos domínios intrapessoais (autoestima, autoeficiência) e interpessoais (família, amigos, escola). Práticas de controle de peso iniciadas como mecanismos de enfrentamento tornam-se reforçadas por causa do feedback positivo. Ou seja, recompensas externas (p. ex., elogios sobre a aparência física melhorada) e recompensas internas (p. ex., o domínio percebido sobre o que é comido ou o que é feito para minimizar os efeitos de excessos através de exercícios ou de purgação) são mais poderosas para manter o comportamento do que o feedback negativo (p. ex., conflitos com os pais, colegas e outras pessoas sobre a alimentação) é para mudá-lo. Assim, quando o tratamento definitivo é iniciado, devem ser desenvolvidos meios alternativos mais produtivos. Estrutura do Tratamento Atendimento Médico O primeiro contato do paciente é com o psiquiatra, que realiza a entrevista de triagem visando ao diagnóstico diferencial. Nesse procedimento, são realizados os registros relacionados ao histórico médico e psiquiátrico e o motivo principal da procura. É feita uma entrevista estruturada avaliando o comportamento alimentar e o diagnóstico de um possível TA, de acordo com os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana . A intervenção psiquiátrica visa à normalização de peso, à adequação do comportamento alimentar, além da manutenção de hábitos e peso saudáveis. A identificação de problemas concorrentes e comorbidades clínicas e psiquiátricas também é parte essencial do tratamento médico. No ambulatório, é realizado semanalmente um atendimento psiquiátrico; e, quando necessário, o paciente passa por profissionais de outras especialidades, como endocrinologia ou neurologia. O tratamento psiquiátrico é aberto, sendo proposta duração inicial de 20 semanas, mas podendo ser estendido até a remissão completa do quadro, sem previsão para o seu término. Durante o curso do tratamento, procura-se criar um bom vínculo entre médico e paciente, com enfoque em apontar erros no pensamento e propor mudanças, como diminuir a preocupação e a supervalorização da alimentação, do peso corporal e normalizar comportamentos relacionados aos TA. O uso de medicações é avaliado individualmente, visando ao tratamento dos TA e das comorbidades psiquiátricas. Uma internação por risco de morte pode ser realizada a qualquer tempo. Atendimento Nutricional O Nutricionista é o profissional capacitado para propor modificações do consumo, padrão e das atitudes alimentares, que nos TA estão alterados. O atendimento nutricional tem como objetivos: recuperar e/ou manter um peso adequado, estabelecer padrões alimentares saudáveis, minimizar as práticas alimentares inadequadas e os comportamentos inapropriados para controle de peso e melhorar as atitudes alimentares e os distúrbios de imagem corporal. São ensinados conceitos de alimentação saudável, tipos, funções e , recomendações nutricionais, consequências da restrição alimentar e das purgações. Em um segundo momento, aborda-se a relação que o paciente estabelece com os alimentos e com seu corpo, no sentido de fazê-lo perceber os significados que atribui a eles. Não são prescritas dietas para os pacientes com TA, pois são carregadas de conceitos sobre restrição alimentar, exclusão de grupos alimentares, contagem de calorias e pesagem de alimentos. É necessário que o(a) paciente se conscientize de que esses aspectos levam à compulsão alimentar, pois já existe uma atenção exagerada dada aos valores calóricos dos alimentos, por isso não é recomendado focar nesses parâmetros. É utilizado o diário alimentar, um instrumento de automonitoração, no qual o(a)s pacientes registram seu consumo alimentar, a ocorrência de compulsões alimentares e purgações, duração e local de refeições e os sentimentos vivenciados em seu decorrer. O atendimento nutricional é realizado uma vez por semana, com consultas de, em média, 30 minutos, nas quais o nutricionista acompanha as dificuldades individuais e o peso. São traçadas metas alimentares e/ou de comportamento, que deverão ser realizadas durante a semana e discutidas no atendimento seguinte. O tratamento nutricional para AN prevê ganho de peso durante a internação. No caso da BN, a internação visa a interromper o ciclo restrição-compulsão-purgação. Após a alta da enfermaria, o(a)s pacientes têm seguimento ambulatorial. Atendimento Familiar O atendimento familiar ocorre em grupos psicoeducacionais, por meio de orientação, informação e troca de experiências, com a