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Aconselhamento Psicológico CENTRADO NA PESSOA - Novos desafios - Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Aconselhamento Psicológico centrado na pessoa : novos desafios / organizadora Henriette Tognetti Penha Morato. - São Paulo : Casa do Psicólogo, 1999 . Vários autores. Bibliografia. ISBN 85-85141 - 1. Aconselhamento 2. Psicoterapia centrada no cliente I. Morato, Henriette Tognetti Penha . 98-4942 CDD-158.3 índices para catálogo sistemático: 1. Aconselhamento psicológico centrado na pessoa : Psicologia aplicada 158.3 Editor Anna Elisa de Villemor Amaral Giintert Editor assistente Sergio Poaco Preparação de originais RuthKluska Rosa Capa Mitla Penha Morato e Liana Cardoso Soares Diagramaçâo e composição Helen Winkler Aconselhamento Psicológico CENTRADO NA PESSOA - Novos desafios - Organizadora Henriette Tognetti Penha Morato Autores • Ana Carolina Carvalho • Ana Maria Frota • André Meller Ordonez de Souza • Alexandre Moreira de Souza • Camila Munhoz • Carolina Bacchi • Clara Paulina Coelho Carvalho • Fernando Milton de Almeida • Heloisa Hanada • Henriette Tognetti Penha Morato • Iramaia Pascale Quintino • Kelma Assunção Sousa • Lúcia F. Barbanti • Luciana Pires • Luiz Alfredo Lilienthal • Luiz Celso Castro de Toledo • Maria Cristina Rocha • Maria Gertrudes Vasconcellos Eisenlohr • Maria Júlia Kovács • Maria Luisa Sandoval Schmidt • Marina Jordão • Marina Halpern Chalom • MauroS. Karp • Miguel Mahfoud • Rebecca Campos • Rosana Frischer • Simone Aparecida Ramalho • Vera Helena Ostronoff • Vera Iaconelli • Walter Cautella Jr. Casa do Psicólogo® © 1999 Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda. Reservados os direitos de publicação em língua portuguesa à Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda. Rua Alves Guimarães, 436 - CEP 05410-000 - São Paulo - SP Fone (011) 852-4633 Fax (011) 3064-5392 E-mail: Casapsi@uol.com.br http://www.casapsicologo.com.br É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores. Impresso no Brasil / Printed in Brazil mailto:Casapsi@uol.com.br http://www.casapsicologo.com.br Sumário OS AUTORES........................................................................................................................9 Apresentação Abertura de uma sinfonia para trinta e duas cordas e sessenta e quatro mãos ou ...Criação e paixão de ser e pertencer (Henriette Tognetti Penha Morato) ................................................................................ 13 Parte I — Uma proposta para Aconselhamento Psicológico......................... 25 1. Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem SIGNIFICATIVA EM AÇÃO (Henriette Tognetti Penha Morato).........x...................................................................... 27 2. Aconselhamento psicológico numa visão fenomenológico-existencial; CUIDAR DE SER (Fernando Milton de Almeida)....................................................................................... 45 3. Aconselhamento Psicológico: uma passagem para A TRANSDISCIPLIN ARIEDADE (Henriette Tognetti Penha Morato)..................................................................................61 4. Aconselhamento psicológico e instituição: algumas considerações sobre o serviço de aconselhamento psicológico do IPUSP (Maria Luisa Sandoval Schmidt)..................................................................................... 91 5. Positivismo lógico e pensamento existencial: a conciliação rogeriana (Maria Luisa Sandoval Schmidt) .................................................................................. 107 6. Aprendizagem significativa e experiência.- um grupo de encontro EM INSTITUIÇÃO ACADÊMICA (Henriette Tognetti Penha Morato, Maria Luisa Sandoval Schmidt)................................ 117 Parte n—Experiências de uma proposta de Aconselhamento Psicológico................................................................................................... 131 A - Plantão Psicológico ....................................................................................... 133 7. Serviço de aconselhamento psicológico do IPUSP: breve histórico DE SUA CRIAÇÃO E MUDANÇAS OCORRIDAS NA DÉCADA DE 90 (Maria Gertrudes Vasconcellos Eisenlohr)..................................................................... 135 8. Plantão psicológico na escola; uma experiência (Miguel Mahfoud)....................................................................................................... 145 9. Plantão psicológico em hospital psiquiátrico (Walter Cautella Júnior)............................................................................................... 161 6 Aconselhamento Psicológico Centrado no Cliente 10. A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO no Projeto Esporte-Talento por alunos de graduação do IPUSP (Marina Halpem Chalom, Camila Munhoz, Luiz Celso Castro deToledo, Simone Aparecida Ramalho, André Meller Ordonez de Souza, Alexandre Moreira, Kelma Assunção Souza, Rebecca Campos).................................................................. 177 11. Um serviço de plantão psicológico em INSTITUIÇÃO JUDICIÁRIA: ILUSTRAÇÃO PRÁTICO'TEÓRICA ■ (Lúcia E Barbanti, Marina Halpem Chalom)............................................................. 187 B- Supervisão de Apoio Psicológico......................................................................... 207 12. Supervisão de apoio psicológico: espaço intersubjetivo de formação e capacitação de profissionais de saúde e educação (Carolina Bacchi) ..................................................................................................... 209 13. Supervisão de Apoio Psicológico: espelho mágico para desenvolvimento de educadores de rua (Henriette Morato, Carolina Bacchi, Luciana Pires, Luiz Alfredo Lilienthal, Maria Cristina Rocha, Rosana Frischer, Vera Iaconelli) ................ 223 14. A FORMAÇÃO de psicólogos: um serviço a serviço de alunos (Ana Carolina Carvalho, Carolina Bacchi, Maria Julia Kovács) .................................. 235 15. Supervisão de Apoio Psicológico como estratégia de aprendizagem experiencial na formação de educadores de rua: uma proposta (Maria Cristina Rocha).................................................................................................251 16. Supervisão de Apoio Psicológico; a gestaltpedagogia no trabalho com Educadores de Rua (Luiz Alfredo Lilienthal).............................................................................................. 263 17. Uma experiência de Supervisão de Apoio Psicológico para educadores de rua fAna Maria Frota, Heloísa Hanada, Maria Cristina Rocha, Rosana Frischer) ............... 305 18. Grupos de Supervisão de Apoio Psicológico com técnicos do Projeto ESPORTE'Talento (LuizAlfredoLilienthal)........................................................................................... 319 C- Oficinas de Criatividade.........................................................................................329 19. Oficinas em Aconselhamento: um processo em andamento (Marina Pacheco Jordão)...........................................................................................331 20. Oficinas de Criatividade: elementos para a explicitação de propostas TEÓRICO-PRÁTICAS (Maria Luisa Sandoval Schmidt, Vera Helena Ostronoff)............................................335 21. Oficina de Criatividade para a terceira idade: resgate e reapropriação DA HISTÓRIA PESSOAL (Iramaia Pascalle Quintino)..........................................................................................345 Sumário 7 22. Oficina de narrativas: mosaico de experiências (Clara Paulina Coelho Carvalho).................................................................................375 D- Novas Experiências.......................................................................................................38723. Grupos com crianças e adolescentes: uma experiência no CEPEUSP (Maria Cristina Rocha, Rosana Frischer, Mauro S. Karp)............................................ 389 24. Capacitações teórico-técnicas diversas de educadores de rua: diferentes formas de atuação com os meninos (Rosana Frischer)........................................................................................................... 413 Parte HL Conclusão..................................................................................................425 Um livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber (GuimarãesRosa)....................................................................................................... 