Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Marcela Oliveira – Medicina 2020 – OBJETIVO 1: DEFINIR INTOXICAÇÃO CRÔNICA; A intoxicação crônica pode se manifestar por meio de inúmeras doenças, que atinge vários órgãos e sistemas. Os efeitos danosos sobre a saúde humana aparecem no decorrer de repetidas exposições, que ocorre durante o tempo. Os quadros clínicos são indefinidos, inespecíficos, sutis e muitas vezes irreversíveis. A intoxicação crônica manifesta-se através de inúmeras patologias, que atingem vários órgãos e sistemas, com destaque para os problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores. OBJETIVO 2: ELUCIDAR O MECANISMO DE AGRESSÃO, EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO E CONDUTA TERAPÊUTICA DA INTOXICAÇÃO POR CHUMBO; O chumbo é um metal presente em razão da sua ocorrência natural e do uso na indústria. A intoxicação por esse metal é algo comum e muito antigo na história, visto que no Império Romano esse metal era muito utilizado no encanamento, utensílios de cozinha. Ainda hoje o envenenamento do chumbo é considerado a doença de origem ambiental mais comum em todo o mundo. Ele é um metal amplamente utilizado no meio industrial, doméstico, farmacêutico, construção civil e em mineração. A intoxicação humana pelo chumbo é denominada saturnismo ou plumbismo. Suas fontes naturais incluem as emissões vulcânicas, marítimas e do intemperismo geoquímico. Outras formas de exposição incluem fabricação e reforma de baterias; indústria de plásticos; fabricação de tintas; pintura a pistola/pulverização com tintas à base de pigmentos de chumbo; fundição de chumbo, latão, cobre e bronze; reforma de radiadores; manipulação de sucatas; demolição de pontes e navios; trabalhos com solda; manufatura de vidros e cristais; lixamento de tintas antigas; envernizamento de cerâmica; fabricação de material bélico à base de chumbo; usinagem de peças de chumbo; manufatura de cabos de chumbo; trabalho em joalheria, entre outros. EPIDEMIOLOGIA Embora a exposição ao chumbo esteja em declínio nos países em desenvolvimento, a contaminação crônica por exposição a baixos níveis continua sendo um problema importante para a saúde infantil. Isso porque, as crianças são mais susceptíveis aos riscos pela ingestão de poeira domestica contaminada por chumbo, de solo de quintal, resíduos de tinta ou de levar a boca adereços de brinquedo e outros itens decorativos contendo chumbo. No nosso meio, os homens constituem a maior parte dos atingidos pela intoxicação do chumbo, dada a natureza das atividades que utilizam esse metal. No Brasil, os locais com maior índice de contaminação por chumbo ocorrem na cidade de Adrianópolis, no Paraná, no qual foi palco por mais de 50 anos da mineração de chumbo. Como consequência dessa atividade, cerca de 3 milhões de rejeitos de 2 Marcela Oliveira – Medicina 2020 chumbo foram lançados diretamente no rio. Já a cidade de Santo Amaro da Purificação na Bahia foi a sede da Companhia Brasileira de Chumbo. Durante seu funcionamento, toneladas de escoria contaminada de chumbo foram lançadas nas áreas adjacentes à fábrica. MECANISMO DE AÇÃO 1. ABSORÇÃO O chumbo não sofre biotransformação, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado. Os compostos inorgânicos do chumbo são bem absorvidos por inalação (50 a 70%) e até 16% do chumbo ingerido por adultos pode ser absorvido. Em crianças a absorção pela via digestiva é de 50%. A absorção é lenta e pode variar de acordo com a faixa etária e condições fisiológicas e nutricionais do individuo. Já os compostos orgânicos (tintura de cabelo, secantes de laca, vernizes, ceras e antidetonantes em gasolina) é a única forma absorvida por via cutânea, além da respiratória, ocasionando os transtornos nervosos após sua absorção. A absorção gastrointestinal ocorre no intestino delgado e tanto a absorção quanto a deposição óssea é influenciada pela dieta do individuo exposto, tais como a ingestão de cálcio, ferro, fósforo e proteína. 