participação dos familiares e dos pacientes em tratamento. A periodicidade é quinzenal, compondo-se pelos familiares dos pacientes. A inclusão e a participação efetiva da família é uma peça fundamental na eficácia terapêutica, já que a psicodinâmica familiar, isto é, a maneira como a família funciona, é um elemento central na determinação, manutenção e desenvolvimento dos TA12. O atendimento embasa-se na abordagem sistêmica13, com enfoque narrativo, por meio de intervenções diretas e paradoxais, que são os procedimentos adotados para a mudança. Inicialmente, realiza-se junto à família um acordo no sentido de sensibilizá-la para o entendimento dos TA e mobilizá-la para melhorar a adesão do(a) paciente ao tratamento. É solicitada a participação ativa nas atividades do hospital, por meio do conhecimento e procura de mais informações acercados TA, e a presença do familiar junto ao paciente em situações de dificuldade. No grupo, o terapeuta-coordenador funciona como alguém que traz a informação, discute com os membros e possibilita a elaboração de conclusões sobre os TA, como também com intervenções diretas. Os temas abordados são livres e abertos, isto é, fala-se sobre qualquer assunto escolhido por um dos membros da família ou pelo coordenador. As intenções são proporcionar conhecimento, diminuir a ansiedade dos familiares frente à gravidade dos TA, construir um elo de comunicação entre a família e a equipe multidisciplinar, solucionar e reforçar posturas adequadas junto aos pacientes para o enfrentamento dos TA e dos possíveis conflitos familiares. Atendimento Psicológico Baseado na terapia cognitivo-comportamental(TCC), objetiva-se a mudança do comportamento alimentar e do uso de estratégias compensatórias (vômitos, abuso de laxantes, diuréticos e enemas). Pode ser dividido conceitualmente em três áreas: (1) normalização da alimentação e do peso; (2) reestruturação cognitiva relacionada aos sintomas visados na conduta alimentar; e (3) reestruturação cognitiva de temas psicopatológicos que, direta ou indiretamente, estão relacionados ao desenvolvimento ou à manutenção do transtorno alimentar. A TCC baseia-se no modelo cognitivo que levanta a hipótese de que as emoções e o comportamento das pessoas são influenciados pelas percepções dos eventos. Sendo assim, não é uma situação por si só que determina o que a pessoa sente, mas, antes, o modo como ela interpreta uma dada situação. Pressupõe que o sistema de crenças de uma pessoa, ou melhor, o modo como percebe e avalia a sua experiência e o mundo que a cerca, exerce um papel significativo no possível desenvolvimento dos transtornos psiquiátricos. Esse sistema de crenças pode repercutir na incorporação de distorções e rigidez, tornando-se disfuncional, e com isso, desencadeando comportamentos igualmente disfuncionais. Como um exemplo, a presença de um conjunto de crenças distorcidas que associam magreza à competência, à superioridade e ao sucesso. Dentro dessa perspectiva, é muito importante que o(a)s pacientes entendam a interação de pensamentos, emoções e comportamentos, pois, a partir dessa condição, serão capazes de reconhecer suas reações imediatas, podendo, assim, determinar sua própria mudança. Espera-se do(a)s pacientes um desenvolvimento para responder eficazmente às pressões ambientais desafiadoras e a modificação dos padrões emocionais quanto ao comer e à maneira de encarar o peso e a forma corporais. O tratamento é feito em grupo, por terapeuta e coterapeuta cognitivo comportamental. Os atendimentos ocorrem semanalmente, com uma hora de duração, pelo período de oito meses. Atividade física e TA Os benefícios da prática regular de atividades físicas estruturadas ou exercícios físicos abrangem os três aspectos da saúde: fisiológicos, como manutenção do peso corporal, prevenção de doenças cardiovasculares e osteoarticulares, controle da pressão arterial e dos níveis de colesterol; psicológicos, como melhora da autoestima, prevenção de depressão e estresse; e sociais. No entanto, indivíduos com TA frequentemente não se beneficiam porque os utilizam como estratégia para perder peso, como método para compensar ingestão alimentar e, por vezes, de forma compulsiva15. Há evidências que associam a dependência ao exercício com os TA, porém é importante ressaltar que isso não é uma regra. Alguns indivíduos com TA podem apresentar esse sintoma pelo único interesse em controlar o peso e/ou a composição corporal. Nesse contexto, faz- se necessário