Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 MAURA VANESSA SILVA SOBREIRA RELIGIOSIDADE, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutora em Ciências da Saúde. SÃO PAULO 2018 2 MAURA VANESSA SILVA SOBREIRA RELIGIOSIDADE, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Doutora em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Dr Ricardo Riyoiti Uchida Co-Orientador: Dr. Quirino Cordeiro Júnior SÃO PAULO 2018 3 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Sobreira, Maura Vanessa Silva Religiosidade, depressão, ansiedade e ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade. / Maura Vanessa Silva Sobreira. São Paulo, 2018. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Ricardo Rioyoiti Uchida Coorientador: Quirino Cordeiro Junior 1. Ansiedade 2. Depressão 3. Mulheres 4. Prisões 5. Religião 6. Saúde mental BC-FCMSCSP/39-18 4 Aos meus pais José Luiz e Maria José, que dignamente me apresentaram a importância da família e o caminho da honestidade e persistência. Ao meu companheiro, Emanuel Melo por todo amor sempre dispensado a mim, pelo apoio, força, incentivo e companheirismo. Ao meu filho, Luiz Gabriel, que ainda não tem idade para entender o que é uma tese, agradeço pela alegria, inocência, carinho e amor incondicional que sempre me estimularam nos momentos difíceis. A minhas irmãs, Raquel, Élida e Katyanne, minhas companheiras de todas as horas. 5 Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade. Simone de Beauvoir 6 AGRADECIMENTOS A Deus, minha fonte de força para superação de dificuldades; Aos meus familiares por todo amor, paciência e apoio incondicionais nas minhas decisões; À Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo por ter me acolhido durante a realização do doutoramento, por todo aprendizado; Ao Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Saúde pelo apoio nas intervenções realizadas junto à equipe de saúde do sistema prisional; À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, minha instituição de origem, por me provocar a continuar questionando e aprofundando os estudos; Ao meu orientador, Profrofessor Dr. Ricardo Uchida, pela paciência, compromisso e suporte para seguir nessa caminhada; Aos meus colaboradores do estudo, Júnior Menezes e Eronyce Rayka, pela contribuição efetiva, parceria e companheirismo; À equipe de saúde do presidio Júlia Maranhão pelo acolhimento irrestrito; E especialmente às mulheres privadas de liberdade, as quais participaram desse estudo, gratidão pelo aprendizado e compartilhamento de suas vidas. 7 ABREVIATURAS BAI- Inventário de Ansiedade de Beck BDI- Inventário de Depressão de Beck CEP- Comitê de Ética em Pesquisa CID-Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde CNJ- Conselho Nacional de Justiça DEPEN- Departamento Penitenciário Nacional DSI- Escala de Ideação Suicida de Beck DSM- Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INFOPEN- Informação do Sistema Penitenciário LEP- Lei de Execução Penal OMS- Organização Mundial de Saúde PNAISP- Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional PNSSP- Plano Nacional de Saúde do Sistema Penitenciário RI- Religiosidade Intrínseca RNO- Religiosidade Não Organizacional RO- Religiosidade Organizacional SPSS- Statistic Package for the Social Sciencies SUS- Sistema Único de Saúde 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 10 1.1. Revisão de Literatura 15 1.1.1 Contexto do Sistema Penitenciário Brasileiro e Políticas Públicas de Saúde 15 1.1.2 Mulheres privadas de liberdade e sofrimento mental 19 1.1.3 Suicídio e privação de liberdade 23 1.1.4 Religiosidade e saúde mental 25 1.2. Hipóteses de estudo 26 2. OBJETIVOS 27 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 28 3.1. Tipo de Estudo 28 3.2. Local de Realização 28 3.3. População e Amostra 29 3.4. Instrumentos de Coleta de Dados 29 3.5. Coleta de Dados 31 3.6. Análise dos Dados 32 3.7. Considerações éticas 32 4. RESULTADOS 33 4.1. Dados Sociodemográficos 33 4.2. Dados relacionados a privação de liberdade 34 4.3. Dados sobre o histórico 36 4.4. Condições Físicas, clínicas e medicamentosa 37 4.5. Saúde Mental entre mulheres privadas de liberdade 39 4.6. Religiosidade e correlação entre ansiedade e depressão 39 4.7. Ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade 41 4.8. Ideação suicida, ansiedade, depressão e correlação com outras variáveis 44 5. DISCUSSÃO 47 6. CONCLUSÕES 58 7. ANEXOS 60 Anexo 1 – Índice de Religiosidade da Universidade de Duke 60 Anexo 2 – Inventário de Ansiedade de Beck 62 Anexo 3 – Inventário de Depressão de Beck 64 9 Anexo 4 – Escala de Ideação Suicida 68 Anexo 5 – Parecer CEP 72 Anexo 6 – Artigo Submetido 75 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93 RESUMO 101 ABSTRACT 103 LISTAS E APÊNDICES 105 Lista de Tabelas 105 Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 107 Apêndice B – Instrumento de Coleta de Dados 109 10 1. INTRODUÇÃO Embora o debate sobre o aprisionamento feminino venha acontecendo com maior frequência nos últimos cento e cinquenta anos, acompanhando as lutas femininas por direitos e autonomias, mudanças nas legislações e o aumento da violência na sociedade de maneira geral, tal fato ainda desperta um sentimento de espanto na sociedade quando comparado aos direitos masculinos. Evidencia-se que a criminalidade e a violência se constituem em graves expressões da questão social, atingindo diferentes grupos sociais. Neste contexto, identifica-se que a atuação do estado vem privilegiando aspectos que reorientam as estratégias de enfrentamento relacionadas à penalização da questão social em detrimento de ações de proteção social. Neste sentido o aumento de atos criminais cometidos por mulheres, bem como o consequente ingresso destas no sistema prisional brasileiro vem se constituindo em questão relevante na sociedade atual (Rodrigues et al, 2012). Em junho de 2016, existiam 726.712 pessoas privadas de liberdade no Brasil. Em relação ao número de vagas, os dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) revela um déficit total de 358.663 mil vagas e uma taxa de ocupação média de 197,4% em todo o país, cenário também agravado em relação ao último levantamento disponível (Depen, 2017). Os índices atuais mostram que esmagadora maioria dos detentos do sistema penitenciário brasileirohoje é oriunda da parcela mais vulnerável da população. Esses sujeitos são advindos das periferias das cidades, são pobres e possuem baixo grau de escolarização. No caso das mulheres, as pesquisas apontam que, a maioria encontra-se no sistema penitenciário em razão de envolvimento com o tráfico de drogas (Rodrigues et al, 2012). Para as mulheres privadas de liberdade, a Constituição Brasileira (1988) determina tratamento especial, com estabelecimento próprio adequado a sua necessidade e respeito a sua condição social. A Lei de Execução Penal dispõe sobre as penitenciárias femininas, preconizando que estes estabelecimentos devam possuir seções especiais para as gestantes, as parturientes e para a mães com o filho até doze anos de idade. Contudo, as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, desconhecem seus direitos civis. Nesse sentido, as circunstâncias de confinamento das mulheres presas e a responsabilidade do Estado pela sua custódia direta demandam do poder público uma ação ainda mais proativa e um tratamento de fato especializado, com o fim de garantir às mulheres encarceradas o acesso e gozo dos direitos que lhe são assegurados pela normativa nacional e internacional (Brasil, 1984). 11 A situação atual do Sistema Penitenciário brasileiro é de celas superlotadas, precariedade e insalubridade dos presídios. Soma-se a isso, más condições de alimentação e higiene, o sedentarismo dos presos, além do uso indiscriminado de drogas. Todos esses fatores tornam as prisões um espaço de degradação humana. As condições de confinamento em que se encontram as pessoas privadas de liberdade são determinantes para o bem-estar físico e psíquico. Quando recolhidas aos estabelecimentos prisionais, as pessoas trazem problemas de saúde, bem como transtornos mentais, que são gradualmente agravados pela precariedade das condições de moradia, alimentação e saúde das unidades prisionais (Rodrigues, et al, 2012; Brasil, 2017). No que se refere à Política de Saúde, o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, a partir da Portaria Interministerial nº. 1.777/2003 contempla, essencialmente, a população recolhida em penitenciárias, presídios, colônias agrícolas e/ou agroindustriais e hospitais de custódia e tratamento, não incluindo presos do regime aberto e presos provisórios, recolhidos em cadeias públicas e distritos policiais (BRASIL, 2003). Em 2014, o Mistério da Saúde do Brasil, instituiu, através da portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que tem como objetivo garantir o direito à saúde para todas as pessoas privadas de liberdade, principalmente, através da melhoria da infraestrutura das unidades básicas de saúde prisional e garantia da equipe mínima (Brasil, 2014). A prevalência de doenças nessa população específica é maior do que na população em geral. Segundo Watson (2004), 90% das pessoas privadas de liberdade têm problemas de saúde mental, 80% fumam, 