427 OS AUTORES Ana Carolina Carvalho: Psicóloga clínica. Ana Maria Frota: Psicoterapeuta, docente da UFCE e doutoranda do Instituto de Psicologia da USE André Meller Ordotnez de Souza: Psicoterapeuta, acompanhante terapêutico e aprimorando em Saúde Mental no Centro de Atenção Psicossocial Luiz da Rocha Cerqueira. Alexandre Moreira de Souza: Psicólogo formado pela USP Acompanhamento Terapêutico e Psicoterapeuta. Atualmente fazendo Aprimoramento em Saúde Mental no CAPES - Itapeva. Camila Munhoz: Psicóloga do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental Vila Mariana. Psicoterapeuta. Atualmente fazendo Especialização em Psicanálise no Instituto Sedes Sapientiae. Carolina Bacchi: Psicóloga clínica, professora universitária e mestranda do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, Escolar e Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da USP Desenvolve trabalhos de supervisão de apoio psicológico para profissionais de saúde e educação, em grupo, tema que pesquisa numa linha fenomenologico'existencial. Clara Paulina Coelho Carvalho: Psicóloga. Formação em Gestalt-Terapia pelo Centro de Desenvolvimeto Humano (Fortaleza-Ceará). Formação em Biodança pela Escola de Biodança do Ceará. Mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano na Universidade de São Paulo. Arte Terapeuta em Formação no Instituto Sedes Sapientiae. Fernando Milton de Almeida: Médico - psiquiatra, mestre em filosofia pela PUC-SB psicoterapeuta com abordagem fenomenológico-existencial; atualmente comissionado no Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da USE onde exerce as atividades de Supervisão, auxílio à docência e atendimento. IO Aconselhamento Psicológico Centrado no Cliente Heloisa Hanada: Psicóloga. Participou como aluna nos Projetos Supervisão a Apoio Psicológico e Projeto Esporte-Talento. Atualmente colaborando como estagiária de Aperfeiçoamento do Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da USP Henriette Tognetti Penha Morato: Professora doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, nas disciplinas de Aconselhamento Psicológico. Coordenadora do Laboratório de Estudos e Prática em Psicologia Fenomenológica e Existencial (PSA/IPUSP) nos projetos de Plantão Psicológico e Supervisão de Apoio Psicológico à comunidade e no Serviço de Aconselha mento Psicológico do IPUSP . Iramaia Pascale Quintino: Psicóloga Clínica; Facilitadora de Oficinas de Criatividade, desenvolvendo oficinas com recursos expressivos e artes plásticas. Kelma Assunção Sousa: Psicóloga e psicoterapeuta formada pela USP Atualmente faz formação em Psicodrama na Sociedade de Psicodrama de São Paulo e PUC-SP Mestranda em Psicologia Experimental pela USP Lúcia F. Barbanti: Psicóloga e mestranda do Depto. de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do IPUSP Participou do Projeto de criação e implantação do Serviço de Plantão Psicológico em uma instituição pública do Poder Judiciário, ocupando as funções de plantonista e supervisora. Luciana Pires: Psicóloga formada pela USP Atualmente fazendo estágio de Aperfeiçoamento em escola de crianças com perturbações psicológicas graves em clínica inglesa. Luiz Alfredo Lilienthal: Gestalt-terapeuta e gestalt-pedagogo. Especialista em abordagem gestáltica em psicoterapia pelo Instituto Sedes Sapientiae. Mestre e doutorando em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da USP Luiz Celso Castro de Toledo: Psicólogo e psicoterapeuta. Atualmente fazendo especialização em Psicanálise na Escola Brasileira de Psicanálise e mestrado em Psicologia Social pelo IPUSP Maria Cristina Rocha: Psicóloga do Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP onde supervisiona alunos da graduação e realiza Supervisão de Apoio Psicológico com grupos de educadores. Trabalhou como educadora de rua e OS AUTORES 11 supervisora de entidades assistenciais. Mestranda em Psicologia Escolar pela USR tendo como área de concentração Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Maria Gertrudes Vasconcellos Eisenlohr: Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo IPUSP Psicóloga no Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP Psicoterapeuta. Maria Júlia Kovács: Professora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Consultora do Centro Oncológico de Recuperação e Apoio (CORA - São Paulo). Autora do livro Morte e Desenvolvimento Humano. Maria Luisa Sandoval Schmidt: Professora Doutora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Marina Jordão: Psicóloga do SAI? e LEP no IPUSP Coordenadora dos cursos Corpo e Movimento e Oficinas de Recursos Expressivos no IPUSP Formação em Gestalt Terapia, Abordagem Centrada na Pessoa e a Terapia Corporal. Doutoranda pelo IPUSP Marina Halpern Chalom: Psicoterapeuta e Mestranda em Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP Supervisora do Serviço de Plantão Psicológico na Instituição Jurídica. Coordenadora e Supervisora do Serviço de Plantão Psicológico no CEPEUSP Mauro S. Karp: Psicólogo graduado pela PUC-SP Membro da equipe de psicologia do Projeto Esporte-Talento do Instituto de Psicologia da USP Miguel Mahfoud: Professor adjunto do Departamento de Psicologia/Fafich/ Universidade Federal de Minas Gerais. Ministra a disciplina “Aconselhamento Escolar: Plantão psicológico”, supervisionando estagiários que atendem em Plantão Psicológico em uma escola pública de segundo grau em um bairro operário de Belo Horizonte. Rebecca Campos: Psicóloga formada pela USP Psicoterapeuta. Especialização em Psicologia Hospitalar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Psicóloga do Serviço de Condicionamento Físico do INCOR. Rosana Frischer: Psicóloga formada pela USP em 1995. Em sua formação trabalhou como estagiária da FUNDAIJ bolsista do CNPq e voluntariamente na 12 Aconselhamento Psicológico Centrado no Cliente facilitação de grupos de Supervisão de Apoio Psicológico e na coordenação de grupos de crianças e adolescentes do CEPEUSP. Atualmente cursando especialização em Gestalt'terapia no Instituto Sedes Sapientiae e trabalhando num Ambulatório de Saúde Mental do Governo do Estado de São Paulo e em consultório particular. Simone Aparecida Ramalho: Professora da Universidade Metodista de Piracicaba. Mestranda em Psicologia Escolar no Instituto de Psicologia da USP Psicóloga do Ambulatório de Saúde Mental do Jaçanã, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Vera Helena Ostronoff: Psicóloga do Hospital Emílio Ribas e Pós^graduanda do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Vera Iaconelli: Psicóloga e professora da UNIPSP Mestre em Psicologia pelo IPUSP Psicoterapeuta especialista em biodinâmica. Walter Cautella Jr.: Psicólogo, psicoterapeuta; especialista em atendimento psicoterápico do adolescente pelo IPUSP Implantou o Serviço de Psicologia da Casa de Saúde N. Sra. de Fátima em 1988 e hoje ocupa o cargo de chefe do Departamento de Psicologia e Psicoterapia. E também coordenador e supervisor do Núcleo de Estágios em Psicologia Clínica Institucional e presidente do Centro de Estudos, ambos desta mesma instituição. Faz parte da equipe multidisciplinar que acompanhou os residentes em Psiquiatriada Santa Casa de Misericórdia de São Paulo até 1998. Apresentação Abertura de uma sinfonia para trinta e duas CORDAS E SESSENTA E QUATRO MÃOS OU ... Criação e paixão de ser e pertencer Henriette Tognetti Penha Morato “Devagar e manso se desata qualquer enliço, esperar vale mais que entender, janeiro afofa o que dezembro endurece, as pessoas se encaixam nos veros lugares.” Esta é a epígrafe de “Vida ensinada”, conto de GUIMARÃES ROSA (1962,p. 185) que chega trazendo eco ao que ainda deseja falar e ouvir. Escreví anteriormente um texto apresentando Rachel Léa Rosenberg,1 em que transitei pelas vias da memória de uma história e de uma amizade. Este texto bem caberia na íntegra para dar conta da apresentação deste livro. Afinal, foi por suas mãos que a primeira semente, laçada, lançou-se! E, inevitavelmente, devagar e manso desatam-se entreliços afofados pela rememoração. Entreliços de trabalho, tecidos pelas mãos da convivência, do compartilhamento de segredos e intimida- des pessoais e profissionais, no regaço do acolhimento de paixões de ser e pertencer, criando uma tecitura original de vi-vendo e conduzindo outras tecituras para muitas existências. 1 Este texto é uma versão modificada da apresentação do capítulo 5 - “Envelhecimento e morte”, em KOVACS, M.J. (1992) Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, P- 58-68, de autoria desta mesma autora. Apresentar significa trazer à presença, tornar presente. Etimologicamente, vem do latim prae-sentare (prae ou pre = antes + essere = ser), ou seja, o que abre a possibilidade para ser, para ser visto. Como apresentar um outro momento de pro-vocação criação-livro sem revelar um pacto que não tem início apenas no presente, mas que remonta ao passado, nos quase trinta anos de realidade- sonho em forma de um serviço de atendimento psicológico, neste momento 14 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa evocado. Diz BOSI (1979) que memória não é sonho mas sim trabalho, pois recria o passado no eu atual, dando destinação ao presente. Quero falar de como fazemos o que fazemos, mas não posso dar-lhe realidade sem história, pois “só perde o sentido aquilo que no presente não é percebido como visado pelo passado (CHAUÍ, 1979, p.23)2. 2 Marilena Chauí citando Walter Benjamin.. 3 Livro organizado por ROSENBERG (1987). Se quero falar de nosso trabalho, de uma atividade desenvolvida, impossível não me envolver nas lembranças de minha história pessoal, das condições dessa atividade e de pessoas que compartilharam do lugar onde a ação se desenrola, onde umas histórias se entrelaçam com outras, revelando momentos do pacto Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios, quando Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa3 revelou-se como pacto não ori ginário, mas sem dúvida como cena de outros momentos de criação, e que, agora, se oferecem como bastidores para esta re-criação-livro, na forma desta apresentação. Mas até onde as histórias da Abordagem Centrada na Pessoa, do Aconse lhamento Psicológico Centrado na Pessoa e de seus novos desafios não se entrecruzam com as histórias de pessoas, como Carl R. Rogers, Oswaldo de Barros Santos e Rachel Léa Rosenberg, que partilharam atitudes e valores expressos em ações criativas, como um serviço universitário de aconselhamento psicológico, gesto público revelador de batalhadores projetos privados... De qualquer forma, uma apresentação requer um compromisso e uma res ponsabilidade que, se a princípio apresenta-se simples, a um olhar mais atento e a um coração mais escondido revela-se profundamente intricada, porquanto carregada de emoção, sentimentos e afetos rememorados. Compromisso e res ponsabilidade do coração, de quem sente presenças-ausentes para tornar público sentimento e conhecimento, significativamente privados. Apresentar algo é co municar significados que marcaram sua presença nos projetos de vida de muitas pessoas, organizações, instituições, grupos, eventos, lutas. Evocação de memória e afetos partilhados na convivência que geraram transformações profissionais e pessoais