avaliar a motivação para prática de exercícios e distinguir o exercício excessivo ou compulsivo, ou ainda a sua utilização como compensação. A prática de exercícios, também, pode ser terapêutica atuando como um componente do tratamento de recuperação do peso no intuito de reduzir a ansiedade, elevar o humor e ajudar na alimentação, desde que o indivíduo não apresente nenhum outro tipo de quadro clínico que impeça a prática de exercícios, principalmente, problemas cardiovasculares, e seja orientada por profissional competente e com conhecimento profundo sobre TA. Para os pacientes que ainda apresentam um quadro alimentar desordenado e/ou praticam exercícios apenas com o objetivo de emagrecer, sua inclusão no tratamento é contraindicada. O mais indicado é aguardar que o paciente atinja um determinado estágio do tratamento no qual ele regularize seu quadro alimentar e apresente crítica sobre os reais benefícios da prática de exercícios para a saúde. A morte social e física A morte é um evento inexorável à vida e faz parte do desenvolvimento humano. Mas não há uma única morte, ou seja, a morte física, e sim várias mortes, que ocorrem durante todo o processo evolutivo do indivíduo. Interessante observar que esse processo, a vivência da morte em nosso cotidiano, boa parte das vezes ocorre de forma a não percebermos o seu impacto e significado18. Ficamos insensíveis a ele e passamos a acreditar em um processo quase que “normativo” acerca das mudanças, perdas, rupturas e desligamentos. Para os indivíduos que desenvolvem os TA, observamos um processo lento e gradativo no comprometimento de sua saúde física, emocional e social. O transtorno não se instala de imediato, há um ritual diário reforçado pela necessidade desse indivíduo e não identificado pelas pessoas que o rodeiam. Esse ritual o distancia de um elo saudável consigo próprio e com o seu meio e, não havendo qualquer intervenção, pode se “cronificar”, levando em casos extremos à morte física. Mas esse caminho trilhado é longo, repleto de sofrimento, perdas e rupturas. O paciente com TA apresenta uma recusa mórbida em ganhar peso. Suas crenças pessoais, muitas vezes, embasam- se no fato de que “ser magro(a)”, “estar magro(a)” é a chave para o seu sucesso pessoal, afetivo e social. Sabemos que os TA provocam um emagrecimento corporal induzido, mas essa perda vai além do aspecto físico, pois invade o território das funções cognitivas, emocionais e sociais. São indivíduos que apresentam sua capacidade crítica, mnemônica, volitiva, entre outras, igualmente comprometidas. Interrompem o seu processo de desenvolvimento e perdem paulatinamente a capacidade de relacionar-se consigo próprio e com os seus pares. Uma possibilidade de compreensão Pode-se dizer que a expectativa de corpo difundida na sociedade contemporânea, caracterizada por uma noção de perfeição ligada à magreza, acaba por influenciar a imagem corporal, elemento essencial na etiologia dos transtornos alimentares. ACHADOS LABORATORIAIS Como o diagnóstico de um TA é feito clinicamente, não há teste laboratorial confirmatório. Anormalidades laboratoriais, quando encontradas, são devidas a má nutrição, hábitos de controle de peso utilizados ou complicações médicas; estudos devem ser escolhidos com base na história e no exame físico. Uma bateria de exames de rotina tipicamente inclui hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (deve ser normal) e perfil bioquímico. Anormalidades comuns em TA incluem baixa contagem de células brancas do sangue com hemoglobina e contagem diferencial normais; alcalose metabólica hipocalêmica e hipoclorêmica com vômitos graves; níveis de enzimas hepáticas, colesterol e de cortisol levemente elevados; gonadotrofinas e glicose no sangue baixos com acentuada perda de peso; e proteínas totais, albumina e função renal geralmente normais. Um eletrocardiograma (ECG) pode ser útil quando bradicardia profunda ou arritmia for detectada; o ECG tem geralmente baixa voltagem, com alterações de onda T ou ST não específicas. Embora QTc prolongado tenha sido relatado, estudos prospectivos não encontraram risco aumentado para isso. CUIDADOS DE APOIO Em relação aos TAs pediátricos, grupos de apoio são desenvolvidos principalmente para os pais. Como sua filha ou filho com TA frequentemente resiste aodiagnóstico e tratamento, os pais muitas vezes se sentem impotentes e sem esperança. Em razão de um precedente histórico de se culpar os pais por causar TAs, eles muitas vezes