2. DISTRIBUIÇÃO Uma vez absorvido, o chumbo é distribuído para o sangue (com meia vida de 37 dias, com 90% nos glóbulos vermelho), nos tecidos moles (principalmente fígado e rins com meia vida de 40 dias) e nos tecidos mineralizados (ossos e dentes com meia vida de 27 anos) sendo este ultimo o maior deposito corporal do metal, armazenando ate 95% do chumbo no corpo. A absorção independe da via de absorção. Mas sim da taxa de transferência da corrente sanguínea para os diferentes órgãos e tecidos. Embora a concentração de chumbo seja menor que 2% no sangue, sua maior parte está ligada a membrana e proteínas como a hemoglobina. Como o chumbo é um análogo do cálcio, sua entrada e retirada do esqueleto são em parte controlada pelos mesmos mecanismos que regula a homeostase do mineral. Assim, o paratormônio e o di-idrotaquiesterol mobilizam o metal do esqueleto e aumenta sua concentração sanguínea e excreção. Entretanto, a deposição do chumbo no osso é feita sob a forma de fosfato de chumbo que é praticamente desprovido de toxicidade. Na fase inicial da deposição, a concentração de chumbo é maior nas epífises dos ossos, sendo possível identificar no exame radiológico as linhas de chumbo. As alterações patogênicas neurais produzidas pelo chumbo não são muito bem compreendidas, mas estudos tem demonstrado que o chumbo produz distúrbios de neurotransmissão, inibindo a função colinérgica e reduzindo o cálcio extracelular. Muito desses fenômenos é explicado pela habilidade do chumbo em mimetizar o cálcio nos tecidos. Além disso, o Chumbo bloqueia a entrada do cálcio para os terminais nervosos, inibe as ATPases do cálcio, afetando o transporte por membrana. Também inibe a utilização de cálcio pelas mitocôndrias diminuindo a produção de energia essencial as funções cerebrais. 3. ELIMINAÇÃO A excreção do chumbo é extremamente lenta, o que favorece sua acumulação no organismo. Depois da ingestão, aproximadamente 90% do chumbo que não é absorvido pela via gastrointestinal é excretada nas fezes. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Os rins filtram o chumbo inalterado, sendo possível o transporte tubular ativo se houverem altos níveis do metal absorvido. O rim é responsável por 75% da eliminação do metal, 25% terá excreção biliar e 8% através do suor, cabelo e unhas. QUADRO CLÍNICO Os efeitos variam conforme a via de exposição, duração do contato e concentração do chumbo. Os efeitos são mais evidentes nos sistemas nervoso, hematopoiético, renal e ósseo. O aparecimento da Linha de Burton, que é uma linha de coloração azul-escuro no limite da mucosa gengival é característica do Saturnismo. INTOXICAÇÃO AGUDA Ocorre quando o chumbo é ingerido em grandes quantidades, podendo haver dor abdominal (dor plúmbica), náuseas, vômitos, gosto metálico na boca, hepatite, anemia hemolítica e encefalopatia. INTOXICAÇÃO SUBAGUDA OU CRÔNICA EFEITOS CONSTITUCIONAIS Incluem: fadiga, mal-estar, irritabilidade, anorexia, insônia, perda de peso, redução da libido, atralgias e mialgias. EFEITOS NEUROLÓGICOS Quadros de intoxicação leve a moderada podem cursar com comprometimento cognitivo leve, cefaleia, fadiga, perda de memoria, perda de concentração e atenção, alterações de humor (irritabilidade, depressão, insônia ou sonolência excessiva). A encefalopatia pode ocorrer em adultos, mas as crianças são mais susceptíveis aos efeitos. Ela desenvolve-se somente após doses maciças, e é rara quando os níveis de Pb estão abaixo de 100ug/dl. Os primeiros sintomas consistem em falta de coordenação, vertigem, ataxia, quedas, cefaleia, insônia, agitação e irritabilidade. Os vômitos são em jatos devido à hipertensão intracraniana.Com a evolução o paciente pode tornar-se confuso, evoluindo para letargia e coma. Ocorre neuropatia periférica tardiamente, sendo mais comum em membros superiores. É mais comum nos adultos, os nervos sensoriais são menos afetados. Pode haver debilidade nos músculos extensores, com parestesias e perda de força muscular. (Típico punho e pé caído). EFEITOS RENAIS A exposição aguda ou crônica ocasiona dano reversível no túbulo proximal e uma lenta e progressiva insuficiência renal. Com a continua exposição, a nefropatia aguda evolui para uma nefrite crônica. EFEITOS GASTROINTESTINAIS A manifestação mais incomoda é a cólica saturnina, com dor abdominal intensa. Os espasmos intestinais decorrem da contração espasmódica da parede intestinal por alteração do cálcio. A dor pode ser confinada a região periumbilical ou epigástrica. Além disso, pode haver náuseas, constipação/diarreia, anorexia, vômitos intermitentes, pirose. