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O Behaviorismo PROF PEDRO BERANGER // 29/ABR/20 Tema Behaviorismo: Pavlov, Watson e as críticas ao behaviorismo de Watson Estrutura do Conteúdo Páginas do material didático que devem ser lidas antes da aula: da página 71 à página 82 Campos, Luis Antonio. História da psicologia. Luis Antonio Campos. Rio de Janeiro: SESES, 2016. Objetivos Reconhecer os antecedentes teóricos do Behaviorismo; Descrever a evolução histórica do behaviorismo; Diferenciar as contribuições dos seus precursores. O Behaviorismo = Comportamentalismo -> sistema teórico que se dedica ao estudo do comportamento observável, dessa forma podemos entendê-lo como sendo uma filosofia da ciência do comportamento que propõe questões tais como: • É possível tal ciência? • Pode ela explicar cada aspecto do comportamento humano? • Que métodos podem empregar? Sendo até hoje muito criticado, existe uma série de afirmações falsas sobre o Behaviorismo, tais como o fato de que se ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais; que negligencia dos dons inatos afirmando que todo o comportamento é adquirido; que apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas; que não tenta explicar os processos mentais; que não considera as intenções ou os propósitos; que é superficial; que se limita à previsão e ao controle do comportamento; que trabalha com animais, mas não com pessoas e que não possui validade ecológica. Complexo e interessante sistema teórico, que possui inúmeras aplicações práticas e de grande utilidade em diversas áreas da vida do ser humano. Comportamentalismo Primeiro behaviorista explícito = John Watson que, em 1913, lança um manifesto chamado “a Psicologia como a vê um behaviorista”. A origem do Behaviorismo, ou Comportamentalismo, é atribuída a John Watson, em 1913, com a publicação de um ensaio denominado “manifesto behaviorista -> concretização de uma insatisfação crescente com a Psicologia introspectiva que dominava o cenário das produções científicas na área até então. A proposta apresentada por Watson foi compatível com a de Max Meyer, um dos primeiros behavioristas, que sugeriu que se considerasse apenas o que pode ser objetivamente observado no comportamento de alguém em relação com a sua história ambiental prévia. Essa exclusão dos fenômenos privados se deveu ao fato de não ser possível um acordo público acerca de sua validade. A introspecção não podia ser aceita como uma prática científica e a Psicologia de W. Wundt e E. Titchener era atacada por isso. Pesquisas anteriores a Watson já preparavam o caminho para o surgimento do Behaviorismo -> Thorndike - pesquisa que utilizava gatos como sujeitos experimentais, em gaiolas-problemas, em 1890, já preparava o terreno para a nova abordagem que seria instituída em seguida. Na mesma época, na Rússia, aconteciam os experimentos de Pavlov = um modelo para o Behaviorismo americano. Pavlov -> investigação da fisiologia da digestão, descobriu, por meio destes estudos, importantes princípios da aprendizagem de reflexos com a associação de estímulos. Ele estava interessado em estudar o funcionamento do sistema digestório utilizando cães como seus sujeitos experimentais. Pavlov criou um aparato que servia para colher a saliva do cão. Para fazer o cão salivar Pavlov oferecia comida a ele, tendo em vista que esse é o estímulo natural (comida) para se conseguir essa resposta (salivação). Dessa forma, um auxiliar entrava onde estava o animal e colocava a comida iniciando o procedimento. Um dia, o auxiliar entrou sem a comida e o cão salivou mesmo assim. Inicialmente, Pavlov ficou até aborrecido por acreditar que o seu experimento havia sido invalidado, entretanto ele logo percebeu que havia descoberto um dos princípios da aprendizagem por associação através da qual explicaria a aprendizagem de reflexos. Mas como ocorre a aprendizagem de reflexos, eles não são automáticos? Sim, e é exatamente esse o processo sobre o qual age o condicionamento clássico: a aprendizagem de respostas involuntárias ao organismo, ou seja, reflexos. Nesse caso, é importante separarmos primeiro o que seriam respostas involuntárias do organismo, os chamados respondentes; e o que seriam as respostas voluntárias do organismo, os chamados operantes. Respondentes são comportamentos sobre os quais o indivíduo não tem controle -> duas grandes categorias de comportamentos tanto humanos quanto animais, as respostas emocionais e as respostas fisiológicas. Pavlov estava estudando – salivação – é um respondente. Não temos controle sobre este comportamento que, no caso, é uma resposta fisiológica = podem ser chamadas de respostas reflexas. Podemos descrever a experiência de Pavlov da seguinte forma: um estímulo incondicionado é pareado com um estímulo neutro e a associação entre os dois faz com que o estímulo neutro assuma as propriedades do estímulo incondicionado passando a eliciar (provocar) as mesmas respostas que o estímulo incondicionado. Após essa associação, o estímulo