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FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO PROFESSOR Dr. Felipe Natali Almeida 2 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de projetos especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego e Nayara Valenciano, Revisão Textual Felipe Veiga da Fonseca, Ilustração Bruno Cesar Pardinho Figueiredo, Gabriel Amaral Da Silva, Marcelo Yukio Goto, Marta Sayuri Kakitani, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; ALMEIDA, Felipe Natali. Fisiologia Geral e do Movimento. Felipe Natali Almeida. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpressão 2019 160 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Fisiologia . 2. Sistema Esquelético . 3. Hormônios . 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1025-1 CDD - 22ª Ed. 612.04 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino Janes Fidélis Tomelin Diretoria Executiva de Ensino Fabrício Lazilha Diretoria de Planejamento de Ensino autor Professor Dr. Felipe Natali Almeida Doutor em Fisiologia Humanapelo Instituto de Ciências Biomédicas da Univer- sidade de São Paulo - USP (2012). Mestre em Ciências Biológicas pela Univer- sidade Estadual de Maringá - UEM (2008) e graduado em Educação Física pela mesma universidade (2005). Foi professor de Fisiologia Humana e do Exercício, Anatomia e Bioquímica em diversos cursos da área da saúde. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8674351329205771>. apresentação do material FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Felipe Natali Almeida Prezado(a) aluno(a), com este livro entraremos no universo da fisiologia. A fisiologia é a disciplina que estuda as funções dos sistemas corporais. Ou seja, iremos entender como o organismo humano funciona e, mais do que isso, tam- bém procuraremos compreender como ele funciona durante o exercício físico. Num primeiro momento, trazemos de volta um conteúdo a pouco estudado por você anteriormente. Falaremos sobre métodos de obtenção de energia (em nosso tópico de bioenergética), ou seja, discutiremos os mecanismos anaeróbios e aeróbios de produção de ATP e traçaremos uma relação destes mecanismos com o exercício físico (em nosso tópico de metabolismo do exercício físico), ambos na Unidade I. Com base no conhecimento adquirido nesta unidade, podemos entender como conseguimos energia rapidamente para executar uma corrida de 100m e/ou atravessar uma rua correndo, assim como correr uma maratona. Posteriormente, trabalharemos com dois sistemas fisiológicos de fundamental importância para a obtenção de oxigênio e remoção do gás carbônico em nosso organismo: o sistema cardiovascular e o sistema respiratório. O primeiro, respon- sável por, através do sangue, distribuir o oxigênio a todos os tecidos corporais de acordo com a demanda e remover os dejetos metabólicos; o segundo, responsável por oxigenar o sangue e remover o gás carbônico. Ambos aumentando sua ativi- dade em exercício físico. 8 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Em geral, uma boa parte da energia produzida ao longo de um dia por meio dos processos aeróbios e anaeróbios tem por finalidade proporcionar a contração muscu- lar, em especial quando estamos realizando algum exercício físico. Além de energia, uma integração entre o sistema nervoso central e o músculo esquelético é necessária para que a contração muscular venha a ocorrer e, na Unidade III, discutiremos os passos dessa interação. Na unidade IV, entramos em contato com os hormônios. Durante nossa dis- cussão sobre o sistema endócrino (nome que damos ao sistema que compreende os tecidos corporais envolvidos na liberação dos hormônios) observaremos o papel dos principais hormônios produzidos pelo organismo humano, além de sua relação com o exercício físico. Finalizando, em nossa Unidade V, discutiremos sobre uma importante asso- ciação: atividade física e o desenvolvimento da saúde. Devemos saber que saúde é muito mais do que ausência de doença, e engloba um completo bem-estar físico, emocional, mental e espiritual. A prática regular de exercícios físicos é um dos elementos fundamentais para uma saúde plena. Além desta relação, também dis- cutiremos sobre a prática de exercícios para populações especiais como diabéticos, hipertensos, idosos entre outros. Espero que você aproveite ao máximo este material, extraia o máximo de in- formação possível, se dedique e estude para que em um futuro próximo tenhamos profissionais diferenciados ingressando no mercado de trabalho. Um abraço. sumário UNIDADE I BIOENERGÉTICA E METABOLISMO DO EXERCÍCIO FÍSICO: COMO O CORPO OBTÉM ENERGIA? 14 Demandas Energéticas 16 Substratos Energéticos 22 Bioenergética 34 Metabolismo do Exercício 39 Considerações fi nais 44 Referências 44 Gabarito UNIDADE II SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO: SISTEMA CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO E SUA RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO FÍSICO 50 Sistema Cardiovascular 60 Funcionamento do Sistema Cardiovascular em Exercício 66 Sistema Respiratório 72 Respostas do Sistema Respiratório ao Exer- cício Físico 74 Considerações fi nais 79 Referências 79 Gabarito UNIDADE III SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO E A GERAÇÃO DO MOVIMENTO 84 O Sistema Nervoso e o Movimento 86 Grandes Vias Motoras 90 O Músculo Esquelético e sua Relação com o Movimento Humano 102 Considerações fi nais 108 Referências 108 Gabarito UNIDADE IV HORMÔNIOS E EXERCÍCIO FÍSICO 114 Visão Geral do Sistema Endócrino 118 Hormônios: Funções e sua Relação com o Exercício Físico 128 Considerações fi nais 133 Referências 133 Gabarito UNIDADE V FISIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA VOLTADA PARA A SAÚDE 138 Atividade Física e Saúde 142 Exercícios Para Populações Especiais 154 Considerações fi nais 159 Referências 159 Gabarito 160 Conclusão geral Professor Dr. Felipe Natali Almeida Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Demandas energéticas • Substratos energéticos • Bioenergética • Metabolismo no exercício Objetivos de Aprendizagem • Compreender os elementos envolvidos no gasto energético. • Discutir sobre os diferentes tipos de substratos energéticos. • Entender o conceito de fosfato de alta energia. • Abordar o conceito de bioenergética por meio da discussão sobre a produção anaeróbia e aeróbia de ATP. • Discutir o metabolismo energético mediante a interação do uso das vias anaeróbias e aeróbias de ressíntese de ATP no repouso e nas diferentes fases do exercício. BIOENERGÉTICA E METABOLISMO DO EXERCÍCIO FÍSICO: COMO O CORPO OBTÉM ENERGIA? unidade I INTRODUÇÃO O lá, seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a). Trataremos nesta uni- dade de um dos assuntos que nos dão a base para o entendi- mento da fisiologia. Alguns conceitos abordados aqui já po- dem ter sido apresentados inicialmente a você no módulo de bases biológicas e deverão ser trazidos novamente à mente nesta unidade. Iniciamos nosso estudo por meio de uma visão geral sobre as neces- sidades energéticas para o funcionamento corporal e os substratos neces- sários para isso, com os conteúdos abordados em nossas duas primeiras subunidades (demandas energéticas e substratos energéticos). Em adição à visão global do gasto energético, sabemos que milhares de reações bio- químicas ocorrem em todo o corpo a todo o momento, sendo o conjunto destas reações químicas denominadas de metabolismo. Dentro do gran- de grupo “metabolismo”, como todas as células necessitam de energia, não surpreende que as células sejam dotadas de vias bioquímicas capazes de converter alimentos em uma forma de energia biologicamente utilizá- vel, processo este chamado de bioenergética. Sendo assim, para que possamos realizar nossas atividades cotidia- nas, como se deslocar, escrever, digitar, pensar, assim como para reali- zação de exercícios físicos, nossas células devem ser capazes de extrair a energia contida nos alimentos. Sem essa capacidade de extração da energia dos alimentos, limitaríamos nossa capacidade de resistir aos es- forços e rapidamente teríamos que interromper as atividades, visto que para contração muscular, as fibras musculares precisam de uma fonte de energia contínua, sendo as reações envolvidas nesses processos descritas no tópico 3 intitulado de “Bioenergética”. Seguido esse assunto, no tópico 4, realizamos uma abordagem voltada ao exercício físico, descrevendo as particularidades da bioenergética neste contexto. Em suma, dada a im- portância da produção de energia celular durante todas as atividades di- árias e, em especial, para realização de exercício físico, torna-se essencial um bom nível de conhecimento sobre esse assunto. 