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2019 - 02 - 25 
Curso de Arbitragem - Ed. 2018
3. MEDIAÇÃO
3. Mediação
ROTEIRO DE ESTUDOS
1. Introdução
A Lei 13.140, de 26 de junho de 2015
2. Princípios norteadores da mediação
• Autonomia da vontade das partes
• Imparcialidade
• Independência
• Credibilidade
• Competência
• Confidencialidade
• Diligência
• Acolhimento das emoções dos mediados
3. Técnicas de mediação
• Modelo de Harvard
• Modelo transformativo
• Modelo circular-narrativo
4. A dimensão da mediação
• Mediação familiar
• Mediação empresarial ou corporativa
• Justiça restaurativa
• Mediação escolar
SUMÁRIO
3.1. • INTRODUÇÃO
3.2. • PRINCÍPIOS NORTEADORES DA MEDIAÇÃO
3.3. • TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO
3.4. • A LATITUDE (DIMENSÃO) DA MEDIAÇÃO
3.5. • A LEI 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015 – SUAS PARTICULARIDADES
3.6. • BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
3.1. INTRODUÇÃO
A mediação é um dos instrumentos de pacificação de natureza autocompositiva e voluntária,
no qual um terceiro, imparcial, atua como facilitador do processo de retomada do diálogo entre as
partes,1 antes ou depois de instaurado o conflito.2
Ou, como se apresenta na recente Lei 13.140, de 26 de junho de 2015, “considera-se mediação a
atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito
pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a
controvérsia” (art. 1.º, parágrafo único).3
Como visto anteriormente, a mediação é indicada para as situações em que existe um vínculo
jurídico ou pessoal continuado entre os envolvidos no conflito,4 ensejando, assim, a necessidade de
se investigar os elementos subjetivos que levaram ao estado de divergências. Ela visa, assim, a
prevenção ou correção dos pontos de divergência decorrentes da interação e organização humana.
Daí porque deve o mediador dedicar mais tempo aos mediados, para melhor auxiliá-los nas
questões controvertidas.
E diante deste contexto, ao mediador cabe criar um ambiente propício à comunicação entre os
mediados, de forma que, aos poucos, emoções, mágoas, ressentimentos, frustrações ou outros
sentimentos sejam superados para facilitar a escuta e respeito à posição do outro.5
Enquanto meio não adversarial,6 todo o processo se desenvolve na expectativa de se ter a
cooperação entre os envolvidos para se chegar a um resultado positivo.
Porém, como bem lembram Adolfo Braga Neto e Lia Regina Castaldi Sampaio, a mediação “não
visa pura e simplesmente ao acordo, mas a atingir a satisfação dos interesses e das necessidades do
envolvidos nos conflitos (...). E um de seus objetivos é estimular o diálogo cooperativo entre elas
para que alcancem a solução das controvérsias em que estão envolvidas. Com esse método pacífico
tenta-se propiciar momentos de criatividade para que as partes possam analisar qual seria a
melhor opção em face da relação existente, geradora da controvérsia. Nesse sentido, como salienta
Christopher W. Moore, o acordo passa a ser a consequência lógica, resultante de um bom trabalho
de cooperação realizado ao longo de todo o procedimento, e não sua premissa básica”.7
Mais importante, assim, resgatar a qualidade da comunicação e da relação entre os envolvidos
do que simplesmente chegar a um acordo.8
Pode soar estranho, até mesmo às partes, em um primeiro momento, submeter-se à mediação
para, no final, consumido tempo e recursos, ainda ser necessário a solução adjudicada (por
arbitragem ou processo judicial). Mas para os profissionais da área, e para aqueles que se
submeteram ao procedimento, há o reconhecimento do efeito positivo da mediação, na inter-
relação e na forma como o conflito será a partir de então conduzido. O “tratamento” gera no
mínimo a conscientização das posições, a redução do desgaste emocional, o arrefecimento da
animosidade, e o respeito às divergências. Este resultado, mesmo sem impacto imediato à decisão
do litígio, cria até a expectativa de cumprimento espontâneo da solução que, voluntariamente, não
foi exitosa, mas resultou da intervenção do terceiro/mediador. Ademais, pela mudança de postura
frente ao conflito, as portas da autocomposição estarão sempre mais abertas, talvez aguardando
apenas o amadurecimento dos envolvidos que, por vezes, só o tempo traz.
Em países de cultura menos contenciosa, como China e Japão, o simples ajuizamento de ação
judicial pode ser considerado uma vergonha, caso não se tenha tentado um acordo antes. Na
judicial pode ser considerado uma vergonha, caso não se tenha tentado um acordo antes. Na
China, em especial, se tem notícia da mediação há 4.000 anos, com 10 milhões de mediadores,
número muito maior do que os 110.000 advogados.9
O mediador é um facilitador; um coordenador dos trabalhos, instigando as partes a desenvolver
a dialética e comunicação, permitindo falar sobre aquilo que não vinha sendo dito, e fornecendo-
lhes elementos para reconhecer valores relevantes à análise da relação. Como terceiro imparcial,
não sugestiona, pela corrente da mediação passiva, a tomada de decisões, ainda que tenha a
percepção da melhor solução ao conflito.
Neste processo, o mediador deve ter sensibilidade para identificar a origem real do conflito e
capacidade para levar as partes a esta percepção, para que o novo olhar facilite a compreensão da
controvérsia, e assim contribua para a escolha de soluções, ou, ao menos, para mudança de
comportamento.
Tarefa difícil, na medida em que cada pessoa, pela sua personalidade, reage de forma diversa a
situações indesejadas, incômodos, frustrações e a lesões a seus direitos. Daí porque, às vezes, o
perfil psicológico dos envolvidos deve ser investigado, e repercute na maneira como será
conduzida a mediação.
A mediação ganhou respeito e espaço nos últimos tempos, e seus proveitosos resultados
passaram a ser reconhecidos não só pela acomodação de interesses alcançada como potencial
resultado de seu desenvolvimento, como também, e especialmente, pelo benefício de melhorar a
conduta das partes, inspirando o sentimento de pacificação das relações sociais, até mesmo se
frustrada a composição.
Sua valorização extrapolou os ambientes de sua prática, e ganhou o merecido espaço na
academia, na produção científica, eventos e, de um modo geral, em todos os lugares em que de
alguma forma o conflito é analisado ou tratado.
Neste aspecto, acreditamos que, embora se refira à mediação judicial, a Res. CNJ 125/2010, já
antes comentada, foi decisiva para impulsionar a mediação privada.
As vantagens da mediação como economia de tempo, confidencialidade, facilitação para a
compreensão dos sentimentos e emoções como parte do processo, flexibilidade do procedimento e
perspectiva de se evitar novos conflitos passaram a ser mais buscadas e exploradas.
Ainda na esfera privada, acompanhando a onda de valorização da autocomposição, além da
intensificação dos debates a respeito em Congressos e Universidades, nota-se a concentração de
esforços no desenvolvimento da mediação por instituições particulares, ou profissionais
independentes. Importantes entidades até então concentradas na arbitragem, passaram a
desenvolver internamente a mediação, criando ou reformulando seus regulamentos, inclusive, por
vezes, elaborando listas próprias de profissionais, para oferecer também este produto.
E dentre as diversas iniciativas, anote-se o movimento para o fortalecimento da cultura da
pacificação intitulado Pacto de Mediação, lançado em 11 de novembro de 2014 pelo Centro e
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP/FIESP) para consolidação das soluções
consensuais de conflito especialmente no mundo empresarial. Este Pacto de Mediação, como já
antes referido na introdução desta obra, firmado entre algumas Instituições de Ensino,10 e diversas
Entidades representativas de categorias econômicas da indústria, comércio, prestação de serviços
etc., cria o compromisso dos signatários em prestigiar e incentivar a prática destes mecanismos
amistosos de gestão de disputas, de maneira colaborativa e integrativa.
E como ápice desta valorização, chegou-se ao quantohá algum tempo alguns profissionais da
área buscavam: o Marco Legal da Mediação, através da recente Lei 13.140, de 26 de junho de 2015.
3.2. Princípios norteadores da mediação
Adotamos aqui a sistematização oferecida com peculiar clareza e objetividade por Adolfo Braga
Neto e Lia Regina Castaldi Sampaio, na obra O que é mediação de conflitos,15 ao indicarem os
seguintes princípios norteadores da mediação que, sem maior rigor técnico, e salvo pequenos
ajustes para adaptação às suas peculiaridades, também se aplicam à conciliação como antes
referido.
Há coincidência, também, desta indicação com o que veio a ser agora positivado, tanto pela Lei
13.140/2015 (art. 2.º),16 como pelo Código de Processo Civil de 2015 (art. 166),17 e assim, a propósito
destas inovações legislativas, se farão as observações pertinentes.
Autonomia da vontade das partes: o processo de mediação tem caráter voluntário na sua mais
completa dimensão: parte da opção dos mediados a se submeterem a este método, passa pela
escolha comum do(s) mediador(es), pela decisão sobre os assuntos a serem abordados, pela
administração do procedimento, conferindo-lhe maior ou menor intensidade, e se encerra no
momento desejado pelos mediados. Os interessados são, pois, senhores da sorte (do destino) da
mediação, e assim, passam a ser os gestores de seu próprio futuro.
A escolha voluntária das partes em se submeter à mediação foi positivada como princípio na
Lei 13.140/2015, em seu art. 2.º, V; porém, como se verá no “procedimento de mediação” adiante
tratado (nas “particularidades da lei”), a liberdade não afasta a responsabilidade, e a escolha traz
compromissos.18
E igualmente, na mediação judicial, como visto, a ausência da parte na primeira audiência
designada para tanto também traz consequências (Capítulo 2, item 2.6.3).