neutro passa a ser denominado estímulo condicionado, pois agora ele provoca uma determinada resposta aprendida por associação. • Estímulo incondicionado (EI) – naturalmente elicia determinada resposta; • Resposta incondicionada (RI) – natural ao estímulo incondicionado; • Estímulo neutro (EN) – não mantém relação com a resposta em questão; • Estímulo condicionado (EC) – nova denominação do estímulo neutro após sua associação com o EI; • Resposta condicionada (RC) – eliciada pelo estímulo incondicionado. Agora vamos mostrar esquematicamente o condicionamento clássico, também denominado de condicionamento pavloviano ou condicionamento respondente. O experimento clássico de Pavlov pode ser colocado dentro desse modelo, observe: Um estímulo incondicionado (carne) é associado a um estímulo neutro (a pessoa do auxiliar) passando a provocar a mesma resposta (salivação). Se identificarmos os elementos ficará dessa forma: Salivar frente à comida é um reflexo natural em todos nós, porém salivar frente a uma pessoa é um reflexo aprendido por aquele animal, em particular, em função das histórias de aprendizagem dele. Após a aprendizagem, alguns processos podem ocorrer fazendo com que haja uma variação na resposta aprendida, são eles: 1. Generalização – extensão da resposta condicionada para outros estímulos semelhantes ao estímulo condicionado; 2. Extinção – em função da retirada do estímulo incondicionado a associação feita pode ir perdendo força até desaparecer do repertório comportamental do sujeito. A velocidade da extinção depende da força do condicionamento; condicionamentos fracos se extinguem com muita facilidade enquanto condicionamentos fortes podem não se extinguir nunca mesmo com a retirada do EI; 3. Recuperação espontânea – reaparecimento da resposta aprendida após um período de extinção da mesma. O Behaviorismo veio ao encontro com as aspirações da Psicologia norte-americana direcionadas para a aplicabilidade dos conhecimentos desenvolvidos -> utilidade da teoria na melhoria da educação formal (escolar) e informal e à área de vendas. Após Watson e Pavlov, uma nova geração de psicólogos neobehavioristas dominou o cenário intelectual da época, dentre eles podemos destacar Edward Tolman, Clark Hull e Burrhus Skinner. Os estudos de Tolman indicaram que nem todo comportamento é respondente. Os reflexos, inatos ou aprendidos, são comportamentos respondentes. Ao lado deles existem, em nosso repertório comportamental (conjunto de todos os comportamentos emitidos pelo sujeito), inúmeros comportamentos operantes, ou seja, que não respondem a um estímulo específico sendo involuntários, mas que operam (agem) sobre o meio na tentativa de controlar suas consequências, são então voluntários e dedicam-se a conseguir ou a evitar algo. Este é o tema de estudo de Burrhus Skinner, um dos mais eminentes behavioristas. Na verdade, este tema já havia aparecido na obra de E. Thorndike ao enunciar a lei do efeito. Esses estudos são retomados por Skinner ao definir que, no condicionamento operante,um comportamento emitido é seguido por determinadas consequências e as chances futuras desse comportamento voltar a ocorrer são determinadas por essas consequências. Skinner -> behaviorismo radical, não negando a possibilidade da auto-observação ou do autoconhecimento ou a sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido ou observado. Não insiste, entretanto na verdade por consenso, mas simplesmente questiona a natureza do objeto observado e a fidedignidade das observações. A Psicologia deveria ter apenas dois objetivos: a previsão e o controle do comportamento (humano ou animal). Eles poderiam ser alcançados através da análise experimental do comportamento = uma descrição completa dos antecedentes e dos consequentes (das contingências) de um determinado comportamento. Skinner, assim como Pavlov, estudou o comportamento em situações de laboratório bem controladas, criando um dispositivo denominado Caixa de Skinner, destinada a experimentos com animais. Em suas pesquisas, Skinner dedicava-se a estudar detalhadamente um comportamento submetido a certas circunstâncias e depois traçar conclusões gerais, e a utilização da caixa lhe permitiu o total controle das variáveis às quais o animal estava sendo submetido. Enquanto no condicionamento clássico utilizávamos o modelo de análise a seguir: No condicionamento operante, podemos utilizar o seguinte modelo de análise: Ou seja, o sujeito emite um comportamento operante (voluntário) que é seguido por determinadas consequências; essas consequências influenciam retroativamente o comportamento fazendo com que ele seja fortalecido ou enfraquecido (variação do comportamento). Em função da variação do comportamento, Skinner classificou as consequências como sendo reforços ou punições. Aqui, na verdade, a análise é bastante simples e objetiva, entretanto nossa tendência a fazer juízos de valores acaba nos atrapalhando muito. Em geral, o senso comum entende um reforço como sendo uma coisa boa e uma