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Aula11 - Lugar do Crime e Territorialidade

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1
Curso	Ênfase	©	2019
DIREITO	PENAL	-	PARTE	GERAL	–	MARCELO	UZEDA
AULA11	-	LUGAR	DO	CRIME	E	TERRITORIALIDADE
1.	LUGAR	DO	CRIME
Nesta	aula,	o	professor	abordará	o	art.	6º	do	Código	Penal,	que	consagra	a	teoria	pura	da
ubiquidade,	teoria	mista,	unitária,	ou	simplesmente	teoria	da	ubiquidade.
O	 lugar	 do	 crime	 concentra	 a	 teoria	 da	 atividade	 com	 a	 teoria	 resultado,	 fazendo	 essa
unificação,	por	este	motivo	chamamos-a	de	teoria	unitária.	A	teoria	da	ubiquidade	concilia	a	teoria
da	atividade	e	do	resultado	numa	só	regra,	considerando	que	o	crime	seja	praticado	em	apenas
um	lugar,	mediante	ação	ou	omissão,	no	todo	ou	em	parte,	bem	como,	onde	ocorreu	o	resultado
ou	deveria	tê-lo	ocorrido,	no	todo	ou	em	parte.
	Art.	6º	-	Considera-se	praticado	o	crime	no	lugar	em	que	ocorreu	a	ação	ou	omissão,	no
todo	ou	em	parte,	bem	como	onde	se	produziu	ou	deveria	produzir-se	o	resultado.(Redação	dada
pela	Lei	nº	7.209,	de	1984)
Dessa	 forma,	correspondendo	à	 teoria	da	ubiquidade,	 tem-se	um	conceito	extensivo	de
lugar	do	crime.	O	professor	alerta,	tendo	em	vista	o	que	diz	respeito	ao	tempo	do	crime,	no	art.	4º
do	Código	Penal,	segue-se	a	 teoria	da	atividade.	O	 tempo	do	crime	é	o	 tempo	da	conduta,	da
ação	 ou	 da	 omissão.	 E	 o	 lugar	 do	 crime	 é	 o	 local	 da	 conduta	 ou	 do	 resultado,	 portanto,	 um
conceito	extensivo	ao	adotar	a	teoria	da	ubiquidade.
O	legislador	consagra	um	conceito	extensivo	para	o	local	do	crime.	Portanto,	considerar-se-
á	lugar	do	crime	o	local	da	conduta,	ação,	no	todo	ou	em	parte,	ou	a	omissão,	lembrando	que	a
omissão	é	 infracionável,	 logo,	onde	ocorreu	a	conduta,	bem	como,	onde	ocorreu	o	resultado	ou
deveria	tê-lo	ocorrido.
A	 teoria	 da	 ubiquidade	 é	 adotada	 pelo	 ordenamento	 jurídico	 brasileiro,	 interessante	 nos
crimes	de	resultado,	por	exemplo.	Crimes	nos	quais	o	resultado	naturalístico	é	exigido.	Abrange	os
crimes	materiais,	abrange	juntamente	com	os	crimes	formais	e	os	de	mera	conduta.	Ressalta-se
que	em	relação	aos	crimes	materiais	há	consumação	quando	se	opera	o	resultado.	Observa-se
que	a	teoria	da	ubiquidade,	reconhece	como	lugar	do	crime	o	local	da	conduta	ou	o	do	resultado,
portanto,	ambos	serão	considerados	para	efeito	de	lugar	do	crime.
Deve-se	atentar	que	a	preocupação	parte	da	aplicação	da	 lei	penal	no	espaço.	O	foco	é
definir	regras	para	a	aplicação	da	lei	penal	no	espaço,	em	hipóteses	em	que	o	crime	é	cometido
em	território	nacional	ou	no	exterior,	etc.