14 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Por que nos alimentamos? Você já se fez esta pergunta? De uma forma geral, nos alimentamos (Figura 1), pois por meio desse ato obtemos, em primeiro lugar, mate- riais que nos ajudama construir ou renovar elemen- tos do nosso corpo (como quando você se machuca e precisa produzir tecido para renovar a lesão ou quan- do você treina e precisa de proteína para hipertrofi a muscular) e energia que possibilita ao corpo realizar 2 tarefas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011): 1. Construção do nosso corpo (crescimento dos tecidos, ganho e massa muscular, renovação das células, construção de organelas celulares entre outros). 2. Manutenção de um meio interno equilibrado (manter as funções vitais dentro de uma fai- xa de normalidade compatível com a vida) e, depois que as necessidades basais (para ma- nutenção de funções vitais) são preenchidas, a energia adicional pode ser canalizada para: • estoque (na forma do gordura corporal ou glicogênio hepático e muscular) e/ou • usada como combustível para uma ativida- de extra como, por exemplo, um exercício físico, passear com o cachorro, lavar o car- ro, entre outras atividades cotidianas. Demandas Energéticas EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Logo, para manter nosso organismo funcionan- do, precisamos gastar energia e ao gasto energéti- co ocorrido em 24 horas damos o nome de “gasto energético diário”. De uma forma geral, ele pode ser subdividido em quatro elementos (Figura 2): a. Taxa metabólica basal (ou de repouso): energia necessária para manutenção dos sis- temas corporais. b. Efeito térmico dos alimentos: aumento do gasto de energia que segue a ingestão da comida e está associada à digestão, à ab- sorção e ao metabolismo dos alimentos e de seus nutrientes. c. Efeito térmico das atividades: gasto de ener- gia associado à realização de movimentos espontâneos e de atividades musculares pla- nejadas (incluindo aqui atividades cotidia- nas, como lavar um carro e limpar a casa, por exemplo, assim como a realização de exercí- cios físicos efetivamente). d. Gastos com o crescimento. Figura 1 - Alimentos consumidos cotidianamente formam a base ener- gética para produção de ATP Importante salientar que esses quatro elementos po- dem ser influenciados, aumentando ou diminuin- do sua participação no gasto energético diário total Figura 2 - Elementos do gasto energético diário Fonte: adaptado de Maughan e Burke (2004). (MAUGHAN; BURKE, 2004). A Figura 2 também apresenta os principais agentes influenciadores de cada um deles. - Duração - Intensidade - Massa corporal magraGasto energético diário Atividades físicas cotidianas Exercícios Crescimento Atividade física Efeito térmico dos alimentos Taxa metabólica basal - Dependente da fase do desenvolvimento do indivíduo - Quantidade e tipo dos alimentos consumidos - Genética - Idade - Sexo - Massa corporal magra - Área de superfície - Níveis hormonais - Atividade do sistema nervoso 16 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Como vimos, o corpo gasta energia para se manter funcionando (gasto energético diário) e durante o processo de consumo alimentar, macro e micronu- trientes devem fazer parte das refeições diárias e são de fundamental importância para que a homeostasia do corpo possa ser mantida. Carboidratos, gorduras e proteínas são os representantes dos macronutrien- tes, elementos que entre outras funções são respon- sáveis por produzir a energia a ser utilizada pelo cor- po. Carboidratos e gorduras são os macronutrientes principais, enquanto as proteínas têm um papel se- cundário na geração da energia utilizada, tanto em repouso quanto em exercício (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011 e MAUGHAN; BURKE, 2004). Para suprir a demanda por energia ao longo das 24 horas do dia, poucos são os substratos energéti- cos que podem ser utilizados. Dentre os substratos energéticos temos os carboidratos, as gorduras e as proteínas como seus representantes principais. Ini- ciaremos nosso estudo pelos carboidratos. Substratos Energéticos EDUCAÇÃO FÍSICA 17 CARBOIDRATOS Os polissacarídeos são os carboidratos comple- xos que contêm pelo menos três monossacarídeos unidos. Eles podem ser moléculas pequenas (que contêm três monossacarídeos) ou moléculas muito amplas (que contêm centenas de monossacarídeos, incluindo várias ramificações de sua cadeia linear). Em geral, os polissacarídeos são classificados de acordo com sua origem, sendo possível a origem vegetal e a origem animal. As duas formas mais comuns de polissacarídeos de origem vegetal são a celulose e o amido. Os seres humanos não possuem as enzimas utilizadas para digerirem a celulose e, portanto, descartam a celulose como resíduo de material fecal e não conseguem obter energia dela. Por outro lado, o amido (encontrado no milho, na batata, em grãos, entre outros) é facilmente dige- rido pelos humanos e constitui uma fonte impor- tante de carboidratos da dieta alimentar. Depois de ingerido, o amido é quebrado para formar mo- nossacarídeos (visto que no trato gastrointestinal só conseguimos absorver carboidratos na forma de monossacarídeos) e pode ser usado imediatamente como energia pelas células ou armazenado nestas (não como amido, mas sim como glicogênio) para atender necessidades futuras de energia (McARD- LE; KATCH; KATCH, 2011). O polissacarídeo armazenado no tecido animal é chamado de glicogênio, sintetizado nas células pela ligação de moléculas de glicose. Geralmen- te, são moléculas amplas e ramificadas que podem conter de centenas a milhares de moléculas de gli- cose unidas. As células armazenam glicogênio como uma forma de suprir as necessidades de carboidra- tos como fonte de energia. Durante o exercício, por exemplo, as células musculares quebram o glicogê- nio em glicose (processo chamado de glicogenó- Figura 3 - Exemplos de carboidratos na alimentação cotidiana Os carboidratos (Figura 3) são compostos por áto- mos de carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando armazenados, fornecem ao corpo uma forma de energia rapidamente disponibilizada, com 1g de carboidrato rendendo pouco mais de 4 kcal de energia. São encontrados em três formas: 1) mo- nossacarídeos, 2) dissacarídeos e 3) polissacarídeos (DEVLIN, 2011). Os monossacarídeos são os açúcares mais sim- ples e como exemplos temos a glicose (que muitos conhecem pelo açúcar do sangue), a frutose (que seria o açúcar contido nas frutas) e a galactose (o açúcar contido no leite). Já os dissacarídeos são for- mados pela combinação de dois monossacarídeos. Entre eles temos com importância bioenergética o açúcar de mesa, denominado quimicamente de sacarose, formado pela união de uma molécula de glicose e outra de frutose. Em adição, temos o dis- sacarídeo extraído do leite, a lactose, formado pela união de uma molécula de glicose com uma de ga- lactose, e também a maltose, açúcar presente na cer- veja, nos cereais e em sementes em germinação, que é formada pela junção de duas moléculas de glicose (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). 18 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO lise) e usa esta glicose como fonte de energia para a contração muscular. Esse processo também pode ocorrer no fígado (local de maior armazenamento de glicogênio no corpo humano), porém a glicose é liberada na circulação e disponibilizada para todos os tecidos (DEVLIN, 2011). Importante salientar que apesar do corpo hu- mano poder estocar glicose na forma de glicogênio tanto no músculo esquelético quanto no fígado, es- tas reservas são relativamente pequenas e podem ser depletadas em poucas horas, como resultado de um exercício prolongado, especialmente se estive- rem associadas a uma dieta pobre em carboidrato (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). GORDURAS Embora as gorduras contenham os mesmos ele- mentos químicos presentes nos carboidratos, a proporção carbono, oxigênio nas gorduras, é signi- ficativamente maior do que aquela encontrada nos carboidratos. A gordura corporal armazenada é um bom combustívelpara o exercício prolongado, pois as moléculas de gordura contêm cerca de 9 kcal de energia a cada 1g, mais do que o dobro do conteúdo de energia de carboidratos ou proteínas. As gordu- ras são insolúveis em água e podem ser encontra- das tanto nos vegetais como nos animais. Em geral, podem ser classificadas em quatro grupos: 1) ácidos graxos, 2) triglicerídeos, 3) fosfolipídeos e 4) esteroi- des (NELSON; COX, 2014). Os ácidos graxos são o tipo primário de gordura usada pelas células (incluindo aqui as musculares) para obtenção de energia. São armazenados no cor- po na forma de triglicerídeos, que são compostos por três moléculas de ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol (que não é gordura, mas um tipo de álcool). Embora o maior sítio de armazena- mento de triglicerídeos seja a célula adiposa, essas moléculas também são estocadas em muitos tipos celulares, incluindo o músculo