8% dos homens e 12% das mulheres são infectados pelos vírus que causam as hepatites B e C, além de alguns soropositivos. Essa população possui não só doenças associadas ao físico, mas, sobretudo, a problemas de saúde mental, os quais possuem maior prevalência entre essa população específica (carcerária) em relação à população geral. Entretanto, o padrão de confinamento, na maioria das unidades prisionais, revela uma série de fatores de risco à saúde mental e física desta população, a exemplo da superlotação, precárias condições de higiene, falta de controle da qualidade dos alimentos fornecidos, relações violentas de poder, falta de atividades laborais e físicas, uso de drogas, entre outros. A tais fatores, adiciona-se a precariedade da atenção à saúde dessa população, além de as ações de promoção e prevenção e da assistência curativa prestada serem muito heterogêneas entre as unidades federadas, variando desde a ausência absoluta até a existência de serviços próprios. A prisão funciona como reprodutora da miséria, visto que, ao longo do período de encarceramento, inflige perdas à mulher presa em diferentes dimensões da vida social, a 12 começar pelo trabalho e pela moradia. Essa perda material tende, na maioria das vezes, a atingir a família e, em muitos casos, a estremecer relações familiares e afetivas. A falta de apoio familiar, as reduzidas possibilidades de trabalho, de formação profissional, de lazer e a falta de acesso a bens materiais básicos tornam difícil a vida da detenta dentro da prisão e quando de seu retorno à liberdade. Nesse sentido, pode-se afirmar que a prisão empobrece ou agrava a pobreza preexistente (Lima, 2005; Rodrigues et al, 2012). A depressão é um dos transtornos mentais presentes entre mulheres privadas de liberdade. Em estudo realizado em Ribeirão Preto por Pinese (2009), a frequência de depressão nesse grupo é mais alta do que o encontrado na literatura, sendo por ela identificado através do inventário de Beck, uma predominância de 82% de detentas com sintomas depressivos, sendo acentuado em mulheres jovens. Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Frequentemente, associa-se à sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado. Alguns autores enfatizam a importância das alterações psicomotoras, em particular referindo- se à lentificação ou retardo psicomotor. No diagnóstico da depressão, levam-se em conta: sintomas psíquicos, fisiológicos e evidências comportamentais (Del Porto, 1999). Conforme Lima (1999), os fatores considerados de risco seriam os eventos vitais (mudanças identificáveis no padrão de vida que afete o bem estar do indivíduo); estresse crônico (condições que em longo prazo trazem dificuldades, tais como dificuldades financeiras e nas relações interpessoais, além de ameaças permanentes à segurança do indivíduo) e, suporte social (fatores socioambientais que podem modificar o efeito de estressores sobre as pessoas, tais como falta do cônjuge e isolamento social). Salienta-se que todos esses fatores se encontram presentes no ambiente carcerário, reforçando a hipótese de que o índice de depressão nesta população pode ser alto, considerando-se que a maioria dos estudos epidemiológicos mostra uma associação entre eventos negativos e depressão maior. A ansiedade também é considerada um estado emocional com componentes psicológicos e fisiológicos, sendo caracterizada por sensações subjetivas de antecipação, medo ou apreensão associada com graus de grande excitação e reatividade autônoma. É importante ressaltar que a ansiedade faz parte dos sentimentos normais, tornando-se patológica quando a intensidade ou frequência não corresponde à situação que a desencadeia ou quando não existe um objeto específico ao qual se direcione. Essa classificação vai 13 depender da situação em si das características do indivíduo e da interpretação que ele faz da situação (Araújo et al, 2009). Para Beck, Emery e Greenberg (1985), a predominância no fluxo dos pensamentos dos pacientes com transtorno de ansiedade relaciona-se ao perigo. Uma vez que estes pacientes superestimam o perigo e subestimam os recursos pessoais para lidar com as situações perigosas, o processamento cognitivo da ansiedade encontra-se na crença de vulnerabilidade do indivíduo, pois os próprios sintomas de ansiedade são decorrentes de uma avaliação de perigo iminente que pode transformar-se em uma nova ameaça percebida, que por sua vez são interpretadas como um possível sinal de lesão física ou psicológica. Por sua vez, o suicídio é umfenômeno complexo determinado pela interação de múltiplos fatores, entre os quais a constituição biológica do indivíduo, sua história pessoal, seus elementos emocionais, eventos circunstanciais, bem como o meio social em que está inserido. Nesse fenômeno social que é o suicídio existem os fatores externos e os internos. Os fatores externos são os socioculturais. Já os internos são: a desesperança, a depressão, a pulsão de morte, entre outros (Turecki, 2007; Minayo, 1998). As infratoras presas podem ter sido agentes, mas, também, são pessoas vítimas da violência. A pena de prisão reproduz a violência, as condições gerais de cumprimento das penas deterioram-se muito, as condições sanitárias das unidades prisionais são precárias e a saúde mental do indivíduo está sendo cada vez mais afetada. A unidade prisional é, portanto, um ambiente do qual a violência faz parte (Negrelli, 2006). Para Tauany et al (2012), a saúde mental tem relação com a religiosidade, existindo diversos fatores que podem contribuir para um papel protetor da religião em relação à saúde como: (1) a adoção de estilos de vida mais saudáveis; (2) o provimento de suporte social; (3) o desenvolvimento de um sistema de crenças e processos cognitivos que promovem maior aceitação de si e do próximo com promoção de resiliência e (4) condução de práticas religiosas que aliviam o sofrimento psicológico. As relações entre religiosidade e saúde têm sido cada vez mais investigadas e as evidências têm apontado para uma relação habitualmente positiva entre indicadores de envolvimento religiosos e de saúde mental. No Estado da Paraíba, a população carcerária está estimada em 11.377, sendo 615 mulheres. A capacidade instalada de vagas, refere-se a 5.241, sendo 186 feminina, distribuída em 80 estabelecimentos penais, apenas quatro destinados a mulheres (Depen, 2017). O crescimento da população feminina é um fenômeno recente e aponta para a necessidade de estudos que considerem a perspectiva de gênero no ambiente prisional, garantindo que não haja a invisibilidade das necessidades e direitos das mulheres presas. 14 As mulheres aprisionadas apresentam cinco vezes mais chances de desenvolver algum problema de saúde mental, quando comparadas à população em geral de mulheres como transtornos de humor e uso de substâncias. O isolamento tem gerado consequências danosas para a saúde mental das mulheres que parecem encontrar mais dificuldades que os homens quando são obrigadas a permanecer por muito tempo isoladas (Lima, 2005). Nesse sentido, torna-se fundamental realizar um estudo sobre religiosidade, depressão, ansiedade e ideação suicida entre mulheres detentas no Estado da Paraíba, considerando fatores como superlotação dos presídios, o déficit de vagas, condições sanitárias, somando-se a isso, a implantação recente do Plano Estadual de Saúde do Sistema Penitenciário. Cabe destacar que, no Brasil, a questão da criminalidade feminina ainda não foi suficientemente explorada. Uma das razões, de acordo com França (2014) é pelo fato de os autores que vêm se dedicando sobre a temática não diferenciarem a criminalidade feminina da masculina. Tal postura é amparada pela percepção de que a participação feminina se comparada à masculina, é praticamente invisível na criminalidade geral, uma vez que representa, aproximadamente, apenas 6% do total de presos (França, 2014). Mulheres privadas de liberdade cometem suicídio nos presídios. Quase dez por cento de todas as mortes no cárcere são por auto-violência humana. O crescimento das notificações e da busca por cuidados dos que ameaçam se matar é um fenômeno que merece atenção do setor da saúde. É pertinente a avaliação da ideação suicida de infratoras presas (Negrelli, 2006). O conhecimento deste tema é de grande relevância para a análise da situação social das mulheres privadas de liberdade, indivíduos presos, para a análise da saúde mental desta parcela da população no Estado da Paraíba, para projetos de práticas preventivas do suicídio e para o planejamento de ações de saúde mental. Os questionamentos que emergiram para realização da pesquisa foram: Quais características sócio-demográfico-clínicas e condição penal das mulheres privadas de liberdade do Centro de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão? Quais os índices de religiosidade dessas mulheres e qual a relação com a saúde mental? Quais os sinais indicativos de depressão e ansiedade e ideação suicida entre essas mulheres conforme inventário de Beck? Dessa forma, compreender a relação da religiosidade, saúde mental e os determinantes do processo saúde-doença da depressão, ansiedade e suicídio, favorecerá o reconhecimento das condições vivenciadas por estas mulheres, fornecendo subsídios para o resgate da cidadania, dos direitos humanos e criação de condições de saúde dignas. 