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2020 EFEITOS OSTEOMUSCULARES Nos adultos pode contribuir para a osteoporose. Já nas crianças pode ocorrer deficiência no crescimento de ossos e estatura. Quadros crônico pode evoluir com mialgia generalizada. EFEITOS HEMATOLÓGICOS Há uma diminuição nos níveis de hematócrito e hemoglobina. Apresenta-se com anemia normocítica e normocrônica, sendo mais graves nas crianças. Os desvios hematológicos que levam à anemia pelo chumbo são considerados como resultado de sua ação tóxica sobre as células vermelhas e eritropoiéticas na medula óssea. Isso ocorre devido ao chumbo inibir a enzima ferroquelatase, fazendo com que no lugar do ferro, o zinco se junto à protoporfirina IX. Esses efeitos incluem inibição da síntese da hemoglobina (Hb) e diminuição do tempo de vida dos eritrócitos circulantes, resultando na estimulação da eritropoese. Entretanto, a anemia não é uma manifestação precoce do envenenamento por chumbo. EFEITOS REPRODUTIVOS Intoxicação leve a moderada pode cursar com aborto espontâneo e anormalidades no esperma, além de perda de libido em alguns casos. EFEITOS CARDIOVASCULARES: Aumento da pressão. EFEITOS ENDÓCRINOS: Hipertireoidismo. DIAGNÓSTICO Deve-se considerar intoxicação por chumbo em qualquer paciente com achados multisistêmico como dor abdominal, cefaleia, anemia e algumas vezes, neuropatia motora e insuficiência renal. A suspeita de encefalopatia pode ser realizada quando a presença de delirium ou convulsões na presença de anemia. EXAMES COMPLEMENTARES Devem ser solicitados: hemograma, radiografia de tórax, dosagem de chumbo no sangue, zinco-protoporfirina. (ZPP). O hemograma fornece informações como anemia e ponteado basófilo. Já a radiografia simples de abdome quando realizada precocemente na intoxicação aguda, pode demonstrar a existência e chumbo no trato gastrointestinal, devido à radiopaciade desse metal. As linhas de chumbo evidenciadas nos ossos longos reforçam esse diagnostico. A dosagem de chumbo no sangue é o método mais utilizado na avaliação inicial do 5 Marcela Oliveira – Medicina 2020 paciente suspeita. Os valores de referencia preconizam: A ZPP está alterada quando a analise demonstra resultados acima de 35mcg/dl (criança) e 50mcg/dl (adulto). Essa alteração varia com o tempo de exposição, pois pacientes com intoxicação recente tem baixa percentagem de hemácias com zinco-protoporfirina elevada, apesar da alta concentração de chumbo. TRATAMENTO Medidas de suporte devem ser feitas: Desobstruir vias aéreas, monitorizar sinais vitais, manter acesso venoso calibroso, hidratação adequada. DESCONTAMINAÇÃO A ingestão aguda em crianças pode ser indicada irrigação intestinal. Deve-se considerar remoção endoscópica para retiradas de corpos estranhos contendo chumbo. Na exposição cutânea ou ocular, devem-se remover roupas e objetos contaminados. ANTÍDOTO O tratamento com quelantes reduz as concentrações sanguíneas de chumbo e aumenta sua excreção urinária. A sua indicação depende do paciente, dos exames laboratoriais e da sintomatologia, embora reduzir a exposição seja o mais importante. Os agentes quelantes, como o EDTA cálcio dissódico parenteral (versenato de cálcio) ou o ácido dimercaptosuccínico (DMSA, succimer), diminuem a concentração de chumbo no sangue e em determinados tecidos e aceleram a excreção urinária desse metal. A quelação em crianças ou adultos assintomáticos com baixas concentrações de chumbo no sangue não é recomendada. Além disso, deve remover o paciente da fonte de exposição e instituir medidas de controle para prevenir intoxicação reincidente. Demais indivíduos possivelmente expostos (p. ex., companheiros de trabalho, ou irmãos ou colegas de crianças pequenas) deverão ser avaliados imediatamente. OBJETIVO 3: ELUCIDAR O MECANISMO DE AGRESSÃO, EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLINICO , DIAGNOSTICO E CONDUTA TERAPÊUTICA DA INTOXICAÇÃO POR MERCÚRIO; A intoxicação por mercúrio é provavelmente a mais antiga das doenças profissionais. O mercúrio é o único metal liquido a temperatura ambiente, é inodoro e volatiliza facilmente. É encontrado na natureza de três formas: mercúrio elementar, sais inorgânicos e mercúrio orgânico. Sua introdução nos ecossistemas pode se dar de forma natural ou decorrente da atividade humana. Para a primeira, o principal aporte está relacionado à precipitação dos vapores de mercúrio, erupções vulcânicas e evaporação dos corpos hídricos, e as formas mais encontradas são o mercúrio metálico, sulfeto 6 Marcela Oliveira – Medicina 2020 de mercúrio, cloreto de mercúrio e metilmercúrio. É