Buscar

2018 - Maura Vanessa Silva Sobreira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
MAURA VANESSA SILVA SOBREIRA 
 
 
 
 
 
RELIGIOSIDADE, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E IDEAÇÃO 
SUICIDA ENTRE MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE 
 
 
 
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação 
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa 
Casa de São Paulo para obtenção do Título de 
Doutora em Ciências da Saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
2 
 
 
MAURA VANESSA SILVA SOBREIRA 
 
 
 
RELIGIOSIDADE, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E IDEAÇÃO 
SUICIDA ENTRE MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE 
 
 
 
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação 
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa 
Casa de São Paulo para obtenção do Título de 
Doutora em Ciências da Saúde. 
Área de Concentração: Ciências da Saúde 
 
Orientador: Dr Ricardo Riyoiti Uchida 
 Co-Orientador: Dr. Quirino Cordeiro Júnior 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
Preparada pela Biblioteca Central da 
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo 
 
 
 
Sobreira, Maura Vanessa Silva 
 Religiosidade, depressão, ansiedade e ideação suicida entre 
mulheres privadas de liberdade. / Maura Vanessa Silva Sobreira. São 
Paulo, 2018. 
Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa 
Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da 
Saúde. 
Área de Concentração: Ciências da Saúde 
Orientador: Ricardo Rioyoiti Uchida 
Coorientador: Quirino Cordeiro Junior 
 
 
1. Ansiedade 2. Depressão 3. Mulheres 4. Prisões 5. Religião 6. 
Saúde mental 
 
BC-FCMSCSP/39-18 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais José Luiz e Maria José, que dignamente me apresentaram a 
importância da família e o caminho da honestidade e persistência. 
Ao meu companheiro, Emanuel Melo por todo amor sempre dispensado a 
mim, pelo apoio, força, incentivo e companheirismo. 
 Ao meu filho, Luiz Gabriel, que ainda não tem idade para entender o que é 
uma tese, agradeço pela alegria, inocência, carinho e amor incondicional que sempre me 
estimularam nos momentos difíceis. 
A minhas irmãs, Raquel, Élida e Katyanne, minhas companheiras de todas as 
horas. 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria 
admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos 
homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de 
se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade. 
Simone de Beauvoir 
 
6 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, minha fonte de força para superação de dificuldades; 
 
Aos meus familiares por todo amor, paciência e apoio incondicionais nas minhas decisões; 
 
À Faculdade de Ciências Médicas de São Paulo por ter me acolhido durante a realização do 
doutoramento, por todo aprendizado; 
 
Ao Governo do Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado da Saúde pelo apoio nas 
intervenções realizadas junto à equipe de saúde do sistema prisional; 
 
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, minha instituição de origem, por me 
provocar a continuar questionando e aprofundando os estudos; 
 
Ao meu orientador, Profrofessor Dr. Ricardo Uchida, pela paciência, compromisso e suporte 
para seguir nessa caminhada; 
 
Aos meus colaboradores do estudo, Júnior Menezes e Eronyce Rayka, pela contribuição 
efetiva, parceria e companheirismo; 
 
À equipe de saúde do presidio Júlia Maranhão pelo acolhimento irrestrito; 
 
E especialmente às mulheres privadas de liberdade, as quais participaram desse estudo, 
gratidão pelo aprendizado e compartilhamento de suas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
ABREVIATURAS 
 
BAI- Inventário de Ansiedade de Beck 
BDI- Inventário de Depressão de Beck 
CEP- Comitê de Ética em Pesquisa 
CID-Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 
CNJ- Conselho Nacional de Justiça 
DEPEN- Departamento Penitenciário Nacional 
DSI- Escala de Ideação Suicida de Beck 
DSM- Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
INFOPEN- Informação do Sistema Penitenciário 
LEP- Lei de Execução Penal 
OMS- Organização Mundial de Saúde 
PNAISP- Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade 
no Sistema Prisional 
PNSSP- Plano Nacional de Saúde do Sistema Penitenciário 
RI- Religiosidade Intrínseca 
RNO- Religiosidade Não Organizacional 
RO- Religiosidade Organizacional 
SPSS- Statistic Package for the Social Sciencies 
SUS- Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO 10 
1.1. Revisão de Literatura 15 
1.1.1 Contexto do Sistema Penitenciário Brasileiro e Políticas Públicas de 
Saúde 
15 
1.1.2 Mulheres privadas de liberdade e sofrimento mental 19 
1.1.3 Suicídio e privação de liberdade 23 
1.1.4 Religiosidade e saúde mental 25 
1.2. Hipóteses de estudo 26 
2. OBJETIVOS 27 
3. CASUÍSTICA E MÉTODO 28 
3.1. Tipo de Estudo 28 
3.2. Local de Realização 28 
3.3. População e Amostra 29 
3.4. Instrumentos de Coleta de Dados 29 
3.5. Coleta de Dados 31 
3.6. Análise dos Dados 32 
3.7. Considerações éticas 32 
4. RESULTADOS 33 
4.1. Dados Sociodemográficos 33 
4.2. Dados relacionados a privação de liberdade 34 
4.3. Dados sobre o histórico 36 
4.4. Condições Físicas, clínicas e medicamentosa 37 
4.5. Saúde Mental entre mulheres privadas de liberdade 39 
4.6. Religiosidade e correlação entre ansiedade e depressão 39 
4.7. Ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade 41 
4.8. Ideação suicida, ansiedade, depressão e correlação com outras variáveis 44 
5. DISCUSSÃO 47 
6. CONCLUSÕES 58 
 7. ANEXOS 60 
Anexo 1 – Índice de Religiosidade da Universidade de Duke 60 
Anexo 2 – Inventário de Ansiedade de Beck 62 
Anexo 3 – Inventário de Depressão de Beck 64 
 
 
 
9 
 
 
 
Anexo 4 – Escala de Ideação Suicida 68 
Anexo 5 – Parecer CEP 72 
Anexo 6 – Artigo Submetido 75 
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93 
RESUMO 101 
ABSTRACT 103 
LISTAS E APÊNDICES 105 
Lista de Tabelas 105 
Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 107 
Apêndice B – Instrumento de Coleta de Dados 109 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Embora o debate sobre o aprisionamento feminino venha acontecendo com maior 
frequência nos últimos cento e cinquenta anos, acompanhando as lutas femininas por direitos 
e autonomias, mudanças nas legislações e o aumento da violência na sociedade de maneira 
geral, tal fato ainda desperta um sentimento de espanto na sociedade quando comparado aos 
direitos masculinos. 
Evidencia-se que a criminalidade e a violência se constituem em graves expressões da 
questão social, atingindo diferentes grupos sociais. Neste contexto, identifica-se que a atuação 
do estado vem privilegiando aspectos que reorientam as estratégias de enfrentamento 
relacionadas à penalização da questão social em detrimento de ações de proteção social. Neste 
sentido o aumento de atos criminais cometidos por mulheres, bem como o consequente 
ingresso destas no sistema prisional brasileiro vem se constituindo em questão relevante na 
sociedade atual (Rodrigues et al, 2012). 
Em junho de 2016, existiam 726.712 pessoas privadas de liberdade no Brasil. Em 
relação ao número de vagas, os dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) 
revela um déficit total de 358.663 mil vagas e uma taxa de ocupação média de 197,4% em 
todo o país, cenário também agravado em relação ao último levantamento disponível (Depen, 
2017). 
Os índices atuais mostram que esmagadora maioria dos detentos do sistema 
penitenciário brasileirohoje é oriunda da parcela mais vulnerável da população. Esses sujeitos 
são advindos das periferias das cidades, são pobres e possuem baixo grau de escolarização. 
No caso das mulheres, as pesquisas apontam que, a maioria encontra-se no sistema 
penitenciário em razão de envolvimento com o tráfico de drogas (Rodrigues et al, 2012). 
Para as mulheres privadas de liberdade, a Constituição Brasileira (1988) determina 
tratamento especial, com estabelecimento próprio adequado a sua necessidade e respeito a sua 
condição social. A Lei de Execução Penal dispõe sobre as penitenciárias femininas, 
preconizando que estes estabelecimentos devam possuir seções especiais para as gestantes, as 
parturientes e para a mães com o filho até doze anos de idade. Contudo, as mulheres 
brasileiras, em sua grande maioria, desconhecem seus direitos civis. Nesse sentido, as 
circunstâncias de confinamento das mulheres presas e a responsabilidade do Estado pela sua 
custódia direta demandam do poder público uma ação ainda mais proativa e um tratamento de 
fato especializado, com o fim de garantir às mulheres encarceradas o acesso e gozo dos 
direitos que lhe são assegurados pela normativa nacional e internacional (Brasil, 1984). 
11 
 