15 1.1. REVISÃO DE LITERATURA 1.1.1 Contexto do Sistema Penitenciário Brasileiro e Políticas Públicas de Saúde Segundo Foucault (2004), a forma prisão se constituiu fora do aparelho judiciário quando se elaboraram por todo o corpo social, os diversos processos para repartir os indivíduos, fixá-los, distribuí-los espacialmente e classificá-los, visando tirar deles o máximo de tempo e de forças, treinando seus corpos, codificando seu comportamento continuamente, mantendo-os sob uma visibilidade sem lacunas, formando em torno deles um aparelho completo de observação, registro e anotações, produzindo sobre eles um saber que se acumula e se centraliza. A forma geral de uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, mediante um trabalho preciso sobre seu corpo, criou a instituição prisão antes que a lei a definisse como pena por excelência (Benelli, 2014). Para o estudioso Loïc Wacquant (2001), as prisões brasileiras são verdadeiros depósitos de pobres. O autor enfatiza que com o aumento da pobreza advinda dos moldes capitalistas, ocorre também um endurecimento na aplicação das penas a determinados grupos sociais e, consequentemente, crescimento das taxas de encarceramento no Brasil. Conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), no ano 2016, a população prisional brasileira ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca de 700 mil pessoas privadas de liberdade, o que representa um aumento da ordem de 707% em relação ao total registrado no início da década de 1990 (Depen, 2017). Cabe destacar que o rápido e desordenado crescimento da população prisional não foi acompanhado pelos investimentos em reformas, ampliações e construção de presídios, desencadeando nas prisões brasileiras grandes problemas estruturais como: celas muito pequenas para o número de presos, construções inapropriadas e mal conservadas, dependências sujas, pouca iluminação e ventilação, serviços internos funcionando com pouca eficácia e os profissionais pouco habilitados para o exercício de determinadas funções especificas desse ambiente (Depen, 2017). As prisões como instituições totais, atingem o preso em diversas esferas da vida, através do isolamento social e proibições produzidas por estas, constituindo-se em uma forma de mutilação do ser, gerando uma perda de identidade, despersonalização, submissão passiva frente a regras em decorrência de violações diretas e permanentes do corpo (Goffman, 2005). Quando os dados apresentados são associados às precárias condições do cárcere, surgem, então, preocupações outras que deveriam alertar para o risco de um grave problema de saúde pública, no interior dos milhares de estabelecimentos penais do país. Risco 16 confirmado pela existência de altas taxas de prevalência de doenças transmissíveis, destacando-se, entre essas, as sexuais e as respiratórias. Essa preocupação se estende também à elevada incidência de doenças crônicas no interior do cárcere, que tem confirmado a modificação no perfil de saúde da população ocorrida nosúltimos anos – onde a maior ocorrência de doenças infectocontagiosas dá lugar a maior número de doenças crônico degenerativas. Essas últimas, no interior do cárcere, sendo ocasionadas, principalmente, pelas péssimas condições materiais e higiênicas, de nutrição e, ainda, pela pouca disponibilidade de serviços de saúde ofertada aos internos (Depen, 2017). As condições nos ambientes prisionais são precárias, o que afeta, principalmente, a saúde dessas pessoas. Leis e normas têm sido criadas para dar melhores condições de vida aos apenados, mas, muito ainda precisa ser feito. Entre os dispositivos existentes ressalta-se a Resolução nº. 14, de 11 de novembro de 1994, do Ministério da Justiça, que dispõe sobre as Regras Mínimas do Preso no Brasil. No que respeita o direito à saúde, Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 – Lei de Execuções Penais, no seu artigo 14, trata da assistência à saúde do preso e do internado, dentro de uma perspectiva preventiva e curativa, compreendendo desde o atendimento médico e farmacêutico ao odontológico. No § 3º desse artigo, assegura o acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido (incluído pela Lei n. 11.942, de 2009) (Brasil, 2009). Para Lima (2013) p.52 “a prisão é um mundo onde as situações são vividas de forma intensa, onde são roubadas de seus internos a dignidade, autonomia, autoestima e por vezes a esperança”. A autora conclui que as diversas privações sofridas no ambiente prisional (sociais, culturais, pessoais, emocionais, entre outras) fazem da estadia na prisão um momento de conflitos e crises. Tais condições sub-humanas encontradas nos ambientes carcerários reafirmam a existência de sistema penal com caráter fortemente punitivo, onde a pena passa a exercer, quase que unicamente a função de vingança ou apenas como privação do direito de ir e vir da pessoa delituosa. Tal fato gera uma violação dos direitos humanos de pessoas detentas, inclusive, no tocante ao resgate da sua cidadania, reabilitação e consequente reinserção na sociedade, como garantido em diversos dispositivos legais (Rodrigues et al, 2012). Contudo, emerge a incidência de um Estado penal cada vez mais forte, onde a partir de um decréscimo cada vez maior no campo das políticas sociais que atenda à camada mais empobrecida e marginalizada da população, cresce a condição de cerceamento da liberdade e 17 do controle social, muitas vezes, com base na violência. Há uma tendência clara de criminalização da questão social, onde situações limites que dizem respeito a toda a sociedade, mas que atingem de forma desigual e com maior intensidade os mais pobres e vulneráveis, são tratadas como casos de polícia ao invés de serem tratadas como casos que demandam políticas públicas. Nessa direção a pena de privação de liberdade, no atual contexto do Sistema Penitenciário brasileiro e diante da situação da Segurança Pública no país, está longe de alcançar seu intento de ressocialização dos apenados e de ser condição favorável para a diminuição da criminalidade. Ao contrário, o Sistema Penitenciário tem sido um espaço de extrema violência institucional e a privação de liberdade em nada tem contribuído para um decréscimo da violência socialmente instituída (Wolff, 2010; Rodrigues et al, 2012). No Brasil, preservar a garantia do direito à saúde de apenados é um grande desafio, especialmente no que tange a atenção à saúde mental. Visto que a saúde nos ambientes prisionais, ainda não contemplava na íntegra os princípios do SUS, em 2003, foi instituída a Portaria Interministerial dos Ministérios da Saúde e da Justiça nº 1.777, de 9 de setembro aprovando o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), destinado a prover a atenção integral à saúde da população prisional em unidades masculinas e feminina bem como nas psiquiátricas (Brasil, 2003). Com o intuito de garantir a saúde dos detentos de forma integral, o mesmo autor afirma que a PNSSP construiu diretrizes estratégicas, tais como: prestar assistência integral resolutiva contínua e de boa qualidade às necessidades de saúde; reduzir os agravos mais frequentes; definir e programar ações e serviços consonantes com os princípios e diretrizes do SUS; implementar a intersetorialidade; a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, dentre outros. Com base no mencionado plano, as ações e serviços da atenção básica em saúde deverão ser organizados nas unidades penais por meio da formação de equipes interdisciplinares responsáveis pela atenção primária do preso, ficando o acesso aos demais níveis de atenção como item integrante dos planos operativos estaduais (Brasil, 2003). Assim, os objetivos e princípios estabelecidos no PNSSP, do ponto de vista formal, são consoantes com a legislação internacional acerca dos direitos humanos e, ainda, com os princípios e diretrizes do SUS, resultando no primeiro registro histórico de uma política de saúde específica à população confinada nas unidades prisionais nacionais. Para Oliveira e Guimarães (2011), a relação do PNSSP com o SUS está bem demarcada nas diretrizes estratégicas do plano, ao defender a assistência integral resolutiva, contínua e de boa qualidade; o controle e/ou redução dos agravos mais frequentes; definição e 18 implementação de ações e serviços consoantes com os princípios e diretrizes do SUS; o estabelecimento de parcerias intersetoriais; a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde; o reconhecimento da saúde como um direito da cidadania; o efetivo exercício do controle social. De modo geral, o plano propõe reforçar a premissa na qual as pessoas presas, independente dos delitos praticados, mantenham os seus direitos inerentes à pessoa humana, proclamados na Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1948, 1990) e na Constituição Federal, especialmente, o direito à plena saúde, não perdendo, portanto, o direito à cidadania. Para efetivação do Plano, cabe ao Ministério da Justiça o financiamento das construções e reformas estruturais dos módulos de saúde e ainda a aquisição de materiais e equipamentos. Acrescente-se, também, que o Ministério da