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula11	-	Lugar	do	Crime	e	Territorialidade
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Curso	Ênfase	©	2019
Trata-se,	 portanto,	 de	 um	 conceito	 extensivo,	 ampliado	 no	 tocante	 ao	 lugar	 do	 crime,
evitando	o	inconveniente	conflito	negativo	de	jurisdição.	Atente-se	à	seguinte	situação:	Praticou-se
uma	fraude	no	Brasil.	Esta	 fraude,	que	é	o	meio	 -	conduta	 -	acarretou	 transferência	eletrônica
para	uma	conduta	em	Portugal.	 Logo,	 a	 vítima	 sofreu	o	prejuízo	em	Portugal,	 trata-se	de	um
estelionato	a	distância.
Nesse	cenário,	tendo	o	Brasil	adotado	a	teoria	do	resultado,	não	haveria	possibilidade	de
aplicação	da	lei	brasileira,	tendo	em	vista	que	o	resultado	não	foi	praticado	o	Brasil.	Por	outro	lado,
se	 Portugal	 adotasse	 a	 teoria	 da	 atividade	 (hipoteticamente)	 não	 haveria	 possibilidade	 de
aplicação	da	lei	portuguesa,	pois	não	houve	atividade	em	Portugal,	e	sim	resultado.
Portanto,	temos	o	conflito	negativo	de	jurisdição.	(Considerando	de	forma	hipotética)	Se
os	dois	Países	trabalhassem	com	essa	hipótese.	Brasil	adotando	a	teoria	do	resultado	e	Portugal
adotando	a	teoria	da	atividade,	não	haveria	-	nesse	exemplo	-	hipótese	de	aplicação	da	lei	penal,
incidindo	assim,	no	conflito	negativo	de	jurisdição.
Evita-se	o	inconveniente	do	conflito	negativo	de	jurisdição,	pelo	fato	de	que	o	Brasil	adota	a
teoria	da	ubiquidade.	O	professor	alega	não	ter	certeza,	porém	existe	a	possibilidade	de	Portugal
adotar	a	teoria	da	ubiquidade,	afirma,	ainda,	que	é	natural	a	adoção	da	referida	teoria	por	outros
países,	por	buscarem	evitar	o	inconveniente	do	conflito	negativo	de	jurisdição.
Supondo	 que	 Brasil	 e	 Portugal	 adotem	 esta	 teoria,	 não	 há	 motivos	 para	 falar-se	 em
conflito	negativo	de	 jurisdição,	há	a	possibilidade	de	ocorrência	de	dupla	 incidência	da	 legislação
penal,	o	que	geraria	o	inconveniente	de	o	sujeito	ser	condenado	em	Portugal,	e	no	Brasil,	tendo
em	vista	que	o	fato	ocorreu	em	ambos	os	locais.
Trata-se	de	crime	há	distância,	onde	a	conduta	realiza-se	em	um	País,	e	o	resultado	em
outro.	Portanto,	tendo	o	Brasil	adotado	a	teoria	da	ubiquidade,	bem	como	Portugal,	resolve-se	o
problema	do	inconveniente	conflito	negativo	de	jurisdição.	Entretanto,	há	a	inconveniência	do	bis	in
idem.	Pois	 se	 o	 sujeito	 for	 condenado	 em	Portugal	 e	 no	Brasil,	 haverá	 duas	 condenações	 pelo
mesmo	fato.
O	art.	8º	do	código	penal	faz	uma	mitigação.	A	ampliação	pode	ocasionar	o	inconveniente
do	 duplo	 julgamento,	 pois	 se	 o	 dois	 Países	 adotarem	 a	 teoria	 da	 ubiquidade,	 o	 sujeito	 será
condenado	duas	vezes.