profundas. Não tive outro jeito. Fui buscar em mim mesma, no privado de minha própria experiência, uma forma de apresentar pessoas que suavemente me introduziram na significação do contato com o si-mesmo, na congruência com a experiência interior, para projeto profissional. Encontrei, no toque de suas ausências, ainda presentes, um caminho: sua presenças no meu privado. Permítiu-me aceitar o desafio pelo resgate na intenção de uma apresentação: criar condições para a permanência de pessoas, existências que não têm o privilégio de, no concreto, Apresentação 15 permanecer ao longo do tempo, como o tem obras de arte. Condição de se ser humano: pessoa e não obra. Uma forma de permanência pública de pessoas que, através de sua produção concreta, como inauguradoras de um serviço universitário de atendimento psi cológico, também colaboraram para os ensaios desta sinfônica. Nesse sentido, esta apresentação tem uma significação na medida em que revela momentos, pensamentos e sentimentos de quem a produziu ou colaborou na produção. Principalmente quando se trata de pessoas que não se preocuparam em registrar graficamente suas experiências. É nas experiências em ação que os projetos de vida de uma pessoa conduzem adiante sua aprendizagem. Como Rachel Rosenberg e Oswaldo de Barros, que preferiram criar situações para expressar por gestos a transmissão das crenças e valores pelos quais norteavam suas ações, tanto públicas quanto privadas. Abso lutamente coerente com a filosofia que partilhavam: a psicologia humanista. Dueto para duas cordas a quatro mãos para.a abertura de um serviço universitário de atendimento psicológico à comunidade: maestros no projeto para a composição da sinfonia e presentes na regência desta sinfônica. Hoje, “Dueto para um só”4 a dois, um intróito: uma relação a ser por mim vivida enquanto estagiária da primeira turma desse serviço. “Dueto para um só” a dois: iniciada por ambos no processo de confrontar-me e compreender minha própria alma e outras almas... A orquestra em formação... 4 Expressão cunhada por uma aluna em seu “diário de bordo” da experiência de ser estagiária no Serviço. Nesse ponto, outra indagação: como apresentar um solista, Rachel, a profes sora, a especialista, a colega, a companheira, a psicóloga, a cientista, mas, prin cipalmente, a amiga, sem um contexto? Um contexto envolve muito mais do que a mera contextualização de um trabalho, ou a apresentação de uma especi alista por seus caminhos profissionais e obras. Apresentar em contexto não podería ser somente uma formalidade a fim de introduzir o leitor no universo de pensamento c ações, através de sua biografia ou de seu curriculum. Além de ser absolutamente monocromática, tal forma não poderia jamais expressar verdadeiramente a pessoa, o que ela representou para seus amigos e companheiros, para a psicologia no Brasil, para o campo do aconse lhamento psicológico, para a expansão da abordagem centrada na pessoa, além de, principalmente, não representar o que para ela significava viver, ser e a significância que atribuía à experiência humana. Finalmente, encontrei um significado para uma apresentação de Rachel Rosenberg no contexto deste livro — significava introduzir a pessoa com seus coloridos, a inventora de várias invenções, como textos, livros, serviços, projetos, 16 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa grupos e principalmente introduzir a sua própria apresentação na forma de apre sentação desta sinfonia a trinta cordas. Porque nada melhor do que participar com ela, e assim conhecê-la, do que acompanhá-la no modo como se oferecia para ser conhecida, através de sua espontaneidade, sensibilidade, intelectua lidade, especialidade competente. Enfim, acompanhar sua sabedoria de vida para apresentar-se e apresentá-la através de seu próprio jeito de ser. É preciso dizer que um Serviço de AconselhamentoPsicológico é mais que umprogra- ma, um local, uma divisão burocrática. Tal como um ser humano, ele tem uma história que imprime em seu semblante, vive experiências que determinam seus caminhos e oculta intrigantes segredos. (...) fruto de conjeturas, personalidades e dinâmicas particulares, (...) parte do legado comum e da obra coletiva. (...) uma espécie que recria (...) passos de uma jornada que se confunde com a história da psicologia nacional, e até, do país. (...) história do Serviço de Aconselhamento Psicológico que há muito se intitula SAP (...) (ROSENBERG, 1987, p.l) Assim inicia “Biografia de um Serviço’’, a introdução de “Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa”, primeiro livro escrito pela equipe do Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Texto no qual há muito mais do que só idéias. Há uma pessoa apresentando- se e dando-se a conhecer, enquanto apresenta um trabalho. Qualquer coisa que dela se possa dizer está muito aquém daquilo que ela própria revela de si, do tema, de cada um de nós. Uma de suas habilidades — como uma romancista moderna — era falar de tudo e de todos ao falar de suas próprias experiências. Fenomenologicamente, a artista, transitando pela intersubjetividade. Expressando- se, ela comunicava, suavemente, a arte de genuinamente ser, cultivada com cuidado por ela e buscada por t^dos nós. Sua própria apresentação revela muito mais. Revela a pessoa constantémènte curiosa, preocupada, atormentada, mas sempre apaixonada pela investigação dos mistérios da existência humana e seu significado para quem vive essa experiência. Comunicando sua experiência, permite o descortinamento de alguém que se arriscava a comunicar o seu mundo privado e oferecê-lo como matéria-prima pública para novas criações de experiências no outro, ou outros que se dispu- sessem a ouvi-la. Era naturalmente uma facilitadora de aprendizagens significativas, além de professora e pesquisadora. Construindo um tema pela experiência pessoal e profissional, revela uma atitude clínica fenomenológica. Propiciava o despertar do interesse no aluno, criando condições para sua expressão pessoal, tanto em conteúdos específicos quanto em questionamentos teórico- práticos, e experiências vividas, com sua forma de ser admiravelmente natural e brilhante intelectualmente. Não selecionava nem recortava elementos. Pelo contrário, estabelecia a possibilidade de ampliação do tema com a simplicidade Apresentação 17 e sabedoria de articular e oferecer todos os recursos possíveis para poder transmitir, sem arrogância, um conhecimento e criar um clima para aprendizagem signi- ficativa. Artesã primorosa. Por muito ter convivido com ela e conhecê-la, temi que somente a leitura do texto pudesse não ser suficientemente expressiva e significativa para quem não teve o privilégio de ouvi-la. Dessa forma, optei por introduzir-me ao texto trans crito. Buscava perceber se poderia sentir e reconhecer a Rachel que conhecí naquilo que lia. E com satisfação constatei ser possível encontrá-la em sua fala. Confirmou-se o poder da inventora e não da invenção. O que li era muito mais que um texto. A sua pessoa transparece com seu poder pessoal. Ainda que não fosse totalmente possível para mim não “ouvi-la” em sua entonação característi- ca, dado nosso grande contato, percebi a vantagem da leitura como transcrição de uma fala, e não simplesmente a leitura de um texto escrito. O que a princí pio poderia ser uma desvantagem aparecia como vantagem sobre um texto cor rido. Citação de um trecho de texto como uma fala oferece uma possibilidade de sonorização. Dessa forma, descobri ser esse trecho “sonoro” na sua forma de ir articulando sentimentos e idéias, cjuebras de pensamento e desvios revelando seu processo criativo tão especial e sua marca registrada. A autenticidade de sua fala pode ser ouvida por quem a lê; como o contexto de sua. vida — o encontro e diálogo entre pessoas com ela. O mais surpreendente é como ela se deixava conduzir por um fio de sintonia que a levava adiante, bem como aos seus ouvintes e leitores, sem contudo diri gi-los ou moldá-los a uma perspectiva única. Esplendorosa competência e res peito à liberdade e compromisso responsável para com a competência do “ou tro” respeitável. Uma presença ética. Lendo ou ouvindo, evidencia-se sua sensibilidade e capacidade comunicativa envolvente, tanto ao ouvinte presente, quanto ao leitor participante. Está sempre oferecendo sua narração recordativa para aprendizagens recriativas. Se, como aponta Ecléa Bosi (1979), a memória revive um trabalho realizado com paixão, sua memória-trabalho, oferecida pelo texto, revela a fusão de sua atitude diante da vida com aquilo que faz, ao mesmo tempo que, recordando, “deseja repetir o gesto e ensinar a arte” (BOSI,1979, p.399) do que para ela representa o aten dimento em aconselhamento psicológico ou em psicoterapia, seja em instituições ou em consultório, segundo o enfoque centrado na pessoa e na psicologia huma nista. Gestos públicos e ações sempre voltados ao desenvolvimento das pessoas e à criação de situações facilitadoras para a sua ocorrência: o consultório, a Universi dade, os grupos de trabalho, os encontros de comunidade, as reuniões sociais. Tudo o que lhe fosse apresentado era motivo para indagações, questionamentos. Quer enquanto pessoa ou profissional clínica, apresentava-se uma pesquisadora incansável que explorava a vida e suas circunstâncias como um laboratório para expandir sua curiosidade sempre em movimento. Era uma aprendiz por excelência. 