esquelético (deno- minado de triacilglicerol intramuscular, geralmente presente em pequenas gotículas localizadas próxi- mas às mitocôndrias dessas células). Em situações de necessidade, os triglicerídeos podem ser que- brados, por um processo denominado de lipólise, e seus componentes (ácidos graxos e glicerol) são liberados e usados como substrato energético (o glicerol só é utilizado como substrato após ser con- vertido em glicose no fígado, por gliconeogênese). Dessa forma, a molécula de triglicerídeo inteira pode ser usada como fonte de energia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Os fosfolipídeos não são usados como fonte de energia (ao menos não como função primordial), são lipídeos combinados a diferentes moléculas de ácido fosfórico, responsáveis por formarem todas as membranas celulares de todas as organelas das células. Já os esteroides apresentam como elemento principal o colesterol, um componente de todas as membranas biológicas juntamente com os fosfo- lipídeos, além de serem utilizados para síntese de todos os hormônios ditos “esteroides”, onde incluí- mos os hormônios sexuais (estrogênio, progestero- na e testosterona), os glicocorticoides (cortisol) e os mineralocorticoides (aldosterona). As gorduras nos alimentos são encontradas em diversas fontes, podendo ser consideradas nutricionalmente bené- ficas ou maléficas (figura 4) (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). EDUCAÇÃO FÍSICA 19 PROTEÍNAS As proteínas são macronutrientes compostos por unidades menores chamadas de aminoácidos. O corpo necessita de 20 aminoácidos para formar os diversos tipos de proteínas necessárias ao bom fun- cionamento corporal. Existem nove aminoácidos, chamados de aminoácidos essenciais, que não po- dem ser sintetizados pelo corpo e, dessa forma, pre- cisam ser consumidos com os alimentos e incluem a fenilalanina, a histidina, a isoleucina, a lisina, a leu- cina, a metionina, a treonina, o triptofano e a valina. Já os aminoácidos não essenciais, ou seja, aqueles que podem ser produzidos pelo organismo, são o aspartato, o glutamato, a alanina, a arginina, a aspa- ragina, a cisteína, a glicina, a glutamina, a prolina, a serina e a tirosina (DEVLIN, 2011). Um indivíduo típico de 70kg dispõe de um re- servatório corporal de aproximadamente 12kg de aminoácidos, sendo que a grande maioria deles exis- te na forma de proteína e uma pequena quantida- de (cerca de 200g), na forma de aminoácidos livres. Durante o dia, acontece um processo constante de circulação das proteínas, envolvendo a ocorrência simultânea de sua quebra e síntese, e uma troca con- tínua de aminoácidos entre os vários reservatórios. O sistema musculoesquelético responde pela maior reserva de proteínas do corpo e também por parte significativa dos aminoácidos livres (MAUGHAN; BURKE, 2004). Novos aminoácidos podem entrar no reservató- rio de aminoácidos livres provenientes de três fon- tes: ingestão alimentar, quebra de proteína existente no corpo e nova síntese dentro do corpo (lembran- do que alguns aminoácidos podem ser produzidos pelo organismo e outros devem ser obrigatoriamen- te consumidos, conforme visto anteriormente). Por outro lado, a saída do reservatório de aminoácidos livres é via secreção no intestino, incorporação a no- vas proteínas, oxidação como fonte de energia ou ser convertido em gorduras ou carboidratos (esta últi- ma quando as proteínas são consumidas em exces- so) (MAUGHAN; BURKE, 2004). A dinâmica desse processo é observada na Figura 5. Figura 4 - Diferentes tipos de gorduras encontradas nos alimentos GORDURAS BOAS GORDURAS RUINS abacates salmão nozes azeite carne gorda queijo sorvete comida frita GORDURAS BOAS vs GORDURAS RUINS 20 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Como fonte de energia, as proteínas contêm cerca de 4 kcal por grama, mas devem ser quebradas em aminoácidos para poderem ser utilizadas com este propósito. Para fornecerem energia, ou deverão ser Proteínas da dieta (aminoácidos) intestino Fezes (C e N) Nitrogênio perdido na urina ou suor Convertido em carboidratos e gorduras degradação síntese Proteínas do tecido absorção excreção Oxidado para produção de energia Reservatório de aminoácidos livres Figura 5 - Ciclo dos aminoácidos no organismo Fonte: o autor. Além dos macronutrientes, os micronutrientes (vitaminas e minerais) também desempenham um papel chave na otimização da saúde e no desempenho do atleta. Em muitos casos, pode haver aumento na exigência de determinado micronutriente em consequência da prática de programa regular de exercícios. No entanto, não existem normas fixas para ingestão de vitaminas e minerais em atletas. Por enquanto, os estudos ainda não apresentam indícios de que a suplementação vitamínica aumente o desempenho no exercício, exceto nos casos em que havia deficiência preexistente. Entretanto, desperta interesse no que tange as vitaminas, um possível papel das antioxidantes na prevenção aos danos causados pela produção excessiva de radicais livres do oxigênio. Em relação aos minerais, sabe-se que alguns atletas correm um risco de fazer ingestões subótimas de ferro e cálcio, o que pode afetar negativamente o desempenho imediato ou a saúde a longo prazo. Fonte: Maughan e Burke (2004). SAIBA MAIS convertidas em glicose ou em algum intermediário das vias metabólicas (processo de gliconeogênese) (MAUGHAN; BURKE, 2004). EDUCAÇÃO FÍSICA 21 FOSFATOS DE ALTA ENERGIA A fonte de energia imediata para o funcionamento do corpo humano (incluindo aqui para a realização da contração muscular) é um composto de fosfa- to de alta energia, o trifosfato de adenosina (ATP). Embora o ATP não seja a única molécula transpor- tadora de energia na célula, é a mais importante. Na ausência de ATP em quantidade suficiente, a maio- ria das células morrem rapidamente. Basicamente, a energia obtida dos alimentos e dos reservatórios celulares serve para manutenção dos estoques celu- lares de ATP. Isso ocorre pelo fato de uma parte da energia contida nas ligações químicas das molécu- las dos substratos energéticos serem armazenadas nas ligações químicas existentes entre os átomos do ATP e, ao desfazer estas ligações, a energia liberada será utilizada pelas células (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). A estrutura do ATP consiste em três partes prin- cipais: (1) uma porção adenina, (2) uma porção ri- bose e (3) três fosfatos ligados (Figura 6). A forma- ção de ATP ocorre a partir da ligação do difosfato de adenosina (ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) e requer uma ampla quantidade de energia, sendo que uma parte dessa energia é armazenada na ligação química que une essas moléculas. Quando a enzima ATP quebra essa ligação, a energia é liberada e pode ser usada para realização de trabalho (exemplo: con- tração muscular) (NELSON; COX, 2014). Figura 6 - Estrutura do ATPFonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 140). 22 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO O termo bioenergética engloba as vias energéticas envolvidas no processo de síntese de ATP a partir de substratos energéticos, posibilitando a constante renovação dos estoques de ATP. Vamos adotar como exemplo as células mus- culares. As células musculares armazenam quan- tidades limitadas de ATP. Assim, como o exercí- cio muscular requer um suprimento constante de ATP para o fornecimento da energia necessária à contração (para que esta atividade não seja inter- rompida por falta de ATP), a célula deve ter vias metabólicas capazes de produzir rapidamente ATP. Estas vias de renovação de ATP são subdivi- didas em vias anaeróbicas (que não usam o oxigê- nio) e vias aeróbicas (que usam o oxigênio), apre- sentadas a seguir. PRODUÇÃO ANAERÓBIA DE ATP As vias anaeróbias para produção de ATP compre- endem: 1) formação de ATP por quebra da fosfocre- atina (PC) e 2) formação de ATP via degradação de glicose ou glicogênio (glicólise anaeróbia). O método mais simples e, consequentemen- te, mais rápido para produzir ATP envolve a doa- ção da energia contida na PC ao ADP, para que ele possa se unir ao Pi e formar o ATP. Esta reação é catalisada pela enzima creatina quinase e consiste, primeiramente, na quebra da PC em creatina livre e Pi e, posteriormente, a utilização da energia liberada desta quebra para unir o ADP com o Pi (Figura 7) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Bioenergética Figura 7 - Reação enzimática de ressíntese do ATP a partir da fosfocreatina Fonte: o autor. Esse sistema, chamado de sistema ATP-PC, fornece energia para contração muscular no início do exercí- cio prolongado e durante o exercício de alta intensida- de e curta duração (duração inferior a 30 segundos). Já para restaurarmos os estoques de fosfocreatina que foram utilizados devemos gastar ATP, porém isso só EDUCAÇÃO FÍSICA 23 ocorrerá na fase de recuperação (ou seja, depois