Imparcialidade: este princípio, agora contido na Lei 13.140/2015 (art.  2.º, I), e também no
Código de Processo Civil (art.  166), se impõe ao mediador que, como terceiro facilitador, deve
cuidar para que seus valores pessoais não venham a interferir na condução do procedimento, em
especial quanto à avaliação do comportamento das partes. Também a ele é defeso dar qualquer
sinal de preferência a uma das partes, e assim, deve ter uma conduta isenta, preservando o
equilíbrio de poder entre os mediados.
Independência: o mediador não deve ter qualquer vínculo anterior com uma das partes, e/ou
com os valores/ideias ligadas àquela mediação. Para tanto, obriga-se a revelar as circunstâncias
que eventualmente colocariam em dúvida esta independência. E assim fará durante todo o
procedimento, prestando informações que possam, aos olhos das partes, gerar desconfiança.
Entendemos, porém, que, cientes as partes das circunstâncias envolvendo o mediador e as
possíveis repercussões, nada impede que o escolham ou aceitem. Neste campo vige o princípio da
autonomia da vontade, possibilitando a aceitação da situação em caráter excepcional. E como
facilitador, pela sua habilidade, apenas favorecerá o diálogo, sendo que a solução dependerá
exclusivamente da evolução dos mediados. Desta forma, a atuação do mediador não compromete
(nem deve interferir, como já salientado) o elemento volitivo da decisão adotada pelas partes
quando da composição.19
Especificamente sobre este aspecto, tanto o Código de Processo Civil como a Lei 13.140/2015
fazem expressa referência a situações de impedimento do mediador (cf. Capítulo 2, item 2.6.2,
acima) e, em especial, destaca-se a inovação da Lei 13.140/2015 na previsão do dever de revelação;
assim: “qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer
delas” (art. 5.º, parágrafo único), tal como se exige do árbitro (LArb., art. 14, §1.º). E a legislação
processual também indica a independência como princípio (art. 166).
Credibilidade: as partes elegem a mediação para facilitar a autocomposição por acreditarem
neste instrumento. E ao mediador cabe sustentar esta confiança, inclusive chamando para si a
credibilidade para os mediados terem liberdade e transparência na sua postura durante o
desenvolver do procedimento.
Competência: a tarefa do facilitador, já dissemos, é de significativa complexidade, tal qual o
conflito a ele submetido. Pode envolver uma série de relações em diversas áreas do conhecimento.
Também as peculiaridades do conflito e dos próprios litigantes interferem no encaminhamento a
ser dado. Neste contexto, o mediador só deve atuar quando convicto de suas qualidades, em
condições de atender as expectativas, questionamentos e preocupações dos mediados, devendo,
inclusive, declinar da atuação se sua percepção de inaptidão se der no curso do procedimento.20
Confidencialidade: de extrema relevância para que as partes sintam-se confortáveis no
desenvolvimento da mediação é o absoluto sigilo do quanto nele se apresenta, em sua maior
abrangência, ou seja, informações, fatos, relatos, situações, propostas, documentos etc. Ao
mediador é vedado testemunhar ou prestar qualquer tipo de informação sobre o procedimento e
seu conteúdo, salvo autorização das partes. Neste sentido o art. 229, I, do CC/200221 e o art. 154 do
CP,22 que tratam os dois primeiros sobre o segredo profissional e o último sobre a violação deste
segredo. Apenas em situações em que há ofensa à ordem pública ou aos bons costumes é que este
princípio vinha sendo flexibilizado.
E a respeito, a Lei 13.140/2015 positiva a matéria, não só ao incluir a confidencialidade como
princípio da mediação (art. 2.º, VII), como também por dedicar uma seção específica e detalhada
sobre ao tema; assim:
Seção IV – Da Confidencialidade e suas Exceções
Art. 30. Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial
em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo se
as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação for exigida por lei
ou necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação.
§  1º. O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus prepostos,
advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta ou
indiretamente, participado do procedimento de mediação, alcançando:
I – declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por uma parte à outra na
busca de entendimento para o conflito;
II – reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento de mediação;
III – manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo mediador;
IV – documento preparado unicamente para os fins do procedimento de mediação.
§  2º. A prova apresentada em desacordo com o disposto neste artigo não será admitida em
processo arbitral ou judicial.
§ 3º. Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação relativa à ocorrência de
crime de ação pública.
§  4º. A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas discriminadas no caput
prestarem informações à administração tributária após o termo final da mediação, aplicando-se
aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das informações compartilhadas nos termos
do art. 198 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional.
Art. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada, não
podendo o mediador revelá-la às demais, exceto se expressamente autorizado.
Um pouco mais contida foi a previsão no Código de Processo Civil, mas igualmente firme,
quanto à confidencialidade (cf. art. 166 caput e §§ 1.º e 2.º).23
Como já referido, na amplitude da confidencialidade, o mediador não pode ser chamado a
depor como testemunha, sendo vedada a sua atuação também como árbitro.24 E evidentemente,
também de maneira informal, ao mediador é vedado transmitir informações ou suas impressões
ao juiz da causa.25
Diligência: O facilitador para o desempenho de sua tarefa precisa estar sempre atento à forma
como deve conduzir a mediação,especialmente quando às regras e ferramentas utilizadas,
prestando constantemente as informações aos mediados. Ainda, a cada instante, compete-lhe
observar cuidadosamente o feedback (a reação aos estímulos) dos mediados, com olhar atento à
evolução na aproximação, pois um descuido pode gerar uma comunicação inapropriada cujo
efeito é nocivo não apenas à mediação, mas à própria inter-relação das partes, alimentando a
litigiosidade.26
Acolhimento das emoções dos mediados: no pressuposto de que o mediador irá mergulhar nas
profundezas de um conflito, investigando as relações subjetivas que ensejaram as divergências,
importante elemento a ser reconhecido é a emoção dos mediados. As emoções motivam as ações,
interferem na razão, transformam sensações, provocam atenção seletiva, e, dentre outros
impactos no pensamento, na linguagem, na expressão e na conduta, também influenciam as
percepções.
Veja-se, por exemplo, que a emoção do momento em um conflito doméstico, produz
interpretação de todo um contexto pelo protagonista, diversa daquela a ser dada por outra pessoa,
ou mesmo pelo outro envolvido, de acordo com o seu perfil e com todo o histórico anterior na
relação entre eles.
E assim, a compreensão deste sentimento tem especial importância no tratamento do conflito
para a busca de uma adequada solução que passa, inevitavelmente, pela comunicação. Note-se que
o objetivo não é trabalhar com a emoção com finalidade psicoterapêutica, mas como elemento de
identificação da origem e extensão do conflito pelos próprios mediados, facilitando o
reconhecimento e respeito aos sentimentos um do outro em face do conflito.27
Este último princípio reserva-se à mediação, na medida em que na conciliação o foco é o
conflito em perspectiva objetiva e pontual, e a meta é a composição vantajosa para as partes
envolvidas. Já os demais princípios têm aplicação também na conciliação, preservadas apenas as
suas peculiaridades, e assim promovidos necessários ajustes.
Por outro lado, anotem-se outros princípios indicado na Lei 13.140/2015:
A Isonomia entre as partes, em uma análise no quanto se pretende neste “Curso”, representa o
tratamento por igual das partes, decorrente da imparcialidade, e sua violação compromete o
desenvolvimento dos trabalhos de mediação.
A boa-fé é indicativo de conduta a orientar qualquer relação humana, e como tal seria
desnecessária a referência; porém, a redundância, por certo, tem sua função pedagógica.
E a busca do consenso, oralidade e informalidade, são princípios a serem aplicados no
procedimento de mediação, como técnicas dos trabalhos, de forma a se desenvolver a facilitação
da maneira mais ágil, direta e acessível aos envolvidos.
O Código de Processo Civil, por sua vez, ainda acrescenta a decisão informada como princípio
(art. 166), consistente no direito que as partes têm de receber todas as informações necessárias a
respeito do conteúdo da composição que se estiver construindo.28
Por fim, valem alguns comentários sobre os princípios estudados, levando-se em consideração a
conciliação e mediação em juízo, na forma prevista na Res. CNJ 125/2010 com a adequação ao
estabelecido no Código de Processo Civil. Estes princípios, por vezes, não serão observados, ao
menos na extensão esperada.
Os litigantes, nestes casos judiciais, poderão ser conduzidos à mediação ou conciliação sem ser
por sua iniciativa, embora motivadamente possam recusar a utilização destes instrumentos. A
autonomia da vontade acaba limitada à aceitação do procedimento, com um dos facilitadores
cadastrados. A credibilidade é irrelevante, pois não se elegeram voluntariamente o procedimento
e, principalmente, conforme o caso, o próprio mediador.
Ainda, temos preocupação em relação ao tempo dos facilitadores (assim entendido o
conciliador ou o mediador) que será disponibilizado às partes pelo programa judicial, podendo
não ser adequado às necessidades do conflito, pois, ao que tudo indica, tal como hoje ocorre com a
maioria das propostas de conciliação judicial, observam-se restrições na duração e na quantidade
de sessões: ora, sabe-se da conveniência, por vezes, de vários encontros, em longo período de
acompanhamento, para o amadurecimento dos envolvidos, e esta tranquilidade, útil ao
desenvolvimento dos trabalhos, está comprometida na proposta apresentada.