um metal usado para a extração de ouro e prata, em manômetros para medida e controle de pressão, em termômetros, em computadores eletrônicos, em lâmpadas fluorescentes e em restauração de amalgama dental. Em decorrência de suas características como lipossolubilidade, possibilidade de atravessar as barreiras hematoencefálica e placentária, e efeito teratogênico, os compostos organomercuriais são os mais relevantes do ponto de vista toxicológico. EPIDEMIOLOGIA O estado de São Paulo apresenta o maior número de áreas cadastradas com presença do contaminante mercúrio, seguido dos estados do Mato Grosso e Rio de Janeiro. Segundo a análise no banco do SINAN foram notificados 131.765 casos de intoxicações exógenas no período de 2006 a 201116 Desses, 62 casos foram de intoxicação por mercúrio, notificados por meio de quatro entradas (metal, produto químico industrial, produtos de uso domiciliar e outros). Para os indivíduos que trabalham na extração e na recuperação de mercúrio correm um risco elevado de exposição ao vapor de mercúrio. MECANISMO DE AÇÃO Todos os efeitos do mercúrio dependem da sua forma de entrada no organismo. As formas elementar e orgânica do mercúrio atravessam a barreira hematoencefálica e placentária. O mercúrio tem efeito teratogênico sobre o feto. 1. MERCÚRIO ELEMENTAR OU METÁLICO A absorção dessa forma ocorre principalmente pela inalação do mercúrio liquido. Trata-se de intoxicação frequente nos garimpeiros que não usam equipamentos de proteção. Quando chega aos pulmões, parte do mercúrio elementar é oxidada a mercúrio bivalente pela catalase das hemácias e, em seguida fixam-se as proteínas. A absorção pelo trato gastrointestinal é desprezível. Assim, a ingestão acidental do mercúrio de termômetro, frequente em crianças é considerada atóxica, desde que não haja alteração intestinal local. Os rins e o cérebro correspondem aos locais de maior deposição do mercúrio metálico. A excreção ocorre, principalmente por via renal e intestinal. A meia vida biológica pode variar de 35 a 90 dias. 2. SAIS INORGANICOS DE MÉRCURIO Os principais são o Cloreto Mercuroso e o Cloretode Mercurio, sendo este ultimo a forma mais toxica e corrosiva do mercúrio. São absorvidos por via inalatória, digestiva e cutânea. Em torno de 2 a 10% do conteúdo ingerido é absorvido e o restante se liga as mucosas. É transportado no sangue pelas proteínas plasmáticas e pelas hemácias. Concentrando-se principalmente nos rins. Apresenta excreção renal e intestinal, podendo ser eliminado através da pele, saliva e suor. Essa forma não atravessa facilmente a barreira hematoencefálica ou a placenta. Possui meia vida de 40 a 60 dias. 3. MERCÚRIO ORGÂNICO Representa um grupo diversificado de compostos, sendo os alquis-mercúrio os mais perigosos. A absorção se da pela via inalatória, digestiva e cutânea, dependendo da volatilidade, solubilidade e concentração do composto. Por ser mais lipossolúvel é mais 7 Marcela Oliveira – Medicina 2020 facilmente absorvido pelo trato gastrointestinal e é menos irritante que os sais inorgânicos. O metil-mercúrio é transportado pelas hemácias. E apresenta como órgão alvo o SNC, principalmente córtex occipital e o cerebelo, acumulando-se no cérebro fetal. É excretado na bile, podendo sofrer recirculação hepática. Além disso, pode ser eliminado pelo leite materno. Possui uma meia vida média de 70 dias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1. MÉRCURIO ELEMENTAR A inalação aguda do vapor de mercúrio pode causar pneumonite, edema pulmonar não cardiogênico, sintomas neurológicos e polineuropatia. A exposição crônica também causa toxicidade ao SNC com o chamado erestismo mercurial: excitabilidade, perda de memoria, insônia, timidez e delirium. As exposições mais brandas deprimem a função renal, a velocidade de condução motora, a memoria e a coordenação. 2. MERCÚRIO INORGÂNICO As principais manifestações são gastrointestinais e renais, com diarreia, dor abdominal, síndrome nefrótica e insuficiência renal aguda. Pode haver hipertensão, taquicardia e colapso cardiovascular seguido de morte. 