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Responsabilidade social e desenvolvimento sustentavel - FINAL

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Prévia do material em texto

Responsabilidade social e 
desenvolvimento sustentável
Mariana Moreira
Vilson sergio de CarValho
1ª edição
Brasília/dF - 2018
Autores
Mariana Moreira
Vilson sergio de Carvalho
Produção
equipe Técnica de avaliação, revisão linguística e 
editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ......................................................................................................4
Introdução ..............................................................................................................................................................................6
Aula 1
Um olhar sobre a contemporaneidade: contextualizando a discussão ......................................................7
Aula 2
Para entender o Desenvolvimento Sustentável ............................................................................................... 20
Aula 3
Responsabilidade Social: primeiras aproximações ......................................................................................... 32
Aula 4
Gestão da Responsabilidade Social: estratégias e possibilidades ............................................................ 43
Aula 5
Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável .................................................................................. 66
Aula 6
Responsabilidade Social e Voluntariado ............................................................................................................ 86
Referências .......................................................................................................................................................................... 96
4
Organização do Caderno de 
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. 
ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras 
e pesquisas complementares.
a seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
estudos e Pesquisa.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
5
ORGAnIzAçãO DO CADERnO DE EStUDOS E PESqUISA
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. as reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Como o próprio nome diz, neste Caderno, vamos nos dedicar ao estudo, reflexão e problematização 
sobre questões ligadas à ética, à responsabilidade social e ao desenvolvimento sustentável. o 
que é ética? Por que temos ouvido falar, de forma recorrente, desse termo? o que está sendo 
chamado de responsabilidade social? em que sentido as discussões sobre ética e responsabilidade 
social afetam nossa vida pessoal e/ou profissional? Como podemos inserir os princípios do 
desenvolvimento sustentável em nossos processos de gestão? essas são algumas das principais 
reflexões que serão desenvolvidas neste Caderno.
Objetivos
este Caderno de estudos contribuirá com o desenvolvimento das seguintes competências:
 » desenvolver uma visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade.
 » ser capaz de identificar as atuais mudanças no mundo do trabalho.
 » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua 
área de formação/atuação profissional.
 » ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas ao conceito de 
desenvolvimento humano e de desenvolvimento sustentável.
 » identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores.
 » Compreender a noção de responsabilidade social no atual mundo do trabalho.
 » desenvolver visão estratégica, inserindo as práticas da responsabilidade social nos 
processos de gestão.
 » desenvolver visão estratégica, inserindo a perspectiva da sustentabilidade nos processos 
de gestão.
 » ser capaz de desenvolver iniciativas de educação ambiental nos negócios e organizações.
 » ser capaz de gerir um programa de voluntariado.
7
Apresentação
nesta aula começaremos a conhecer e delinear o contexto a partir do qual vamos discutir as 
questões principais de nosso Caderno de estudos, quais sejam: a ética e a responsabilidade 
social. Vamos trazer alguns elementos, dados e fatos históricos que nos ajudem a compreender 
melhor o porquê de estarmos estudando esses assuntos. assim, vamos analisar o momento 
sócio-histórico-cultural que estamos vivendo, quais suas principais características e 
especificidades.
Objetivos
esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » desenvolver visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade.
 » ser capaz de identificar as atuais mudanças no mercado de trabalho.
 » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua 
área de formação/atuação profissional.
 » ser capaz de compreender e analisar criticamente as noções de desenvolvimento.
 » ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas aos conceitos de 
desenvolvimento humano.
Aproximações iniciais
Quando queremos conhecer uma pessoa, geralmente procuramos saber seu nome, o que ela 
faz, sua história. Buscamos, de forma simples, levantar algumas informações como a idade ou 
o ano em que ela nasceu, a cidade ou o país em que viveu, se estuda e/ou trabalha, o que faz, 
como vive, enfim, qual é o seu contexto...
1
AulA
Um OlhAR SObRE A 
COntEmPORAnEIDADE: 
COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
8
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
Para ilustrar o que estamos falando, podemos procurar perceber, em nosso dia a dia, algumas 
situações em que faz toda a diferença falar, por exemplo, em uma pessoa que foi criança ou 
jovem nos anos 1960 ou 1970 e uma criança ou jovem “de hoje”. Quais eram as brincadeiras 
“daquele tempo” e como as crianças brincam atualmente? Quais eram as “bandeiras e sonhos” 
da juventude dos anos 1960 ou 1970 e quais são as “lutas e reivindicações” dos jovens de hoje?
não é preciso ir muito além. há pouco tempo, acompanhei uma conversa entre um jovem, com 
seus 20 e poucos anos, e sua mãe, que devia aproximar-se dos 50. ele, muito surpreso, acabara 
de “descobrir” que sua mãe, quandocriança, não tinha televisão em casa. o jovem filho dessa 
senhora perguntava-lhe, estupefato “– Mãe, mas como é que vocês faziam sem televisão?” ao 
que ela, muito “naturalmente”, contava que os finais de tarde, àquela época, eram dedicados a 
reunir as famílias – geralmente compostas por muitos filhos – os vizinhos e amigos da redondeza 
para ouvirem os programas de rádio e depois, brincar.
Você guarda seus discos de vinil ou nem sabe o que é isso? e aquele seu antigo walkman? Você 
vai à locadora de vídeos pegar um dVd? e o computador? e o celular? Você consegue se lembrar 
da primeira vez em que viu alguém falando em um telefone celular? há menos de uma década, 
somente uma pequena minoria fazia uso do celular e do computador. Um amigo, hoje com 
pouco mais de 40 anos, me contava, outro dia, que fez sua tese de doutorado em uma máquina 
de escrever. a cada correção, a cada revisão, a cada nova versão, era preciso digitar, ou melhor, 
datilografar, tudo de novo! Já pensou?
Bem, vamos confessar! Quantos de nós fizemos aqueles famosos cursos de datilografia repetindo 
infinitamente o “asdfg, çlkjh”? Quem fez, não se esquece das enfadonhas repetições nas duras 
teclas da velha máquina de escrever! e, hoje, estamos aqui: reunidos virtualmente em um curso 
a distância! Que maravilha, não é mesmo?
acontece que, no dia a dia, não nos damos conta de muitas dessas mudanças e muito menos da 
velocidade com que elas têm acontecido. e mais: geralmente não percebemos ou não paramos 
para pensar que as coisas nem sempre foram da forma que são hoje, em nossas vidas. É como 
o espanto do jovem que não podia conceber a infância de sua mãe sem televisão. a TV está tão 
“incorporada” às nossas vidas que acabamos naturalizando as coisas, ou seja, acabamos achando 
que sempre foi assim! Que todos vivem e sempre viveram, naturalmente, da mesma forma que 
nós vivemos.
Toda essa historinha inicial serve para que comecemos a nos conhecer um pouco mais e marca, 
desde já, alguns “exercícios” importantes que deverão nos acompanhar em todo o nosso Caderno 
de estudos e também – assim espero – em nossas práticas profissionais ao final do curso.
desnaturalizar e contextualizar. distanciar-se do que nos parece por demais 
natural e, em uma posição de “estranhamento” frente à realidade, vamos buscar 
contextualizar nosso estudo e nossa prática, aproximando-nos com um olhar 
9
Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO • AulA 1
reflexivo e crítico a fim de ampliar nossa visão de mundo e dos objetos com os 
quais vamos trabalhar.
de forma bastante reflexiva, levantamos também algumas situações que vêm mudando ao longo 
dos anos. Contextos diferentes que marcam diferenças nas pessoas.
desse ponto, vamos dar mais um passo em direção ao tema de nossos estudos, 
aproximando-nos, pouco a pouco, das questões relacionadas à ética e à responsabilidade social.
Quando estamos nos aproximando de um campo de conhecimento é também importante 
fazermos esse exercício de desnaturalização e contextualização. Quando queremos conhecer 
algum assunto ou mesmo ampliar as informações que já temos sobre determinada disciplina, é 
importante buscarmos a história daquele campo de conhecimento ou de atuação profissional. 
Com isso, estamos salientando a importância de se contextualizar tudo que vamos estudar ou 
trabalhar...
É assim que pretendemos nos aproximar do estudo sobre ética e responsabilidade social. Podíamos 
ter começado definindo cada uma delas, apresentando conceitos e referenciais teóricos. Vamos 
chegar lá nas aulas que se seguirão, mas nosso ponto de partida será contextualizar o momento 
em que estamos vivendo para preparar esse “terreno” de definições, conceitos e estratégias. 
insistimos, então, na importância desse exercício de estranhamento frente ao que nos parecia 
natural, para distanciarmo-nos do que nos é familiar, aproximando-nos, a seguir, de forma 
reflexiva e crítica.
a Filosofia nos ensina a importância do exercício de reflexão. Filosofia é um termo que vem do 
grego Philos-sophia e que significa amizade pela sabedoria. Philos é amigo e sophos quer dizer 
sábio. Já reflexão vem do latim reflectere e quer dizer fazer retroceder, voltar atrás, revelar, pensar, 
espelhar. o trabalho filosófico implica uma reflexão radical, profunda e rigorosa do mundo, 
contextualizando-o necessariamente. assim, da Filosofia não surge uma aplicação imediata ou 
pragmática das coisas, mas é ela que possibilita a ampliação da nossa compreensão sobre tudo 
aquilo que vivemos.