A situação atual do Sistema Penitenciário brasileiro é de celas superlotadas, 
precariedade e insalubridade dos presídios. Soma-se a isso, más condições de alimentação e 
higiene, o sedentarismo dos presos, além do uso indiscriminado de drogas. Todos esses 
fatores tornam as prisões um espaço de degradação humana. As condições de confinamento 
em que se encontram as pessoas privadas de liberdade são determinantes para o bem-estar 
físico e psíquico. Quando recolhidas aos estabelecimentos prisionais, as pessoas trazem 
problemas de saúde, bem como transtornos mentais, que são gradualmente agravados pela 
precariedade das condições de moradia, alimentação e saúde das unidades prisionais 
(Rodrigues, et al, 2012; Brasil, 2017). 
No que se refere à Política de Saúde, o Plano Nacional de Saúde no Sistema 
Penitenciário, a partir da Portaria Interministerial nº. 1.777/2003 contempla, essencialmente, a 
população recolhida em penitenciárias, presídios, colônias agrícolas e/ou agroindustriais e 
hospitais de custódia e tratamento, não incluindo presos do regime aberto e presos 
provisórios, recolhidos em cadeias públicas e distritos policiais (BRASIL, 2003). Em 2014, o 
Mistério da Saúde do Brasil, instituiu, através da portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro 
de 2014, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade 
no Sistema Prisional (PNAISP), que tem como objetivo garantir o direito à saúde para todas 
as pessoas privadas de liberdade, principalmente, através da melhoria da infraestrutura das 
unidades básicas de saúde prisional e garantia da equipe mínima (Brasil, 2014). 
A prevalência de doenças nessa população específica é maior do que na população em 
geral. Segundo Watson (2004), 90% das pessoas privadas de liberdade têm problemas de 
saúde mental, 80% fumam, 8% dos homens e 12% das mulheres são infectados pelos vírus 
que causam as hepatites B e C, além de alguns soropositivos. Essa população possui não só 
doenças associadas ao físico, mas, sobretudo, a problemas de saúde mental, os quais possuem 
maior prevalência entre essa população específica (carcerária) em relação à população geral. 
Entretanto, o padrão de confinamento, na maioria das unidades prisionais, revela uma 
série de fatores de risco à saúde mental e física desta população, a exemplo da superlotação, 
precárias condições de higiene, falta de controle da qualidade dos alimentos fornecidos, 
relações violentas de poder, falta de atividades laborais e físicas, uso de drogas, entre outros. 
A tais fatores, adiciona-se a precariedade da atenção à saúde dessa população, além de as 
ações de promoção e prevenção e da assistência curativa prestada serem muito heterogêneas 
entre as unidades federadas, variando desde a ausência absoluta até a existência de serviços 
próprios. A prisão funciona como reprodutora da miséria, visto que, ao longo do período de 
encarceramento, inflige perdas à mulher presa em diferentes dimensões da vida social, a 
12 
 
começar pelo trabalho e pela moradia. Essa perda material tende, na maioria das vezes, a 
atingir a família e, em muitos casos, a estremecer relações familiares e afetivas. A falta de 
apoio familiar, as reduzidas possibilidades de trabalho, de formação profissional, de lazer e a 
falta de acesso a bens materiais básicos tornam difícil a vida da detenta dentro da prisão e 
quando de seu retorno à liberdade. Nesse sentido, pode-se afirmar que a prisão empobrece ou 
agrava a pobreza preexistente (Lima, 2005; Rodrigues et al, 2012). 
A depressão é um dos transtornos mentais presentes entre mulheres privadas de 
liberdade. Em estudo realizado em Ribeirão Preto por Pinese (2009), a frequência de 
depressão nesse grupo é mais alta do que o encontrado na literatura, sendo por ela identificado 
através do inventário de Beck, uma predominância de 82% de detentas com sintomas 
depressivos, sendo acentuado em mulheres jovens. 
Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos 
sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de 
tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas 
atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Frequentemente, associa-se à 
sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado. 
Alguns autores enfatizam a importância das alterações psicomotoras, em particular referindo-
se à lentificação ou retardo psicomotor. No diagnóstico da depressão, levam-se em conta: 
sintomas psíquicos, fisiológicos e evidências comportamentais (Del Porto, 1999). 
Conforme Lima (1999), os fatores considerados de risco seriam os eventos vitais 
(mudanças identificáveis no padrão de vida que afete o bem estar do indivíduo); estresse 
crônico (condições que em longo prazo trazem dificuldades, tais como dificuldades 
financeiras e nas relações interpessoais, além de ameaças permanentes à segurança do 
indivíduo) e, suporte social (fatores socioambientais que podem modificar o efeito de 
estressores sobre as pessoas, tais como falta do cônjuge e isolamento social). Salienta-se que 
todos esses fatores se encontram presentes no ambiente carcerário, reforçando a hipótese de 
que o índice de depressão nesta população pode ser alto, considerando-se que a maioria dos 
estudos epidemiológicos mostra uma associação entre eventos negativos e depressão maior. 
A ansiedade também é considerada um estado emocional com componentes 
psicológicos e fisiológicos, sendo caracterizada por sensações subjetivas de antecipação, 
medo ou apreensão associada com graus de grande excitação e reatividade autônoma. É 
importante ressaltar que a ansiedade faz parte dos sentimentos normais, tornando-se 
patológica quando a intensidade ou frequência não corresponde à situação que a desencadeia 
ou quando não existe um objeto específico ao qual se direcione. Essa classificação vai 
13 
 
depender da situação em si das características do indivíduo e da interpretação que ele faz da 
situação (Araújo et al, 2009). 
Para Beck, Emery e Greenberg (1985), a predominância no fluxo dos pensamentos dos 
pacientes com transtorno de ansiedade relaciona-se ao perigo. Uma vez que estes pacientes 
superestimam o perigo e subestimam os recursos pessoais para lidar com as situações 
perigosas, o processamento cognitivo da ansiedade encontra-se na crença de vulnerabilidade 
do indivíduo, pois os próprios sintomas de ansiedade são decorrentes de uma avaliação de 
perigo iminente que pode transformar-se em uma nova ameaça percebida, que por sua vez são 
interpretadas como um possível sinal de lesão física ou psicológica. 
Por sua vez, o suicídio é umfenômeno complexo determinado pela interação de 
múltiplos fatores, entre os quais a constituição biológica do indivíduo, sua história pessoal, 
seus elementos emocionais, eventos circunstanciais, bem como o meio social em que está 
inserido. Nesse fenômeno social que é o suicídio existem os fatores externos e os internos. Os 
fatores externos são os socioculturais. Já os internos são: a desesperança, a depressão, a 
pulsão de morte, entre outros (Turecki, 2007; Minayo, 1998). 
As infratoras presas podem ter sido agentes, mas, também, são pessoas vítimas da 
violência. A pena de prisão reproduz a violência, as condições gerais de cumprimento das 
penas deterioram-se muito, as condições sanitárias das unidades prisionais são precárias e a 
saúde mental do indivíduo está sendo cada vez mais afetada. A unidade prisional é, portanto, 
um ambiente do qual a violência faz parte (Negrelli, 2006). 
Para Tauany et al (2012), a saúde mental tem relação com a religiosidade, existindo 
diversos fatores que podem contribuir para um papel protetor da religião em relação à saúde 
como: (1) a adoção de estilos de vida mais saudáveis; (2) o provimento de suporte social; (3) 
o desenvolvimento de um sistema de crenças e processos cognitivos que promovem maior 
aceitação de si e do próximo com promoção de resiliência e (4) condução de práticas 
religiosas que aliviam o sofrimento psicológico. As relações entre religiosidade e saúde têm 
sido cada vez mais investigadas e as evidências têm apontado para uma relação habitualmente 
positiva entre indicadores de envolvimento religiosos e de saúde mental. 
No Estado da Paraíba, a população carcerária está estimada em 11.377, sendo 615 
mulheres. A capacidade instalada de vagas, refere-se a 5.241, sendo 186 feminina, distribuída 
em 80 estabelecimentos penais, apenas quatro destinados a mulheres (Depen, 2017). O 
crescimento da população feminina é um fenômeno recente e aponta para a necessidade de 
estudos que considerem a perspectiva de gênero no ambiente prisional, garantindo que não 
haja a invisibilidade das necessidades e direitos das mulheres presas. 
14 
 
As mulheres aprisionadas apresentam cinco vezes mais chances de desenvolver algum 
problema de saúde mental, quando comparadas à população em geral de mulheres como 
transtornos de humor e uso de substâncias. O isolamento tem gerado consequências danosas 
para a saúde mental das mulheres que parecem encontrar mais dificuldades que os homens 
quando são obrigadas a permanecer por muito tempo isoladas (Lima, 2005). 
Nesse sentido, torna-se fundamental realizar um estudo sobre religiosidade, depressão, 
ansiedade e ideação suicida entre mulheres detentas no Estado da Paraíba, considerando 
fatores como superlotação dos presídios, o déficit de vagas, condições sanitárias, somando-se 
a isso, a implantação recente do Plano Estadual de Saúde do Sistema Penitenciário. Cabe 
destacar que, no Brasil, a questão da criminalidade feminina ainda não foi suficientemente 
explorada. Uma das razões, de acordo com França (2014) é pelo fato de os autores que vêm se 
dedicando sobre a temática não diferenciarem a criminalidade feminina da masculina. Tal 
postura é amparada pela percepção de que a participação feminina se comparada à masculina, 
é praticamente invisível na criminalidade geral, uma vez que representa, aproximadamente, 
apenas 6% do total de presos (França, 2014). 
Mulheres privadas de liberdade cometem suicídio nos presídios. Quase dez por cento 
de todas as mortes no cárcere são por auto-violência humana. O crescimento das notificações 
e da busca por cuidados dos que ameaçam se matar é um fenômeno que merece atenção do 
setor da saúde. É pertinente a avaliação da ideação suicida de infratoras presas (Negrelli, 
2006). O conhecimento deste tema é de grande relevância para a análise da situação social 
das mulheres privadas de liberdade, indivíduos presos, para a análise da saúde mental desta 
parcela da população no Estado da Paraíba, para projetos de práticas preventivas do suicídio e 
para o planejamento de ações de saúde mental. 
Os questionamentos que emergiram para realização da pesquisa foram: Quais 
características sócio-demográfico-clínicas e condição penal das mulheres privadas de 
liberdade do Centro de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão? Quais os índices de 
religiosidade dessas mulheres e qual a relação com a saúde mental? Quais os sinais 
indicativos de depressão e ansiedade e ideação suicida entre essas mulheres conforme 
inventário de Beck? 
Dessa forma, compreender a relação da religiosidade, saúde mental e os determinantes 
do processo saúde-doença da depressão, ansiedade e suicídio, favorecerá o reconhecimento 
das condições vivenciadas por estas mulheres, fornecendo subsídios para o resgate da 
cidadania, dos direitos humanos e criação de condições de saúde dignas. 
 