3. MERCÚRIO ORGÂNICO Ocorrem principalmente manifestações neurológicas pelos organomercuriais incluindo parestesia intensa, disartria, ataxia, redução do campo visual, perda auditiva, cegueira, microcefalia, espasticidade, paralisia e coma. A espoxição perinatal pode levar ao retardo mental e síndrome semelhante a paralisia cerebral no feto. DIAGNÓSTICO Informações de exposição ocupacional, ambiental, acidentes e intencionais com sintomatologia compatível são importantes. Porem, a identificação de mercúrio no sangue, urina ou tecidos é necessário para confirmar o diagnóstico. O exame laboratorial é fundamental para confirmação da intoxicação. Para isso faz dosagem de mercúrio no sangue e na urina. Além desses exames, é pedida a dosagem de eletrólitos, glicose, função renal e hepática, gasometria, RX de tórax e analise da urina. TRATAMENTO As medidas de suporte são indicadas em todos os casos: desobstruir vias aéreas, monitorar sinais vitais, manter acesso venoso e hidratação adequada. DESCONTAMINAÇÃO A descontaminação gastrointestinal não é necessária quando a exposição ao mercúrio ocorre por via oral. Pois como o mercúrio O efeito neurotóxico do mercúrio se dá por sua capacidade de circular facilmente pelo organismo e devido à sua lipossolubilidade, que lhe permite atravessar a barreira hematoencefálica, acumulando- se, assim, no tecido nervoso e provocando danos. Isso porque o vapor de mercúrio sofre biotransformação, o metal liga-se a outros elementos (tais como o cloro, enxofre ou oxigênio) para formar sais inorgânicos mercurosos. E no tecido neuronal forma o cátion mercúrico (Hg+2), que pode induzir alterações de proteínas estruturais, de enzimas e de neurotransmissores (como o glutamato), estresse oxidativo, interrupção de síntese de proteínas e DNA. Tem sido relatado que o Hg+2 inibe seletivamente a captação sináptica de glutamato nos neurônios do cérebro, o que está associado ao dano. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2020 elementar não é absorvido por esse trato possui baixa toxicidade nessa via. Já o mercúrio inorgânico possui características causticas e o orgânico é o único que se deve considerar a descontaminação se houver ingestão de grandes quantidades devido ao risco de lesões irreversíveis. No entanto, o carvão ativado não é indicado. Em casos de intoxicação por via inalatória, remover o paciente do local de exposição. Na exposição cutânea, realizar descontaminação com agua em abundancia. ANTÍDOTO Pacientes sintomáticos após exposição aguda ou crônica são candidatos à terapia com quelantes. As opções são: dimercaprol, DMSA (succímero) ou d-peniciclamina. Nas intoxicações crônicas o melhor tratamento é a d-penicilamina. OBJETIVO 4: ELUCIDAR O MECANISMO DE AGRESSÃO, EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLINICO , DIAGNOSTICO E CONDUTA TERAPÊUTICA DA INTOXICAÇÃO POR BENZENO; O benzeno é um hidrocarboneto, liquido claro volátil de odor característico, sendo um dos agentes químicos industriais mais utilizados. Ele é subproduto da gasolina e é usado como solvente industrial e como intermediário na síntese de vários materiais. O benzeno pode ser encontrado em corantes, plásticos, inseticidas. Além disso, o tabagismo é a principal fonte significativa de benzeno em ambientes residenciais. Tendo os fumantes uma taxa corpórea de benzeno de 6 a 10 vezes maiores do que os não fumantes. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, a preocupação com exposição de grupos populacionais ao benzeno teve início com denúncias pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santos (SP), na década de 1980, de casos de leucopenia em trabalhadores da Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), em Cubatão. As principais fontes produtivas de benzeno no Brasil estão concentradas nos centros de produção petroquímica e refino de petróleo, responsáveis por aproximadamente 95% da produção nacional. MECANISMO DE AÇÃO 1. ABSORÇÃO As principais formas de introdução do benzeno no organismo são as vias respiratória (vapores) e oral (alimentos e água). A via cutânea é mais rara, sendo necessário contato dérmico com essa substância na forma líquida, porém, quando ocorre, possui alto índice de absorção. Em termos de saúde pública, a via de contaminação com maior relevância é a respiratória e a maior parte do benzeno inalado é eliminada pela expiração, ficando a parte que é absorvida acumulada principalmente em tecidos com alto teor lipídico. Após a absorção, a metabolização do benzeno ocorre preferencialmente no fígado. No processo de excreção dos metabólitos gerados, o rim é o principal responsável por tal função. A primeira etapa do metabolismo envolve participação de enzimas, levando a formação do óxido de benzeno que tem a capacidade de se ligar a proteínas e DNA. Esse óxido de benzeno se transforma em fenol, que é metabolizado à hidroquinona, que é considerada precursora de metabolitos mielotóxicos, o que causa um aumento da toxicidade, mutações de 9 Marcela Oliveira – Medicina 2020 protooncogenes e genes supressores, além de levar a apoptose de células da medula óssea e uma hematopoese anômala. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EXPOSIÇÃO AGUDA Pode causar efeitos imediatos sobre o SNC, incluindo dor de cabeça, náuseas, tontura, tremor, convulsões e coma. Os sintomas de toxicidade ao SNC deverão estar aparentes imediatamente após a inalação ou em 30 a 60 minutos após a ingestão. A inalação grave pode advir da sensibilidade aumentada do miocárdio às catecolaminas. O benzeno pode causar queimaduras químicas na pele no caso de exposição intensa ou prolongada. EXPOSIÇÃO CRÔNICA Inicialmente caracteriza por fadiga intensa, sonolência, cefaleia, vômitos, perda de apetite, lesões dermatológicas. Ao longo da intoxicação ocorremdistúrbios hematológicos, como pancitopenia, anemia aplásica e leucemia mielóide aguda. Ele ainda é suspeito da LMC, LLC, mieloma múltiplo, doença de Hodgkin e hemoglobinúria paroxística noturna. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da intoxicação é obtido com base em uma historia de exposição e nos achados clínicos típicos. No caso da toxicidade hematológica crônica, as contagens de eritrócitos, leucócitos e trombóticos poderão se elevar inicialmente e em seguida, cair após o aparecimento da anemia aplásica. Os níveis de fenol na urina podem ser uteis para o monitoramento da exposição ao benzeno no local de trabalho. Os ácidos trans-mucônico e S- fenlmercaptúrico urinário são indicadores mais sensíveis e específicos da exposição a baixos níveis de benzeno. Os níveis sanguíneos de benzeno não são clinicamente uteis exceto após uma exposição aguda. TRATAMENTO Em casos de emergência consiste nas medidas de suporte. Não existe antidoto especifico. A descontaminação nos casos de inalação deve ser retirar imediatamente a vitima do local e fornecer oxigênio quando disponível. No caos de contaminação na pele e olhos devem-se remover as roupas e lavar a pele, irrigando os olhos com agua e soro fisiológico. E em casos de ingestão deve-se administrar carvão ativado caso as condições sejam apropriadas. Considerar aspiração gástrica com um tubo pequeno flexível em casos de ingestão alta. OBJETIVO 5: COMPREENDER OS IMPACTOS AMBIENTAIS NO DESCARTE INADEQUADO DE METAIS PESADOS; A poluição do solo e de sistemas aquáticos por metais pesados é um fator que afeta a qualidade do meio ambiente e constitui risco eminente de intoxicação ao homem. Esses metais são originários de processos litogênicos e/ou atividades antrópicas, como a utilização de fertilizantes em zonas agrícolas e a atividade mineradora. As ações antrópicas são responsáveis por adições de até 1,16 milhões de toneladas de metais por ano em ecossistemas terrestres e aquáticos no mundo todo. No Brasil, a mineração de níquel, ouro, ferro e de outros metais de interesse comercial, têm contribuído com a liberação de rejeitos que se constituem como uma das principais formas de contaminação do solo e da água por metais pesados. 10 Marcela Oliveira – Medicina 2020 A contaminação do solo por metais pesados, tendo como fonte as indústrias, ocorre devido a diferentes tipos de processamento em refinarias. As águas residuais constituem, provavelmente, a maior fonte individual de valores elevados de metal em rios e lagos. Além disso, metais pesados podem ser transportados entre os ambientes a partir da atmosfera. Uma das principais preocupações com os metais é a bioacumulação desses pela flora e fauna aquática, que pela cadeia alimentar acaba também atingindo o homem, ocasionando efeitos subletais e letais, devido a disfunções metabólicas. O excesso de metais pesados, como o mercúrio, por exemplo, tem efeitos tóxicos reconhecidos. As quantidades traço de mercúrio em formas inertes disseminam-se no meio ambiente. Quando os solos são perturbados por atividades antrópicas como a mineração, o mercúrio que se encontra em sua forma natural em contato com o solo e a flora transforma-se rapidamente em formas móveis. Logo chega às cadeias alimentares por meio dos peixes e passam a outros níveis