Importante
Contextualizar, segundo o dicionário houaiss da língua Portuguesa, significa:
1. prover de contexto;
2. incluir ou interpor num texto;
3. integrar (algo) num contexto;
4. criar um texto que contenha determinada palavra ou expressão (geralmente para dirimir dúvidas sobre a 
aceitabilidade da expressão);
5. contextuar.
10
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
Contextualizando
A crise como ponto de partida
É muito comum, nos dias de hoje, ouvirmos falar que estamos vivendo um momento de crise: 
social, de valores, de identidade, na família, na educação... entretanto, ao olharmos ao longo 
do tempo, de forma mais minuciosa, iremos perceber que a noção de crise faz parte da história 
da humanidade. Com isso, afirmamos que todas as sociedades sempre viveram momentos de 
crise, uma vez que a ideia de transformação social é inerente, isto é, faz parte da própria história 
(Moreira, 2006).
Para entender nossa multifacetada crise cultural, precisamos adotar uma 
perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situação no contexto da evolução 
cultural humana. Temos que transferir nossa perspectiva do final do século XX 
para um período de tempo que abrange milhares de anos; substituir a noção de 
estruturas sociais estáticas por uma percepção de padrões dinâmicos de mudança. 
Vista desse ângulo, a crise apresenta-se como um espaço de transformação. os 
chineses, que sempre tiveram uma visão inteiramente dinâmica do mundo e 
uma percepção aguda da história, parecem estar bem cientes dessa profunda 
conexão entre crise e mudança. o termo que eles usam para “crise”, wei-ji, é 
composto dos caracteres: “perigo” e “oportunidade”.
(CaPra, 1982)
Podemos, então, pensar no que caracterizaria o atual momento de crise e o que o distinguiria 
de outros tempos. alguns autores defendem a existência de uma especificidade da crise 
atual, propondo inclusive novos termos ou conceitos para defini-la. ouvimos, então, falar em 
pós-modernidade e contemporaneidade, por exemplo (hall, 2003; Morin, 1996; sanTos, 
1997; laToUr, 1994).
nesta aula, não temos por objetivo aprofundar essa discussão, definindo e diferenciando 
abordagens conceituais diversas. no momento, o que nos interessa é pensar, em linhas gerais, 
o que vem acontecendo nas últimas cinco ou seis décadas e que nos permite falar em uma crise 
da contemporaneidade.
Contemporaneidade, segundo o dicionário houaiss da língua Portuguesa, diz 
respeito à “qualidade ou condição de ser contemporâneo, de existir ao mesmo 
tempo; coexistência”.
Provocação
Você já ouviu falar em responsabilidade social? onde e quando? Quem estava falando a respeito? e o que estava 
sendo falado? Para que, ou seja, com qual objetivo falava-se em responsabilidade social? havia alguma relação entre 
responsabilidade social e ética, nesse caso?
11
Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO • AulA 1
Mesmo correndo o risco de sermos reducionistas, vamos levantar a seguir alguns fatores principais 
que caracterizam o momento atual e que nos ajudarão a melhor contextualizar o estudo sobre 
a relação entre ética e responsabilidade social.
os avanços da ciência e da tecnologia aliados às mudanças no mundo econômico e nos modos 
de produção vêm impactando nossas formas de viver e de conviver. a ciência,quando surgiu, 
entre os séculos XVii e XViii, estava diretamente associada às ideias de progresso e bem-estar, 
ou seja, o desenvolvimento científico implicaria necessariamente, até poucas décadas atrás, 
desenvolvimento humano.
o que vemos, entretanto, é que as conquistas tecnológicas e científicas trazem também um 
caráter, no mínimo, ambivalente – para não dizer paradoxal – pois, além do esperado progresso, 
nos impuseram inúmeros desastres e ameaças ambientais a ponto de colocar a própria ideia de 
vida e o futuro da humanidade em jogo (Kern; Morin, 1995). 
e mais, ao lado de importantes conquistas, vivemos nos últimos séculos os desafios advindos 
de nossa incapacidade de conviver e de garantir um desenvolvimento igualitário para todos os 
povos e nações. estatísticas nos mostram que, desde a segunda guerra mundial, ultrapassamos 
o triste quantitativo de 20 milhões de mortos em mais de 150 guerras. 
Como aprender a viver juntos nesta “aldeia global”, se não somos capazes de 
viver nas comunidades naturais a que pertencemos: nação, região, cidade, aldeia, 
vizinhança? a questão central da democracia é saber se queremos, se podemos 
participar na vida em comunidade 
(delors, 2000).
Conflitos de diversas ordens compõem, então, o cenário atual, que podem ser, didaticamente, 
assim elencados:
 » os paradoxos associados aos progressos econômicos e científicos;
 » o desenvolvimento desigual, a má distribuição de riquezas e de conhecimentos;
 » a incerteza em relação ao futuro e o “desencantamento” do mundo;
 » o aumento do desemprego e da exclusão social;
 » as ameaças ambientais e os acidentes tecnológicos;
 » a necessidade de articular outros fatores ao desenvolvimento: não só o econômico, mas 
o social, o humano, o ecológico, entre outros; 
 » o local e o global: tornar-se cidadão do mundo sem perder as raízes de sua comunidade, 
de sua região;
12
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
 » o universal e o singular: beneficiar-se da mundialização cultural sem perder a 
particularidade de cada cultura, de cada indivíduo;
 » a tradição e a modernidade: os riscos e os desafios das tecnologias da informação e a 
necessidade de se adaptar ao novo, sem perder a própria autonomia. ao lado disso, 
a importância de se aprender a filtrar e a selecionar a quantidade e a qualidade das 
informações que chegam até nós em número e velocidade cada vez maiores; 
 » as soluções a curto e a longo prazo: ênfase atual no instantâneo e no efêmero priorizando 
soluções rápidas e imediatas e os riscos que isso traz em termos de vida pessoal, relacional 
e profissional;
 » a competição e a igualdade de oportunidades: a ênfase em processos competitivos 
anularia qualquer possibilidade de se falar em igualdade de oportunidades. daí a 
necessidade de se encontrar um equilíbrio possível entre competição, cooperação e 
solidariedade;
 » o espiritual e o material: a falta de valores morais que balizariam as decisões humanas.
O desenvolvimento humano como ferramenta para se 
conhecer o nosso contexto
em 27 de novembro de 2007, o Programa das nações Unidas para o desenvolvimento (PnUd) 
divulgou que o Brasil passa a fazer parte, pela primeira vez, do grupo de países de alto 
desenvolvimento humano, ultrapassando a barreira de 0,800, que é considerada a “linha de 
corte” entre o índice de variação – que vai de 0 a 1 – do Índice de desenvolvimento humano (idh).
o Programa das nações Unidas para o desenvolvimento (PnUd) é uma: 
rede global para ajudar pessoas a satisfazerem suas necessidades de 
desenvolvimento e a construírem uma vida melhor. está presente em 166 países, 
trabalhando como um parceiro confiável de governos, da sociedade civil e do 
Sugestão de estudo
sugerimos, neste ponto, duas leituras complementares que serão fundamentais à ampliação e consolidação desse 
panorama inicial apresentado. Uma primeira leitura recomendada é o livro Terra-pátria, de autoria de edgar Morin 
e anne Kern. destacamos ainda o livro educação. Um tesouro a descobrir. relatório para a Unesco da Comissão 
internacional sobre educação para o século XXi, organizado por Jacques delors. ambos trazem importantes 
elementos para auxiliar a nossa compreensão desta virada de século e os impactos, desafios e perspectivas colocadas. 
salientamos apenas que o segundo tem um foco maior sobre o campo da educação – trata-se, enfim, do relatório 
da Unesco sobre o tema – mas pelas próprias características dessa área e suas múltiplas interfaces com os demais 
campos de atuação profissional, acreditamos tratar-se igualmente de uma publicação de grande interesse e 
relevância.
13
Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO • AulA 1
setor privado no auxílio da busca de suas próprias soluções para desafios de 
desenvolvimento globais e nacionais. 
(PnUd, 2007).
anualmente, o PnUd publica, para mais de cem países em todo o mundo, o relatório de 
desenvolvimento humano (rdh) e o Índice de desenvolvimento humano (idh). estas são duas 
importantes ferramentas que nos permitem mensurar, ou seja, medir e também acompanhar o 
desenvolvimento humano de todas as nações.
o conceito de desenvolvimento humano surgiu como uma espécie de contraponto frente ao 
Produto interno Bruto (PiB) per capita. o PiB, como sabemos, é um indicador que centra no 
aspecto econômico toda a possibilidade de medir o desenvolvimento.
o idh amplia essa concepção e, de maneira sintética, coloca-se como alternativa ao considerar 
os três aspectos citados a seguir, dando-lhes igual importância e mensurando-os a partir de uma 
escala que varia entre 0 e 1:
 » “Padrão de vida decente”: incluindo a análise da renda nacional Bruta (rnB) 
per capita e corrigindo o poder de compra da moeda de cada país pela Paridade de 
Poder de Compra (PPC);
 » “saúde”: aferindo a expectativa de vida da população ao nascer; 
 » “Conhecimento”: articulando principalmente as variáveis “anos médios de estudo” (que 
mede o número médio de anos de educação recebidos pelas pessoas que têm 25 anos ou 
mais) e “anos esperados de escolaridade” (que mede o número de anos de escolaridade 
que uma criança na idade de entrar na escola pode esperar receber).
