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LIVRO PRATICAS DE ENSINO

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PROFESSORAS
Me. Ana Lúcia Sales
Me. Veroni Friedrich
Me. Vivian Fernandes Carvalho de Almeira
Prática de Ensino: 
Documentos 
e Tecnologias 
Aplicadas ao 
Ensino de 
História
ACESSE AQUI O SEU 
LIVRO NA VERSÃO 
DIGITAL!
EXPEDIENTE
Coordenador(a) de Conteúdo 
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e 
Matheus Silva
Editoração
Alan Francisco, Caroline Casarotto 
Andujar, Piera Consalter Paoliello
Design Educacional
Patrícia Ramos Peteck
Curadoria
Cléber Rafael Lopes Lisboa
Revisão Textual
Carla Cristina Farinha, Meyre Apare-
cida Barbosa da Silva, Sarah Mariana 
Longo Carrenho Cocato
Ilustração
Wellington Vainer
Fotos
Shutterstock
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Impresso por: 
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. SALES, Ana Lúcia; FRIEDRICH, 
Veroni; ALMEIRA, Vivian Fernandes Carvalho de.
Prática de Ensino: Documentos e Tecnologias Aplicadas 
ao Ensino de História. Ana Lúcia Sales, Veroni Friedrich, 
Vivian Fernandes Carvalho de Almeira. Maringá - PR: 
Unicesumar, 2022. 
224 p.
ISBN 978-85-459-2332-9 
“Graduação - EaD”. 
1. Documentos 2. Tecnologias 3. História. 4. EaD. I. Título. 
CDD - 22 ed. 372.9
FICHA CATALOGRÁFICA
02511332
Me. Ana Lúcia Sales de Lima
Quando eu era adolescente, durante o Ensino Médio, 
lembro-me de ajudar meus professores: carregando seus 
materiais, apagando o quadro e, até mesmo, fazendo cha-
mada da minha turma. Tive professores incríveis durante 
a minha caminhada escolar e acredito que isso foi funda-
mental para chegar aonde estou.
Em 2001, comecei a estudar História. De lá para cá, 
posso lhe assegurar que eu cresci muito como profissio-
nal, mas, principalmente, como pessoa. Depois da gradua-
ção, me especializei em História e Sociedade, em que tive 
um contato maior com a pesquisa histórica. Anos depois, 
em 2009, consegui ingressar no mestrado em História na 
UEM (Universidade Estadual de Maringá).
No ano em que eu terminei meu mestrado, fui chamada 
para assumir o concurso de professores do Estado do Pa-
raná que eu havia feito em 2007. Comecei a lecionar como 
professora de História na Educação Básica Pública em 2012, 
e cá estou até hoje! Fazendo o que eu amo todos os dias. 
Em 2015, tive a oportunidade de assumir como do-
cente do curso de História na EaD (Educação a Distância) 
da Unicesumar, realizando o maior sonho da minha vida 
profissional. Nessa instituição de ensino, busco me capa-
citar e almejo sempre proporcionar uma aprendizagem 
dinâmica e significativa para meus alunos. 
Nessa premissa, espero que você tenha uma experiên-
cia incrível com esse material e que ele, além de integrar a 
formação acadêmica, seja um convite especial à pesquisa!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17550
Me. Veroni Friedrich 
Olá, aluno(a)! Eu sou a professora Veroni Friedrich e me 
apresentarei lhe contando um pouco sobre mim. 
Com o avançar dos anos e estudos, o entendimento de 
que História é um convite à vida e ao presente, os quais 
pulsam loucamente, permitiu que me fizesse graduada 
em História, especialista em História das Religiões e mes-
tre em Patrimônios Culturais. E, atualmente, sou docen-
te da Unicesumar — atuando, especialmente, no campo 
das religiões e dos patrimônios culturais —, professora da 
rede pública do Estado do Paraná e historiadora na Ge-
rência do Patrimônio Histórico do Município de Maringá.
Escolhi essa ciência por ter a clareza de que, mesmo 
sendo um ato complexo, é preciso identificar, racionali-
zar e conferir inteligibilidade aos pensamentos e às ações 
humanas. É preciso, entendo eu, atingir compreensões e 
formular explicações aos processos históricos — dos mais 
distantes aos mais próximos do nosso tempo. É necessário 
irmos do macro à história local, da historicidade dos sujei-
tos mais notórios à dos mais anônimos. Para, então, delibe-
rarmos sobre o que manteremos das condições históricas 
apresentadas, o que mudaremos, por que o faremos e por 
quais caminhos é possível construir novas condições so-
ciais que sejam menos excludentes e mais inclusivas.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17549
Me. Vivian Fernandes Carvalho 
A vida me levou para a História quando eu tinha 24 anos 
e um filho de quatro! E quando você começa esse curso 
apaixonante, não consegue parar, não é mesmo? Apesar 
da paixão pela História, eu não sabia se a docência era o 
que eu queria. Incerteza que me deixou na primeira aula 
do estágio. A dúvida se foi e ficou a certeza de que eu seria 
feliz compartilhando meus conhecimentos e aprendendo 
com cada aluno que passasse pela minha vida.
Concluí o curso de História em 2007, com a certeza de 
um amor incondicional pela História e pelos dois filhos 
que tinha até então. O mestrado veio como consequên-
cia do amor pela pesquisa. Em fevereiro de 2012, eu era 
mestre em História e mãe de três seres maravilhosos que 
enchem minha vida de muita vida, alegria e um tiquinho 
de preocupação e insônia! 
As andanças da vida me trouxeram à Unicesumar 
em 2014 e, desde então, sou professora no curso de Li-
cenciatura em História. Hoje, além da minha paixão pela 
História, sinto-me completa ao me dedicar à Prática de 
Ensino, pensando em novas possibilidades para tornar 
a disciplina de História mais atrativa aos nossos alunos e 
me sinto honrada por fazer parte da produção deste livro 
que, espero, contribua para sua formação como futuro(a) 
professor(a) de História!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17546
Quando escolhi o curso de História, não era a minha intenção ser professora. Minha 
paixão era a História em si, enquanto ciência, enquanto área de conhecimento e pes-
quisa. As coisas começaram a mudar quando entendi que mesmo como professora 
poderia desenvolver pesquisas, aprofundar-me nas áreas que mais me interessavam... 
Entendi que todo professor precisa ser um pouco pesquisador.
Depois de aceitar o legado docente, surgiram outros receios, percebi que eu não 
estava preparada para ser uma professora! Eu havia, sim, tido muitas disciplinas rela-
cionadas à docência, entretanto TODAS eram disciplinas teóricas. Ninguém me ensinou 
a preparar uma aula de História e, apesar de compreender que a História é feita de 
documentos, eu tinha muitas dúvidas acerca de como utilizá-los em sala de aula! Eu 
deveria priorizar os documentos textuais em detrimento dos não textuais? Haveria 
restrições quanto ao uso de documentos imagéticos e fílmicos? Como selecionar o 
documento certo, considerando que tudo é documento para a História? Como tornar 
minha aula atrativa, mas sem perder seu objetivo maior, alcançar o aprendizado da 
História, que significa dar conta dos conteúdos?
É claro que muitas dessas questões aprendemos apenas fazendo! Nossos profes-
sores, também, passaram por isso. Contudo, uma coisa é certa: quando falamos sobre 
o assunto, quando participamos de reflexões acerca de dadas situações, sem dúvida, 
sentir-nos-emos mais preparados.
E você compartilha desses receios que eu vivenciei? Você concorda que precisamos 
de um espaço para pensarmos como elaborar aulas de História de forma que as elas 
sejam, sim, atrativas, mas, acima de tudo, que sejam produtivas?
Não sei quais são seus receios e suas preocupações, mas acredito sinceramente 
que, se, de algum modo, você se preocupa com essas questões, já é um grande passo 
para você se tornar um professor de História comprometido e inovador!
O primeiro passo para importantes mudanças é o incômodo, e convenhamos: se 
temos alunos que afirmam que acham a disciplina de HIstória chata ou mesmo que 
percebem como essa disciplina pode contribuir para a vida deles, é porque muita coisa 
precisa de mudança.
PRÁTICA DE ENSINO: DOCUMENTOS E TECNOLOGIAS 
APLICADAS AO ENSINODE HISTÓRIA
Este livro tem como objetivo levar cada aluno(a) que passar por este curso a refletir 
acerca de duas questões importantes, e, para isso, organizamos o livro da seguinte forma:
Na Unidade 1, realizamos uma discussão em torno da estreita e indispensável asso-
ciação entre o campo historiográfico e as fontes históricas, considerando as distinções 
entre os fatos históricos e a configuração da História enquanto um campo do saber. Nesse 
processo, será abordada a ligação entre tal ciência e os documentos de natureza histórica. 
Na sequência, na Unidade 2, apresentamos a historicidade do documento histórico 
e tratamos do seu surgimento frente à constituição da História enquanto uma ciência. 
Trazemos considerações sobre o emprego de várias fontes textuais no que concerne à 
produção e docência em História. Nesse debate, pontuamos as possibilidades de uso 
e os cuidados metodológicos que se fazem necessários. 
 Por sua vez, na Unidade 3, falaremos sobre as possibilidades de uso de biografias, li-
vros de cunho histórico e canções no âmbito da docência em aprendizagem desse campo 
do saber. Na Unidade 4, avaliamos as potencialidades de inserção das fontes cinemato-
gráficas e imagéticas nas aulas de História. Duas unidades que dialogam profundamente.
E, por fim, na Unidade 5, tratamos das fontes orais e jornalísticas no cotidiano das 
aulas de História. Ademais e em uma compreensão de que tudo pode ser fonte para o 
campo historiográfico, consideramos a utilização da cultura material, expressas pelos 
bens culturais, para o processo de ensino e aprendizagem de nossa ciência.
Julgamos ser necessário frisar que nenhum autor e obra finalizam um assunto ou 
temática. O saber, como não poderia deixar de ser, sempre se faz parcial e precisa ser 
ampliado por novas pesquisas e produções. Assim, qualquer conhecimento expresso 
em um livro tem limites de abrangência. Todavia, nessas páginas, consideramos estar 
oportunizando um conhecimento significativo e pertinente no que concerne ao enten-
dimento das relações entre História, documentos, tecnologias e docência. 
