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Fichamento - Didática Ens superior

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
MBA EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL
Resenha Crítica de Caso 
Juliana Maria Rodrigues
Trabalho da disciplina Psicopedagogia Clínica
 Tutor: Prof. Dalta Barreto Motta
Belo Horizonte
2020
EDUCAÇÃO POPULAR E ENSINO SUPERIOR EM PAULO FREIRE
Referência: 
BEISIEGEL, Celso de Rui. EDUCAÇÃO POPULAR E ENSINO SUPERIOR EM PAULO FREIRE. São Paulo,  v. 44,  e104010,    2018.   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022018000100130&lng=pt&tlng=pt>. Acessos em  28  abr.  2020. 
INTRODUÇÃO
O artigo Presentado por Celso Rui Beisiegel intitulado “A educação superior em Paulo Freire”, tem como objetivo investigar as contribuições de Paulo Freire ao Ensino Superior. Algumas dificuldades foram relatadas como a escassez de publicações de Paulo Freire sobre o assunto, pois havia a perspectiva de verificar a atuação dos educadores em relação às classes subalternas, principalmente sob a ótica da alfabetização de jovens e adultos analfabetos ou pouco escolarizados. 
Considerando que Paulo Freire ressaltava reflexões sobre o homem, a sociedade e a educação, bem como os trabalhos junto as populações menos favorecidas, seria provável encontrar em suas obras, possíveis contribuições sobre a prática do ensino superior. 
Sobre a temática de Paulo Freire em relação à educação superior houve duas principais possibilidades para futuras pesquisas. A primeira buscou rastrear toda sua obra em livros, artigos, escritos em coautoria, palestras, entrevistas, conversas e, especialmente, no magistério no ensino universitário no Recife, em Santiago do Chile, em Harvard, em Genebra, na Unicamp e na PUCSP, mas poucos registros sobre esse nível da escolaridade. 
Outra possibilidade de pesquisa foi investigar as possíveis contribuições do educador a partir da utilização do método trabalho praticado frequentemente por ele próprio em relação à educação popular. 
Desde a década de 1940, o ensino mudou de forma significativa, considerando que naquela época Freire apenas iniciava sua prática e o universo da escolaridade ainda era pouco acessível à população. 
Houve grandes mudanças também sobre o pensamento e praticas do educador em suas atividades, sendo relevante a discussão sobre a educação e educação superior.
DESENVOLVIMENTO
No estudo sobre as instituições escolares no Brasil, a educação popular é abordada em vários significados diferentes, cabendo aprofundar seus conceitos e implicações. 
Em meados do século passado havia grande distinção entre a educação popular e educação das elites, fomentadas pelas desigualdades socioeconômicas de uma sociedade capitalista e tradições do passado semicolonial. 
Havia pouca possibilidade de acesso à educação escolar, sendo esta, uma formação direcionada a minorias privilegiadas em detrimento às maiorias subalternas da população. 
O acesso ao ensino secundário era limitado e criavam dois padrões de escolaridade; a escola primária e escolas profissionalizantes atendiam a educação popular. Por outro lado havia a educação das elites com o ingresso no primeiro ciclo do ensino de tipo secundário, e sequência nos graus superiores da escolaridade. 
Posteriormente nas décadas seguintes, houve expansão da educação pelos poderes públicos no intuito de incluir adultos não alcançados pela escolaridade quando crianças e matrícula nos degraus superiores do antigo ensino primário. 
Em 1950, havia ritmos desiguais de ensino em todo o país e o ensino primário se direcionava ao atendimento ampliado da população infantil com vistas à extensão em futuro próximo. 
Em 1940 o recenseamento mostrava que mais da metade da população acima de 15 anos de idade eram analfabetos, reforçando a possibilidade de extensão da escolaridade básica a todos os habitantes; crianças, jovens e adultos.
Há poucos registros bibliográficos que relatam os movimentos de atendimento às carências educacionais de jovens e adultos analfabetos ou pouco escolarizados. Havia algumas escolas regimentais de alfabetização de adulto instituídas pelo exército em período noturno. 
O Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) foi criado em 1938, sendo um dos defensores mais abrangentes nas políticas de educação para todos. Em 1947, foi criado um Serviço de Educação de Adultos, no Departamento Nacional de Educação e instituição da Campanha Nacional de Educação de adolescentes e adultos analfabetos com políticas mais efetivas na direção do atendimento aos adultos carentes de educação elementar.
Em 1956, a Campanha Nacional de Educação Rural e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, de 1958, foram importantes empreendimentos da União para estender a educação fundamental a adultos e adolescentes da época. 
No final da década de 1950 e na década subsequente, surgem organizações no campo profissional da educação escolar; Juventude Universitária Católica (JUC), da Juventude Estudantil Católica (JEC), e da União Nacional de Estudantes (UNE), Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Neste momento é constituído um novo sentido sobre a educação popular. 
Lourenço Filho, grande idealizador de políticas públicas de educação de jovens e adultos analfabetos defendia em seu artigo de 1945 que era necessário o atendimento da educação básica do adulto iletrado. Porém, as condições de realização dos trabalhos eram desfavoráveis, uma vez que os professores repetiam no turno da noite, o ensino que era aplicado no período da manhã para as crianças.