Fonte: nota técnica de Apoio ao lançamento do Relatório de Desenvolvimento humano 2010 – “A Verdadeira Riqueza das nações”.
Posicionamento do autor
sugerimos uma visita ao sítio do PnUd. o endereço é <www.pnud.org.br>. lá você poderá aprofundar leituras sobre 
o conceito de desenvolvimento humano, além de conhecer outros interessantes links sobre o tema.
14
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
o idh foi proposto por Mahbub ul haq, economista paquistanês, e amartya sen. Você sabia que 
amartya sen, economista indiano, recebeu o Prêmio nobel da economia em 1988?
a divulgação do relatório de desenvolvimento humano (rdh) 2007/2008 corrobora o Painel 
intergovernamental de Mudanças Climáticas (iPCC), recém-divulgado, e traz como lema 
“Combater as Mudanças do Clima: solidariedade humana em um mundo dividido”. o rdh chama 
a atenção para a intrínseca relação entre mudanças climáticas e desenvolvimento, afirmando que 
as grandes catástrofes ambientais podem reverter as conquistas e avanços nas áreas da saúde 
e da educação obtidos principalmente pelos países mais vulneráveis. dizendo de outra forma, 
o rdh pontua, assim, o risco que estamos correndo de ampliar a distância e a divisão entre os 
países mais pobres e aqueles considerados mais ricos em todo o mundo, reforçando históricos 
índices de desigualdade de classe, renda, gênero.
o relatório de desenvolvimento humano é um relatório independente 
encomendado pelo PnUd. Kevin Watkins é o coordenador e principal autor 
do relatório 2007/2008, que inclui contribuições do secretário-geral da onU, 
Ban Ki-moon; do Presidente brasileiro luiz ináciolula da silva; do prefeito de 
nova York, Michael r. Bloomberg; da ativista de mudança de clima do Ártico, 
sheila Watt-Cloutier; da Presidente da Comissão Mundial de desenvolvimento 
sustentável e ex-primeira-ministra da noruega, gro harlem Brundtland; do 
arcebispo emérito da Cidade do Cabo, desmond Tutu; da diretora do Centro 
para Ciência e Meio ambiente, sunita narain. o relatório é traduzido em mais 
de 100 línguas e lançado em mais de 100 países todos os anos, desde 1990. 
(PnUd, 2007)
Um dos caminhos apontados pelo relatório indica a urgente necessidade de que os países mais 
desenvolvidos possam investir, sobretudo em infraestrutura capaz de suportar as adaptações 
climáticas, fortalecendo os países pobres para que estes possam resistir aos efeitos das mudanças 
e desastres ambientais.
“sem contar com poupança, seguros ou acesso a empréstimos, os mais pobres 
cairão na chamada armadilha do desenvolvimento humano, sendo forçados a 
decidir entre mandar seus filhos à escola ou ao trabalho, ou racionar a comida a 
fim de economizar”, diz o administrador do PnUd, Kemal dervis, que lançou o 
relatório em Brasília. “estas escolhas irão reforçar e perpetuar as desigualdades 
de renda, de gênero, entre outras, na américa latina e no Caribe”. em honduras, 
o furacão Mitch destruiu mais de um terço dos bens dos 25% mais pobres da 
população, comparados com apenas 7% dos bens dos 25% mais ricos, diz o 
relatório. na nicarágua, a proporção de crianças trabalhando em vez de irem à 
escola aumentou entre 7,5% e 15,6% nas famílias afetadas pelo mesmo furacão. 
o relatório também cita pesquisa com famílias no México, no período 1998-
2000, que mostrou um aumento no trabalho infantil como consequência das 
secas. estes exemplos ilustram como muitas das armadilhas de desenvolvimento 
15
Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO • AulA 1
humano induzidas pelo clima, na américa latina e no Caribe, são consequências 
de desastres naturais.
(PnUd, nota de imprensa, em 27/11/2007)
o relatório indica também aos governantes dos países latino-americanos a importância de 
fortalecer as populações mais vulneráveis, por meio de programas sociais, como os de transferência 
de renda, para que os impactos dos choques climáticos possam ser minimizados quando atingirem 
essas parcelas da sociedade.
“as pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação.” Com estas palavras, o 
relatório de desenvolvimento humano (rdh) de 1990 deu início à convincente 
defesa de uma nova abordagem ao pensamento acerca do desenvolvimento. a 
ideia de que o objetivo do desenvolvimento deve ser o de criar um ambiente 
habilitador para que as pessoas desfrutem de vidas longas, saudáveis e criativas 
pode parecer, hoje em dia, evidente em si mesma. Mas nem sempre foi assim. 
Um objetivo nuclear do rdh nos últimos 20 anos tem sido o de realçar que o 
desenvolvimento tem a ver, em primeiro lugar e acima de tudo, com as pessoas.
(PnUd. Síntese do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010 – edição do 20o aniversário 
– a verdadeira riqueza das nações: vias para o desenvolvimento humano).
Já em 2010, o rdh traz como tema central “a verdadeira riqueza das nações: vias para o 
desenvolvimento humano”. o rdh 2010 marca uma edição comemorativa dos 20 anos de 
aniversário do primeiro rdh, apresentando mudanças metodológicas para a aferição do idh. Com 
novos procedimentos, salienta-se a impossibilidade de se proceder a uma análise comparativa 
entre o índice brasileiro nos anos de 2010 e 2009. observe:
as mudanças metodológicas empreendidas tiveram uma consequência muito importante: elas 
mudaram a escala, ou seja, a régua, utilizada para medir os países na métrica do idh. isso não 
quer dizer que o idh dos países caiu, mas sim que com a mudança de variáveis (3 das 4 variáveis 
utilizadas para a elaboração do idh foram substituídas) a magnitude das variáveis utilizadas 
mudou, implicando um rebaixamento da escala utilizada pelo idh.
isso explica por que o idh 2010 para o Brasil, de 0.699 não pode ser comparado 
ao idh de 2009 de 0.813. estritamente falando é um erro compará-los. Para 
isso as séries do “novo idh” foram recalculadas e encontram-se disponíveis na 
Tabela 2 do relatório. o ”novo idh” é calculado para 169 países. Cabe notar a 
nova classificação dos países baseadas em quartis nas categorias muito alto, alto, 
médio e baixo desenvolvimento humano. a classificação não obedece mais a um 
parâmetro especificado como antes na escala do idh, mas um número relativo de 
países. a exceção fica com o grupo de países de “alto desenvolvimento”, que conta 
com um país extra. Fonte: nota Técnica de apoio ao lançamento do relatório 
de desenvolvimento humano 2010 – “a Verdadeira riqueza das nações”.
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AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
a esta altura, é provável que você esteja se perguntando: “o que eu tenho a ver com tudo isso? 
Por que tenho que estudar essas ‘coisas’ já que escolhi um curso que, aparentemente, não tem 
nenhuma relação com os desastres ambientais, riqueza das nações e os índices de desenvolvimento 
humano?”
afirmamos acima que o rdh 2007/2008 coloca o Brasil, pela primeira vez, entre o grupo dos 
70 países de “alto desenvolvimento humano”. o relatório traz como dados uma elevação da 
expectativa de vida dos brasileiros de 70,8 para 71,7 anos. o País alcançou os 87,5% de taxa de 
matrícula e os Us$ 8.325 de renda per capita.
Fonte: PnUD, RDh 2007/2008.
Para refletir
a partir das leituras realizadas, procure definir, com suas próprias palavras, o que você entendeu por Índice de 
desenvolvimento humano.
a seguir, reflita: você percebe alguma relação entre sua opção de formação e atuação profissional e as leituras até aqui 
apresentadas? 