Agora,	o	art.	8º	faz	uma	mitigação	desse	inconveniente	do	bis	in	idem,	vejamos:
		Art.	8º	-	A	pena	cumprida	no	estrangeiro	atenua	a	pena	imposta	no	Brasil	pelo	mesmo
crime,	quando	diversas,	ou	nela	é	computada,	quando	idênticas.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	7.209,
de	11.7.1984)
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula11	-	Lugar	do	Crime	e	Territorialidade
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Curso	Ênfase	©	2019
A	redação	do	artigo	supra	nos	 traz	o	 fenômeno	da	detração.	Tendo	em	vista	a	seguinte
situação:	No	Brasil,	a	pena	é	de	reclusão,	em	Portugal	a	pena	é	de	detenção.	No	ordenamento
brasileiro,	 uma	pena	de	detenção	é,	 em	 termos	de	gravidade,	menor	que	a	pena	de	 reclusão,
tendo	 em	 vista	 o	 regime	 de	 cumprimento,	 etc.	 Portanto,	 a	 pena	 cumprida	 no	 exterior	 pelo
mesmo	crime,	 como	 -	 nesse	 caso	 -	 é	 diversa,	 atenuará	a	pena	 imposta	no	Brasil,	 que	é	mais
grave.	Entretanto,	poderia	ser	o	contrário.
O	professor	afirma	nunca	haver	presenciado	esta	situação,	desconhecendo	comentários	de
doutrinadores	 que	 deem	 um	 exemplo	 concreto,	 bem	 como,	 não	 haver	 encontrado	 na
jurisprudência.	Destaca	que,	embora	pesquisado	incessantemente,	os	doutrinadores	limitam-se	a
reproduzir	a	redação	do	artigo	8º	do	CP.
No	 tocante	 a	 essa	 atenuação,	 deve-se	 considerar	 o	 seguinte	 fato:	 Pesando	 a	 pena	 de
reclusão	1,	a	de	detenção	poderá	pesar	0,8.	Portanto,	a	pena	cumprida	no	exterior	atenua	a	pena
imposta	 no	Brasil.	 Entretanto,	 sendo	 a	 pena	 no	 exterior	 a	 detenção,	 o	 atenuante	 será	menor.
Contrariamente,	 a	 pena	 de	 reclusão	 em	 outro	 país	 foi	 cumprida,	 porém,	 o	 crime	 cometido	 é
punível	 com	detenção	 no	 Brasil,	 nesse	 caso,	 a	 atenuação	 será	maior.	 Se	 idênticas,	 conterão	 o
mesmo	peso,	havendo	assim,	a	detração.
O	 professor	 reitera	 nunca	 ter	 visto	 prova,	 tampouco,	 julgado	 específico	 aplicando	 essa
atenuação.	Afirma	ser	a	ocorrência	da	detração	corriqueira.	Todavia,	 tratando-se	de	atenuação,
afirma	 desconhecer	 casos	 específicos	 e	 encontrar	 na	 doutrina	 nenhuma	 narrativa	 com	 caso
concreto,	o	que	ocorrem	são	exemplos	hipotéticos	como	retratado	nesta	aula.
De	qualquer	forma,	é	importante	destacar	que	o	inconveniente	do	bis	in	idem	é	mitigado
pela	 regra	do	art.	8º.	Logo,	a	pena	cumprida	no	exterior	atenua	a	pena	 imposta	no	Brasil	pelo
mesmo	 crime,	 sendo	 diferentes,	 ou	 computada	 caso	 idênticas.	 Ubiquidade	 afasta	 o	 conflito
negativo	de	jurisdição.
O	bis	 in	 idem,	 em	 tese,	 tratando-se	de	um	problema	de	ubiquidade,	 será	mitigado	pela
redação	do	art.	8º,	logo,	há	vantagem	na	adoção	desta	regra.	Garantindo	uma	hipótese	de	não
incidência	da	sua	norma,	ficando	em	descoberto	a	proteção	ao	bem	jurídico	tutelado.
Tendo	em	vista	o	conhecimento	do	local	do	crime,	o	professor	prossegue	com	as	regras	da
aplicação	da	lei	penal	no	espaço,	iniciando	com	a	regra	da	territorialidade.
