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Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) INTRODUÇÃO • As infecções odontogênicas são um dos problemas mais difíceis para o tratamento na Odontologia. • A origem da infecção pode ser o dente (periapical) ou os tecidos de suporte (periodontal). • Podem se disseminar dos elemen- tos dentários para os processos alveolares e tecidos profundos da face, cavidade oral, cabeça e pes- coço. CARACTERÍSTICAS Podem ser: 1. Localizadas: • Pode ou não apresentar dor. • Apresenta ponto de flutua- ção com fístula. • São limitadas a certo espaço anatômico. 2. Disseminadas: • Apresenta risco de óbito. • Depende das características do paciente ou dos microrganismos. • Ocorre edema difuso, trismo, dificuldade de falar e se alimentar e pode apresentar febre: nesse caso, o tratamento é diferente. MICROBIOLOGIA • De acordo com Hupp et al, os mi- crorganismos responsáveis pelas infecções são residentes da micro- biota bucal. • Na coleta do material da infecção, sempre serão encontrados cerca de 5 a 8 espécies de microrganis- mos. Portanto, a infecção apre- senta natureza polimicrobiana, principalmente: a) Cocos aeróbicos Gram-positivos; b) Cocos anaeróbicos Gram-positi- vos; c) Bastonetes anaeróbicos Gram- positivos. • As principais bactérias presentes das infecções odontogênicas são do tipo Streptococcus. • É importante saber quais os prin- cipais microrganismos presentes para a determinação de terapia antimicrobiana a ser utilizada antes do resultado do antibio- grama. PRINCÍPIOS DA TERAPIA DAS INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS Princípio 1: Gravidade da Infecção Esse princípio é importante para identi- ficar a gravidade do quadro infeccioso. História completa • História relatada pelo paciente. • Nela, devemos identificar infor- mações importantes. • A queixa principal é de fundamental importância, para saber o início e dura- ção, a velocidade de evolução e se o paciente realizou automedi- cação. INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Exames físicos • Deve-se avaliar a pressão arterial e frequência cardíaca, além de checar se o paciente apresenta febre ou baixa frequência respi- ratória (disseminação da infecção para o espaço submandibular). Exames radiográficos • Indica-se exames radiográficos extra-bucais, como uma radiogra- fia panorâmica, devido ao trismo. • Objetivo inicial: fazer o atendi- mento de urgência (retirar a dor) ou emergência (risco de vida). Diferenças entre Abscesso e Celulite Princípio 2: Avaliar o estado do mecanismo de defesa do hospe- deiro Considera-se a imunidade do hospedeiro e o ambiente em que vive. Obs.: Um abscesso pode se tornar uma celulite em pacientes imunodeprimidos. Defesas Locais • A primeira defesa local é a barrei- ra anatômica intacta. - Quando se tem infecção com ponto de drenagem intra-oral, é sinal que houve rompimento da mucosa e contaminação por microrganismos residentes da cavidade oral. - Quando se tem uma fístula cutâ- nea, é sinal que houve rompi- mento da epiderme e da derme, na qual os microrganismos extra- orais causam contaminação retró- grada. Obs.: Quanto maior o comprometimento das barreiras, mais difícil é o tratamento, pela infecção ser mais profunda. Defesas Humorais e Celulares • Também devem ser consideradas as defesas humorais do paciente, que consistem em imunoglobinas (anticorpos) e na capacidade do sistema complemento. • As defesas celulares são mediadas por leucócitos, como os fagócitos, monócitos e linfócitos. Esse tipo de defesa é verificado por meio da anamnese e hemograma. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Princípio 3: Avaliar por quem será realizado o tratamento Decidir se o caso será realizado pelo clínico geral, ou se o paciente será enca- minhado para um centro especializado, ou seja, o pronto-socorro. Critérios para o encaminha- mento 1. Infecção de progressão muito rá- pida: temperatura corporal eleva- da (febre acima de 38ºC), trismo acentuado (abertura bucal menor que 10mm) e aparência tóxica pelo comprometimento das defesas do paciente. 