que acabou o exercício). Em atletas, a importância do sis- tema ATP-PC pode ser apreciada considerando-se o exercício intenso e de curta duração, como uma cor- rida de 50m-100m, uma prova de 50m de natação, um salto, um levantamento de peso, um arremesso, ou seja, todas atividades que requeiram poucos se- gundos para serem concluídas e, assim, necessitam de um suprimento rápido de ATP (Figura 8) (MAU- GHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Na glicólise, observa-se que as reações entre gli- cose/glicogênio e piruvato podem ser subdivididas em duas fases distintas, uma fase de investimento de energia (primeiras cinco reações) e uma fase de ge- ração de energia ou fase de lucro (últimas cinco re- ações). As cinco primeiras reações constituem a fase de investimento de energia pelo fato de gastarmos duas moléculas de ATP para fosforilar os intermedi- ários dessa via tornando a molécula energeticamente mais favorável. Já as últimas cinco reações da glicólise representam a fase de geração de energia da glicóli- se na qual quatro moléculas de ATP são produzidas. Dessa forma, o ganho líquido da glicólise é igual a dois ATPs (Figura 9). A Figura 10 ilustra a glicólise completa, com suas dez reações juntamente com a conversão do piruvato, último intermediário da gli- cólise, em lactato. Note que a glicólise envolve a con- versão da glicose, que tem seis carbonos, em piruvato, que tem três carbonos. Por isso que cada molécula de glicose é capaz de formar duas moléculas de piruvato (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). ATP ADP ATPADP Trabalho biológico Mecânico Químico Transporte PCr + Cr + + Pi + Energia ATPase creatinoquinase Figura 8 - Papel da hidrólise da creatina-fosfato na geração de trabalho Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 142). Uma segunda via metabólica capaz de produzir ATP rapidamente sem o envolvimento de O2 é denomina- da glicólise. A glicólise envolve a quebra de glicose ou glicogênio para formação de duas moléculas de piruvato, que na ausência de oxigênio serão conver- tidas em duas moléculas de lactato. De forma sim- plificada, a glicólise é uma via anaeróbia usada para transferir energia das ligações existentes na molécula de glicose para unir a adenosina difosfato (o ADP) com o fosfato inorgânico (Pi) formando ATP. Esse processo envolve uma série de reações químicas (dez reações até piruvato, e uma última que converte pi- ruvato em lactato) que ocorrem exclusivamente no citoplasma da célula e promove um ganho líquido de duas moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). Figura 9 - Glicólise Fonte: Powers e Howley (2014, p. 52). 24 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Uma pergunta que você deve estar fazendo seria: se o ATP já foi pro- duzido, por que formar o lactato? Sabemos que na via glicolítica, o transportador de elétrons NAD+ (nicotinamida adenina dinucleo- tídeo) recebe elétrons e é reduzido à sua forma NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido) (reação 6 da glicólise), que, neces- sariamente, deveria entrar na mito- côndria e doar estes elétrons para a cadeia transportadora de elétrons, processo este que só ocorre na pre- sença de oxigênio. Na ausência de oxigênio, para que não haja o acú- mulo de NADH no citoplasma das células (que seria prejudicial/tóxico para a célula), o piruvato aceita os elétrons, sendo convertido em lac- tato (Figura 11) (McARDLE; KAT- CH; KATCH, 2011). Como não há o envolvimento direto do oxigênio na glicólise, a via é considerada anaeróbia, entre- tanto, na presença de oxigênio na mitocôndria, o piruvato pode par- ticipar da produção aeróbia de ATP. Dessa forma, além de ser uma via capaz de produzir ATP sem oxigê- nio, a glicólise pode ser considerada a primeira etapa da degradação ae- róbia de carboidratos. hexoquinase fosforilase fosfofrutoquinase Glicogênio H H H H OH OH OH Glicose Glicose 6-fosfato frutose 6-fosfato frutose 1,6-fosfato 3- fosfogliceraldeído Aldose 3- fosfogliceraldeído fosfato de di-hidroxiacetona glicose-fosfato isomerase HO CH2OH H O ATP ADP ATP ADP NADH + NAD+ 1 2 3 4 P P triosefosfato isomerase 5 ATP ADP NADH + NAD+ ATP ADP ATP ADP ATP ADP gliceraldeído 3- fosfato desidrogenase 6 fosfogliceratoquinase 7 fosfogliceromutase 8 enolase 9 piruvatoquinase 10 1,3- difosfoglicerato 3- fosfoglicerato Para a cadeia de transporte de elétrons Para a cadeia de transporte de elétrons 2- fosfoglicerato fosfoenolpiruvato fosfoenolpiruvato 2- fosfoglicerato 3- fosfoglicerato 1,3- difosfoglicerato Lactato Piruvato COO - C O CH3 COO- C OH CH3 OH desidrogenase láctica Lactato PiruvatoCOO - C O CH3 COO- C OH CH3 OHdesidrogenase láctica H H HO OH HO CH2H2C H20H20 Figura 10 - Visão geral da glicólise com suas 10 reações representadas Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 150). EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Figura 11 - Formação do lactato: passo final da glicólise anaeróbia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 152). 26 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO PRODUÇÃO AERÓBIA DE ATP A produção aeróbia de ATP ocorre dentro da mito- côndria e envolve a interação de duas vias metabóli- cas cooperativas: 1) o ciclo do ácido cítrico (antigo ciclo de Krebs) e 2) a cadeia transportadora de elé- trons. A função primária do ciclo do ácido cítrico é completar a oxidação de carboidratos, gorduras ou proteínas, usando o NAD+ e o FAD como transpor- tadores de elétrons que serão enviados para a cadeia transportadora de elétrons onde os doarão para os componentes dessa via. O oxigênio não participa das reações do ciclo do ácido cítrico e é utilizado ape- nas na cadeia respiratóriacomo o último aceptor de elétrons, sendo convertido em H2O (Figura 12) (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Figura 12 - Integração das vias dos diferentes substratos energéticos no ciclo do ácido cítrico Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 148). EDUCAÇÃO FÍSICA 27 Figura 13 - Ciclo do ácido cítrico Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 155). Ciclo do ácido cítrico A entrada no ciclo do ácido cí- trico requer a formação de uma molécula de dois carbonos de- nominada Acetil-CoA, que pode ser formada a partir da quebra dos carboidratos, das gorduras ou proteínas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Dando um enfo- que inicial sobre os carboidratos, sabemos que pela via glicolítica a glicose é convertida em piruvato. Este, na presença de oxigênio, ao invés de ser convertido em lactato (conforme visto anteriormente), será quebrado em Acetil-CoA, que, em seguida, se combinará com o oxaloacetato para formar o citrato, compreendendo a primei- ra reação do ciclo do ácido cítrico. Posteriormente, um conjunto de sete reações será responsável por ressintetizar o oxaloacetato e ao mesmo tempo formar três molé- culas de NADH, uma molécula de FADH2 e uma molécula de GTP (que será convertido em ATP). Para cada molécula de glicose que entra na glicólise, duas moléculas de piruvato são formadas, dando origem a duas moléculas de acetil- -CoA que girará o ciclo do ácido cítrico duas vezes (figura 13) (DE- VLIN, 2011). 28 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Até aqui enfocamos o papel dos carboidratos na pro- dução de acetil-CoA para a entrada no ciclo do ácido cítrico, porém, como as gorduras podem ser utiliza- das? Se nos lembrarmos do tópico “substratos ener- géticos”, recordaremos que um dos tipos de gordura presente no nosso corpo é o triglicerídeo. Este, após sofrer a ação de lipases (enzimas que quebram as ligações químicas existentes nos triglicerídeos), li- bera moléculas de ácido graxo e de glicerol. Os áci- dos graxos, após passar por um conjunto de reações químicas (beta-oxidação), resultará em moléculas de acetil-CoA que serão utilizadas tal qual o acetil-CoA proveniente do piruvato (Figura 14) (DEVLIN, 2011). Figura 14 - Papel dos lípidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 158). Em relação às proteínas, conforme mencionado anteriormente, elas não são consideradas uma fon- te de combustível importante durante o exercício, contribuindo para apenas 2-15% do combustível utilizado. As proteínas conseguem entrar nas vias bioenergéticas em diversos locais. Entretanto, a pri- meira etapa é a quebra da proteína em aminoáci- dos. Os eventos subsequentes dependem de quais aminoácidos estão envolvidos. Alguns aminoáci- dos, por exemplo, podem ser convertidos em gli- cose ou piruvato, enquanto outros são convertidos em acetil-CoA, e outros, ainda, em intermediários do ciclo do ácido cítrico (Figura 15) (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Em resumo, o ciclo do ácido cítrico completa a oxidação dos carboidratos, gorduras ou proteínas, produz CO2 e fornece elétrons que serão passados pela cadeia de transporte de elétrons para forne- cer energia destinada à produção aeróbia de ATP (Figura 15). As enzimas catalisadoras das reações do ciclo do ácido cítrico estão localizadas dentro das mitocôndrias. EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Figura 15 - Papel dos aminoácidos como fonte de energia Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 164). 