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O empresário e o Direito do Consumidor

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O empresário e o Direito do Consumidor
1. Introdução 
Este trabalho pretende estabelecer uma relação entre duas disciplinas aparentemente distintas o Direito Comercial e o Direito do Consumidor. Objetiva-se com isso demonstrar como o Direito do Consumidor recepciona princípios formadores do Direito Comercial, podendo até mesmo complementá-los. Em uma análise indireta o Direito Comercial disciplina a relação entre empresários. 
Já o Direito do Consumidor aborda as relações estabelecidas entre fornecedores e consumidores no mercado de consumo. Por esta rasa noção, o diálogo entre as duas disciplinas pode aparentar até mesmo impossível. A Constituição Federal (art. 170, V) reconhece a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica. A partir de tais pressupostos, percebe-se uma interação entre as disciplinas a ponto de ser possível estabelecer um diálogo entre ambas.
2. O empresário e o direito do consumidor 
A legislação de consumo costuma estabelecer alguns padrões de transparência nas relações pré-contratuais entre fornecedores e consumidores. Esses direitos são reconhecidos aos consumidores e se refletem em obrigações impostas aos empresários, que, para cumpri-las, tem à sua frente três alternativas básicas e não excludentes, sendo: a primeira é a de investir no aperfeiçoamento da empresa, na qualidade do fornecimento de produtos ou serviços, para fins de reduzir a margem de defeitos ou exposição dos consumidores a perigos, a segunda alternativa do empresário, diante da imposição de novas obrigações frente aos consumidores, é a de contratar seguro, transferindo os riscos para as instituições secundárias e a última opção é a constituição de uma reserva própria para enfrentar a diminuição de receita decorrente do atendimento aos direitos dos consumidores, como a gerada por rescisões de contratos ou reexecução de serviços de baixa qualidade ou diferente ao prometido e etc. 
3. Qualidade do produto 
	O Código de Defesa do Consumidor inseriu três conceitos sobre a qualidade dos produtos ou serviços: Fornecimento Perigoso, Defeituoso ou Viciado.
	No fornecimento perigoso o dano ocorre pela insuficiência ou falta de informações necessárias dadas ao consumidor. Mesmo que o dano do produto tenha sido causado da má utilização do produto, a má utilização pode ter decorrido também da falta de informações do fornecedor, onde assim também se enquadra fornecimento perigoso. É dever do fornecedor alertar o consumidor sobre os riscos de determinados produtos. Quando o risco sobre o produto é conhecido pelas pessoas no geral, ele estará dispensado de alertar.
	Fornecimento defeituoso decorre quando o produto ou serviço fornecido apresenta alguma impropriedade danosa ao consumidor. No fornecimento defeituoso o dano não provém da falta de informações prestadas ao consumidor sobre os seus riscos, mas em razão de problema intrínseco ao fornecimento.
	O fornecimento viciado não decorre diretamente de um dano ao consumidor, ocorre quando o produto ou serviço apresenta impropriedade inócua. A impropriedade pode ser vicio ou defeito. O vício é detectado antes da ocorrência de dano ao consumidor, já o defeito não é detectado a tempo, resultando em dano. No caso de vicio, o consumidor opta por três alternativas; Desfazimento do negócio, com o pagamento dos valores já pagos, redução proporcional do preço, eliminação do vício, com substituição do produto ou reexecução do serviço.
	Os Tipos de fornecimentos de serviços viciados são: vicio de qualidade dos produtos; vicio de quantidade dos produtos; vicio de qualidade dos serviços.
3.1 Responsabilidade da má qualidade do produto
Em qualquer hipótese, seja o vício do produto ou do serviço, todos os fornecedores são responsáveis, não havendo discriminação pela lei. Isso se extrai da própria redação dos arts. 18 e 19 do CDC, que cuidam do vício de qualidade e quantidade do produto, utilizando-se da expressão os fornecedores, o mesmo ocorrendo com o art. 20, vício do serviço, que traz como responsável o próprio fornecedor de serviços. 