expressam sentimentos de vergonha e isolamento. Grupos de apoio e sessões de terapia multifamília juntam os pais a outros pais nos quais as famílias estão em vários estágios de recuperação de um TA de maneiras educativas e encorajadoras. Os pacientes geralmente se beneficiam de grupos de apoio após o tratamento intensivo ou no final do tratamento por causa da imagem corporal residual ou outros problemas após o peso e a alimentação terem sido normalizados. PROGNÓSTICO Com diagnóstico precoce e tratamento eficaz, 80% ou mais dos jovens com AN se recuperam: eles desenvolvem hábitos alimentares e de controle de peso normais, voltam a ter menstruação, mantêm o peso médio para a altura e têm bom desempenho escolar, no trabalho e em relacionamentos, embora alguns ainda mantenham imagens corporais ruins. Com o peso de volta ao normal, a fertilidade também retorna, embora o peso para a retomada da menstruação (cerca de 92% do peso corporal médio para a altura) possa ser menor do que o peso para a ovulação. O prognóstico para a BN é menos bem estabelecido, mas a evolução melhora com o tratamento multidimensional que inclui ISRSs e atenção ao humor, traumas passados, impulsividade e qualquer psicopatologia existente. Menos ainda se sabe sobre o prognóstico para o TA-SOE (transtorno alimentar sem outra especificação) PREVENÇÃO Dada a complexidade da patogênese dos TAs, a prevenção é difícil. Intervenções-alvo preventivas podem reduzir os fatores de risco em mulheres adolescentes mais velhas e em idade universitária. Esforços de prevenção universal para promover a regulação do peso saudável e desencorajar dietas não saudáveis não têm demonstrado eficácia em alunos de 5ª-8ª séries do ensino fundamental. Programas que incluem pacientes recuperados ou que focam os problemas associados aos TAs podem inadvertidamente normalizar ou até mesmo glamorizar os TAs e devem ser desencorajados. OBESIDADE A obesidade é um problema pediátrico de saúde pública importante associado ao risco de complicações na infância e ao aumento da morbidade e mortalidade na vida adulta. A prevalência de obesidade infantil vem aumentando, e sua prevenção e tratamento emergiram como foco importante de pesquisas pediátricas e assistência clínica. ETIOLOGIA Os seres humanos têm a capacidade de armazenar energia no tecido adiposo, permitindo melhor sobrevivência em épocas de fome. De forma simplista, a obesidade é resultante do desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto de energia. Mesmo os excessos calóricos incrementados mas depois estabilizados resultam em adiposidade excessiva. A adiposidade individual é resultado de uma interação complexa entre hábitos corporais geneticamente modificados, apetite, ingestão nutricional, atividade física e gasto de energia. Os fatores ambientais determinam a quantidade de alimentos disponíveis, as preferências por tipos de alimentos, a quantidade de atividade física e as preferências por tipos de atividades. Alterações Ambientais Nas últimas quatro décadas, o ambiente alimentar mudou drasticamente. As mudanças na indústria alimentícia relacionam-se em parte com as mudanças sociais, assim como as famílias extensas tornaram-se mais dispersas. Poucas famílias têm alguém em casa para preparar as refeições. Os alimentos são cada vez mais preparados pela “indústria alimentícia”, com altos teores de calorias, carboidratos simples e gordura. O preço de muitos alimentos foi reduzido em relação ao orçamento familiar. Essas alterações, associadas à pressão do marketing, resultaram nos tamanhos maiores das porções e no aumento de petiscos entre refeições. O aumento do consumo de bebidas ricas em carboidratos, incluindo refrigerantes, bebidas esportivas e sucos, soma-se a esses fatores. Um terço das crianças norte-americanas consume fast food diariamente. Uma refeição típica de fast food pode conter 2.000 calorias e 84 gramas de gordura. Muitas crianças consomem quatro doses de bebidas ricas em carboidrato por dia, resultando em um acréscimo de 560 kcal de valor nutricional baixo. As bebidas açucaradas estão associadas ao aumento do risco de obesidade, pois as crianças que ingerem grandes quantidades de açúcar não consomem menos comida. O aumento drástico no uso de xarope de milho, que é rico em frutose, para adoçar bebidas e alimentos prontos é outra alteração ambiental importante. Os produtos carregados de frutose podem aumentar o risco de obesidade através de um mecanismo relacionado ao controle do