Sendo esta, uma característica do foco dado pelos professores e administradores das escolas primárias. Os conteúdos eram transmitidos basicamente em conhecimentos elementares de leitura, escrita e cálculo, rudimentos de história, geografia, ciências e noções básicas de higiene e saúde.
Nesta época, aos analfabetos não tinham direito ao voto, sendo incluídos somente quando se alfabetizavam.
No final dos anos 50, para além de possibilitar ao adulto o direito ao voto, era necessário conscientizá-lo sobre a importância desse voto como modo de atuação na preservação ou na transformação da ordem social. 
No primeiro semestre de 1956, houve a inauguração do curso regular do ISEB, onde Álvaro Vieira Pinto denominou como “noção social de educação”, a consciência do povo para o desenvolvimento social autêntico. 
Essas mudanças na constituição da sociedade geraram efeitos de reivindicações de salário, transportes, moradia, como fenômenos da necessidade de desenvolvimento social da época. 
Em 1958, Paulo Freire fundamentou sua tese acadêmica à Escola de Belas Artes de Pernambuco, para a discussão do analfabetismo entre adultos ao exame das condições de vida nos mocambos do Capibaribe e às correspondentes exigências de desenvolvimento nacional.
A compreensão de novas perspectivas sobre a educação popular surge também em 1960, no convênio celebrado entre a União e a CNBB para a constituição e o funcionamento do Movimento de Educação de Base (MEB) e a criação do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, e da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler, em Natal. 
 O método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos é criado pelo MPC em 1962 e é elaborada a Cartilha do MCP, utilizada em trabalhos de alfabetização em várias regiões do país. 
Houve neste período uma forte presença do pensamento progressista da igreja católica sobre ao novo sentido da educação popular, por uma disputa ideológica e influência sobre a população desfavorecida. Na contrapartida, os comunistas se preocupavam com a formação mais restrita de militantes entre os operários urbanos. 
Em seu artigo “Conscientização e Alfabetização - uma nova visão do processo”, Paulo Freire trás exemplos de mudanças sobre o conceito de educação popular. O autor relata que em 1961, enquanto coordenava o projeto de educação de adultos do Movimento de Cultura Popular (MCP), promoveu o lançamento de duas instituições básicas de educação popular, o Círculo de Cultura e o Centro de Cultura. Nestas instituições, havia a reunião do povo com o intuito dediscussão sobre situações problemáticas e a busca por entendimento das situações abordadas. 
A educação primária teve referências nos movimentos da independência e logo depois, nas discussões da constituinte de 1823, e mesmo na Constituição Outorgada, em 1824. O tema era discutido por políticos e intelectuais, mas não encontravam qualquer respaldo no comportamento ou nas aspirações da população.
A necessidade de educação escolar básica foi se transpondo no ideário coletivo. 
Os movimentos voltados os desfavorecidos encontravam na proposta de aprendizado da leitura e da escrita, um importante apelo à participação da população em meados do século passado. 
Havia dificuldade no recrutamento de jovens e adultos para participação e frequência escolar. A sociedade de época valorizava o domínio do conhecimento da leitura e da escrita, sendo este, um recurso de grande significado para o enfrentamento das dificuldades e persistência nas práticas escolares. 
Em meados do século passado, no Brasil, tivemos a ruptura dos limites entre a educação das elites e a educação das massas populares. Houve a ampliação do ensino secundário, a criação de ginásios noturnos, a reforma do ensino em 1967 no Estado de São Paulo e a lei federal de Reforma do Ensino de Primeiro e Segundo Graus, de 1971 para educação básica de oito anos. 
No ensino de nível médio, houve crescente número de alunos diplomados e pressão pelo ingresso ao ensino superior, que nos 60 gerou insatisfação nos denominados excedentes dos exames vestibulares.
Em 1947, Paulo Freire diplomou-se em Direito, mas desistiu da ocupação e assumiu o setor de educação do SESI de Pernambuco até o ano de 1957. Suas atividades no magistério iniciaram no ensino secundário e posteriormente no ensino superior. 
Foi professor de história e filosofia da educação na Escola de Serviço Social e na Escola de Belas Artes de Pernambuco. Atuou no Chile, nos Estados Unidos, na Suíça, e no Brasil, após 1980 como professor universitário. Alguns registros indicam sua atuação no magistério em Pernambuco. As atividades vivenciadas no movimento da cultura popular no Recife eram realizadas em laboratório em que procurava articular a formação teórica no campo educacional. Suas reflexões sobre as experiências vividas no Brasil e no exterior podem ser encontradas em publicações e obras posteriores como; Educação e atualidade brasileira, Educação como Prática da Liberdade, Extensão ou Comunicação, Pedagogia do oprimido, Pedagogia da esperança, entre outras. 
CONCLUSÃO
O presente trabalho trouxe importante reflexão acerca da educação popular em sua trajetória ao longo da história e as contribuições de Paulo Freire em sua defesa pela importância de se emancipar a educação para classes desfavorecidas. 
A educação para além do contexto escolar tem grande relação social com o trabalho desenvolvido por Paulo Freire em sua luta pela democratização do ensino, onde fica claro que ao longo da história, foi um privilégio de uma classe dominante em detrimento a minoria subalterna. 
Neste sentido, Paulo Freire em sua atuação contribuiu ricamente em suas práticas pedagógicas para uma educação de qualidade e foi também um grande incentivador no desenvolvimento de programas para educação de adultos, que se faz presente e necessária para a transformação social nos dias atuais.

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