2. Dificuldade de respiração (disp- neia) ou de deglutição (disfagia): indicativo de que houve envolvi- mento dos espaços fasciais. Disseminação das infecções odontogênicas A disseminação se inicia pela região periapical do elemento envolvido. • O que determina para onde será disseminada é a parede óssea mais delgada (de menor resistência). • A altura das raízes em relação à inserção muscular também inter- fere na disseminação da infecção: As infecções maxilares seguem em direção ascendente, enquanto as infecções mandi- bulares seguem direção descendente: via hematogênica. Classificação dos espaços fasciais 1. Espaços fasciais primários: • Maxila: espaço canino, bucal e infra-temporal. • Mandíbula: submentual (sub- mentoniano), submandibular, sublingual e bucal. 2. Espaços fasciais secundários: a infecção se torna mais grave devido à maior profundidade e por se situar mais próximo a estruturas nobres: • Espaços massetérico, pterigoman- dibular, temporal superficial e profundo, lateral da faringe (risco de asfixia), retrofaríngeo e pré- vertebral (comprometimento neu- rológico). • O tratamento nesses casos é anti- bioticoterapia intravenosa e su- porte nutricional. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Princípio 4: Tratamento Cirúr- gico da infecção Remoção da causa • Em casos localizados, onde a remoção da causa é feita através de exodontia ou endodontia. • Em infecções disseminadas, o quadro agudo deve ser eliminado via drenagem e antibioticoterapia, e a remoção da causa fica para um segundo momento. Drenagem cirúrgica • A drenagem de infecções mais localizadas pode ser feita via acesso endodôntico. • Porém, casos mais disseminados necessitam de acesso cirúrgico: a) O acesso cirúrgico mais fácil é o intra-bucal. b) A característica que determina se o acesso será intra ou extra-bucal é o local de flutuação da infecção. • Faz-se drenagem tanto no absces- so quanto na celulite, pois no abscesso ocorre pus; já na celulite pode ocorrer micro-abscessos no interior do tecido. Obs.: quando o tecido está infectado, ocorre hipóxia do mesmo. Assim, quando o dreno é colocado, a perfusão tecidual aumenta, e isso auxilia na drenagem da secreção. Além disso, o aumento na per- fusão auxilia na chegada do antibiótico intravenoso. Via cirúrgica intra-bucal O local da flutuação da infecção geralmen- te se localiza no fundo de sulco, tanto ma- xilar quanto mandibular. Passo a passo do procedimento 1. Antes de se realizar o acesso, deve-se realizar uma antissepsia da cavidade oral, além de garantir que haja uma boa sucção. 2. Encontrada a região de maior flutuação, realiza-se uma aneste- sia por bloqueio à distância (a inflamação faz com que o efeito do anestésico seja reduzido ou anu- lado pela ionização da solução). 3. Após a realização da incisão, utiliza-se uma tesoura Metzem- bauer ou pinça hemostática para fazer uma divulsão dos tecidos, rompendo todos os micro-absces- sos e orientando a drenagem. 4. Um dreno é colocado no local para manter a via de drenagem ativa. O dreno pode ser algum material es- terilizado que impeça a cicatriz- zação da mucosa ou pele, como um pedaço de lençol de borracha estéril. 5. Esse dreno deve ser colocado o mais profundamente possível, de Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) forma que fique próximo do ponto principal de drenagem. 6. O dreno intraoraldeve ser estabilizado por meio de sutura da mucosa. Isso evita sua remoção durante a alimentação, fala e sua intrusão. 7. O paciente deve retornar a cada dois dias para verificar as o dreno continua ativo. Quando não esti- ver mais ativo, pode-se removê-lo. Via cirúrgica extra-bucal Realizada quando o local de flutuação está localizado extraoral. Passo a passo do procedimento 1. Faz-se a antissepsia extraoral, e coloca-se o campo cirúrgico. 2. Após a identificação do ponto de maior flutuação, realiza-se aneste- sia da pele (a agulha penetra para- lela ao tecido apenas na área de maior flutuação). 3. Posiciona-se uma cuba abaixo do abscesso, faz-se a incisão e divul- são dos tecidos, enquanto com a mão oposta é feita a orientação da drenagem, até que não haja mais sinais de secreção, somente de sangue. 