30 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Cadeia transportadora de elétrons A produção aeróbia de ATP é possível graças a um mecanismo que usa a energia potencial disponível nos transportadores de elétrons reduzido, como o NADH e o FADH2, para fosforilar o ADP em ATP. Os transportadores de elétrons reduzidos não rea- gem diretamente com o oxigênio. Em vez disso, os elétrons removidos dos átomos de hidrogênio pas- sam por uma série de proteínas (complexo I, II, III e IV) e ao final destes é doado ao O2 (Figura 16) (NELSON; COX, 2014). Figura 16 - Cadeia transportadora de elétrons Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 154). EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Como o ATP é formado? A resposta para isso é, atualmente, explicada por uma teoria chamada de teoria quimiosmótica. Essa teoria aponta que con- forme os elétrons são passados de um complexo ao outro da cadeia respiratória, íons hidrogênio são en- viados para o espaço intermembrana existente en- tre a membrana mitocondrial interna e membrana mitocondrial externa. Com isso, cria-se um gradien- te elétrico e um gradiente químico entre o espaço intermembranas e a matriz mitocondrial. Elétrico devido à carga positiva existente nos íons hidrogê- nio, e a negatividade da matriz mitocondrial; quí- mico devido a maior concentração de íons hidrogê- nio presente no espaço intermembranas em relação à matriz mitocondrial. Após criado esse gradiente, quando os íons hidrogênios são devolvidos para a matriz mitocondrial, a energia cinética associada e este retorno é canalizada por uma proteína (deno- minada de complexo V, ou complexo da ATP sinta- se) e utilizada para unir uma molécula de ADP com uma molécula de Pi, formando o ATP (Figura 17) (DEVLIN, 2011; NELSON; COX, 2014). Tecido adiposo marrom: Você sabia que exis- tem dois tipos de tecido adiposo no corpo humano? Muitos de nós conhecemos apenas o chamado tecido adiposo branco, constituído por células adiposas especializadas (entre outras funções) no armazenamento de ener- gia excedente. Além deste, também apresen- tamos um segundo tipo de tecido adiposo denominado de tecido adiposo marrom, que ao invés de acumular, gasta energia. Sabemos que esta capacidade é possível devido a uma grande quantidade de mitocôndrias que, ao invés de apresentarem o complexo V da ca- deia respiratória, tem uma proteína chamada de UCP (uncoupling protein). Infelizmente, seus níveis em humanos são muito reduzidos em comparação aos demais mamíferos, espe- cialmente na fase adulta, sendo seu papel de pouco signifi cado no gasto energético diário. Fonte: Nelson e Cox (2014). SAIBA MAIS 32 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Exemplificando, este acúmulo de H+ no espaço intermembranas é similar à energia potencial da água armazenada em uma barragem de uma repre- sa. Quando abrem-se as comportas e giram-se as turbinas, a energia cinética da passagem da água através das turbinas é canalizada e convertida em energia elétrica. De uma forma geral, cada elétron doado ao com- plexo I pelo NADH cria um gradiente eletroquímico suficiente para produção de aproximadamente 2,5 moléculas de ATP, enquanto cada elétron doado ao complexo II pelo FADH2 cria um gradiente eletro- químico suficiente para produção de aproximada- mente 1,5 moléculas de ATP (NELSON; COX, 2014). Figura 17 - Teoria quimiosmótica Fonte: Powers e Howley (2014, p. 59). EDUCAÇÃO FÍSICA 33 Então, por que o oxigênio é essencial à produ- ção aeróbia de ATP? O propósito da cadeia trans- portadora de elétrons é fazer os elétrons passarem por uma série de proteínas ao longo dos complexos que são reduzidas (quando recebem os elétrons) e oxidadas (quando passam esses elétrons adiante). Se a última proteína desse processo não fosse capaz de se oxidar, ou seja, não tivesse como passar o elétron adiante, não seria possível que essa proteína recebes- se elétrons novamente e o processo seria interrom- pido. Entretanto, na presença de oxigênio, o elétron é doado a este. Ou seja, o oxigênio que respiramos permite dar continuidade à cadeia transportadora de elétrons ao atuar como aceptor final de elétrons. Essa molécula aceita dois elétrons, reduzindo-se e, então, se liga a dois íons hidrogênio formando a mo- lécula de água (H2O) (DEVLIN, 2011). CÁLCULO DO ATP AERÓBIO Hoje, é possível calcular a produção deATP total decorrente da quebra aeróbia de glicose. Lembre- se que a produção líquida de ATP da glicólise era de dois ATPs por molécula de glicose. Além disso, quando o oxigênio está presente, as duas moléculas de NADH produzidas na glicólise podem, então, ser transportadas para dentro da mitocôndria e re- sultar em mais cinco moléculas de ATP. Ainda no processo de conversão de piruvato em acetil-CoA, forma-se mais um NADH para cada piruvato, to- talizando 2 NADHs (pois temos 2 piruvatos pro- venientes da glicose), levando a mais cinco molé- culas de ATP formadas. Em adição, ao passar pelo ciclo do ácido cítrico, cada molécula de acetil-CoA forma três moléculas de NADH (como temos duas moléculas de acetil-CoA, teremos seis moléculas de NADH formadas, totalizando quinze ATPs), uma de FADH2 (logo, teremos duas moléculas de FADH2 formadas, resultando em três moléculas de ATP) e um GTP (no caso, um para cada acetil-CoA, totalizando duas moléculas de GTP que serão con- vertidas em duas moléculas de ATP). Ao final do processo, teremos um montante de 32 moléculas de ATP para cada molécula de glicose oxidada, um valor 16 vezes maior do que o rendimento líquido da glicólise por via anaeróbia. 34 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO O exercício impõe um sério desafi o às vias bioe- nergéticas da musculatura que trabalha. Durante o exercício intenso, o gasto energético corporal total pode aumentar 25 vezes acima do gasto observado em repouso, sendo a maior parte desse aumento usada no fornecimento de ATP para contração dos músculos esqueléticos, podendo aumentar o uso de ATP por estes em até 200 vezes em relação ao utili- zado em repouso. Nesta etapa, iniciaremos com uma discussão sobre as necessidades energéticas do cor- po em repouso, seguida do estudo destas necessida- des após o início do exercício. Metabolismo do Exercício EDUCAÇÃO FÍSICA 35 NECESSIDADE ENERGÉTICA DURANTE O REPOUSO Em condições de repouso, o corpo humano saudável está em homeostasia e, dessa forma, a necessidade energética corporal é igualmente constante. Em re- pouso, quase 100% da energia requerida para manter as funções corporais é produzida por metabolismo aeróbio. A isso sucede que níveis de lactato sanguí- neo em repouso são estáveis e baixos, próximos a 1 mmol/L de sangue (MAUGHAN; GLEESON; GRE- EENHAFF, 2000). Como a mensuração do consumo de oxigênio é um índice de produção aeróbia de ATP, a mensu- ração do consumo de oxigênio em repouso fornece uma estimativa da necessidade energética basal cor- poral. Em repouso, a necessidade energética total de um indivíduo é relativamente baixa. Um jovem adul- to de 70kg, por exemplo, consome cerca de 3,5ml de oxigênio/kg de peso em um minuto (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). TRANSIÇÃO DO REPOUSO AO EXERCÍCIO Quando saímos da condição do repouso para a condição exercício, as necessidades energéticas também aumentam e com ela o consumo de oxi- gênio. Porém, durante esta fase de transição, o au- mento do consumo de oxigênio não é proporcional à nova demanda energética do organismo. Desta maneira, até o corpo atingir o estado estável (perí- odo em que o corpo se readequou à nova demanda e é capaz de fornecer oxigênio de forma satisfa- tória), as fontes de energia anaeróbia contribuem para geração de ATP no início do exercício (Figura 18) (POWERS; HOWLEY, 2014). De fato, as evidências sugerem que no início do exercício o sistema ATP-PC é a primeira via bioe- nergética a ser ativada, seguida da glicólise e, por fim, a produção de energia por via aeróbia. A efe- tividade das vias anaeróbias é tão grande que mes- mo que o uso de ATP se torne muito elevado, com o início do exercício, os níveis de ATP na musculatura permanecem praticamente inalterados. Conforme o consumo de O2 em estado estável é alcançado, as necessidades de ATP no corpo vão sendo atendidas pelo metabolismo aeróbio. O principal ponto a ser enfatizado em relação à bioenergética das transições do repouso ao traba- lho (exercício) é o envolvimento de vários sistemas Figura 18 - Déficit de oxigênio Fonte: Powers e Howley (2014, p. 69). Dé�cit de O2 VO2 no estado estável Tempo (minutos) 