15 
 
1.1. REVISÃO DE LITERATURA 
1.1.1 Contexto do Sistema Penitenciário Brasileiro e Políticas Públicas de Saúde 
Segundo Foucault (2004), a forma prisão se constituiu fora do aparelho judiciário 
quando se elaboraram por todo o corpo social, os diversos processos para repartir os 
indivíduos, fixá-los, distribuí-los espacialmente e classificá-los, visando tirar deles o máximo 
de tempo e de forças, treinando seus corpos, codificando seu comportamento continuamente, 
mantendo-os sob uma visibilidade sem lacunas, formando em torno deles um aparelho 
completo de observação, registro e anotações, produzindo sobre eles um saber que se acumula 
e se centraliza. A forma geral de uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, 
mediante um trabalho preciso sobre seu corpo, criou a instituição prisão antes que a lei a 
definisse como pena por excelência (Benelli, 2014). 
Para o estudioso Loïc Wacquant (2001), as prisões brasileiras são verdadeiros 
depósitos de pobres. O autor enfatiza que com o aumento da pobreza advinda dos moldes 
capitalistas, ocorre também um endurecimento na aplicação das penas a determinados grupos 
sociais e, consequentemente, crescimento das taxas de encarceramento no Brasil. 
Conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), no ano 2016, a 
população prisional brasileira ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca de 700 mil 
pessoas privadas de liberdade, o que representa um aumento da ordem de 707% em relação ao 
total registrado no início da década de 1990 (Depen, 2017). 
Cabe destacar que o rápido e desordenado crescimento da população prisional não 
foi acompanhado pelos investimentos em reformas, ampliações e construção de presídios, 
desencadeando nas prisões brasileiras grandes problemas estruturais como: celas muito 
pequenas para o número de presos, construções inapropriadas e mal conservadas, 
dependências sujas, pouca iluminação e ventilação, serviços internos funcionando com 
pouca eficácia e os profissionais pouco habilitados para o exercício de determinadas funções 
especificas desse ambiente (Depen, 2017). 
 As prisões como instituições totais, atingem o preso em diversas esferas da vida, 
através do isolamento social e proibições produzidas por estas, constituindo-se em uma forma 
de mutilação do ser, gerando uma perda de identidade, despersonalização, submissão passiva 
frente a regras em decorrência de violações diretas e permanentes do corpo (Goffman, 2005). 
Quando os dados apresentados são associados às precárias condições do cárcere, 
surgem, então, preocupações outras que deveriam alertar para o risco de um grave problema 
de saúde pública, no interior dos milhares de estabelecimentos penais do país. Risco 
16 
 
confirmado pela existência de altas taxas de prevalência de doenças transmissíveis, 
destacando-se, entre essas, as sexuais e as respiratórias. Essa preocupação se estende também 
à elevada incidência de doenças crônicas no interior do cárcere, que tem confirmado a 
modificação no perfil de saúde da população ocorrida nosúltimos anos – onde a maior 
ocorrência de doenças infectocontagiosas dá lugar a maior número de doenças crônico 
degenerativas. Essas últimas, no interior do cárcere, sendo ocasionadas, principalmente, pelas 
péssimas condições materiais e higiênicas, de nutrição e, ainda, pela pouca disponibilidade de 
serviços de saúde ofertada aos internos (Depen, 2017). 
As condições nos ambientes prisionais são precárias, o que afeta, principalmente, a 
saúde dessas pessoas. Leis e normas têm sido criadas para dar melhores condições de vida aos 
apenados, mas, muito ainda precisa ser feito. Entre os dispositivos existentes ressalta-se a 
Resolução nº. 14, de 11 de novembro de 1994, do Ministério da Justiça, que dispõe sobre as 
Regras Mínimas do Preso no Brasil. No que respeita o direito à saúde, Lei n. 7.210, de 11 de 
julho de 1984 – Lei de Execuções Penais, no seu artigo 14, trata da assistência à saúde do 
preso e do internado, dentro de uma perspectiva preventiva e curativa, compreendendo desde 
o atendimento médico e farmacêutico ao odontológico. No § 3º desse artigo, assegura o 
acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao 
recém-nascido (incluído pela Lei n. 11.942, de 2009) (Brasil, 2009). 
 
Para Lima (2013) p.52 “a prisão é um mundo onde as situações são 
vividas de forma intensa, onde são roubadas de seus internos a 
dignidade, autonomia, autoestima e por vezes a esperança”. A autora 
conclui que as diversas privações sofridas no ambiente prisional 
(sociais, culturais, pessoais, emocionais, entre outras) fazem da 
estadia na prisão um momento de conflitos e crises. 
 
Tais condições sub-humanas encontradas nos ambientes carcerários reafirmam a 
existência de sistema penal com caráter fortemente punitivo, onde a pena passa a exercer, 
quase que unicamente a função de vingança ou apenas como privação do direito de ir e vir da 
pessoa delituosa. Tal fato gera uma violação dos direitos humanos de pessoas detentas, 
inclusive, no tocante ao resgate da sua cidadania, reabilitação e consequente reinserção na 
sociedade, como garantido em diversos dispositivos legais (Rodrigues et al, 2012). 
Contudo, emerge a incidência de um Estado penal cada vez mais forte, onde a partir de 
um decréscimo cada vez maior no campo das políticas sociais que atenda à camada mais 
empobrecida e marginalizada da população, cresce a condição de cerceamento da liberdade e 
17 
 
do controle social, muitas vezes, com base na violência. Há uma tendência clara de 
criminalização da questão social, onde situações limites que dizem respeito a toda a 
sociedade, mas que atingem de forma desigual e com maior intensidade os mais pobres e 
vulneráveis, são tratadas como casos de polícia ao invés de serem tratadas como casos que 
demandam políticas públicas. Nessa direção a pena de privação de liberdade, no atual 
contexto do Sistema Penitenciário brasileiro e diante da situação da Segurança Pública no 
país, está longe de alcançar seu intento de ressocialização dos apenados e de ser condição 
favorável para a diminuição da criminalidade. Ao contrário, o Sistema Penitenciário tem sido 
um espaço de extrema violência institucional e a privação de liberdade em nada tem 
contribuído para um decréscimo da violência socialmente instituída (Wolff, 2010; Rodrigues 
et al, 2012). 
No Brasil, preservar a garantia do direito à saúde de apenados é um grande desafio, 
especialmente no que tange a atenção à saúde mental. Visto que a saúde nos ambientes 
prisionais, ainda não contemplava na íntegra os princípios do SUS, em 2003, foi instituída a 
Portaria Interministerial dos Ministérios da Saúde e da Justiça nº 1.777, de 9 de setembro 
aprovando o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), destinado a prover 
a atenção integral à saúde da população prisional em unidades masculinas e feminina bem 
como nas psiquiátricas (Brasil, 2003). Com o intuito de garantir a saúde dos detentos de 
forma integral, o mesmo autor afirma que a PNSSP construiu diretrizes estratégicas, tais 
como: prestar assistência integral resolutiva contínua e de boa qualidade às necessidades de 
saúde; reduzir os agravos mais frequentes; definir e programar ações e serviços consonantes 
com os princípios e diretrizes do SUS; implementar a intersetorialidade; a democratização do 
conhecimento do processo saúde/doença, dentre outros. 
Com base no mencionado plano, as ações e serviços da atenção básica em saúde 
deverão ser organizados nas unidades penais por meio da formação de equipes 
interdisciplinares responsáveis pela atenção primária do preso, ficando o acesso aos demais 
níveis de atenção como item integrante dos planos operativos estaduais (Brasil, 2003). 
Assim, os objetivos e princípios estabelecidos no PNSSP, do ponto de vista formal, 
são consoantes com a legislação internacional acerca dos direitos humanos e, ainda, com os 
princípios e diretrizes do SUS, resultando no primeiro registro histórico de uma política de 
saúde específica à população confinada nas unidades prisionais nacionais. 
Para Oliveira e Guimarães (2011), a relação do PNSSP com o SUS está bem 
demarcada nas diretrizes estratégicas do plano, ao defender a assistência integral resolutiva, 
contínua e de boa qualidade; o controle e/ou redução dos agravos mais frequentes; definição e 
18 
 
implementação de ações e serviços consoantes com os princípios e diretrizes do SUS; o 
estabelecimento de parcerias intersetoriais; a democratização do conhecimento do processo 
saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da saúde; o reconhecimento 
da saúde como um direito da cidadania; o efetivo exercício do controle social. De modo geral, 
o plano propõe reforçar a premissa na qual as pessoas presas, independente dos delitos 
praticados, mantenham os seus direitos inerentes à pessoa humana, proclamados na 
Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1948, 1990) e na Constituição Federal, 
especialmente, o direito à plena saúde, não perdendo, portanto, o direito à cidadania. 
Para efetivação do Plano, cabe ao Ministério da Justiça o financiamento das 
construções e reformas estruturais dos módulos de saúde e ainda a aquisição de materiais e 
equipamentos. Acrescente-se, também, que o Ministério da Saúde se responsabilize pelo 
fornecimento periódico de medicamentos, como também o repasse de incentivos financeiros 
para a manutenção das equipes. Aos cuidados dos Estados estão as atribuições de 
complementar os investimentos federais, contratar e controlar os serviços de referência sob 
sua gestão (Oliveira, Guimarães, 2011). 
Considerando as recomendações das últimas três Conferências Nacionais de Saúde, o 
Mistério da Saúde do Brasil, instituiu em 2014, através da portaria interministerial nº1, de 2 
de janeiro de 2014, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de 
Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), que tem como objetivo garantir o direito à saúde 
para todas as pessoas privadas de liberdade, principalmente, através da melhoria da 
infraestrutura das unidades básicas de saúde prisionais e garantir a equipe mínima com 
médico, enfermeiro, dentista, assistente social, psicólogo, técnico em enfermagem e auxiliar 
em saúde bucal (Brasil, 2014). 
A política foi criada para garantir o direito à saúde para todas as pessoas privadas de 
liberdade no Sistema Prisional, assegurando que cada unidade prisional tenha um ponto 
integrante da Rede de Atenção à Saúde do SUS, sendo estes custeados com recursos do 
Ministério da Saúde repassados diretamente aos estados e municípios habilitados (Brasil, 
2014). 
Como ações específicas à saúde da mulher privada de liberdade, preconizadas pelo 
PNSSP, estão à assistência no pré-natal e garantia do acesso das gestantes no atendimento de 
intercorrências gestacionais, controle do câncer cérvico-uterino e de mama, ações para 
diagnóstico e tratamento das Infecções SexualmenteTransmissíveis (IST’s) e AIDS, 
assistência à anticoncepção, imunização, assistência ao puerpério e ações de educação em 
saúde (Brasil 2014). 
19 
 