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Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO • AulA 1
os analistas do relatório recomendam que se faça uma análise cautelosa situando as versões 
mais atuais e disponíveis de dados utilizados, mas ressaltam, mesmo assim, ser possível afirmar 
que o Brasil vem, desde 1975, desenvolvendo-se de forma gradual e a longo prazo.
de toda forma, o mais importante para nossa reflexão, neste momento, é pensar sobre as 
consequências e desdobramentos de nosso ingresso nesse grupo de países de alto desenvolvimento 
humano. Quando comparamos, por exemplo, aos indicadores de nossos vizinhos latino-
americanos, ficamos abaixo de muitos países como argentina, Chile, Cuba e México.
além disso, ao visitarmos a Síntese dos Indicadores Sociais 2007 – Uma Análise das Condições de 
Vida da População Brasileira vemos a reafirmação de alguns desses avanços identificados pelo 
PnUd, mas também alguns dados que nos chamam atenção, entre eles:
em 2006, somente 9,9% das crianças até três anos de idade frequentavam creches.
ao lado desse dado, é importante lembrar que, segundo recentes pesquisas, cada ano de educação 
infantil diminui em três pontos percentuais o nível de repetência de um brasileiro pobre. Uma 
criança de seis anos, nascida em são Paulo, pode frequentar uma escola durante sete horas por 
dia, pagando uma mensalidade de mil reais. aos seis anos, ela estará alfabetizada. no entanto, a 
grande maioria das crianças chega ao ensino fundamental sem ter recebido nenhuma educação 
preparatória. o tempo de alfabetização é muito maior.
há, atualmente, no Brasil, 235 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 17 anos, que declaram 
trabalhar em vias públicas. de acordo com esse dado, vale lembrar que a declaração dos direitos 
da Criança, promulgada pela onU, em 1959, afirma que:
“a criança não deve ser empregada antes da idade mínima adequada; ela não deve 
ter empregos ou ocupações que prejudiquem sua saúde, educação ou interfiram 
em seu desenvolvimento mental ou moral”.
ainda segundo o iBge, cerca de 25,7% dos alunos do ensino fundamental estão defasados na 
correlação idade/sérieem 2006, ou seja, cerca de 8,3 milhões num universo de 32,5 milhões de 
estudantes. a famosa desigualdade entre as regiões brasileiras é aqui confirmada, pois a maior 
taxa de defasagem está no ensino fundamental e foi encontrada no nordeste, com 37,9% contra 
os 15,5% do sul.
o analfabetismo é ainda uma marca da desigualdade em nosso país, atingindo 14,4 milhões de 
pessoas com 15 anos ou mais. as maiores concentrações estão nas camadas mais pobres, nas 
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AulA 1 • Um OlhAR SObRE A COntEmPORAnEIDADE: COntExtUAlIzAnDO A DISCUSSãO
áreas rurais, especialmente do nordeste, entre os mais idosos, os de cor preta e parda. a taxa de 
pretos e pardos analfabetos é o dobro da taxa de brancos analfabetos.
Por quê? os dados não falam por si. É preciso interpretá-los, situando-os sócio-historicamente, 
sob o risco de naturalizarmos os fenômenos. Por que no Brasil, para cada branco analfabeto, 
temos dois pretos ou pardos analfabetos?
o artigo 26 da declaração Universal dos direitos humanos afirma:
“Toda pessoa tem direito à educação (...) a educação terá por finalidade o pleno 
desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos 
direitos humanos e às liberdades fundamentais; favorecerá a compreensão, 
a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou 
religiosos...”
a pesquisa do iBge afirma ainda que os brancos ganham em média 40% mais do que pretos ou 
pardos com mesma escolaridade. Como explicar o apartheid social que estamos vivendo?
Metade das famílias brasileiras vive, em média, com renda mensal inferior a r$ 350,00.
o artigo 25 da declaração Universal dos direitos humanos afirma: 
Toda pessoa tem direito a um nível de vida adequado, que lhe assegure, assim 
como à sua família, a saúde e o bem-estar, e, de modo especial, a alimentação, 
o vestuário, a habitação, a assistência médica e os serviços sociais necessários...
Para onde caminhamos? até quando nossa sociedade poderá suportar esses alarmantes índices 
de desigualdade social? ler e pesquisar sobre esses dados pode até parecer enfadonho ou mesmo 
abstrato demais para a nossa realidade. no entanto, os fatos aproximam-se cada vez mais de 
nosso cotidiano.
as reações podem ser as mais diversas – medo, fuga, indignação, revolta – de todo modo, para 
nós, profissionais em formação e futuramente gestores, está vedado o desconhecimento e a 
indiferença. É preciso posicionar-se e trazer a realidade social para nosso campo de trabalho, 
de forma ética e socialmente responsável.
nesta primeira unidade, não nos propusemos a dar respostas, mas, sobretudo a exercitar perguntas, 
preparando o terreno de discussão sobre a responsabilidade social e a ética. encerramos, assim, 
essa primeira etapa de nossos estudos: cheios de questões que esperamos ser boas sementes 
para os frutos das aulas que virão.
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Resumo
Vimos até agora:
 » o objetivo desta unidade era iniciar algumas aproximações em direção à importância de 
se estudar a relação entre ética, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. 
 » assim, começamos situando a importância de desenvolvermos uma prática reflexiva, 
desnaturalizando e contextualizando nossos campos de estudo e trabalho.
 » Buscamos ainda compreender que as noções de crise e de mudança fazem parte da 
própria história da humanidade e devem, assim, ser incorporadas à análise que fazemos 
da realidade.
 » a partir disso, buscamos levantar alguns dados e informações atuais que nos ajudam 
a compreender, de forma mais ampliada, o atual contexto em que estamos vivendo e, 
para isso, lançamos mão do idh e do rdh 2007/2008 como referências de indicadores 
que balizam o desenvolvimento humano, além de contrapormos alguns indicadores 
sociais do iBge à legislação universal.
 » apresentamos, finalmente, a noção de desenvolvimento humano, apontando como 
essa perspectiva amplia o entendimento sobre o que é desenvolvimento, indo além do 
critério econômico.
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Apresentação
a partir dos desafios e controvérsias que caracterizam a contemporaneidade, nesta aula, 
avançaremos em nossa discussão sobre o que é desenvolvimento, dando ênfase ao conceito de 
desenvolvimento sustentável.
assim, examinar o conceito de desenvolvimento e, particularmente, alguns de seus modelos ora 
mais sintonizados, ora mais distantes da temática ambiental é o principal objetivo desta aula 
que denuncia a visão limitada e obtusa que o conceito de desenvolvimento encerrou durante 
décadas quando o mesmo era pensado apenas a partir de seu viés econômico sem considerar 
outras dimensões.
associados à ideia de desenvolvimento, outros conceitos como crescimento e progresso são 
examinados em profundidade relacionados à atual realidade de crise ambiental e o projeto de 
sustentabilidade proposto pela agenda 21. seria a viabilidade desta proposta uma utopia? seria 
possível conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade? o que seriam os modelos 
alternativos de desenvolvimento? leia com atenção as páginas desta aula, reflita e tire suas 
próprias conclusões.
Objetivos
esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » analisar de forma aprofundada cada uma das seis principais dimensões da sustentabilidade, 
consciente de que não existe hierarquia entre elas e que estas estão inter-relacionadas.
 » Conhecer alguns dos principais autores, bem como práticas e estratégias relacionadas a cada 
uma dessas dimensões.
 » refletir sobre os desafios de uma sustentabilidade real e concreta a partir do compromisso da 
sociedade em âmbito planetário.
2
AulA
PARA EntEnDER O 
DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
 » entender que a construção da sociedade sustentável é uma necessidade que não pode 
esperar pelo outro, mas deve começar por nós mesmos.
Do que trataremos?
nesta aula, conversaremos sobre um dos maiores desafios que as nações do mundo têm debatido 
atualmente: a conquista da sustentabilidade. Para alguns, trata-se de um caminho viável a 
longo prazo. Para outros, uma utopia que muito dificilmente terá condições de um dia vir a 
se concretizar. a sustentabilidade, como veremos, é um conceito complexo que abarca várias 
dimensões, estratégias e processos com reflexos em diferentes áreas. É justamente em função 
de sua amplitude própria que ela não pode ser alcançada por meio de projetos mirabolantes 
e propostas gestadas nos gabinetes e escritórios dos grandes chefes de estado. as pequenas 
vitórias alçadas nessa área têm mostrado que sem a participação da sociedade civil organizada, 
incluindo nessa esfera a atuação de ongs, comunidades, empresas, instituições diversas, 
bem como as universidades e a imprensa, não será possível alcançá-la. em outras palavras, é 
importante esclarecer desde já que a sustentabilidade é fruto de uma conquista coletiva, em que 
todos precisam se ajudar se quisermos de fato torná-la uma realidade viável.
embora os dicionários costumem definir sustentabilidade como a qualidade do que é sustentável, 
esse é um conceito bem mais amplo do que essa simples definição pode levar a crer. o que 
se pretende com esta aula é tecer algumas considerações essenciais em torno do que seja 
sustentabilidade, esclarecendo melhor o que ela representa e enfatizando o que se convencionou 
chamar de desenvolvimento sustentável com especial destaque para as questões relativas à 
sustentabilidade na realidade de nosso país.
essa não é uma tarefa fácil, uma vez que ao tentar esclarecer o que significa, suas implicações e 
seus desdobramentos, faz-se necessário considerar, impreterivelmente, sua teia de vinculações 
com outros termos de igual complexidade como responsabilidade social, pobreza, meio 
ambiente, sociedade, desenvolvimento, globalização e outros, e, ainda,denunciar alguns 
discursos falaciosos em torno desta, utilizados por oportunistas que veem nela não uma via 
Sugestão de estudo
aFonso, Cintia Maria. Sustentabilidade – caminho ou utopia? são Paulo: annablume, 2004.
esse texto, de caráter introdutório, pretende oferecer subsídios a discussões efetivas sobre a sustentabilidade, 
entendida como a manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de recursos ambientais, usando-os sem 
danificar suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro.