0,5 -2 1 2 2,5 3 3,5 -2 -2 0 1 2 3 4 5 VO2 em pé VO 2 (L • m in -1 ) 36 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO energéticos. Em outras palavras, a energia necessá- ria ao exercício não é fornecida pela simples ativa- ção de uma via bioenergética isolada, e sim por uma mistura de vários sistemas metabólicos que atuam com uma considerável sobreposição (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). O termo déficit de oxigênio é aplicado ao atra- so do consumo de oxigênio que ocorre no início do exercício. Especificamente, o déficit de oxigê- nio é definido pela diferença entre o consumo de O2 nos primeiros minutos de exercício e um perí- odo equivalente após o estado estável ser alcançado (POWERS; HOWLEY, 2014). O que causa o atraso no consumo de oxigênio no início do exercício? Existem duas hipóteses para tal. Primeiro foi sugerido que, no início do exercício, o suprimento de oxigênio disponível para os múscu- los em contração é inadequado. Isso significa que, pelo menos em algumas mitocôndrias, ao menos em uma parte do tempo é possível que não haja molé- culas de oxigênio disponíveis para aceitar elétrons ao final das cadeias de transporte de elétron. Nitida- mente, se isso estiver correto, a taxa de fosforilação oxidativa e, portanto, todo o consumo de oxigênio corporal, seria restrito. A segunda hipótese sustenta a ocorrência de um atraso, pois os estímulos para fosforilação oxidativa demoram algum tempo para atingir seus níveis finais e produzir totalmente seus efeitos em uma dada intensidade de exercício. Sa- be-se que a cadeia transportadora de elétrons é es- timulada por ADP e Pi e no começo do exercício as concentrações de ADP e Pi estão meramente acima dos níveis de repouso, uma vez que a concentração de ATP está sendo mantida pela PC e glicólise acele- rada. No entanto, chega um momento que estes dois compostos começam a aumentar e passam a sinali- zar para que a cadeia transportadora de elétrons se torne mais ativa (POWERS; HOWLEY, 2014). Os indivíduos treinados atingem o estado está- vel do VO2 mais rápido do que os indivíduos sem treinamento (Figura 19) e, como consequência, apresentam um déficit de oxigênio menor. Qual a explicação para essa diferença? Teoricamente, isso decorre de adaptações cardiovasculares e/ou mus- culares induzidas pelo treinamento de resistência. Em termos práticos, isso significa que a produção aeróbia de ATP está ativa antes do início do exercí- cio e acarreta uma produção menor de lactato e H+ no indivíduo treinado, em comparação ao indivíduo sem treinamento (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014). Figura 19 - Indivíduos treinados atingem estado estável mais rápido Fonte: McArdle, Katch e Katch (2011, p. 170). 0 0 20 15 10 5 2 Duração do exercício (min) Re po us oCo ns um o de o xi gê ni o (m l/k g/ m in ) 4 5 8 10 VO2 no ritmo estável Treinados Destreinados Dé�cit de oxigênio treinados Dé�cit de oxigênio destreinados EDUCAÇÃO FÍSICA 37 RESPOSTAS METABÓLICAS NA FASE DE RECUPERAÇÃO DO EXERCÍCIO Da mesma forma que a taxa meta- bólica não aumenta instantanea- mente com o início do exercício, ao finalizar uma sessão de treinamento, a taxa metabólica não cai instanta- neamente, mas continua alta por algum tempo, variando esse tempo, principalmente, pela intensidade do exercício realizado. A este consumo elevado de oxigênio após a interrupção do exercício físico damos o nome de consumo excessivo de oxigênio pós-esforço, o EPOC (do nome em inglês excess post-exerciseoxygen consumption) (Figura 20). Estudos apontam que o EPOC poderia ser dividido em duas partes: 1) parte rápida, imediatamente subsequente ao exercício (cerca de 2-3 minutos após o exercício) e 2) parte lenta, que persiste por mais de 30 minu- tos após o exercício (POWERS; HOWLEY, 2014). Figura 20 - Consumo de oxigênio pós-esforço. a) Alcançar o estado estável durante o exercício resulta num EPOC curto. b) Não alcançar o estado estável durante o exercício resulta um EPOC prolongado. Fonte: Powers e Howley (2014, p. 72). 3 2,5 2 -4 -2 (a) (b) 0 2 4 6 8 10 12 14 1,5 VO 2 (L • m in -1 ) VO2 em repouso basal Tempo (minutos) O suprimento de ATP aeróbio atende à demanda VO2 em estado estável Componente rápido Componente lento EPOC 1 0,5 Dé�cit de O2 3 4 5 2,5 3,5 4,5 2 -4 -2 0 2 8 10 14 16 20 1,5 VO 2 (L • m in -1 ) VO2 em repouso basal VO2 mais alto alcançavel Necessidade de O2 Componente rápido Término do exercício Componente lento EPOC1 0,5 4 6 12 2218 Dé�cit de O2 38 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO A restauração das reservas de PC e de oxigênio no músculo (O2 ligado à mioglobina) e no sangue (O2 ligado à hemoglobina) é concluída em 2-3 minutos de recuperação e compreendem a parte rápida. Em adição, a temperatura corporal elevada, a gliconeo- gênese para converter lactato em glicose, os níveis elevados de adrenalina e noradrenalina e os valores acima da normalidade de frequência cardíaca e fre- quência respiratória seriam os influenciadores da fase lenta do EPOC. tizar que a transição do sistema ATP-PC para uma maior dependência da glicólise durante o exercício não constitui uma alteração abrupta e sim uma mu- dança gradual de uma via para outra (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Os eventos com duração superior a 45 segun- dos usam uma combinação de todos os três sistemas de energia (ATP-PC, glicólise anaeróbia e vias ae- róbias). Em geral, o exercício intenso com duração aproximada de 60 segundos usa uma proporção de produção de energia anaeróbia/aeróbia de 70%/30%, enquanto os eventos com duração de 2-3 minutos empregam vias bioenergéticas anaeróbias e aeróbias praticamente na mesma proporção (50%/50%), para suprir o ATP necessário (MAUGHAN; GLEESON; GREEENHAFF, 2000). Já a energia necessária à realização do exercício prolongado (duração superior a 10 minutos) é forne- cida, primariamente, pelo metabolismo aeróbio. Um consumo de oxigênio em estado estável geralmente pode ser mantido durante o exercício submáximo, de intensidade moderada. Entretanto, essa regra apresenta duas exceções: 1) o exercício prolongado realizado em ambiente quente e úmido acarreta uma tendência crescente de consumo de oxigênio, invia- bilizando a manutenção do estado estável, mesmo que a taxa de trabalho seja constante; 2) o exercício contínuo a uma taxa de trabalho relativamente alta (>75% VO2máx) ocasiona uma elevação lenta do consumo de oxigênio com o passar do tempo. Nas duas situações, o grande problema está na maior produção de adrenalina e noradrenalina (visto que o bloqueio da ligação desses hormônios ao seu recep- tor por fármacos possibilita a manutenção do estado estável) e no maior aumento da temperatura corpo- ral (POWERS; HOWLEY, 2014). O que emagrece mais, alta intensidade e curta duração ou baixa intensidade e longa dura- ção? Ambas as respostas são verdadeiras. Correto será escolher a que melhor se ade- quar ao indivíduo. Não existe receita pronta! REFLITA RESPOSTAS METABÓLICAS AO EXERCÍ- CIO: INFLUÊNCIA DA DURAÇÃO E DA IN- TENSIDADE A energia usada para realizar um exercício de cur- ta duração e alta intensidade é fornecida primaria- mente pelas vias metabólicas anaeróbias, porém se a produção de ATP é dominada pelo sistema ATP- -PC ou pela glicólise, depende primeiramente da duração da atividade. Em geral, o sistema ATP-PC pode suprir quase todas as necessidades de ATP para realização de trabalho em eventos com duração de 1-5 segundos. O exercício intenso com duração superior a 5 segundos começa a usar a capacidade de produção de ATP por glicólise. É preciso enfa- 39 considerações finais N esta unidade, focamos no metabolismo energético e na síntese da forma estocável de energia no corpo, o ATP. Abordamos assuntos relacionados ao gasto energético diário, que remeteram grande im- portância para quatro elementos básicos que envolvem tal condição e falamos sobre alguns fatores que podem refletir em maior ou menor gasto ener- gético diário, por influenciar direta ou indiretamente um destes quatro fatores. Refletimos também sobre o papel dos diferentes substratos energéticos, além de descrevermos com algum detalhe os sistemas básicos de geração de energia por via anaeróbia e aeróbia, o que possibilita ao nosso corpo manter o processo de contração muscular na presença ou na ausência de quantidades adequadas de oxigênio, assim como a relação destes mecanismos com a intensidade do exercí- cio e a possibilidade de mantê-los por um tempo maior ou menor (com os exer- cícios anaeróbios durando menos tempo que os aeróbios). Somado a estes quesitos, abordamos o papel de cada via metabólica nas di- ferentes fases de uma sessão de exercício (déficit de oxigênio, exercício propria- mente dito e recuperação pós-exercício), demonstrando o importante papel das vias aeróbias durante o repouso, das vias anaeróbias durante a fase de transição do repouso para o exercício e a permanência desta via para a ressíntese de ATP até a exaustão em esforços de alta intensidade, ou a transição para as vias aeróbias durante a realização de exercícios de longa duração. Além disso, ainda durante as fases da sessão de exercício, visualizamos o papel das vias aeróbias durante a fase de recuperação, em que o corpo consome muito oxigênio para restaurar elemen- tos desgastados durante a sessão de treino. Espero que você, caro(a) aluno(a), tenha extraído o máximo possível de in- formação desta unidade, e nos vemos na próxima. 