 
 
1.1.2 Mulheres privadas de liberdade e sofrimento mental 
A questão do gênero traz particularidades para a pena de privação de liberdade, 
sobretudo pelo papel social ocupado pela mulher, geralmente a função de cuidadora da 
família, que fica vazio quando do ingresso desta no sistema penitenciário. Esse papel, 
ocupado pela mulher no atual contexto social é uma construção histórica na relação entre os 
sexos, que foi determinando nos papéis diferenciados para homens e mulheres. O percurso 
histórico da mulher, tanto no espaço privado como no público, vem sendo permeado por 
processos de violência de gênero, esses muitas vezes velados e naturalizados por toda a 
sociedade (Rodrigues et al, 2012). 
No tocante às prisões femininas, além das precárias condições gerais, também não 
oferecem condições adequadas para que as mulheres mantenham estreitas as relações com os 
filhos e a família, aumentando suas angústias em relação à necessidade de cumprimento do 
seu papel social no grupo familiar, assim, como também, não levam em conta a necessidade 
de outras condições especiais que dizem respeito ao gênero, como a atenção especial à saúde. 
Ressalta-se ainda que no encarceramento feminino a supressão de direitos é ainda maior, fato 
observado na escassez de políticas públicas que considerem as especificidades ligadas ao 
gênero (Lopes, 2004; Mello, 2008). 
A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), assegura às mulheres o direito ao 
alojamento em celas individuais e salubres, em ambientes próprios e adequados a sua 
condição pessoal. Modificações ocorridas em 2009 pelas Leis nº 11.942/09 e nº 12.121/09, 
determinaram que os estabelecimentos penais destinados a mulheres fossem dotados de 
berçário, onde as apenadas pudessem cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los no 
mínimo, até seis meses de idade, e ainda, possuir, exclusivamente, agentes penitenciarias do 
sexo feminino (Brasil, 2009a; Brasil, 2009b). 
A mulher presa gestante ou com filho de até 12 anos de idade incompletos tem direito 
a requerer a substituição da prisão preventiva pela domiciliar. É o que estabelece a Lei n. 
13.257, editada em dia 8 de março de 2016, que alterou artigos do Código de Processo Penal. 
A mudança amplia o rol de direitos das mulheres presas no Brasil, que hoje representam 6,4% 
da população carcerária do país, número que vem crescendo em ritmo muito maior do que a 
população carcerária do sexo masculino (Conselho Nacional de Justiça, 2017). 
20 
 
De acordo com o levantamento nacional de Informações Penitenciárias do Ministério 
da Justiça (Infopen), em quinze anos (entre 2000 e 2014) a população carcerária feminina 
cresceu 567,4%, chegando a 37.380 detentas. Já a média de crescimento masculino foi de 
220,20% no mesmo período. 
As mudanças instituídas por meio da Lei n. 13.257 ampliam os direitos já previstos na 
legislação brasileira para as mulheres presas. Segundo a Cartilha da Mulher Presa, editada 
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2011, a mulher presa tinha direito a cumprir 
pena em estabelecimento distinto do destinado a homens e a segurança interna das 
penitenciárias femininas deve ser feita apenas por agentes do sexo feminino. 
Um aspecto fundamental a ser ressaltado diz respeito ao contexto de violência que 
muitas dessas mulheres vivenciaram e continuam a vivenciar, que inclui, além das agressões 
físicas, sexuais e psicológicas diretamente sofridas ao longo da existência, perdas violentas de 
parentes próximos e/ou de parceiros conjugais. 
Assis e Constantino (2001) descrevem que existe um imaginário social construído em 
torno da criminalidade feminina, que é acolhido inclusive por autoridades jurídicas. Concebe-
se que as mulheres são fortemente influenciadas por estados fisiológicos e que seus crimes 
são, em grande escala, cometidos no espaço privado, já que o espaço público ainda lhes é 
muito negado. Muitas vezes se envolvem em crimes passionais ou naqueles cometidos sob 
violenta emoção. Quando cometem crimes de outra natureza, como a participação no tráfico 
de drogas, esses estão vinculados a uma posição subalterna justificada como uma extensão 
natural de suas relações afetivas. Acredita-se que participem dos delitos em número menor 
que os homens e sejam postas à margem das atividades importantes. São consideradas 
perigosas e não confiáveis, capazes de traição, com exceção das que passam por provas 
especiais de valor. Exceção se faz somente quando se trata de lésbicas ou prostitutas, que são 
identificadas como mais parecidas com os homens, mais machonas e mais habituadas à rua e 
à delinquência. 
Nas prisões, assim como em outras esferas sociais, são projetadas assimetrias de 
gênero que produzem desigualdades nas dinâmicas do cárcere (organização da visita, vínculo 
com a família, trabalho, dinâmicas internas, etc.) já apontadas em algumas pesquisas. Muitas 
destas mostram que grande parte das mulheres encarceradas possuem trajetórias anteriores de 
violência, vulnerabilidade e crime penalização específicas e, por isso, apresentam sofrimento 
psíquico e importante sofrimento mental para os quais têm sido destinada a prática recorrente 
da medicalização (Mello, 2008). 
As mulheres em situação de privação de liberdade têm demandas e necessidades muito 
21 
 
específicas, não podendo desprezar esse cenário quando se analisa o impacto direto e indireto 
que o encarceramento as submete. Historicamente, a ótica masculina tem sido tomada como 
regra para o contexto prisional, com prevalência de serviços e políticas penais direcionados 
para homens, deixando em segundo plano as diversidades que compreendem a realidade 
feminina, como sua orientação sexual, identidade de gênero, situação de gestação e 
maternidade, entre tantas outras (Silva, 2016). 
Diversos estudos comprovam a alta prevalência de desordens psíquicas em populações 
privadas de liberdade, a exemplo temos o estudo desenvolvido no Reino Unido por Brughaet 
e colaboradores (2005), constatando que a população carcerária possui maiores índices de 
problemas mentais quando comparados à população em geral, em uma proporção de 5,2% 
versus 0,4%. 
Quanto à incidência de transtornos mentais (depressão e ansiedade), nessa população, 
podem estar condicionados a fatores como a privação de liberdade, a mudança do ambiente 
social para o confinamento e tensão. A vivência de situações adversas desencadeia em cada 
indivíduo diferentes respostas e reações, algumas adaptativas e outras que os expõem a riscos 
ainda maiores (Portugues, 2001). 
Canazaro e Argimon (2010), mostraram alta prevalência de sintomatologia grave de 
depressão entre mulheres encarceradas. O uso de drogas ilícitas como maconha, cocaína e 
craque, além das lícitas como o álcool, utilizadas durante a vida em liberdade, contribuiu para 
o surgimento da doença. Em verdade, diversos são os fatores que podem ser associados à 
prevalência dos referidos problemas mentais, dentre eles, os sociodemográficos, baixa renda, 
problemas clínicos, histórico familiar conturbado. 
 O estudo realizado por Fernandes e Hirdes (2006) numa penitenciária do Rio Grande 
do Sul (RS) indicou diversas situações promotoras de sofrimento mental, das quais podemos 
citar: tristeza pelo abandono dos familiares; culpa pela ausência na criação dos filhos; medo 
pela inadequação na adaptação à cultura prisional, e despersonalização e sofrimento 
antecipado sobre a vida fora da prisão frente ao estigma e a discriminação da sociedade que 
não possibilitam perspectivas de trabalho fora do contexto criminal. 
 Outro estudo nacional mostrou uma prevalência de 31% de ideação suicida entre as 
presas, sendo que 9% dessa população possuíam história prévia de tentativa de suicídio. Este 
estudo constatou também sintomas depressivosem 34% das mulheres e ansiedade em 39% 
(Gonçalves et al, 2010). Assim, os dados apresentados na literatura brasileira mostram uma 
realidade muito pior quando comparados com estudos internacionais, exprimindo altas 
22 
 
prevalências de quadros psiquiátricos na população prisional feminina. 
A situação de privação imposta pelo ambiente carcerário não necessariamente atua da 
mesma forma em todos os apenados. O comportamento dos indivíduos perante essas situações 
irá depender da sua vulnerabilidade, a qual pode ser definida como uma predisposição para o 
desenvolvimento de disfunções psicológicas ou de respostas pouco adequadas à ocasião, entre 
elas possíveis respostas deprimidas ou ansiosas (Zimmerman, Arunkumar, 1994). 
O estresse é um problema de saúde mental que se encontra associado a diversos outros 
transtornos físicos e mentais, dentre eles a depressão. É uma resposta orgânica não específica 
para situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma 
normal adaptação às demandas do dia a dia, porém, quando excessivo, é uma manifestação de 
sofrimento psíquico com reações físicas e emocionais e os sintomas variam dependendo da 
fase em que se encontra. A vivência de estresse no ambiente prisional - agudo ou prolongado - 
é especialmente relacionada a sintomas depressivos, sendo mais comum entre as novas presas 
e estando relacionado ao maior risco de suicídio na prisão (Men, 2003). 
Existem ainda poucos estudos sobre a saúde mental da população carcerária feminina, 
principalmente, no Brasil. Em pesquisa realizada numa penitenciária feminina em São Paulo, 
Almeida (1998) encontrou como sintomas mais prevalentes: insônia, ansiedade, somatização, 
depressão e irritabilidade. Cerca de 77% das presas entrevistadas queixaram-se de uma 
sensação contínua de mal-estar emocional. 
 A depressão tem se tornado destaque no campo da saúde pública, isso é refletido pelo 
surpreendente número de pesquisas, colóquios e publicações destinadas a tratar este assunto, 
bem como pelo alto investimento da indústria farmacológica na medicação antidepressiva. 
Parece provável que nenhum fator isolado pode explicar a ocorrência desse desequilíbrio, 
mas, sim, que esta seja o resultado de uma interação entre vários fatores diferentes. Seu início 
e evolução estão ligados a um grande número de variáveis biológicas, históricas, ambientais e 
psicológicas. Sua importância é tamanha que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem 
alertado para o fato de que a depressão, que vem sendo considerada a quinta causa de 
morbidade entre todas as doenças no mundo, passará a ocupar o segundo lugar nessa lista no 
ano de 2020, se as tendências atuais da transição demográfica e epidemiológica se 
mantiverem (OMS, 2001). 
De acordo com Araújo et al (2009), as discussões atuais apresentam definições e 
conceitos de ansiedade tanto como um sintoma quanto como uma patologia, que envolve 
aspectos multifatoriais, de caráter somático ou cognitivo. Normalmente, pode manifestar-se 
em circunstâncias que denotem algum perigo iminente originado por uma situação 
23 
 