Tendo dito tais palavras, convidamos você à leitura e análise dos assuntos e das 
questões pontuadas ao longo dessa obra. Fica o desejo de que ela seja compreensí-
vel, agradável e de contribuições à sua formação enquanto profissional que leciona e 
produz a Ciência da História. 
IMERSÃO
RECURSOS DE
Ao longo do livro, você será convida-
do(a) a refletir, questionar e trans-
formar. Aproveite este momento.
PENSANDO JUNTOS
NOVAS DESCOBERTAS
Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos 
de maneira interativa usando a tec-
nologia a seu favor.
Sempre que encontrar esse ícone, 
esteja conectado à internet e inicie 
o aplicativo Unicesumar Experien-
ce. Aproxime seu dispositivo móvel 
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex-
plore as ferramentas do App para 
saber das possibilidades de intera-
ção de cada objeto.
REALIDADE AUMENTADA
Uma dose extra de conhecimento 
é sempre bem-vinda. Posicionando 
seu leitor de QRCode sobre o códi-
go, você terá acesso aos vídeos que 
complementam o assunto discutido.
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
OLHAR CONCEITUAL
Neste elemento, você encontrará di-
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos, 
esquemas e fluxogramas os quais te 
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara
Professores especialistas e convi-
dados, ampliando as discussões 
sobre os temas.
RODA DE CONVERSA
EXPLORANDO IDEIAS
Com este elemento, você terá a 
oportunidade de explorar termos 
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar 
Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do 
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881
APRENDIZAGEM
CAMINHOS DE
1 2
3 4
5
SOBRE 
HISTÓRIA E 
O USO DE 
DOCUMENTOS 
PARA A SUA 
CONSTRUÇÃO
11
AS FONTES 
TEXTUAIS E 
SEUS USOS 
NO ENSINO 
DE HISTÓRIA: 
ALGUMAS
41
87
LITERATURA 
E MÚSICA NO 
ENSINO DE 
HISTÓRIA
129
CINEMA E 
IMAGENS NO 
ENSINO DE 
HISTÓRIA 
167
FONTE ORAL, 
JORNAIS E 
PATRIMÔNIO 
CULTURAL NO 
ENSINO DE 
HISTÓRIA
1Sobre História 
e o Uso de 
Documentos para 
a sua Construção
Me. Ana Lúcia Sales 
Me. Veroni Friedrich
Me. Vivian Fernandes Carvalho de Almeira 
Nesta unidade, caro(a) acadêmico(a), estabeleceremos aspectos que 
configuram a essência da Ciência História, pontuamos a historicidade 
das interpretações e definições do conceito “Documento Histórico”, 
abordaremos aspectos do uso das fontes históricas na produção e na 
docência em História e refletiremos acerca da sensibilidade necessária 
diante dos temas trabalhados em sala de aula.
UNIDADE 1
12
Frequentemente, ouvimos ou lemos nos noticiários que alguém “fez história”. Tal-
vez porque um atleta superou um recorde, ou porque alguém atingiu uma meta 
que se considerava inalcançável. O mesmo costuma ser dito de acontecimentos 
inéditos, como quando um negro vence a eleição presidencial nos Estados Uni-
dos. A questão é que todos ansiamos pelo reconhecimento histórico, afinal, quem 
não quer ser lembrado? Quem não deseja “ficar na história”?
Mas será que bater um recorde nos 100 metros rasos, postar um vídeo no 
Youtube que obteve milhões de visualizações, ou mesmo ser aclamado como 
profissional de destaque e termos inúmeros jornalistas declamando aos quatro 
cantos do mundo que “fizemos história” é o suficiente para “ficar na história”? E 
esse, “ficar na história”, é História?
Creio que depois desta chuva de perguntas, uma em particular está mar-
telando em sua cabeça agora: Afinal, o que é História? Quem define o que 
é História? 
Estamos em um curso de História e sabemos, não é novidade para você, que 
esta História a qual nos dedicamos é uma Ciência, mas, você já se perguntou 
acerca dos detalhes de sua construção, sobre quem a constrói, como a constrói, 
ou mesmo se você, como um indivíduo comum, participa dessa construção no 
escorrer diário e efêmero de sua existência?
Calma, não o(a) deixamos confusa(o) o suficiente, querida(o) futuro his-
toriador(a)! Faremos um exercício, já que estamos falando de “fazer história”, 
vamos pensar um pouco na sua. 
Pense em suas origens, no local onde cresceu. Seria ótimo se você tivesse 
umas fotos para recordar de sua infância, adolescência. Não sei sua idade, mas, 
talvez, você seja alguém mais experiente e já conheça bem as responsabilidades 
da vida adulta, talvez você até tenha filhos. Enfim, faça uma rápida retrospectiva 
de sua vida, de sua história.
Muito bem! Esperamos que tenha prevalecido as boas recordações. Agora, 
queremos que você responda algumas perguntas: no decorrer de sua vida, você 
“fez história”? Houve algo que marcou, de certa forma, os indivíduos à sua volta? 
Ou presenciou algum momento ou fato que você sabe que “ficou para a história”? 
Você conhece os detalhes desse fato? 
Talvez sua resposta não seja positiva para todas as perguntas, mas caso seja 
sim para algumas de nossas perguntas, gostaríamos que você registrasse o que 
veio à sua mente. Não se preocupe em como registrar, pode ser oralmente, em 
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vídeo no seu celular ou mesmo por uma rápida redação. O importante é que você 
registre esta narrativa de forma sincera. 
Você deve estar se perguntando: “o que essas professoras pretendem com 
isso”? No decorrer desta unidade, falaremos de muitas coisas, mas algo funda-
mental é deixarmos claro a diferença de narrativas e a História enquanto Ciência 
e acreditamos que uma boa forma de iniciarmos nossos estudos é levando-o(a) 
a perceber que independentemente dos conceitos que abordaremos aqui, você, 
assim como eu e cada acadêmico(a) que passa por este curso são todos “sujeitos 
históricos” e estão, de alguma forma, inseridos nesta grande teia de fatos que dão 
origem e sentido à Ciência a que temosnos dedicado nos últimos anos, em nosso 
caso, há muitos anos, mas preferimos não entrar em detalhes.
Passaremos, agora, a uma exposição rápida acerca dos assuntos que tratare-
mos nas próximas páginas e já destacamos que, como a Ciência História é cons-
truída com documentos, nesta unidade intitulada “Sobre História e Documentos”, 
nós focaremos em dois assuntos que não podem deixar de ser do domínio dos 
profissionais historiadores e precisam ser compreendidos por tais profissionais.
A primeira questão a ser abordada diz respeito ao que é, ou, ainda, em que se 
configura a Ciência História. A segunda versa sobre a estreita e imprescindível 
relação entre tal área do conhecimento científico e o mundo dos Documentos ou 
Fontes Históricas. No que diz respeito ao que é a Ciência Histórica, então, nossas 
pretensões são a de tecermos apontamentos que lhes sirvam como entendimen-
tos acerca dos aspectos básicos e constitutivos dessa área do saber. Falaremos da 
essência do campo historiográfico.
E, por sua vez, sobre a questão documental, as nossas pontuações e análises 
estarão voltadas a esclarecer como as Fontes historiográficas se fazem funda-
mentais ao saber histórico. No caso, quanto à sua produção e, mais especifica e 
especialmente, no âmbito da docência em História. Em função de desejarmos 
ampliar a discussão sobre esses dois pontos centrais, então, nós também tratare-
mos dos muitos e distintos tipos de documentos históricos que, atualmente, estão 
em uso e se fazem aceitos no campo historiográfico e igualmente para aplicação 
no âmbito do processo de ensino e aprendizagem dessa área do saber. 
Ressalta-se, também, que tratar das relações entre a Ciência História e os 
Documentos, apresentar a variação dos mesmos, bem como considerar os pro-
cedimentos metodológicos necessários ao uso desses no campo historiográfico é 
questão fundamental e indispensável à boa execução da profissão de historiador, 
UNICESUMAR
UNIDADE 1
14
pois se trata de um exercício absolutamente útil para que o ensino da disciplina 
História seja devidamente ministrado.
Feitas tais considerações, convidamos você a nos acompanhar, a prosseguir 
na leitura das páginas que seguem e que compreendem esta primeira unidade do 
livro. Sabemos que você está ansioso(a) para iniciar seus estudos e sanar as dúvi-
das que tinha e as que semeamos nas linhas anteriores. Mas, antes de seguir em 
frente, utilize este espaço para registrar suas percepções acerca dessas primeiras 
reflexões ou, quem sabe, as dúvidas que estão gritando em sua mente.
DIÁRIO DE BORDO
15
Prezado(a) graduando(a), como você bem sabe e em que pese o fato da histo-
ricidade humana ser recente em relação ao tempo cronológico do Universo e 
de nosso Planeta (COOK, 2005), diversos e impactantes acontecimentos con-
figuram e compõem aquilo que entendemos como sendo a nossa trajetória 
histórica. Mitos e religiões com a finalidade de explicar ou racionalizar o real, 
o sobrenatural ou o transcendente foram formulados e inventados pelos in-
divíduos e sociedades. A técnica de produção do fogo tornou-se conhecida, 
dominada e praticada. A fertilidade do solo se fez compreendida e, assim, os 
homens puderam abandonar a condição de nômades, tornaram-se sedentários 
e fundaram as primeiras sociedades agrícolas (COOK, 2005).
A humanidade deu significativos passos culturais ao elaborar e inventar um 
sistema de escrita. O excesso de produção e também a falta de dados bens e ali-
mentos estimulou a invenção das trocas e, depois, do comércio. Vilas e, na sequên-
cia, cidades se fizeram a partir de agrupamentos humanos. O Estado foi criado 
para organizar os interesses coletivos, reinos e impérios se fizeram (COOK, 2005).