40 atividades de estudo 1. Ao dormir ou permanecer realizando uma atividade sentado ou deitado, ape- sar do baixo gasto energético, nosso corpo ainda assim precisa de energia. Baseado nesta colocação, incluindo todas as atividades passíveis de serem realizadas em repouso, qual a principal via de fornecimento de energia que permite a manutenção da realização desta atividade? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise. d) Vias aeróbias. e) Vias anaeróbias e glicose. 2. Durante a fase de transição do repouso ao exercício, o organismo se encontra em déficit de oxigênio. Quais as vias metabólicas utilizadas nesta fase? a) Via glicolítica anaeróbia e vias aeróbias. b) Via aeróbia e fosfocreatina. c) Fosfocreatina e glicólise anaeróbia. d) Vias aeróbias. e) Via anaeróbia e fosfocreatina. 3. Indivíduos que realizam exercícios físicos regularmente também apresen- tam uma fase de déficit de oxigênio toda vez que inicia seu treino. Porém, ao contrário do que ocorre em indivíduos sedentários, este período de tempo é menor. Sabendo disso, quais os fatores que fazem com que o período de déficit de oxigênio sejam menores nos indivíduos treinados em re- lação aos não treinados? a) Adaptações nos sistemas cardiovascular e muscular. b) Adaptações nos sistemas renal e nervoso. c) Adaptações nos sistemas imune e reprodutor. d) Adaptações nos sistemas cardiovascular e respiratório. e) Adaptações nos sistemas cardiovascular e renal. 4. Quando terminamos uma sessão de exercício, o nosso corpo continua con- sumindo mais oxigênio e gastando mais energia em comparação ao repouso por um determinado período de tempo. Estafase compreende o EPOC. O EPOC pode ser dividido em uma fase rápida e uma fase lenta. Sendo assim, que condições influenciam a porção rápida do EPOC? a) Frequência cardíaca e respiratória elevadas, níveis dos hormônios adre- nalina e noradrenalina elevados. 41 atividades de estudo b) Remoção do lactato, ressíntese do ATP e recuperação das reservas de O2. c) Ressíntese da PC e recuperação das reservas de O2 na mioglobina e hemoglobina. d) Temperatura elevada e remoção do lactato da circulação. e) Remoção de lactato, ressíntese do ATP e temperatura elevada. 5. Por que indivíduos correndo em clima quente e úmido apresentam um qua- dro de fadiga precoce em relação a indivíduos que não o fazem, porém estão correndo na mesma intensidade? a) Sabe-se que fatores como temperatura e umidade elevada, assim como correr próximo do limiar do lactato (85% do VO2max) são fatores que impedem a manutenção do estado estável, levando a fadiga precoce. b) Provavelmente o nível de condicionamento dos indivíduos são diferentes. c) Pelo fato do calor aumentar a transpiração e desidratar o indivíduo que tem que parar devido a sede. d) Ocorre uma menor produção de adrenalina e noradrenalina e uma au- mento da temperatura corporal. e) Pelo fato de que a energia necessária à realização do exercício prolon- gado é fornecida, primariamente, pelo metabolismo anaeróbio. 6. Na célula, onde ocorrerá a reação da fosfocreatina, glicólise, o ciclo do ácido cítrico e a cadeia transportadora de elétrons, respectivamente? a) Citosol, Citosol, Citosol, Mitocôndrias. b) Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria, Mitocôndria. c) Mitocôndria, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. d) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Mitocôndria. e) Citosol, Citosol, Mitocôndria, Citosol. 7. Quais os substratos energéticos utilizados, principalmente, nas seguintes mo- dalidades esportivas: corrida de 100m, corrida de 400m e corrida de 10000m? a) Fosfocreatina, fosfocreatina e glicólise anaeróbia. b) Fosfocreatina, glicólise anaeróbia e vias aeróbias. c) Vias aeróbias, glicólise anaeróbia e fosfocreatina. d) Glicólise anaeróbica, vias aeróbicas e fosfocreatina. e) Vias anaeróbias, glicólise anaeróbia e vias aeróbicas. 42 LEITURA COMPLEMENTAR Fatores que infl uenciam no gasto energético em exercício Foram poucas as pesquisas de base sobre o metabolismo energético humano que procura- ram abordar as necessidades de energia durante o exercício, particularmente, a infl uência de tamanho corporal, idade, sexo e destreza. Porém, atualmente sabemos que esses fato- res intercorrentes desempenham uma importante fi nalidade para a prescrição do exercí- cio, assim como para estimar o dispêndio de energia a fi m de ajustar o balanço energético para a perda de peso corporal. Mahadeva e colaboradores realizaram um dos primeiros estudos de larga escala sobre o custo energético e que chamou a atenção para o dispêndio energético em duas formas comuns de exercício: subida e descida de um degrau (step), que produzem um trabalho externo mensurável para elevar a massa corporal, e a caminhada em um plano horizontal com uma velocidade constante. Os pesquisadores fi zeram múltiplas observações em 50 homens e mulheres com 13 a 79 anos de idade, com diversas etnias, cujo peso corporal variava de 48 a 110 kg. As mensurações incluíram a medida do metabolismo basal e os estudos com exercício adotaram as mensurações do consumo de oxigênio por meio de um espirômetro portátil, realizando um protocolo de subida e descida em um banco com 25,4 cm de altura num ritmo previamente defi nido por um metrônomo durante 10 minutos e uma caminhada numa pista por 10 minutos a 4,8 km/h. Este estudo pioneiro foi um dos primeiros a demonstrar que o gasto energético variava diretamente com o peso corporal do indivíduo, sendo maior conforme maior o peso do indivíduo em atividades no qual o deslocamento do corpo é necessário (como caminhar de um ponto “a” até um ponto “b” ou subir e descer um degrau). Somado a isto, também observou que fatores como idade, sexo, etnia e a dieta previa a sessão de exercício que contribuía pouco no sentido de prever o dispêndio energético. Desta forma, devido aos resultados encontrados por Mahadeva e seus colaboradores, po- demos, atualmente, prever com maior exatidão o dispêndio de energia durante uma cami- nhada em ritmo estável, uma corrida ou um exercício de subida e descida de escada (além de qualquer outro que envolva deslocamento) com base apenas no conhecimento da in- tensidade do exercício e da massa corporal do indivíduo, não requerendo o conhecimento de outras variáveis. Fonte: Mahadeva K. et al. (1953, p. 121, 225). 43 material complementar Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano Willian D. McArdle, Frank I. Katch, Victor L Katch Editora: Guanabara koogan Sinopse: este livro traz uma abordagem muito ampla sobre os aspectos relaciona- dos à bioenergética e ao metabolismo e sua relação com a nutrição e o exercício físico. Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos na relação entre as áreas do conhecimento nutrição e exercício é de grande valia a sua leitura. Indicação para Ler : este livro traz uma abordagem muito ampla sobre os aspectos relaciona- dos à bioenergética e ao metabolismo e sua relação com a nutrição e o exercício físico. Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos na relação entre 44 referências gabarito DEVILIN, T. M. Manual de bioquímica com correlações clínicas. São Paulo: Blucher, 2011. MAHADEVA, K.; et al. Individual variations in the metabolic cost of standardi- zed exercises: the e� ects of food, age, sex and race. J Physiol 1953; 121: 225. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. I. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. MAUGHAN, R. J.; BURKE, L. M. Nutrição esportiva. São Paulo: Artmed, 2004. MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREEENHAFF, P. L. Bioquímica do exercício e do treinamento. São Paulo: Manole, 2000. NELSON, DL; COX, MM. Princípios de bioquímica de Lehninger. São Paulo: Artmed, 2014. POWERS S., HOWLEY E. T. Fisiologia do exercício. São Paulo: Manole, 2014. 