De qualquer forma, como já se disse, a iniciativa de se ter um facilitador judicial é merecedora
de aplauso, e até mesmo pode contribuir para que, diante de uma experiência positiva em juízo,
mas consideradas as limitações, o resultado da mediação ou conciliação seja a procura, de comum
acordo, de profissional ou entidade privada para seguir no encaminhamento dos trabalhos,
suspendendo o processo.
Sob outra perspectiva, mas também como princípio de conduta, deve o mediador abster-se de
emitir juízo de valor em relação ao conflito ou soluções em discussão. Mesmo sendo advogado,
psicólogo, assistente social, ou profissional da área em que o conflito ocorreu, na qualidade de
mediador lhe é vedado orientar sobre questões de seu conhecimento profissional específico
diverso da mediação.
E boa parte das previsões acima encontra-se no Código de Ética proposto pelo Conima –
Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem, em salutar iniciativa, embora sem
caráter normativo, de criar parâmetros de conduta a serem observados pelos mediadores.29
3.3. Técnicas de mediação
A mediação não deve ser feita sem a capacitação do facilitador. Por mais que uma pessoa tenha
habilidade e talento como negociador ou gestor de conflitos, a mediação exige estudo específico,
técnicas, experiência, e constante aprendizado para aprimoramento do conhecimento. Repita-se, a
capacitação é indispensável à correta utilização deste valioso instrumento.
De sua parte, a Lei 13.140/2015 reforça esta ideia; assim: “Art. 9º. Poderá funcionar como
mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada
para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de
classe ou associação, ou nele inscrever-se”, referindo-se a exigências mínimas de qualificação e
curso apenas para o mediador judicial (art. 11; cf. a respeito, capítulo 2, item 2.6.2, acima).
Aliás, sugere-se 120 horas mínimas de aulas teóricas, seguida de 50 horas de estágio
supervisionado,30 pouco diferente, pois, da proposta contida na Res. CNJ 125/2010 (na versão
atualizada). 31
Nas linhas deste curso, pretende-se apenas apontar superficialmente as técnicas disponíveis
para o desenvolvimento da mediação, propiciando um primeiro contato com o tema, a ser
desenvolvido durante o curso de capacitação com a carga horária sugerida acima.
Modelo de Harvard: este modelo decorre do método utilizado para negociação cooperativa. O
mediador, enquanto facilitador do diálogo, procura separar as pessoas do problema. Distingue a
posição, do interesse das partes, centrando o foco neste último. Estimula-se a avaliação objetiva da
situação, buscando soluções criativas em benefício mútuo. Todavia, como não se diferencia
conciliação e mediação no sistema norte-americano, e considerando ainda que este modelo
aproxima-se da conciliação em nosso sistema jurídico, para alguns doutrinadores, esta técnica não
seria aplicável à mediação desenvolvida em nosso sistema.32
Modelo Transformativo: Neste modelo, a meta será a transformação das pessoas no sentido de
conscientização e respeito da posição do outro. E, assim, haverá uma alteração natural da
qualidade das relações interpessoais. O mediador estimula a participação ativa das partes,
reconstruindo interpretações que contemplem seus valores, pontos de vista e condutas. Neste
contexto, a composição passa a ser apenas uma possibilidade, e não o objetivo principal do
processo, verificado o modelo no mínimo com proveitosa finalidade pedagógica.33
Modelo circular-narrativo: a comunicação, neste modelo, é o elemento fundamental. Provoca-se
nas partes a análise do conflito, identificando as diferentes versões para o mesmo aspecto, daía
ideia de circular, no sentido de gravitar em torno de um ponto, porém com olhares distintos. Cada
narração provoca reações e reflexões na outra parte, cujo objetivo é transformar a história
conflitiva em uma história colaborativa. Na medida em que se valoriza a comunicação, pode-se
construir uma versão comum para se conferir maiores resultados no processo de mediação.34
Bem esclarecendo o exercício desta técnica, Juliana Demarchi escreve: “Para além das
perguntas abertas, e a fim de aproximar as partes e conduzi-las a um ambiente cooperativo,
devem ser formuladas perguntas circulares e reflexivas. As perguntas circulares, dirigidas a uma
das partes, na verdade envolvem a ambas e fazem com que um dos participantes fale de si
enquanto pensa estar se referindo ao outro. Convém exemplificar: ‘O que o senhor pensa que seu
sócio fez e nunca lhe contou?’, ‘O que a senhora pensa que seu marido esperava do casamento e
nunca lhe disse?’ Estas perguntas, na verdade, fazem com que as partes revelem suas fantasias,
suas ilusões, o que imaginaram ser o pensamento ou anseio da outra, e acabam por facilitar o
diálogo na medida em que são afastadas estas interferências, concentrando-se as partes no conflito
real, e não no que elas imaginavam que fosse. As perguntas reflexivas, por sua vez, estimulam as
partes a se colocarem no lugar da outra, avaliando melhor as circunstâncias e condições que as
levaram a agir da forma como agiram: ‘O que o senhor faria se estivesse no lugar de seu sócio?’,
‘Que reação o senhor teria se sua mulher o tratasse dessa maneira?’, ‘Se o senhor estivesse no
lugar de seu vizinho, como agiria?’”35
Por fim, segue uma síntese da atuação do mediador no processo de mediação: (a) contato com
os interessados, explicando o instituto, suas vantagens e desvantagens; (b) identificação das
questões, baseando-se na técnica do looping, ou seja, questões circulares reflexivas; (c) reflexão
sobre o exposto entre as partes; (d) identificação e sugestão, sem vinculação, pelas partes de
possíveis soluções para o conflito (brainstorming); e (e) lavratura do termo final.
3.4. A latitude (dimensão) da mediação
Lembrando que o proveito da mediação projeta-se muito além da solução de um litígio para
encerrar uma demanda (judicial ou arbitral), o instituto tem aplicação para tratamento de diversos
conflitos, mesmo que deles não decorra, por questões variadas, um processo (judicial ou arbitral).
Em outras palavras, aproveita-se da mediação para pacificação de conflitos mesmo que eles não
tenham a perspectiva de chegar às portas do Judiciário, como, por exemplo, quando se fala em
justiça restaurativa, ou mesmo mediação escolar.
Tema amplo, que foge aos contidos limites deste “Curso”, apenas se apresenta para instigar no
estudante questões variadas em que a mediação pode e deve ser utilizada:
• Mediação familiar: sem dúvida, para estes litígios, a melhor indicação é a mediação, pois na
maioria dos casos falta a escuta, a comunicação, e sentimentos negativos (como rancor, mágoa e
frustrações), podem comprometer o diálogo.36 Ainda, além da enorme carga de subjetividade na
relação pretérita, mesmo com o rompimento do vínculo jurídico entre as partes, quando o debate
envolve filhos comuns, a relação deverá ser continuada, a exigir um restabelecimento do
equilíbrio e respeito às posições. Nestas situações, inclusive, recomenda-se a comediação,37 e/ou
equipe multidisciplinar com o objetivo de atender as diversas questões satélites do conflito. Nesta
mediação, busca-se com maior atenção romper com a ideia de culpa, com a análise do certo e
errado, procurando programar novo padrão de conduta, com a conscientização das
responsabilidades de cada um, não só pelo passado, mas principalmente pelo futuro.38
Veja-se situação em que bem se destaca a utilidade da mediação em confronto com o mero
acordo quanto ao litígio aparente e superficial. Na composição em uma ação de investigação de
paternidade, não se quer apenas a submissão do investigado ao exame de DNA, com o
reconhecimento do vínculo se positivo o resultado (litígio aparente, objetivo e pontual). Em todo o
contexto quer-se mais: o estabelecimento, dentro do possível, de uma relação paterno-filial
completa, ou seja, no aspecto afetivo e de responsabilidades recíprocas; é preciso que as partes
compreendam e se conscientizem da nova realidade, com a extensa e complexa relação jurídica
que se cria. Para sugestionar o réu à realização espontânea à prova pericial, basta a conciliação.
Agora, para projetar uma relação saudável entre as partes, recomenda-se a mediação caso os
envolvidos não tenham esta consciência no momento da instauração do desentendimento, ou
estejam bloqueados emocionalmente pelo nocivo impacto do conflito.
Em algumas situações, tão profícuo é o resultado da mediação quanto ao restabelecimento da
comunicação, que a convivência das partes passa a ser sadia o suficiente para dispensar a
intervenção jurisdicional, ou até restabelece a relação afetiva.
• Mediação empresarial ou corporativa: bem próximo às questões de família, também aqui o
histórico de inter-relação entre os envolvidos justifica a mediação, que, igualmente, pode projetar
um restabelecimento de convivência harmônica para o futuro. Atualmente, existem instituições
especializadas na mediação empresarial, para, com este instrumento, preservar a relação entre os
sócios, antes mesmo de se deflagrar o conflito, mas quando já surgiram alguns sinais de
divergência. Neste contexto, a mediação tem a importante função de prevenir litígios, e não de
solucioná-los. Agora, instaurada a controvérsia entre sócios, ou entre grupos empresariais
coligados, a mediação encontra espaço para a pacificação do conflito e, especialmente, para
encontrar soluções com benefícios recíprocos, desviando-se das soluções adjudicadas que, pela
demora, custo e circunstâncias podem comprometer definitivamente o negócio.
E este tema – mediação empresarial, ganhou expressiva repercussão após o lançamento do
chamado Pacto de Mediação, acima referido, pelo compromisso dos signatários em prestigiar e
estimular utilização dos instrumentos amistosos de gestão de conflitos, adotando postura
colaborativa e integrativa na busca de superação das diferenças.