18 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa Penso no papel cultural do narrador, através de quem se viabiliza a possibilida- de de permanência de pessoas, valores, atitudes, memória e tradições, de gestos públicos, de existências e culturas. A realidade do narrador, segundo BENJAMIN (1985) e REGIS (1988) é a daquele ser “investido com o poder de uma voz que a comunidade lhe dá para relatar a evolução de sua aprendizagem, (...) registrar as vivências dos seus contemporâneos para que não caiam no esquecimento, apoiados nas suas necessidades de mudança, falar pelos que estão emudecidos’ (REGIS, 1988, p.5), transmitindo a atualidade dos fatos e a dimensão do vivido e viva da história. Como uma narradora que lapida suas experiências, para registrar o público e algum privado de uma existência emudecida, mas presente na memória, desejo partilhar um pouco do privado da Rachel, no meu particular, e de seus gestos públicos que através da minha memória-interação, fruto de um trabalho con junto, como um jeito de permanência para uma existência. Se é na memória- interação com ouvintes/narradores que a lembrança dos velhos se revela e revive o colorido de seus projetos de vida (BOSI,1979), resgatando o lugar e a perten ça de seu ser, permito-me memorar... O trabalho de memória-interação descortina um pacto de encontro de his tórias pessoais e de histórias de trabalho, partilhado por anos, onde experiências se mesclam, mas conduzem adiante para novos caminhos de desenvolvimento, quando as pessoas partilham valores e atitudes que possibilitam a realização de projetos e atividades, como o SAR e o desenvolvimento da Abordagem Centra da na Pessoa no Brasil, experiências profissionais, com profundo cunho pessoal, que juntas compartilhamos. Impossível perceber, neste momento, e diferenciar o quanto são minhas ou dela as nossas aprendizagens e crescimento. Quem, de fato, pertence à memória dos fatos a serem relatados. Numa sinfônica sintonia de experiências de anos de amizade e trabalho, onde pessoal e profissional se imbricam, onde valores são partilhados, como diferenciar a autoria de pensa mentos e sentimentos de significativas presenças ausentes, que possibilitaram a substância de nossas vidas? E auxiliada pelo significado de memória-interação que prossigo o relato. São fatos coletivos, recordados por um indivíduo, confor me impressos em suasubjetividade, que sofre transformações pessoais e outros, resultantes da interação com pessoas ou grupos. Sempre mostrou ser uma imbatível pessoa de risco, aberta a toda e qualquer experiência. Pessoa de risco porque jamais desistiu de nortear sua vida pessoal e profissional pelos valores e crenças em que confiava, como significantes para sua existência e presentes na existência de todo ser humano. Essa vitalidade e disposi ção se faziam sentir nos mais variados momentos vividos por ela. Era, se é possível dizer, a pessoa plenamente funcionante, tal como ROGERS (1983) apresenta a pessoa na ótica da Psicologia Humanista e da Abordagem Centrada na Pessoa. Apresentação 19 Ao mesmo tempo, criança-adolescente-adulta, insistia em resgatar em cada experiência vivida o prazer da descoberta, da novidade, e revelava, assim, a sabe doria anciã de crescer e aprender. Os inúmeros projetos em que se envolveu ou ajudou a criar expressam seus interesses abrangentes: o grupo de psicologia humanista; a abordagem centrada na pessoa; o Serviço de Aconselhamento Psicológico; o grupo de executivos do Centro Empresarial de São Paulo; os grupos nas escolas Lourenço Castanho e Vera Cruz; a vinda de Rogers e seu grupo em 1977 ao Brasil em Arcozelo — Rio de Janeiro — e em São Paulo; a Televisão Cultura de São Paulo; os grupos de encontro, workshops e grupos de comunidade; o Centro de Desenvolvimento da Pessoa no Sedes; os superdotados; os cursos de especialização em Aconselhamento Psicológico, pioneiros no IPUSP e em outras instituições universitárias; os grupos de espera (sua tese de doutorado); o plantão psicológico; o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo; os cursos avançados de formação de terapeutas na Abordagem Centrada na Pessoa; o Centro de Psicologia da Pessoa no Rio de Janeiro; o Centro de Gerontologia do Sedes Sapientiae; os I e II Encontros da Abordagem Centrada na Pessoa; o livro A pessoa como centro com Rogers; o Encontro com Rogers, em Brasília; o Workshop com Rogers na Hungria; os I, II, e III Encontros Latino-Americanos na Abordagem Centrada na Pessoa, no Rio, Buenos Aires e São Paulo; os I e II Fóruns Internaci onais na Abordagem Centrada na Pessoa, no México e na Inglaterra; os grupos de comunidade no Instituto de Psicologia da USP; a Psicologia Transpessoal e Holística; o Simpósio: Vivência Acadêmica no IPUSP; os Grupos de Família; o Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa, que resultou num livro de uma equipe de trabalho; os alunos vários; o consultório e os clientes. Muitos aprendizes... Nas atividades empreendidas, contudo, jamais deixou de pautar-se em valo res os mais significativos: a crença e o profundo respeito pelo ser humano e seu potencial de desenvolvimento. Rigorosamente ética, mantinha-se fiel à sua filo sofia de vida. Paixão e estética moviam-na em direção às pessoas, ao mundo e à vida. Onde pudesse aprender e descobrir mais sobre o fenômeno humano, deixa- va-se fascinar e punha seu ser em risco, em movimento. Principalmente, em momentos íntimos de relação. Vivi intensa experiência em nosso contato, num grande grupo de comunida de de aprendizagem. Insegura, emocionada e confusa, foi sua presença, cuida dosamente acolhedora e compreensiva, que me possibilitou a conquista de uma das transformações mais importantes de minha vida, tanto no plano pessoal quanto profissional. Numa analogia muito carinhosa, posso dizer que foi facili- tadora de um renascimento. Dolorosamente agradável é o privilégio da memória de tê-la ao lado e dispor-me a ouvi-la falar para mim, como nunca antes, apesar da longa convivência. Intimamente próxima, partilhou suas incertezas, fantasi as e inquietações. Uma surpreendendo a outra sem constrangimentos, numa 20 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa relação de ajuda mútua e comunicação verdadeira. Momento inesquecível, contato decisivo e transformador. E assim que relembro momentos pessoais meus e movimentos pessoais seus, deliciosamente partilhados, agora com outra tonalidade de significados. Como aquele dia magnífico de julho, em Pirassununga, um sol brilhante apesar do intenso frio, quando ela, sorridente e feliz como uma criança marota, comentou quão fascinante era a experiência da água escorrendo pelo corpo frio, num banho demorado, lavando e, ao mesmo tempo, aquecendo a alma. Desde então, quando me sinto extenuada e busco um banho confortante, descobrindo, fasci nada e apaixonadamente, a alegria da água quente a escorrer pelo corpo frio. Ou, aquele outro dia, quando da sua volta de viagem ao Egito, Israel e Grécia, momentos antes da reunião da equipe, relatava as belezas de Luxor e seus templos, das pirâmides, do oceanográfico de Israel. Criança deslumbrada, olhos brilhantes, revivendo a história dos faraós, nos barcos, através do Nilo. E, no compasso do sua narrativa, minha imaginação arrastava-se no ritmo dócil e exausto de es cravos e pedras, mas felizes participantes de uma obra com sentido, ou para a maravilhosa profundeza do Mar Morto, fantasias de 20.000 léguas submarinas... Resgatando a impressão da amiga e companheira Maria Luisa Schmidt, tam bém participante do delicioso relato, o momento mais intenso da viagem fora seu passeio pelas ilhas gregas, seu encontro e risos com uma amiga brasileira que encontrara por acaso, tão longe. Especial e indescritível transmissão de experiência: momento de prazer, paz, beleza, paixão e liberdade, quando solitária estava sentada no terraço de um bar, no alto de uma escarpa que descia ao Egeu, tomando uma cerveja; e então, olhando o azul das águas onde brilhava um sol magnífico, quis perpetuar a possibilidade daquele cenário deslumbrante e perguntou-se “E preciso voltar? Não poderia ficar aqui? O que de fato me impede de ficar?”. Sensação única de liberdade, nesse instante, experienciada como um voo rasante. Emoção evocada tão pura se descortinou, fazendo eco em nós, ouvintes co-participantes do seu relato! Paixão de ser... Memórias que resgatam os valores por ela preconizados — beleza, paixão, despreendimento, liberdade — para emoções e experiências consigo própria, com a natureza, com a cultura e a história. Valores que também nortearam sua conduta política — “para Yara lavelberg, que queria uma psicologia justa”, é epígrafe de seu texto “Biografia de um Serviço". Pessoa engajada e compromissada com questões de justiça e processo social, por ideais de poder pessoal e ação responsável no mundo. Revolucionária e radical, no sentido originário dos termos, batalhou por modificações mais justas para o ser humano, contra situações opressoras às liberdades do indivíduo e da sociedade; um serviço universitário de aconselhamento psicológico. Seu gesto de humanidade em momento histórico onde princípios, valores e instituições se descredibilizam, por gestos públicos Apresentação 21 eticamente incongruentes, e tradições são esquecidas pelo poder tecnológico cerceador de liberdade e escolha humana. Ao dizer, nesse mesmo texto, que a história do SAP confunde-se com a história do país, não estaria se referindo ao momento estudantil brasileiro (e mundial) entre 1965 e 1969? Movimento que com ideais próximos ao humanismo social da Abordagem Centrada na Pessoa, consciente da força de sua participação, buscava mudanças acadêmicas e sociais, pertinentes e respeitosas ao modo de ser das pessoas e do país, numa revolução não tão silenciosa como a do poder pessoal, mas, sem dúvida, esmagada silenci- osamente em celas, porões ou covas desconhecidas. No SAP ficaram essas suas marcas. Um grupo de trabalho com o qual ela mantinha essa mesma relação com que vivia a sua vida, baseada em confiança, respeito e amor com envolvimento, como num pacto familiar. Nossa equipe não é simplesmente um grupo de trabalho descaracterizado em identidade e mantido enquanto grupo somente por necessidades funcionais. Nessa condição há muito de sua pessoa. Suas atitudes autênticas, aceitadoras e compreensivas foram pon tuando nossocrescimento como pessoas, distintas, ao mesmo tempo em que ia nos ajudando a formar a nossa própria