A responsabilidade é, portanto, solidária; o consumidor pode reclamar o vício perante qualquer fornecedor.
Destaque-se que, o STJ, confirmando a responsabilidade de todos os fornecedores, inclusive do comerciante, decidiu que o comerciante não tem o dever de receber e de encaminhar produto viciado à assistência técnica, a não ser que não seja localizada no mesmo município do estabelecimento comercial. Assim, o comerciante é também responsável, mas em caso de vício, existindo assistência técnica no mesmo município, não tem obrigação de encaminhá-lo. De modo inverso, quando não há assistência no mesmo município há, portanto, a responsabilidade pelo encaminhamento 
4. Proteção contratual 
No âmbito dos contratos firmados nas relações de consumo, é notória a presença de abusividades, quanto à forma pela qual esses contratos são elaborados, e para tal forma o Código do consumidor tem estabelecido maneiras de proteger os consumidores de tais abusos. Dessa forma, a partir do momento que o CDC passou a possibilitar o consumidor de ter mais vantagens nos contratos de consumo, este obteve uma maior proteção e apreciação de seus direitos com mais facilidade.
O dever de informar é uma das maneiras de proteção aos consumidores contra esses abusos, trata-se de um princípio fundamental na Lei n.8.078/90, aparecendo no inciso II do art. 6º, formulando uma nova formatação aos serviços e produtos que são oferecidos no mercado. Esse princípio vem para obrigar o fornecedor a prestar todas as informações necessárias a cerca de cada produto e serviço oferecido, dentre elas, o preço, as qualidades, as características, os riscos, entre outras, de forma clara e objetiva, sem falhas ou omissões. 
Outra maneira de proteção é o princípio da transparência, expresso no caput do art. 4º do CDC, que tem como objetivo a obrigação do fornecedor de prestar ao consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são oferecidos, fazendo com que gere no contrato a obrigação de fornecer o conhecimento prévio do seu conteúdo. 
Proibições de práticas abusivas são também formas de proteção ao consumidor. Esta norma encontra amparo no inciso IV do art. 6º do CDC, e corresponde basicamente à proibição de abuso de direito por parte dos fornecedores, através das suas práticas, inclusive no conteúdo presente dos contratos, por meio das cláusulas inseridas. 
O princípio da conservação é uma das formas de proteção ao consumidor adotado pelo CDC, amparado de forma implícita no inciso V do art. 6º, e explícita no § 2º do art. 51. Esse princípio conserva o mesmo contrato, mesmo após a ocorrência de alguma modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais, bem como também depois do direito à revisão das cláusulas em função de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. 
Outra maneira de proteção é o princípio da transparência, expresso no caput do art. 4º do CDC, que tem como objetivo a obrigação do fornecedor de prestar ao consumidor a oportunidade de conhecer os produtos e serviços que são oferecidos, fazendo com que gere no contrato a obrigação de fornecer o conhecimento prévio do seu conteúdo. 
O CDC tem também como forma de proteção adotada, a boa-fé, através do seu art. 51, inciso IV, que se trata de uma regra de conduta, ou seja, corresponde à forma de agir das partes conforme as atitudes de honestidade e lealdade com o propósito de firmar o equilíbrio nas relações de consumo. 
Outra forma de proteção adotada pelo CDC é por meio do princípio da igualdade, regra fixada no art.6º, inciso II, que tem como objetivo obrigar os fornecedores a oferecer condições iguais a todos os consumidores, sem nenhuma distinção entre eles, com exceção dos que possuem proteção especial, como nos casos dos idosos, gestantes e deficientes, entre outros.
5. Publicidade
Na luta pela venda de produtos e serviços, o anúncio publicitário evoluiu de uma proposta vaga e imprecisa para contratar e chegou ao patamar de um verdadeiro pré-contrato à medida que osinformes publicitários passaram a vincular, dados comerciais mais precisos como o preço, a quantidade, o tipo, a forma de pagamento do produto ou serviço.