• Justiça restaurativa: em alguns casos, consideradas diversas circunstâncias, diante de atos
infracionais praticados por adolescentes, sugere-se a aproximação entre a vítima, o ofensor e, se
pertinente, com outras pessoas, como familiares, membros da comunidade envolvida na situação
etc., acompanhada por um facilitador, para todos participarem na solução das questões
envolvendo a conduta, inclusive quanto à aplicação de medidas socioeducativas e reinserção
social.39 Esta experiência contribui, inclusive, segundo se constata, para a redução da
reincidência.40
Ainda sobre o tema, em excelente trabalho a respeito, Ulf Christian Eiras Nordenstahl traz
estatísticas de resultados verificados na Argentina, modelos e procedimentos, além de profundo
estudo sobre a matéria, destacando a mediação penal e conflitos comunitários, casos de família e
“la mediación penal juvenil”, escrevendo sobre esta: “No existe ninguna duda de que la mediación,
en un marco de justicia restaurativa, resulta una posibilidad más que interesante, por no decir
imprescindible, a tener en cuenta al momento de construir un sistema de administración de
justicia para los jóvenes e adolescentes a quienes se les atribuya la comisión de actos que
encuadren en infracciones a la norma penal. Es que teniendo en cuenta la finalidad
socioeducativa de la pena (una de las características fundamentales del sistema penal juvenil), los
llamados Métodos Alternativos de Resolución de Conflitos (RAC) aportan precisamente las
herramientas apropiadas para que esa función se desarrolle con mayor plenitud, propendiendo
así a una solución que facilite la auto-composición de las partes, la responsabilización del joven
por sus actos, la revinculación social y la reparación del daño, a la vez que permita evitar la
estigmatización u larevictimización”.41
E valorizando a iniciativa, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução 225 de 31.05.2016,
sobre a “Política Nacional de Justiça Restaurativa”, identificando o método, criando parâmetros
para sua implantação e recomendando a sua prática.
• Mediação escolar: o objetivo aqui é de preservar a integridade física, moral e psicológica dos
alunos, diante de conflitos corriqueiros, porém por vezes complexos e extremamente nocivos, que
rotineiramente ocorrem em escolas. Ainda, a mediação pode detectar graves problemas entre os
estudantes, envolvendo o uso de drogas, bullying, assédio, abuso sexual (inclusive domésticos ou
envolvendo terceiros).42 Aliás, na semana em que escrevemos estas linhas, soube-se de exemplar
resultado da mediação escolar em Franca, interior de São Paulo, em que se evitam, em média, dois
casos por semana de envolvimento de jovens com drogas.
Por outro lado, também com a mediação pretende-se melhorar a qualidade da convivência
entre todos os envolvidos neste contexto: alunos, pais, professores, gestores e funcionários. Sendo
a escola um espaço de diferenças, com potenciais conflitos em diversos setores, a integração e o
comprometimento com o projeto educacional são de extrema importância.
• Mediação na Administração Pública e mediação coletiva43: como visto no Capítulo anterior
(Capítulo 2, item 2.3, acima), a Lei 13.140/2015, a par da prática já existente, e em pleno
funcionamento a CCAF – Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, cria
normas específicas para a autocomposição de conflitos em que for parte pessoa jurídica de direito
público (arts. 32 a 40, e 43 a 45), inclusive com interessante norma destinada a mediação coletiva;
assim: “Parágrafo único. A Advocacia Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, onde houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante provocação, procedimento de
mediação coletiva de conflitos relacionados à prestação de serviços públicos” (art.  33, parágrafo
único).44 Desta forma, não se poderia de aqui também se referir a esta dimensão, embora,
tecnicamente se possa mais aproximá-la à conciliação do que à mediação propriamente dita.
Por fim, como já vem sendo mais intensamente debatido, pode-se falar também em mediação
trabalhista,45 mediação ambiental,46 mediação comunitária,47 mediação na recuperação judicial,
extrajudicial, falência e superendividamento48 e mediação no terceiro setor.49
3.5. A Lei 13.140, de 26 de junho de 2015 – suas particularidades50
A Lei 13.140/2015 dedica o seu Capítulo I à Mediação, o Capítulo II à composição de conflitos em
que for parte pessoa jurídica de direito público, e o Capítulo III para disposições finais. Divide o
primeiro Capítulo em disposições gerais (seção I), disposições sobre os mediadores (seção II),
procedimento de mediação (seção III) e, por último, sobre confidencialidade e suas exceções (seção
IV).
Tanto na parte destinada aos mediadores, como na voltada ao procedimento, traz algumas
disposições comuns, e outras direcionadas, separadamente, à mediação extrajudicial e judicial.
Ainda, nas disposições finais, voltam as considerações sobre mediação.
Quanto às disposições gerais, a inovação foi a identificação (positivada) do que pode ser objeto
da mediação: direitos disponíveis ou indisponíveis que admitam transação; e, ampliando o
conteúdo da composição, confere a possibilidade de consenso envolvendo direitos indisponíveis,
mas transigíveis, condicionado à homologação em juízo, com participação do Ministério Público.
Nada de novo em relação à prática, apenas positivação do quanto já se faz.
Quanto aos demais aspectos, em especial no que se refere à figura dos mediadores e ao
procedimento da mediação, efetivamente há novidades; vejamos:
3.5.1. Dos mediadores
A lei trata de qualidades e da atuação deste profissional.
Por primeiro, temos regras comuns à mediação judicial e extrajudicial:
Especificamente para preservar a imparcialidade e a independência, aplicam-se ao mediador
as mesmas causas de impedimento e suspeição do juiz (Lei 13.140/2015, art.  5.º) e impõe-se ao
escolhido o dever de revelação (parágrafo único), tal qual se exige do árbitro na arbitragem (LArb.,
art. 14, § 1.º) autorizando, a partir de então, a recusa por qualquer das partes.
Por seu turno, e também aplicável à mediação extrajudicial, há expressa previsão impedindo o
mediador de atuar como árbitro, ou depor como testemunha (Lei 12.140/2015, art.  7.º), com
restrição por um ano, a partir da última reunião, de assessorar, representar ou patrocinar
qualquer das partes (art. 6.º). Repita-se, quanto a esta última questão, nossa posição antes referida
no sentido de que, para o litígio por ele administrado, haverá impedimento definitivo, valendo a
regra para outras questões envolvendo as partes (Cf. Capítulo 2, item 2.6.2, acima).
E com impacto relevante, anote-se a equiparação do mediador, para efeitos da legislação penal,
a servidor público quando no exercício de suas funções ou em razão delas (art. 8.º).
Por fim, exclusivamente aos mediadores extrajudiciais, temos a seguinte regra: qualquer
pessoa, independentemente de sua formação de origem, e de participação em alguma entidade de
classe, conselho ou associação, pode ser mediador,51 desde que tenha a confiança das partes,
determinando a Lei, ainda, a sua capacitação (art. 9.º), mas sem que se imponha padrão para tanto
(horas mínimas etc., como se faz na mediação judicial para a qual, inclusive, se exige graduação há
mais de dois anos em ensino superior, como visto).
3.5.2. Do procedimento de mediação privada
Só a previsão destas regras, sem dúvida, representa uma das mais expressivas inovações
introduzidas pela Lei 13.140/2015.
E deixe-se de início anotado que não se quer, com esta novidade, dizer que estará engessado o
instituto (ou processualizada a matéria), pela definição de procedimento, quando, como se sabe, a
atuação do profissional, ou das entidades com oferta de mediação, são marcadas em toda a sua
história, exatamente pela liberdade no procedimento.
Fique claro, então, o registro de que, em relação ao procedimento propriamente dito, as
previsões devem ser entendidas mais como regras de orientação, com caráter sugestivo, e para
facilitar a fruição dos acontecimentos, do que impositivas a formalidades preestabelecidas.
Neste particular, a análise sistemática do Código de Processo Civil com a Lei 13.140/2015
permite, em nosso entender, esta conclusão, pois “§ 4.º A mediação e a conciliação serão regidas
conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras
procedimentais” (art. 166, § 4.º, do CPC/2015), sendo que “as disposições desta Seção não excluem
outras formas de conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou
realizadas por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por lei
específica” (art. 175, do CPC/2015), sendo esta Lei 13.140/2015 específica, pelo que “os dispositivos
desta Seção aplicam-se, no que couber, às câmaras privadas de conciliação e mediação” (art. 175,
parágrafo único, do CPC/2015).
E, assim, com ponderação entre as normas, bom-senso, e atenta à realidade de um instituto que
há anos cresce com liberdade, de um modo geral (salvo previsões específicas, como a relativa à
prescrição adiante indicada, dentre outras), a mediação privada deverá se desenvolver com
parâmetros no quanto previsto na Lei em exame, mas sem que detalhes procedimentais venham a
contaminar a sua eficácia e eficiência.
Inclusive, em nosso sentir, a previsão legal de que “nos litígios decorrentes de contratos
comerciais ou societários que não contenham cláusula de mediação, o mediador extrajudicial
somente cobrará por seus serviços caso as partes decidam assinar o termo inicial de mediação e
permanecer, voluntariamente, no procedimento de mediação” (Lei 13.140/2015, art. 22, § 3.º) foi
além do quanto lhe competia. Ora, se alguém pretende investir na tentativa de mediação sem
convenção prévia coma outra parte, poderá sim fazê-lo, assumindo os custos daí decorrentes,
tratados diretamente com o profissional. A este, por certo, não se pode impor trabalhar
graciosamente. O máximo que se pode vislumbrar, evidentemente, é afastar qualquer
responsabilidade ao convidado (outra parte) pelos custos, mas àquele que teve a iniciativa, cabe,
sim, o pagamento dos honorários acertados.