	Art.	5º	-	Aplica-se	a	lei	brasileira,	sem	prejuízo	de	convenções,	tratados	e	regras	de	direito
internacional,	ao	crime	cometidono	território	nacional.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	7.209,	de	1984)
O	Brasil	adota	a	regra	da	territorialidade.	"Ao	crime	cometido	no	território	nacional".
Qual	é	o	local	do	crime?
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula11	-	Lugar	do	Crime	e	Territorialidade
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Encontra-se	 no	 art.	 6º	 do	 código	 penal,	 onde	 trata-se	 do	 princípio	 da	 ubiquidade.	 O
professor	 considera	 importante	 destacar	 que	 a	 territorialidade	 prevista	 no	 Brasil	 é	 mitigada,
temperada	ou	matizada,	sem	prejuízo	de	convenções,	tratados	e	regras	de	direito	internacional.
Comportando	exceções	retratadas	em	alguns	exemplos	como:	Imunidade	diplomática,	direito	de
passagem	de	inocentes,	etc.	Portanto,	respeitam-se	os	tratados,	as	convenções	e	as	regras	de
direito	internacional.
O	 fundamento	do	princípio	da	 territorialidade	é,	 inicialmente,	 o	princípio	da	 soberania	de
Estado	(totalidade	de	competências	sobre	questões	da	vida	social),	que	envolve	a	plenitude	sobre
as	questões	da	vida	social,.	Logo,	pelo	exercício	da	soberania	do	País,	a	lei	penal	brasileira	deve
aplicar-se	ao	fato	cometido	no	território	nacional.	Uma	decorrência	do	fundamento	da	soberania
do	Estado.
O	 segundo	 fundamento	 é	 a	 autonomia	 (rejeição	 de	 influências	 externas).	 Trata-se	 da
aplicação	da	lei	penal	brasileira	ao	fato	cometido	no	território	nacional	-	regra	da	territorialidade	-
sem	ingerência	externa,	influência	de	outros	Estados,	na	aplicação	da	lei	penal	brasileira.
A	exclusividade	(monopólio	do	poder	nos	limites	do	território).
Quem	é	o	titular	do	Jus	puniendi?
Trata-se	do	Estado	brasileiro,	que	exercerá	o	 jus	puniendi,	 (monopólio	do	poder	de	punir
dentro	 dos	 limites	 do	 território).	 Havendo	 três	 aspectos	 desse	 fundamento	 que	 consistem	 na
soberania	 do	 Estado	 para	 a	 aplicação	 da	 lei	 penal	 brasileira	 ao	 crime	 praticado	 em	 território
nacional.
Uma	vez	que	o	 lugar	do	crime	é	regido	pela	ubiquidade,	torna-se	conhecido	que	a	regra
geral	é	a	territorialidade.
O	que	é	território?	Qual	é	o	conceito	jurídico	de	território?
O	código	penal	não	relata	o	significado	de	território,	limitando-se	a	dizer	que	a	lei	aplica-se
em	 território	 brasileiro.	 No	 sentido	 jurídico,	 é	 correto	 afirmar	 que	 território	 trata-se	 do	 âmbito
espacial	sujeito	ao	poder	soberano	do	Estado.	O	fundamento	da	territorialidade	é	a	soberania,	e	o
território	é	o	limite	(	âmbito	espacial	sujeito	ao	poder	soberano	do	Estado).
Para	efeito	penal,	o	território	será	dividido	em	dois	aspectos:	Território	efetivo	ou	real	e	o
território	 por	 extensão	 ou	 flutuante.	 O	 primeiro	 aspecto,	 território	 efetivo	 ou	 real,	 envolve	 a
superfície	 terrestre	 (solo	 e	 subsolo),	 as	 águas	 territoriais	 (fluviais,	 lacustres	 e	 marítimas),	 e	 o
espaço	aéreo	correspondente	(O	Brasil	adota	a	teoria	da	soberania	sobre	a	coluna	atmosférica).
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
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OBSERVAÇÃO:	O	mar	territorial	equivale	a	12	(doze)	milhas	da	costa,	diferentemente	da
zona	econômica,	que	equivale	a	200	(duzentas)	milhas.