apetite. Ao contrário da glicose, que diminui a ingestão alimentar por meio da via de sinalização malonil-CoA, o consumo de frutose não resulta em diminuição similar. Desde a Segunda Guerra Mundial, os níveis de atividade física em crianças e adultos têm diminuído. As alterações no ambiente resultaram em mais dependência de carros e menos caminhadas. O trabalho é extremamente sedentário e muitos setores da sociedade não se envolvem em atividades físicas durante as horas de lazer. Para as crianças, as restrições orçamentárias e a pressão por desempenho acadêmico têm levado à diminuição do tempo dedicado à educação física nas escolas. A percepção de falta de segurança na vizinhança é outro fator que pode determinar níveis mais baixos de atividade física quando as crianças são forçadas a ficar dentro de casa. O advento da televisão, computador e video game resultou em oportunidades para atividades sedentárias que não queimam calorias e nem exercitam os músculos. As mudanças em outro comportamento de saúde, o sono, também reforça esta contribuição. Nas últimas quatro décadas, crianças e adultos diminuíram a quantidade de sono. As razões dessas alterações podem estar relacionadas com o aumento do tempo no trabalho, do tempo assistindo televisão e com o ritmo, em geral mais rápido, de vida. A perda parcial crônica do sono pode aumentar o risco de ganho de peso e obesidade, com impactos possivelmente maiores nas crianças do que nos adultos. Em estudos realizados com homens jovens, saudáveis e magros, a duração curta do sono estava associada à diminuição dos níveis de leptina e aumento dos níveis de grelina, associados ao aumento da fome e do apetite. O déficit de sono também resulta na diminuição da tolerância à glicose e da sensibilidade à insulina relacionada a alterações nos glicocorticoides na atividade simpática. Alguns efeitos do déficit do sono podem estar relacionados com orexinas, peptídeos sintetizados no hipotálamo lateral, que podem aumentar a ingestão de alimentos, a vigília, atividade simpática e/ou a atividade do neuropeptídeo Y. Genética O rápido aumento na taxa de prevalência da obesidade está relacionado com as alterações ambientais drásticas, mas os determinantes genéticos podem ser importantes para a suscetibilidade individual. Transtornos raros de um único gene que resultam em obesidade em humanos são conhecidos, incluindo as mutações dos genes FTO (massa de gordura e obesidade) e INSIG2 (gene 2 induzido pela insulina), bem como a deficiência de leptina e a deficiência de proopiomelanocortina. Além disso, outras doenças genéticas associadas à obesidade, como a síndrome de Prader-Willi, já foram reconhecidas. É provável que haja envolvimento genético em fenótipos comportamentais relacionados com a regulação do apetite e preferência por atividade física. Mais de 600 genes, marcadores e regiões cromossômicas foram associados à obesidade humana. Fisiologia Endócrina e Neural O monitoramento do “combustível armazenado” e o controle a curto prazo da ingestão de alimentos (apetite e saciedade) ocorrem por meio de um feedback neuroendócrino que liga o tecido adiposo e o trato gastrointestinal (GI) ao sistema nervoso central. Hormônios GI, incluindo a colecistoquinina, o peptídeo semelhante ao glucagon-1,e o peptídeo YY, e o feedback neuronal vagal promovem a saciedade. A grelina estimula o apetite. O tecido adiposo dá o feedback sobre os níveis de armazenamento de energia para o cérebro através da liberação de leptina e adiponectina. Esses hormônios agem sobre o núcleo arqueado no hipotálamo e sobre o núcleo do trato solitário no tronco encefálico, que, por sua vez, ativam redes neuronais distintas. Os adipócitos secretam adiponectina no sangue, com níveis reduzidos em reposta à obesidade e níveis elevados em resposta ao jejum. Os níveis reduzidos de adiponectina estão associados a menor sensibilidade à insulina e a efeitos cardiovasculares adversos. A leptina está diretamente envolvida na saciedade, visto que níveis baixos de leptina estimulam a ingestão de alimentos e níveis altos inibem a fome em modelos animais e voluntários humanos. A adiposidade se correlaciona com níveis séricos de leptina tanto em crianças como em adultos, sendo que o controle destes efeitos permanece desconhecido. Vários neuropeptídeos do cérebro, incluindo o neuropeptídeo Y, o peptídeo relacionado ao gene agouti e a orexina, parecem estar envolvidos na estimulação do apetite, enquanto as melanocortinas e o