Pensar de forma diversa afasta o profissional da contratação de risco na situação prevista, em
desfavor da mediação sem convenção, quando a experiência sinaliza que esta é uma iniciativa
com bons resultados. E assim, para se preservar esta boa prática, o custo deve ser honrado pela
parte interessada na instauração da mediação, com o risco daí decorrente (com as devidas cautelas
na contratação para pagamentos por etapas).
Ainda, deslocada a previsão de gratuidade da mediação aos necessitados, contida no § 2.º do
art.  4.º, da Lei 13.140/2015 em seção destinada a “disposições comuns”. Entenda-se esta norma
como garantia de mediação judicial gratuita, não mediação privada, pois às partes, de acordo com
a Lei, caberão os custos da mediação, conforme o art.  13, no qual se ressalva expressamente o
disposto neste § 2.º em questão. Inclusive, na mediação judicial promovida por câmaras privadas,
existirão cotas gratuitas para esta situação (art. 169, § 2.º, do CPC/2015).
Ou seja, em hipótese alguma, em uma e outra situação acima tratada, pode-se impor ao
profissional eleito para atuar em mediação privada, o trabalho sem a justa remuneração.
3.5.3. O início da mediação privada
A mediação pode ter origem em contrato ou em iniciativa direta de qualquer das partes,
independentemente de prévia composição a respeito.
Prevista em contrato, há proposta do seguinte conteúdo para a cláusula de mediação:
Art. 22. A previsão contratual de mediação deverá conter, no mínimo:
I – prazo mínimo e máximo para a realização da primeira reunião de mediação, contado a
partir da data de recebimento do convite;
II – local da primeira reunião de mediação;
III – critérios de escolha do mediador ou equipe de mediação;
IV – penalidade em caso de não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de
mediação.
§  1º. A previsão contratual pode substituir a especificação dos itens acima enumerados pela
indicação de regulamento, publicado por instituição idônea prestadora de serviços de mediação,
no qual constem critérios claros para a escolha do mediador e realização da primeira reunião de
mediação. (...).
Mas na flexibilidade antes referida, para omissão da cláusula a respeito do quanto previsto no
art. 22 e seu § 1.º, o § 2.º, na sequência, oferece a solução:
§ 2º. Não havendo previsão contratual completa, deverão ser observados os seguintes critérios
para a realização da primeira reunião de mediação:
I – prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de três meses, contados a partir do
recebimento do convite;
II – local adequado a uma reunião que possa envolver informações confidenciais;
III – lista de cinco nomes, informações de contato e referências profissionais de mediadores
capacitados; a parte convidada poderá escolher, expressamente, qualquer um dos cinco
mediadores e, caso a parte convidada não se manifeste, considerar-se-á aceito o primeiro nome da
lista;
IV – o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação acarretará a
assunção por parte desta de cinquenta por cento das custas e honorários sucumbenciais caso
venha a ser vencedora em procedimento arbitral ou judicial posterior, que envolva o escopo da
mediação para a qual foi convidada (...).
Veja-se com atenção que, para valorizar a cláusula de mediação, e como antes falamos no
sentido de se ter o exercício da vontade com responsabilidade, em ambas as situações (previsão ou
omissão na convenção) há sanção pelo não comparecimento da parte convidada à primeira
reunião.
Observe-se a ponderação entre “ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de
mediação” (art.  2.º, §  2.º), com as consequências acima apresentadas, “na hipótese de existir
previsão contratual de cláusula de mediação, as partes deverão comparecer à primeira reunião de
mediação” (art. 2.º, § 1.º).
Ainda, reforçando a responsabilidade das partes ao firmarem cláusula de mediação (ou mesmo
cláusula escalonada),52 estabelece a lei que: “Art. 23. Se, em previsão contratual de cláusula de
mediação, as partes se comprometerem a não iniciar procedimento arbitral ou processo judicial
durante certo prazo ou até o implemento de determinada condição, o árbitro ou o juiz suspenderá
o curso da arbitragem ou da ação pelo prazo previamente acordado ou até o implemento dessa
condição. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às medidas de urgência em que o
acesso ao Poder Judiciário seja necessário para evitar o perecimento de direito”.
Diante desta regra, a cláusula deixa de ser meramente de cortesia, e passa a ter, em certa
medida, efeito vinculante às partes. Pela lei, há necessidade de se constar na cláusula o óbice à
iniciativa da ação por prazo nela estipulado ou sob determinada condição.
Não se chega ao ponto de extinguir a ação, como se faz na arbitragem quando existente
convenção (art.  485, VII, do CPC/2015),53 mas já é uma boa solução impor a sua suspensão do
processo.
Poderia ter sido mais avançada a Lei, estabelecendo a suspensão do processo/procedimento
independentemente da previsão contratual neste sentido, mas pela só existência da cláusula de
mediação (ou escalonada med-arb). Mas mesmo ausente a determinação de suspensão nestes
casos, ao julgador (árbitro ou magistrado), é facultado assim proceder, sendo inclusive, conforme o
caso, conveniente que o faça em benefício da própria composição, na amplitude da regra contida
no art. 3.º, § 3.º, do CPC/2015.54
Com ou sem convenção: “Art. 21. O convite para iniciar o procedimento de mediação
extrajudicial poderá ser feito por qualquer meio de comunicação e deverá estipular o escopo
proposto para a negociação, a data e o local da primeira reunião. Parágrafo único. O convite
formulado por uma parte à outra considerar-se-á rejeitado se não for respondido em até trinta
dias da data de seu recebimento”.
Veja-se que há flexibilidade legal para, mesmo inexistente prévia convenção entre as partes a
respeito de como instaurar a mediação, ela poderá ser provocada pelo convite previsto neste
art. 21.
A seu turno, prevendo a cláusula, ou regulamento de entidade eleita pela partes, prazos e
detalhes diversos do acima indicado, estes é que deverão prevalecer, sendo assim, a previsão do
artigo em exame é supletiva à eventual convenção.
Outra questão importante refere-se à escolha do mediador. Se previstos na convenção ou no
regulamento os respectivos critérios, estes naturalmente deverão ser observados. Mas omissa a
convenção a respeito, ou mesmo se inexistente cláusula prévia, algumas observações são
pertinentes.
Tratando-se de convenção omissa, a sugestão legal é de indicação de cinco nomes,
prevalecendo, no silêncio, o primeiro da lista. Embora direcionada à mediação com previsão
contratual, esta regra pode ser aplicada à iniciativa apresentada por uma parte à outra na situação
de convite direto, sem prévia convenção.
O art.  22 leva a uma ideia de que a parte estaria vinculada a um dos nomes indicados,
acolhendo tacitamente o primeiro da lista diante do silêncio.
Porém, considerando que o mediador deve ser pessoa de confiança da parte, e por ela escolhido
(art. 4.º), se inexistente prévia contratação a respeito da definição do facilitador, o convidado não
ficará adstrito à lista oferecida, podendo interagir com a outra parte para buscar outros nomes, até
encontrar uma pessoa em comum. E no máximo, o que do convidado se pode “exigir” é o
comparecimento à primeira reunião, mas não aceitação de seus termos, dos nomes ou do primeiro
deles, pois, conciliando a liberdade de escolha com a autonomia de permanecer ou afastar-se da
mediação, a ele não se pode impor, contra a sua vontade, o desenvolvimento da mediação.
Agora, sepreviamente convencionados os critérios de escolha do mediador (inclusive por
indicação de instituição específica para esta finalidade), daí sim deverá ser analisado o quanto
previsto a respeito, inclusive diante do óbice à propositura da ação ou início da arbitragem
previsto no art. 23 acima transcrito.
Por fim, anote-se que a mediação pode ser provocada independentemente da existência de
processo judicial ou procedimento arbitral em curso, reclamando, evidentemente, a vontade
comum das partes a respeito; e nesta hipótese caberá aos interessados requerer ao juiz ou árbitro
a suspensão da ação por prazo suficiente para a solução consensual do litígio (art. 16).
3.5.4. O desenvolvimento da mediação privada
Superada a etapa de escolha do mediador, inicia-se o procedimento propriamente dito.
Pelo art. 17, “considera-se instituída a mediação na data para a qual for marcada a primeira
reunião de mediação”. Já na primeira reunião, e toda vez que julgar necessário, “o mediador
deverá alertar as partes acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao procedimento”
(art. 14).
Traz a Lei outros aspectos relativos ao desenvolvimento da mediação:
Uma vez iniciada a mediação, “as reuniões posteriores com a presença das partes somente
poderão ser marcadas com a sua anuência” (art.  18). E, “no desempenho da sua função, o
mediador poderá reunir-se com as partes, em conjunto ou separadamente,55 bem como solicitar
das partes as informações que entender necessárias para facilitar o entendimento entre aquelas”
(art. 19).
No encaminhamento dos trabalhos, “o mediador conduzirá o procedimento de comunicação
entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito”
(art. 4.º, §1.º).
Ainda, “A requerimento das partes ou do mediador, com anuência daquelas, poderão ser
admitidos outros mediadores para funcionarem no mesmo procedimento, quando isso for
recomendável em razão da natureza e da complexidade do conflito” (art. 15).56
Faculta-se às partes serem assistidas por advogados ou defensores públicos; mas para se
manter o equilíbrio e isonomia, comparecendo à reunião uma das partes com advogado ou
defensor, o mediador deverá suspender o procedimento até que todas estejam devidamente
assistidas (art. 10 e seu parágrafo único).57
Além dos detalhes procedimentais acima, que devem ser sempre flexibilizados, e representam
em boa parte, a prática já desenvolvida na mediação privada nos últimos tempos, temos uma
inovação de extraordinária relevância: a instauração da mediação suspende a prescrição.