Saúde se responsabilize pelo fornecimento periódico de medicamentos, como também o repasse de incentivos financeiros para a manutenção das equipes. Aos cuidados dos Estados estão as atribuições de complementar os investimentos federais, contratar e controlar os serviços de referência sob sua gestão (Oliveira, Guimarães, 2011). Considerando as recomendações das últimas três Conferências Nacionais de Saúde, o Mistério da Saúde do Brasil, instituiu em 2014, através da portaria interministerial nº1, de 2 de janeiro de 2014, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que tem como objetivo garantir o direito à saúde para todas as pessoas privadas de liberdade, principalmente, através da melhoria da infraestrutura das unidades básicas de saúde prisionais e garantir a equipe mínima com médico, enfermeiro, dentista, assistente social, psicólogo, técnico em enfermagem e auxiliar em saúde bucal (Brasil, 2014). A política foi criada para garantir o direito à saúde para todas as pessoas privadas de liberdade no Sistema Prisional, assegurando que cada unidade prisional tenha um ponto integrante da Rede de Atenção à Saúde do SUS, sendo estes custeados com recursos do Ministério da Saúde repassados diretamente aos estados e municípios habilitados (Brasil, 2014). Como ações específicas à saúde da mulher privada de liberdade, preconizadas pelo PNSSP, estão à assistência no pré-natal e garantia do acesso das gestantes no atendimento de intercorrências gestacionais, controle do câncer cérvico-uterino e de mama, ações para diagnóstico e tratamento das Infecções SexualmenteTransmissíveis (IST’s) e AIDS, assistência à anticoncepção, imunização, assistência ao puerpério e ações de educação em saúde (Brasil 2014). 19 1.1.2 Mulheres privadas de liberdade e sofrimento mental A questão do gênero traz particularidades para a pena de privação de liberdade, sobretudo pelo papel social ocupado pela mulher, geralmente a função de cuidadora da família, que fica vazio quando do ingresso desta no sistema penitenciário. Esse papel, ocupado pela mulher no atual contexto social é uma construção histórica na relação entre os sexos, que foi determinando nos papéis diferenciados para homens e mulheres. O percurso histórico da mulher, tanto no espaço privado como no público, vem sendo permeado por processos de violência de gênero, esses muitas vezes velados e naturalizados por toda a sociedade (Rodrigues et al, 2012). No tocante às prisões femininas, além das precárias condições gerais, também não oferecem condições adequadas para que as mulheres mantenham estreitas as relações com os filhos e a família, aumentando suas angústias em relação à necessidade de cumprimento do seu papel social no grupo familiar, assim, como também, não levam em conta a necessidade de outras condições especiais que dizem respeito ao gênero, como a atenção especial à saúde. Ressalta-se ainda que no encarceramento feminino a supressão de direitos é ainda maior, fato observado na escassez de políticas públicas que considerem as especificidades ligadas ao gênero (Lopes, 2004; Mello, 2008). A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), assegura às mulheres o direito ao alojamento em celas individuais e salubres, em ambientes próprios e adequados a sua condição pessoal. Modificações ocorridas em 2009 pelas Leis nº 11.942/09 e nº 12.121/09, determinaram que os estabelecimentos penais destinados a mulheres fossem dotados de berçário, onde as apenadas pudessem cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los no mínimo, até seis meses de idade, e ainda, possuir, exclusivamente, agentes penitenciarias do sexo feminino (Brasil, 2009a; Brasil, 2009b). A mulher presa gestante ou com filho de até 12 anos de idade incompletos tem direito a requerer a substituição da prisão preventiva pela domiciliar. É o que estabelece a Lei n. 13.257, editada em dia 8 de março de 2016, que alterou artigos do Código de Processo Penal. A mudança amplia o rol de direitos das mulheres presas no Brasil, que hoje representam 6,4% da população carcerária do país, número que vem crescendo em ritmo muito maior do que a população carcerária do sexo masculino (Conselho Nacional de Justiça, 2017). 20 De acordo com o levantamento nacional de Informações Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen), em quinze anos (entre 2000 e 2014) a população carcerária feminina cresceu 567,4%, chegando a 37.380 detentas. Já a média de crescimento masculino foi de 220,20% no mesmo período. As mudanças instituídas por meio da Lei n. 13.257 ampliam os direitos já previstos na legislação brasileira para as mulheres presas. Segundo a Cartilha da Mulher Presa, editada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2011, a mulher presa tinha direito a cumprir pena em estabelecimento distinto do destinado a homens e a segurança interna das penitenciárias femininas deve ser feita apenas por agentes do sexo feminino. Um aspecto fundamental a ser ressaltado diz respeito ao contexto de violência que muitas dessas mulheres vivenciaram e continuam a vivenciar, que inclui, além das agressões físicas, sexuais e psicológicas diretamente sofridas ao longo da existência, perdas violentas de parentes próximos e/ou de parceiros conjugais. Assis e Constantino (2001) descrevem que existe um imaginário social construído em torno da criminalidade feminina, que é acolhido inclusive por autoridades jurídicas. Concebe- se que as mulheres são fortemente influenciadas por estados fisiológicos e que seus crimes são, em grande escala, cometidos no espaço privado, já que o espaço público ainda lhes é muito negado. Muitas vezes se envolvem em crimes passionais ou naqueles cometidos sob violenta emoção. Quando cometem crimes de outra natureza, como a participação no tráfico de drogas, esses estão vinculados a uma posição subalterna justificada como uma extensão natural de suas relações afetivas. Acredita-se que participem dos delitos em número menor que os homens e sejam postas à margem das atividades importantes. São consideradas perigosas e não confiáveis, capazes de traição, com exceção das que passam por provas especiais de valor. Exceção se faz somente quando se trata de lésbicas ou prostitutas, que são identificadas como mais parecidas com os homens, mais machonas e mais habituadas à rua e à delinquência. Nas prisões, assim como em outras esferas sociais, são projetadas assimetrias de gênero que produzem desigualdades nas dinâmicas do cárcere (organização da visita, vínculo com a família, trabalho, dinâmicas internas, etc.) já apontadas em algumas pesquisas. Muitas destas mostram que grande parte das mulheres encarceradas possuem trajetórias anteriores de violência, vulnerabilidade e crime penalização específicas e, por isso, apresentam sofrimento psíquico e importante sofrimento mental para os quais têm sido destinada a prática recorrente da medicalização (Mello, 2008). As mulheres em situação de privação de liberdade têm demandas e necessidades muito 21 específicas, não podendo desprezar esse cenário quando se analisa o impacto direto e indireto que o encarceramento as submete. Historicamente, a ótica masculina tem sido tomada como regra para o contexto prisional, com prevalência de serviços e políticas penais direcionados para homens, deixando em segundo plano as diversidades que compreendem a realidade feminina, como sua orientação sexual, identidade de gênero, situação de gestação e maternidade, entre tantas outras (Silva, 2016). Diversos estudos comprovam a alta prevalência de desordens psíquicas em populações privadas de liberdade, a exemplo temos o estudo desenvolvido no Reino Unido por Brughaet e colaboradores (2005), constatando que a população carcerária possui maiores índices de problemas mentais quando comparados à população em geral, em uma proporção de 5,2% versus 0,4%. Quanto à incidência de transtornos mentais (depressão e ansiedade), nessa população, podem estar condicionados a fatores como a privação de liberdade, a mudança do ambiente social para o confinamento e tensão. A vivência de situações adversas desencadeia em cada indivíduo diferentes respostas e reações, algumas adaptativas e outras que os expõem a riscos ainda maiores (Portugues, 2001). Canazaro e Argimon (2010), mostraram alta prevalência de sintomatologia grave de depressão entre mulheres encarceradas. O uso de drogas ilícitas como maconha, cocaína e craque, além das lícitas como o álcool, utilizadas durante a vida em liberdade, contribuiu para o surgimento da doença. Em verdade, diversos são os fatores que podem ser associados à prevalência dos referidos problemas mentais, dentre eles, os sociodemográficos, baixa renda, problemas clínicos, histórico familiar conturbado. O estudo realizado por Fernandes e Hirdes (2006) numa penitenciária do Rio Grande do Sul (RS) indicou diversas situações promotoras de sofrimento mental, das quais podemos citar: tristeza pelo abandono dos familiares; culpa pela ausência na criação dos filhos; medo pela inadequação na adaptação à cultura prisional, e despersonalização e sofrimento antecipado sobre a vida fora da prisão frente ao estigma e a discriminação da sociedade que não possibilitam perspectivas de trabalho fora do contexto criminal. Outro