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AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
de esperança para as soluções de graves problemas que o planeta vem enfrentando, mas, 
sim, de maneira reducionista e, por vezes, até perversa, como uma mera oportunidade de 
negócio e enriquecimento às custas da deterioração ambiental e aumento das desigualdades 
sociais. surgem daí as perguntas-chave que o título desta aula enfatiza: sustentabilidade do 
quê? sustentabilidade por quê? e sustentabilidade para que? Perguntas estas que precisam 
ser respondidas se queremos de fato adotar uma postura sustentável em vez de assumir uma 
“maquiagem de sustentabilidade” que pouco contribui para enfrentar os problemas que a 
sustentabilidade real nos obriga a encarar.
Por trabalhar na área de educação ambiental já há algum tempo, o autor deste trabalho tem 
visto, e, de certa forma, comprovado o quanto a sustentabilidade está longe de ser uma conquista 
definitiva na humanidade. ignorada durante séculos, ela, hoje, mais do que nunca, se torna 
um imperativo se quisermos enfrentar os graves problemas pelos quais não apenas os seres 
humanos, mas todos os organismos vivos vêm hoje enfrentando em sua luta pela sobrevivência. 
isso diz respeito tanto ao aquecimento global quanto à aids que se alastra a passos largos pelo 
mundo, tanto à dívida externa crescente dos países mais pobres quanto à redução sensível da 
biodiversidade, tanto ao aumento do desemprego em todo o mundo quanto ao insuportável 
grau de poluição que o planeta conseguiu alcançar, tanto ao esgotamento dos recursos naturais 
quanto ao desrespeito ao patrimônio cultural alheio.
esta aula parte do princípio de que uma das formas de ajudar a promover a sustentabilidade é 
conhecer melhor o que esta seja, entendendo suas implicações e importância, uma vez que só nos 
interessamos e nos envolvemos, de fato, com alguma coisa quando aprendemos mais sobre ela. 
este é, sem dúvida, o principal objetivo deste estudo: auxiliar a compreensão e o entendimento 
do que seja sustentabilidade e, a partir daí, sensibilizar os que a ela tiverem acesso a serem, 
também, um de seus agentes promotores, fazendo a sua parte para que paulatinamente esta 
possa vir a ter chances de se concretizar. Como teremos oportunidade de estudar, toda ajuda 
é importante, toda contribuição é bem-vinda, todo auxílio é válido quando se trata de colocar 
em prática esse desafio.
Para refletir
Como você se posiciona diante da questão da sustentabilidade? Tem uma posição a respeito? Você considera que 
nosso país tem condições de promovê-la ou esta é uma utopia?
Importante
o conceito de sustentabilidade é complexo e pode ser desmembrado em seis dimensões: social, ecológica, espacial, 
cultural, político-institucional e econômica, existindo uma íntima relação entre elas, de maneira que ao promover uma 
estamos ajudando na promoção da outra.
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
A sustentabilidade e suas dimensões
o objeto de estudo desta aula é a sustentabilidade, palavra que está na moda, sendo utilizada de 
forma coloquial por muita gente. Jornalistas, empresários, políticos e profissionais de diversas áreas 
têm utilizado a palavra sem compreender de fato o que esta significa em termos de abrangência 
e importância, seja por desconhecimento, banalização ou má-fé de quem utiliza um discurso 
cuja tônica central é a sustentabilidade.
segundo leroy (1997), existem centenas de definições de sustentabilidade, contribuindo 
sensivelmente para uma dificuldade operacional do conceito. assim sendo, examinemos suas 
origens. o termo sustentabilidade é, na verdade, oriundo da ecologia natural. a sustentabilidade 
é um conceito usado para denominar a “tendência dos ecossistemas à estabilidade, à homeostase, 
ao equilíbrio dinâmico, baseado na interdependência e complementaridade das formas vivas 
diversificadas” (herCUlano, 1992, p. 13). segundo andrae (1994), esse conceito foi utilizado 
na literatura científica pela primeira vez no ano de 1713, por Carlowitz, que o empregou para 
caracterizar uma técnica de uso do solo que garantisse, durante um longo período, rendimentos 
para a produção florestal. a partir dessa herança ecológica, a sustentabilidade é entendida, ainda 
hoje, como a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no tempo e no espaço, 
se revela capaz de manter um padrão de equilíbrio e qualidade por meio de uma autonomia 
de manutenção e pertencimento simbiótico a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis, 
tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza (www.sustentabilidade.org.br). 
Quando o conceito surgiu, algumas críticas foram dirigidas à ideia de uma sustentabilidade 
como “manutenção”. assim sendo, lutar pela sustentabilidade social implicaria lutar para manter 
o quadro social atual em que os países ricos continuam cada vez mais ricos e os países pobres 
cada vez mais pobres. surgiu daí a necessidade de não apenas explicitar melhor os diferentes 
sentidos do termo e as dimensões a ele atreladas, como, também, definir com clareza o que 
queremos sustentar, por que queremos e a serviço de quem estamos ao buscar a sustentabilidade. 
Comecemos pelo estudo de suas dimensões.
inspirado na obra de ignacy sachs (1993), um dos conhecidos estudiosos nessa área, propositor 
do conceito “ecodesenvolvimento”, o documento Ciência & Tecnologia para o Desenvolvimento 
Sustentável, – elaborado a pedido do Ministério do Meio ambiente (MMa) (2000), traz algumas 
respostas às questões anteriores ao considerar as seguintes dimensões de sustentabilidade:
 » Sustentabilidade social: pautada nos princípios da equidade na distribuição de renda 
e de bens, da igualdade de direitos à dignidade humana e da solidariedade dos laços 
sociais, a conquista dessa dimensão implica a garantia de que todas as pessoas tenham 
condições iguais de acesso a bens e serviços de boa qualidade necessários para uma 
vida digna (equidade social).
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AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
 » Sustentabilidade ecológica: está ancorada no princípio da solidariedade com o planeta 
e suas riquezas e com a biosfera que o envolve. esta dimensão da sustentabilidade exige 
uma maior compreensão e, consequentemente, uma mudança de atitude em relação 
aos processos e dinâmicas do meio ambiente, a partir do entendimento de que o ser 
humano nada mais é do que apenas uma das partes deste ambiente e no uso controlado 
e sustentável dos recursos naturais, respeitando sua capacidade de renovação.
 » Sustentabilidade econômica: essa dimensão de sustentabilidade engloba fatores 
como geração de trabalho, a possibilidade da distribuição de renda, a promoção do 
desenvolvimento das potencialidades locais e a diversificação de setores e atividades 
econômicas favorecedoras de um desenvolvimento econômico sensível às questões 
socioambientais. isso implica não só a necessidade de manter fluxos regulares de 
investimentos, mas, também, uma gestão eficiente dos recursos produtivos, respeitando 
o meio ambiente. sua conquista deverá sempre ser avaliada a partir da sustentabilidade 
social propiciada pela organização da vida material.
 » Sustentabilidade espacial: deve ser norteada pelo alcance de uma equanimidade nas 
relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o rural/urbano e o urbano. 
a conquista desta dimensão implica um uso adequado e planejado doterritório onde 
todas as pessoas tenham condições de viver de forma digna, tendo acesso à infraestrutura 
Saiba mais
Sobre Ignacy Sachs
ignacy sachs foi pioneiro ao pensar as diferentes dimensões da sustentabilidade em seu conceito de 
ecodesenvolvimento. 
nascido na Polônia e naturalizado francês, ignacy sachs é considerado um dos sociólogos mais respeitados. assessor 
especial da onU, durante a rio-92, sachs atua, hoje, como professor da École des hautes Études sociales de Paris, 
sendo difícil não associar a proposta ecodesenvolvimentista ao seu principal divulgador e impulsionador.
das seis dimensões utilizadas no documento do MMa, cinco delas foram propostas por sachs, sendo incluída apenas 
a dimensão político-institucional.
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
básica de moradia e de habitação (saneamento, água, coleta de lixo) sem agressões ao 
meio ambiente. Para sachs (1993), esta dimensão implica a busca de uma configuração 
rural-urbana equilibrada e uma melhor solução para os assentamentos humanos.
 » Sustentabilidade político-institucional: a conquista desta dimensão implica a 
sensibilização e a mobilização das pessoas, de modo a ampliar sua cidadania por meio do 
favorecimento do acesso e entendimento das informações pertinentes a uma localidade, 
o que permitiria uma maior compreensão dos problemas e oportunidades, superar as 
práticas e políticas de exclusão e buscar o consenso nas decisões coletivas. de modo 
particular, esta dimensão da sustentabilidade é um pré-requisito para a continuidade 
e sucesso de qualquer projeto de ação de base social e/ou comunitária.
 » Sustentabilidade cultural: tal dimensão da sustentabilidade é baseada no respeito à 
afirmação do local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta 
pela globalização. sua promoção consiste em preservar e divulgar a história, tradições e 
valores regionais, acompanhando suas transformações. Para se buscar essa dimensão, 
precisamos valorizar culturas tradicionais, divulgar a história da cidade, garantir a todos 
a oportunidade de acesso à informação e ao conhecimento e investir na construção, 
reforma ou restauração de equipamentos culturais. sachs (1993) acrescenta que esta 
dimensão dedica-se a promover o respeito às diferentes culturas e às suas contribuições 
para a construção de modelos de desenvolvimento apropriados às especificidades de 
cada ecossistema, de cada cultura e de cada local.