As narrativas mitológicas, gradualmente, cederam espaços para a aplica-
ção do princípio da Razão. Surgiu a Filosofia com Sócrates, Platão e Aristóteles 
(HAMLYN, 1990). Alguns séculos adiante, Jesus, o “Cristo”, nasceu, mais que isso, 
ele influenciou a fundação de uma nova Era no Ocidente. O Cristianismo foi 
estabelecido, encontrou meios de sobrepor-se ao judaísmo e, no contexto de crise 
do paganismo romano, então, esse se tornou uma religião de Estado (JOHNSON, 
2001). Os povos bárbaros saquearam e conquistaram o Império Romano. A partir 
da cultura cristã, a sociedade das Três Ordens foi estabelecida e legitimada. Por, 
aproximadamente, mil anos, a ótica cristã em muito organizou a vida política, 
econômica, cultural e social do Ocidente medieval. A fé se fez maior e SE sobre-
pôs à razão. Esse princípio, em boa medida, ordenou e definiu as práticas dos 
medievos. Nessa mesma temporalidade histórica, aconteceram as Cruzadas e, 
adiante, a Peste Negra (LE GOFF, 2008).
No avançar dos séculos e já no período Moderno, configurou-se o Humanis-
mo, a Reforma Protestante, a Inquisição católica e o processo de Expansão maríti-
ma. O Mundo Contemporâneo conheceu o Iluminismo, a Revolução Francesa, a 
Independência das Colônias americanas e a Revolução Industrial (HOBSBAWM, 
1991). Também se configuraram a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa 
UNICESUMAR
UNIDADE 1
16
e a Segunda Guerra Mundial. Mais adiante, foi formulado um contexto para uma 
Guerra Fria polarizada por EUA e URSS (HOBSBAWM, 2000). Recentemente, 
assistimos ao episódio “11 de setembro” e à chamada Primavera dos Povos Árabes. 
Veja, caro(a) leitor(a), muitos são os acontecimentos que delinearam ou 
formataram a trajetória histórica do Ocidente, historicidade essa que é tam-
bém a nossa. E por qual motivo os citamos? Em função dos propósitos para 
esta unidade. Procedemos assim para, agora, lhe lançarmos uma indagação: 
poderíamos dizer que estaria na ocorrência desses significativos e impactantes 
eventos históricos citados - ou mesmo em outros que poderíamos ter usado 
como exemplo - a “Ciência Histórica”? 
Diante dos eventos listados apresentados, igualmente entendemos como 
oportuno lhe indagar: o simples saber sobre a configuração de tais aconteci-
mentos históricos, por mim, por você e pela sociedade, constituiria um conhe-
cimento histórico? Estarmos cientes de tais acontecimentos nos faz detentores 
de um conhecimento histórico?
Em resposta, temos a lhe dizer que não. Vamos relembrar o que você já apren-
deu em outras disciplinas e que é premissa básica de nosso campo de atuação. 
Ocorre, prezado(a) que a Ciência História é uma elaboração muito mais ampla, 
de alcance maior e mais abrangente do que o evento ou o fato histórico em si. 
Tal como dito por Veyne (1995), essa ultrapassa, em muito, a condição de mera 
informação sobre os episódios históricos. A Ciência História, diz ele, constitui-se 
em uma explicação científica sobre o passado.
Para tal discussão, faz-se importante relembrarmos premissas quanto às di-
ferenciações existentes entre os conceitos Fatos Históricos e Ciência História. 
Chamamos de Fatos Históricos os acontecimentos que se fazem causadores de 
transformações no cotidiano e vivências dos indivíduos e sociedades. Acrescenta-
-se que empregamos tal conceito para nos referirmos ao conjunto de eventos que 
se constituem em muito mais do que ocorrências não causadoras de alterações 
na ordem social (FRIEDRICH, 2014).
Ao definir o conceito Fatos Históricos, o historiador Priori (2010) observa 
que estes são todos aqueles episódios que se fazem capazes de gerar novos orde-
namentos de ordem política, econômica, social, religiosa e cultural. São, também, 
acrescenta ele, o conjunto de acontecimentos que solidificam novas formas de 
percepção da realidade bem como outras práticas sociais. E, por sua vez, a que 
17
nominamos Ciência História? Qual o significado de tal expressão? Expliquemos 
também este ponto. Tal conceito é aplicado para definir um campo do saber, da 
grande área das Ciências Humanas, direcionado à compreensão da historicidade 
de indivíduos e grupos sociais em diferentes temporalidades, espaços e no que 
diz respeito aos mais variados âmbitos da nossa historicidade.
Uma consulta à literatura também se faz útil parauma retomada no entendi-
mento do conceito Ciência História. Comecemos pelas observações de Russen 
(2001), que destaca a importância de tal campo do conhecimento ao dizer que um 
evento de relevância na trajetória histórica de uma dada sociedade quando se faz 
sem o acompanhamento de um olhar analítico e interpretativo, então, esse “não 
passa de material bruto, um fragmento de fatos mortos” (RUSSEN, 2001, p. 68).
Analisando suas considerações, conclui-se que a Ciência História se faz 
absolutamente necessária, posto que essa é justamente mais do que uma sim-
ples narrativa, ou contar sobre o passado, antes a mesma se faz uma análise que 
resulta na produção de conhecimento sobre as distintas ações humanas, nos 
mais diversos âmbitos e temporalidades. Burke (2012) pondera que a Ciência 
História, uma vez que apoiada em referenciais teóricos e metodológicos no 
trato com as Fontes, então, é, também, uma narrativa científica direcionada a 
produzir conhecimentos em torno daquilo que os homens já foram ou fizeram 
ao longo do processo de se fazerem humanos.
Caro(a) leitor(a), ditas tais palavras, proferidas no intuito de relembrar a você 
o que é a Ciência Histórica e o quanto ela se difere do acontecimento ou evento 
histórico, cremos que podemos avançar. E, no caso, discutindo a seguir as relações 
entre a História, Historiadores e os Documentos Históricos. Esta discussão se fará 
extremamente válida. Lembramos a você que o objetivo desta unidade é justa-
mente considerar o papel fundamental das Fontes Históricas na nossa Ciência, 
a História. Ao fazermos isso, cremos estar também lhe oferecendo instrumentos 
para pensar o papel das mesmas na docência em História.
Continuemos nossas discussões teóricas chamando sua atenção para um 
entendimento bastante compreensível e aceito entre aqueles que são profissio-
nais da Ciência Histórica. Este princípio é o de que os mortos morrem duas 
vezes diante da ausência dos historiadores ou da Ciência Histórica. Morrem 
enquanto curso normal da vida, mas se fazem também mortos quando uma 
interpretação e análise em torno do passado e mais próxima possível do real 
UNICESUMAR
UNIDADE 1
18
não é tecida. Morrem quando uma narrativa histórica frágil, que não é a dos 
bons historiadores, insiste em dizer que o passado se fez de uma forma que, 
efetivamente, não se faz condizente com o ocorrido. Morrem quando cores 
estranhas são dadas aos atos de indivíduos e grupos sociais, quando motivações 
e ações lhes são, indevidamente, atribuídas. Morrem quando memórias nada 
correspondentes ao real são constituídas e prevalecem. E, por fim, morrem 
também quando o passado é distorcido em função de militâncias, anacronismos 
e demandas do tempo presente que insistem, a título de se fazerem aceitas, em 
estabelecer versões pouco condizentes com o ocorrido.
Caro(a) acadêmico (a), ao apontar tal problemática e com a reflexão que ela pode 
lhe ensejar, queremos enfatizar a importância do historiador na interpretação do 
passado, mais do que isso, nós desejamos também indicar a necessidade de uma 
escrita histórica produzida por tal profissional e pautada, imprescindivelmente, 
no uso dos documentos históricos. É certo que as pessoas são livres para narrar o 
passado, para produzirem sentidos sobre o mesmo. Contudo em que seja válido 
o direito de todos construírem entendimentos e memórias sobre aqueles que já 
se foram e acerca de contextos e situações históricas que outrora existiram, é o 
profissional historiador que se faz incumbido de construir a Ciência Histórica.
19
E por que o somos? Isso tem a ver com a nossa capacidade de lidar com os 
documentos históricos, com o preparo que possuímos para sondar, interpretar e 
narrar o passado que se faz conhecido nas fontes históricas. O historiador é o pro-
fissional que possui saberes e competências teóricas e metodológicas para uma 
sondagem e interpretação das ações humanas, essas protagonizadas em tantos 
âmbitos, espaços e temporalidades e expressas nas chamadas Fontes Históricas.
A literatura também sinaliza entendimentos que nos ampara em tais asser-
ções. Priori (2010, p. 16) observa que somos nós os profissionais capacitados para 
a lida com o passado, para a sua racionalização. Vejamos suas palavras:
 “ O historiador é o profissional que tem formação teórico-metodo-
lógica para passar a limpo o passado. Portanto, o historiador deve 
lançar sobre o passado um olhar racional para compreendê-lo e ex-
plicá-lo. Só o conhecimento elaborado desse passado, nas condições 
empíricas e lógicas faz com que esse passado se torne história (2010).
É bom, contudo, que saibamos que essa não é uma tarefa fácil. Não é simples 
a nossa função em torno da produção e docência da Ciência História. E por 
qual motivo não o é? A Ciência Histórica, caro(a) acadêmico(a), é uma área do 
conhecimento que – diferentemente das outras – estuda a si mesma. A medi-
cina avalia o funcionamento do corpo humano; a química observa fórmulas, 
elementos e compostos; a física tem como foco os fenômenos da natureza; a 
biologia observa os distintos seres vivos; a geografia articula uma compreensão 
da escrita da Terra, do seu curso natural e daquele que é resultado do agen-
ciamento ou interferência humana (FRIEDRICH, 2015). Em síntese, se você 
analisar, concluirá que todas essas Ciências possuem um objeto de estudo que 
lhes é externo. Entretanto e de forma contrária, a História toma a si própria 
como assunto de investigação, reflexão e explicação. 