estudo nacional mostrou uma prevalência de 31% de ideação suicida entre as presas, sendo que 9% dessa população possuíam história prévia de tentativa de suicídio. Este estudo constatou também sintomas depressivosem 34% das mulheres e ansiedade em 39% (Gonçalves et al, 2010). Assim, os dados apresentados na literatura brasileira mostram uma realidade muito pior quando comparados com estudos internacionais, exprimindo altas 22 prevalências de quadros psiquiátricos na população prisional feminina. A situação de privação imposta pelo ambiente carcerário não necessariamente atua da mesma forma em todos os apenados. O comportamento dos indivíduos perante essas situações irá depender da sua vulnerabilidade, a qual pode ser definida como uma predisposição para o desenvolvimento de disfunções psicológicas ou de respostas pouco adequadas à ocasião, entre elas possíveis respostas deprimidas ou ansiosas (Zimmerman, Arunkumar, 1994). O estresse é um problema de saúde mental que se encontra associado a diversos outros transtornos físicos e mentais, dentre eles a depressão. É uma resposta orgânica não específica para situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma normal adaptação às demandas do dia a dia, porém, quando excessivo, é uma manifestação de sofrimento psíquico com reações físicas e emocionais e os sintomas variam dependendo da fase em que se encontra. A vivência de estresse no ambiente prisional - agudo ou prolongado - é especialmente relacionada a sintomas depressivos, sendo mais comum entre as novas presas e estando relacionado ao maior risco de suicídio na prisão (Men, 2003). Existem ainda poucos estudos sobre a saúde mental da população carcerária feminina, principalmente, no Brasil. Em pesquisa realizada numa penitenciária feminina em São Paulo, Almeida (1998) encontrou como sintomas mais prevalentes: insônia, ansiedade, somatização, depressão e irritabilidade. Cerca de 77% das presas entrevistadas queixaram-se de uma sensação contínua de mal-estar emocional. A depressão tem se tornado destaque no campo da saúde pública, isso é refletido pelo surpreendente número de pesquisas, colóquios e publicações destinadas a tratar este assunto, bem como pelo alto investimento da indústria farmacológica na medicação antidepressiva. Parece provável que nenhum fator isolado pode explicar a ocorrência desse desequilíbrio, mas, sim, que esta seja o resultado de uma interação entre vários fatores diferentes. Seu início e evolução estão ligados a um grande número de variáveis biológicas, históricas, ambientais e psicológicas. Sua importância é tamanha que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem alertado para o fato de que a depressão, que vem sendo considerada a quinta causa de morbidade entre todas as doenças no mundo, passará a ocupar o segundo lugar nessa lista no ano de 2020, se as tendências atuais da transição demográfica e epidemiológica se mantiverem (OMS, 2001). De acordo com Araújo et al (2009), as discussões atuais apresentam definições e conceitos de ansiedade tanto como um sintoma quanto como uma patologia, que envolve aspectos multifatoriais, de caráter somático ou cognitivo. Normalmente, pode manifestar-se em circunstâncias que denotem algum perigo iminente originado por uma situação 23 ameaçadora ou, simplesmente, por alterações em nosso meio ambiente, arroladas no processo de desenvolvimento econômico, social e cultural. Neste sentido, não há como negar a alteração no estilo de vida, rotina e hábitos devidos ao encarceramento. 1.1.3 Suicídio e Privação de Liberdade Segundo a Organização Mundial de Saúde (2006), o ato suicida “[...] é todo o ato em que o indivíduo cause uma lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e conhecimento do verdadeiro móvel do ato”. Já a tentativa de suicídio pode ser considerada um ato com um resultado não fatal. Neste caso, um indivíduo inicia um comportamento não habitual que, sem a intervenção de outros, poderá causar prejuízo para si próprio. O suicídio é, por si só, caracterizado como consequência de uma situação de crise. Isto porque, durante a vida, há períodos difíceis que, para algumas pessoas, são sentidos como insuportáveis. Tal discernimento, decorre da maneira como cada indivíduo avalia, interpreta e vivencia suas experiências individuais. Schraiber et al (2006) colocam em questão a crise da sociabilidade como causa da violência. As autoras percebem esta crescente violência como consequência da falência dos processos vigentes de socialização da contemporaneidade. Essa violência presente em todos os âmbitos do nosso país afeta e altera a saúde do indivíduo, gerando mortes e implicações de ordem física e psíquica. Por tal razão, está havendo um aumento da discussão sobre o assunto no campo da saúde pública, considerando este problema como uma questão emergencial, já que produz inúmeros efeitos na saúde da população. A Organização Mundial da Saúde (2006) relata que cerca de um milhão de pessoas comete suicídio anualmente no planeta, e entre 10 a 20 milhões de pessoas tentam suicídio. Isto, por sua vez, já é um fato extremamente preocupante que deve ser encarado como um problema de saúde mundial. Em jovens de 15 a 34 anos de todo o mundo, o suicídio é uma das três principais causas de morte. O relatório da OMS aponta, ainda, que o suicídio é uma das principais causas de morte entre jovens, em grande parte dos países desenvolvidos e muitos em desenvolvimento, além do que destaca que as causas destes suicídios se relacionam a diversos fatores como, por exemplo, psicológicos, biológicos e socioculturais. Cassorla (1984) afirma que as estatísticas sobre o número de suicídios e suas tentativas são subestimadas, podendo não corresponder à realidade. Segundo o autor, para cada suicídio consumado, existe o correspondente a oito ou dez tentativas. 24 Para Minayo (1997), “o contrário da violência não é a não-violência, é a cidadania e a valorização da vida humana em geral e de cada indivíduo no contexto de seu grupo”. Os infratores presos podem ter sido agentes, mas também são pessoas vítimas da violência. A pena de prisão reproduz a violência, as condições gerais de cumprimento das penas deterioram-se muito, as condições sanitárias das unidades prisionais são precárias e a saúde mental do indivíduo está sendo cada vez mais ignorada. A unidade prisional é, portanto, um ambiente do qual a violência faz parte. Conforme Goifman (1999), o bem-estar de infratores não é representado socialmente como algo relevante. A ocorrência de suicídios em prisões representa um problema com sérias implicações sociais, legais e éticas. Em princípio, seria passível pressupor que, por se tratar de um local regido pela disciplina e pelo controle, a prisão não permitisse a ocorrência de suicídios. A verdade, porém, é que a taxa de suicídios prisionais é superior ao da população em geral. Os suicídios em prisões apresentam uma dinâmica específica, salvo as situações em que o indivíduo é portador de uma patologia psicológica. Tradicionalmente, todo o sofrimento imposto pela condição de estar preso é o bastante para a decisão de terminar com a sua vida. Neste sentido, o risco do suicídio, pelas especiais circunstâncias, também é mais elevado entre a população carcerária (Taborda et al, 2004). Os mesmos autores ainda destacam que relativamente aos transtornos mentais, mais de 90% dos suicidas apresentam perturbações mentais, no momento da sua morte. Como não há um estudo muito aprofundado no Brasil acerca deste tema, não se podem apresentar valores corretos das estimativas. Estudos referentes à população em geral mostram que os fatores sociais, relacionados com o comportamento suicida – como ter passado por diferentes tipos de privações – são, também, medidas da desvantagem social e da exclusão social. Esses fatores são encontrados mais frequentemente nas populações encarceradas do que na população em geral, portanto, as taxas de suicídio nas prisões tendem a ser relativamente maiores do que fora delas (Beato, 2004). Segundo a OrganizaçãoMundial de Saúde (2006), mulheres presas, apresentam um índice elevado de tentativa de suicídio, embora os homens sejam apontados como maioria que concretiza o ato, segundo o mesmo relatório, mulheres que estão na cadeia tentam a se matar cinco vezes mais do que a população feminina em geral e duas vezes mais do que os homens presos. As ações de avaliação da saúde mental da população carcerária são pouco enfatizadas, uma vez que é vista como “dejeto” social que deve ser extirpado do corpo social. Destaca-se que os processos psicossociais destes indivíduos estão extremamente afetados, portanto, esse 25 contexto social pode ser propício à presença de ideação suicida entre os mesmos. Muitos presos cometem suicídio nos presídios. Quase dez por cento de todas as mortes no cárcere são por auto-violência humana. O crescimento das notificações e da busca por cuidados dos que ameaçam se matar é um fenômeno que merece atenção do setor da saúde (Adorno, 1998). 