ameaçadora ou, simplesmente, por alterações em nosso meio ambiente, arroladas no processo 
de desenvolvimento econômico, social e cultural. Neste sentido, não há como negar a 
alteração no estilo de vida, rotina e hábitos devidos ao encarceramento. 
 
1.1.3 Suicídio e Privação de Liberdade 
 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2006), o ato suicida “[...] é todo o ato em 
que o indivíduo cause uma lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e 
conhecimento do verdadeiro móvel do ato”. Já a tentativa de suicídio pode ser considerada um 
ato com um resultado não fatal. Neste caso, um indivíduo inicia um comportamento não 
habitual que, sem a intervenção de outros, poderá causar prejuízo para si próprio. 
O suicídio é, por si só, caracterizado como consequência de uma situação de crise. Isto 
porque, durante a vida, há períodos difíceis que, para algumas pessoas, são sentidos como 
insuportáveis. Tal discernimento, decorre da maneira como cada indivíduo avalia, interpreta e 
vivencia suas experiências individuais. Schraiber et al (2006) colocam em questão a crise da 
sociabilidade como causa da violência. As autoras percebem esta crescente violência como 
consequência da falência dos processos vigentes de socialização da contemporaneidade. Essa 
violência presente em todos os âmbitos do nosso país afeta e altera a saúde do indivíduo, 
gerando mortes e implicações de ordem física e psíquica. Por tal razão, está havendo um 
aumento da discussão sobre o assunto no campo da saúde pública, considerando este 
problema como uma questão emergencial, já que produz inúmeros efeitos na saúde da 
população. 
A Organização Mundial da Saúde (2006) relata que cerca de um milhão de pessoas 
comete suicídio anualmente no planeta, e entre 10 a 20 milhões de pessoas tentam suicídio. 
Isto, por sua vez, já é um fato extremamente preocupante que deve ser encarado como um 
problema de saúde mundial. Em jovens de 15 a 34 anos de todo o mundo, o suicídio é uma 
das três principais causas de morte. O relatório da OMS aponta, ainda, que o suicídio é uma 
das principais causas de morte entre jovens, em grande parte dos países desenvolvidos e 
muitos em desenvolvimento, além do que destaca que as causas destes suicídios se relacionam 
a diversos fatores como, por exemplo, psicológicos, biológicos e socioculturais. 
Cassorla (1984) afirma que as estatísticas sobre o número de suicídios e suas tentativas 
são subestimadas, podendo não corresponder à realidade. Segundo o autor, para cada suicídio 
consumado, existe o correspondente a oito ou dez tentativas. 
24 
 
Para Minayo (1997), “o contrário da violência não é a não-violência, é a cidadania e a 
valorização da vida humana em geral e de cada indivíduo no contexto de seu grupo”. Os 
infratores presos podem ter sido agentes, mas também são pessoas vítimas da violência. A 
pena de prisão reproduz a violência, as condições gerais de cumprimento das penas 
deterioram-se muito, as condições sanitárias das unidades prisionais são precárias e a saúde 
mental do indivíduo está sendo cada vez mais ignorada. A unidade prisional é, portanto, um 
ambiente do qual a violência faz parte. Conforme Goifman (1999), o bem-estar de infratores 
não é representado socialmente como algo relevante. 
A ocorrência de suicídios em prisões representa um problema com sérias implicações 
sociais, legais e éticas. Em princípio, seria passível pressupor que, por se tratar de um local 
regido pela disciplina e pelo controle, a prisão não permitisse a ocorrência de suicídios. A 
verdade, porém, é que a taxa de suicídios prisionais é superior ao da população em geral. Os 
suicídios em prisões apresentam uma dinâmica específica, salvo as situações em que o 
indivíduo é portador de uma patologia psicológica. Tradicionalmente, todo o sofrimento 
imposto pela condição de estar preso é o bastante para a decisão de terminar com a sua vida. 
Neste sentido, o risco do suicídio, pelas especiais circunstâncias, também é mais elevado entre 
a população carcerária (Taborda et al, 2004). Os mesmos autores ainda destacam que 
relativamente aos transtornos mentais, mais de 90% dos suicidas apresentam perturbações 
mentais, no momento da sua morte. Como não há um estudo muito aprofundado no Brasil 
acerca deste tema, não se podem apresentar valores corretos das estimativas. 
Estudos referentes à população em geral mostram que os fatores sociais, relacionados 
com o comportamento suicida – como ter passado por diferentes tipos de privações – são, 
também, medidas da desvantagem social e da exclusão social. Esses fatores são encontrados 
mais frequentemente nas populações encarceradas do que na população em geral, portanto, as 
taxas de suicídio nas prisões tendem a ser relativamente maiores do que fora delas (Beato, 
2004). 
Segundo a OrganizaçãoMundial de Saúde (2006), mulheres presas, apresentam um 
índice elevado de tentativa de suicídio, embora os homens sejam apontados como maioria que 
concretiza o ato, segundo o mesmo relatório, mulheres que estão na cadeia tentam a se matar 
cinco vezes mais do que a população feminina em geral e duas vezes mais do que os homens 
presos. 
 As ações de avaliação da saúde mental da população carcerária são pouco enfatizadas, 
uma vez que é vista como “dejeto” social que deve ser extirpado do corpo social. Destaca-se 
que os processos psicossociais destes indivíduos estão extremamente afetados, portanto, esse 
25 
 
contexto social pode ser propício à presença de ideação suicida entre os mesmos. Muitos 
presos cometem suicídio nos presídios. Quase dez por cento de todas as mortes no cárcere são 
por auto-violência humana. O crescimento das notificações e da busca por cuidados dos que 
ameaçam se matar é um fenômeno que merece atenção do setor da saúde (Adorno, 1998). 
 
 
1.1.4 Religiosidade e Saúde mental 
 
A maioria dos estudos indica que a religiosidade é um aspecto determinante da vida 
humana e que, geralmente, tem uma associação positiva com boa saúde mental, promovendo 
a qualidade de vida (Murakami, Campos, 2012). 
 Estudos revelam que existe consenso entre cientistas sociais e filósofos de que a 
religião é um importante fator de significação e ordenação da vida, sendo fundamental em 
momentos de maior impacto na vida das pessoas. Algumas pesquisas demonstraram ainda que 
existem dois tipos de religiosidade, a intrínseca e a extrínseca. Na religiosidade intrínseca o 
indivíduo realmente acredita e procura viver sua fé. Na extrínseca, a religião é um meio para 
atingir outros fins, como por exemplo, uma conversão com finalidade de casamento, ou por 
status, ou porque é boa para os negócios e está relacionada à intolerância e ao preconceito 
(Murakami, Campos, 2012). 
A interface entre religião e saúde tem causado modificações na medicina, 
principalmente, na psiquiatria. Podem ser observadas modificações no Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV), da American Psychiatric Association, 
incluindo inovações na abordagem de temas culturais e religiosos ou espirituais (Murakami, 
Campos, 2012). 
Para Saad, Battistella (2001), a influência positiva da religiosidade sobre a saúde pode 
ser causada devido à mobilização de energias e iniciativas extremamente positivas, que 
fortalecem o indivíduo, fazendo com que ele tenha condições de lidar mais eficazmente com 
suas condições, incentivando-o a aceitar a terapia. Desse modo, ele passa a apresentar 
potencial ilimitado para melhorar a sua qualidade de vida. A religiosidade implica em uma 
mobilização de energia positiva, a fé. As pessoas que têm fé sentem-se mais fortes para 
enfrentar dificuldades e continuar a lutar pela sua sobrevivência, acreditando que serão 
curadas dos seus males. 
A influência da religiosidade sobre a saúde mental é um fenômeno resultante de vários 
fatores como: estilo de vida, suporte social, um sistema de crenças, práticas religiosas, formas 
26 
 
de expressar estresse, direção e orientação espiritual. Stroppa e Moreira Almeida (2008) 
demonstram que muitos estudos apontam em seus resultados que maiores níveis de 
envolvimento religioso estão associados positivamente a indicadores de bem-estar 
psicológico, como satisfação com a vida, afeto positivo e moral elevado, felicidade, melhor 
saúde física e mental. 
Panzini e Bandeira (2005) dizem que vários estudos de saúde pública demonstram que 
pessoas que apresentam envolvimento religioso têm menor probabilidade de apresentar 
comportamentos de risco, como violência, delinquência e crime, o uso e abuso de substâncias 
que criam dependência como álcool e outras drogas. 
Segundo Pargament et al. (1998), a eficácia no enfrentamento a determinados 
estressores pode estar correlacionada com a integração de crenças, emoções, relacionamentos 
e valores, na resposta da pessoa a esses estressores. Os resultados negativos do enfrentamento 
são aqueles que apontam para uma quebra da integração interna, perda de valores religiosos, 
fortes sentimentos de raiva de Deus, dúvida ou confusão no seu sistema de crenças. 
A religiosidade ocupa um lugar importante na vida de muitas presidiárias e altera de 
alguma forma a pesada rotina da unidade prisional. Diversos grupos religiosos de diferentes 
tradições fazem seus cultos e estudos doutrinários com as internas. A oferta de cultos, 
encontros e celebrações não decorre apenas de um direito assegurado por lei, que garante ao 
preso o atendimento religioso solicitado, mas, também, da crença generalizada de que a 
religiosidade e a espiritualidade podem trazer benefícios psíquicos e sociais para os presos e 
contribuírem para a tranquilidade da unidade carcerária e a reabilitação de alguns detentos. A 
religiosidade, juntamente com outros fatores como trabalho, estudo, possibilidade de 
manutenção dos vínculos familiares, parece contribuir para um melhor ajustamento do 
indivíduo à realidade e para a superação de situações difíceis como a experiência do 
aprisionamento e da vida numa prisão de segurança máxima (Almeida, 1998). 
 