como, aves, mamíferos e seres humanos. OBJETIVO 6: ENTENDER A FUNÇÃO DE CADA ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA FISCALIZAÇÃO DO USO E DESCARTE DOS METAIS PESADOS; INEMA O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) foi criado através da lei nº 12.212, promovendo a integração do sistema de meio ambiente e recursos hídricos do Estado da Bahia. O Inema tem por finalidade executar as ações e programas relacionados à Política Estadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade, a Política Estadual de Recursos Hídricos e a Política Estadual sobre Mudança do Clima. Cabe ao Inema atuar em articulação com os órgãos e entidades da Administração Pública Estadual e com a sociedade civil organizada, a fim de dar mais agilidade e qualidade aos processos ambientais. O órgão ambiental que faz a fiscalização varia de estado para estado. Muitas vezes são entidades estaduais, outras vezes são autarquias e em outras são setores especiais da própria secretaria de meio ambiente. Na Bahia, o responsável é o Inema. OBJETIVO 7: ESTUDAR OS ASPECTOS ÉTICOS- LEGAIS QUE AMPARAM INDIVÍDUOS QUE DESENVOLVERAM DOENÇAS DEVIDO AO TRABALHO; A doença ocupacional ou profissional é desencadeada pelo exercício do trabalhador em uma determinada função que esteja diretamente ligada à profissão. Como por exemplo, um escrevente que adquiriu tendinite. Diferentemente da doença profissional, a doença de trabalho não está atrelada à função desempenhada pelo trabalhador, mas ao local onde o operário é obrigado a trabalhar. Como exemplo de doença de trabalho, podemos citar: o câncer que acomete trabalhadores de minas e refinações de níquel, as pessoas que trabalham em contato com amianto ou em proximidade com algo radioativo, os trabalhadores que sofrem de doenças pulmonares por estarem em contato constante com muita poeira, névoa, vapores ou gases nocivos, a surdez provocada por local extremamente ruidoso, entre outros. Existem algumas doenças que não são consideradas doença de trabalho em virtude de sua natureza, pois se desenvolvem naturalmente. São elas: a) doença degenerativa: câncer, diabetes, Parkinson, Alzheimer. b) doença inerente ao grupo etário: não decorre da sua atividade, mas sim por conta da sua idade. Ex: catarata, presbiopia. 11 Marcela Oliveira – Medicina 2020 c) doença que não produza incapacidade laborativa: quedas ou cortes; d) doença endêmica: quando a exposição não é devido ao trabalho. Após sofrer um acidente no ambiente de trabalho, deve-se buscar por ajuda o mais rápido e solicitar a abertura do Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT). O CAT é uma peça de suma importância para o trabalhador, pois é capaz de provar que o obreiro sofreu um acidente de trabalho, servindo como prova para requerimento de benefícios previdenciários e para obrigar que a empresa indenize o empregado pela perda ou redução da capacidade laborativa. O trabalhador vítima de acidente de trabalho goza de estabilidade pelo período de 12 meses após a concessão do auxílio acidentário, independentemente da percepção do benefício acidentário concedido pelo INSS. Dessa maneira, não pode ser dispensado de forma arbitrária ou sem justa causa. Quando esse afastamento é superior a 15 dias, o trabalhador passa a receber o auxílio-doença da previdência, tendo o seu contrato suspenso. No caso de exposição crônica aos metais pesados, é necessário medidas de prevenção contra a intoxicação ocupacional por chumbo, dentre elas estão o uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s) e equipamentos de proteção coletiva (EPC’s). Porém, apesar do papel fundamental desses equipamentos, eles não atuam no agente de risco, neste caso, o chumbo. Por isso as medidas de primeira linha na prevenção das exposições ao chumbo estão no plano de prevenção primária, ou seja, trata-se de medidas que buscam eliminar ou reduzir a exposição excessiva, através de estratégias de monitoramento de exposição biológica e ambiental e projeto ou reprojeto dos meios de produção. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes como seu próprio nome já remete, tem a principal função de prevenir possíveis acidentes no trabalho com o objetivo de estabelecer a harmonia entre vida e saúde de seus trabalhadores. A CIPA é uma instituição interna que estabelece vínculos trabalhistas, sendo composta tanto por representante dos empregadores, quanto dos trabalhadores. A CIPAtem a função de prevenir possíveis acidentes ocupacionais e auxiliar o Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) a desenvolver suas ações preventivas. A principal diferença entre esses dois órgãos internos de uma é que a CIPA é composta por leigos, enquanto a SESMT é composta por especialista na área de segurança ocupacional. OBJETIVO 8: CARACTERIZAR A IMPORTÂNCIA E AS FORMAS DE MANEJO DO LIXO INDUSTRIAL; Resíduos são o resultado de processos de diversas atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e ainda da varrição pública. Os resíduos apresentam-se nos estados sólidos, gasoso e líquido. O lixo Industrial é originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia, etc. O lixo industrial é bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se grande quantidade de lixo tóxico. Esse tipo de lixo necessita de tratamento especial pelo seu potencial de envenenamento. O lixo gerado pelas atividades agrícolas e industriais é tecnicamente conhecido como 12 Marcela Oliveira – Medicina 2020 resíduo e os geradores são obrigados a cuidar do gerenciamento, transporte, tratamento e destinação final de seus resíduos, e essa responsabilidade é para sempre. A indústria é responsável por grande quantidade de resíduo – sobras de carvão mineral, refugos da indústria metalúrgica, resíduo químico e gás e fumaça lançados pelas chaminés das fábricas. O resíduo industrial é um dos maiores responsáveis pelas agressões fatais ao ambiente. Nele estão incluídos produtos químicos (cianureto, pesticidas, solventes), metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e solventes químicos que ameaçam os ciclos naturais onde são despejados. Alguns produtos, principalmente os sólidos, são amontoados em depósitos, enquanto que o resíduo líquido é, geralmente, despejado nos rios e mares, de uma ou de outra forma. A destinação, tratamento e disposição final de resíduos devem seguir a Norma 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas que classifica os resíduos conforme as reações que produzem quando são colocados no solo: Perigosos (Classe 1- contaminantes e tóxicos); Não-inertes (Classe 2 - possivelmente contaminantes); Inertes (Classe 3 – não contaminantes). Os resíduos das classes 1 e 2 devem ser tratados e destinados em instalações apropriadas para tal fim. Por exemplo, os aterros industriais precisam de mantas impermeáveis e diversas camadas de proteção para evitar a contaminação do solo e das águas, além de instalações preparadas para receber o lixo industrial e hospitalar, normalmente operados por empresas privadas, seguindo o conceito do poluidor-pagador. OBJETIVO 9: CARACTERIZAR RESÍDUO DE LOGÍSTICA REVERSA OBRIGATÓRIA; A PNRS (Politica nacional de resíduos sólidos) define Logística Reversa como instrumento a ser instituído para viabilizar a coleta e a devolução de determinados resíduos sólidos ao setor produtivo/empresarial responsável. Dessa forma, resíduos anteriormente descartados poderão ser reaproveitados pelo próprio fabricante ou em outros ciclos produtivos. O instrumento aplica-se a todos os tipos de resíduos, principalmente aos produtos ou embalagens que representam riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Os resíduos de sistema de logística reversa obrigatório são definidos nos termos da PNRS em seis grupos principais: pilhas e baterias, pneus, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, produtos eletroeletrônicos e seus componentes e resíduos de embalagens de agrotóxicos. Outros tipos de resíduos, como medicamentos e embalagens em geral, também podem ser objeto da cadeia da logística reversa. Para tal, deve haver uma logística de recolhimento, independente do oferecimento de serviço público de limpeza urbana, de forma a garantir o retorno desses resíduos ao fabricante após o uso pelo consumidor final. Segundo a PNRS, para a implementação da logística reversa é necessário acordo setorial ou contrato entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes. Devem ser considerados aspectos de qualidade ambiental e de saúde pública, e todo o sistema deve ser avaliado sob os aspectos técnico e econômico. 13 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Resumindo, Logística Reversa ocorre sempre que os resíduos gerados na cadeia de produção e consumo forem reaproveitados na própria cadeia, ou em outro ciclo produtivo.
Compartilhar