identidade, enquanto membros pertencentes a um grupo único — a equipe do Serviço de Aconselhamento Psicológico.. Transmi tia sua crença e amor a esse nosso lugar partilhado com tanta energia, que nos propiciava uma experiência única de aprendizagem: nosso próprio crescimento e desenvolvimento enquanto pessoas e enquanto um grupo com atividades comuns e individuais, pactuando um conjunto de valores. Simplesmente, oferecia-se e, com isso, trocas significativas iam ocorrendo, transformando-nos e expandindo nosso empenho e projetos, além de modificar nossa forma de comunicação. Foi e vem sendo um processo de anos de mudança, com fusões e desmembramentos, com rupturas e encontros, desencontros e re-encontros. Enfim, um processo de aprendizagem e de vida que, juntamente com ela, nossa equipe empreendia. Dessa convivência e experiência nasceu um livro a seis cabeças e doze mãos. Facilitação de processos de criação, pois ao ser expressava o quanto pertencia e permitia a ocorrência desse mesmo processo nos que se dispunham a estar com ela e ouvi-la. Infelizmente, nem todos no Instituto de Psicologia da USP dispuseram-se a participar com ela e crescer nos oferecimentos que ela propiciava nas ativida des de aprendizagem em comunidade. Opressão, repressão e resistência mar cam e entrelaçam-se também com a história do SAP bem como com a história de suas primeiras turmas de estagiários, que batalhavam por espaços menos tradicionais e autoritários nos cursos de Psicologia. Mas a fidelidade do SAP ao valor de respeito pela autonomia e liberdade de subjetividade e alteridade ma- nifesta-se, principalmente, por revoluções mais silenciosas: revela-se em reali zações, como os ensaios desta sinfônica. 22 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa “Apesar de tudo, ainda se encontram algumas flores tênues por esta aveni da”, diria ela em momento de desapontamento esperançoso. Rachel, a dama inglesa, pelo porte, postura, austeridade e finesse. A lady belga, que cedo emi grou e como tradutora iniciou seus primeiros passos profissionais, depois de ter tentado ser vendedora de uma renomada firma de jóias para estrangeiros. Bri lhava e buscava preciosidades. Ironicamente, Rachel morrería alguns meses depois de publicado o primeiro livro relatando as experiências do SAP Nem sequer houve uma apresentação em lançamento. Tampouco seria mais uma presença concreta inevitável a presentear (outro significado para praesentaré) as salas e os corredores do IPUSP (e as casas dos amigos), como foi colocado no fim da apresentação de uma de suas últimas aulas. Contudo, permanece como inevitável presença ausente em cada um de nós... A jornada continuou... permanecendo a atmosfera... Outros laços e entre - íaços, e muitos percalços, possibilitaram o acontecimento que se mostra por esta e nesta obra. E, se noutro momento, uma apresentação fez-se difícil por fazer vibrar a corda do coração ao toque da memória afetiva, hoje, por desejo, uma polifonia emotiva insinua-se no que pretendia apresentar-se como concerto de uma sinfônica. Assim, deixando-me conduzir pelas mãos de Themis, apresento o ensaio de uma orquestra. Por isso esta não é uma apresentação de uma pessoa, tampouco a de um livro. Se só é possível apresentar, ou tornar presente o que se apresenta, não posso torná-los mais presentes do que a mim se apresentam. Assim, ajudada na produção por Cristiani Kobayashi e Wagner Peres, só posso introduzi-los, considerando que introduzir significa partir de dentro de minha própria experiência no contato com eles, a fim de conduzir para diante o que se segue — sua própria apresentação em forma de um livro como trabalho de cooperação. Sinfonia de um serviço de aconselhamento psicológico, iniciada pela maestria de Rachel Rosenberg e Oswaldo de Barros Santos, apresentada pela orquestra sinfônica do SAP: docentes, psicólogos, doutorandos, mestrandos, psiquiatra comissionado, ex-alunos de graduação, aperfeiçoamento e especialização, que voluntariamente se dispuseram a formá-la ao longo dos últimos dez anos, quan do ainda a sinfonia apenas se esboçava em vários movimentos, na forma de projetos de trabalho. “Falando em categoria, honrados nos sentimos nós”, disseram a Rachel os alunos, ao término de uma de suas últimas aulas, após seu agradecimento por ter sido convidada para o curso com tantos conferencistas de categoria. E nesta situação, diante da escritura de um texto como apresentação da sinfo nia intitulada Aconselhamento psicológico centrado na pessoa: novos desafios, recorro à paráfrase: honrada sinto-me, eu, por ter tido a oportunidade de Apresentação 23 introduzir a vocês a partitura, fruto da inspiração e execução musical, desta orquestra sinfônica. Memoração significativa evoca poesia. ...nenhum tempo da ciência é bastante para rever o sonho de viver. O Ser e o Tempo de pertencer. É tempo de ouvir a sinfônica, trinta cordas e sessenta mãos... uma criação com paixão de ser e pertencer. 24___________ _ ________________ Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa Referências bibliográficas Benjamin, W (1985) Magia e técnica, arte e política — ensaios sobre literatura E HISTÓRIA DA CULTURA. SÂO PAULO: BrASILIENSE. Bosi, E. (1979)) Memória e sociedade — lembranças de velhos. São Paulo: TA. Queirós. Chaui M. S. (1979) “Os Trabalhos da memória”. In Bosi E. (1979) Memória e SOCIEDADE — LEMBRANÇAS DE VELHOS. SÃO PAULO: TA. QUEIRÓS. Regis S. (1987) “O ESCRITOR CALA E CONSENTE”. O ESTADO DE S. PAULO— “CULTURA”, .7, 366: 5. Rogers C. R. (1983) Um Jeito de ser. São Paulo: E.PU.. Parte I Uma proposta para Aconselhamento Psicológico 1 Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM AÇÃO1 1 Este texto é parte da comunicação "Experiências do Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem significativa em ação”, apresentada em Seminário na Universidade Iberoamericana (1996), México, D.E. A publicação correspondente (Morato.HTP, 1997) é citada na bibliografia ao final do capítulo. Henriette Tognetti Penha Mor ato Nascer é um desgarrar-se de urmtodo, uma sensação de desamparo, de soli dão. Como perda de um pertencer. Mas ao abrirmos os olhos, deparamo-nos com “coisas” ao redor; indiferenciadas a princípio, aos poucos se delineiam e recuperam um pertencer. Ser é ser no mundo, é estar aí no mundo, num interminável separar (ser) e pertencer (estar participando). OTÁVIO PAZ (1987) coloca: As duas notas, dependência e queda (...) ou participação e separação, estão presentes ao longo de nossa vida. Nascem e morrem conosco. Uma vive em função da outra, em permanente discórdia e em perpétua busca de reconcialiação. Cada vida humana é um contínuo tecer, destecer e voltar a tecer laços do começo. A experiência original, separação e participação, aparece em todos os nossos atos através de variações inumeráveis, (p.l) Assim, para PAZ, o pertencer a uma realidade coletiva é anterior ao nome ou à idéia de si mesmo. Antes de conhecermos nosso nome, participamos já de uma realidade coletiva, de uma família. Depois, aos poucos, conhecemos o nosso nome e o nome dessa família, para só mais tarde chegarmos a ter idéia de quem somos e o que significa essa família. Dessa forma, a condição de existência não é simples, mas dual, diacrítica: fusão e desmembramento. Existir é condição para pertencer a uma família; mas a condição de pertencer é que oferece a 28 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa possibilidade de ser eu mesmo, de perceber-me como consciência de mim mesmo. Identidade individual pela diferença na família. Contudo, juntamente com a consciência de si mesmo, há o sentimento cole tivo de pertencer a um grupo, sentimento este compartilhado com maior ou menor fervor por todos os membros (semelhanças e diferenças internas). Acrescenta-se, em seguida, o sentimento de diferença entre este grupoe outros grupos; e é este sentimento desta nova diferenciação que leva o grupo à consciência de ser o que é. E tal consciência que se vai expressar no ato de nomear, de dar nome ao grupo. Dessa forma, o nome do grupo estaria re-criando, novamente, a condição dual da existência. Revela-se, assim, a identidade coletiva: através de semelhanças e diferenças internas do grupo, enfrentadas, e de diferenças com estranhos, podem agora ter um nome de comunidade. O nome reforça os vínculos que atam os membros ao grupo, pois justificam as suas existências individuais e a grupai, além de lhe conferirem um valor. No nome estaria em “questão o destino do grupo, pois designa, simultaneamente, uma realidade, uma idéia e um conjunto de valores” (PAZ, 1987, p. 1), portanto sua existência: de onde vem, como está e para onde vai. Este nome da comunidade não é uma invenção, mas sim um reconhecimento, já que uma comunidade existe e é uma realidade antes mesmo de ter um nome. Um nome, assim como uma constituição, não pode determinar valores, pois estes já estão presentes quer no grupo, quer nas sociedades, antes de sua normatização. No entanto, o que o nomear favorece é a ruptura desses valores inconscientes agora herdados em um ato de consciência coletiva. O nome, portanto, seria, ao mesmo tempo, uma ficção e um pacto consagrado. Ficção por parecer representar um começo, uma declaração de nascimento que na realidade já ocorreu. Mas também é pacto por representar a explicitação dos valores voluntários e livremente aceitos pelos membros. Dessa forma, a dualidade original — sentimento de separação e participação — ressurge no pacto do nome do grupo: não como destino e sim como liberdade. “A fatalidade de nascer se transforma em ato livre” (PAZ, 1987, p.l). Assim, Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa revela um nome individual, cuja consciência de si mesmo surgiu do sentimento coletivo de pertencer a uma família, a uma comunidade. O nome do grupo, ao qual Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa pertence, é Equipe do Serviço de Aconselhamento