1.1.4 Religiosidade e Saúde mental A maioria dos estudos indica que a religiosidade é um aspecto determinante da vida humana e que, geralmente, tem uma associação positiva com boa saúde mental, promovendo a qualidade de vida (Murakami, Campos, 2012). Estudos revelam que existe consenso entre cientistas sociais e filósofos de que a religião é um importante fator de significação e ordenação da vida, sendo fundamental em momentos de maior impacto na vida das pessoas. Algumas pesquisas demonstraram ainda que existem dois tipos de religiosidade, a intrínseca e a extrínseca. Na religiosidade intrínseca o indivíduo realmente acredita e procura viver sua fé. Na extrínseca, a religião é um meio para atingir outros fins, como por exemplo, uma conversão com finalidade de casamento, ou por status, ou porque é boa para os negócios e está relacionada à intolerância e ao preconceito (Murakami, Campos, 2012). A interface entre religião e saúde tem causado modificações na medicina, principalmente, na psiquiatria. Podem ser observadas modificações no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV), da American Psychiatric Association, incluindo inovações na abordagem de temas culturais e religiosos ou espirituais (Murakami, Campos, 2012). Para Saad, Battistella (2001), a influência positiva da religiosidade sobre a saúde pode ser causada devido à mobilização de energias e iniciativas extremamente positivas, que fortalecem o indivíduo, fazendo com que ele tenha condições de lidar mais eficazmente com suas condições, incentivando-o a aceitar a terapia. Desse modo, ele passa a apresentar potencial ilimitado para melhorar a sua qualidade de vida. A religiosidade implica em uma mobilização de energia positiva, a fé. As pessoas que têm fé sentem-se mais fortes para enfrentar dificuldades e continuar a lutar pela sua sobrevivência, acreditando que serão curadas dos seus males. A influência da religiosidade sobre a saúde mental é um fenômeno resultante de vários fatores como: estilo de vida, suporte social, um sistema de crenças, práticas religiosas, formas 26 de expressar estresse, direção e orientação espiritual. Stroppa e Moreira Almeida (2008) demonstram que muitos estudos apontam em seus resultados que maiores níveis de envolvimento religioso estão associados positivamente a indicadores de bem-estar psicológico, como satisfação com a vida, afeto positivo e moral elevado, felicidade, melhor saúde física e mental. Panzini e Bandeira (2005) dizem que vários estudos de saúde pública demonstram que pessoas que apresentam envolvimento religioso têm menor probabilidade de apresentar comportamentos de risco, como violência, delinquência e crime, o uso e abuso de substâncias que criam dependência como álcool e outras drogas. Segundo Pargament et al. (1998), a eficácia no enfrentamento a determinados estressores pode estar correlacionada com a integração de crenças, emoções, relacionamentos e valores, na resposta da pessoa a esses estressores. Os resultados negativos do enfrentamento são aqueles que apontam para uma quebra da integração interna, perda de valores religiosos, fortes sentimentos de raiva de Deus, dúvida ou confusão no seu sistema de crenças. A religiosidade ocupa um lugar importante na vida de muitas presidiárias e altera de alguma forma a pesada rotina da unidade prisional. Diversos grupos religiosos de diferentes tradições fazem seus cultos e estudos doutrinários com as internas. A oferta de cultos, encontros e celebrações não decorre apenas de um direito assegurado por lei, que garante ao preso o atendimento religioso solicitado, mas, também, da crença generalizada de que a religiosidade e a espiritualidade podem trazer benefícios psíquicos e sociais para os presos e contribuírem para a tranquilidade da unidade carcerária e a reabilitação de alguns detentos. A religiosidade, juntamente com outros fatores como trabalho, estudo, possibilidade de manutenção dos vínculos familiares, parece contribuir para um melhor ajustamento do indivíduo à realidade e para a superação de situações difíceis como a experiência do aprisionamento e da vida numa prisão de segurança máxima (Almeida, 1998). 1.2 HIPÓTESES DO ESTUDO Como hipóteses defende-se que: 1) A privação de liberdade e a religião/religiosidade interferem no processo de saúde-doença mental; 2) A depressão e ansiedade estão presentes entre as mulheres privadas de liberdade; 3) Existe ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade. 27 2. OBJETIVOS 1. Identificar o perfil de mulheres privadas de liberdade no Estado da PB; 2. Analisar a religiosidade entre mulheres privadas de liberdade e relacionar com a saúde mental; 3. Analisar os sinais indicativos da depressão e ansiedade, correlacionando com outras variáveis; 4. Avaliar a ideação suicida de mulheres privadas de liberdade, correlacionando com outras variáveis. 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 3.1 Tipo de Estudo Trata-se de um estudo de delineamento transversal, descritivo com abordagem quantitativa. Ressalta-se que os estudos descritivos visam observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. 3.2. Local de Realização 28 O estudo foi realizado na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, que tem uma área territorial de 211.474 km² e de acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no ano de 2010, dispõe de uma população de 723.515 habitantes vivendo predominantemente na área urbana. O Estado da Paraíba possui quatro unidades prisionais para mulheres: O Centro de Reeducação Maria Júlia Maranhão em João Pessoa, a Penitenciária feminina de Campina Grande, a Penitenciária Romero Nóbrega em Patos e a Penitenciária feminina de Cajazeiras. A pesquisa foi realizada na penitenciária de maior concentração de população feminina encarcerada do Estado da Paraíba, a Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão, localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB, que abriga presas de todo o Estado, acolhendo 70% da população carcerária feminina paraibana. A Penitenciária Feminina apresenta superlotação, contando com capacidade para 98 presas, distribuída em dois pavilhões (1 e 2), cerca de 10 celas e quando da realização do estudo, apresentava população de 449 mulheres presidiárias (151 presas provisórias, 47 do semiaberto, 29 do aberto, 121“domiciliares” e 101 sentenciadas). O Plano Estadual de Atenção Integral à Saúde do Sistema Penitenciário, vem sendo executado através de uma equipe de saúde que atua desde 2012 sob regime ambulatorial, 20 horas semanais na Casa de Reeducação constituída de médica, enfermeiro, assistente social, dentista, técnico em enfermagem, técnico de consultório dentário e psicólogo. A equipe realiza ações curativas nasinstalações físicas, bem como ações de educação em saúde e de promoção à saúde e prevenção a agravos, a saber: imunização, testagem rápida para HIV/sífilis/hepatites virais; acompanhamento gestacional, acompanhamento de hipertensos e diabéticos, entre outros agravos à saúde. Em caso que necessite exames e encaminhamento aos especialistas, as detentas aguardam o agendamento que, geralmente, vem se dando de forma demorada pela Central de Regulação Municipal. As instalações físicas dificultam a prestação de cuidados da equipe de saúde, bem como as condições de higiene e alimentação. 3.3. População A população do estudo correspondeu a todas as mulheres privadas de liberdade que cumprem pena na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão, totalizando 449 presidiárias. Contudo, para participar do estudo foram considerados os seguintes critérios de inclusão: 1) estar em situação provisória ou sentenciada; 2) aceitar participar do estudo no momento da 29 coleta de dados. Como critérios de exclusão foram considerados: 1) apresentar dificuldade cognitiva que impossibilite a participação no momento da entrevista; 2) não aceitar assinar o TCLE. Dessa forma, das 252 mulheres que estavam em regime provisório ou sentenciadas 199 participaram do estudo, correspondendo a 78,9% das mulheres encarceradas no regime fechado na instituição. 3.4. Instrumento de Coleta de Dados Para coleta de dados foram utilizados cinco instrumentos, sendo quatro com validação no Brasil (escalas) e um construído pela pesquisadora para a população estudada (questionário): 1) Questionário de identificação do perfil sócio-demográfico-clinico das mulheres (Apêndice B) e 2) Escala de Religiosidade de Duke- DUREL (Anexo 1); 3) BDI- Inventário Beck de Depressão (Anexo 2); 4) BAI – Inventário Beck de Ansiedade (Anexo 3) e 5) BSI-Escala de Ideação Suicida Beck (Anexo 4). - Escala de Religiosidade de Duke- DUREL A DUREL possui cinco itens que captam três das dimensões de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em saúde: organizacional (RO), não organizacional (RNO) e religiosidade intrínseca (RI).Os primeiros dois itens abordam RO e RNO, foram extraídos de grandes estudos epidemiológicos realizados nos Estados Unidos e se mostraram relacionados a indicadores de saúde física, mental e suporte social. Os outros itens se referem à RI e são os três itens da escala de RI de Hoge que melhor se relacionam coma pontuação total nesta escala e com suporte social e desfechos em saúde (Koenig et al., 1997). Na análise dos resultados da DUREL, as pontuações nas três dimensões (RO, RNO e RI) foram analisadas separadamente e os escores dessas três dimensões não foram somados em um escore total. Considerando a importância de Beck no estudo das cognições disfuncionais e sua preocupação com o desenvolvimento e validação de instrumentos que propiciassem maior consistência e adequação diagnóstica, três instrumentos da sua escala foram utilizados. As escalas incluem a escolha de alternativas que descrevem o que o sujeito tem sentido na última semana, inclusive na data da aplicação. A intenção é que ele aponte um traço mais persistente e não apenas do estado de humor do dia em que foi administrada a escala. Ambas são escalas de auto-relato (Araújo et al, 2009). 