Sugestão de estudo
em sua obra, o Professor Vilson Carvalho analisa a importância da cultura local como elemento fundamental para a 
valorização da memória local e, consequentemente, da identidade daqueles que vivem no mesmo, bem como para 
a mobilização de forças em prol de uma causa comum. a valorização de elementos culturais representa mais do que 
a mera preservação do passado, mas a possibilidade de construir um futuro valorizando o que as gerações passadas 
fizeram e evitando cometer com elas os mesmos erros.
Confira em:
CarValho, V. Educação ambiental urbana. rJ: WaK, 2008.
Saiba mais
sobre a solidariedade:
Podemos entender solidariedade como a capacidade de compartilhar dos sofrimentos de outras pessoas e buscar 
meios para ajudá-las. existem diferentes instituições em todo o mundo criadas exclusivamente para esse fim em 
grande número, em praticamente todas as cidades brasileiras. além de arrecadar e distribuir, entre os carentes, 
alimentos, agasalhos, essas instituições normalmente concentram seus trabalhos com crianças, promovendo sua 
educação, e com idosos, amparando-os e promovendo sua socialização.
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AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
Um exame, mesmo despretensioso, dessas diferentes dimensões da sustentabilidade propostas 
pelo MMa, serve ao entendimento do quanto este é um conceito denso, aberto às mais 
diferentes inter-relações envolvendo diferentes níveis de planos de ação e estratégias visando 
sua aplicabilidade. Vale frisar que todas as dimensões da sustentabilidade citadas atuam de 
forma inter-relacional de tal modo que a promoção de uma delas auxilia a conquista da outra, 
assim como os obstáculos ao alcance de uma afeta o sucesso da outra.
Barbieri (2000) é um dos autores que concorda com a ideia de que essas diferentes dimensões 
estão em constante interação, não se prestando, portanto, a qualquer tipo de tratamento isolado. 
não se pode estudá-las em separado, de forma fragmentada, e depois justapô-las para formar 
um quadro de referência e, assim, estabelecer os objetivos de desenvolvimento e os meios para 
alcançá-los. Para este autor, dadas as múltiplas interações entre essas dimensões, as decisões sobre 
esses objetivos e meios acabam sendo feitas com base em conhecimentos incompletos sobre o 
meio físico, o biológico e o social, daí a grande dificuldade de considerá-las simultaneamente. 
o princípio da precaução pode ser útil na escolha desses meios. esse princípio encontra-se na 
declaração do rio de Janeiro de 1992, a saber:
Para proteger o meio ambiente, os estados devem aplicar do modo mais amplo os 
princípios da prevenção conforme suas capacidades. diante da ameaça de dano 
grave ou irreversível, a falta de uma considerável certeza científica não deverá 
ser usada como motivo para adiar a adoção de medidas para evitar a degradação 
ambiental em decorrência dos seus custos. 
(Princípio no 15)
daí a importância de que tais dimensões, consideradas conjuntamente, possam favorecer 
estratégias mais amplas de atuação a partir de uma ótica “glocal”, como diria liszt Vieira (1998), 
considerando questões tanto de cunho local quanto global.
analisando os principais problemas e desafios vivenciados na contextura urbana, o documento 
Cidades Sustentáveis, elaborado pelo Ministério do Meio ambiente, em parceria com o consórcio 
Parceria 21 – constituído pelas seguintes organizações civis: instituto Brasileiro de administração 
Municipal (ibam), instituto social de estudos da religião (iser) e rede de desenvolvimento 
humano (redeh) – destaca a diferença entre dois tipos de sustentabilidade: a sustentabilidade 
Sugestão de estudo
BaTisTa, eliezer; CaValCanTi, roberto Brandão; FUJihara, Marco antonio.
Caminhos da sustentabilidade no Brasil. são Paulo: Terra das artes, 2005.
o livro reúne a visão de três autores, entre eles, o diretor de sustentabilidade da Pricewaterhouse Coopers, Marco 
antônio Fujihara, sobre os desafios, causas e oportunidades nesse campo, bem como exemplos práticos que o setor 
empresarial, assim como as ongs, tem para mostrar a respeito da aplicação de conceitos de sustentabilidade no dia 
a dia.
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
ampliada e a sustentabilidade progressiva. a sustentabilidade ampliada aborda a sinergia entre 
as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento, do que decorre a necessidade de 
se enfrentar conjuntamente a pobreza e a degradação ambiental; e, a sustentabilidade progressiva, 
por sua vez, aborda a sustentabilidade como um processo pragmático de desenvolvimento 
sustentável, englobando a produção, a conservação e a inclusão. 
Vale destacar aqui que o alcance da sustentabilidade global passa por ambos os tipos e que sua 
conquista está diretamente relacionada ao grau de consciência dos habitantes do planeta da 
importância de sua participação ativa e solidária, onde somente de forma democrática e coletiva 
torna-se mais viável fazer a nossa parte, estimulando outros a participar (sensibilizando-os), e, 
ainda, cobrar das autoridades democraticamente eleitas que façam o mesmo.
O desenvolvimento sustentável
Sobre o conceito de desenvolvimento
a palavra desenvolver significa literalmente “desenrolar”. existe uma série de definições para o 
termo de acordo com a linha teórica a se pautar. alguns defendem a ideia de que o desenvolvimento 
possa ser provocado, outros que determinadoorganismo, localidade ou instituição já possua 
uma capacidade natural para se desenvolver sem a necessidade de interferências externas.
apesar de o termo desenvolvimento possuir muitos e diferentes significados, durante décadas, 
predominou a ideia de desenvolvimento igual a crescimento ou avanço econômico.
grosso modo, podemos definir desenvolvimento como o processo de promoção da melhoria 
qualitativa das condições de vida da população de um país, de uma região ou de um local 
específico. Combinando o conceito de sustentabilidade à noção de desenvolvimento, a Comissão 
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) mostrou ao mundo a importância de 
uma correção dos modelos e estratégias de desenvolvimento até então empregadas no contexto 
internacional, de forma a garantir um melhor padrão de vida que se “sustentasse” ao longo dos 
séculos. embora alguns autores achassem que os termos desenvolvimento e sustentabilidade 
eram contraditórios, a apropriação deles trabalha com a ideia de que equilibrado não significa 
necessariamente estacionado ou parado, mas, sim, a expressão de um constante movimento de 
equilíbrio, ou melhor, sucessivas ações para se manter em equilíbrio; o que anularia a possibilidade 
de referências a uma situação de “equilíbrio”, como uma situação de “imobilidade”.
Importante
a definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da 
geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento 
que não esgota os recursos para o futuro.
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AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
a utilização do conceito em si não foi uma ideia original, já que o próprio relatório do Clube de 
Roma muito antes, também, já havia utilizado literalmente o termo sustentável, ao defender 
a importância do desenvolvimento de um sistema mundial sustentável capaz de satisfazer as 
necessidades materiais básicas de todos os habitantes do planeta (MeadoWs, 1972, p. 98). no 
entanto, apesar de este e de outros estudos já terem considerado não só a questão das limitações 
externas da capacidade de resistência dos recursos do planeta, mas, também, as necessidades 
internas das necessidades humanas; o Relatório Brundtland, como também é conhecido, merece 
destaque pelo mérito de apresentar ao mundo – a partir de um exaustivo trabalho conjunto 
e interdisciplinar de pesquisa – uma proposta nova e atualizada de desenvolvimento social e 
econômico que procurava “atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade 
de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (BrUndTland, g., 1991, p. 
46). essa é, sem dúvida alguma, a definição mais conhecida do desenvolvimento sustentável ou 
sustentado, em que são sublinhadas as interconexões existentes entre economia, tecnologia, 
política e sociedade; e chamando a atenção da comunidade internacional para a importância “da 
adoção de uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações 
como entre os membros contemporâneos da sociedade atual” (BrÜseKe, 1995, p. 33). 
a ideia de sustentabilidade já deveria induzir a uma nova ótica de desenvolvimento. o panamenho 
rodrigo Tarté adverte que a sustentabilidade, per si, já encerraria “dimensões econômicas 
e sociais orientadas a satisfazer as necessidades e aspirações humanas essenciais” (TarTÉ, 
1995, p. 49). se a sustentabilidade, em sua conceituação original significava, essencialmente, “a 
possibilidade de se obterem condições iguais, ou superiores de vida, para um grupo de pessoas 
e seus sucessores em um dado ecossistema” (CaValCanTi, 1995, p. 165), quando, aliada à noção 
de desenvolvimento, esta passou a se referir à ideia de um limite (superior) para o progresso, 
em que se faz necessária a adoção de políticas e estratégias para garantir que o homem não 
ultrapasse o limite, mantendo, assim, o suporte da vida que o sustém. se definindo por oposição 
ao que é insustentável, ou melhor, a algo cuja fragilidade é notória, a sustentabilidade parece 
querer reforçar esse suporte, pretendendo a sustentação dele, alicerçando-o em bases sólidas e 
garantindo sua existência para as gerações do porvir.
a proposta do desenvolvimento sustentável é, sem dúvida, a mais conhecida entre as diferentes 
propostas de desenvolvimento alternativo sendo, inclusive, a mais divulgada na imprensa e até 
mesmo na academia, tornando-se uma espécie de “denominador comum no discurso político 
internacional, na área diplomática e nas atividades educacionais e legislativas” (alMeida Jr., 
Saiba mais
a Comissão que gerou o relatório Brundtland foi formada por 21 membros, oriundos de diferentes países, em 
diferentes estágios de desenvolvimento. gro-Brundtland patrocinou reuniões em diferentes partes do mundo, 
inclusive em são Paulo, para discutir problemas ambientais gerais e específicos, bem como as soluções encontradas 
para estes desde a Conferência de estocolmo (1972). 