4. A partir desse momento, o dreno deve ser colocado. Nesse caso, o dreno não deve ser suturado, a fim de evitar cicatrizes. 5. Após a inserção do dreno, é colocado um curativo sobre. Esse curativo tem como funções dar estabilidade ao dreno, evitar que o paciente fique manipulando a região e absorver as secreções advindas da drenagem. 6. O paciente deve retornar a cada 24 horas para avaliação do dreno, e o curativo deve ser trocado constan- temente, enquanto estiver ativo. Fasceíte necrosante cérvico- facial • Infecção rara de progressão rápida e potencialmente fatal, na qual ocorre necrose das fáscias e da região subcutânea, além de uma possível formação de gases. • Mais comum em indivíduos imu- nocomprometidos. • Sequelas teciduais importantes. • Aumento da mortalidade: medias- tinite e sepse. Angina de Ludwig • Infecção potencialmente fatal, causada geralmente por dentes cujos ápices se localizam abaixo da linha milo-hioidea. • Celulite grave, de rápida evolução (24 horas), de aspecto difuso, sem limite bem determinado e consistência rígida. • Acomete bilateralmente todos os espaços fasciais primários da mandíbula, e não apresenta ponto de flutuação. • Obstrui as vias aéreas e causa dificuldade na fala. • O tratamento é feito no pronto- socorro, por meio de drenagem cirúrgica extraoral. O diagnóstico deve ser feito rapidamente para evitar obstrução da via aérea e/ou disseminação para espaços fas- ciais secundários. • Antibiograma empírico. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) • O índice de óbitos por angina de Ludwig é muito grande. Princípio 5: Suporte médico para o paciente O suporte é dado para ade- quar os mecanismos de de- fesa e fornecer os cuidados pós-operatórios ao paciente. Princípio 6: Escolher e pres- crever os antibióticos apro- priados O que define a escolha do antibiótico é o tamanho da infecção. De preferência, o antibiótico escolhido deve ser bactericida, apresentar pouca toxicidade e efeitos colaterais e ser de relativo baixo custo. O antibiótico é selecionado segundo a antibioticoterapia empírica, que nada mais é do que conhecer os microrganis- mos mais predominantes (estreptococos), antes do antibiograma estar pronto. Quando utilizar • Infecções com rápido aumento de volume • Envolvimento de espaços fasciais • Paciente imunodeprimido • Tumefação difusa • Comprometimento das defesas do hospedeiro • Osteomielite • Pericoronarite grave Quando não utilizar • Abscesso crônico bem localizado • Abscessos reduzidos localizados no lado vestibular • Alvéolo seco • Pericoronarite branda Princípio 7: Administrar o antibiótico apropriadamente O prazo mínimo de administração da terapia antibiótica é de 7 dias. Normalmente, utiliza-se Amoxicilina 500 mg de 8 em 8 horas por 7 dias. • Após 7 dias, deve-se reavaliar o paciente. Obs.: em caso de alergia à Penicilina (Amoxicilina), utilizar Clindamicina 600 mg, também de 8 em 8 horas por 7 dias. O Metronidazol é utilizado quando se tem uma infecção causada por microrga- nismos aeróbios, geralmente de origem periodontal. Indicações de cultura • Rápida disseminação da infecção • Envolvimento de múltiplos espa- ços anatômicos • Quando a infecção não responde ao tratamento • Casos de recidiva da infecção (quando já houve uso prévio de antibióticos) • Pacientes imunossuprimidos • Casos de osteomielite, na qual a infecção já acometeu tecido ósseo Princípio 8: Avaliação frequen- te do paciente Avaliar o paciente a cada 24 horas (ou no mínimo a cada 2 dias). Em casos de complicações, o retorno deve ser imediato. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Como dito anteriormente, a resposta do paciente deve ser avaliada após 7 dias, para verificar se o paciente está respon- dendo ao tratamento. REFERÊNCIAS Hupp, James R.: Cirurgia Oral e Maxilo- facial Contemporânea, 5ª edição, Parte IV, Capítulos 15 e 16. Jorge, Antonio Olavo Cardoso: Microbio- logia e Imunologia Oral, 2ª edição, Capí- tulos 31 e 32. Sobre Fasceíte Necrosante (Necrotizante) Cérvico-facial: http://www.revistacirurgiabmf.com/201 4/1/7.pdf http://www.revistacirurgiabmf.com/2014/1/7.pdf http://www.revistacirurgiabmf.com/2014/1/7.pdf
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