Neste sentido, estabelece o parágrafo único do art. 17: “Enquanto transcorrer o procedimento
de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional”. Note-se, pela análise sistemática desta regra,
que a prescrição estará suspensa desde a primeira reunião, tida como o momento da instituição da
mediação (art. 17, caput). Sem dúvida, um relevante avanço, pois em muitas situações, exatamente
em razão do prazo prescricional, instaurava-se a ação, provocando-se, em razão do quanto nela
contido, a inflamação do conflito, extremamente nociva à composição.58
Sob outro aspecto relativo ao procedimento, anote-se a previsão expressa de confidencialidade,
tratada detalhadamente nos arts.  30 e 31, e comentada acima (item 3.2), e no capítulo anterior
(Capítulo 02, itens 2.5.2 e 2.6.2).
E ao finalizar as observações neste tópico, para cá se chama a previsão contida em disposições
finais, autoexplicativa:
Art. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou por outro meio de comunicação que
permita a transação à distância, desde que as partes estejam de acordo.
Parágrafo único. É facultado à parte domiciliada no exterior submeter-se à mediação segundo
as regras estabelecidas nesta Lei.
3.5.5. O encerramento da mediação privada
Estabelece a Lei que “o procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu
termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a
obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de
qualquer das partes” (art. 20).
Finalizado por acordo, o termo “constitui título executivo extrajudicial”; mas se homologado
judicialmente por iniciativa das partes, transforma-se em título executivo judicial (parágrafo único
do art. 20, e, também, quanto ao efeito da homologação, art. 515, II e III, do CPC/2015).
E sob este aspecto, importante resgatar a previsão contida no § 2º do art. 3.º da Lei: “O consenso
das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo,
exigida a oitiva do Ministério Público”.
Vale dizer, na conjugação destas regras, observado o objeto da mediação (art.  3.º), o acordo
envolvendo direito indisponível, se não levado à homologação quando transigível, é excluído do
rol dos títulos executivos, embora, evidentemente, dele se possa extrair, para alguma finalidade, a
manifestação de consenso em determinado sentido.
Até a entrada em vigor das Leis de 2015, já se considerava o acordo instrumentalizado entre as
partes, com a natureza de transação, prevista no art.  840 do CC/2002.59 E sendo particular o
instrumento, poderia ser considerado título executivo extrajudicial se pelas particularidades
preenchesse os requisitos legais para tanto previstos na época (art. 585, II, do CPC/1973).60
O Código de Processo Civil de 2015 é um pouco mais abrangente que a legislação processual de
1973, pois acrescenta a força executiva ao instrumento de transação referendado não só pelo
Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia Pública ou advogados dos transatores, como
também “por conciliador ou mediador credenciado por tribunal” (art. 784, IV), além da escritura
pública assinada pelo devedor. Nestes casos, com a ampliação anotada em relação ao referendo do
facilitador cadastrado, há dispensa de duas testemunhas. E esta situação tem valia principalmente
naqueles casos de mediação ou conciliação pré-processual, mas no ambiente do Tribunal
Multiportas, previsto na Res.125/CNJ.61
Já a Lei 13.140/15, com vigência anterior ao Código de Processo Civil estabelece, como visto, que
“O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo
extrajudicial”; vale dizer, não há, pelo nela contido, necessidade do credenciamento por tribunal
para que o conciliador ou mediador, referendando o acordo, lhe emprestem força executiva.
Ou seja, em três momentos: antes da entrada em vigor das leis de 2015, o acordo extrajudicial
por instrumento particular necessita duas testemunhas ou assinatura de advogado para ter força
executiva (título extrajudicial). Com a Lei de Mediação, se formalizado o procedimento com
celebração de termo final no qual se contém o acordo, confere-se ao instrumento particular
(“termo final”) a força executiva (título extrajudicial). E por fim, nas situações previstas no novo
Código, para conciliação ou mediação judicial, o instrumento particular referendado por
facilitador cadastrado no tribunal também será considerado título executivo extrajudicial.
Conciliando os novos dispositivos agora em vigor, firmado o acordo por conciliador ou
mediador cadastrado, será ele considerado título executivo extrajudicial. Celebrado termo final de
mediação na forma da Lei 13.140/15, com a celebração de acordo, há dispensa de ser o mediador
cadastrado, sendo igualmente considerado o instrumento título executivo extrajudicial.
A previsão do Código abrange a mediação ou conciliação judicial (pré-processual ou no curso
do processo, porém sem homologação pelo juiz da causa). A previsão da Lei de Mediação tem
utilidade na mediação extrajudicial, ou naquelas em que, mesmo judiciais, o mediador não seja
cadastrado (como se permite pelo art.  168, §1.º, do CPC/2015); nestes casos, o “termo final” da
mediação contendo o acordo é que será tido como título executivo extrajudicial.
Não se pode dizer que o Código de Processo Civil está revogado, pois as hipóteses que nele se
contém permanecerão íntegras; mas a Lei de Mediação amplia o roldos títulos considerados
executivos extrajudiciais, para também se contemplar nesta categoria o “termo final” da mediação
nela especificado.
Em qualquer caso, antes ou depois das novas leis, anote-se que a depender de seu conteúdo,
será necessária escritura pública para formalização da transação, como, por exemplo, para
transferência de imóveis.
Por fim, se por iniciativa das partes a transação for levada à homologação no judiciário, a
respectiva sentença representa título executivo judicial (art. 515, II, do CPC/2015).
3.6. Bibliografia recomendada
SALLES, Carlos Alberto; LORENCINI, Marco Antonio Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da.
Negociação, Mediação e Arbitragem – Curso Básico para programas de graduação em Direito. São
Paulo: Ed. Gen-Método, 2013.
LEVY, Fernanda Rocha Lourenco. Cláusulas escalonadas – A mediação comercial no contexto da
arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2013.
BRAGA NETO, Adolfo. Aspectos relevantes sobre mediação de conflitos. Revista de Arbitragem e
Mediação. n. 15. ano IV. São Paulo, out.-dez. 2007.
BRAGA NETO, Adolfo. Mediação: uma experiência brasileira. São Paulo: Editora CLA, 2017.
FISCHER, Roger; PATTON, Bruce; URY, William. Como chegar ao sim. Rio de Janeiro: Imago,
1994.
GRINOVER, Ada Pelegrini. Conciliação e mediação judiciais no projeto do novo Código de
Processo Civil. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; PELUSO, Antonio Cezar; RICHA, Morgana de Almeida
(coord.). Conciliação e mediação: estruturação da política judiciária nacional. Rio de Janeiro:
Forense, 2011.
GRECCO, Aimée; e outros. Justiça restaurativa em ação – prática e reflexões. São Paulo: Dash
Editora, 2014.
VASCONCELOS, Carlos Eduardo. Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas. São Paulo:
Editora Método, 5ª ed, 2016.
NOTAS DE RODAPÉ
1
Ou, como diz Fernanda Tartuce: “A mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação entre as
partes para propiciar que estas próprias possam, visualizando melhor os meandros da situação
controvertida, protagonizar uma solução consensual. A proposta da técnica é proporcionar um outro
ângulo de análise aos envolvidos: em vez de continuarem as partes enfocando suas posições, a mediação
propicia que elas voltem sua atenção para os verdadeiros interesses envolvidos” (Tartuce, Fernanda.
Mediação nos conflitos civis. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2008. p. 208).
2
Vale anotar, o que dispõe o Código de Ética para Mediadores, do Conima a respeito da mediação: “A
mediação transcende à solução da controvérsia, dispondo-se a transformar um contexto adversarial em
colaborativo. É um processo confidencial e voluntário, onde a responsabilidade das decisões cabe às
partes envolvidas. Difere da negociação, da conciliação e da arbitragem, constituindo-se em uma
alternativa ao litígio e também um meio para resolvê-lo”. Disponível em: [www.conima.org.br]; acesso em
08/07/2015.
3
Cf. em “Anexo 3” o texto integral da Lei 13.140/2015. E, quanto à definição de mediação, adotou-se em
parte a proposta de antigo PL 4.827/1998, da Deputada Zulaiê Cobra.
4
Deve-se ter à mente que a mediação também serve no momento anterior ao conflito estar instaurado.
5
A respeito, bem escreve Fernanda Levy: “A mediação é conduzida por um terceiro, denominado
‘mediador’ que tem por objetivo auxiliar as partes em conflito a chegarem, por si só, ao entendimento e à
transformação do conflito. Assim, o mediador não julga nem tão pouco concilia as partes, tarefas do
árbitro e do conciliador respectivamente” (Levy, Fernanda Rocha Lourenço. Guarda de filhos: os conflitos
no exercício do poder familiar. São Paulo: Atlas, 2008. p.  122); e como salienta Aldemir Buitoni: “A
mediação atua em todos os níveis, é um procedimento ligado a uma visão sensorial da vida e não a lógica
da razão” (Buitoni, Aldemir. Mediar e conciliar: as diferenças básicas. Jus Navigandi, n. 2707, p. 15, ano XV,
Teresina, 29.11.2010. Disponível em: [http://jus.uol.com.br/revista/texto/17963]. Acesso em: 04.06.2011);
Lembramos, ainda, as palavras de Maria Nazareth Serpa sobre a função do facilitador: “O papel do
interventor é ajudar na comunicação através da neutralização de emoções, formação de opções e
negociação de acordos” (Serpa, Maria de Nazareth. Teoria e prática de mediação de conflitos. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 1999. p. 90).