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
1993, p. 43). entidades internacionais, como a Unesco e o Banco Mundial, “adotaram-na para 
marcar uma nova filosofia do desenvolvimento que combina eficiência econômica, justiça social 
e prudência ecológica” (BrÜseKe, 1995, pp. 34-35). 
Conselho de desenvolvimento sustentável (CDS) – OnU
a Comissão de desenvolvimento sustentável (Csd) da onU foi criada na assembleia geral da 
onU em 1992, visando assegurar continuidade à Conferência das nações Unidas para Meio 
ambiente e desenvolvimento (rio-92). 
Para tanto, é responsável por acompanhar o processo de implementação da agenda 21 e a 
declaração do rio sobre Meio ambiente e desenvolvimento. além disso, busca prover um melhor 
direcionamento para que se acompanhe o Plano de aplicação de Joanesburgo nos níveis local, 
regional e internacional. 
a Comissão encontra-se, anualmente, em nova iorque e de dois em dois anos discute um tema 
específico. as sessões são abertas, o que possibilita a participação tanto dos atores governamentais 
quanto dos não governamentais. nos anos de 2005/2006, os focos são energia para desenvolvimento 
sustentável, desenvolvimento industrial, poluição do ar/atmosfera e mudanças de clima. 
Confira outros detalhes no site: <http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_acao=mostraPagina&p
aginaid=2016>.
supondo uma transformação progressiva da economia e da sociedade, ou melhor, pretendendo 
uma “nova ordem internacional” (herCUlano, 1992, p. 11), a proposta do desenvolvimento 
sustentável é endossada como aquela que implica um processo em que a exploração de recursos, 
a direção dos investimentos, as mudanças institucionais e a orientação do desenvolvimento 
tecnológico se harmonizariam para reforçar os potenciais presente e futuro e garantir a satisfação 
das necessidades e aspirações futuras da humanidade (BrUndTland, 1991), compreendendo 
um duplo comprometimento com os seres humanos e a ambiência destes (Mendes, 1995). 
entretanto, sua aplicabilidade e consequente possibilidade de sucesso não são tarefas fáceis, uma 
vez que requerem, segundo a Comissão Brundtland, uma complexa sustentação de diferentes 
sistemas interligados e dependentes:
Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo 
decisório; um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know-how técnico 
em bases confiáveis e constantes; um sistema social que possa resolver as tensões 
causadas por um desenvolvimento não equilibrado; um sistema de produção 
que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; um 
sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções e um sistema 
administrativo flexível capaz de autocorrigir-se. 
(BrUndTland, 1991, p. 70)
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AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
DEsenvolvimento sustentável: fim ou meio?
Quando se pensa em desenvolvimentosustentável, existem duas visões cuja diferença está 
longe de ser insignificante, diz respeito à forma como entendemos o que este seja e qual a sua 
real importância. 
Uma primeira visão entende o desenvolvimento sustentável como um fim em si mesmo e uma 
segunda vê o desenvolvimento sustentável como um meio para se alcançar uma série de conquistas 
como a equidade social e o equilíbrio ecológico, por exemplo. nessa última concepção, como 
assinala gómez (1998), o desenvolvimento sustentável deverá criar condições para atingir uma 
sociedade mais igualitária ou menos injusta. na primeira visão, por sua vez, o desenvolvimento 
sustentável já seria em si um fim desejado, ou seja, ele só será de fato alcançado se houver uma 
melhor distribuição de renda, preservação dos recursos naturais.
Tal dificuldade refere-se ao montante substancial de recursos a serem despendidos para a 
sustentação do equilíbrio entre esses sistemas e os subsistemas a eles relacionados, o que, na 
maioria dos casos, especialmente para os países em desenvolvimento, se constitui numa barreira 
considerável. além do custo financeiro, existe uma série de outros fatores que, com certeza, 
também interfere nesse processo, como a falta de conscientização política, devido aos elevados 
índices de analfabetismo em muitos países; as graves desigualdades sociais e, ainda, as relações 
desfavoráveis do comércio internacional, tendo em vista o fato de que os países detentores dos 
produtos manufaturados e tecnologia avançada (valor mais alto de mercado) terem sempre maior 
poder de barganha do que os demais países que negociam com matérias-primas. o impasse para 
aplicabilidade do desenvolvimento sustentável, através de projetos exequíveis, está justamente 
na resolução dessas dificuldades, que não devem ser encaradas como restrições irremovíveis, 
mas como desafios a serem superados.
Saiba mais
e você, como se posiciona? seria o desenvolvimento sustentável um meio ou um fim? 
Para saber mais, leia o artigo de gómez, W.: “desenvolvimento sustentável, agricultura e Capitalismo” (pp. 95-116) no 
livro de:
BeCKer, d. desenvolvimento sustentável: necessidade e/ou possibilidade. santa Cruz do sul: edUnisC, 1999.
Para refletir
relacionado à pergunta da página anterior, como você vê a colocação do iClei? deveria o desenvolvimento 
sustentável ser encarado como um programa de ação? Quais seriam as vantagens dessa concepção?
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PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
segundo o Conselho internacional de iniciativas ambientais locais – international Council for 
local environmental initiatives (iClei, 1996), o desenvolvimento sustentável deve ser encarado 
como um programa de ação para reformar a economia global e regional, cujo desafio é criar, 
testar e disseminar meios para mudar o processo de desenvolvimento econômico de modo que 
ele não destrua os ecossistemas e os sistemas comunitários, tais como, cidades, vilas, bairros e 
famílias. no âmbito local, o desenvolvimento sustentável requer que o desenvolvimento econômico 
local apoie a vida e o poder da comunidade, usando os talentos e os recursos locais. isso está em 
sintonia com o desafio de distribuir os benefícios equitativamente e mantê-los no longo prazo 
para todos os grupos sociais, o que só pode ser alcançado prevenindo os desperdícios ecológicos 
e a degradação dos ecossistemas pelas atividades produtivas. 
Resumo
Vimos até agora:
 » o desenvolvimento sustentável propõe a conciliação entre desenvolvimento 
socioeconômico, gerando riquezas, conforto, emprego etc., aliado conjuntamente ao 
conservacionismo e que esta proposta leva em consideração o uso racional dos recursos 
naturais, pois, afinal de contas, não seremos a ultima geração da Terra, então se faz 
necessária a preservação para as futuras gerações. 
 » o desenvolvimento sustentável possui seis aspectos prioritários que devem ser entendidos 
como metas: 1) a satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, 
saúde, lazer); 2) a solidariedade para com as gerações futuras (preservação da realidade 
ambiente para elas); 3) a participação da população envolvida (conscientização da 
necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); 4) a 
preservação dos recursos naturais (água, oxigênio); 5) a elaboração de um sistema social 
garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, 
do preconceito e do massacre de populações oprimidas como, por exemplo, os índios); 
6) a efetivação dos programas educativos (viabilização de sua criação e continuidade).
 » Por fim, vimos que para aplicação, pelo menos parcial, de uma política de desenvolvimento 
sustentável, é preciso que diferentes setores se comprometam com sua aplicabilidade 
no cotidiano.
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Apresentação
nesta aula, vamos nos aprofundar um pouco mais, buscando reunir e discutir alguns conceitos 
e definições sobre ética e responsabilidade social, sempre de forma contextualizada. 
iremos, em um primeiro momento, conhecer a definição de primeiro, segundo e terceiro setores 
para, a seguir, compreender como surgiu a noção de responsabilidade social. Conheceremos, 
ainda, algumas das principais visões que se têm atualmente sobre o tema, para finalmente 
articulá-lo à reflexão ética.
Objetivos
esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores.
 » Compreender a noção de responsabilidade social no atual mundo do trabalho.
 » identificar, de forma crítica, práticas de responsabilidade social.
Aproximações iniciais
em nossas primeiras aulas, começamos a nos aproximar das questões que são objeto de nosso 
Caderno de estudos; a responsabilidade social, o desenvolvimento sustentável e a ética. iniciamos 
nossa aula buscando incentivar o desenvolvimento de uma prática reflexiva e, para isso, insistimos 
na importância de se desnaturalizar modos de se pensar e viver a realidade, contextualizando 
nossos campos de estudo e trabalho.
discutimos também sobre a noção de crise, articulando-a à própria ideia de transformação 
social como algo inerente à história da humanidade. embora aceitemos esse ponto de partida, 
percebemos que as mudanças contemporâneas podem ser definidas a partir de um conjunto 
de fatores, entre os quais está a própria velocidade que caracteriza as atuais transformações.