Psicológico, do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (SAP-PSA-IP-USP). É desse lugar-grupo onde está situado que o processo de re-criação das condições originais da existência, como descritas por Otávio Paz, vem ocorrendo: tecendo e destecendo histórias pessoais, entrelaçadas com outras histórias pessoais; “comercializando” idéias, Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP 29 opiniões, valores; criando a história do grupo, que por sua vez se enrosca em outras histórias de pessoas e grupos. Nesse sentido, o Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa propõe-se a ser uma realidade-sonho e não uma fábrica de ilusões desencarnadas, uma ficção. Assentando-se no pacto do grupo-equipe, cuja história se estabelece através de um trabalho comum, revela-se como “uma comunidade de destino”, sofrendo de modo “irreversível, sem possibilidade de retorno à condição antiga, o destino dos sujeitos” do grupo (BOSI, 1979, p.2) e a compreensão de sua condição. Comunidade de destino que se reforça na medida em que o pacto revela, também, uma liberdade na aceitação dos valores do grupo. Pretendendo ser sujeito de seu discurso no mundo, o Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa propõe-se a abrir espaço para uma revisão de identidade, pessoal e grupai, e refletir sobre as questões que acompanham a sua prática bem como a da comunidade. Como o ato de nomear é condição de re-criação, o Aconselhamento Psico lógico Centrado na Pessoa agora se historiciza, con-sentindo que o grupo fale por ele, revelando-o através de suas ações e de todos aqueles que delas participam: uma comunidade ampliada por alunos, clientes e instituições. Em que medida, considerando a perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa para as relações de ajuda e formação do profissional, não poderíam ser criados espaços para uma prática mais condizente com a ambiência do trabalho do psicólogo? Podería a proposta de um serviço de atendimento à comunidade numa universidade oferecer tais condições? Bastidores do Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP) Este Serviço é um lugar de fronteiras. Desde sua origem, sua história revela momentos marcados por transição e transformações fundamentais que se entre laçaram e continuam a entrelaçar-se com várias outras histórias de realizações de pessoas e grupos. Entrelaçou-se, em sua origem, com a história da psicologia nacional. Partici pou, através do empenho de Oswaldo de Barros Santos, na batalha pela sua identidade frente a outros campos profissionais (medicina, educação, filosofia, etc.), para o reconhecimento da profissão do psicólogo. Vencida esta etapa, outra batalha dentro da psicologia no Brasil. O reconhecimento e a inclusão da disciplina e de um Serviço de Aconselhamento Psicológico num curso de psicologia garantiram aos psicólogos a possibilidade de nova área de atuação profissional como uma alternativa distinta da orientação, da seleção, do diagnóstico e da psicoterapia. Mas os desafios não terminaram aí. Através da orientação centrada no cliente com que foi idealizado e implantado por Oswaldo de Barros e Rachel Rosenberg, assegurou um lugar para a psicologia humanista 30 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa como mais uma das abordagens representativas no cenário da psicologia brasileira, além da psicanálise e do comportamentalismo. Olhar atentamente para os entrelaçamentos do SAP com o desenvolvimento da psicologia no Brasil revela também meandros convergentes com a história da Abordagem Centrada na Pessoa no cenário americano e mundial. A biografia do SAP cruza-se com retrospectivas apresentadas por ROGERS (1973, 1978, 1987): a marca de batalhas pela identidade do trabalho do psicólogo junto aos psiquiatras, pela instalação da área de Aconselhamento Psicológico como uma nova concepção em atendimentos institucionais e cursos universitários, pelo surgimento da “terceira força” em psicologia, por desafios interdisciplinares, por trabalhos com grupos de comunidade autodirigida. O SAP originou-se a partir da necessidade de um espaço e lugar para oferecer oportunidade de estágio para os alunos de graduação do curso de Psicologia do IPUSP nas disciplinas de Aconselhamento Psicológico. Inicialmente, funciona va, precariamente (e sem reconhecimento enquanto um serviço de atendimento), subordinado à cadeira de Aconselhamento Psicológico ministrada pelo Dr. Oswaldo de Banos Santos, tendo como auxiliar a Prof3. Drã. Therezinha Moreira Leite, numa sala da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo no prédio da rua Maria Antônia. Com a interdição e desocupação desse prédio, em 1968, transferiu-se para a Clínica Psicológica, localizada numa casa na Rua Jaguaribe. Com a transferência para a Cidade Universitária de todos os departamentos de Psicologia, abriu-se, assim, em 1969, um Serviço gratuito de atendimento Psicológico à comunidade, realizado por estagiários supervisionados diretamente pelo docente responsável (que passou a contar com a colaboração da então Prof3. Rachel Léa Rosenberg) pelas disciplinas as quais se vinculava. Restrito e modesto, a principio, foi passando por reestruturações tanto na composição de sua equipe (ampliada por psicólogos/ técnicos) quanto por alternativas de atendimento e oferecimento de novas disciplinas de graduação e cursos de extensão, acompanhando as mudanças acadêmicas e a demanda da comunidade, motivo da discussão de Maria Gertrudes Eisenlohr, no capítulo 7. Em resposta a essas transformações constantes, exigidas no contato e na pers pectiva de uma realidade sempre cambiante, foi sendo delineada e firmada uma conduta teórica e metodológica para pesquisas; essa conduta era consoante com a abordagem que embasa a visão de Aconselhamento Psicológico ministrada nas disciplinas — a Abordagem Centradana Pessoa, fundamentada na Psicologia Humanista, Fenomenológica e Existencial. O SAP tem dirigido seus esforços para pesquisas, ensino e atendimento à comunidade, enfatizando o significado das experiências humanas e das inter- relações que as acompanham. Seu foco de atenção para os fenômenos humanos Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP _____ ___________________ 21 procura colocar-se numa perspectiva interdisciplínar, para compreender as mani festações desses fenômenos nos vários contextos em que ocorrem. Nessa perspec tiva, o campo teórico e prático do Aconselhamento Psicológico para o SAP apresenta-se como lugar de fronteira, onde são contemplados entrecruzamentos com Antropologia, Artes, Comunicação, Filosofia, Literatura, Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento, da Personalidade e Social, Sociologia. Dessa forma, a equipe do SAP mantém-se atenta para a formação do psicólogo, buscando esclarecer e ampliar seu campo de atuação, a fim de oferecer condições de ajuda mais pertinentes à demanda da comunidade que procura o Serviço, partindo da compreensão da complexidade da experiência humana. É importante reconhecer e enfatizar que o embasamento na Abordagem Cen trada na Pessoa legitima e facilita as transformações nos questionamentos teóri cos, bem como nas expansões das atividades práticas do SAP em Aconselhamento Psicológico. Ancorando-se na ótica de qualidade e condições das relações inter pessoais (autenticidade, aceitação positiva incondicional e compreensão empá- tica) como promotoras básicas de mudanças nas pessoas envolvidas, reformulações tanto didáticas quanto de atendimento são propiciadas, revelando subsídios para novas compreensões sobre o campo teórico da Abordagem Centrada na Pessoa, em particular, e das abordagens fenomenológicas e existenciais (mais explicitadas por Fernando Almeida, no capítulo 2), além de contribuir para modificações e esclarecimentos quanto ao campo do Aconselhamento Psicoló gico e da pesquisa qualitativa. Com isso, o SAP consagrou-se como um espaço acadêmico e institucional pioneiro seja na transmissão, quanto na prática do Aconselhamento Psicológico na Abordagem Centrada na Pessoa. E ainda permanece como um dos poucos serviços de atendimento e formação profissional a possibilitar o contato com essa área de conhecimento em sua especificidade, considerando-se as institui ções públicas e privadas universitárias brasileiras. Nesse sentido, o SAP se efe tiva como um lugar tradicionalmente compromissado com mudanças, inova ções e investigações re-criativas. Indubitavelmente, o SAP tem uma origem e tradição persistentes, sem contudo restringir-se a elas nem torná-las modelo exclusivo para questionamentos e práticas. Nesse contexto é que se apresenta a preocupação com pesquisas que visem fornecer elementos para a consecução da duplicidade de objetivos que marcam seu lugar no âmbito da Universidade: oferecer estágio profissionalizante supervi sionado aos alunos de Psicologia e atendimento psicológico à comunidade. Ao mesmo tempo em que pesquisa novos métodos de intervenção educacional para aprimorar o desenvolvimento dos futuros profissionais, revelam-se elementos de questionamento às formas de atendimento que estão sendo oferecidas para o trei namento dos alunos e para a ajuda psicológica à comunidade. Estariam essas formas clássicas e usuais de fato atendendo às demandas de ambas as populações? 