hormônio estimulante da α-melanocortina estão envolvidos na saciedade. O controle neuroendócrino do apetite e do peso ocorre em sistema de feedback negativo equilibrado entre o controle de curto prazo do apetite (inclusive grelina, PYY) e o controle de longo prazo da adiposidade (inclusive leptina). COMORBIDADES As complicações da obesidade infantil ocorrem durante a infância e a adolescência e persistem até a vida adulta. Uma razão importante para prevenir e tratar a obesidade infantil é o risco maior de mortalidade e morbidade mais tarde na vida. O Harvard Growth Study descobriu que os garotos obesos durante a adolescência tinham chance duas vezes maior de morrer em decorrência de doenças cardiovasculares que os de peso normal. As comorbidades mais imediatas incluem diabetes tipo 2, hipertensão, hiperlipidemia e esteatose hepática não alcoólica. A resistência à insulina aumenta com o aumento da adiposidade e afeta de forma independente o metabolismo lipídico e a saúde cardiovascular. A esteatose hepática não alcoólica ocorre em 10%-25% dos adolescentes obesos e pode progredir para cirrose. Nos adultos, a combinação de obesidade central, hipertensão, intolerância à glicose e hiperlipidemia é a síndrome metabólica. Pessoas com síndrome metabólica apresentam maior risco de morbidade e mortalidade cardiovascular. Não há consenso entre os especialistas em aceitar que esse conjunto de sintomas na faixa etária pediátrica tenha importância prognóstica. Há cada vez mais evidências de que a obesidade pode estar associada à inflamação crônica. A adiponectina, um peptídeo com propriedades anti-inflamatórias, tem níveis reduzidos em pacientes obesos em comparação com pessoas magras e sensíveis à insulina. Níveis baixos de adiponectina estão relacionados com os níveis elevados de ácidos graxos livres e triglicérides plasmáticos, bem como com IMC alto; e os níveis elevados de adiponectina se correlacionam com a sensibilidade periférica à insulina. Os adipócitos secretam peptídeos e citocinas na circulação e os peptídeos pró-inflamatórios, como a interleucina (IL)-6 e o fator de necrose tumoral α (TNF- α), ocorrem em níveis elevados em pacientes obesos. De forma específica, a IL-6 estimula a produção da proteína C reativa (PCR) no fígado. A PCR é um marcador de inflamação e pode fazer a ligação entre obesidade, doença coronária e inflamação subclínica. Algumas complicações da obesidade são mecânicas, como a apneia obstrutiva do sono e as complicações ortopédicas. As complicações ortopédicas incluem a doença de Blount e o deslizamento epifisário da cabeça do fêmur. Os problemas de saúde mental podem coexistir com a obesidade, com possibilidade de efeitos bidirecionais. Essas associações são modificadas pelo sexo, etnia e condição socioeconômica. A autoestima pode ser mais baixa em adolescentes do sexo feminino obesas em comparação com as colegas não obesas. Alguns estudos encontraram uma associação entre obesidade e depressão em adolescentes. Há interesses consideráveis na coocorrência de distúrbios alimentares e obesidade. Objetivo 2: Identificar as principais drogas na adolescência e suas consequências. O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na história da humanidade e constitui um grave problema de saúde pública, com sérias conseqüências pessoais e sociais no futuro dos jovens e de toda a sociedade. A adolescência é um momento especial na vida do indivíduo. Nessa etapa, o jovem não aceita orientações, pois está testando a possibilidade de ser adulto, de ter poder e controle sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que “naturalmente” afasta-se da família e adere ao seu grupo de iguais. Se esse grupo estiver experimentalmente usando drogas, o pressiona a usar também. Ao entrar em contato com drogas nesse período de maior vulnerabilidade, expõe-se também a muitos riscos. O encontro do adolescente com a droga é um fenômeno muito mais freqüente do que se pensa e, por sua complexidade, difícil de ser abordado. Estudo realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) e pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas e Psicotrópicos (Cebrid), da Unifesp, dão conta que na faixa etária de 12 a 17 anos, 48,3% dos adolescentes tomam bebidas alcoólicas regularmente (52,2% de meninos e 44,7% de meninas). A dependência de álcool entre adolescentes da mesma faixa etária atinge um percentual de 5,2% em todo o País. A média de idade do primeiro contato com o álcool e com o