O campo do conhecimento histórico tem como alvo o agir dos indivíduos 
e sociedades ao longo do tempo, portanto, o seu foco ou objeto está naquilo 
que não mais existe, ou, ainda, naquilo que não pode ser mais observado de 
forma direta, pois é parte do passado, não se faz presente. Esta é a sua grande 
problemática (NORA, 1993). E, por sua vez, esta constatação ou afirmação nos 
direciona, obrigatoriamente, ao âmbito dos Documentos históricos e, especial-
mente, nos leva para uma compreensão sobre as razões das prerrogativas dos 
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historiadores na lida com a História. Observa-se, igualmente, que tal condição 
nos possibilita compreender os motivos pelos quais estes profissionais se fazem 
necessários para uma interpretação sobre o passado.
Acontece que, diante de um passado que não se faz diretamente observável, 
então, é da associação entre historiadores e Fontes históricas que as ações hu-
manas – situadas em tantos tempos, espaços e âmbitos – podem ser conhecidas, 
interpretadas e racionalizadas com vistas a servirem – em maior ou menor 
grau – ao tempo presente. Política, economia, cultura, religiões, religiosidades, 
comportamentos, hábitos e tudo o mais que diz respeito ao homem e sociedades 
se fazem compreensíveis pela aproximação entre historiadores e documentos 
históricos. Daí esses serem fundamentais para o conhecimento histórico pro-
duzido no campo da pesquisa e igualmente essenciais para o exercício sério e 
ético da disciplina História. 
Entendidos tais pontos e uma vez que você já compreende o papel das fontes 
para a produção do conhecimento histórico, conversemos, agora, sobre quais 
são os Documentos Históricos do Historiador. Vejamos sobre a documentação 
que lhe é útil no processo de produção e docência em História. Este passa a ser 
o nosso próximo assunto. 
Documentos históricos são, como temos demonstrado, 
indispensáveis para a produção da Ciência História, nesse 
sentido, esses mesmos documentos devem ser apresenta-
dos aos nossos alunos, sempre que possível, para que 
compreendam a importância desta importante área de con-
hecimento bem como que se reconheça enquanto sujeito 
histórico, uma vez que os documentos são produzidos pela 
ação humana. Nesse sentido, esta pílula de aprendizagem 
traz a você uma breve reflexão acerca de alguns cuidados 
necessários no trato dos documentos durante nossas aulas.
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Documentos históricos dos historiadores. Para tratarmos de tal ponto, fare-mos, agora, um rápido regresso na historicidade da Ciência História. E o fazemos 
dado ao fato de que abordar tal questão de forma mais satisfatória e completa 
é algo que demanda um lançamento de olhares, ainda que de forma breve, para 
aspectos da trajetória de constituição de nossa Ciência. É percorrendo este ca-
minho de busca pelo conhecimento sobre a historicidade de tal campo do saber 
que você entenderá o que é, na atualidade, o conceito de “Fonte/Documento His-
tórico”. Com tal discussão, será possível você compreender questões pertinentes 
ao uso adequado das Fontes Históricas. Tarefa imprescindível de ser cumprida 
pelos historiadores em seus ofícios. Vamos a isso.
No mundo ocidental, a História enquanto uma Ciência, surgiu no século XIX, 
e o foi a partir de aproximações ideológicas e políticas com a filosofia Positivis-
ta. A partir de tais afinidades, o campo histórico foi arquitetado e desenvolvido 
também dentro da finalidade de constituir histórias, memórias e identidades que 
servissem à criação dos conceitos: sociedade, povo, nação e governo, bem como, 
no sentido de ser uma área do saber útil para o processo de fortalecimento dos 
chamados Estados Nacionais (DOSSE, 2003). 
Interessava e era foco da Ciência Histórica e dos historiadores de influência 
positivista, a exaltação da nação, dos heróis e das instituições que, então, estavam 
sendo criadas para dar suporte político/ideológico e delineamento aos Estados 
Nacionalistas. Dentro de tal lógica, buscou-se a constituição, a construção e a 
disseminação de narrativas históricas políticas que motivassem e congregassem 
cidadãos em prol de uma causa única, uma causa da nação. Histórias, identida-
des, memórias e narrativas que destoassem dos rumos que se pretendia para a 
construção da Nação, então, eram desprezadas (DOSSE, 2003). 
Por sua vez, este entendimento das funções políticas da Ciência História ou a 
aliança desta com a consolidação de um ideal de nação, culminou em um processo 
de definição de Documentos. E, por sua vez, este determinou que fossem reconhe-
cidos a tal categoria apenas aqueles registros históricos que fizessem referência 
aos grandes sujeitos da nação, ou, ainda, que testemunhassem os fatos históricos 
dados como exemplares e relevantes para formação e continuidade da nação, isto 
em uma marcha progressiva. Tais registros, esses que serviam a esta concepção 
histórica, foram encontrados entre os Documentos Oficiais (ZANIRATO, 2011).
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Outros registros 
que trouxessem va-
riações das ações so-
ciais, que evidencias-
sem oposições políticas, 
que evocassem memórias 
destoantes e que se contrapu-
sessem aos rumos políticos que 
se projetavam para os chamados Es-
tados Nacionais, esses, então, não foram 
dados como documentos históricos. Eles 
não interessavam, pois não eram vistos como 
úteis para a narrativa histórica, não para aquela que 
se desejava produzir em sintonia com os ideais políticos 
dos Estados Nacionais (ZANIRATO, 2011).
Amparando-nos no historiador Le Goff (1992), 
cremos ser correto afirmar que nos primórdios da 
constituição da Ciência História somente foram da-
dos como registros ou Documentos Históricos aqueles que se faziam também 
monumentos, no caso, de ordem ou natureza política. Ou seja, apenas aqueles 
que servissem para monumentalizar e comprovar o êxito dos Estados Nacio-
nais, ou, ainda, que fossem úteis para criar um sentimento de pertencimento 
e identidade do povo com o país. Seriam Documentos Históricos e Oficiais 
aqueles que testemunhassem a ideia de uma sociedade homogênea, uniforme, 
única e rumo ao progresso.
As Ciências, contudo, têm a sua historicidade. Os paradigmas de qualquer 
campo do saber são alterados conforme os contextos e as demandas do tempo 
presente. No final do século XIX, a ideia de um progresso linear da humanidade 
entrou em questionamento. O desenvolvimento acentuado do sistema capita-
lista no Ocidente e especialmente as suas contradições e desdobramentos para 
as relações entre segmentos produtivos, implicariam alterações nos paradigmas 
que, então, regiam a feitura da Ciência História. Ficou mais evidente que a 
história humana não poderia ser uma simples marcha em direção à evolução, 
como entendiam os historiadores simpatizantes ao Positivismo.
23
Nesse contexto de questionamento da ordem social e econômica, ocasionado 
por um pensar sobre aquilo que se entendia como contradições do sistema ca-
pitalista, desenvolveu-se o Marxismo, que trazia uma concepção materialista 
da História. Em acordo com os paradigmas marxistas, a História, ou a trajetória 
humana, derivou de um processo contínuo de lutas e embates de classes, e não 
de uma marcha gradativa, linear e evolutiva. A história não seria, em hipótese 
alguma, uma simples convergência dos homens em direção ao progresso. Por 
sua vez, tal entendimento fragilizou a compreensão e a escrita histórica a partir 
da perspectiva positivista (MALERBA, 2011).
Apropriando-se de ideias e concepções marxistas, a Ciência Histórica e os 
historiadores desenvolveram um entendimento de que a trajetória humana era 
bastante variável, delineada em função de interesses divergentes e conflitantes 
entre classes e, em especial, em torno das relações econômicas, das relações de 
poder, dos atritos entre capital e trabalho, dos confrontes entre os trabalhadores 
e os donos dos meios e bens de produção. Dessa forma, a narrativa histórica não 
mais deveria estar a serviço de uma pretensa ordem social hegemônica, livre de 
conflitos e progressista (MALERBA, 2011). E, por sua vez, estas transformações 
conceituais em torno do que era a Ciência História e acerca de como a sua escrita 
deveria ser conduzida, então, provocaram renovações no conceito de Documen-
to/Fonte Histórica. Os historiadores, ao se aproximarem das concepções marxis-
tas, romperam com o entendimento de que seriam suas Fontes e Documentos, 
para as respectivas investigações e narrativas históricas, somente os documentos 
oficiais evocadores dos grandes feitos e sujeitos históricos. Não mais seriam seus 
documentos apenas os registros oficiais criadores de versões que propagam uma 
marcha social linear, gradativa e evolutiva (ZANIRATO, 2011).
Desse modo, relatos evocadores das relações de produção organizadas ao lon-
go da história humana, dos tantos antagonismos e das lutas travadas ao longo de 
etapas e ciclos econômicos passaram a ser entendidos pelos historiadores enquan-
to fontes históricas. Esses, mediante a aproximação com os referenciais teóricos 
marxistas, iniciaram um processo de busca por documentos variados e que servis-
sem para a construção de uma narrativa histórica mais próxima dos embates que 
marcavam as relações humanas, ou, ainda, para a elaboração de uma escrita mais 
próxima dos conflitos e divergências que, certamente, marcaram o modo como 
os homens produziam a sua existência, a sua historicidade (ZANIRATO, 2011).
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Bem, mas não apenas o marxismo impactou a História da Ciência Histórica. 
Não foi somente esta corrente de pensamento econômico que mudou as relações 
entre os historiadores, a escrita da História e os Documentos. Em princípios do 
século XX, em meio ao caos da Primeira Guerra Mundial e à Queda da Bolsa 
de Valores de 1929, organizava-se a chamada Escola Histórica dos Annales 
(BARROS, 2012). Surgida na França, enquanto uma revista historiográfica, os 
Annales congregavam historiadores que partilhavam do entendimento de que a 
historicidade humana não se fazia apenas de embates no campo político, tal como 
entendiam os positivistas, nem apenas das relações econômicas, como queriam 
os marxistas, mas a partir de todos os âmbitos da vida humana (BARROS, 2012).