Esta reunião de dados comerciais mais precisos para contratar no anúncio publicitário e que propiciam ao consumidor maior conhecimento acerca do preço, quantidade, forma de pagamento, de entrega, enfim das demais qualidades econômicas do produto e serviço é denominado de oferta. 
A publicidade não é um dever imposto ao fornecedor, mas um direito exercitável à sua conta e risco. O uso da publicidade exige respeito aos princípios do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, observando-se o necessário preenchimento de alguns requisitos legais. 
O legislador não sanciona a carência da publicidade, mas sim a publicidade que prejudica os consumidores. O Código não impõe nenhum dever de anunciar, a priori, dirigido ao fornecedor. 
5.1. Publicidade enganosa 
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor adotou um critério finalístico, ao considerar publicidade enganosa a simples veiculação de anúncio publicitário, que seja capaz de induzir o consumidor ao erro. Desse modo, leva-se em conta apenas a potencialidade lesiva da publicidade, não sendo necessário que o consumidor tenha sido efetivamente enganado. Então, não é necessário que o consumidor chegue às últimas conseqüências e adquira, de fato, o produto ou o serviço com base na publicidade enganosa. O erro real é um mero exaurimento efetivo. 
A maior proteção oferecida aos consumidores tem o objetivo de contrapor-se ao argumento de que o fornecedor não intencionava induzi-los ao erro, impossibilitando eventuais ações para livrar o anunciante de sua responsabilidade. 
Exige-se que a publicidade seja verdadeira, correta e pautada na honestidade, a fim de que o consumidor possa fazer sua escolha de maneira consciente. 
6. Outras medidas de prevenção nos contratos
O segredo para evitar o contencioso judicial e administrativo é:
a) Conhecer os direitos básicos do consumidor;
b) Conhecer os direitos e os deveres da empresa na relação de consumo;
c) Gerenciar a prova que pode ser usada em um litígio (mais importante).
d) Adotar procedimentos de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços ( art. 4º, V). Prazo de validade, condições físicas e de funcionamento do produto. Pode ser feito por amostragem.
e) Sempre informar quanto as características do produto, assim como quantidade, peso, composição, tributos incidentes no preço (educação do consumidor), riscos.
f) Cuidados com a publicidade. Sempre quando houver promoções, informar as regras tais como duração condicionada a data ou estoque, condições de pagamento, ou limitação de produtos por cliente.
g) Cuidados com propagandas ofensivas, enganosa ou omissivas. A propaganda tem o objetivo de informar o consumidor quanto a um produto ou serviço, divulgar a marca e ofertar produtos e serviços.
h)  Não fazer abertura de cadastros sem a permissão do consumidor.
i) Redigir com clareza os contratos de prestação de serviço e/ou fornecimento dos produtos.
j) Não efetuar cobranças abusivas de dívida (Art. 42 e 43 CDC)
k) Dever de informação e assistência ao consumidor (Este cuidado está presente nas três fases da relação de consumo).
l) Conhecer os direitos e deveres quanto a trocas de produtos, garantias do produto ou serviços, definição de formas de pagamento.
7. Conclusão 
A divisão do Direito em ramos variados é puramente didática em virtude do grande número de normas existentes, razão pela qual resta impossível a existência de regras independente no sistema jurídico. Mesmo com a divisão em ramos, todas as normas jurídicas encontram-se relacionadas entre si, sendo impossível isolá-las, pois integram o mesmo sistema. O Direito do Consumidor recepcionou parte dos princípios do Direito Comercial com os quais mantém uma relação até mesmo de complementação. O diálogo se estabelece não só com artigos do CDC, mas também com princípios da disciplina do consumidor e que regem a relação de consumo.
8. Referências bibliográficas
FAZIO JUNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 1° edição. São Paulo: Atlas S.A., 2000.
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 18°. São Paulo: Saraiva, 2007. 
https://www.webartigos.com/artigos/o-empresario-e-os-direitos-do-consumidor/36224
https://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI278682,71043-A+protecao+contratual+no+CDC
https://jus.com.br/artigos/3181/principios-gerais-da-publicidade-no-codigo-de-protecao-e-defesa-do-consumidor

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