Tratando-se	do	território	por	extensão	ou	flutuante,	o	conceito	encontra-se	retratado	na	lei
penal,	art.	5º,	§	1º,	CP.	A	chamada	ficção	jurídica,	território	ficto.
	 §	 1º	 -	 Para	 os	 efeitos	 penais,	 consideram-se	 como	 extensão	 do	 território	 nacional	 as
embarcações	e	aeronaves	brasileiras,	de	natureza	pública	ou	a	serviço	do	governo	brasileiro	onde
quer	que	se	encontrem,	bem	como	as	aeronaves	e	as	embarcações	brasileiras,	mercantes	ou	de
propriedade	privada,	 que	 se	 achem,	 respectivamente,	 no	 espaço	aéreo	 correspondente	 ou	em
alto-mar.	(Redação	dada	pela	Lei	nº	7.209,	de	1984)
Embarcações	 e	 aeronaves	 brasileiras	 de	 natureza	 pública	 ou	 a	 serviço	 do	 Governo
Brasileiro,	independentemente	de	sua	localização.	Considerando	a	seguinte	situação:	O	Presidente
da	República	participará	de	uma	reunião	da	ONU,	que	será	realizada	em	Nova	York,	onde	o	avião
Presidencial	 sobrevoa	 o	 espaço	 aéreo	 americano	 -	 território	 estrangeiro	 -	 Onde	 quer	 que	 se
encontre	 essa	 aeronave,	 bem	 como	 as	 embarcações	 oficiais,	 públicas,	 a	 serviço	 do	 Governo
brasileiro,	 são	 consideradas	 extensões	 do	 território	 nacional,	 o	 chamado	 território	 ficto	 por
extensão	 ou	 flutuante.	 Bem	 como	 as	 aeronaves	 e	 embarcações	 brasileiras	 mercantes	 ou	 de
propriedade	privadas,	que	se	achem	-	respectivamente	-	no	espaço	aéreo	correspondente	ou	em
alto-	mar.
Há	 dois	 aspectos	 importantes:	 O	 primeiro	 é	 o	 aspecto	 público,	 "onde	 quer	 se	 que	 se
encontrem".	E	"embarcações	ou	aeronaves	privadas	em	alto	mar".	Exemplo:	A	aeronave	de	uma
empresa	brasileira	sobrevoa	o	território	da	Argentina	neste	exato	momento.	Partindo	do	princípio
da	territorialidade	configura	território	estrangeiro.
Aplicando	o	conceito	de	território	por	extensão,	ela	não	se	enquadra,	tendo	em	vista	que
esta	aeronave	não	está	sobrevoando	o	alto	mar	e	sim	o	 território	Argentino.	Caso	sobrevoe	o
alto-mar,	há	a	extensão	do	território	nacional,	aplicando-se	a	lei	penal	brasileira.
Prosseguindo,	o	§	2º	do	art.	5º,	CP,	também	aborda	uma	ressalva,	in	verbis:
				§	2º	-	É	também	aplicável	a	lei	brasileira	aos	crimes	praticados	a	bordo	de	aeronaves	ou
embarcações	 estrangeiras	 de	 propriedade	 privada,	 achando-se	 aquelas	 em	 pouso	 no	 território
nacional	ou	em	voo	no	espaço	aéreo	correspondente,	e	estas	em	porto	ou	mar	territorial	do	Brasil.
(Redação	dada	pela	Lei	nº	7.209,	de	1984)
Utilizando	um	exemplo	contrário:	Uma	aeronave	brasileira	sobrevoa	o	território	argentino,
ou	encontra-se	em	pouso	no	território	argentino.	Nesse	exemplo,	a	aeronave	privada	localiza-se
em	território	estrangeiro,	portanto,	será	aplicada	a	legislação	local,	a	lei	daquele	País.