30 -BDI- Inventário Beck de Depressão Compreende uma escala de 21 itens, cada um com quatro alternativas, indicando graus crescentes de depressão, centrando-se em assertivas que expressam, além de sintomas físicos, cognições típicas de pacientes deprimidos. Os itens se referem à tristeza, pessimismo, sentimento de fracasso, insatisfação, culpa, punição, auto-aversão, autoacusações, ideias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança na autoimagem, dificuldade de trabalhar, insônia, fatigabilidade, perda de apetite, perda de peso, preocupações com a saúde, perda da libido. O nível de depressão é classificado de acordo com a pontuação total obtida: de 0 a 11 = mínimo, de 12 a19 = leve, de 20 a 35 = moderado e de 36 a 63 = grave (Pereira et al, 2009). -BAI – Inventário Beck de Ansiedade Contém 21 itens, cada um com quatro alternativas, indicando graus crescentes de cada sintoma. Os itens são referentes à dormência ou formigamento, sensação de calor, tremores nas pernas, incapacidade de relaxar, medo que aconteça o pior, atordoamento ou tontura, palpitação ou aceleração do coração, dificuldade de equilíbrio, sentimento aterrorizado, nervosismo, sensação de sufocação, tremores nas mãos, tremores no corpo, medo de perder o controle, dificuldade de respirar, medo de morrer, comportamento assustado, indigestão ou desconforto no abdômen, sensação de desmaio, rosto afogueado e suor. O nível de ansiedade é classificado como: de 0a 10 = mínimo, 11 a 19 = leve, 20 a 30 = moderado, 31 a 63 = grave. -BSI-Escala de Ideação Suicida Beck (BSI) Tem por finalidade medir a extensão do desejo de morrer e de tentar suicídio. É constituída por 21 itens, cada um com três alternativas de resposta (0 a 2), que avaliam três dimensões da ideação suicida: ativa, passiva e tentativa prévia de suicídio. Caso a pontuação total seja equivalente a seis ou mais, a ideação suicida é considerada clinicamente significante. Os primeiros 19 itens refletem gradações da gravidade de desejos, atitudes e planos suicidas. Os dois últimos itens possuem caráter meramente informativo e informam o número de tentativas prévias de suicídio e a seriedade da intenção de morrer, na última delas. Este instrumento não pode prever um suicídio eventual, mas aponta para a existência de risco de suicídio entre os que apresentam ideação suicida. 3.5. Coleta de Dados 31 Inicialmente foi feito contato prévio com a direção da Instituição e equipe de saúde da unidade prisional, após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), os dados foram coletados no local definido, individualmente, sendo o preenchimento dos instrumentos feitos pela pesquisadora, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e esclarecimento das detentas. A equipe, previamente treinada, constituiu- se por um auxiliar de pesquisa (estudante de psicologia), uma psicóloga que trabalha na Casa Prisional e a pesquisadora, a qual capacitou os entrevistadores. A pesquisa foi aplicada individualmente em forma de entrevista estruturada pela psicóloga. A coleta individual, considerou os procedimentos de segurança dos presídios que não permitem a realização de pesquisas com mais de uma apenada, além disso, o alto índice de analfabetismo presente na população carcerária impossibilitaria o preenchimento dos instrumentos pelos participantes. As mulheres encarceradas foram convidadas individualmente à sala de atendimento psicológico, todas as mulheres recolhidas na casa de reeducação, com o intuito de esclarecer o objetivo e a metodologia da pesquisa a cada participante. Com cada uma destas foi realizada uma única sessão, ocasião em que os cinco instrumentos foram aplicados com tempo estimado de 50 minutos. Os casos identificados de depressão, ansiedade e ideação suicida foram apresentados à equipe de saúde do sistema prisional para prestação de cuidados junto às mulheres presidiárias. Além disso, após organização dos resultados da pesquisa, foi realizada reunião com equipe e direção do presidio para construção de plano de intervenção a partir dos problemas identificados. 3.6. Análise dos Dados Os dados foram digitados (codificados e em alguns casos agrupados) em uma planilha eletrônica do programa Excel versão 2010, e posteriormente tratados estatisticamente com o software Statistica Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 20.0. Os resultados obtidos foram analisados por meio de técnicas de estatística descritiva e inferencial. A amostra foi descrita estatisticamente em suascaracterísticas gerais, diante análise das distribuições de frequência das variáveis dependentes e independentes. 32 Realizou-se a análise através da regressão logística binária e aplicação de teste de Fisher’s. Os métodos de regressão tornaram-se um componente integral de qualquer análise de dados relacionada à descrição da relação entre uma variável de resposta e uma ou mais variáveis explicativas. É comum que a variável de resultado seja discreta, assumindo dois valores possíveis. Ao longo da última década, o modelo de regressão logística foi usado em muitos campos, o método padrão de análise nesta situação (Hosmer, Lemeshow, 2000). 3.7. Considerações Éticas Na realização da pesquisa foram considerados os requisitos apresentados pela Resolução 466/2012, relativa à pesquisa com seres humanos, privilegiando a dignidade e respeito pelos sujeitos da pesquisa (Brasil, 2012). Dessa forma, foram observados os aspectos relacionados à privacidade e os direitos do participante de participar por livre e espontânea vontade, podendo desistir em qualquer momento ou ter acesso a todo o conteúdo deste trabalho. O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, sendo aprovado através da emissão do parecer nº. 1.092.050 de 2015. Salienta-se ainda, que todos os participantes foram informados e esclarecidos sobre a temática e o caráter científico da pesquisa e assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 4. RESULTADOS 4.1. Dados sociodemográficos Visando atender o objetivo de apresentar a caracterização sociodemográfica das participantes do estudo, foi realizada a tabulação das variáveis, dessa forma a tabela 1, apresenta os principais dados sociodemográficos das pesquisadas, cabe destacar que os dados foram coletados entre o período de março de 2016 a março de 2018. De acordo com o perfil 33 das mulheres privadas de liberdade estudadas, apesar de existirem mulheres com idade mínima de 18 anos e máxima de 64 anos, a média de idade das participantes foi aproximadamente de 30 anos, com desvio padrão de 8,7 anos, onde a concentração maior delas se encontra com idade entre 18 a 34 anos, 77,4%. Quando identificado a raça/cor dessas mulheres, foi possível observar uma certa igualdade na distribuição com: branca (39,2%), preta (32,7%) e parda (28,1%). Entretanto, considerando que a população preta e parda, correspondem a população negra, temos uma predominância significativa de 60,8%. A respeito da escolaridade dessas mulheres, é possível verificar que 74,4% delas possuem no máximo o ensino fundamental completo. Na questão da religião, 94,5% se consideram cristãs, no tocante à renda familiar 76,9% afirmaram que não recebiam mais do que um salário mínimo. Ao serem questionadas sobre o estado civil, 45,2% referiu estar solteira e 45,2% em união estável. TABELA 1. Distribuição sócio-demográficas das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Dados Sócio-demográficos n % Faixa Etária 18 a 34 anos 154 77,4 35 a 49 anos 36 18,1 acima de 50 anos 9 4,5 Raça/Cor Branca 78 39,2 Preta 65 32,7 Parda 56 28,1 Escolaridade Analfabeta 9 4,5 Ensino Fundamental 139 69,8 Ensino Médio 43 21,7 Ensino Superior 8 4,0 Continuação Dados Sócio-demográficos n % Estado Civil Solteira 90 45,2 Casada 11 5,5 Separada 8 4,1 União Estável 90 45,2 Religião Cristã 188 94,5 Não Cristã 9 4,5 Não Informado 2 1,0 Renda Familiar 34 Até 1 salário mínimo 153 76,9 2 a 3 salários mínimos 39 19,6 Acima de 3 salários mínimos 7 3,5 Total 199 100,0 4.2.Dados relacionados à privação de liberdade Na tabela 2, evidencia-se que a população pesquisada é constituída por 53,3% de presas provisórias que aguardam decisão da Justiça a respeito do processo criminal pelo qual estão respondendo e, 46% de presas condenadas. Um percentual de 41,7% das mulheres tem história de aprisionamento anterior. Das sentenciadas, a maioria deverá cumprir pena de 5 a 10 anos (41,9%), sendo que 39,8% das entrevistadas cumpriram até 25% da pena e 38,7% entre 25% - 50% da sentença. Com relação ao delito praticado, a maioria responde por tráfico de drogas, seguido de roubo, homicídio e furto. TABELA 2. Distribuição da situação penal das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Dados situação penal n % Condenação? Sim 92 46,2 Não 106 53,3 Não Informado 1 0,5 Prisões Anteriores? Sim 83 41,7 Não 113 56,8 Não informado 3 1,5 Continuação Dados situação penal n % Tempo de condenação (n=93) 02 |----- 05 anos 5 5,4 05 |----- 10 anos 39 41,9 10 |----- 15 anos 29 31,1 15 |----- 20 anos 9 9,7 20 |----- 30 anos 9 9,7 Não informado 2 2,2 Tempo de pena cumprida (n=93) 0% |----- 25% da pena 37 39,8 25% |------ 50% da pena 36 38,7 35 50% |------ 75% da pena 15 16,1 75% |------ 100% da pena 3 3,2 Não informado 2 2,2 Total 199 100,0 No tocante às condições de convívio, a tabela 3 revela que 50,8% possuem companheiro, contudo 62,4% está privado de liberdade, o que pode estar associado ao percentual significativo de mulheres que não recebem visita 33,7%. A maioria das mulheres presas não desenvolvem atividades de trabalho 74,5% e não recebem beneficio 76%. TABELA 3. Distribuição das condições de convívios das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Dados de Convívio n % Convivência Só 98 49,2 Companheiro(a) 101 50,8 Recebe visita? Sim 131 65,8 Não 67 33,7 Não informado 01 0,5 Companheiro(a) Privado(a) de liberdade (n=101) Sim 63 62,4 Não 37 36,6 Não informado 01 1,0 Inserção em Atividades de Trabalho Sim 51 25,5 Não 149 74,5 Continuação Dados de Convívio n % Recebe algum tipo de Benefício Sim 47 23,6 Não 152 76,4 Total 199 100,0 4.3.Dados sobre o histórico 36 Referente ao histórico das mulheres pesquisadas, a tabela 04 revela que 45,2% das mulheres tiveram agressão física anterior ao aprisionamento e 13,6% das mulheres têm história de agressão sexual. No tocante ao suicídio na família 7% afirmaram ter histórico, sendo que 33,7% das entrevistas já tentaram suicídio. Quando perguntado sobre o período em que tentaram o suicídio, 38,8% relatou que foi a mais de 5 anos. Referente ao acompanhamento psicológico, apenas 17,6% afirmaram ter algum suporte psicológico e apenas 3,5% referiu acompanhamento psiquiátrico. TABELA 4. Distribuição do histórico das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Dados sobre Histórico n % História de Agressão Física Anterior Sim 90 45,2 Não 109 54,8 História de Agressão Sexual Anterior Sim 27 13,6 Não 123 61,8 Não informado 49 24,6 História de Suicídio na Família Sim 14 7,0 Não 184 92,5 Não informado 1 0,5 Acompanhamento Psiquiátrico Sim 7 3,5 Não 139 69,8 Não informado 53 26,7 Continuação Dados sobre Histórico n % Acompanhamento Psicológico Sim 35 17,6 Não 110 55,3 Não informado 54 27,1 Tentativa de Suicídio Sim 67 33,7 Não 132 66,3 Tempo de Tentativa de Suicídio (n=67) Menos de 1 ano 12 17,937 1 ano |--- 2 anos 12 17,9 2 anos |--- 5 anos 17 25,4 5 anos ou mais 26 38,8 Total 199 100,0 4.4.Condições Físicas, Clínica e Medicamentosa Ao analisar as informações clínicas das apenadas, 46,7% demonstraram estar fora do peso considerado ideal, sendo 10 (5,0%) apenadas abaixo do peso e 83 (41,7%) entre levemente acima do peso a um grau de obesidade mórbida. Somente 19,1% delas, responderam sentir falta de apetite. Com relação a horas de sono, destacou-se o alto percentual para apenadas que dorme menos de 7 horas, chegando a 40,2%. Ao perguntar sobre atividade sexual, 76,4% das apenadas informaram não ter nenhuma atividade. 56,8% responderam fazer uso de cigarros no seu dia a dia. Com relação a presença de alguma deficiência, somente 3 (1,5%) informaram possuir. A tabela 05 revela que, 149 (aproximadamente 75,0%) responderam se fazem uso ou não de drogas, dentre eles, 99 (50,0%) afirmaram fazer uso de drogas. Ao ser perguntado sobre uso de medicamento, somente 25,1% responderam que sim. E em relação a uso de psicofármaco, 15,6% disseram que fazem uso, sendo destes a maioria se referir a ansiolíticos e antidepressivos, especialmente o benzodiazepínico, diazepam e o antidepressivo tricíclico, amitriptilina. No tocante ao tempo de uso de psicotrópicos, 38,7% revelou usar por mais de 5 anos. TABELA 5. Distribuição das condições físicas, clinicas e medicamentoso das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Dados Clínicos n % Índice de Massa Corporal Abaixo do peso 10 5,0 Peso Ideal 106 53,3 Levemente acima do peso 51 25,6 Obesidade grau I 24 12,1 38 Obesidade grau II (severa) 6 3,0 Obesidade grau III (Mórbida) 2 1,0 Alteração Alimentar Falta de apetite 38 19,1 Não 161 80,9 Horas de Sono De 3 as 7 horas 80 40,2 De 7 as 9 horas 84 42,2 Acima das 9 horas 34 17,1 Não informado 1 0,5 Atividade Sexual Sim 46 23,1 Não 152 76,4 Não Informado 1 0,5 Deficiência Visual 1 0,5 Auditiva 1 0,5 Física 1 0,5 Nenhuma 196 98,5 Tabagismo Não 87 43,7 01 a 10 cigarros 42 21,1 10 a 20 cigarros 54 27,7 mais de 20 cigarros 16 8,0 Faz uso de drogas Sim 99 49,8 Não 50 25,1 Não Informado 50 25,1 Continuação Dados Clínicos n % Uso de Medicamentos Sim 50 25,1 Não 149 74,9 Faz uso de Psicofármacos Sim 31 15,5 Não 167 84,0 Não Informado 1 0,5 39 Tempo de uso do Psicofármacos (n=31) Menos de 1 ano 5 16,1 1 ano |--- 2 anos 5 16,1 2 anos |--- 3 anos 4 12,9 3 anos |--- 5 anos 2 6,5 5 anos ou mais 12 38,7 Não informado 3 9,7 Total 199 100,0 4.5.Saúde mental entre mulheres privadas de liberdade A tabela 6 demonstra o resultado da aplicação do Inventário de Beck, revelando baixa prevalência de sinais ansiosos, moderado a grave (7%). No entanto, a tabela 7, apresenta significativos sinais de depressão, sendo classificadas como moderado e grave 22,5% das entrevistadas. Aqui no estudo usaremos o termo com sintomas para essas mulheres, e sem sintomas para as que apresentaram classificação mínima e leve. TABELA 6. Distribuição da ansiedade, conforme escala de Beck entre das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Escala n % Mínimo 113 56,8 Leve 72 36,2 Moderado 12 6,0 Grave 2 1,0 Total 199 100,0 TABELA 7. Distribuição da depressão, conforme escala de Beck entre das mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Escala n % Mínimo 67 33,7 Leve 87 43,7 Moderado 42 21,1 40 Grave 3 1,5 Total 199 100,0 4.6.Religiosidade entre privadas de liberdade No tocante à religiosidade das entrevistadas, conforme Índice de Religiosidade de Duke, pode-se verificar que em relação à religiosidade organizacional, as entrevistadas têm uma frequência significativa da resposta pelo menos uma vez por semana, totalizando 73,9%. Cabe destacar que na unidade dispõe-se de um espaço religioso. TABELA 8. Distribuição da frequência a igreja, templo ou outro encontro religioso, conforme inventário de Ducke entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n =199) Classificação n % Mais do que uma vez por semana 25 12,6 Uma vez por semana 122 61,3 Duas a três vezes por mês 24 12,1 Algumas vezes por ano 11 5,5 Nunca 17 8,5 Total 199 100,0 Referente à religiosidade não organizacional, a tabela revela os mesmos índices à religiosidade organizacional, totalizando 73, 9% da resposta pelo menos uma vez por semana, conforme evidenciado pela tabela 9. TABELA 9. Distribuição da frequência da dedicação do tempo a atividades religiosas individuais, como preces, rezas, meditações, leitura da bíblia ou de outros textos religiosos, conforme inventário de Ducke, entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Classificação n % Mais do que uma vez ao dia 23 11,6 Diariamente 124 62,3 41 Duas ou mais vezes por semana 21 10,6 Uma vez por semana 8 4,0 Poucas vezes por mês 5 2,5 Raramente ou nunca 18 9,0 Total 199 100,0 A tabela 10 destaca as respostas referentes à religiosidade intrínseca, relacionado aos sistemas de crenças individuais e a postura perante o mesmo. As respostas aos questionamentos sobre a presença de deus (pergunta 3) e esforço para viver na religião (pergunta 5) revelaram estar bem presente na vida das entrevistadas 83% e 74,9%, respectivamente, quando somado as duas classificações iniciais. No entanto, a resposta a pergunta 4 acerca sobre a interferência das crenças religiosas na forma de viver evidencia um distanciamento das crenças nas posturas diárias, totalizando 49,8% quando somada as alternativas em geral não é verdade e não é verdade. TABELA 10. Distribuição da frequência das respostas as perguntas 3,4,5 do instrumento de avaliação de índice de Religiosidade de Duke aplicado entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) Classificação Pergunta (3) Pergunta (4) Pergunta (5) n % n % n % Totalmente verdade para mim 83 41,7 18 9,0 29 14,6 Em geral é verdade 94 47,3 63 31,7 120 60,3 Não estou certo 15 7,5 19 9,5 19 9,5 Em geral não é verdade 6 3,0 58 29,2 20 10,1 Não é verdade 1 0,5 41 20,6 11 5,5 Total 199 100,0 199 100,0 199 100,0 Pergunta (3): Em minha vida, eu sinto a presença de Deus (ou do Espirito Santo) Pergunta (4): As minhas crenças religiosas estão realmente por trás de toda a minha maneira de viver Pergunta (5): Eu me esforço muito para viver a minha religião em todos os aspectos da vida 4.7.Ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade Após o preenchimento da escala de ideação suicida, apenas 5,5% das entrevistas apresentou ideação suicida clinicamente significante, embora 33,5% referiu tentativa de suicídio anterior conforme apresentado na tabela 11. TABELA 11. Distribuição da frequência de Ideação suicida entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria 42 Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199)
Compartilhar