6
No sentido de pressupor a conduta beligerante das partes, polarizadas em suas rígidas posições
apresentadas, contraposto ao sistema de cooperação. Anote-se que a palavra tem significado diverso no
campo das provas e sua organização no novo processo civil, onde representa certo benefício às partes em
oposição ao sistema inquisitorial.
7
Braga Neto, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. O que é mediação de conflitos. São Paulo: Brasiliense,
2007. p. 19-20.
8
Neste sentido, cf. Fernanda Tartuce: “Um primeiro objetivo importante na mediação é permitir que as
partes possam voltar a entabular uma comunicação eficiente, com intuito de discutir os pontos relevantes
da controvérsia e encontrar uma saída consensual para o impasse. Sendo a finalidade da mediação a
responsabilização dos protagonistas, é fundamental fazer deles sujeitos capazes de elaborar, por si
mesmos acordos duráveis. Dessa forma, o grande trunfo da mediação é restaurar o diálogo e a
comunicação, propiciando o alcance da pacificação duradoura. (Vilela, Sandra Regina. Meios alternativos
de resolução de conflitos – arbitragem, mediação. Disponível em: [www.pailegal.net/mediation.asp?
rvTextoId=""109399610962k]."" Acesso em: 14.01.2007). Percebe-se, assim, que, antes de cogitar a extinção
do conflito como objetivo primordial, deve o mediador procurar suprir as deficiências de comunicação
entre os sujeitos. Afinal, a ideia é permitir que eles próprios possam superar o impasse, transformando o
conflito em uma oportunidade de crescimento e em uma mudança de atitude”. Tartuce, Fernanda. Op cit.,
p. 222.
9
Kovach, Kimberlee K. Mediation in a nut shell. St. Paul: Thomson West, 2003. p. 16.
10
Na oportunidade, fomos honrados com a indicação pelo Diretor Prof. Pedro Paulo Manus para assinar o
Pacto de Mediação em nome da Faculdade de Direito da PUC/SP.
15
Braga Neto, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. Op. cit., p. 34-43.
16
“Art. 2º. A mediação será orientada pelos seguintes princípios: I – imparcialidade do mediador; II –
isonomia entre as partes; III – oralidade; IV – informalidade; V – autonomia da vontade das partes; VI –
busca do consenso; VII – confidencialidade; VIII – boa-fé.”
17
“Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da
decisão informada.”
18
Como previsto no art. 2.º, § 1.º: “Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de mediação, as
partes deverão comparecer à primeira reunião de mediação”, mas acrescenta a lei no §  2.º que: “§  2º.
Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação.”
19
Questão interessante seria saber se quem atua de forma livre consegue ser imparcial. Consideramos que
justamente a independência é que traz a imparcialidade, ou seja, quem atua de forma desvinculada à
parte ou às ideias trazidas na mediação, certamente será imparcial. Nesse sentido, Humberto Dalla
Bernardina de Pinho, em obra conjunta, escreve: “Entendemos que o conceito de imparcialidade, utilizado
pelo legislador pátrio no Projeto de Lei em comento (PL 4.827/1998), deve abarcar o de neutralidade, por
serem conceitos intimamente relacionados e que, não raro, se encontram previstos conjuntamente em
legislações alienígenas ao tratar da conduta dos mediadores (...). A neutralidade consiste no dever de o
mediador não influenciar as partes a adotar uma solução, ainda que esta lhe pareça mais razoável ou
equânime, conforme prevê o item 6.16.2, do referido Code d’Étique, e se coaduna especialmente com a
figura do mediador passivo, à qual se filiou o legislador pátrio no art. 2.º do Projeto de Lei em Comento”
(Do registro de mediadores e da fiscalizaçãoe controle da atividade de mediação. In: ______ (coord.). Op.
cit. p. 122-145.
20
O mediador deve ter aptidão para o conflito a ser mediado. Ora, se estivermos à frente de um conflito
societário, será válido, por exemplo, o mediador entender da matéria e seus princípios, por exemplo.
21
“Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva
guardar segredo; (...).”
22
“Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena – detenção, de três meses a um
ano, ou multa.”
23
“Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da
decisão informada. § 1º. A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do
procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa
deliberação das partes. §  2º. Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o
mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou
elementos oriundos da conciliação ou da mediação”.
24
Cf. o quanto a respeito falamos e indicação dos artigos pertinentes, no Capítulo 2, item 2.6.2, acima.
25
Cf. também, neste sentido, Enunciado 46 da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios,
promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de Estudos Judiciário do Conselho da Justiça
Federal; assim: “Os mediadores e conciliadores devem respeitar os padrões éticos de confidencialidade na
mediação e conciliação, não levando aos magistrados dos seus respectivos feitos o conteúdo das sessões,
com exceção dos termos de acordo, adesão, desistência e solicitação de encaminhamentos, para fins de
ofícios”. Cf. em “Anexo 7” o texto integral dos enunciados aprovados.
26
Nesse sentido vale observar as regras sobre mediação do Conima, que entende por diligência “cuidado e
prudência para a observância da regularidade, assegurando a qualidade do processo e cuidando
ativamente de todos os seus princípios fundamentais”. Disponível em: [www.conima.org.br]. Acesso
em:13.07.2015.
27
Neste sentido, pertinente trazer as ponderações de Adolfo Braga Neto e Lia Regina Castaldi Sampaio: “O
mediador deve trabalhar para que, no transcorrer do processo de mediação, os mediados evoluam a fim
de reconhecer a legitimidade das emoções do outro. Isso não significa concordar ou apreciar, mas trata-se
de reconhecer o direito de cada um de ter sentimentos específicos”. E, adiante: “(...) a estratégia do
mediador deverá estar permanentemente centrada no acolhimento das emoções exteriorizadas ou
naquelas que não o foram e estão sendo sentidas internamente pelos mediados. Neste último aspecto é
dever do mediador promover a sua externalização, mediante um ambiente acolhedor e cooperativo, para
que sejam objetivadas, propiciando com isso que a outra parte escute e posteriormente reflita sobre os
sentimentos manifestados”. (Braga Neto, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. Op. cit., p. 40-41).
28
O Enunciado 41 da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios, promovida entre 22 e 23 de
agosto de 2016 pelo Centro de Estudos Judiciário do Conselho da Justiça Federal; confirmou o quanto
escrevemos; assim: “Além dos princípios já elencados no art. 2.º da Lei 13.140/2015, a mediação também
deverá ser orientada pelo Princípio da Decisão Informada.” Cf. em “Anexo 7” o texto integral dos
enunciados aprovados.
29
A íntegra do Código de Ética sugerido pode ser consultada no site: [www.conima.org.br]. Acesso em:
14.07.2015.
30
Proposta de carga horária apresentada por Lia Regina Castaldi Sampaio e Adolfo Braga Neto, “com base na
experiência prática adquirida em mais de onze anos de atividade na capacitação de mediadores no Brasil,
na Argentina, em Portugal, em Angola, na Alemanha e em Cabo Verde”, recomendando também durante o
estágio supervisionado, a elaboração de “relatórios específicos para uma reflexão acerca do que foi objeto
de análise e estudo na reunião de mediação e o estabelecimento de estratégias para as reuniões futuras”.
(Braga Neto, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. Op. cit., p. 91-92).
31
Cf. Capítulo 2, item 2.4, acima.
32
Cf. a respeito FISHER, Roger; URY, Willian; PATTON, Bruce. Como chegar ao sim? Ricardo Vasques Vieira
(trad.). Rio de Janeiro: Solomon Editores, 2014, responsáveis pelo desenvolvimento deste modelo.
33
Veja o que Rafael Mendonça diz a respeito: “Nesse caminho, de administração do conflito,  a mediação
apresenta um escopo psicopedagógico (ou educacional, pois pedagógico remete à infância), pois, leva o ser
humano a aprender a ser parte da humanidade, ou seja, aprender a lidar diretamente consigo e com o
outro. A complexidade humana não poderia ser compreendida dissociada dos elementos que a
constituem: ‘todo desenvolvimento verdadeiramente humano, significa o desenvolvimento do conjunto
das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie
humana’ (Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. p.  55). Daí, a mediação, em
certo sentido, é o próprio trabalho de aprendizagem da administração (reconstrutiva) dos desejos. ‘O
trabalho simbólico sobre a administração (reconstrutiva) de nossos conflitos é, em si mesmo,
transformador’ (Warat, Luís Alberto. Ecologia, psicanálise e mediação. In: ______ (org). Em nome do
acordo: a mediação no direito. p. 36.)”. Mendonça, Rafael. (Trans)Modernidade e Mediação de Conflitos:
pensando paradigmas, deveres e seus laços com um método de resolução de conflitos. Florianópolis:
Habitus, 2006. Cf. ainda seus principais idealizadores: BUSH, Robert A. Baruch; FOLGER, Joseph P. The
promise of mediation: the transformative approach to conflict. Ed. rev. São Francisco, CA, EUA: Jossey-
Bass, 2005.
34
Cf. a respeito COOB, Sara. Una perspectiva narrativa en mediación. In: Nuevas direcciones em mediación.
FOLGER, Joseph e JONES, Tricia S. (coord). Paidós. Mediación n. 7. Buenos Aires, 1997.
35
Ainda, esclarece a autora: “As perguntas iniciais devem ser formuladas de forma aberta, ou seja,
solicitando-se às partes que falem sobre determinado tema (‘Como é seu filho’, ‘Como funciona sua
empresa?’, ‘Fale sobre o senhor, como é o seu dia a dia?’). Desse modo, as partes possibilitam ao mediador,
e a elas próprias, uma maior percepção da relação discutida.” (...) “Perguntas fechadas, por fim, devem ser
utilizadas para esclarecer questões pontuais, pois ensejam respostas breves (‘O senhor foi à reunião da
última semana?’), ou ainda, para dar significado a expressões vagas utilizadas pelas partes (‘O que
significa comportamento ruim para o senhor?’) (Grinover, Ada Pellegrini et al. Mediação e gerenciamento
do processo: revolução na prestação jurisdicional. Guia prático para a instalação do setor de conciliação e
Mediação. São Paulo: Atlas, 2008. p. 60.)