punição como sendo uma coisa ruim, avalie, por um instante, se você também pensa assim. Acreditamos que sim. Contudo, no condicionamento operante esses termos têm sentidos específicos, observe: 1. Reforço → todo e qualquer evento que aumenta a frequência do comportamento; pode ser classificado como: • Reforço positivo → oferece-se o estímulo depois da ação, e esse estímulo apresentado fortalece a apresentação do comportamento; • Reforço negativo → reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação, e essa retirada de estímulo fortalece a apresentação do comportamento; • Reforços primários → intrinsecamente satisfatórios, normalmente associados às necessidades básicas do indivíduo como alimento, carinho, atenção; • Reforços secundários → aprendidos (adquirem seu poder por meio de associação com os reforços primários. Os reforços secundários aumentam de maneira considerável nossa capacidade de influenciar os outros. Um dos mais poderosos reforços secundários no caso do ser humano é o dinheiro; • Reforços imediatos → seguem-se ao estímulo; • Reforços retardados → ocorrem algum tempo após o estímulo. 2. Punição (consequência aversiva) → diminui a frequência do comportamento; pode ser classificada como: • Punição positiva → oferece-se o estímulo depois da ação, e esse estímulo apresentado diminui a frequência do comportamento. • Punição negativa → reduz-se ou remove-se o estímulo após a ação, e essa retirada de estímulo diminui a frequência do comportamento. Em geral, fazemos parte de uma cultura que tenta controlar o comportamento mais por meio da utilização de punições do que pela utilização de reforços, o que é um grande equívoco, visto que a punição possui uma série de desvantagens: • Apenas diminui a frequência do comportamento, sem, entretanto, o extinguir; • Pode aumentar a agressividade da pessoal (ou animal) que foi punido; • Pode criar medo ou outras respostas emocionais inadequadas; • A punição não oferece opções de comportamentos para o sujeito, você sinaliza para a pessoa que aquele comportamento é inadequado, entretanto a punição não indica qual é o adequado; • A punição combinada com o reforço é mais eficaz que apenas a punição; • Os punidores físicos, quando utilizados por pessoas descontroladas, podem provocar grandes estragos levando a sérias lesões ou até a morte do sujeito punido. O ideal então, em termos de controle do comportamento, seria a utilização de reforços ao invés de punições, entretanto isso raramente é utilizado. Pare por um momento e pense um pouco nas relações que você mantém. Pense em suas relações mais íntimas, para limitarmos um pouco a amplitude deste rápido exercício. Nessas relações você costuma ser mais reforçador ou mais punitivo? Em geral, tendemos mais a punir o comportamento inadequado do que reforçar o comportamento adequado, o que é um grande equívoco quando consideramos a análise experimental do comportamento. Skinner desenvolveu ainda um procedimento de aprendizagem quando o comportamento a ser aprendido está distante do repertório comportamental apresentado pelo sujeito. Ele foi denominado modelagem que consiste na orientação do comportamento por meio do uso de recompensas utilizadas com o método de aproximações sucessivas até se chegar ao ponto desejado (recompensam-se comportamentos cada vez mais próximos do desejado). Aliado ao desenvolvimento de formas de aprendizagem, Skinner sinalizou também o fato de que oferecer recompensas desnecessárias (para comportamentos já intrinsecamente motivados) pode ser contraproducente ocasionando o que ele denominou de efeito de superjustificativa. Na superjustificativa, ocorre a perversão do sistema motivacional do sujeito e os comportamentos deixam de ser intrinsecamente motivados (movidos pelo prazer na atividade em si) passando a ser extrinsecamente motivados (movidos pela recompensa que o sujeito irá conseguir por sua realização). A superjustificação pode afetar o ensino e a aprendizagem, prejudicando-os, visto que o sujeito passará a perseguir uma recompensa e não a aquisição do conhecimento. As pesquisas de Skinner tiveram grandes implicações na educação escolar, na educação de filhos, no planejamento do sistema prisional, no treinamento de professores e no treinamento militar. Até hoje são ainda de extrema importância para o tratamento de diversos transtornos psicológicos e são também utilizadas no desenvolvimento de programas de incentivo para trabalhadores. Muitas das críticas dirigidas ao seu trabalho referiam-se a sua recusa de considerar as funções cognitivas como forçar motrizes do comportamento humano, críticas essas que se multiplicaram com o desenvolvimento da Psicologia cognitiva, entretanto, na atualidade, os próprios psicólogos cognitivistas incorporaram, em sua prática, diversos dos conhecimentos desenvolvidos por Skinner compreendendo que tanto as influências ambientais quanto os processos cognitivos são fortes influências sobre o comportamento.
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