1. D 2. C 3. A 4. C 5. A 6. D 7. B UNIDADEUNIDADE II Professor Dr. Felipe Natali Almeida Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema cardiovascular • Funcionamento do sistema cardiovascular em exercício • Sistema respiratório • Resposta do sistema respiratório ao exercício físico Objetivos de Aprendizagem • Fornecer uma visão geral da estrutura e da função do sistema cardiovascular. • Discutir o funcionamento do sistema cardiovascular durante o exercício físico. • Entender a estrutura e função do sistema respiratório. • Discutir as adaptações sofridas pelo sistema respiratório em exercício. SISTEMAS FORNECEDORES DE OXIGÊNIO: SISTEMA CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO E SUA RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO FÍSICO unidade II INTRODUÇÃO O lá, seja bem-vindo(a) a esta segunda unidade de nosso livro de Fisiologia geral e do movimento. Neste momento, após ter- mos aprendido sobre a geração de energia pelo organismo em nossa primeira unidade, trataremos de um outro importante assunto: a obtenção de oxigênio pelos tecidos corporais. Para tanto, o sis- tema cardiovascular e respiratório trabalham em sintonia para poderem suprir as demandas corporais deste gás, nos possibilitando gerar energia de forma aeróbia (conforme visto na unidade anterior), assim como para eliminar efetivamente o gás carbônico, mantendo a homeostasia (equilí- brio) corporal. Além dos desafios impostos a estes dois sistemas durante o repou- so, sabemos que durante o exercício temos um grande incremento dademanda muscular por oxigênio, visto que a necessidade de geração de energia (ATP) é muito maior quando estamos correndo, nadando, pe- dalando, na academia, ou realizando qualquer outro exercício físico ao comparar com o estado de repouso. Sabemos que durante o exercício intenso, a demanda pode se tornar 15-25 vezes maior do que no repouso. Diante disso, veremos ao longo desta unidade que o principal pro- pósito do sistema cardiorrespiratório é distribuir quantidades adequadas de oxigênio e eliminar os resíduos formados nos tecidos corporais. Além disso, o sistema cardiovascular também atua transportando nutrientes e ajuda a regular a temperatura, enquanto o sistema respiratório atua como auxiliar no equilíbrio de ácidos e bases do corpo. É importante lembrar que o sistema respiratório e cardiovascular atu- am como uma “unidade conjunta”, visto que o sistema respiratório adi- ciona oxigênio e remove dióxido de carbono no sangue, enquanto o siste- ma cardiovascular é responsável pela distribuição do sangue oxigenado e dos nutrientes aos tecidos, de acordo com suas necessidades. 50 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Sistema Cardiovascular EDUCAÇÃO FÍSICA 51 Vamos começar a discutir as formas como o corpo mantém o equilíbrio dos gases (em especial, man- tendo o fornecimento adequado de oxigênio e a re- moção do gás carbônico), algo que requer o funcio- namento em conjunto do sistema cardiovascular e respiratório. Neste primeiro momento, iniciaremos com uma visão geral do sistema cardiovascular em repouso e, posteriormente, analisaremos a forma como este sistema funciona em exercício. ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA CARDIO- VASCULAR O sistema cardiovascular consiste em um sistema fechado por meio do qual o sangue circula por to- dos os tecidos corporais. Basicamente, consiste em uma conexão contínua de uma bomba, um circuito de distribuição de alta pressão, canais de permuta e o circuito de coleta e de retorno de baixa pressão. Se forem estendidos em uma única linha, os apro- ximadamente 160.000km de vasos sanguíneos de um adulto de tamanho médio circundariam a Terra cerca de quatro vezes (McARDLE; KATCH; KAT- CH, 2011). Como dito, a circulação sanguínea re- quer a ação de uma bomba muscular, o coração, que cria a força propulsora necessária para movimentar o sangue ao longo do sistema de vasos. O sangue viaja pelo corpo saindo do coração pelas artérias e retornando pelas veias. Este sistema é considerado fechado porque as artérias e veias permanecem em continuidade entre si por meio de vasos menores. As artérias ramificam-se extensivamente para formar uma rede de vasos menores denominados arterío- las, que continuam se ramificando em vasos meno- res denominados de capilares. Estes são os meno- res e mais numerosos vasos sanguíneos do corpo. A partir deste ponto, o sangue passa a retornar em sentido ao coração por meio do reagrupamento dos vasos capilares em vênulas. Conforme as vênulas se- guem de volta ao coração, aumentam de tamanho e transformam-se em veias. As veias principais es- vaziam-se no coração (POWERS; HOWLEY, 2014). Coração O coração proporciona o impulso para o fluxo de sangue. Localizado na parte mediana da cavidade torácica, cerca de dois terços de sua massa ficam à esquerda da linha média do corpo. Esse órgão mus- cular pesa cerca de 310g para um homem adulto de tamanho médio e 255g para uma mulher de tama- nho médio e bombeia cerca de 70mL em cada bati- mento, totalizando, em repouso, cerca de 7.200L/dia (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Está dividido em quatro câmaras e, frequente- mente, é descrito como sendo duas bombas em uma. O átrio e ventrículo direitos formam a bomba direi- ta, enquanto o átrio e ventrículo esquerdos consti- tuem a bomba esquerda. Estes lados são separados por uma parede muscular denominadas de septo interatrial (entre átrios direito e esquerdo) e septo interventricular (entre ventrículos direito e esquer- do), evitando que o sangue presente em cada um dos lados se misture. Funcionalmente, as câmaras ocas que compreendem cada lado do coração apresentam funções distintas (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014): 52 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Valva pulmonar Veia cava superior Átrio direito Valva tricúspide Ventrículo direito Ventrículo esquerdoSepto Artéria pulmonar Veia pulmonar Átrio esquerdo Valva mitral Valva aórtica Figura 1 - Visão simplificada do coração: observe aqui a localização das valvas entre os átrios e ventrículos e entre os ventrículos e os grandes vasos • “coração direito”: responsável por receber o sangue que retorna de todas as partes do corpo (especificamente o átrio direito) e por bombear o san- gue para os pulmões, para que possa ser oxigenado (especificamente o ventrículo direito); • “coração esquerdo”: lado que recebe sangue oxigenado proveniente dos pulmões (átrio esquerdo) e que bombeia o sangue para a aorta a fim de ser distribuído por todo o corpo (ventrículo esquerdo). No coração, o sangue move-se dos átrios para os ventrículos e, a partir disso, para dentro das artérias. Para prevenir o movimento retrógrado do sangue, o coração conta com quatro valvas, as atrioventriculares (que impedem o movimento retró- grado do sangue do ventrículo de volta para os átrios), a valva semilunar aórtica (que impede o retorno do sangue da aorta para o ventrículo esquerdo) e a valva semilunar pulmonar (que impede o retorno de sangue das artérias pulmonares para o ventrículo direito) (Figura 1) (POWERS; HOWLEY, 2014). EDUCAÇÃO FÍSICA 53 Outra particularidade do tecido que compõe o coração é sua parede, subdividida em três camadas, sendo, de dentro para fora, denominadas de endocárdio, mio- cárdio e epicárdio (para uma noção geral das três camadas, conforme a Figura 2). O endocárdio é a camada interna composta por células endoteliais que atuam como uma barreira entre o sangue presente dentro das câmaras cardíacas e a pa- rede cardíaca. O miocárdio é a camada intermediária formada por células mus- culares, sendo responsável pela contratilidade do coração e capaz de se adaptar às exigências impostas a ele hipertrofiando. Já o epicárdio, a camada mais externa, funciona como uma capa protetora e que também minimiza o atrito do coração com estruturas externas a ele (McARDLE; KATCH; KATCH, 2011). Figura 2 - A parede do coração e suas três camadas Fonte: Powers e Howley (2014, p. 192). 54 FISIOLOGIA GERAL E DO MOVIMENTO Circulação pulmonar e sistêmica Também conhecidas como pequena e grande circulação, a circulação pulmo- nar e sistêmica (respectivamente) tem características distintivas entre elas. A circulação pulmonar é restrita ao coração e pulmão e tem por fi nalidade a oxige- nação do sangue e a remoção do dióxido de carbono presente nessa circulação. O sangue que retorna ao átrio direito por meio das grandes veias passa para o ven- trículo direito e é ejetado para as artérias pulmonares, que o direciona ao pulmão para realização das trocas gasosas. Após esta etapa, o sangue oxigenado retorna ao átrio esquerdo pelas veias pulmonares. Note que nesta circulação temos sangue desoxigenado circulando por artérias e sangue oxigenado circulando por veias. Já a circulação sistêmica ocorre entre o co- ração e os demais tecidos do organismo. Inicia-se com o sangue oxigenado fl uindo do átrio esquerdo para o ventrículo es- querdo que ejeta este sangue para a aorta que irá distribuí-lo a todos os tecidos do corpo (Figura 3) (KENNEY; WILMORE; COSTILL, 2013). EDUCAÇÃO FÍSICA 55 Artéria carótida interna Artéria carótida externa Artéria carótida comum Artéria braquiocefálica Artéria axilar Artéria vertebral Artéria subclávia Arco aórtico Aorta ascendente Aorta torácica
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