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O	§	2º	contrapõe	este	fato,	informando	a	aplicação	da	lei	brasileira	nos	crimes	praticados	à
bordo	de	aeronaves	ou	embarcações	estrangeiras	de	propriedade	privada,	enquanto	as	mesmas
estiverem	pousadas	em	território	nacional,	espaço	aéreo	correspondente,	ou	em	águas	territoriais
brasileiras.
Nesse	 caso,	 a	 embarcação	 (embora	estrangeira)	 encontra-se	em	 território	 brasileiro,	 os
fatos	 ocorridos	 à	 bordo	 da	 embarcação	 ou	 aeronave,	 fica	 sujeito	 a	 jurisdição	 e	 a	 consequente
aplicação	 da	 legislação	 brasileira.	 Entretanto,	 existe	 uma	 ressalva:	 O	 princípio	 do	 direito	 de
passagem	 inocente.	 A	 territorialidade	 brasileira	 é	 temperada,	 -	 respeita	 as	 regras	 do	 direito
internacional-	 Existe	 uma	 ponderação.	 Essa	 situação	 repercutirá	 no	 tocante	 da
extraterritorialidade.	(Fato	que	será	abordado	pelo	professor	em	outra	ocasião).
O	 princípio	 da	 passagem	 inocente	 é	 instituto	 jurídico	 próprio	 do	 direito	 internacional
marítimo	 e	 permite	 a	 uma	 embarcação	 de	 propriedade	 privada,	 de	 qualquer	 nacionalidade,	 o
direito	de	atravessar	o	território	de	uma	nação,	com	a	condição	de	não	ameaçar	ou	perturbar	a
paz,	a	boa	ordem	e	a	segurança	do	Estado	costeiro	(art.	19,	da	Convenção	das	Nações	Unidas
sobre	direito	do	mar).
Se	uma	embarcação	argentina	atravessa	a	costa	brasileira	e	o	crime	ocorre	à
bordo	desta	embarcação.	Haverá,	neste	caso,	a	aplicação	da	lei	brasileira?
De	acordo	com	o	art.	2º,	a	lei	brasileira	seria	aplicada.	Todavia,	o	Brasil	respeita	os	tratados
internacionais.
Como	o	direito	de	passagem	inocente	vai	repercutir	no	direito	penal?
Observa-se	que,	se	o	crime	cometido	à	bordo	não	afeta	o	interesse	ou	a	ordem	jurídica	do
país,	não	há	aplicação	da	lei	brasileira.	Tendo	em	vista	que	a	lei	Argentina	será	aplicada	(tratando-
se	 deste	 exemplo).	 Significa	 que	 navios	 estrangeiros	 no	 mar	 territorial	 gozam	 do	 direito	 de
passagem	inocente,	contínua,	rápida	e	ordeira,	com	a	condição	de	não	ameaçar	ou	perturbar	a
paz,	a	boa	ordem	e	a	segurança	do	Estado	costeiro	(À	luz	do	art.	19º).
Portanto,	o	princípioda	passagem	inocente	é	uma	regra	de	direito	internacional	do	mar.
Considerando	estes	fatos,	essa	regra	será	aplicada	ao	direito	penal?
Com	 a	 ressalva	 do	 art.	 5º,	 aplica-se	 a	 territorialidade	 com	 a	 observação	 dos	 tratados,
regras	 e	 convenções	 do	 direito	 internacional.	 Em	 resumo,	 se	 o	 delito	 é	 praticado	 a	 bordo	 de
aeronave	ou	embarcação	estrangeira	no	mar	territorial,	sem	prejuízo	à	ordem	jurídica	brasileira.
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Outro	exemplo:	Um	sujeito	de	nacionalidade	argentina	à	bordo	de	um	navio,	agride	outro
sujeito	 de	 mesma	 nacionalidade	 causando-lhe	 lesões	 corporais.	 O	 comandante	 do	 navio	 é	 a
autoridade	para	apurar	a	ocorrência,	adotando	as	custódias	necessárias	para	a	aplicação	da	lei	de
seu	País.