Assim, enquanto os positivistas entenderam e delinearam uma escrita histórica 
centrada nos rumos e feitos políticos dos grandes chefes e das nações, e, enquanto 
os marxistas compreendiam que a história era resultado quase que, basicamente, 
das relações econômicas e das lutas entreas classes, dos embates entre capital e 
trabalho, por sua vez, os historiadores dos Annales defendiam que a história era 
resultado de tantos âmbitos da existência humana: do político, do econômico, do 
cultural e do religioso. O entendimento da historicidade humana demandaria, 
também, olhares para o campo das mentalidades. Ademais, os Annales defende-
ram que a História e sua escrita somente se faria possível pelo abarcamento dos 
distintos sujeitos históricos, pela compreensão das suas ações (ZANIRATO, 2011).
Tais concepções, caro(a) acadêmico(a), provocaram uma reviravolta para o 
campo da Ciência Histórica, melhor dizendo, para a sua produção. O entendi-
mento de que todos os sujeitos sociais e todos os âmbitos da vida em sociedade 
são objetos da mesma, então, exigiu e provocou uma revolução documental, fa-
zendo com que tudo aquilo que registrasse as representações e as práticas huma-
nas fosse dado como possível de se fazer “Documento Histórico”. E, por sua vez, 
sendo nós, hoje, herdeiros de uma historiografia ocidental e francesa, atualmente, 
concebemos como Documento histórico uma grande variedade de registros.
25
Consideramos, no campo da História, como fontes: documentação textual 
oficial ou não, diário de uma pessoa que tenha sido protagonista de um fato 
histórico, notícia de jornal, revista, música, fotografia, cartoon, charges, fil-
mes, elementos da paisagem (edificações diversas e os ambientes naturais 
ou agenciados pelas mãos humanas), Cultura Material (representada pelos 
mais diversos objetos que os homens criaram para a melhoria das suas con-
dições de vida), obras de Arte (quadros, esculturas e monumentos), relatos 
orais, blogs, e-mails, redes sociais etc.
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Enfim e diante dos caminhos percorridos pela Ciência História, podemos afirmar, 
sem nenhuma dúvida, que, na atualidade, é Documento ou Fonte para a Ciência 
História tudo aquilo que é capaz de manifestar ou de dar a conhecer quem os 
homens são e porque se fazem dessa ou daquela forma. E ditas tais palavras, 
avancemos em nossa unidade. Interessa-nos, agora, discorrer sobre questões me-
todológicas do uso dos documentos históricos.
Afirmamos anteriormente o clássico princípio de que sem as Fontes Histó-
ricas não existe conhecimento histórico, ao menos, não aquele nos moldes do 
realizado pelo profissional historiador. Que fique claro que, sem o amparo dos 
documentos, o passado, ou melhor dizendo, as narrativas sobre eles não são muito 
mais do que achismos, suposições, inferências e, por vezes, também levianda-
des proferidas em função de interesses contemporâneos diversos. Contudo uma 
segunda verdade é a de que o Documento Histórico por si só também não é a 
História. Esse, sozinho e tomado de forma bruta, não se faz uma análise ou uma 
interpretação racional do passado. Em razão dessas premissas, agora, interes-
sa-nos dialogar com você sobre alguns aspectos metodológicos do uso das 
Fontes históricas pelos historiadores. Sem a pretensão de esgotarmos todas as 
questões que regem e são pertinentes a tal assunto, faremos algumas indicações 
acerca de como os historiadores devem lidar com as mesmas.
 O primeiro apontamento que temos a fazer é ou diz respeito ao processo de 
seleção dos Documentos Históricos. Como cumprir tal procedimento? De que 
modo podemos optar pelo uso desta ou daquela Fonte? Em tempos de tantas 
opções documentais e diante de tantos registros que possibilitam uma compreen-
são das ações humanas, então, como o historiador deve proceder para realizar 
tal processo seletivo? A literatura no campo da História auxilia na compreensão 
deste assunto e no encontro de respostas para tais indagações. Diversos historia-
dores nos trazem observações úteis acerca dos usos e seleção de Documentos, em 
especial, no que tange ao campo do ensino da disciplina História.
Morelli (2011) observa que a definição do uso desta ou daquela categoria ou 
tipologia documental, inevitavelmente, deve estar em sintonia com os temas e 
recortes temáticos pertinentes ao trabalho do historiador. Os documentos pre-
cisam estar relacionados aos objetos com os quais esse se faz, ou fará envolvido. 
Trata-se, segundo ele, do historiador optar por aquelas fontes que possam servir 
de referência para os problemas que elencou sondar, esclarecer ou explicar, pois 
27
a indevida seleção de fontes se faz um obstáculo à 
produção de novos saberes históricos. Tal ato im-
possibilita, por exemplo, a objetividade que deve 
fazer parte da docência em História.
Abordando os fundamentos e os métodos de 
aplicação de documentos no ensino da disciplina 
História, Bittencourt (2004) apresenta entendi-
mentos semelhantes. Ela esclarece que o uso das 
Fontes Históricas precisa se fazer conectado com 
os recortes temáticos definidos para uma aula, 
bem como em conformidade com os objetivos 
de aprendizagem elencados quando da decisão 
de abordar este ou aquele conteúdo. 
Para tornar essa discussão mais clara, vamos 
a dois exemplos. Tomemos os mesmos como 
forma de ampliar o entendimento de tal ques-
tão. Imagine-se, por exemplo, discutindo com 
seus alunos do oitavo ano o tema “A Chegada de 
Cabral ao Brasil”. Pense que você quer abordar 
as visões dos europeus acerca dos indígenas e 
que deseja discutir com seus educandos sobre o 
quanto as autoridades portuguesas foram equi-
vocadas ao tomarem as tribos indígenas como 
sendo um povo único, homogêneo e pronto 
também para aceitar, pacificamente, o processo 
de colonização e evangelização indígena.
Nesse caso, você, certamente, teria muito su-
cesso se fizesse uso do documento Carta de Pero 
Vaz de Caminha. Trata-se de uma fonte que traz 
registros a respeito das primeiras representações 
dos povos europeus sobre os nativos brasileiros. 
Ela é dada como documento inicial da História 
do Brasil a partir da expansão marítima e da che-
gada dos portugueses em nossas terras.
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Descrição da Imagem: a figura trata-se de uma digitalização da carta original de Pero Vaz de Caminha. 
A página está amarelada, devido ao tempo; é possível perceber o texto, mas sem possibilidade de uma 
leitura precisa. A cor do texto é preta no original, mas está se apagando e ficando marrom com a ação do 
tempo. Em cima, ao lado do título, podemos perceber o carimbo oval na cor verde do “Arquivo Nacional 
da Torre do Tombo”, instituição portuguesa de arquivos do Estado Português.
Figura 1 - Carta ao rei D. Manuel, comunicando o descobrimento da Ilha da Vera Cruz 
Fonte: Wikimedia Commons (2006,on-line).
29
NOVAS DESCOBERTAS
Este célebre documento foi escrito por Pero Vaz de Caminha, em Porto Seguro, entre os 
dias 26 de abril e 02 de maio de 1500, dia em que foi enviada por Pedro Álvares Cabral 
à Lisboa, pelo navio de Gaspar de Lemos. Por meio deste, chegou ao seu destinatário, 
dom Manuel 1º, que entregou à secretaria de Estado, pois o considerou um documento 
confidencial que declarava o descobrimento, informação que não deveria chegar às mãos 
espanholas. Posteriormente, a carta foi enviada para a Torre do Tombo do castelo de 
Lisboa. Somente em 1773, uma cópia do documento foi realizada a mando de José Seabra 
da Silva e, como ele tinha ligações familiares com o Brasil, acredita-se que a “Carta do 
Achamento” foi transferida para o Rio de Janeiro junto à família portuguesa.
 
 
Intencionalidades e projetos do governo português e seus agentes são descritos 
em tal Fonte Histórica. Ademais, na mesma também constam informações va-
riadas em torno das formas de ser e de viver dos povos indígenas, ainda, sobre o 
modo como os portugueses entenderam que foram vistos por tais populações. 
Passemos ao segundo exemplo. Suponhamos que você está abordando o tema 
Revolução Industrial. Para abordar, significativamente, tal assunto, então, não será 
adequado que você deixe de dialogar com seus alunos sobre os desdobramentos 
de tal fato e da conjuntura histórica para o processo produtivo. Evidentemen-
te que outros pontos podem e precisam ser objetosde destaque de sua aula. A 
Revolução Industrial é uma temática que permite debates no campo dos seus 
desdobramentos para a política, a economia, a educação, a cultura e as mentali-
dades. Entretanto as transformações que ela gerou no que concerne às relações 
entre capital e trabalho é um assunto obrigatório no tratamento de tal tema. Tal 
recorte temático precisa ser contemplado.
Áudio da carta Biblioteca Nacional do Brasil da 
digitalização da carta original
 
Biblioteca Nacional transcrição 
da carta original
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https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17670
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/17671
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E que fontes, você, na condição de professor, poderia utilizar para uma abor-
dagem de tal problemática? Como lhe seria possível, por meio das fontes históri-
cas, estabelecer uma problematização objetiva sobre os impactos deste processo 
revolucionário no processo produtivo e na vida dos trabalhadores? Certamente 
que muitas seriam possíveis. Contudo, como nosso objetivo é apenas exempli-
ficar, e não esgotar o assunto, aqui, nós fazemos a indicação do filme Tempos 
Modernos. Tal produção fílmica se faria uma fonte muito pertinente para uma 
reflexão no que tange aos desdobramentos da Revolução Industrial, bem como 
acerca das relações trabalhistas construídas a partir de tal contexto histórico. 
Representações e práticas sociais sobre trabalho, tempo, produção e lucros são 
expressas em tal Documento Histórico.
Descrição da Imagem: a 
imagem é um desenho colo-
rido do cartaz original do fil-
me “Tempo Modernos”, onde 
os tons de amarelo predo-
minam. Charles Chaplin está 
vestido como trabalhador de 
uma fábrica, com macacão 
azul com pequenas listras 
pretas na horizontal, uma 
camisa branca por baixo do 
macacão e sapatos pretos. 