3
AulA
RESPOnSAbIlIDADE SOCIAl: 
PRImEIRAS APROxImAçõES
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RESPOnSAbIlIDADE SOCIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3
nesse contexto, e de diferentes maneiras, grande parte das análises que encontramos da atualidade 
incluem uma preocupação – ou ao menos um questionamento – sobre as problemáticas e ações 
sociais. 
Como vimos anteriormente, o progresso científico e o avanço tecnológico não foram capazes de 
assegurar o bem-estar e o desenvolvimento social, como esperado. Paralelamente, mudanças 
políticas, sociais e econômicas contribuíram para que tivéssemos que rever antigas ilusões e 
ideologias, frente a um crescente cenário de desigualdade e exclusão social.
o debate em torno da responsabilidade social e da ética insere-se nesse panorama, ao lado das 
noções de cidadania e de terceiro setor.
Fazendo um “recorte” no tempo e aproximando-nos um pouco mais da realidade brasileira, 
percebemos que o Brasil vive uma história muito recente em termos de democratização e de 
formação cidadã.
até 20 anos atrás, não somente o Brasil, mas os países latino-americanos eram governados pelo 
regime ditatorial, em que a sociedade estava totalmente controlada pelo estado e o cidadão não 
tinha voz, ou seja, não possuía o direito legítimo de reivindicar e se mobilizar para assegurar 
seus direitos.
o início do processo de democratização brasileira – que tem como ponto alto a Constituição 
de 1988 – dá-se de forma articulada à própria organizaçãoda sociedade civil. a década de 1980 
é marcada pela redução de postos de trabalho, pelas mudanças nas relações e no mundo do 
trabalho. Paralelamente, iremos perceber uma progressiva redução do papel executivo do estado 
e uma paulatina ampliação do papel e poder da iniciativa privada.
do Título i – Dos Princípios Fundamentais, o artigo 3o: 
Constituem objetivos fundamentais da república Federativa do Brasil:
i – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
ii – garantir o desenvolvimento nacional; 
iii – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
iV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade 
e quaisquer outras formas de discriminação.
Saiba mais
a constituição de 1988 é conhecida como “Constituição Cidadã” e destaca, pela primeira vez, a importância da ordem 
social. nesse sentido, podemos ressaltar os seguintes artigos:
34
AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOCIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES
do Título VIII – Da Ordem Social, as Disposições Gerais do Capítulo i, os 
seguintes artigos:
art. 193. a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo 
o bem-estar e a justiça sociais;
arts. 205 a 214 – educação;
arts. 215 e 216 – Cultura;
art. 217 – desporto;
art. 225 – Meio ambiente;
arts. 226 a 230 – Família, Criança, adolescente e idoso.
não nos cabe aqui esmiuçar as transformações ocorridas nas últimas décadas, mas, sim, 
destacar e buscar compreender como o papel e as relações entre o estado, a iniciativa privada 
e a sociedade civil organizada vêm se modificando e como essas esferas têm se colocado frente 
às problemáticas e alternativas de desenvolvimento social.
simone Coelho, doutora em Ciência Política pela UsP, ajuda-nos a melhor compreender o que 
estamos expondo e afirma que:
nesse sentido, a literatura contemporânea tem se esforçado em repensar o 
papel do estado e sua participação no desenvolvimento social. É evidente a crise 
mundial de uma concepção de estado – mais conhecida como welfare state – na 
qual se configuram governos centralizados e burocratizados, com política social 
expressiva e serviços padronizados que têm por meta suprir as necessidades 
sociais da população.
(Coelho, 2000)
Saiba mais
entenda melhor:
a tradicional concepção de welfare state tem como foco a centralização do poder do estado como o grande 
“provedor” de todos os serviços necessários à população. segundo essa visão, um estado forte deveria ser capaz de 
distribuir riquezas e minimizar desigualdades sociais, garantindo emprego e renda, além dos demais direitos a todos 
os cidadãos. Para isso, prioriza-se a intervenção do estado na esfera pública.
Com a crise desse modelo – pela própria impossibilidade de sua sustentação aliada à crescente complexidade dos 
problemas sociais – começam a surgir ações da iniciativa privada e da própria sociedade civil de modo a construir 
alternativas para as questões sociais. ou seja, a garantia de direitos deixa de estar a cargo somente do estado. 
empresas, cidadãos e grupos da sociedade passam a atuar, de maneira complementar, conquistando importância e 
papel fundamental nesse contexto.
35
RESPOnSAbIlIDADE SOCIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3
Os três setores e suas finalidades
assim, chegamos a um primeiro e fundamental marco conceitual: alguns teóricos defendem um 
modelo de organização da sociedade que poderia ser dividida em três grandes setores, quais sejam:
 » o primeiro setor, em que se situa o estado como instância de regulação e de universalização 
de políticas públicas → recursos públicos para fins públicos.
 » o segundo setor, caracterizado pela iniciativa privada como geradora de riquezas → 
recursos privados para fins privados.
 » o terceiro setor, caracterizado pela sociedade civil organizada → recursos privados para 
fins públicos.
“Os três setores”: quadro sintético
SETOR CARACTERIZAÇÃO RECuRSOS FINS
1o Setor Estado Públicos Públicos
2o Setor Empresas Privados Privados
3o Setor Sociedade Civil Organizada Privados e Públicos Públicos
(Fonte: baseado em Rubem César Fernandes, 1994).
O terceiro setor e sua composição
salientamos que o surgimento do terceiro setor não deve ser entendido em oposição ao estado 
ou à iniciativa privada, mas de forma contextualizada, como organização da sociedade civil, de 
fins não econômicos, que surge dos movimentos sociais e populares e que vem complementar 
e fortalecer estratégias desenvolvidas pelo Poder Público e pelas empresas.
a célebre definição do terceiro setor como algo público, porém privado ou algo privado, mas de 
interesse público aponta ao mesmo tempo para a perspectiva de que se trata de uma iniciativa 
da sociedade civil voltada ao bem público. não são ações estatais do governo e não são ações 
privadas de empresas. o terceiro setor reúne um conjunto de iniciativas e possibilidades de 
participação de toda a sociedade em ações coletivas de transformação social e, com isso, inclui 
e oportuniza a participação de todos os cidadãos e cidadãs na construção de uma “sociedade 
livre, justa e solidária”.
o terceiro setor é assim composto por todas as organizações sem fins lucrativos – ou não 
econômicos como prevê o novo Código Civil – que trabalham pela transformação social, 
buscando beneficiar grupos ou coletividades. estão aí incluídas as chamadas organizações não 
governamentais (ongs), as associações comunitárias, os movimentos sociais, as entidades 
filantrópicas, as fundações e os institutos empresariais.
36
AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOCIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES
segundo Peter drucker (1994), o terceiro setor é, atualmente, o setor que mais cresce, gerando 
emprego e mobilizando recursos de forma progressiva. no Brasil, segundo dados de 2002 do iBge, 
existiam, oficialmente, 276 mil organizações sem fins lucrativos, criando aproximadamente um 
milhão e meio de empregos e postos de trabalho.
A responsabilidade social: breve histórico
É difícil precisar quando surge a noção de responsabilidade social pelo próprio grau de incipiência 
desse campo. É possível notar que o questionamento em relação às finalidades e modos de 
atuação da iniciativa privada torna-se mais frequente a partir das primeiras décadas do século 
XX, sobretudo associadas a críticas pós-revolução industrial.
encontraremos, por exemplo, já no início do século, autores que questionam a busca desenfreada 
pelo lucro, impressa pelas empresas, apontando, ainda, o compromisso que estas deveriam ter 
Para refletir
Para fixar:
ong ou organização não governamental é qualquer organização da sociedade civil, não estatal, sem fins lucrativos 
ou, segundo o novo Código Civil, de fins não econômicos; a denominação passou a ser usada nos anos 1980 para 
designar tais entidades.
Fundação, por definição, é a pessoa jurídica composta pela organização de um patrimônio, destacado pelo seu 
instituidor para uma finalidade específica; não tem proprietário, nem titular, nem sócios; o patrimônio é gerido por 
curadores.
instituto é um estabelecimento dedicado a estudo, pesquisa ou produção científica, que, embora componha a razão 
social de entidades, não corresponde a uma espécie particular de pessoa jurídica, podendo ser utilizado por entidade 
pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, constituída sob a forma de fundação ou associação.
sociedade civil: pessoa jurídica criada pela esfera das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais, 
que se desenvolvem à margem das relações de poder típicas das instituições estatais.
Terceiro setor: setor privado com fins públicos; constitui-se como uma esfera de atuação pública não estatal, formado 
a partir de iniciativas privadas, voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido do bem comum.
(Fonte: glossário da internacional association for Volunteer effort).
Saiba mais
Peter

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