tabaco foi de 12,5 anos e 12,8 anos, respectivamente. O levantamento deixa claro que o uso de bebidas é o passo inicial do jovem no tortuoso caminho da dependência. O prazer, antes voltado para as relações intersubjetivas, passa a ser modelado, através da perversa associação publicidade e consumo, para a relação com os objetos. Então, o prazer agora volta-se para pegar, tocar, possuir determinado bem. É comum nas propagandas veiculadas, aliar a sensação de bem-estar, felicidade, alegria, a produtos. Em propaganda de um cartão de crédito, veiculava-se que tudo tinha um preço e o que não tinha você podia conseguir utilizando o cartão. Abuso de substâncias é a utilização prejudicial de álcool ou de outras drogas. Trata-se de um padrão de comportamento pouco adaptativo, com duração de mais de um mês, em que uma pessoa continua usando uma substância mesmo sabendo que ela a prejudica ou a utiliza repetidamente em uma situação perigosa, como, por exemplo, dirigir embriagado. O abuso pode levar à dependência de substâncias (adição), que pode ser fisiológica ou psicológica (ou ambas), e tende a continuar na idade adulta. uso de drogas costuma iniciar quando as crianças passam do primeiro para o segundo ciclo do ensino fundamental, momento em que fazem novos amigos e tornam-se mais vulneráveis à pressão dos amigos. Estudantes de quarta e sexta séries utilizam cigarros, cerveja e inalantes com mais frequência do que maconha ou drogas mais pesadas. Para início do uso dessas substâncias psicoativas têm diversos fatores de risco. Estes podem ser divididos em inerentes à personalidade e a fatores contextuais, decorrentes da influência do meio social sobre o indivíduo. Entre os fatores endógenos, são comumente citados a vulnerabilidade genética, psicopatologias como depressão, transtorno de personalidade antissocial, baixa autoestima, falta de perspectiva de vida, estar à procura de novas sensações, inclusive busca pelo prazer e curiosidade. Entre os fatores contextuais, já foram mencionados a baixa condição socioeconômica, disponibilidade da droga, outros fatores ambientais como altas taxas de criminalidade, aspectos socioculturais incluindo campanhas publicitárias e políticas sociais, falta de vínculo familiar (pais que exercem pouco controle e nãose preocupam com os hábitos de seus filhos); falta de vínculo com atividades religiosas, pouca adesão às atividades escolares como atrasos e reprovações, pressão e influência dos amigos que já são usuários. A utilização das substâncias psicoativas reflete-se em alterações físico-comportamentais que vão se agravando no decorrer do uso. Citam-se, ainda danos sociais relacionados ao consumo de drogas, como: acidentes de trânsito, os prejuízos escolares e ocupacionais, assim como a violência caracterizada pela ocorrência de brigas, homicídios e práticas de atos ilícitos. Dentre os segmentos da sociedade, o uso dessas substâncias entre os adolescentes se faz de forma preocupante uma vez que o primeiro contato com as drogas ocorre muitas vezes na adolescência. Nessa fase intermediária entre a infância e a juventude, conhecida como o período das grandes mudanças intrínsecas, o individuo passa por mudanças biopsicossociais e afloram conflitos em virtude da maior labilidade emocional e da sensibilidade aumentada, o que confere ao sujeito que vive tal desenvolvimento certo desconforto. Surgem dúvidas e questões de várias ordens, desde como viver a vida, modo de ser, de estar com os outros, até a construção do futuro relacionado às escolhas. Essas características e situações fazem com que ele fique exposto a inúmeros riscos, dentre os quais se podem citar as drogas mais utilizada pelos adolescntes são de tabaco, álcool e outras drogas. Álcool Um terço dos quartanistas do ensino médio admitem ter bebido durante os últimos 30 dias. Isso é preocupante porque os jovens que começam a beber antes dos 15 anos têm quatro vezes mais chances de se tornarem dependentes de álcool do que aqueles que só começam a beber aos 20 anos ou depois. Maconha Os adolescentes experimentam maconha por muitos dos mesmos motivos que experimentam álcool: por terem curiosidade, por quererem fazer o que os amigos fazem e por quererem ser como os adultos. A maconha também pode ser um símbolo de rebeldia contra os valores dos pais, mas essa atração pode estar diminuindo, pois os adolescentes de hoje têm muito mais chances de terem pais que fumaram (ou atualmente fumam) maconha. O uso pesado de maconha pode