Chaplin usa um bigode esti-
lo escova de dente e cabelo 
curto preto, seus olhos estão 
arregalados, tem a expres-
são de pessoa perturbada e 
segura duas alavancas, su-
gerindo que está prestes a 
desligar as máquinas. Sobre 
a imagem, lê-se em grandes 
letras o nome de Charles 
Chaplin, o título do filme 
“Tempos Modernos” e, em 
letras pequenas, há o des-
taque para a produção e a 
direção também de Chaplin.
Figura 2 - Cartaz original de 
lançamento do filme: “Tempos 
Modernos” / Fonte: Wikimedia 
Commons (1936, on-line).
31
Prezado(a) aluno(a), com estes exemplos esperamos que lhe tenha ficado claro 
que o processo de seleção de Fontes para a produção e a docência em História 
deve obedecer aos conteúdos e recortes problemáticos elegidos pelo historiador 
e docente em seu planejamento pedagógico. Esclarecido tal ponto, também lhe 
chamamos a atenção para o fato de que se faz necessário que tal processo seletivo 
ocorra de modo a permitir que o aluno tenha acesso às diferentes percepções 
sobre o passado, bem como que lhe possibilitem conhecer as variadas práticas 
sociais geradas em função deste ou daquele contexto histórico.
Estudiosos no campo do ensino da disciplina de História destacam tal pre-
missa. Cainelli e Schmidt (2004) indicam que é a diversidade de documentos usa-
dos no contexto das aulas, a ação pedagógica que permite aos alunos perceberem 
as diferentes percepções e compreensões que foram construídas e consolidadas 
NOVAS DESCOBERTAS
O filme “Tempos Modernos”, estrelado e produzido por Charles Chaplin, em 1936, é uma 
crítica ao ritmo de trabalho imposto pela Revolução Industrial e mostra como era o co-
tidiano dos operários em uma fábrica com produção em série. Neste ambiente, Chaplin 
critica as condições impostas a esses operários, pois eles eram submetidos a condições 
de trabalho, uma forma de produção, que não respeitava os limites físicos e psicológicos 
dos trabalhadores. Outra crítica importante é quanto ao rigor disciplinar do ambiente 
fabril, em que o relógio ditava as ações, e o tempo visava ao lucro. Segue a sinopse desta 
verdadeira obra-prima do cinema e fonte muito oportuna para refletirmos sobre nossa 
relação com o trabalho. 
Sinopse: um operário de uma linha de montagem é levado à loucura pela “monotonia 
frenética” do seu trabalho. Após um período em um sanatório, fica curado de sua crise 
nervosa, mas desempregado. Deixa o hospital para começar uma nova vida, mas é equi-
vocadamente preso como um agitador comunista. Simultaneamente, uma jovem rouba 
comida para salvar suas irmãs famintas. Elas não têm mãe, e o pai delas está desempre-
gado, mas o pior ainda está por vir.
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sobre os acontecimentos políticos, econômicos, culturais e religiosos que confor-
maram a historicidade ou trajetória humana.
Para Vasconcelos (2007), o uso diversificado da documentação histórica é 
um posicionamento pedagógico que possibilita que estudantes possam tomar 
contato e identificar as heterogêneas práticas sociais que foram geradas em de-
corrência dessa diversidade de interpretações sobre o real. Em acordo com ele, 
o uso de distintas fontes históricas é um procedimento da parte do docente que 
justamente possibilita uma compreensão, por parte do educando, das várias 
faces de uma mesma história e igualmente que elimina o entendimento de que 
a historicidade humana se faz simples.
De acordo com Bezerra (2004), quando do uso de múltiplos documentos em 
sala de aula, então, o ensino de História cumpre sua função de tornar o passado 
conhecido a partir de sua complexidade. O professor, diz ele, que apresenta do-
cumentos que portam apenas um e outro aspecto ou versão do passado, faz um 
trabalho parcial e incompleto, pois não possibilita que os seus estudantes possam 
compreender as diferentes interpretações em torno do real e, igualmente, não 
permite que esses conheçam os tantos e distintos desdobramentos decorrentes 
das formas diferentes de apreender e processar uma nova realidade social.
Em síntese, das palavras de tais autores, os quais são especialistas no campo do 
uso das Fontes Históricas no âmbito da docência em História, podemos entender 
que uma prática pedagógica que se faça, constantemente, pautada pela inserção 
de variados Documentos Historiográficos é o caminho eficaz para que nossos 
alunos observem a multiplicidade dos sujeitos históricos, ou, ainda, a variação na 
trajetória histórica constituída por indivíduos e grupos sociais.
Você já deve ter ouvido a frase, de autor des-
conhecido, dizendo que se você ouvir apenas 
a versão da Chapeuzinho Vermelho, lobo 
mau sempre será mau. Deixamos aqui 
uma reflexão: o quanto estamos dispostos 
a ouvir outras versões?
PENSANDO JUNTOS
33
Caro(a) acadêmico(a), uma vez que lhe demos alguns exemplos no tocante ao 
processo de seleção dos Documentos Históricos, então, avancemos no tratamento 
de questões relacionadas ao uso dos mesmos pelos historiadores, em especial 
dentro do âmbito da sala de aula. Em síntese, precisamos falar de aspectos perti-
nentes ao uso analítico e metodológico da documentação histórica.
Observamos que tal procedimento se faz à segunda etapa a ser considerada 
no processo de uso das Fontes Históricas. Após uma seleção de qual(is) documen-
to(s) podemos usar em nossos ofícios de produção e docência em História, então, 
precisamos saber como utilizá-los. Tal competência é definida como relevante pela 
literatura. Morelli (2011) observa que é o correto trato metodológico das fontes a 
condição que estabelece a natureza científica, bem como a validade do saber históri-
co. A elaboração da “Verdade” em nossa disciplina, diz ele, é questão que depende dos 
cuidados que o historiador e o docente em História adotam no uso de suas fontes.
E no que diz respeito aos princípios gerais que devem nortear a relação dos 
historiadores com as Fontes Históricas, destacamos, primeiramente, os entendi-
mentos do historiador Jacques Le Goff (1992). Seus postulados jamais podem 
ser menosprezados pelos historiadores. Já falecido, ele nos deixou observações 
centraisao tratamento metodológico dos documentos historiográficos. O pri-
meiro cuidado que devemos ter com o uso de documentos diz respeito à nossa 
própria conscientização, segundo Le Goff (1992, p. 472), de que esses, “longe de 
serem puros e despretensiosos, são uma montagem consciente e inconsciente, da 
história, da época, das sociedades que o produziram. O documento é monu-
mento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro (…) 
determinadas imagens de si próprias”.
Observações muito úteis sobre o como usar, metodologicamente, os documentos 
históricos selecionados são prestadas pelo historiador Priori (2010), que versa sobre 
os procedimentos de crítica interna e externa. Vejamos mais sobre isso. Por crítica 
externa, Priori entende a ação do historiador em averiguar a autenticidade do docu-
mento, o contexto de sua produção, quem é o autor e as finalidades da sua produção.
Em acordo com ele, ao cumprir com tais procedimentos, o profissional his-
toriador consegue perceber, de antemão, os possíveis propósitos que o autor de 
um documento poderia ter com a respectiva produção e divulgação, bem como 
o quanto tais objetivos influenciaram na composição da Fonte Histórica selecio-
nada. As possíveis finalidades de consolidação de histórias, memórias identidades 
por parte do autor de uma fonte, uma vez que sabidas pelos historiadores, auxiliam 
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na interpretação e na averiguação das informações trazidas pelos documentos, diz 
Priori (2010). E no que diz respeito à crítica interna, ele observa a necessidade 
de não tomarmos, em princípio, nenhuma informação trazida por nossas Fon-
tes Históricas como absolutamente verdadeira. O que precisamos fazer, diz ele, é 
comparar “as verdades” expressas em um documento com as demais narradas em 
fontes que tratem da mesma questão. Esta forma de proceder é necessária para 
uma averiguação sobre a veracidade das versões narradas no documento que, 
porventura estejamos fazendo uso.
Procedendo a crítica interna, o historiador deve, ainda, diz Priori (2010), 
observar aquilo que não está implícito no documento e, igualmente, suas la-
cunas, imprecisões e inverdades. É preciso que façamos um questionamento e 
uma contextualização de tais aspectos. Em tal ato está também a compreensão 
do passado registrado nas Fontes Históricas.
Vejamos mais alguns autores e o que eles têm a nos dizer sobre o trato da docu-
mentação histórica. Para Bezerra (2004), os documentos precisam ser entendidos 
por nós, historiadores e docentes em História, como “não espelhos” do ocorrido ou 
do real. Trata-se, diz ele, de não os tomarmos enquanto expressões fiéis do passado. 
Em termos práticos, isso implica em avançarmos para além da simples tomada 
de consciência das informações, relatos e supostas verdades contidas nas Fontes, 
processo esse que se faz mediante a construção de análises sobre as mesmas.
E, por fim, apresentamos os entendimentos do historiador Carr (2002). Em 
concordância com a literatura citada, ele expressa o cuidado com uso dos Docu-
mentos Históricos por parte dos historiadores. As críticas externas e internas, diz 
ele, se fazem necessárias, pois “os fatos, mesmo se encontrados em documentos, 
ou não, têm de ser processados pelos historiadores antes que se possa fazer qual-
quer uso deles” (CARR, 2002, p. 53).
Prezado(a) aluno(a), com tais observações, nós esperamos que lhe tenha 
ficado claro que, se os Fatos históricos não são propriamente o conhecimento 
histórico, os Documentos também não o são, esses não são a Ciência História. 
Almejamos que você tenha entendido que eles são expressões da forma como 
os indivíduos e os agrupamentos sociais compreenderam dadas realidades his-
tóricas e que são testemunhos das transformações que esses promoveram nas 
respectivas trajetórias e condições de vida. Ademais, que esses se fazem registros 
de verdades e memórias que seus autores desejaram construir sobre os acon-
tecimentos históricos. São testemunhos das intencionalidades dos indivíduos 
35
e sociedades no que diz respeito à construção de explicações sobre o passado 
que eles protagonizaram.