1.2 HIPÓTESES DO ESTUDO 
 
Como hipóteses defende-se que: 1) A privação de liberdade e a religião/religiosidade 
interferem no processo de saúde-doença mental; 2) A depressão e ansiedade estão presentes 
entre as mulheres privadas de liberdade; 3) Existe ideação suicida entre mulheres privadas de 
liberdade. 
 
27 
 
2. OBJETIVOS 
 
1. Identificar o perfil de mulheres privadas de liberdade no Estado da PB; 
2. Analisar a religiosidade entre mulheres privadas de liberdade e relacionar com a saúde 
mental; 
3. Analisar os sinais indicativos da depressão e ansiedade, correlacionando com outras 
variáveis; 
4. Avaliar a ideação suicida de mulheres privadas de liberdade, correlacionando com 
outras variáveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. CASUÍSTICA E MÉTODO 
 
3.1 Tipo de Estudo 
 
 Trata-se de um estudo de delineamento transversal, descritivo com abordagem 
quantitativa. Ressalta-se que os estudos descritivos visam observar, registrar, analisar e 
correlacionar fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. 
 
3.2. Local de Realização 
28 
 
 
O estudo foi realizado na cidade de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, que tem 
uma área territorial de 211.474 km² e de acordo com o último censo realizado pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no ano de 2010, dispõe de uma população de 
723.515 habitantes vivendo predominantemente na área urbana. 
O Estado da Paraíba possui quatro unidades prisionais para mulheres: O Centro de 
Reeducação Maria Júlia Maranhão em João Pessoa, a Penitenciária feminina de Campina 
Grande, a Penitenciária Romero Nóbrega em Patos e a Penitenciária feminina de Cajazeiras. 
A pesquisa foi realizada na penitenciária de maior concentração de população 
feminina encarcerada do Estado da Paraíba, a Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão, 
localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB, que 
abriga presas de todo o Estado, acolhendo 70% da população carcerária feminina paraibana. 
A Penitenciária Feminina apresenta superlotação, contando com capacidade para 98 presas, 
distribuída em dois pavilhões (1 e 2), cerca de 10 celas e quando da realização do estudo, 
apresentava população de 449 mulheres presidiárias (151 presas provisórias, 47 do 
semiaberto, 29 do aberto, 121“domiciliares” e 101 sentenciadas). 
 O Plano Estadual de Atenção Integral à Saúde do Sistema Penitenciário, vem sendo 
executado através de uma equipe de saúde que atua desde 2012 sob regime ambulatorial, 20 
horas semanais na Casa de Reeducação constituída de médica, enfermeiro, assistente social, 
dentista, técnico em enfermagem, técnico de consultório dentário e psicólogo. A equipe 
realiza ações curativas nasinstalações físicas, bem como ações de educação em saúde e de 
promoção à saúde e prevenção a agravos, a saber: imunização, testagem rápida para 
HIV/sífilis/hepatites virais; acompanhamento gestacional, acompanhamento de hipertensos e 
diabéticos, entre outros agravos à saúde. Em caso que necessite exames e encaminhamento 
aos especialistas, as detentas aguardam o agendamento que, geralmente, vem se dando de 
forma demorada pela Central de Regulação Municipal. As instalações físicas dificultam a 
prestação de cuidados da equipe de saúde, bem como as condições de higiene e alimentação. 
 
3.3. População 
 
A população do estudo correspondeu a todas as mulheres privadas de liberdade que 
cumprem pena na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão, totalizando 449 presidiárias. 
Contudo, para participar do estudo foram considerados os seguintes critérios de inclusão: 1) 
estar em situação provisória ou sentenciada; 2) aceitar participar do estudo no momento da 
29 
 
coleta de dados. Como critérios de exclusão foram considerados: 1) apresentar dificuldade 
cognitiva que impossibilite a participação no momento da entrevista; 2) não aceitar assinar o 
TCLE. 
 Dessa forma, das 252 mulheres que estavam em regime provisório ou sentenciadas 
199 participaram do estudo, correspondendo a 78,9% das mulheres encarceradas no regime 
fechado na instituição. 
 
3.4. Instrumento de Coleta de Dados 
 
Para coleta de dados foram utilizados cinco instrumentos, sendo quatro com validação 
no Brasil (escalas) e um construído pela pesquisadora para a população estudada 
(questionário): 1) Questionário de identificação do perfil sócio-demográfico-clinico das 
mulheres (Apêndice B) e 2) Escala de Religiosidade de Duke- DUREL (Anexo 1); 3) BDI- 
Inventário Beck de Depressão (Anexo 2); 4) BAI – Inventário Beck de Ansiedade (Anexo 3) e 
5) BSI-Escala de Ideação Suicida Beck (Anexo 4). 
 
- Escala de Religiosidade de Duke- DUREL 
A DUREL possui cinco itens que captam três das dimensões de religiosidade que mais 
se relacionam com desfechos em saúde: organizacional (RO), não organizacional (RNO) e 
religiosidade intrínseca (RI).Os primeiros dois itens abordam RO e RNO, foram extraídos de 
grandes estudos epidemiológicos realizados nos Estados Unidos e se mostraram relacionados 
a indicadores de saúde física, mental e suporte social. Os outros itens se referem à RI e são os 
três itens da escala de RI de Hoge que melhor se relacionam coma pontuação total nesta 
escala e com suporte social e desfechos em saúde (Koenig et al., 1997). Na análise dos 
resultados da DUREL, as pontuações nas três dimensões (RO, RNO e RI) foram analisadas 
separadamente e os escores dessas três dimensões não foram somados em um escore total. 
Considerando a importância de Beck no estudo das cognições disfuncionais e sua 
preocupação com o desenvolvimento e validação de instrumentos que propiciassem maior 
consistência e adequação diagnóstica, três instrumentos da sua escala foram utilizados. As 
escalas incluem a escolha de alternativas que descrevem o que o sujeito tem sentido na última 
semana, inclusive na data da aplicação. A intenção é que ele aponte um traço mais persistente 
e não apenas do estado de humor do dia em que foi administrada a escala. Ambas são escalas 
de auto-relato (Araújo et al, 2009). 
 
30 
 
-BDI- Inventário Beck de Depressão 
Compreende uma escala de 21 itens, cada um com quatro alternativas, indicando graus 
crescentes de depressão, centrando-se em assertivas que expressam, além de sintomas físicos, 
cognições típicas de pacientes deprimidos. Os itens se referem à tristeza, pessimismo, 
sentimento de fracasso, insatisfação, culpa, punição, auto-aversão, autoacusações, ideias 
suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança na autoimagem, 
dificuldade de trabalhar, insônia, fatigabilidade, perda de apetite, perda de peso, preocupações 
com a saúde, perda da libido. O nível de depressão é classificado de acordo com a pontuação 
total obtida: de 0 a 11 = mínimo, de 12 a19 = leve, de 20 a 35 = moderado e de 36 a 63 = 
grave (Pereira et al, 2009). 
 
-BAI – Inventário Beck de Ansiedade 
Contém 21 itens, cada um com quatro alternativas, indicando graus crescentes de cada 
sintoma. Os itens são referentes à dormência ou formigamento, sensação de calor, tremores 
nas pernas, incapacidade de relaxar, medo que aconteça o pior, atordoamento ou tontura, 
palpitação ou aceleração do coração, dificuldade de equilíbrio, sentimento aterrorizado, 
nervosismo, sensação de sufocação, tremores nas mãos, tremores no corpo, medo de perder o 
controle, dificuldade de respirar, medo de morrer, comportamento assustado, indigestão ou 
desconforto no abdômen, sensação de desmaio, rosto afogueado e suor. O nível de ansiedade 
é classificado como: de 0a 10 = mínimo, 11 a 19 = leve, 20 a 30 = moderado, 31 a 63 = grave. 
 
-BSI-Escala de Ideação Suicida Beck (BSI) 
Tem por finalidade medir a extensão do desejo de morrer e de tentar suicídio. É 
constituída por 21 itens, cada um com três alternativas de resposta (0 a 2), que avaliam três 
dimensões da ideação suicida: ativa, passiva e tentativa prévia de suicídio. Caso a pontuação 
total seja equivalente a seis ou mais, a ideação suicida é considerada clinicamente 
significante. 
Os primeiros 19 itens refletem gradações da gravidade de desejos, atitudes e planos 
suicidas. Os dois últimos itens possuem caráter meramente informativo e informam o número 
de tentativas prévias de suicídio e a seriedade da intenção de morrer, na última delas. Este 
instrumento não pode prever um suicídio eventual, mas aponta para a existência de risco de 
suicídio entre os que apresentam ideação suicida. 
 