51______________________________Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa Surge, nessa dialética de investigação, a exploração de novos métodos de intervenção clínica que respondam à demanda da comunidade por alternativas mais realistas e com qualidade no trabalho clínico institucional do psicólogo no campo do Aconselhamento Psicológico. Nessa perspectiva, a interdisciplinarie- dade se apresenta, permitindo um início de compreensão transdisciplinar para a atuação do profissional de Psicologia no contexto da demanda atual poT uma consideração histórico-sociopsicológica nas áreas de Saúde é Educação. Um panorama para tais questionamentos é apresentado no capítulo 3, enquanto Maria Luisa Schmidt transita pelas considerações do engendramento teórico que o possibilitaram no capítulo 5. O SAP vem constantemente ampliando e expandindo suas atividades, man' tendo-se, contudo, fiel aos objetivos de melhoria das condições de formação profissional e atendimento psicológico. Assim, fundamentalmente podemos citar duas vertentes de pesquisas básicas realizadas pela equipe do SAP: 1. Atendimento Psicológico — abrangendo levantamento de características da população atendida; levantamento de recursos da comunidade para enca minhamento de clientes; utilização de grupos de espera, de grupos com duração limitada; investigação de fatores que determinam a desistência frente ao atendimento; exploração de técnicas de redes sociais para ajuda psicológica numa dimensão familiar; investigação para a compreensão do significado do que faz sentido na relação terapêutica; a efetividade do plantão psicológico (na visão dos clientes do SAFJ em diferentes situações e contextos como em escolas, em outros serviços de saúde, em hospitais psiquiátricos, em instituições educacionais, assistenciais, comunitárias e trabalhistas); investigação de práticas alternativas de atendimento psicológico (supervisão de apoio psicológico, oficinas de criatividade). 2. Formação do Psicólogo — abrangendo a utilização de técnicas como as de grupos de encontro, com alunos estagiários, para diminuição da ansiedade e aumento da eficiência no atendimento; propostas de modificação curricular para facilitar a preparação pessoal antes do atendimento; o significado da supervisão na formação dos alunos de graduação em Psicologia; situações de crise como momentos de aprendizagem significativa na formação de profissionais de saúde e educação, através de supervisão de apoio psicológico e oficinas de criatividade; necessidade e possibilidade de atendimento ao aluno de Psicologia; significado do processo de facilitação e da supervisão para a formação de psicólogos como agentes sociais multiplicadores. Convém ressaltar uma outra característica de como ocorrem os trabalhos de pesquisa no SAP e que se apresenta como decorrente da coerência da conduta citada. Decorrente do trabalho em equipe, em geral as questões, formas e possi bilidades das investigações surgem a partir das discussões conjuntas relacionadas 33Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP às atividades didáticas e clínicas do SAfJ nas quais todos estão diretamente en volvidos. Dessa forma, ao surgir um questionamento e um esboço de projeto de pesquisa, há a colaboração direta de alguns e indireta de outros, já que a busca e clarificação de compreensão vão interferir diretamente no trabalho de todos, implicando em modificações e transformações das atividades do Serviço, que procura operar como um único organismo (ROSENBERG et al.,1987). Nesse contexto, este Serviço preocupa-se com a produção de conhecimento científico, por meio de estudos e pesquisas que visam sistematizar e aprofundar, essencialmente, as experiências acumuladas ao longo de vinte e sete anos tanto de doceMÈte e técnicos quanto de alunos/estagiários (graduandos, aperfeiçoandos e pós-gí||*wdos). Privilegiando a prática como o lugar da experiência onde os questionamentos se apresentam, novos métodos para aprimoramento e desenvolvi mento dç profissionais estão sendo investigados como formas de subsídios para o estudo de*práticas preventivas para atendimento psicológico institucional, bem como pafa expandir a experiência de profissionais/psicólogos para as necessida des sociais demandadas pela situação sociopolítico-econômica do país. Maria Luisa Schmidt discute tais questões detalhadamente no capítulo 4- Práticas tematizadas em pesquisas Perseguindo essa perspectiva, três modalidades de prática psicológica têm contribuído para redimensionar a ocorrência de aprendizagem significativana formação do'psicólogo (discutido por Maria Luisa Schmidt no capítulo 6) , através do espaço da supervisão: o Plantão Psicológico, a Supervisão de Apoio Psicológico e as Oficinas de Criatividade. Considerando a inovação dessas práticas, o enca minhamento da apresentação oferece o cenário no qual elas se encenaram. Plantão psicológico As políticas públicas de atendimento à saúde, em geral, e à saúde mental, em particular, têm sido motivo de aumento dos convênios de saúde com a iniciativa privada. A situação da saúde pública tem se revelado tão precária, que mesmo instituições e órgãos governamentais têm recorrido, freqüentemente, ao expediente privàdo para atender a seus funcionários. Decorrência direta desse contexto, a escassez de recursos de assistência à saúde mental e a falta de informação de suas finalidades apontam para uma restrita e não-qualificada abrangência social. Como coloca MAHFOUD (1987), o atendimento em Plantão Psicológico surgiu como uma tentativa de atingir e beneficiar uma parte da população que necessita de ajuda psicológica e que, nem sempre, no momento da emergência da queixa, é 34 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa por ela contemplada. O Plantão Psicológico numa instituição envolve três realida des: a da instituição que o oferece, a do profissional que atende e a do cliente. Em outras palavras à instituição compete a sistematização do serviço, enquanto do pro fissional espera-se “disponibilidade para defrontar-se com o não planejado e com a possibilidade” de ter apenas um encontro com o cliente (MAHFOUD, 1987, p. 75). Dessa maneira, ó cliente poderá usufruir do atendimento psicológico como um es paço de acolhimento e referência no momento de sua necessidade. Além disso, para que o Plantão Psicológico possa constituir-se e manter-se como tal, é necessário que a instituição garanta a presença de “conselheiros- psicólogos”, em lugar e horários pré-determinados, além de manter informações e contatos com outros recursos de saúde e educação. O trabalho do “conselhei- ro-psicólogo” é o de facilitar ao cliente uma visão mais distinta de si mesmo e de sua perspectiva frente à problemática que vive e gerou seu pedido de ajuda. A maneira de enfrentar essa dificuldade se definirá no próprio processo do plan tão, com a participação efetiva de ambos: cliente e “conselheiro-psicólogo”. Na constante exploração de novos métodos de intervenção clínica para res ponder à demanda da comunidade, e considerando a idéia de ser através da experiência, que inclui a teoria e a reflexão, que é possível aprender-se com o experenciado, o SAP recentemente aceitou um novo desafio para ampliar seu campo de atuação e condições de formação profissional. Dessa forma, buscou- se levar a experiência do plantão a novos contextos, partindo das demandas que chegavam ao Serviço. Enquanto Maria Gertrudes Eisenlohr retoma a ori gem de um serviço universitário de atendimento psicológico no capítulo 7, Miguel Mahfoud arriscou o desafio de sua implantação no contexto escolar, como origi nário do campo do aconselhamento psicológico e que apresenta no capítulo 8. Tendo sido motivo de cursos de aperfeiçoamento e especialização, a experiên cia do Plantão foi levada adiante por nossos alunos, como Walter Cautella Júnior, que o implantou em hospital psiquiátrico (capítulo 9). Para ampliar as experiências dos estagiários de graduação em psicologia além do contexto de serviço universitário, demandas de outras instituições levaram à criação e implantação de serviços de Plantão Psicológico. Lúcia Barbanti e Marina Halpern Chalom relatam, no capítulo 11, a experiência realizada em instituição judiciária. Quanto a essa prática realizada no Centro de Práticas Esportivas da USP para intervenção psicológica em projeto esportivo com ado lescentes, é relatada no capítulo 10 pelo grupo de plantonistas e supervisores. Os atendimentos, bem como a organização e a estruturação do Serviço, foram supervisionados por docentes do SAP e profissionais ligados ao Laboratório da Família, da Sexualidade e do Gênero (LEF) do IPUSP que também colaborou na prática dentro de instituição judiciária. Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP 35 Partindo da idéia de que o Plantão Psicológico redimensiona a aprendizagem e a compreensão do papel do psicólogo e seu campo de atuação, ao mesmo tempo em que favorece a compreensão da importância do acolhimento e da relação de ajuda no momento da procura por um atendimento psicológico quando da emer gência da demanda, ele contempla os objetivos do SAP de ensino e atendimento à comunidade. Simultaneamente, abrindo um espaço para a reflexão crítica de características institucionais que emergem dentro do contexto de atendimento proposto, institui um espaço para o questionamento de um tema muito atual no campo psicológico: como oferecer um serviço psicológico de qualidade no contexto institucional. Paralelamente, o inusitado desta inserção dirige um foco de questionamento para redimensionar a formação profissional do psicólogo no contexto de uma instituição que quase sempre esteve distante às investigações da psicologia e que agora parece a ela render-se: uma instituição judiciária. Durante todo o processo realizado até agora, e a partir da prática, surgiram questões que implicam reformulações dos projeto iniciais de atendimento, den tro dos moldes oferecidos pelo SAP no IPUSP Como decorrência disto, ocorreram adaptações no esquema planejado inicialmente e que confluem para uma in vestigação mais específica dada, a multiplicidade de aspectos que começam a delinear um perfil. A especificidade do trabalho desenvolvido em instituições comportou um outro desafio: o Plantão à Família, uma modalidade inovadora . de atendimento psicológico no SAF} surgida na prática em instituição judiciária. Criada a necessidade de avaliar a eficácia de sua proposta, iniciou-se essa prática como possibilidade também de pesquisa. A relevância do tema de investigação implica subsidiar, estudos para conhe cimento de práticas psicológicas instirucionais a partir de demandas