Sendo assim, para que os documentos possam ser úteis ao processo 
de produção e docência da Ciência História, eles precisam ser criticados 
e problematizados pelo historiador e também pelo docente da disciplina 
História. Finalizando, reiteramos a necessidade de lembrarmos, constantemente, 
que oportunizar uma docência em História qualificada é uma ação que demanda 
o uso das Fontes com vistas a permitir que o educando atinja a compreensão 
da complexidade das ações humanas. Com tais observações, agradecemos sua 
atenção e encerramos este tópico.
NOVAS DESCOBERTAS
Thomas Barnes (Dennis Quaid) e Kent Taylor (Matthew Fox) são 
agentes do Serviço Secreto que foram designados para proteger o 
presidente dos Estados Unidos, Ashton (William Hurt), em um evento 
sobre o combate ao terrorismo que acontecerá em Salamanca, na 
Espanha. Entretanto, logo no início do evento, o presidente é balea-
do, situação que gera um grande tumulto. Entre a multidão que assiste ao 
atentado está um turista estadunidense com uma câmera de vídeo, Howard 
Lewis (Forest Whitaker). É a partir das gravações de Lewis que o agente Bar-
nes analisará várias versões do mesmo fato.
Trata-se de uma excelente reflexão acerca do trabalho do historiador, pois, 
como esse agente, trabalhamos com evidências, documentos que nos dire-
cionam o caminho a tomar para compreendermos os eventos históricos e, a 
partir deles, produzirmos o Conhecimento Histórico.
Olá, caríssimo(a), segue o link de um Podcast em que 
conversaremos sobre o uso de tecnologias no ensino de 
História. Nesta conversa, abordaremos a contribuição das 
tecnologias no ensino de História, mas, principalmente, a 
necessidade de escolher tecnologias que, verdadeiramente, 
contribuem de forma significativa para as aulas de História, 
ou seja, antes de simplesmente levarmos o recurso 
tecnológico para nossas aulas, precisamos ter claro qual 
o nosso objetivo com as mesmas. Então, o que está esper-
ando, aperte o play!
UNICESUMAR
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/10322
UNIDADE 1
36
Caro(a) estudante, nesse momento, nós chegamos ao término desta primeira 
unidade do presente livro. Ao longo destas páginas, buscamos introduzi-lo (a) no 
entendimento das relações entre a Ciência História, Historiadores e Documentos. 
Moveu-nos o objetivo de lhe esclarecer que é somente por meio de uma estreita 
relação entre o profissional historiador e os Documentos é que a Ciência Histó-
ria se faz constituída. E, igualmente, nos impulsionou o objetivo de relacionar o 
processo de ensino e aprendizagem de tal disciplina ao uso das Fontes Históricas.
Reiteramos, aqui, que permitir que a sociedade conheça o passado, em benefí-
cio das demandas do tempo presente, é ação que somente pode ser feita com uso 
de variados Documentos Históricos. Com tantos quantos nos sejam úteis para 
a compreensão dos modos como os homens – em distintos tempos, espaços e 
âmbitos – entenderam a sua realidade e produziram suas condições e trajetórias 
históricas. Igualmente reafirmamos que a ação docente em História somente se 
faz completa com o uso das Fontes Históricas em uma perspectiva abrangente e 
que permita ao educando atingir percepções sobre a heterogeneidade que marca 
o agir humano, ou, ainda, que lhe possibilite verificar as muitas práticas sociais 
decorrentes das formas como o passado foi entendido.
Assim, igualmente concluímos afirmando que este uso das Fontes Históricas 
também precisa se fazer a partir de procedimentos metodológicos gerais e específicos 
a cada tipo de documento, os quais possam permitir uma racionalização adequada do 
passado. Tudo isso em benefício do tempo presente, esse que é a nossa temporalidade. 
Tendo concluído esta unidade, propomos um rápido exercício caríssima(o) 
acadêmica(o). Nas linhas anteriores indicamos um excelente exemplo documen-
tal o filme “Tempos Modernos”, que abordaum contexto significativo, afinal, ele 
apresenta uma crítica clara às condições em que os operários eram submetidos 
nos ambientes fabris, organizados com vistas a uma produção em série. Pois bem, 
este já é um excelente documento para trabalhar com os alunos, mas quais outros 
poderiam dialogar ou contrapor as críticas apresentadas por esta obra? Faça um 
levantamento documental que possibilite reflexões acerca dos impactos impos-
tos pela Revolução Industrial à sociedade contemporânea e avalie como essas 
fontes poderiam ser trabalhadas em sala de aula. Considere que, em uma aula de 
História, é importante proporcionarmos reflexões acerca dos impactos de fatos 
históricos no presente, assim, você deve encontrar fontes que expressam esses a 
influência da revolução industrial em nossa vida na atualidade.
Ficamos por aqui!
Caríssimo(a), analisando as considerações apresentadas até aqui, conclui-se que 
a Ciência História se faz absolutamente necessária, posto que esta é justamente 
mais do que uma simples narrativa ou contar sobre o passado. Antes, ele 
se faz uma análise que resulta na produção de conhecimento sobre as distin-
tas ações humanas nos mais diversos âmbitos e temporalidades. Burke (2012) 
pondera que a Ciência História, uma vez que apoiada em referenciais teóricos e 
metodológicos no trato com as Fontes, então, é também uma narrativa científica 
direcionada a produzir conhecimentos em torno daquilo que os homens já foram 
ou fizeram ao longo do processo de se fazerem humanos.
Caro(a) leitor(a), após tantos apontamentos proferidos no intuito de relembrar 
o que é a Ciência Histórica e o quanto ela se difere do acontecimento ou evento 
histórico, cremos que podemos propor uma reflexão sobre seu registro pessoal, 
proposto no início desta unidade e o conteúdo abordado até o momento. Sendo 
assim, considere seu aprendizado acerca da Ciência História e o uso das fontes 
para sua construção e responda as questões a seguir: 
Mapa de Empatia: Quatro perguntas do X e mais uma, abaixo do X, refletindo 
sobre o material, segue o modelo
Aqui, o estudante realizará sua autoavaliação, como se fosse um check list, mas 
num formato mais divertido.
Perguntas: 
1- A narrativa de uma experiência pessoal, ou de vida, é, por si, um Conhecimento 
Histórico?
2- O que difere uma narrativa do Conhecimento Histórico?
3- Um diário pessoal poderia ser utilizado como documento histórico?
4- Por que é importante um professor de História ter a compreensão do processo 
de construção do Conhecimento Histórico?
Use este espaço para registrar possíveis dúvidas, assim, você pode avaliá-las ao 
final da leitura da obra. 
2AS Fontes 
Textuais e seus 
Usos no Ensino de 
História: Algumas 
Possibilidades
Me. Ana Lúcia Sales 
Me. Veroni Friedrich
Me. Vivian Fernandes Carvalho de Almeira
Nesta unidade, cara(o) acadêmica(o), conceituamos as chamadas 
Fontes Textuais ou Escritas; apresentamos o que são os chamados 
Documentos Oficiais e Institucionais; esclarecemos as variadas Fontes 
não Oficiais ou não Institucionais e, por fim, exemplificamos o uso de 
alguns Documentos Textuais no Ensino da Disciplina História. 
UNIDADE 2
42
A História é feita de fontes. Frase muito conhecida em nossa área, afinal, as 
fontes documentais são fundamentais para a construção da Ciência História! Mas 
façamos algumas reflexões acerca desta questão. Se o documento é fundamental 
e, sem ele, não há História, o que é um documento, afinal?
A resposta mais comum para esta pergunta é: uma folha de papel, manuscrita 
por alguém importante. Esta idealização é tão generalizada que, ao pesquisar as pa-
lavras História/documento em sites de busca, são imagens como esta que aparecem.
Descrição da Imagem: duas folhas de papel antigo, manuscritas na cor preta, aparentemente, fixadas 
em um caderno de registros. 
Figura 1 - Documento manuscrito / Fonte: Pixabay (2014).
A questão é que, ao discutir o que consideramos como documentos históricos, 
nós também discutimos quais memórias devem, ou não, ser preservadas na 
História. Mais ainda, a importância desses documentos está ligada à como o 
passado dialoga com o nosso presente. Diálogo esse que se inicia no presente. 
O que significa que, conforme as percepções do sujeito no presente se alte-
43
ram, alteram-se, também, as perguntas que o pesquisador do presente fará ao 
documento que ele analisa. Em outras palavras, definir o que é documento e 
categorizados, segundo uma hierarquia de importância para a Ciência História, 
é mais complexo do que, inicialmente, imaginamos. 
Considerando esta reflexão, quero que pense sobre esta questão: Qual a im-
portância de estarmos atentos às memórias que são preservadas pela História? Ou 
melhor, imagine que tivéssemos em mãos dois documentos, o primeiro seriam 
notas oficiais apresentadas pelo governador do Estado do Paraná, em 2022, sobre 
a duplicação de estradas públicas, o segundo, o diário de uma mulher anônima 
(uma mulher comum), com descrições detalhadas sobre suas experiências pes-
soais enquanto mãe, esposa e dona de casa, na década de 1970. 
Qual documento seria mais importante na construção da Ciência Histó-
ria? Seja honesto(a) em sua resposta, o que você pensa sobre o uso desses dois 
documentos, hoje?
Pois bem, digo a você que a importância desses documentos só pode ser me-
dida pelo grau de interesse que temos neles, afinal, se quisermos compreender a 
administração pública em torno das rodovias paranaenses, um diário não ajudará 
muito, a não ser que ele traga informações acerca deste tema em específico. Por ou-
tro lado, se nosso interesse é nos aprofundarmos nos impactos das relações sociais 
e de gênero na História recente do Brasil, é óbvio que o diário será mais oportuno.
Isso significa que, apesar de sempre pensarmos em documentos como sendo 
algo produzido por pessoas “importantes”, a verdade é que, hoje, a importância 
do sujeito na pesquisa histórica, é medida pelo nosso objeto de pesquisa. Uma 
famosa revista alemã chamada Stern anunciou, em 1983, a descoberta de raros 
diários com anotações inéditas do líder nazista, Adolf Hitler. Esta declaração cha-
mou a atenção do público e, por muito tempo, se manteve em destaque na mídia. 