36
Nas precisas palavras de Eduardo Oliveira Leite: “Os vínculos afetivos – para citar o mais visível nos
litígios familiares – são muito fortes e tendem a direcionar a disputa a posturas radicais, conduzindo as
partes a agirem sem o equilíbrio suficiente, de modo a construir uma solução duradoura para o futuro e
não tendente a soluções momentâneas ou passageiras. O pós-ruptura é longo e sempre de difícil
elaboração” (p.  117); e ainda: “A mediação familiar, conforme já exuberantemente comprovado pela
experiência mundial mais moderna, contribui para melhorar e agilizar a justiça familiar, possibilitando
uma maior celeridade, eficácia das decisões judiciais e sua permanência pós-ruptura” (p.  140) (Leite,
Eduardo Vieira et al. A mediação nos processos de família ou um meio de reduzir o litígio em favor do
consenso. In: Leite, E. Grandes temas da atualidade: arbitragem, mediação e conciliação. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p. 105).
37
Fala-se emcomediação quando mais de um mediador atua no processo. A vantagem, fora a proveitosa
interdisciplinaridade, é que o comediador tem a missão de não deixar o processo fragmentado e
unidimensional, ampliando a visão das partes. Recomenda-se que o comediador tenha especialidade
diferente daquela do mediador. A desvantagem é o aumento do custo e um possível conflito de ego entre
os mediadores se não competentes. A Lei de Mediação Familiar da Comunidade Autônoma de Castilla y
Leon disciplina a comediação, deixando-a obrigatória no caso de menores, inclusive determina a
participação de psiquiatra, psicólogo ou assistente social como comediador, se o mediador não tiver esta
formação. Vale, ainda, citar Humberto Dalla (op. cit.), sobre o conceito de comediação: “Entende-se por
comediação o fato de o processo de mediação vir a ser conduzido por ao menos dois mediadores, cujas
formações profissionais sejam distintas. Por seu turno, saliente-se que a expressão ‘formação profissional’
aqui adotada é ampla, a fim de abranger não só aqueles indivíduos que, de fato, possuam formação
distinta, como também aqueles indivíduos que, muito embora provenham da mesma área do saber
humano, tenham especialidades diversas. Ex: neurologista e psiquiatra. Esse conceito, a nosso juízo,
atende à ratio essendi do instituto da comediação, que é permitir uma visão mais abrangente e não
fragmentária do conflito que se está a mediar.
38
Neste sentido, coloca Fabíola Luciana Teixeira Orlando Souza, em artigo que bem apresenta a relevância
de um procedimento interdisciplinar nas questões de família: “Através da mediação, vê-se uma postura de
responsabilidade pelo projeto de futuro que vai nortear a vida daquelas pessoas vinculadas por relações
de afeto e familiares. (...) A utilização deste paradigma, especialmente, no direito de família, provoca o
fortalecimento e uma maior possibilidade das partes transformarem positivamente as situações de crise,
mediante a priorização de uma filosofia interomunicativa que preconiza a coparticipação responsável.
Assim, os envolvidos se tornam protagonistas das decisões assumidas, adquirindo habilidades para gerir
suas próprias diferenças” (Souza, Fabíola Luciana Teixeira Orlando. Mediação interdisciplinar: direito de
família e psicanálise. In: Guerra, Luiz (coord.). Temas contemporâneos do direito – Homenagem ao
bicentenário do Supremo Tribunal Federal. Brasília: Guerra Ed., 2011. p. 163-170).
39
Cf. a respeito: Melo, Eduardo Rezende. A experiência em justiça restaurativa no Brasil: um novo
paradigma que avança na infância e na juventude. Revista do Advogado, n. 87, p. 125-128, ano XXVI, São
Paulo: AASP, set. 2006. Cf., ainda: Melo, Eduardo Rezende. et al Justiça restaurativa e seus desafios
histórico-culturais: Um ensaio crítico sobre os fundamentos ético-filosóficos da justiça restaurativa em
contraposição à justiça retributiva. In: Slakmon, C.; De Vitto, R.; Pinto, R. Gomes. Justiça restaurativa.
Brasília: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005. p. 53-78.
40
Cf. também estudos sobre a mediação penal para crimes de menor gravidade, como furto, estelionato,
apropriação indébita e crimes de trânsito cujo objetivo é restaurar as relações entre as pessoas, e das
pessoas com as instituições e com a comunidade: Sica, Leonardo. Justiça restaurativa e mediação penal – O
novo modelo de justiça criminal e de gestão do Crime. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. E noticiando
experiência entre nós, cf. Issler, Daniel e Penido, Egberto de Almeida, A Justiça restaurativa nas Comarcas
de São Paulo e Guarulhos, In: Braga Neto, Adolfo; Sales, Lilia Maia de Morais (organizadores). Aspectos
atuais sobre a mediação e outros métodos extra e judiciais de resolução de conflitos. São Paulo: Editora
GZ, 2012. p. 229.
41
Nordenstahl, Ulf Christian Eiras. Mediación penal – De la práctica a la teoría. 2. ed. Buenos Aires: Librería
Histórica, 2010 (Colección Visión Compartida). p. 139. Também merece recomendação o primoroso estudo
a respeito desenvolvido por Carlos Eduardo de Vasconcelos (Mediação de Conflitos e Práticas
Restaurativas. 5. ed. São Paulo: Método, 2016).
42
A respeito confira-se enunciado da I Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios; assim: “52. O
Poder Público e a sociedade civil incentivarão a facilitação de diálogo dentro do âmbito escolar, por meio
de políticas públicas ou parcerias público-privadas que fomentem o diálogo sobre questões recorrentes,
tais como: bullying, agressividade, mensalidade escolar e até atos infracionais. Tal incentivo pode ser feito
por oferecimento da prática de círculos restaurativos ou outra prática restaurativa similar, como
prevenção e solução dos conflitos escolares.”, promovida entre 22 e 23 de agosto de 2016 pelo Centro de
Estudos Judiciário do Conselho da Justiça Federal. Cf. em “Anexo 7” o texto integral dos enunciados
aprovados.
43
A respeito confira-se Enunciado 40 da I Jornada referida acima; assim: “40 Nas mediações de conflitos
coletivos envolvendo políticas públicas, judicializados ou não, deverá ser permitida a participação de
todos os potencialmente interessados, dentre eles: (i) entes públicos (Poder Executivo ou Legislativo) com
competências relativas à matéria envolvida no conflito; (ii) entes privados e grupos sociais diretamente
afetados; (iii)Ministério Público; (iv) Defensoria Pública, quando houver interesse de vulneráveis; e (v)
entidades do terceiro setor representativas que atuem na matéria afeta ao conflito”. Cf. em “Anexo 7” o
texto integral dos enunciados aprovados.
44
Cf. Capítulo 2, item 2.3 no qual se faz referência a enunciados da I Jornada Prevenção e Solução
Extrajudicial de Litígios, relativos a solução consensual de conflitos perante a Administração Pública para
estímulo desta prática.
45
Inclusive, referida na Lei 13.140/1915. Porém, para recomendar norma específica; assim: “A mediação nas
relações de trabalho será regulada por lei própria” (art. 42, parágrafo único).
46
Cf. a respeito, enunciado 33 da I Jornada referida; assim: “É recomendável a criação de câmara de
mediação a fim de possibilitar a abertura do diálogo, incentivando e promovendo, nos termos da lei, a
regularização das atividades sujeitas ao licenciamento ambiental que estão funcionando de forma
irregular, ou seja, incentivar e promover o chamado ‘licenciamento de regularização’ ou ‘licenciamento
corretivo’”; e em “Anexo 7” o texto integral dos enunciados aprovados.
47
Cf. enunciados da I Jornada referida; assim: “57. As comunidades têm autonomia para escolher o modelo
próprio de mediação comunitária, não devendo se submeter a padronizações ou modelos únicos”; e “86.O
Poder Público promoverá a capacitação massiva em técnicas de gestão de conflitos comunitários para
policiais militares e guardas municipais.”; e em “Anexo 7” o texto integral dos enunciados aprovados.
48
Cf. a respeito, enunciado 45 da I Jornada referida; assim: “A mediação e conciliação são compatíveis com a
recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, bem como em
casos de superendividamento, observadas as restrições legais”; e em “Anexo 7” o texto integral dos
enunciados aprovados.
49
E a respeito, já nos davam notícia Braga Neto, Adolfo; SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. Op. cit., p. 95. Em
recente estudo, aliás, ressalta o Autor que a mediação comunitária “contribui para a criação de espaços de
diálogo em que as pessoas apresentam suas diferenças e redesenham de maneira participativa, dinâmica
e pacífica seus respectivos papéis na sociedade. Permite também estabelecer canais facilitadores da
articulação política, institucional e social” (Braga Neto, Adolfo. A mediação de conflitos no contexto
comunitário. In: Braga Neto, Adolfo; SALES, Lilia Maia de Morais (org.). Aspectos atuais sobre a mediação e
outros métodos extra e judiciais de resolução de conflitos cit., p. 24).
50
Cf. em “Anexo 3”, o texto integral da Lei 13.140/2015.
51
Em confirmação a esta orientação, veio o Enunciado

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