da própria comunidade. Pela natureza da intervenção — desenvolver uma atividade clínica inserida no contexto institucional — depara-sc, em vários momentos, com “en- trecruzamentos” de questões referentes aos atendimentos prestados a funciçT nários e dependentes, com questões que supostamente seriam da ofâem.jdó imaginário e do conjunto das práticas institucionais. Tal observação remete à necessidade de investigar como a inserção do Serviço de Plantão Psicológico na proposta de Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa tem-se refletido neste mesmo imaginário institucional, até mesmo para que tais entrecruzamentos possam ser traduzidos. Pela pluralidade de aspectos envolvidos a serem tematizados, a fim de contem plar as tramas desta prática atualmente desenvolvida, bem como o montante da população a ser atendida, há a necessidade de uma equipe de pesquisadores/ bolsistas composta por alunos de graduação, pós-graduação e de aperfeiçoamento, além dos técnicos e docentes do Serviço. Este novo contexto de equipe propicia um intercâmbio de experiências e a possibilidade de facilitar a convivência I 36 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa científica entre pesquisadores e estudantes de níveis diversos para um trabalho integrado de atendimento prático e de pesquisa. A supervisão, dentro dessa perspectiva, constitui-se como lugar para a ressignificação de uma nova prática e de desafios. Revela-se como aprendizagem não de informações e conteúdos somente, mas numa possibilidade para o aprendiz ser o verdadeiro sujeito de sua própria experiência e aprendizagem. Resgata, assim, seu desejo de aprender a aprender (MORATO, 1989,1993). Supervisão de apoio psicológico e oficinas de criatividade A formação de profissionais das áreas de saúde e educação motivou a pro posta para um projeto temático de pesquisa (MORATO & SCHMIDT, 1996). O aspecto nucleardessa investigação visa a compreensão do fenômeno da aprendizagem significativa enquanto dimensão psicológica envolvida no processo de conhecimento e no exercício dessas profissões. Estudos sobre a formação de profissionais de saúde e educadores (BLEGER.1977; CHICANDONZ et al., 1986; FIGUEIREDO,1995; FREIRE, 1970; ROGERS, 1978,1983) apontam a necessidade de mudanças, não somente de conteúdo, mas, principalmente, de forma nas propostas curriculares dessas profissões. Dimensões cognitivo-afetivas presentes em processos de aprendizagem precisam ser contempladas. Na medida em que o profissional é chamado a participar de um processo de relacionamento também humano, a experiência para essa formação é francamente complexa. Faz-se premente a articulação entre a teoria, a prática e o processo de crescimento pessoal envol vidos nesse processo, para que sua atuação possa constituir-se como experiência significativamente humana, e não meramente técnica (MORATO.1993). E nesse contexto que a aprendizagem significativa impõe-se como experiência nuclear em processos de ensino-aprendizagem, condição para a articulação mencionada (PICHON-RIVIÈRE, 1988; ROGERS, 1983; WOOD, 1986). Enquanto ROGERS (1983) articula aprendizagem significativa pela distinção de duas categorias de experiência, a saber memória repetida e aprendizagem experiential2, GENDLIN (1962, 1973, 1978/79) orienta-se por uma sintonia exis tencial. Na concepção de GENDLIN, aprendizagem significativa seria processo de compreensão e conhecimento para atribuição de sentido a relações e situações experienciadas. Ou seja, aprendizagem significativa é uma ação compreensivamente articulada, permitindo ao homem aberturas ou mudanças pela experiência de encontro consigo mesmo, com o mundo e com outros homens. Uma tal compreensão possibilita que se aprenda nas situações experienciadas, 2 Vide Capítulo 6, deste livro. Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP 37 nas quais, podendo “trazer-se de volta” (atualizar o passado) para, lançando-se adiante (projetando-se ao futuro), transformar-se. Nesta perspectiva, compre ender algo na própria ação propicia, ao mesmo tempo, uma compreensão de si e de seu modo de ser humano em meio a outros. Dessa forma, aprendizagem significativa é criação de sentido, no qual afeto e cognição articulam-se abrindo espaço para aproximações entre pedagógico e psicológico. Tomando-se por base a condição de indivíduo situado no mundo e trabalhos inaugurais de ROGERS (1978), com grupos de encontro e comunidades de aprendizagem, e de PICHON-RIVIÈRE (1988), com grupos operativos, a aprendizagem significativa seria facilitada em contexto grupai. Facilitadores experientes acompanhariam esse processo, promovendo as condições para sua ocorrência. A prática fundada nessa metodologia tem sido pesquisada em diversos contextos de formação de profissionais de saúde e educação (ANGELO, 1989; CHICANDONZ et al, 1986; CUPERTINO, 1995; LIETAER, 1980; MORATO, 1989, 1993; MAHONEY, 1976). Inspiradas nestes trabalhos, duas práticas grupais vêm sendo desenvolvidas pelo Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSR desde 1990, junto a alunos dos cursos de pós-graduação em Psicologia Escolar c Desenvolvimento Humano, graduação em Psicologia e de aperfeiçoamento na área de intervenção institucional (multiprofissional): a supervisão de apoio psicológico e a oficina de criatividade. A supervisão de apoio psicológico é feita a partir da reflexão sobre questio namentos e dificuldades profissionais, visando uma atuação de ajuda mais disponível e receptiva por parte dos profissionais. Já a oficina de criatividade é um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva usando recursos expressivos (movimento corporal, atividades de expressão plástica e de linguagem). Ambas são conduzidas por facilitadores com formação em psicologia. A constituição destas práticas implica, também, a criação de espaços de supervisão para estes facilitadores. Nenhuma das duas apresenta-se como supervisão técnica específica para atuação profissional, mas sim como espaço para elaboração da experiência profissional. As experiências ocorridas com estas práticas no SAP foram, já, objeto de análises parciais apresentadas em forma de comunicações em congressos e de artigos (JORDÃO,1993; MORATO,1992,1993,1994; MORATO & SCHMIDT,1995; SCHMIDT, 1990). Estas análises parciais indicaram a necessidade de um projeto de pesquisa capaz de investigar mais amplamente e em profundidade a ocorrência do fenômeno da aprendizagem significativa na supervisão de apoio psicológico e na oficina de criatividade. Os objetivos gerais dessa investigação norteam-se por: 1) fornecer subsídios para a melhoria das condições de formação de profissionais das áreas de saúde e 38 Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa educação; 2) contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos profissionais das áreas de saúde e educação; 3)contribuir para a melhoria da qualidade de atendimento e serviços prestados à clientela em instituições promotoras de saúde e educação; 4) contribuir para o desenvolvimento de práticas psicológicas, em instituições, como forma de transferência de tecnologia experiencial, que possibilite instrumentalizar agentes sociais multiplicadores (multiprofissionais). Para contemplados, são enfocados os seguintes objetivos específicos: 1) co- nhecer e estudar o fenômeno da aprendizagem significativa no contexto das práticas de supervisão de apoio psicológico e de oficina de criatividade; 2) conhecer e estudar as relações entre subjetividade, experiência e criatividade nas práticas referidas; 3) avaliar as relações entre aprendizagem significativa e desempenho profissional; 4) analisar a eficácia das práticas citadas em relação à promoção de mudanças no exercício profissional. Para a supervisão de apoio psicológico, é contemplada a esfera de investigação de supervisão como contexto de intersubjetividade, como discutido por Carolina Bacchi no capítulo 12, objetivando a formação de profissionais de saúde e educa ção. O passo originário dessa compreensão é narrado no capítulo 13, por Carolina Bacchi, Luciana Pires, Luiz Lilienthal, Maria Cristina Rocha, Rosana Frischer e Vera Iaconelli, a partir das experiências inaugurais com educadores de rua. As contribuições da supervisão de apoio psicológico para a promoção de apren dizagem significativa com esses profissionais da área de educação foram sendo conduzidas adiante, possibilitando questionamentos e intervenções como as apre sentadas por Maria Cristina Rocha, no capítulo 15, Luiz Lilienthal nos capítulos 16 e 18, e por Ana Frota, Heloísa Hanada, Maria Cristina Rocha e Rosana Frischer no capítulo 17, oferecendo um panorama de diferentes contextos e instituições e sua possibilidade como prática para a formação de agentes multiplicadores. Por ser o SAP o lugar de formação de futuros psicólogos, o contexto da supervisão de apoio psicológico para a promoção de aprendizagem significativa em profissionais da área de saúde, e especificamente na formação do estudante de psicologia, é apresentado por Maria Gertrudes Eisenlohr, no capítulo 7, e por Ana Carolina Pereira, Carolina Bacchi e Maria Júlia Kóvacs no capítulol4- Parte-se do contexto do fazer específico do psicólogo, relação na região da intersubjetividade. O contexto de relação entre aprendizagem significativa e oficinas de criativi dade é apresentado por Marina Jordão no capítulo 19. Na exploração da com preensão desse significado, Maria Luisa Schmidt e Vera Ostronoff, no capítulo 20, discutem temas envolvidos na construção dessas oficinas. A ocorrência desse processo de aprendizagem e desenvolvimento são delicadamente apresentados por Iramaia Quintino e Clara Carvalho, respectivamente nos capítulos 21 e 22, contando oficinas para a terceira idade com materiais plásticos e de narrativas. Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP ________________ 39 Como os projetos e suas práticas foram
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