3.5. Coleta de Dados 
31 
 
 
Inicialmente foi feito contato prévio com a direção da Instituição e equipe de saúde da 
unidade prisional, após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), os dados foram 
coletados no local definido, individualmente, sendo o preenchimento dos instrumentos feitos 
pela pesquisadora, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e 
esclarecimento das detentas. 
A equipe, previamente treinada, constituiu- se por um auxiliar de pesquisa (estudante 
de psicologia), uma psicóloga que trabalha na Casa Prisional e a pesquisadora, a qual 
capacitou os entrevistadores. A pesquisa foi aplicada individualmente em forma de entrevista 
estruturada pela psicóloga. A coleta individual, considerou os procedimentos de segurança 
dos presídios que não permitem a realização de pesquisas com mais de uma apenada, além 
disso, o alto índice de analfabetismo presente na população carcerária impossibilitaria o 
preenchimento dos instrumentos pelos participantes. 
As mulheres encarceradas foram convidadas individualmente à sala de atendimento 
psicológico, todas as mulheres recolhidas na casa de reeducação, com o intuito de esclarecer o 
objetivo e a metodologia da pesquisa a cada participante. Com cada uma destas foi realizada 
uma única sessão, ocasião em que os cinco instrumentos foram aplicados com tempo 
estimado de 50 minutos. 
Os casos identificados de depressão, ansiedade e ideação suicida foram apresentados à 
equipe de saúde do sistema prisional para prestação de cuidados junto às mulheres 
presidiárias. Além disso, após organização dos resultados da pesquisa, foi realizada reunião 
com equipe e direção do presidio para construção de plano de intervenção a partir dos 
problemas identificados. 
 
 
3.6. Análise dos Dados 
 
Os dados foram digitados (codificados e em alguns casos agrupados) em uma planilha 
eletrônica do programa Excel versão 2010, e posteriormente tratados estatisticamente com o 
software Statistica Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 20.0. Os 
resultados obtidos foram analisados por meio de técnicas de estatística descritiva e inferencial. 
A amostra foi descrita estatisticamente em suascaracterísticas gerais, diante 
análise das distribuições de frequência das variáveis dependentes e independentes. 
32 
 
Realizou-se a análise através da regressão logística binária e aplicação de teste de 
Fisher’s. 
Os métodos de regressão tornaram-se um componente integral de qualquer análise de 
dados relacionada à descrição da relação entre uma variável de resposta e uma ou mais 
variáveis explicativas. É comum que a variável de resultado seja discreta, assumindo dois 
valores possíveis. Ao longo da última década, o modelo de regressão logística foi usado em 
muitos campos, o método padrão de análise nesta situação (Hosmer, Lemeshow, 2000). 
 
3.7. Considerações Éticas 
 
Na realização da pesquisa foram considerados os requisitos apresentados pela 
Resolução 466/2012, relativa à pesquisa com seres humanos, privilegiando a dignidade e 
respeito pelos sujeitos da pesquisa (Brasil, 2012). Dessa forma, foram observados os aspectos 
relacionados à privacidade e os direitos do participante de participar por livre e espontânea 
vontade, podendo desistir em qualquer momento ou ter acesso a todo o conteúdo deste 
trabalho. O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa, 
sendo aprovado através da emissão do parecer nº. 1.092.050 de 2015. Salienta-se ainda, que 
todos os participantes foram informados e esclarecidos sobre a temática e o caráter científico 
da pesquisa e assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 
 
 
 
 
 
 
4. RESULTADOS 
 
4.1. Dados sociodemográficos 
 
Visando atender o objetivo de apresentar a caracterização sociodemográfica das 
participantes do estudo, foi realizada a tabulação das variáveis, dessa forma a tabela 1, 
apresenta os principais dados sociodemográficos das pesquisadas, cabe destacar que os dados 
foram coletados entre o período de março de 2016 a março de 2018. De acordo com o perfil 
33 
 
das mulheres privadas de liberdade estudadas, apesar de existirem mulheres com idade 
mínima de 18 anos e máxima de 64 anos, a média de idade das participantes foi 
aproximadamente de 30 anos, com desvio padrão de 8,7 anos, onde a concentração maior 
delas se encontra com idade entre 18 a 34 anos, 77,4%. Quando identificado a raça/cor dessas 
mulheres, foi possível observar uma certa igualdade na distribuição com: branca (39,2%), 
preta (32,7%) e parda (28,1%). Entretanto, considerando que a população preta e parda, 
correspondem a população negra, temos uma predominância significativa de 60,8%. A 
respeito da escolaridade dessas mulheres, é possível verificar que 74,4% delas possuem no 
máximo o ensino fundamental completo. Na questão da religião, 94,5% se consideram cristãs, 
no tocante à renda familiar 76,9% afirmaram que não recebiam mais do que um salário 
mínimo. Ao serem questionadas sobre o estado civil, 45,2% referiu estar solteira e 45,2% em 
união estável. 
TABELA 1. Distribuição sócio-demográficas das mulheres privadas de 
liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão 
localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade 
de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 Dados Sócio-demográficos n % 
Faixa Etária 
 
 
18 a 34 anos 154 77,4 
 
35 a 49 anos 36 18,1 
 
acima de 50 anos 9 4,5 
 Raça/Cor 
 
 
Branca 78 39,2 
 
Preta 65 32,7 
 
Parda 56 28,1 
 Escolaridade 
 
 
Analfabeta 9 4,5 
 
Ensino Fundamental 139 69,8 
 
Ensino Médio 43 21,7 
 
Ensino Superior 8 4,0 
 
Continuação 
 Dados Sócio-demográficos n % 
Estado Civil 
 
 
Solteira 90 45,2 
 
Casada 11 5,5 
 
Separada 8 4,1 
 
União Estável 90 45,2 
 Religião 
 
 
Cristã 188 94,5 
 
Não Cristã 9 4,5 
 
Não Informado 2 1,0 
 Renda Familiar 
 
34 
 
 
Até 1 salário mínimo 153 76,9 
 
2 a 3 salários mínimos 39 19,6 
 
Acima de 3 salários mínimos 7 3,5 
 Total 199 100,0 
 
4.2.Dados relacionados à privação de liberdade 
 
Na tabela 2, evidencia-se que a população pesquisada é constituída por 53,3% de 
presas provisórias que aguardam decisão da Justiça a respeito do processo criminal pelo 
qual estão respondendo e, 46% de presas condenadas. Um percentual de 41,7% das 
mulheres tem história de aprisionamento anterior. Das sentenciadas, a maioria deverá 
cumprir pena de 5 a 10 anos (41,9%), sendo que 39,8% das entrevistadas cumpriram até 
25% da pena e 38,7% entre 25% - 50% da sentença. Com relação ao delito praticado, a 
maioria responde por tráfico de drogas, seguido de roubo, homicídio e furto. 
 
TABELA 2. Distribuição da situação penal das mulheres privadas de 
liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão 
localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na 
cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Dados situação penal n % 
Condenação? 
 
 
Sim 92 46,2 
 
Não 106 53,3 
 
Não Informado 1 0,5 
 Prisões Anteriores? 
 
 
Sim 83 41,7 
 
Não 113 56,8 
 
Não informado 3 1,5 
 Continuação 
Dados situação penal n % 
Tempo de condenação (n=93) 
 
 
02 |----- 05 anos 5 5,4 
 
05 |----- 10 anos 39 41,9 
 
10 |----- 15 anos 29 31,1 
 
15 |----- 20 anos 9 9,7 
 
20 |----- 30 anos 9 9,7 
 
Não informado 2 2,2 
 
 
Tempo de pena cumprida (n=93) 
 0% |----- 25% da pena 37 39,8 
 25% |------ 50% da pena 36 38,7 
35 
 
 50% |------ 75% da pena 15 16,1 
 75% |------ 100% da pena 3 3,2 
 Não informado 2 2,2 
 
Total 199 100,0 
 
No tocante às condições de convívio, a tabela 3 revela que 50,8% possuem 
companheiro, contudo 62,4% está privado de liberdade, o que pode estar associado ao 
percentual significativo de mulheres que não recebem visita 33,7%. A maioria das mulheres 
presas não desenvolvem atividades de trabalho 74,5% e não recebem beneficio 76%. 
TABELA 3. Distribuição das condições de convívios das mulheres 
privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia 
Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de 
Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Dados de Convívio n % 
Convivência 
 
 
Só 98 49,2 
 
Companheiro(a) 101 50,8 
 Recebe visita? 
 
 
Sim 131 65,8 
 
Não 67 33,7 
 
Não informado 01 0,5 
 Companheiro(a) Privado(a) de liberdade 
(n=101) 
 
Sim 63 62,4 
 
Não 37 36,6 
 
Não informado 01 1,0 
 
Inserção em Atividades de Trabalho 
 Sim 51 25,5 
 Não 149 74,5 
 
 
Continuação 
Dados de Convívio n % 
Recebe algum tipo de Benefício 
 Sim 47 23,6 
 Não 152 76,4 
 
 Total 199 100,0 
 
 
4.3.Dados sobre o histórico 
 
36 
 
 Referente ao histórico das mulheres pesquisadas, a tabela 04 revela que 45,2% das 
mulheres tiveram agressão física anterior ao aprisionamento e 13,6% das mulheres têm 
história de agressão sexual. No tocante ao suicídio na família 7% afirmaram ter histórico, 
sendo que 33,7% das entrevistas já tentaram suicídio. Quando perguntado sobre o período em 
que tentaram o suicídio, 38,8% relatou que foi a mais de 5 anos. 
 Referente ao acompanhamento psicológico, apenas 17,6% afirmaram ter algum 
suporte psicológico e apenas 3,5% referiu acompanhamento psiquiátrico. 
 