danificar o cérebro, o coração, os pulmões e o sistema imunológico; sua fumaça geralmente contém mais de 400 carcinógenos. O uso de maconha pode prejudicar a memória, a aprendizagem, a percepção, o julgamento e as habilidades motoras necessárias para conduzir um veículo. Ele pode contribuir para acidentes de trânsito, para deficiências nutricionais, para infecções respiratórias e para outros problemas físicos. O uso de maconha pode também diminuir a motivação, prejudicar os estudos e outras atividades, diminuir a vigilância e a capacidade de atenção e causar problemas familiares Tabaco Quase 20% dos estudantes de 8a série, mais do que 25% dos estudantes do 2ª ano do ensino médio e mais do que um terço dos estudantes de última série do ensino médio dizem ter fumado cigarros nos últimos 30 dias. A prevalência do tabagismo em idade precoce é particularmente grave à luz dos recentes achados de que fumar durante a infância ou a adolescência pode danificar o DNA nos pulmões, aumentando o perigo de câncer de pulmão, mesmo em pessoas que posteriormente param de fumar. Além disso, jovens que começam a fumar aos 11 anos têm duas vezes mais chances do que outros jovens de apresentar comportamentos de risco, como andar em um carro com um motorista que bebeu; levar facas ou armas para a escola; usar inalantes, maconha ou cocaína . ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido pela sigla ECA, prevê proteção integral às crianças e adolescentes brasileiras. Igualmente, estabelece os direitos e deveres do Estado e dos cidadãos responsáveis pelos mesmos. Para o Estado brasileiro “criança” é uma pessoa de até 12 anos incompletos e “adolescente” de 12 a 18 anos. Excepcionalmente, nos casos previstos em lei, o ECA pode ser aplicado às pessoas de entre 18 e 21 anos. Com a criação do ECA, as crianças e os adolescentes começam a adquirir direitos e deveres garantidos por lei e reconhecidos assim. Portanto, tal como os adultos, eles são sujeitos que compõem a sociedade. Porém, são vulneráveis no sentido de que essa fase representa muito no desenvolvimento social, psicológico e físico do indivíduo. Para tanto, a importância do conteúdo do ECA deve ser conhecida pelas crianças e adolescentes, de forma a construir uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, todos reconhecem seus direitos e deveres e podem lutar por eles. O que ocorre no Brasil, uma vez que o país possui um histórico colonialista, é o desconhecimento das leis por parte do grupo social, tornando-o vulnerável a qualquer tipo de abuso de poder. ECA: DIREITOS E DEVERES ° absoluta prioridade à efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. °Por “absoluta prioridade” significa que a criança e o adolescente terá preferência para receber proteção e socorro, assim como a precedência de atendimento nos serviços públicos. ° Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. ° Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores. Igualmente, os pais têm a obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino. ° O dever do Estado em assegurar à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria. CONSELHO TUTELAR O Conselho Tutelar é um grupo de especialistas que trabalham em prol da proteção das crianças e dos adolescentes. Dessa forma é composto de 5 membros, os quais são eleitos pela comunidade. Segundo a ECA, o Conselho Tutelar é responsável por garantir e assegurar o bem-estar desse grupo, por meio da efetivação de seus direitos e deveres : I- Atender e aconselhar crianças e adolescentes II- atender e aconselhar os pais e responsáveis na tutela ou guarda de seus filhos III- Informar os direitos e deveres (limites) da criança e adolescente IV- Ouvir queixas e reclamações dos direitos e deveres ameaçados e/ou violados V- Requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, providência, trabalho e segurança VI- Garantir e fiscalizar os direitos e deveres da criança e do adolescente VII- Participar de ações que combata a violência, a discriminação no ambiente escolar, familiar e comunitário. SANÇÕES O ECA estabelece sanções para os pais ou responsáveis que sejam omissos na criação e educação dos filhos. Também prevê sanções para aquelas crianças e adolescentes que cometem infrações. Está previsto desde medidas sócio-educativas até a internação. Esta não deve durar mais de três anos e ser realizada em estabelecimento adequado que vise a recuperação pessoal.
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