Entretanto a documentação insólita foi, comprovadamente, declarada falsa, após 
as análises de diferentes profissionais.
Sabemos, porém, que esta não foi, nem será a única documentação falsifi-
cada no decorrer da História. Esta é uma preocupação constante entre os pro-
fissionais da Ciência História. Assim sendo, não serão apenas os Documentos 
Oficiais que devem ser valorizados na História e, claro, em sala de aula. Por 
isso, nesta unidade, discutiremos justamente a diversidade das Fontes Textuais, 
classificando-as como Oficiais e Não Oficiais. 
UNIDADE 2
UNIDADE 2
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Sabemos que você está ansioso(a) para iniciar seus estudos e sanar as dúvidas 
que tinha e as que semeamos nas linhas anteriores, mas, antes de seguir em frente, 
utilize este espaço para registrar suas percepções acerca dessas primeiras reflexões 
ou, quem sabe, as dúvidas que estão gritando em sua mente.
DIÁRIO DE BORDO
45
Os Documentos ou as Fontes Históricas são as ferra-
mentas pelas quais os historiadores podem identifi-
car, conseguem entender e explicar as causas e os des-
dobramentos dos feitos dos indivíduos e dos grupos 
sociais nos mais diversos âmbitos, tempos e espaços 
e no que concerne aos mais variados aspectos da vida 
em sociedade. Ao abordarmos tal questão, também 
esclarecemos que, hoje, estamos em uma tempora-
lidade em que a historiografia e a comunidade de 
historiadores entendem que muitos elementos são 
passíveis de se fazerem fontes úteis ao processo de 
produção e docência da Ciência História. 
Agora e diante de tal fato, então, faz-se neces-
sário que você as conheça com mais profundidade. 
É fundamental a aquisição de compreensão sobre 
como e em que circunstâncias os diferentes Docu-
mentos Históricos se fazem relevantes ao campo 
historiográfico. Em função disso,nas próximas qua-
tro unidades de nosso livro, nós caracterizaremos e 
abordaremos alguns usos possíveis das diferentes 
Fontes Históricas.
Nessa segunda unidade, que agora iniciamos, fo-
caremos, especificamente, os chamados Documentos 
Textuais ou Escritos. Apresentaremos quais são esses, 
trataremos das suas categorias e versaremos também 
sobre algumas possibilidades do respectivo uso na 
constituição da Ciência História, especialmente, no 
que diz respeito ao seu ensino de tal disciplina.
Assim sendo, continue conosco na leitura desta 
unidade. O nosso intuito é que você, ao término do 
mesmo, tenha ampliada a sua compreensão sobre a 
estreita relação entre História e Fontes, em especial, 
sobre os de natureza textual ou escrita.
UNIDADE 2
UNIDADE 2
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Prezado(a) graduando(a), antes de nos aprofundar em nossos estudos, é impor-
tante destacar que, quando usamos a expressão Documentos ou Fontes Histó-
ricas Textuais, estamos nos referindo a duas ordens ou categorias documentais. 
Vamos explicar. Ocorre que existem os chamados Documentos Oficiais e, tam-
bém, os nominados Não Oficiais. Ambos se fazem extremamente úteis ao campo 
histórico. Por tal motivo, nesta unidade, os abordaremos.
Inicialmente, trataremos dos primeiros, ou seja, sobre as Fontes Históricas Ofi-
ciais. Bem, no que diz respeito aos mesmos, é importante que você, primeiramen-
te, saiba alguns aspectos da sua historicidade, ou ainda, sobre a inserção desses 
no campo historiográfico. Vejamos tal ponto.
A documentação oficial e institucional adentrou a área da História, simul-
taneamente, no momento em que essa se fez um campo científico do saber, fato 
este que se deu no século XIX. Com a Ciência História, surgiram também os 
Documentos Oficiais (SCHAFF, 1995). Naquele momento, a História, seguindo 
o caminho trilhado por outros campos do saber, almejou ser uma Ciência. Neste 
intuito, os historiadores entenderam que era necessário construir uma área do 
conhecimento que se fizesse capaz de sondar o passado e estabelecer análises 
“verdadeiras” sobre o social, sobre o comportamento humano (SCHAFF, 1995).
 Tal ambição estava pautada na crença de que seria função da Ciência His-
tória um trabalho de estabelecer, mediante análise do passado, leis de compor-
tamento que servissem para instrumentalizar a sociedade rumo a um progresso 
político, econômico e cultural de ordem gradual, linear e contínua. Isso faria 
da História uma Ciência do Social útil e, portanto, cientificamente válida ou 
47
verdadeira (SCHAFF, 1995). Por sua vez, 
foi em função de tal ótica que surgiram 
as definições e as delimitações do conceito 
“Documento Histórico”. Nesse processo de 
constituição da Ciência História, estabele-
ceu-se o que seria Fonte Histórica, e, em tal 
contexto, os historiadores entenderam que 
a chave para a História se fazer um campo 
científico do conhecimento e útil aos avan-
ços da sociedade, estaria em uma prática 
pautada no uso de Documentos textuais e 
oficiais ou institucionais. E por qual motivo?
A delimitação em torno do uso do Do-
cumento escrito derivou do entendimento 
de que esse seria autêntico e registro fiel e 
verdadeiro do ocorrido, livre de interpreta-
ções e de subjetividades. E a eleição da Fonte 
Histórica como sendo apenas a de natureza 
Oficial/Institucional adveio da compreen-
são de que nesses, supostamente, estaria 
uma garantia de produção de uma escrita 
histórica útil para a sociedade, relevante 
para apontar erros e acertos históricos que 
servissem para a definição de uma marcha 
nacional e progressista (MARROU, 1978). 
Nos documentos oficiais e institucio-
nais, estariam os relatos dos grandes perso-
nagens da História e seus respectivos feitos. 
Elaborar uma narrativa do passado a partir 
dos mesmos era uma boa garantia para o 
progresso e a civilização da nação. Reside 
aí, nessa função política e ideológica, a es-
treita relação da Ciência História com tal 
tipo de Documentos (MARROU, 1978).
UNIDADE 2
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Hoje, os entendimentos são outros. A História, a despeito de sua função social ao 
tempo presente, não mais é vista enquanto uma Ciência que estabelece verdades 
absolutas e fixas sobre o passado. Nem percebida como uma área do saber capaz 
de estabelecer entendimentos que possam servir para a projeção de um futuro 
marcadamente progressista e também de natureza homogênea. Antes, essa Ciên-
cia é entendida enquanto um campo das Ciências Humanas focado na produção 
de leituras e sentidos sobre o passado, campo esse que se faz verídico em função 
do emprego e trato teórico e metodológico dos documentos (CARDOSO, 2005).
Descrição da Imagem: documento manuscrito com decreto extremamente sucinto que diz apenas: A 
Assembléia Geral decreta: Art. 1º - É declarada extinta, desde a data desta lei, a escravidão no Brasil; Art. 
2º - Revogam-se as disposições em contrário; Paço do Senado, em 13 de maio de Maio de 1888.
Figura 2 - Lei Áurea / Fonte: Wikipedia (1888, online).
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E no que tange aos documentos, as compreensões também são distintas. Não 
mais estamos presos ao uso do Documento oficial ou institucional, consideran-
do-o como fonte única sobre o passado, ou, ainda, enquanto vestígio exclusivo 
para a produção de um conhecimento histórico de tantas sociedades. A histo-
riografia trabalha na perspectiva de que hoje existem muitas Fontes Históricas 
que servem ao historiador, que permitem a produção historiográfica e igual-
mente a sua docência. Não é mais apenas a documentação oficial e institucional 
que serve ao campo histórico.
Atualmente, são classificadas enquanto Fontes Históricas todos os vestígios 
capazes de permitir o conhecimento sobre os modos como os homens 
perceberam e produziram as suas realidades econômicas, políticas, culturais e 
religiosas. Isso em uma temporalidade e espacialidade múltipla. A literatura no 
campo da História aponta tal questão. De acordo com Jenkins (2001) é Docu-
mento Histórico tudo aquilo que se faz útil para a sondagem e a compreensão 
acerca de como os homens produziram aspectos da própria historicidade, de 
modo que é difícil hoje definir aquilo que não pode ser documento historiográ-
fico. Qualquer registro que evidencie aspectos da vida individual e social – que 
seja do interesse da sociedade e dos historiadores esclarecer – é uma possível 
fonte para a composição de uma interpretação histórica.
Concordando com tal entendimento, Malerba (2006) pontua que é o histo-
riador, em suas funções de pesquisador e docente da disciplina História, a pessoa 
que define o que pode se fazer Documento Histórico. Tal definição, diz ele, é 
feita em função dos seus objetos de pesquisa, dos recortes, das problemáticas e 
das hipóteses levantadas. Contudo em que pese esta reviravolta que questionou 
a exclusividade do Documento Histórico textual de natureza oficial e institu-
cional, eles continuam se fazendo imprescindíveis ao processo de produção da 
Em que pese o culto ao Documento escrito e oficial por parte dos primeiros historiado-
res, e em que seja válida a superação deste limite conceitual, os historiadores metódicos 
deram grande contribuição à História, pois eles permitiram um trabalho de angariação e 
preservação de importantes Fontes Históricas. Ademais, estabeleceram aspectos da crí-
tica externa, que ainda hoje são muito válidos para a lida com a documentação histórica. 
Para uma compreensão mais apurada sobre tal aspecto, sugerimos a leitura de Lições de 
História, de Jurandir Malerba. 
EXPLORANDO IDEIAS
UNIDADE 2
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Ciência História. São extremamente válidos para a compreensão do passado. 
Por tais motivos, prezado(a) leitor(a), é importante conhecê-los e compreender 
as suas relações com a elaboração e a socialização do saber histórico, que se faz 
acontecer, por exemplo, em sala de aula. 
Desse modo, de agora em diante, apontaremos alguns deles e, também, 
faremos algumas indicações acerca dos usos dos mesmos. Sabemos que são 
apenas exemplos, mas cremos que isso lhe será positivo na compreensão

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