Portanto,	 se	 a	 lesão	 ao	 bem	 jurídico	 se	 restringiu	 àquelas	 pessoas	 envolvidas	 (aos	 dois
tripulantes	argentinos)	de	modo	que	não	afete	a	ordem	jurídica	brasileira,	respeita-se	o	direito	de
passagem	 inocente.	 Aplicando-se	 ao	 direito	 penal	 brasileiro,	 o	 princípio	 permite	 que	 crimes
cometidos	 à	 bordo	 de	 navios	 estrangeiros,	 de	 passagem	 pelo	 território	 nacional,	 não	 sejam
julgados	pela	lei	do	País	em	trânsito,	partindo	do	pressuposto	de	que	não	afetem	o	bem	jurídico
nacional.
Vale	 ressaltar	 que	 se	 durante	 esta	 passagem	 contínua,	 não	 houve	 prejuízo	 ao
ordenamento	brasileiro,	nesse	caso,	não	há	interesse	nacional	em	aplicar	a	lei.
A	lei	brasileira	pode	ser	aplicada?
Sim,	 à	 luz	 do	 art.	 5º,	 §	 2º,	 CP.	 Contudo,	 sendo	 mitigada	 a	 nossa	 territorialidade,	 um
exemplo	de	tratado	internacional,	de	convenção,	configura-se	no	princípio	de	passagem	inocente,
refutando	a	aplicação	da	lei	brasileira.	Ressalta-se	que	este	fato	pode	ocorrer	com	embarcações
brasileiras	 de	 passagem	 por	 território	 estrangeiro,	 contanto	 que	 não	 afete	 a	 ordem	 jurídica
daquele	País,	 não	há	obrigatoriedade	do	 comandante	 levar	aquela	ocorrência	ao	 conhecimento
das	 autoridades	 locais.	 Tendo	 em	vista	 que	 o	 fato	 ocorreu	 à	 bordo,	 cabe	 ao	mesmo	 tomar	 as
providências	 necessárias,	 sujeitando	 o	 infrator	 à	 lei	 do	 Brasil.	 De	 acordo	 com	 o	 princípio	 da
passagem	inocente.
A	territorialidade	brasileira	é	temperada,	uma	exceção	ao	princípio	da	territorialidade	que
pode	ser	citado	como	exemplo	é	o	princípio	da	imunidade	diplomática.
Convenção	de	Viena	-	Dec.	56435/65,	art.	31	-	o	agente	diplomático	gozará	de	imunidade
de	jurisdição	penal	do	Estado	acreditado.
A	doutrina	afirma	que	é	causa	pessoal	de	exclusão	ou	de	isenção	de	pena.	Essa	imunidade
permite	que	o	agente	diplomático	não	se	submeta	à	 jurisdição	desse	País.	Contudo,	 Imunidade
não	significa	 impunidade,	o	agente	diplomático	será	 responsabilizado	em	sua	Nação	de	origem,
tendo	em	vista	que	o	crime	praticado	acarreta	repercussões	negativas	nas	relações	desse	País,
considerando	o	prejuízo	causado	ao	bem	jurídico,	e	a	prática	deste	agente.
Quais	os	aspectos	da	imunidade	diplomática?
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula11	-	Lugar	do	Crime	e	Territorialidade
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Curso	Ênfase	©	2019
O	primeiro	aspecto	é	o	material	 -	aspecto	da	 inviolabilidade	pessoal,	 família,	 residência	e
pertences	-.	A	pessoa	do	agente	diplomático	é	inviolável,	não	podendo	ser	objeto	de	detenção	ou
prisão	 de	 qualquer	 origem	 (art.	 29),	 correspondendo	 ao	 fato	 da	 impossibilidade	 deste	 agente
diplomático	 ser	 alcançado	 por	 qualquer	 tipo	 de	 constrição,	 seja	 ela	 pessoal,	 seus	 bens,	 sua
residência.	 Exemplo:	 Uma	 ordem	 de	 busca	 domiciliar	 ou	 invasão	 de	 domicílio,	 por	 envolver	 a
imunidade	no	seu	aspecto	material.