TABELA 4. Distribuição do histórico das mulheres privadas de 
liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão 
localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira na 
cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 Dados sobre Histórico n % 
História de Agressão Física Anterior 
 
 
Sim 90 45,2 
 
Não 109 54,8 
 História de Agressão Sexual Anterior 
 
 
Sim 27 13,6 
 
Não 123 61,8 
 
Não informado 49 24,6 
 História de Suicídio na Família 
 
 
Sim 14 7,0 
 
Não 184 92,5 
 
Não informado 1 0,5 
 Acompanhamento Psiquiátrico 
 
 
Sim 7 3,5 
 
Não 139 69,8 
 
Não informado 53 26,7 
 
 
 
Continuação 
Dados sobre Histórico n % 
Acompanhamento Psicológico 
 
 
Sim 35 17,6 
 
Não 110 55,3 
 
Não informado 54 27,1 
 Tentativa de Suicídio 
 
 
Sim 67 33,7 
 
Não 132 66,3 
 Tempo de Tentativa de Suicídio (n=67) 
 Menos de 1 ano 12 17,937 
 
 1 ano |--- 2 anos 12 17,9 
 2 anos |--- 5 anos 17 25,4 
 5 anos ou mais 26 38,8 
 
Total 199 100,0 
 
 
 
4.4.Condições Físicas, Clínica e Medicamentosa 
 
Ao analisar as informações clínicas das apenadas, 46,7% demonstraram estar fora do 
peso considerado ideal, sendo 10 (5,0%) apenadas abaixo do peso e 83 (41,7%) entre 
levemente acima do peso a um grau de obesidade mórbida. Somente 19,1% delas, 
responderam sentir falta de apetite. Com relação a horas de sono, destacou-se o alto 
percentual para apenadas que dorme menos de 7 horas, chegando a 40,2%. Ao perguntar 
sobre atividade sexual, 76,4% das apenadas informaram não ter nenhuma atividade. 56,8% 
responderam fazer uso de cigarros no seu dia a dia. Com relação a presença de alguma 
deficiência, somente 3 (1,5%) informaram possuir. 
A tabela 05 revela que, 149 (aproximadamente 75,0%) responderam se fazem uso ou 
não de drogas, dentre eles, 99 (50,0%) afirmaram fazer uso de drogas. Ao ser perguntado 
sobre uso de medicamento, somente 25,1% responderam que sim. E em relação a uso de 
psicofármaco, 15,6% disseram que fazem uso, sendo destes a maioria se referir a ansiolíticos 
e antidepressivos, especialmente o benzodiazepínico, diazepam e o antidepressivo tricíclico, 
amitriptilina. No tocante ao tempo de uso de psicotrópicos, 38,7% revelou usar por mais de 5 
anos. 
 
 
TABELA 5. Distribuição das condições físicas, clinicas e 
medicamentoso das mulheres privadas de liberdade na Casa 
de Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no 
Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de João 
Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Dados Clínicos n % 
Índice de Massa Corporal 
 
 
Abaixo do peso 10 5,0 
 
Peso Ideal 106 53,3 
 
Levemente acima do peso 51 25,6 
 
Obesidade grau I 24 12,1 
38 
 
 
Obesidade grau II (severa) 6 3,0 
 
Obesidade grau III (Mórbida) 2 1,0 
 Alteração Alimentar 
 
 
Falta de apetite 38 19,1 
 
Não 161 80,9 
 Horas de Sono 
 
 
De 3 as 7 horas 80 40,2 
 
De 7 as 9 horas 84 42,2 
 
Acima das 9 horas 34 17,1 
 
Não informado 1 0,5 
 Atividade Sexual 
 
 
Sim 46 23,1 
 
Não 152 76,4 
 
Não Informado 1 0,5 
 Deficiência 
 Visual 1 0,5 
 Auditiva 1 0,5 
 Física 1 0,5 
 Nenhuma 196 98,5 
 
Tabagismo 
 
 
Não 87 43,7 
 
01 a 10 cigarros 42 21,1 
 
10 a 20 cigarros 54 27,7 
 
mais de 20 cigarros 16 8,0 
Faz uso de drogas 
 
 
Sim 99 49,8 
Não 50 25,1 
Não Informado 50 25,1 
Continuação 
Dados Clínicos n % 
 Uso de Medicamentos 
 
 
Sim 50 25,1 
Não 149 74,9 
 
Faz uso de Psicofármacos 
 
 
Sim 31 15,5 
 Não 167 
84,0 
 Não Informado 1 
0,5 
39 
 
Tempo de uso do Psicofármacos (n=31) 
 Menos de 1 ano 5 16,1 
 1 ano |--- 2 anos 5 16,1 
 2 anos |--- 3 anos 4 12,9 
3 anos |--- 5 anos 2 6,5 
5 anos ou mais 12 38,7 
Não informado 3 9,7 
 
 
 Total 199 100,0 
 
4.5.Saúde mental entre mulheres privadas de liberdade 
 
A tabela 6 demonstra o resultado da aplicação do Inventário de Beck, revelando baixa 
prevalência de sinais ansiosos, moderado a grave (7%). No entanto, a tabela 7, apresenta 
significativos sinais de depressão, sendo classificadas como moderado e grave 22,5% das 
entrevistadas. Aqui no estudo usaremos o termo com sintomas para essas mulheres, e sem 
sintomas para as que apresentaram classificação mínima e leve. 
 
TABELA 6. Distribuição da ansiedade, conforme escala de 
Beck entre das mulheres privadas de liberdade na 
Casa de Reeducação Maria Júlia Maranhão 
localizada no Complexo Penitenciário de 
Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 
199) 
Escala n % 
Mínimo 113 56,8 
Leve 72 36,2 
Moderado 12 6,0 
Grave 2 1,0 
Total 199 100,0 
 
 
TABELA 7. Distribuição da depressão, conforme escala de Beck 
entre das mulheres privadas de liberdade na Casa de 
Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no 
Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de 
João Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Escala n % 
Mínimo 67 33,7 
Leve 87 43,7 
Moderado 42 21,1 
40 
 
Grave 3 1,5 
Total 199 100,0 
 
 
4.6.Religiosidade entre privadas de liberdade 
 
 No tocante à religiosidade das entrevistadas, conforme Índice de Religiosidade de 
Duke, pode-se verificar que em relação à religiosidade organizacional, as entrevistadas têm 
uma frequência significativa da resposta pelo menos uma vez por semana, totalizando 73,9%. 
Cabe destacar que na unidade dispõe-se de um espaço religioso. 
 
TABELA 8. Distribuição da frequência a igreja, templo ou outro 
encontro religioso, conforme inventário de Ducke 
entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de 
Reeducação Maria Júlia Maranhão localizada no 
Complexo Penitenciário de Mangabeira na cidade de 
João Pessoa – PB. (n =199) 
 Classificação n % 
Mais do que uma vez por semana 25 12,6 
Uma vez por semana 122 61,3 
Duas a três vezes por mês 24 12,1 
Algumas vezes por ano 11 5,5 
Nunca 17 8,5 
Total 199 100,0 
 
Referente à religiosidade não organizacional, a tabela revela os mesmos índices à 
religiosidade organizacional, totalizando 73, 9% da resposta pelo menos uma vez por semana, 
conforme evidenciado pela tabela 9. 
 
 
TABELA 9. Distribuição da frequência da dedicação do tempo a 
atividades religiosas individuais, como preces, rezas, 
meditações, leitura da bíblia ou de outros textos 
religiosos, conforme inventário de Ducke, entre as mulheres 
privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria Júlia 
Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de 
Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Classificação n % 
Mais do que uma vez ao dia 23 11,6 
Diariamente 124 62,3 
41 
 
Duas ou mais vezes por semana 21 10,6 
Uma vez por semana 8 4,0 
Poucas vezes por mês 5 2,5 
Raramente ou nunca 18 9,0 
Total 199 100,0 
 
 
A tabela 10 destaca as respostas referentes à religiosidade intrínseca, relacionado aos 
sistemas de crenças individuais e a postura perante o mesmo. As respostas aos 
questionamentos sobre a presença de deus (pergunta 3) e esforço para viver na religião 
(pergunta 5) revelaram estar bem presente na vida das entrevistadas 83% e 74,9%, 
respectivamente, quando somado as duas classificações iniciais. No entanto, a resposta a 
pergunta 4 acerca sobre a interferência das crenças religiosas na forma de viver evidencia um 
distanciamento das crenças nas posturas diárias, totalizando 49,8% quando somada as 
alternativas em geral não é verdade e não é verdade. 
TABELA 10. Distribuição da frequência das respostas as perguntas 3,4,5 do 
instrumento de avaliação de índice de Religiosidade de Duke aplicado 
entre as mulheres privadas de liberdade na Casa de Reeducação Maria 
Júlia Maranhão localizada no Complexo Penitenciário de Mangabeira 
na cidade de João Pessoa – PB. (n = 199) 
 
Classificação 
Pergunta (3) Pergunta (4) Pergunta (5) 
n % n % n % 
Totalmente verdade para mim 83 41,7 18 9,0 29 14,6 
Em geral é verdade 94 47,3 63 31,7 120 60,3 
Não estou certo 15 7,5 19 9,5 19 9,5 
Em geral não é verdade 6 3,0 58 29,2 20 10,1 
Não é verdade 1 0,5 41 20,6 11 5,5 
Total 199 100,0 199 100,0 199 100,0 
Pergunta (3): Em minha vida, eu sinto a presença de Deus (ou do Espirito Santo) 
 
Pergunta (4): As minhas crenças religiosas estão realmente por trás de toda a minha maneira de viver 
Pergunta (5): Eu me esforço muito para viver a minha religião em todos os aspectos da vida 
 
4.7.Ideação suicida entre mulheres privadas de liberdade 
 
Após o preenchimento da escala de ideação suicida, apenas 5,5% das entrevistas 
apresentou ideação suicida clinicamente significante, embora 33,5% referiu tentativa de 
suicídio anterior conforme apresentado na tabela 11. 
 
TABELA 11. Distribuição da frequência de Ideação 
suicida entre as mulheres privadas de 
liberdade na Casa de Reeducação Maria 
42 
 
Júlia Maranhão localizada no Complexo 
Penitenciário de Mangabeira na cidade de 
João Pessoa – PB. (n = 199)

Continue navegando