No	aspecto	formal,	há	a	imunidade	de	jurisdição	em	seu	aspecto	processual.	O	STJ	possui
um	caso	recente	veiculado	em	informativo	nº	608	tratando-se	desta	questão.	A	imunidade	formal
não	isenta	da	jurisdição	do	Estado	creditante	-	não	isenta	da	responsabilização	do	País	acreditante.
Nesse	 caso,	 o	 agente	 diplomático	 não	 possui	 obrigatoriedade	 em	 prestar	 depoimento
como	testemunha.	Portanto,	uma	exceção	à	obrigatoriedade	de	prestar	depoimento	em	virtude
dessa	imunidade	formal.	Trata-se	de	matéria	de	ordem	pública	e	deve	ser	declarada	de	ofício	pelo
Juiz.	 Ressalta-se	 que	 o	 Estado	 acreditante	 pode	 renunciar,	 segundo	 o	 art.	 32	 da	 Convenção.
Partindo	do	pressuposto	acerca	do	cabimento	da	renúncia,	segue	abaixo	a	resolução	recente	do
STJ	:
Informativo	 nº	 608	 sexta	 turma.	 A	 cautelar	 fixada	 na	 proibição	 para	 que	 agente
diplomático	acusado	de	homicídio	se	ausente	do	País	sem	autorização	judicial	não	está	adequada
na	 hipótese	 em	 que	 o	 Estado	 de	 origem	 do	 réu	 tenha	 renunciado	 à	 imunidade	 de	 jurisdição
cognitiva,	mas	mantenha	 a	 competência	 para	 o	 cumprimento	 de	 eventual	 pena	 criminal	 a	 ele
imposta.	RHC	87.825-ES,	Dje	14/12/2017.
O	professor	ressalta	que	essa	questão	pode	ser	cobrada	tanto	na	prova	de	direito	penal,
quanto	na	prova	de	processo	penal.
A	imunidade	material	é	a	inviolabilidade.	A	imunidade	formal	é	a	imunidade	de	jurisdição.
Visto	que	tem-se	o	processo	-	imunidade	cognitiva	-	(no	tocante	ao	processo	de	conhecimento),	e
o	 processo	 de	 execução	 -	 imunidade	 à	 jurisdição	 executiva	 -	 (no	 tocante	 ao	 cumprimento	 da
pena).
Exemplo:	 o	 Estado	 acreditante	 renunciou	 somente	 a	 imunidade	 de	 jurisdição	 cognitiva.
Significa	dizer	que	o	estado	acreditante	permitiu	que	o	agente	diplomático	fosse	julgado	pelo	Brasil
com	a	aplicação	da	 lei	brasileira,	entretanto,	em	caso	de	condenação,	a	eventual	pena	 imposta
será	executada	no	País	do	Estado	acreditante,	por	não	haver	renúncia	no	tocante	à	imunidade	de
jurisdição	executiva.
Direito	Penal	-	Parte	Geral	–	Marcelo	Uzeda
Aula11	-	Lugar	do	Crime	e	Territorialidade
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O	 professor	 alerta	 sobre	 a	 probabilidade	 de	 cobrança	 desse	 assunto	 em	 prova,	 o
informativo	é	de	2018	do	STJ.	 Trata-se	de	um	 tema	 interessante,	 tendo	em	vista	a	 clareza	da
possibilidade	de	renúncia	à	luz	da	convenção.	O	Estado	pode	renunciar	sua	imunidade	de	jurisdição
apenas	no	aspecto	cognitivo,	permitindo	que	o	seu	agente	diplomático	seja	julgado	e	submetido	à
lei	 local,	 mesmo	 em	 caso	 de	 condenação,	 a	 execução	 se	 dê	 no	 País	 de	 origem	 do	 Estado
acreditante.	O	professor	recomenda	a	leitura	do	inteiro	teor	do	referido	informativo.

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